MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 A expansão da pós-graduação no Brasil sob a lógica da intensificação do trabalho docente Luciana Rodrigues Ferreira1 Resumo: O estudo objetiva analisar a partir dos dados da expansão da pós-graduação e das mudanças no papel da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) a dinâmica da expansão da pós-graduação e os significados no trabalho do professor pesquisador. A investigação integra o estudo de tese e parte das premissas sobre a reorganização da universidade federal pública, seu novo papel econômico e social e a transformação no trabalho docente. Tendo como pressuposto que na efetivação de qualquer projeto sócio-educativo os professores são sujeitos estratégicos, tanto pela função formadora pela qual são responsáveis, quanto pelo caráter intelectual na produção de conhecimento, o que os caracterizam como categoria essencial e protagonista no campo de ação e na atual universidade. O entendimento das mudanças em curso no campo educacional e no trabalho do professor-pesquisador deve ser compreendido pelas inter-relações que o condicionam na atual conjuntura do capital, a qual está organicamente ligada à estrutura produtiva da sociedade. Palavras-Chave: Expansão; Pós-Graduação; Trabalho Docente 1. O processo de expansão no Sistema Nacional de Pós-Graduação Estava em destaque no sitio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)2 um artigo que apresentava os resultados de um estudo prospectivo, financiado pelo Projeto 914BRAS1123/CAPES, referente à “Atualidade e 1 Doutoranda em Educação na Universidade Federal de São Carlos. Membro do Grupo de Pesquisa em Economia da Educação, Estética e Formação Humana (GEPEFH/UFSCar). Bolsista CNPq. Email: [email protected]. 2 Site de notícias, ver: http://www.capes.gov.br/36-noticias. Acesso em: 16 out, 2012, referente ao artigo da Revista Brasileira de Pós-Graduação (RBPG). Disponível em: <http://www2.capes.gov.br/rbpg/images/stories/downloads/RBPG/Vol.7_12/3_ARTIGO.pdf>. Acesso em 16 out, 2012. 1 Tendências do Sistema Nacional de Pós-Graduação”, concluído em maio de 2009 (ROCHA NETO, 2010). Tal estudo tinha o objetivo de avaliar o potencial de expansão do Sistema Brasileiro de Pós-Graduação (SNPG) até 2022, em todas as grandes áreas do conhecimento, para identificar “linhas de pesquisa emergentes e com potencial de criação de novos programas de pós-graduação ou novas áreas de concentração”. Esse trabalho foi coordenado pelo professor-pesquisador de eletrônica e TI: Ivan Rocha Neto, o mesmo que em 1986, em nome da Capes, realizou um modelo de previsão de expansão do SNPG para o período de 1987-1992. O relatório final da pesquisa fora intitulado de “Prospectiva da Pós-Graduação no Brasil (2008-2022)”, e como avaliação prospectiva, adotou o método probabilístico com cálculos matemáticos e metodologias específicas (Cf. ROCHA NETO, 2010, p. 6162), trabalhando com dados a partir dos grupos de pesquisa existentes, cadastrados no Diretório de Pesquisa do CNPq, e observando os critérios de avaliação da CAPES. A pesquisa quantificou números prováveis de mestrados e doutorados por área de concentração, apontando os cursos de maior potencia no processo de expansão, bem como, aqueles cursos/áreas que necessitariam de “indução” para criação de novos cursos e novos grupos de pesquisa, e conseqüentemente, áreas que precisariam de maior investimento, os quais, demonstramos no Quadro I, a seguir: Quadro I – Prospectiva de expansão de Cursos da Pós-Graduação, 2008-2018* Área de Concentração Qtd de Novas Redes Cooperativas Qtd de Novos Cursos Engenharias 18 363 (M) 106 (D) Saúde 44 246 (M) 86 (D) Ciências Agrárias 5 119 (M) 84 (D) Ciências Biológicas 12 191 (M) 41 (D) Ciências Exatas e da Terra 19 135 (M) 91 (D) ... 42 (M) 86 (D) Multidisciplinar Cursos Potenciais da área** Necessidade de Indução*** Aeroespacial, Engenharia Civil, Biomédica, Elétrica, Química, Materiais, Minas, Mecânica e Produção. Transportes, Naval e Nuclear. Saúde, Educação Física, Farmácia e Saúde Enfermagem e Coletiva. Farmácia. Agronomia, Ciência e Tecnologia de Recursos Florestais Alimentos e Zootecnia Parasitologia, Morfologia, Ecologia e Biologia Microbiologia, Geral. Farmacologia e Fisiologia Ciências da Computação, Física, Geociências, Oceanografia Matemática e Química Interdisciplinar: ... Ciências e % expansão em 10 anos 70% 50% 40% 90% 55% 20% 2 Engenharias Ciências Sociais Aplicadas ... 175 (M) 177(D) 117 (M) 90 (D) Fonte: Rocha Neto (2010, p. 70-77). Elaboração própria. Humanidades ... Direito, comunicação, Economia e Serviço Museologia Social ... ... 60% 50% * - Embora a pesquisa em questão tenha como objetivo a evolução provável da pós-graduação até 2022, todos os dados referente a previsões quantitativas mencionavam “em dez anos”. Desta forma, pela data que marca o início do período (2008), optou-se em usar 2018. ** - refere-se aos cursos que apontaram potencial crescimento no número de mestrado e doutorados e redes de pesquisa. *** - carecem indução para a criação de novos doutorados e/ou novos grupos de pesquisa e fomento. ... – Item não foi mencionado no estudo. Observa-se que as áreas com maior percentual de expansão são: ciências biológicas (90%), engenharias (70%) e Ciências Sociais Aplicadas (60%). Em número de cursos (somando mestrado e doutorado), o destaque é para as áreas de Engenharia (469 cursos), Ciências Sociais Aplicadas (362 cursos), e Saúde (com 332), estas três áreas também estão entre as de maior aumento no número de redes cooperativas de pesquisa. Os grupos de pesquisa começam a dar lugar às redes cooperativas, por conta de um novo ciclo de desenvolvimento no processo de investigação e produção científica e tecnológica, sobre a qual o autor ressalta: A crescente complexidade do desenvolvimento científico e tecnológico, as rápidas mudanças na efetividade das políticas de educação, ciência e tecnologia e os custos das atividades de pesquisa e pós-graduação sugerem a organização de redes cooperativas. Além disso, cada vez mais há necessidade de desenvolvimento de projetos realizados por equipes geograficamente dispersas. A organização em redes pode ensejar a formação de equipes maiores, mais completas e com competências mais diversificadas para o desenvolvimento de linhas de pesquisa mais complexas, emergentes ou em evolução. (ROCHA NETO, 2010, p. 60). Observa-se que embora o fomento às redes cooperativas de pesquisas, como ampliação dos grupos de pesquisa, estejam ligadas à questão acadêmica, estão, sobretudo, relacionadas a todo o processo de concepção, criação e desenvolvimento de conhecimento cada vez mais produtivo, internacionalizado e ranqueado, como declara o próprio CNPq: (...). “Nossos pesquisadores e estudantes de graduação e pósgraduação mais talentosos podem realizar estágios nas melhores universidades do mundo e em ambiente educacional e profissional onde inovação, empreendedorismo e competitividade já são o padrão, fortalecendo a internacionalização, aumentando o conhecimento inovador das indústrias brasileiras e atraindo jovens talentos e pesquisadores altamente qualificados para trabalhar no Brasil”, 3 explica o presidente do CNPq, Glaucius Oliva, que destacou que apenas 5% do orçamento do órgão são usados com despesas administrativas. Os outros 95% chegam às mãos dos pesquisadores na forma de bolsas ou auxílios. Os pesquisadores do exterior que quiserem se fixar no Brasil ou formar parcerias com brasileiros também podem se beneficiar com as bolsas do Ciência sem Fronteiras, desde que trabalhem dentro das áreas prioritárias definidas no programa, aquelas em que, segundo Oliva, o país tem chances de ser competitivo em inovação. (SENADO, 2012, p. 59). Para se ter uma idéia sobre a amplitude na organização sistêmica de pesquisadores, pode-se observar a expansão no número de Grupos de Pesquisa na última década: Tabela 2 - Número de grupos de pesquisa segundo Grande Área - 2000, 2002, 2004, 2006, 2008, 2010. Grande área (¹) Ciências Agrárias Ciências Biológicas Ciências da Saúde Ciências Exatas e da Terra Ciências Humanas Ciências Sociais Aplicadas Engenharias Linguística, Letras e Artes Todas as grandes áreas 2000 1.352 1.720 1.832 1.812 1.711 930 1.826 577 11.760 Δ (%) Grupos de Pesquisa (GP) 20002002 2004 2006 2008 2010 2010 1.653 1.997 2.041 2.177 2.699 99,6 2.126 2.561 2.624 2.696 3.108 80,7 2.513 3.371 3.610 3.961 4.573 149,6 2.051 2.454 2.460 2.515 2.934 61,9 2.399 3.088 3.679 4.219 5.387 214,8 1.429 2.120 2.501 2.754 3.438 269,7 2.243 2.826 2.844 3.027 3.548 94,3 744 1.053 1.265 1.448 1.836 218,2 15.158 19.470 21.024 22.797 27.523 Fonte: CNPq ¹ O CNPq adverte que para esses dados contou-se com a “Grande Área” predominante do grupo; Não existe dupla contagem no número de pesquisadores, doutores e estudantes tanto em cada grande área como em seus totais. Para o autor, o estudo pôde avaliar “(...) o potencial de expansão numérica de novos programas segundo as linhas de pesquisa emergentes em cada área” (ROCHA NETO, 2010, p. 60), e identificou, ao final, que nos próximos 10 anos a pós-graduação, nos moldes que se encontra, terá uma expansão de 55%. Desta forma, o referido estudo nos serviu de análise sobre o que estamos vivenciando na pós-graduação nas ultimas décadas. Demonstrando que, na verdade, não estamos num cenário de crescimento maior no futuro, mas de uma tímida expansão, comparando os 55% na década de 2008 a 2018 com a expansão que já ocorreu, como se pode observar no Quadro abaixo: 4 Quadro II – Evolução da Pós-Graduação, 1976 e 2012. Descrição Matricula (M e D) Titulados M Titulados D Cursos M Cursos D Docentes* 1976 28.642 2.199 188 518 181 7.200 2012 203.717 42.878 13.912 3.289 1.717 71.507 Δ (%) Δ (%) por 1976-2012 década 174,6 611,3 528,5 1849,9 2085,7 7300,0 152,8 534,9 242,5 848,6 255,2 893,2 Fonte: MEC/CAPES, 2004d, p. 26; MEC/CAPES, 2004d, p. 318; MEC/CAPES, 2004c, p. 197; MEC/CAPES, 2010, p. 47; GEOCAPES. Elaboração própria. * O número de docentes na coluna de 1976 se refere ao ano de 1975, pois não fora encontrado nenhum dado sobre número de docentes desse ano em todos os documentos mencionados como “Fonte”. O Quadro II apresenta os percentuais de expansão no período de 1976 3 a 2012, cuja evolução é também identificada na última coluna pelo número percentual de expansão por década apenas como demonstração absoluta dividindo o total de crescimento (coluna 4) por 3,5 (três décadas e meia). Nessa analogia, pode-se observar que a menor expansão (em percentuais) se deu nos cursos de mestrado, e esta ultrapassa os 150% por década, e no período, efetivamente mais de 530%. Identifica-se quão grande fora a expansão já vivenciada na pós-graduação, pois cresceu, no mínimo em oito vezes, sobre o percentual probabilístico da pesquisa mencionada, de 55% até 2018. Obviamente que a história não é linear e que a expansão não se dera equitativamente a cada década, pois se assim fosse, alunos titulados no doutorado, cuja expansão chega a 7300% no período, teria ultrapassado a marca de 2000% de crescimento por década. Assim, para entender este processo de expansão que alcançou patamares tão elevados, seria importante analisar a evolução ano a ano no período. O caso, é que nos documentos estudados (MEC, 1976; MEC/CAPES, 1987; MEC/CAPES, 2004a; MEC/CAPES, 2004b; MEC/CAPES, 2004c; MEC, 1996; MEC/CAPES, 2002; MEC/CAPES, 2004d; MEC/CAPES, 2010, p. 47, 80; GEOCAPES), pouco apresentam o processo de evolução da pós-graduação desde 1976, o único dado que é possível fazer uma referencia é em relação ao ‘número de cursos’. Neste caso, ainda apresenta divergências quantitativas sobre o mesmo ano em diferentes 3 O ano de 1976 é demarcado pelo início do processo de acompanhamento e avaliação dos cursos de pósgraduação pela CAPES, o qual detalharemos em capítulo posterior. 5 documentos4, por isso, optou-se por utilizar os dados do documento mais recente que apresenta tais fontes: o V PNPG (MEC/CAPES, 2010), cujo resultado apresenta-se no Gráfico II, a seguir: Gráfico II – Evolução no número de cursos de pós-graduação no Brasil, 1976-2012. 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 MESTRADO MESTRADO PROFISSIONAL DOUTORADO Fonte: MEC/CAPES, 2010, p. 80; GEOCAPES (para os dados dos anos 2011 e 2012). No Gráfico é possível identificar uma evolução crescente nos cursos de pósgraduação, mantendo a média de 5% de crescimento ao ano até 1990. A década de 1991 a 2001 apresenta uma evolução com percentuais maiores a cada ano (entre 6 e 9%). O salto quantitativo se dá entre 1996 e 2004, com 80% nos cursos de mestrado e 91% nos cursos de doutorado (INEP, 1996; 2004). Vale ressaltar que de 1976 a 1990 a evolução da pós-graduação não é significativa (11% no mestrado e 6% do doutorado – ver: Gráfico I). Observando os acontecimentos políticos atrelados a esse fato, têm-se a partir de 1995 a Reforma do Estado (BRASIL, 1995); em 1996, a promulgação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Lei n. 9394/1996; e, em 1998, com maior ritmo de crescimento com a criação dos mestrados profissionais, regulamentado pela Portaria nº 80, de 16 de dezembro de 1998. E ainda, o processo 4 Apresenta-se a evolução no número de cursos no livro comemorativo de 50 anos da Capes (CAPES/MEC, 2002, P. 318), também no IV PNPG 2005-2010 (MEC/CAPES, 2004d, p. 28), mas apenas citando o ano de 1976, e, de forma mais detalhada (ano a ano) no V PNPG (2011-2020) (MEC/CAPES, 2010, p.80). Todavia nenhum dos citados apresenta igualdade nos números referente ao mesmo item/ano, supõe-se que seja conseqüência do período de coleta dos dados e fonte primária. 6 de reestruturação da Capes, que em 1995 passa a ser responsável pelo acompanhamento e avaliação dos cursos de Pós-Graduação, e em 1997, pela Portaria nº 2.264, de 19 de dezembro passa a adotar novos critérios de avaliação dos Programas de Pós-Graduação, passando para uma avaliação trienal dos Programas e Cursos, atribuindo notas na escala de ‘1’ a ‘7’, com as quais os cursos obterão a renovação de “reconhecimento” e conceito ou descredenciamento para o triênio subsequente. 2. A Expansão da Pós-Graduação nas Universidades Federais do Brasil No cenário de novas políticas de Estado, têm-se desde 1998, um novo processo na expansão das instituições públicas, tanto na educação superior e na pós-graduação, conforme se apresenta na Tabela geral, a seguir: Tabela 3 - Evolução da Educação Pública Superior, Brasil - Matrícula, Funções Docentes e técnicos administrativos. 1998 – 2012. Matrículas - Graduação Ano 1998 1999 2000* 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 1998 / 2012 ∆% Presencial 408.640 442.562 8,3 482.750 9,1 502.960 4,2 531.634 5,7 567.101 6,7 574.584 1,3 579.587 0,9 589.821 1,8 615.542 4,4 643.101 4,5 752.847 17,1 833.934 10,8 927.086 11,2 985.202 6,3 141,1 ... EaD ... ... ... ... ... ... ... 13469 16137 22878 31286 32744 104722 105850 102211 658,9 ... ... ... ... ... ... ... ... 19,8 41,8 36,8 4,7 219,8 1,1 -3,4 Matrículas - Pós-Graduação Mestrado+MP 25.455 27.920 32.337 32.399 33.752 35.496 37.001 39.238 42.240 46.030 49.832 54.076 58.815 64.872 70.411 176,6 Doutorado 9,7 15,8 0,2 4,2 5,2 4,2 6,0 7,7 9,0 8,3 8,5 8,8 10,3 8,5 26.697 29.895 32.900 35.134 37.728 40.213 41.261 43.942 46.572 49.667 52.750 57.917 64.588 71.890 79.478 ... 197,7 12,0 10,1 6,8 7,4 6,6 2,6 6,5 6,0 6,6 6,2 9,8 11,5 11,3 10,6 Função Docente (em exercício) Pós-Graduação Graduação (M e D) 45.624 14.275 46.687 2,3 14.852 4,0 50.165 7,4 15.477 4,2 45.058 -10,2 15.666 1,2 45.907 1,9 16.840 7,5 47.709 3,9 18.189 8,0 50.337 5,5 21.069 15,8 52.943 5,2 22.460 6,6 54.560 3,1 24.900 10,9 59.156 8,4 26.973 8,3 61.783 4,4 29.095 7,9 72.228 16,9 31.475 8,2 78.608 8,8 34.142 8,5 84.408 7,4 38.544 12,9 90.416 7,1 41.711 8,2 98,2 ... 192,2 ... Técnico Administrativo (em exercício) 75.122 72.604 -3,4 69.411 -4,4 56.596 -18,5 59.652 5,4 61.489 3,1 61.707 0,4 62.400 1,1 64.164 2,8 67.754 5,6 67.993 0,4 96.786 42,3 100.683 4,0 109.994 9,2 115.751 5,2 54,1 Fonte: INEP (1998; 1999; 2000, 2001, 2002, 2003, 2005, 2006, 2007a, 2007b, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012); GEOCAPES. Entre os anos de 2009 e 2010, identifica-se o maior pico desde 1976 em número de matrícula na graduação, com 219% de aumento em um só ano, dado, especialmente pela expansão dos cursos a distância (EaD). O ano de 2009 também marca significativa 7 ... evolução no número de docentes (16,7%) e de técnicos administrativos (42,3), maior crescimentos das últimas duas décadas. Entende-se que esse crescimento repentino se deve ao Programa de Reestruturação e Expansão da Universidade Publica (REUNI)5. O Programa implementado em 2008, contou com adesão de 53 universidades federais, as quais apresentaram projetos de adesão e pactuaram um montante de cargos e uma reestruturação da universidade pública como um todo. No projeto inicial se apresentava 3.459 novas vagas, sendo: 1.821 de docentes e 1.638 técnicos. (MEC/SESU, 2009, p.8), mas ao fazer o calculo básico de evolução de 2008 a 2012, com base na Tabela 3 acima, observa-se no Quadro, a seguir, um impacto muito maior: Quadro III – Número de Vagas preenchidas, Docentes e Técnicos, após REUNI, nas Universidades Federais, 2008 – 2012. Item Docentes Grad Docentes PG Técnicos – Adm. Valor de Crescimento 28.633 12.616 47.758 ∆% 2008-2012 46,3 43,4 70,2 Fonte: INEP (2008, 2012); GEOCAPES. Todo o contexto desse Programa6, agregado às políticas de financiamento de pesquisas, a carreira docente, e avaliação da Educação Superior (graduação e pósgraduação), faz parte de um conjunto de políticas de Estado que mudaram toda cultura da Universidade, especialmente, em dois eixos: Em acréscimo, enfatizam os dois eixos em que se constituiria a universidade publica brasileira, como formulado; a 1) mercantilização do conhecimento e a 2) certificação em massa por meio do Programa de Reestruturação e Expansão da Universidade Publica (REUNI), a Educação a Distância (EaD) cuja secretaria com grande orçamento foi estruturada no mesmo ano em que se iniciou a reforma do aparelho do Estado – 1995 – e a Universidade Aberta do Brasil (UAB), que tornaria a instituição universitária pública (como na “profecia weberiana” uma universidade profissionalizada semelhante à universidade dos Estados Unidos da América e selaria a possibilidade do debate e da critica, fundamental à educação. (SILVA JÚNIOR; FERREIRA; KATO, 2012, p. 28) 5 Instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, teve seu início de implantação em2008 e com conclusão inicialmente prevista para 2012, integrou as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Tem como principal objetivo ampliar o acesso, a permanência e a expansão física, acadêmica e pedagógica da educação federal superior. (Cf. MEC/SESU, 2009) 6 Existem vários estudos, dissertações, teses e pesquisas de grupo, que investigam o Reuni, em estudos de caso que se desdobram desde sua constituição, desenvolvimento e impactos. Ver: Lima (2009); Medeiros (2012); Teixeira (2013). 8 Pode-se, então, considerar que a expansão da pós-graduação está vinculada à dois campos fundamentais: a necessidade de desenvolvimento de pesquisa, e, formação de novos pesquisadores. Ambos criam uma tríade da expansão: Pesquisador (Professores e Alunos da pós-graduação) – Pesquisa (pesquisas financiadas pelo empreendimento publico ou privado) – Mercado (necessidades econômicas e produtivas que impulsionam a direção da Inovação). Para Senado Federal em Seminário sobre Pesquisa em 2012, a questão sobre pesquisa, universidade e mercado fora ressaltada, demonstrando que as necessidades da pesquisa estão cada vez mais atreladas a temas econômicos, algo que, segundo o Senado, ganha grande atenção dos governos mundo afora e deve ser considerado como prioridade no Brasil, ressaltando: Como resultado dos baixos investimentos, do perfil da pesquisa, realizada na maior parte nas universidades, e da burocracia, o país também registra pouquíssimas patentes, indicador usado para medir o nível de inovação de um país. (...).“O pequeno número de patentes nacionais e a carência de maiores incentivos à inovação e à pesquisa e desenvolvimento comprometem a competitividade brasileira. Os países mais resistentes às convulsões da economia mundial são os que investiram pesado na educação, na ciência e tecnologia, como componentes de política industrial”, alerta o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). (SENADO, 2012, p. 10, grifos do autor) Na visão dos Senadores a tecnologia pode levar a descobertas que geram novos produtos e serviços, com grande valor comercial, para isso, o governo federal lançou em 2012 a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (Encti) para o período de 2012 a 2015, em que enfatiza a necessidade de “incorporar conhecimento científico ao processo produtivo”. (SENADO, 2012, p. 6). E acrescenta: Admiramos o que aconteceu de bom nessas últimas décadas. Mas temos que ser mais ambiciosos. Precisamos massificar a prática da ciência e convencer a iniciativa privada de que vai ganhar mais dinheiro se investir em pesquisa básica e em pesquisa aplicada. Enquanto essa massificação não for realizada, não adianta a gente discutir inovação, porque não vamos ter gente para fazer inovação. Sem isso, vamos pegar receitas que vêm de fora e tentar aplicar esses modelos numa cultura totalmente diferente”, analisou Miguel Nicolelis. (...).“Nossos empresários ainda preferem copiar técnicas importadas. Daí, temos muitos produtos made in Brazil, mas não 9 temos praticamente nenhum created in Brazil. São produtos fabricados aqui com invenções de fora”, observa o senador Cristovam Buarque, economista e ex-reitor da Universidade de Brasília. (SENADO, 2012, p. 11-12, grifos do autor) A universidade assume, portanto, um papel fundamental na instrumentalização das políticas de ciência, tecnologia e inovação, especialmente no âmbito da pósgraduação como único locus de produção de conhecimento, de modo que as políticas de pós-graduação se agregam às políticas científicas. Em relação ao desenvolvimento de tecnologia e inovação, têm-se todo um mecanismo de avaliação e indicadores utilizados para ‘medir’ o desempenho do país, ou de uma instituição, como por exemplo, o ranking da escola de negócios IMD Foundation Board (World Competitiveness Yearbook), cuja última versão de 2012 apresenta o Brasil em relação à inovação e avanços da ciência em 46º lugar, atrás de países como Estados Unidos, Suíça, Hong Kong, Cingapura, China, Chile, Índia, e México, especialmente nas áreas de informática e automação (IMD, 2012, s/p). Fato enfatizado nos seminários de governo para demonstrar que o Brasil continua a ser um grande consumidor e precisa de investimento em áreas tecnológicas estratégicas. No que diz respeito à participação dos setores intensivos em tecnologia diferenciada na sua matriz interna, o Brasil está muito abaixo. Embora tenha crescido, ainda precisa alcançar patamares mais avançados na microeletrônica, nas tecnologias de informação e comunicação”, admite Luiz Antônio Elias, secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Brasil investe menos em ciência e tecnologia que os competidores internacionais, com pouca participação do setor privado, maiores responsáveis pela introdução de novos produtos nas indústrias. Para reverter o quadro e colocar o Brasil rumo à economia do conhecimento, são esperados investimentos, públicos e privados, previstos na Encti para os próximos quatro anos. (SENADO, 2012, p. 8-9). Como numa relação em cadeia, as instituições, como os países, preocupam-se com rankings cada vez mais considerados no âmbito científico, que por sua vez, constase cada vez mais agregado ao setor econômico. Exemplo desse cenário é o ranking britânico publicado na Revista “Times Higher Education (THE)”, que realiza um respeitado levantamento acadêmico do mundo, chamado de Brics & Emerging 10 Economies Rankings, cuja versão de 20147 analisou indicadores de universidades de 22 países, incluindo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Observa-se o quanto esses indicadores acadêmicos de produção de conhecimento estão cada vez mais ligados ao setor econômico quando se identifica que este ranking foi feito a partir de informações coletadas pelo “Projeto Global de Perfis Internacionais da Thomson Reuters em 22 países, entre integrantes do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e outros países de economia emergente”. (VEJA, 2013, s/p) O editor de rankings da THE, Phil Baty, diz que o Brasil possui poucas instituições no ranking devido a falhas na condução das universidades. "Na China, há um estímulo forte para que os estudantes publiquem suas pesquisas em inglês, o que facilita sua divulgação em todo o mundo. Isso consolida a reputação do país e encoraja instituições de ponta a trabalhar com cientistas chineses", diz Baty. (VEJA, 2013, s/p) Na continuidade da matéria citada, o editor do ranking, comenta que a “burocracia brasileira é outro obstáculo”, pois “enquanto as universidades líderes se esforçam para atrair os melhores professores do mundo, o sistema brasileiro dificulta a contratação de docentes estrangeiros” e, quando o faz, oferece salários mais baixos do que os pagos por instituições estrangeiras. Acrescenta: A China está à frente do jogo, porque começou a focar muito nisso muito antes Phil Baty, editor do ranking THE. Ele ressaltou que a decisão do governo chinês em investir na internacionalização de suas universidades – um dos fatores-chave para que as instituições se destaquem em rankings mundiais – foi tomada muitos anos antes que outros países emergentes. "Foram dois grandes programas de investimento em educação [superior], que priorizaram, entre outros aspectos, a publicação de artigos em revistas de renome internacional. (VEJA, 2013, s/p) Para a elaboração do citado ranking são analisados indicadores de cada instituição, relacionados a: “volume de pesquisas e citações em publicações especializadas, qualidade do ensino, titulação do corpo docente, prêmios, grau de 7 Nesse ano, apenas quatro universidades brasileiras foram selecionadas: Universidade de São Paulo (USP), na 11ª posição (com 41,1 pontos); Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na 24ª posição (34,7 pontos); a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), empatada na 60ª colocação com duas instituições húngaras e uma de Taiwan (24,8 pontos), e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), que ficou em 87º lugar, com 20 pontos. (VEJA, 2013, s/p). 11 internacionalização (quantidade de alunos estrangeiros) e inovação”. Nesse bojo se destacam as pesquisas aplicadas, especialmente nas áreas de informática e automação em que o Brasil continua sendo grande consumidor. (VEJA, 2013, s/p). Rankings especializados no desempenho das universidades nacionais também se destacam no meio acadêmico e econômico, como mais uma fonte de inspiração e compressão espaço-tempo na produção de conhecimento. Como exemplo, pode-se destacar o Ranking Universitário Folha (RUF), que busca medir a qualidade das instituições universitárias do país, em duas vertentes: universidades sobre sua produção científica e cursos de graduação (nos diferentes segmentos do ensino superior), cuja versão de 2013 participaram 192 universidades e 30 cursos de graduação. (FOLHA, 2014a, s/p). As 192 universidades do país, públicas e privadas, com base na missão constitucional de ensino, pesquisa e extensão, foram avaliadas em cinco grandes áreas 8: ensino, inserção no mercado de trabalho, pesquisa, internacionalização, inserida a partir desse ano, e inovação, cujas 15 Instituições de melhor colocação podem ser observadas na Tabela 4. Tabela 4 – Colocação Geral do Ranking Universitário Folha, 2013, por subindicadores. Pública / Código Nome UF Privada Nota Pesquisa Internacionalização Inovação Ensino Mercado total 1 Universidade de São Paulo (USP) SP Pública 1 2 1 3 1 96.89 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) RJ Pública 4 3 4 4 2 95.64 3 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) MG Pública 6 7 3 2 4 94.9 4 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) RS 5 21 5 1 11 94.58 Pública 8 Computou-se no ranking os seguintes quesitos de pontuação por subindicadores: Pesquisa: Total de publicações em periódicos da base Web of Science entre 2009 e 2010; Total de citações indexadas na Web of Science em 2011; Número de citações por publicação; Total de publicações na base SciELO entre 2009 e 2010; e, Volume de recursos captados em 2011 em agências de fomento (fundações estaduais, Capes e CNPq); Internacionalização: Publicações internacionais que citam publicações da universidade, na base Web of Science em 2011, de trabalhos publicados em 2009 e 2010, por docente; Percentual de artigos na base Web of Science entre 2009 e 2010 em coautoria internacional; Proporção de professores estrangeiros em relação ao número total de docentes da instituição, coletados no Censo da Educação Superior 2011; Inovação: Número de pedidos de patentes pedido no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial ) entre 2002 e 2011; Ensino: Pesquisa feita pelo Datafol ha com uma amostra de 464 professores universitários cadastrados pelo Inep-MEC que fazem avaliações dos cursos de graduação, os quais responderam quais eram as melhores instituições em suas respectivas áreas de atuação; Percentual de professores com doutorado, coletado do Censo da Educação Superior 2011; Percentual de professores com dedicação integral; e Nota dos cursos de graduação no Enade; Mercado de Trabalho: Pesquisa Datafolha com uma amostra de 1.681 responsáveis pela área de recursos humanos das empresas que atuam na área dos 30 cursos de graduação avaliados no RUF. (Ver metodologia completa em: http://arte.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/09/09/entenda_o_ruf/metodologia_completa.pdf ) 12 5 Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) SP Pública 2 6 2 7 11 94.27 6 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) SP Pública 6 23 7 9 9 91.76 7 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) SC Pública 8 8 9 6 16 91.7 8 Universidade de Brasília (UNB) DF Pública 11 5 12 5 11 91.65 9 Universidade Federal do Paraná (UFPR) PR Pública 10 13 6 10 16 90.1 10 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) PE Pública 14 35 8 8 6 89.21 11 Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) SP Pública 3 11 20 16 43 88.01 12 SP Pública 9 22 13 12 57 85.66 13 Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) RJ Pública 13 12 38 32 6 85.04 14 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) RS Pública 16 32 23 11 43 84.82 15 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO) RJ Privada 26 3 27 23 11 84.31 Fonte: FOLHA/RUF (Disponível em: http://ruf.folha.uol.com.br/2013/rankinguniversitariofolha/, Acesso em 20 jan, 2014). Pode-se destacar que, com exceção da PUC/Rio de Janeiro, todas as demais instituições são universidades públicas, e concentram-se, a maioria, na região sudeste do Brasil. E ainda, é possível ressaltar que das 36 universidades que captaram um mínimo de R$ 20 milhões para pesquisa, 26 são universidades federais, 7 são universidades estaduais e 3 são universidades privadas (FOLHA, 2014b, s/p). Ao analisar os resultados, os coordenadores do RUF, alertam que embora o Brasil tenha universidades de alta qualidade, “elas ainda não fazem parte do time de "world class" nos rankings internacionais”, e estão longe na lista do THE (Times Higher Education), e de universidades líderes como Caltech (EUA) e Oxford (Reino Unido), para os pesquisadores faltam-lhes “dois ingredientes importantes: a internacionalização mais pujante do corpo docente e um investimento maior voltado à atração do alunato internacional” (FOLHA, 2014b, s/p). Pode-se observar nos dados e rankings demonstrados que o forte apelo para o desenvolvimento da pesquisa e produção científica se dá, sobremaneira, em dois âmbitos estratégicos: a) No interior do Sistema Nacional de Pós-Graduação, no qual ocorre, basicamente, toda atividade da pesquisa científica e tecnológica das universidades, especialmente públicas, que contemplam, entre estaduais, municipais e federais, 86% dos professores vinculados a Programas de Pós-Graduação, observe o gráfico. Gráfico III - Divisão de Docentes da Pós-Graduação no Brasil, por status jurídico, 2012. 13 Estadual e Municial IFES Privado 14% 28% 58% Fonte: GEOCAPES: Distribuição Docente/Visão Analítica por Status Jurídico/ Elaboração Própria b) No âmbito do trabalho docente, que absorve, orienta, e desenvolve no seu cotidiano toda lógica de produção, cuja evolução também acompanhou a expansão da própria universidade, não na mesma ordem de matricula e curso, mas numa ascendente, especialmente depois de 2004 (ver Tabela 3 de Expansão) e Tabela 5 a seguir, que apresenta a evolução por região do Brasil. Tabela 5 – Evolução no número de Docentes do Sistema Nacional de Pós-Graduação, stricto senso, das Universidades Federais – por região – 1998 a 2012. Docentes da Pós-Graduação Δ (%) Δ (%) Δ (%) Δ (%) Δ (%) Ano NO NO/BR NE NE/BR CO CO/BR SE SE/BR SU SU/BR Brasil 1998 273 2 2.876 21,6 1.062 8 5.717 42,9 3.413 25,6 13.341 1999 312 2,3 3.031 21,9 1.170 8,4 5.918 42,7 3.419 24,7 13.850 2000 430 2,9 3.280 22,2 1.314 8,9 6.076 41,1 3.697 25 14.797 2001 526 3,6 3.347 22,8 1.266 8,6 6.089 41,4 3.470 23,6 14.698 2002 668 4,2 3.666 23,1 1.401 8,8 6.409 40,4 3.708 23,4 15.852 2003 740 4,3 3.994 23,3 1.591 9,3 6.849 40 3.937 23 17.111 2004 940 4,8 4.721 24,1 1.947 9,9 7.516 38,3 4.476 22,8 19.600 2005 1.073 5,1 5.170 24,7 2.150 10,3 7.866 37,6 4.647 22,2 20.906 2006 1.380 6 5.821 25,1 2.558 11 8.447 36,4 4.987 21,5 23.193 2007 1.633 6,4 6.785 26,5 2.585 10,1 9.171 35,8 5.436 21,2 25.610 2008 1.750 6,5 6.840 25,4 2.783 10,3 9.800 36,4 5.786 21,5 26.959 2009 1.874 6,4 7.518 25,8 3.070 10,5 10.573 36,3 6.113 21 29.148 2010 2.037 6,4 8.323 26,2 3.280 10,3 11.568 36,4 6.556 20,6 31.764 2011 2.279 6,4 9.375 26,2 3.837 10,7 13.105 36,6 7.246 20,2 35.842 2012 2.665 6,9 10.013 25,9 4.307 11,1 14.023 36,2 7.711 19,9 38.719 876,2 ... 248,2 ... 305,6 ... 145,3 ... 125,9 ... 190,2 Fonte: GEOCAPES: Distribuição Docente/Visão Analítica por Instituição/Planilha do Excel ano a ano. Elaboração Própria. Dentre as regiões brasileiras a região sul e sudeste englobam o maior número de Professores e Programas, mesmo com todo o processo de expansão da pós-graduação e deslocamento docente para diversas regiões do país. Embora a região norte tenha 14 apresentado maior percentual de evolução (876%), em valores absolutos ainda continua sendo a região com menor número de Programas e Docentes. Quando se observa as colunas variações do número de docentes da Região em relação ao número total do Brasil, logo se identifica a Região Sudeste como maior representante docente na Pós-Graduação, desde 1998 com 42,9% dos docentes, até 2012 com 36,2%. A expansão da pós-graduação está, portanto, diretamente ligada à evolução no número de docentes na educação superior, pois ao formar desde 1998 a 2012, mais de 275% de mestres e doutores (GEOCAPES, 1998; 2012), expande as possibilidades de oferta de trabalhadores. O que deixa os concursos para carreira docente, cada vez mais concorrido. Estes processos seletivos garantem que os mais capacitados estejam aptos a carreira de ensino, pesquisa e extensão, e, ao mesmo tempo, quando avaliam não somente desempenho do candidato sobre determinado assunto, mas toda sua trajetória curricular de produção intelectual, bolsas e pesquisas, exposta e obrigatoriamente comprovada no Currículo Lattes. Um simples processo seletivo para docente de uma universidade pública mostra tanto as condições objetivas que a universidade espera do futuro docente, pesando seu conhecimento e capacidade de produção, quanto estimula estudantes de doutorado a cada vez mais alinharem seus currículos às atuais exigências de avaliação da CAPES e das seleções para carreira docente. O fato é, que a mencionada tríade da expansão: Pesquisador – Pesquisa e Mercado estão postas desde a formação dos doutorandos até o cotidiano de sua carreira, impulsionadas por políticas de Inovação, Tecnologias, Bolsas, Grupos de Pesquisa, e Financiamentos. Tudo condicionado à sua produção intelectual e técnica no trabalho e em sua capacidade de dirimir e fomentar este cenário. Contexto discutido por autores como Sguissardi e Silva Júnior (2009) que no estudo da expansão e do trabalho do professor revelaram um cotidiano docente próximo de algo aparentado com a negação da condição humana, posto que o sofrimento, o adoecimento e a alienação constituíram-se na regra e não na exceção entre muitos dos seus entrevistados. Esses autores fazem o neologismo “produtivismo acadêmico” ter todo o sentido na compreensão do cotidiano, o qual: 15 (...) consiste em produzir a materialidade institucional para o que se chama produtivismo acadêmico em suas múltiplas formas de concretização: da produção de muitos artigos, capítulos de livros e livros, mas de forma mais acentuada na relação direta com o mercado. Esta ideologia do produtivismo acadêmico origina-se do Estado, com mediação da Capes e do CNPq, acrescidos da Finep e do BNDES, entre outros. O produtivismo acadêmico assume sua forma mais acabada e objetivada no Currículo Lattes (CV-Lattes). O Currículo Lattes consiste no portfólio de muitos doutores, formados depois de implantado o novo Modelo Capes de Avaliação, em 1996-1997, a correrem atrás de pós-doutoramentos, de publicações, de bolsas de produtividade, de participação em congressos bem classificados academicamente, isto no objetivo de fazer caminhar a “nova universidade”, sem saberem bem para onde ela caminha. (SGUISSARDI, SILVA JÚNIOR, 2009, p. 45). Nessa percepção observa-se o professor universitário concursado para o exercício da docência, pesquisa e extensão, “(...) compelido à complementação salarial e à ideologia” produtivista, a qual se coloca para os autores como “um dos pilares centrais da cultura da instituição universitária.” (SGUISSARDI, SILVA JÚNIOR, 2009, p. 44). E afirmam que mesmo desse modo messiânico do trabalho como missão, o trabalho do professor converteu-se em sua droga cotidiana alienante, e ao mesmo tempo uma paixão. 3. Conclusão. Para Oliveira (2009, p. 12), vivemos num tempo em que “[...] a ciência e a técnica tornaram-se forças produtivas, cumprindo a previsão de Marx, essa centralidade do trabalho intelectual na universidade lhe confere um especial lugar no capitalismo contemporâneo”. Acrescenta ainda, que em qualquer que seja o sistema produtivo “em acepção ampla”, a universidade terá lugar privilegiado e “não haverá esforço para o desenvolvimento econômico que resulte exitoso se a universidade não for seu motor principal: ou dizendo em termos marxistas, a força de trabalho da qual se extrai o sobreproduto que realimenta permanentemente a expansão do sistema hoje só pode ser viabilizada pelo binômio técnico-científico”. Assim, a ciência e a técnica se destacam no desenvolvimento atual do capital, por isso, esta centralidade do trabalho intelectual nas universidades lhe confere um lugar especial no capitalismo contemporâneo. Para os autores, Sguissardi e Silva Júnior (2009); Silva Júnior (2011), a pósgraduação é o espaço mais desenvolvido dessa lógica de compressão e produção do 16 conhecimento. Nela, o trabalho, complexo e alienado, é capaz de naturalizar as relações de trabalho mais competitivas, o produtivismo em potencias máximas e a produção de conhecimento instrumental. Por isso, pode-se afirmar que na pós-graduação está a força motriz das mudanças no âmbito do trabalho docente e da cultura universitária. Como conseqüência imediata de um processo longo de reformas no aparelho do Estado, iniciadas ainda em 1994 com a instauração do Plano Real, em julho desse ano, às vésperas da campanha eleitoral que elegeu Fernando Henrique Cardoso à presidência da República. A reforma adquiriu organicidade para a sua materialização, por meio do Plano Diretor da Reforma do Estado (PDRE), em 1995, e Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE)9, em 1998. Mesmo com o Ministério se extinguindo em janeiro de 199910 as idéias da Reforma estrutural do Aparelho do Estado11, a qual se consolidou durante os dois mandatos de Cardoso, e ainda, consolidase ao longo dos governos seguintes – Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – especialmente fundamentado no tripé da política macroeconômica (câmbio flutuante, meta fiscal e meta de inflação). A política econômica muda, portanto, às relações de produção, a valorização da diversificação do mercado e, conseqüentemente, as instituições republicanas como a universidade, atrelando cada vez mais o universo acadêmico-científico às orientações econômicas: Mais que uma questão acadêmica, a pesquisa feita em laboratórios por cientistas é, cada vez mais, um tema econômico, que ganha grande atenção dos governos mundo afora. Isso porque a tecnologia pode levar a descobertas que geram novos produtos e serviços, com grande valor comercial. Essas inovações agregam valor à produção do país, que, por sua vez, ganha competitividade internacional na chamada economia do conhecimento. (SENADO, 2012, p. 6). Desde o final da década de 1990, este assunto está do na pauta do governo federal. O Senado realizou em junho de 2012, por meio da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), um Seminário denominado de “Caminhos para a Inovação”, em que “(...) avaliou, com alguns dos maiores nomes 9 A Lei Federal nº 9.649, de 27 de maio de 1998, transforma, no art. 17, inciso III, a Secretaria da Administração Federal da Presidência da República, em Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (BRASIL, 1998, p.26). 10 O MARE extinto, com transferência suas atribuições para o Ministério do Orçamento e Gestão em 21 janeiro de 1999, pela Medida Provisória nº 1.799-1. (BRASIL, 1999, p. 13). 11 Cf. Bresser-Pereira (1997) e Cardoso (2006). 17 da ciência nacional, os programas governamentais e a capacidade do país de criar ideias e produtos novos para o mercado internacional” (SENADO, 2012, p. 6-7), por meio da parceria Universidade-Mercado. Nesse mesmo ano, também foi criado a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (Encti) para o período de 2012 a 2015, a qual “(...) enfatiza a necessidade de “incorporar conhecimento científico ao processo produtivo”. (ibidem, p. 6, grifos do autor). Numa tentativa de compreender, portanto, a complexidade histórica das transformações político-econômicas do Brasil e suas conseqüências para o trabalho, especialmente o trabalho intelectual, buscou-se nesse artigo demonstrar parte do estudo de tese, em andamento, sobre a produção científica e trabalho de professores jovensdoutores vinculados a Programas de Pós-Graduação, sob às influencias da CAPES e o processo de expansão e as mudanças que este contexto ocasiona no cotidiano acadêmico e trabalho na universidade. Nesse momento, compreende-se que as relações de mudanças nos meios de produção no decorrer da história, e, no desenvolvimento do capital teve conseqüências para o trabalhador se tornar “cada vez mais autonomizado de seu trabalho.” (SILVA JÚNIOR, 2011, p.91). Assim, no âmbito da conjuntura do desenvolvimento do capital e do trabalho docente, têm-se a necessidade de buscar a forma mais evoluída da relação capital-trabalho, para novas discussões sobre o entendimento do estranhamento/alienação12 no campo particular da pesquisa e da pós-graduação nas universidades públicas. 6. REFERENCIAS: BRASIL. Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado. Plano diretor da reforma do aparelho do Estado. Brasília, DF: Imprensa Nacional, novembro 1995. BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. A reforma do estado dos anos 90: lógica e mecanismos de controle. II Reunião do Círculo de Montevidéu, Barcelona, 25-26 abr. 1997. p. 49-95. 12 Segundo Marx (1996, p. 204-205), o trabalho não pode ser considerado isoladamente, pelo seu fluxo e sua dimensão social sua produção não é individualizada, por tanto, o trabalho tem uma condição coletiva, de classe, assim como o resultado do seu trabalho. Todavia, tal resultado não lhe pertence, o trabalhador está alheio (alienado) de sua produção, por isso o processo de trabalho é complexo. E se acaso o trabalhador desejar o produto que cria, terá que consegui-lo das mãos de outrem, no âmbito da circulação, por isso, Marx ressalta que o capitalista “mata dois coelhos com uma cajadada”, pois, ao mesmo tempo, que o trabalhador é produtor, é também potencial consumidor, tornando-se alienado de sua condição humana, sob o fetiche do capital. 18 CARDOSO, Fernando Henrique. Reforma do estado. In: PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; SPINK, Peter (Orgs.). Reforma do estado e administração pública gerencial. 7. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006. p. 15-19. CNPq. Sumula Estatística: diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil. Brasília: CNPq (página eletrônica), 2013. Disponível em: <http://dgp.cnpq.br/censos/sumula_estatistica/2010/grupos/index_grupo.htm>. Acesso em: 05.01.2013. FOLHA. Ranking Universitário Folha. Apresentação. São Paulo: Folha de S. Paulo. 2013a. http://ruf.folha.uol.com.br/2013/ FOLHA. Ranking Universitário Folha. Metodologia Completa. São Paulo: Folha de S.Paulo, 2013b. Disponível em: <http://arte.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/09/09/entenda_o_ruf/metodologia_complet a.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2013. GEOCAPES. Distribuição de Docentes1998. Visão Analítica. Brasil. Planilha do Excel por Região, 1998. Disponível em: http://geocapes.capes.gov.br/geocapesds/#. Acesso em: 27 jan, 2014. GEOCAPES. Distribuição de Docentes2012. Visão Analítica. Brasil. Planilha do Excel por Região, 2012. Disponível em: http://geocapes.capes.gov.br/geocapesds/#. Acesso em: 27 jan, 2014. 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