A PRIMAZIA DE CRISTO Por Emilson dos Reis INTRODUÇÃO 1. Em 2001 houve um dia em que milhões de pessoas ficaram chocadas e comovidas por causa de uma notícia que repetidamente apareceu em todos os telejornais do país. Era 10 de abril. O circo Vostok se instalara no pátio de um shopping center, em Pernambuco. Entre as pessoas que passeavam próximo às jaulas dos animais encontrava-se um homem com seu filho de seis anos de idade. Sem perceber o perigo que corria, o pequeno José Miguel dos Santos sentiu-se atraído por um belo leão e aproximou-se demais. A grade de proteção que impedia o animal de sair, possuía espaços com largura suficiente para que uma criança passasse por elas. Num rápido ataque o leão colocou para fora seus braços, com mais de 1 metro de comprimento cada, e envolvendo o garoto o trouxe para dentro da jaula, onde em poucos instantes foi completamente devorado por quatro leões famintos. 2. O grande inimigo dos filhos de Deus foi comparado a um “leão que ruge procurando alguém para devorar” (1 Pe 5:8). Ao longo da história humana Satanás tem atacado a Igreja de mil modos diferentes, e com sua força e seus enganos tem conseguido devorar a milhares que não foram sóbrios e vigilantes. O segredo para não sermos devorados por ele é permanecermos ao lado de nosso Pai celestial. 3. Contexto: Era o ano 62 da era cristã. O velho apóstolo Paulo se encontrava preso na cidade de Roma. Ali recebeu a visita de um fiel companheiro, Epafras. Este homem possivelmente se convertera ao cristianismo durante o ministério de Paulo em Éfeso. Depois disso dedicara-se a evangelizar três cidades que ficavam no vale do rio Lico, na Ásia Menor, hoje Turquia: Laodicéia, Colossos e Hierápolis, que estavam próximas umas das outras, como Cosmópolis, Artur Nogueira e Engenheiro Coelho. Em cada uma havia uma igreja cristã e Epafras era o seu pastor. Ele fora buscar orientação e ajuda de Paulo para enfrentar um terrível inimigo que começava a atacar o cristianismo e que já havia afetado alguns membros da comunidade cristã de Colossos: uma heresia (doutrina falsa) em desenvolvimento que incorporava elementos da fé cristã e idéias judaicas com especulações 2 filosóficas orientais, e que, mais tarde, a partir do segundo século, receberia o nome de gnosticismo – derivado do termo grego gnosis, que significa “conhecimento”. O gnosticismo ensinava que Deus criara muitos seres espirituais e angelicais, de várias categorias, que haviam realizado a criação material e que serviam de intermediários entre Ele e a humanidade e, por isso, negava a encarnação e a divindade de Cristo e a redenção efetuada por Ele na cruz; afirmava que a salvação deveria ser obtida através do conhecimento e não através da fé; encarava a matéria como fonte de todo mal e, portanto, incentivava o desprezo pelo corpo; e valorizava a prática de cerimônias judaicas (jejuns e abstinências) e o culto aos anjos. Embora seus defensores apresentassem tais ensinos como filosofia, a Bíblia os classifica como “vãs subtilezas” (2:8). Essa heresia assediou a igreja por cerca de 150 anos e há no NT oito cartas que buscam desmascará-la. Tendo ouvido a Epafras, Paulo escreveu uma epístola à Igreja de Colossos onde, combatendo os ensinamentos gnósticos, que degradavam tanto a pessoa como a missão do Filho de Deus, expõe a majestade de Cristo e a perfeição da redenção efetuada por Ele. Neste culto estudaremos um parágrafo desta epístola, aquele que é considerado como a porção mais cristológica de toda a Bíblia. 4. Texto: Cl 1:13-23. Para maior proveito recomendo que os irmãos permaneçam com a Bíblia aberta nesta página até o final de nosso estudo. 5. Objetivos: (1) Ressaltar a divindade de Cristo; (2) apresentá-Lo como Criador, Senhor e Mantenedor do universo; (3) explicar o que Ele fez para nos salvar; (4) persuadir os ouvintes a permanecerem apegados ao Evangelho, sempre esperançosos, enquanto aguardam o retorno de Cristo e o cumprimento final das promessas de Deus. 6. Proposição: Cristo é plenamente divino, e Criador, Mantenedor e Senhor do universo. Mas é também Aquele que nos libertou do império das trevas e nos conduziu para o Seu reino, promovendo a reconciliação entre nós e Deus. Por isso, permanecemos cheios de esperança e firmes na fé. 3 ARGUMENTAÇÃO I. CRISTO TEM A PRIMAZIA PORQUE É DEUS (1) Cristo é o Filho de Deus. A Bíblia foi escrita de acordo com a mentalidade oriental, que é diferente da nossa em muitos aspectos. Assim, se alguém dissesse que você é filho de seu pai, os orientais não entenderiam que você era mais jovem que seu pai, mas, sim, que você possui a mesma natureza que ele. Temos um ditado que traduz essa idéia: “Filho de peixe, peixinho é”. Deste modo, quando as Escrituras declaram que Jesus é Filho de Deus, não querem ensinar que Ele é uma criatura de Deus e, sim, que Ele possui a mesma essência de Deus, que Ele é igual a Deus. Sim, Jesus era o Filho de Deus – o Filho do seu amor ou Filho amado. O próprio Deus deu testemunho dizendo: “Este é o meu filho amado em quem me comprazo” (Mt 3:17; 17:5), e Jesus Se alegrou quando Pedro declarou: ”Tu és o Cristo; o Filho do Deus vivo.” (Mt 16:16-17). (2) Cristo é a imagem de Deus. É verdade que Adão, o primeiro homem, foi criado à imagem de Deus, mas, depois, o pecado entrou no mundo e na natureza humana, de modo que o reflexo dessa imagem foi distorcido e obliterado. Então veio o segundo Adão – Cristo – a perfeita e exata imagem de Deus. Não uma cópia, mas o próprio original, pois Ele “é a expressão exata do seu ser”. (Hb 1:3). Assim, enquanto que para os gnósticos Cristo era apenas um dentre os muitos seres espirituais, ou emanações, que serviriam de intermediários entre Deus e os homens, para Paulo Jesus é a manifestação de Deus e a mais completa e perfeita revelação do Pai, o único que pode tornar o Deus invisível, visível para os homens. Se você quiser saber como é Deus, tudo que você tem a fazer é olhar para Jesus. Ele disse: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14:9). (3) Cristo é Deus em plenitude. No pensamento gnóstico a plenitude da divindade era a soma de todas as emanações e seres espirituais que ficavam entre Deus e o mundo material, mas Paulo declara não ser assim. Em Cristo, e unicamente nEle encontra-se toda a plenitude de Deus. Não existe qualquer distribuição vaga da mesma entre inúmeros seres espirituais obscuros. E, se nEle reside toda a plenitude da divindade, então Ele é eterno, Todo-Poderoso, onisciente e 4 onipresente. Enfim, nada há do caráter ou dos atributos de Deus que não esteja nEle e nada então Lhe pode ser acrescentado. (4) Cristo é Rei. O texto se refere ao “reino do Filho”, portanto, ele é rei. Enquanto vivemos no tempo da graça Seu reino entre nós é espiritual e abrange todos aqueles que O aceitaram como Salvador e Senhor. Mas, quando o plano da salvação se concretizar, Seu reino será visível e glorioso e abarcará todas as coisas e todas as criaturas em todo o universo. II. CRISTO TEM A PRIMAZIA SOBRE O UNIVERSO (1) Cristo é o primogênito da criação. Isso não significa que Cristo é parte da criação, o primeiro ser que Deus criou. O pensamento de Paulo é exatamente o oposto. Seu argumento é que Jesus não é um dos muitos intermediários que supostamente Deus tinha criado e colocado entre si mesmo e a humanidade, porque não somente Cristo não foi criado como Ele é o próprio criador. Na Bíblia a expressão primogênito algumas vezes denota posição. Quando Deus queria demonstrar que alguém era especialmente honrado aos Seus olhos, Ele o chamava de primogênito. Por isso Ele chama Israel de primogênito (Êx 4:22) e também Davi (Sl 89:20 e 27), embora este fosse o oitavo filho de Jessé, mostrando o lugar de honra que possuíam diante de dEle. É nesse sentido que a expressão é aqui empregada em relação a Cristo. Paulo queria dizer que Ele tem uma posição de honra sobre toda a criação, ou seja, Ele é o cabeça, o criador de todas as coisas. O versículo seguinte (v. 16) confirma isso ao declarar que o motivo pelo qual Ele é assim chamado é que Ele é o criador de todas as coisas. (2) Cristo é o Criador de tudo. Os gnósticos ensinavam que havia várias ordens de poderes angélicos os quais eram responsáveis pela criação material, mas Paulo declara que não somente todas as coisas visíveis como também aquelas invisíveis, na terra e nos céus, até mesmo todas as ordens de seres espirituais: tronos, soberanias, principados e potestades, foram criadas por Cristo. (3) Cristo é o Senhor da criação. Criado para cumprir os Seus desejos, servir ao Seu propósito e promover a Sua glória. Tudo Lhe pertence. Ele é o Senhor da criação. 5 (4) Cristo é antes de tudo. Cada coisa criada depende de algo que existia antes dela, para a sua existência, mas não Cristo. Ele é antes de todas as coisas, autoexistente, não dependendo de nada e de ninguém. Aprendemos que tudo teve um começo, mas a Bíblia nos diz que Cristo é eterno, que Ele não tem princípio, que Ele é o próprio começo. Ele diz: “Eu sou o Alfa... [Eu sou] o Primeiro”, (Ap 22:13). Aprendemos que tudo que existe teve uma causa anterior. Uma mesa, por exemplo, veio da madeira, e a madeira veio da árvore, e esta veio de uma semente, que veio de outra árvore, e assim vamos descobrindo sempre uma causa anterior, até chegarmos ao terceiro dia da semana da Criação, quando a primeira árvore daquela espécie foi feita por uma simples palavra proferida por Cristo. E Cristo, de onde veio? Você surgiu como resultado da união de seus pais, e eles, de seus avós, e, assim, até o remoto passado, quando chegamos em Adão e Adão de Deus, o Deus Filho. E Ele? Ele não tem causa anterior, Ele é a CAUSA. Assim a Bíblia nos ensina que Cristo tem existência própria, Ele não a deve a ninguém, Ele é realmente o PRIMEIRO. A verdade é que tudo foi criado por Alguém que não foi criado por ninguém. (5) Cristo é o mantenedor de tudo. Nele subsistem todas as coisas, ou nEle todas as coisas permanecem juntas. Nele todas as coisas têm sua unidade e significado. Ele não apenas criou o universo, Ele o mantém. É o responsável por seu funcionamento. Quanto mais a ciência avança em suas descobertas mais deslumbrados ficamos diante da imensidão do cosmo. Ninguém sabe com precisão o seu tamanho, mas os cientistas têm uma idéia. Dizem que é formado por cerca de 100 a 200 bilhões de galáxias, cada qual possuindo cercas de 500 bilhões de sóis. Agora imagine cada sol possuindo planetas à sua volta e muitos destes possuindo uma ou mais luas. E, acrescente a isso uma quantidade fabulosa de cometas. O profeta Isaías aconselhou: “Levantai ao alto os vossos olhos e vede. Quem criou estas coisas?” (Is 40:25). “Pois, nele foram criadas todas as coisas, nos céus 6 e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis . . . Ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste.” (vs. 16-17). III. CRISTO TEM A PRIMAZIA SOBRE A IGREJA (1) Cristo é o cabeça da Igreja. Uma das graves conseqüências da aceitação dos falsos ensinos em Colossos era não reter a cabeça (2:19). Assim, Paulo enumera três razões porque Cristo tem direito à autoridade suprema da igreja: (1) Sua ressurreição (“Ele é o primogênito de entre os mortos”), o que é uma garantia de nossa própria ressurreição; (2) Sua divindade (porque nEle reside toda a plenitude [1:19] “da Divindade” [2:9]); e (3) sua obra redentora (porque Ele fez “a paz pelo sangue de sua cruz”). A igreja é uma instituição fundada por Jesus com o objetivo de fazer discípulos, batizar e ensinar o que Cristo ordenou. Os diversos anciãos, pastores e administradores da Igreja não são sua cabeça. Embora tenham grande valor são membros do corpo. Não é um nem são alguns homens, nem mesmo os membros como um todo, que devem reger a igreja. Cristo é o chefe, o primeiro em posição, e deve continuar a ser o cabeça de Sua Igreja. A estrutura de governo adotada por ela só terá valor e significado na medida em que sirva e dê expressão à autoridade de seu Senhor. Nós não temos autoridade de fazer regulamentos quer individual quer coletivamente. A nossa missão como membros do corpo é discernir a vontade de Cristo, Sua Cabeça, quer a Sua vontade nos seduza ou não, quer aumente ou reduza os nossos números, quer nos torne populares ou impopulares, quer nos traga o louvor ou o desprezo dos homens. O fato de Ele ser a cabeça da igreja significa que é também a cabeça de cada cristão. Isso implica em que devemos Lhe prestar uma obediência individual e que somente quando isso acontece é que a unidade do corpo se torna uma realidade. (2) Cristo é o primogênito dos mortos. Mais uma vez a palavra “primogênito” é usada no sentido de posição e não de ordem, pois é evidente que Ele não foi o primeiro a ressuscitar dentre os mortos. Contudo, Ele é o vencedor da morte, por 7 meio de quem todos os fiéis que passarem pela morte viverão. À irmã do Lázaro morto ele declarou: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11:25); e ao idoso João, em Patmos, Ele disse: “Não tenha medo. Eu sou o Primeiro e o Último. Eu sou aquele que vive; estive morto, mas agora vivo para sempre. Tenho autoridade sobre a morte e sobre o mundo dos mortos”. (Ap 1:17-18 – BLH). Como Cristo foi chamado de o primogênito da criação por que deu origem à criação natural, agora é chamado de primogênito dos mortos porque por Ele tem início uma nova criação. “Ele é o princípio” dessa nova criação assim como fora o princípio da antiga, e isso, devido a sua ressurreição dentre os mortos. (3) Cristo nos libertou do império das trevas. Trevas é o estado de separação de Deus e ignorância espiritual em que o homem é escravo do pecado e do mal, onde uma força irresistível o arrasta para um abismo sem qualquer significado. É a condição de cegueira, ódio e miséria em que vivem aqueles que estão apartados de Deus. Mas a luz brilhou nas trevas. Jesus veio a este mundo de trevas e o iluminou com a fulgurante luz de sua presença e nos libertou. Ele nos tirou dessa situação desesperadora. Mas fez muito mais do que isso. (4) Cristo nos transportou para o seu reino. Deixamos de ser escravos de um terrível tirano e fomos transportados para outro reino onde imediatamente passamos a fazer parte da família real e nos tornamos herdeiros do Rei. Que grande abismo atravessamos! Como mudou a nossa condição! (5) Cristo é o Redentor. Frequentemente empregamos as expressões “salvação” e “redenção” como sinônimas. Todavia, “redenção” é mais rica em significado. A redenção ocorre somente quando há uma salvação ou livramento mediante o pagamento de um preço. Foi isso o que Cristo fez por nós. Éramos escravos, mas Ele comprou nossa liberdade pagando o preço com o Seu próprio sangue. Ele é o nosso Redentor. (6) Cristo deu-nos perdão. A passagem declara que nele temos “a remissão dos pecados” – uma expressão bíblica que se refere ao perdão de nossos pecados. Cristo nos perdoa, nos considera como se não houvéssemos pecado e este deixa de ser um entrave em nosso relacionamento com Deus. 8 (7) Cristo é o Reconciliador. Outra ilustração usada pelo apóstolo é a de que éramos estranhos para com Deus e, mais do que isso, éramos Seus inimigos, tanto em nossos pensamentos como em nossa conduta e, todavia, Cristo, mediante sua morte nos reconciliou com Deus. Agora somos Seus amigos; estamos em paz com Ele. Ao invés de anjos desencarnados atuarem na reconciliação, como ensinavam os gnósticos, a Palavra de Deus declara que Cristo nos ”reconciliou no corpo da sua carne”. Para os gnósticos, Deus em Sua pureza jamais Se aproximaria diretamente da humanidade pecadora; mas, Paulo assevera que foi isso mesmo o que aconteceu, pois fomos reconciliados através do corpo da carne de Cristo. Também é verdade que Sua vinda em carne e sangue dignificou o corpo humano, tornando-o um templo do Todo-Poderoso. O texto declara três pontos sobre a reconciliação: Sua fonte, seu alcance, e suas bênçãos. A fonte é a cruz de Cristo. A cruz é a iniciativa de Deus para nos atrair a Si. Ali se revela o poder, a santidade, a justiça e o amor de Deus. A cruz ocupa o lugar central no Plano da Salvação. O alcance da salvação abrange todas as coisas em todo o universo. Um dia o universo foi perfeito, mas o pecado – primeiro no Céu, com Lúcifer, depois na terra, com Adão e Eva – quebrou a harmonia que havia em toda a criação. “Porque sabemos que toda a criação a um só tempo geme e suporta angústias até agora” (Rm 8:22). Contudo, Cristo fará voltar a completa harmonia em todas as obras de Deus. Reconciliará consigo mesmo todas as coisas no céu e na terra. Mesmo os seres celestiais que não pecaram são beneficiados pela obra reconciliadora efetuada por Cristo, no sentido de que obtiveram uma visão muito mais nítida do amor e da sabedoria de Deus (Ef 3:10), o que os aproximou ainda mais de seu criador. Também devemos recordar que foi somente depois que Cristo derrotou a Satanás na cruz que os habitantes do Céus puderam festejar, pois as ações do inimigo ficariam, dali em diante, confinadas a este mundo (Ap 12:10-12). Tal reconciliação provê abundantes bênçãos para nós. A primeira delas é a paz com Deus. O pecador reconciliado sente o Seu favor, a Sua aprovação, e tem 9 prazer em viver em Sua presença. É Essa paz com Deus que o conduz a ter paz consigo mesmo e a se empenhar em viver em paz com o seu semelhante. Outra grande bênção alcançada pela reconciliação é a transformação de nosso caráter. Por causa do sacrifício de Cristo na cruz, Deus nos considera e nos torna “santos, inculpáveis e irrepreensíveis”, ou seja, livres de manchas, defeitos e acusações. Assim, o verdadeiro crente sabe que foi perdoado, que está plenamente reconciliado com Deus e que é santo aos Seus olhos. IV. A PRIMAZIA DE CRISTO REQUER NOSSA PERSEVERANÇA Entre a reconciliação passada e a perfeição futura encontra-se a obra de Deus transformando a nossa vida e tornando-a mais e mais semelhante a de Cristo, o que não ocorrerá sem a nossa cooperação. Os colossenses haviam sido reconciliados com Deus e não deveriam permitir que quaisquer mestres de novidades lançassem dúvidas sobre a sua experiência passada. Como filhos de Deus não devemos nos impressionar com os que recuam ou apostatam, pois nós “não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma” (Hb 10:39). No texto o apóstolo apela para que permaneçamos “alicerçados e firmes”. Estas são figuras emprestadas da construção. (1) Perseverança na fé. Permanecer na fé garante a nossa vitória. Ela é o alicerce de nossa vida espiritual. Devemos cuidar para não sermos enredados pelas novas versões do cristianismo. O segredo é o apego ao “evangelho que ouvistes”, a lealdade às nossas origens espirituais. Também nosso evangelho não é uma doutrina exclusiva, que pode ser conhecida apenas por uns poucos, como queriam os gnósticos, mas tem um objetivo e alcance universais e por isso “foi pregado a toda a criatura debaixo do céu”. (2) Perseverança na esperança do Evangelho. Neste mesmo capítulo Paulo já havia falado sobre ela. No verso 5 ele falara “da esperança que vos está preservada nos céus” e no verso 12 referira-se à “herança dos santos na luz” . Essa esperança é a volta de Cristo a este mundo com tudo aquilo que vamos começar a receber a partir de então. 10 O autor de Hebreus a compara com uma âncora que é lançada ao alto e que se firma lá no santuário celestial onde Cristo intercede por nós (Hb 7:10-20). Em meio às incertezas e decepções desta vida, ela nos traz conforto. A salvação que Deus providenciou para nós é muito mais do que perdão e libertação do pecado. Envolve todas as riquezas de uma herança infinita, eterna e incomparável: Uma vida sem tristezas, dores e decepções, num universo completamente isento do mal; uma vida tão longa que se medirá com a vida de Deus; não somente longa mas com qualidade: com amor, alegria, paz, realizações, com plenitude de vigor; uma vida onde poderemos desenvolver ao máximo todas as nossas capacidades e onde todos serão amigos, amigos de verdade; uma vida com os remidos de todas as eras incluindo nossos queridos que morte levou; enfim uma vida com tantas bênçãos, que, sequer, podemos imaginar. Ninguém se torna filho e herdeiro de quem quer que seja por vontade própria. O mesmo em relação a Deus e à salvação. “Graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz.” (1:12). Deus nos tornou Seus filhos e agora nos está capacitando para participarmos, um dia – com alegria – de nossa herança. Somos filhos de Deus e assim temos deveres e obrigações. Mas por isso mesmo também temos privilégios. Somos herdeiros de Deus e quando Cristo retornar, começaremos a receber nossa herança. Temos lembrado que somos herdeiros de Deus? Temos pensado em nossa herança? Temos a apreciado? Paulo encerra seu apelo lembrando que o evangelho por ele anunciado não era invenção sua, antes era mais antigo do que ele e que ele próprio era ministro, quer dizer, um servo, deste evangelho. CONCLUSÃO 1. Sendo Cristo o que é, em relação à divindade, à Igreja e ao universo, como pode alguém querer fazer modificações ou acréscimos à salvação efetuada por Ele? Seria como sair ao ar livre em pleno meio-dia, debaixo de um céu sem nuvens, e erguer uma desprezível vela na intenção de ajudar o glorioso sol a brilhar. NEle habita permanentemente a plenitude da divindade. Por isso, Ele é sem igual, e não precisou de assistentes angélicos, tanto na criação quanto na redenção. 11 2. Se Ele é Deus, o Senhor da criação, o Dono do universo e o cabeça da igreja, e nossa vida está em Suas mãos, então nada há a recear. Nele temos plenitude de vida e não precisamos de suplementos gnósticos ou de qualquer outra espécie. Em razão de todas essas coisas, Ele deve ter a primazia em tudo, inclusive em nossa vida. 3. Portanto, enquanto aguardamos Sua vinda, busquemos sempre Seu perdão; vivamos como amigos e verdadeiros filhos de Deus, longe das trevas e permaneçamos cheios de esperança, firmes na fé, firmes em Cristo. ____________________________ BIBLIOGRAFIA Appéré, Guy. O misterio de Cristo: Meditações sobre Colossenses. Tiptree, Essex: Edições Peregrino, 1990. Champlin, Russell Norman e João Marques Bentes, eds. “Colossenses”. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. 6 vols. 3ª ed. Editado por São Paulo: Candeia, 1995. 1:790-795. Falcão, Silas. Meditações sobre Colossenses. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, s. d. Jamieson, Roberto, A. R. Fausset e David Brown. “Colossenses”. Comentario exegetico e explicativo de la Bíblia. 7a ed. 2 vols. Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1981. 2:512-514. Jones, J. Ithel. “A epístola aos Colossenses”. O novo comentário da Bíblia. 3 vols. São Paulo: Vida Nova, 2ª ed., reimpressão 1976. 3:1288-1290. Martin, Ralph. Colossenses e Filemon: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1984. Reis, Emilson dos. Introdução geral à Bíblia: Como a Bíblia foi escrita e chegou até nós. 3ª ed. Artur Nogueira: Gráfica nogueirense, 2007. White, R. E. O. “Colossenses”. Comentário bíblico Broadman. Rio de Janeiro: JUERP, 1984. 11:274-281.