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22 de fevereiro de 2012 às 10:36
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Ministro Padilha, o erro não foi da
ONU e sim do Estadão
por Conceição Lemes
Em matéria publicada domingo, 19, em O Globo, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha,
contesta dados da ONU sobre abortos no Brasil:
RECIFE – O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, contestou informações divulgadas pela
Organização das Nações Unidas segundo as quais 200 mil mulheres morrem anualmente no
Brasil por causa de abortos de risco. Ele acredita que pode ter havido confusão com outro dado,
já que cerca de 200 mil mulheres se submetem a curetagens por ano no Brasil, procedimento
muito utilizado após o processo abortivo.
A ONU cobrou posição do governo brasileiro durante a 51ª sessão do Comitê Para a Eliminação
de Discriminação Contra as Mulheres, que ocorreu essa semana em Genebra, quando a perita
suíça Patrícia Schulz pediu esclarecimentos ao governo brasileiro, sem poupar críticas. “O que
vocês vão fazer com esse problema político enorme que têm”?
O ministro Padilha pautou-se por esta matéria publicada pelo O Estado de S. Paulo para questionar
os dados da ONU.
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Só que os dados publicados pelo Estadão não correspondem aos apresentados pela perita suíça Patrícia
Schulz na 51ª sessão da Convenção Para a Eliminação de Discriminação Contra as Mulheres (Cedaw, sigla
em inglês), da ONU.
http://www.viomundo.com.br/denuncias/ministro-padilha-o-erro-nao-foi-da-onu-e-sim-do-estadao.html[23/02/2012 14:01:20]
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A jornalista e cientista social Telia Negrão postou o seguinte sobre o assunto no Facebook:
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Telia entende do tema e esteve em Genebra, participando da 51ª sessão da Cedaw. Integra o Conselho
Diretor da Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos e o Conselho Consultivo da
Rede de Saúde das Mulheres Latinoamericanas e do Caribe.
“Eu fui reportando exatamente o que os peritos iam informando”, acaba de me confirmar Telia Negrão.
“Todos esses números, aliás, estavam disponíveis nos documentos das Nações Unidas divulgados na
Cedaw.”
“Está evidente que houve um equívoco do jornalista do Estadão no uso dos dados sobre aborto no Brasil.
A perita Schultz falou em 200 mortes e 200 mil internações hospitalares, e sabia muito bem do que estava
falando”, adverte Telia. “As experts do comitê se destacam justamente pela elevada qualificação e por
consultar o tempo todo os relatórios, atrás de fontes confiáveis. O nível dos debates não deixa nenhuma
dúvida sobre isto, cobrando do Brasil a melhoria da qualidade das informações, indicadores mais claros e
precisos quanto ao monitoramento das suas políticas, dados desagregados por raça, etnia, local de moradia,
deficiência, entre outros.”
“Uma regra básica do jornalismo é checar os dados, o que não foi feito, lamentavelmente, incorrendo-se
em equívoco e má informação”, observa Telia. “Meu post no facebook, elaborado online do plenário da
sessão da Cedaw, inclusive com um erro de concordância pelo afogadilho online, dá os dois dados, como
foram falados pela perita.”
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http://www.viomundo.com.br/denuncias/ministro-padilha-o-erro-nao-foi-da-onu-e-sim-do-estadao.html[23/02/2012 14:01:20]
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Ministro Padilha, o erro não foi da ONU e sim do Estadão | Viomundo - O que você não vê na mídia
sido do repórter, mas não é impossível que a falha seja de edição. O repórter apurou e passou os dados
corretos, mas a informação foi alterada na redação.
Por ano ocorrem no Brasil cerca de 1.800 casos de mortes maternas. Desses, aproximadamente 11,4% se
devem a aborto, o que significa 205 óbitos por aborto. Ou seja, 200, em números arredondados. Os 200
mil referem-se ao número de mulheres que buscam hospital por ano devido a aborto.
“O erro é grotesco mas intrigante. A matéria foi escrita por um jornalista qualificado e traz detalhes,
inclusive cita trechos da fala da perita Schulz mas curiosamente se equivoca em relação às mortes por
aborto”, observa Sonia Corrêa, pesquisadora da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia) e cocoordenadora do Observatório de Sexualidade e Política. “Também me parece inadequado, para não dizer
muito descuidado, que o Ministro responda aos dados errados do jornal, sem antes verificar o que de fato
teria dito o Comitê. É sobretudo preocupante e grave que use o dado errado para desqualificar o trabalho
das expertas da Cedaw.”
“A perita suíça Patrícia Schulz, da Cedaw, se pronunciou a respeito dos dados fornecidos pelo nosso
governo, ou seja, uma estimativa anual de 200 mil internações hospitalares por abortamento e 200 óbitos
por aborto”, reforça a médica Fátima Oliveira. “Logo, suas críticas e recomendações estão baseadas no
que apresentamos e não podem ser vistas como decorrentes de análises de dados errados.”
Fátima então arremata: “O governo não pode se escudar em erros de dados veiculados pela mídia para se
eximir de fazer o que deve: cuidar da saúde das cidadãs brasileiras com dignidade, coisa que não tem
feito parte do cotidiano das brasileiras”.
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