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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UnU de Ciências Exatas e Tecnológicas
Curso de Ciências Biológicas
MARIANA ALVES RODRIGUES
SOROPREVALÊNCIA DE SÍFILIS EM DOADORES DE SANGUE DO
HEMOCENTRO DE GOIÁS NO PERÍODO DE 2002 A 2011
Anápolis
2012
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MARIANA ALVES RODRIGUES
SOROPREVALÊNCIA DE SÍFILIS EM DOADORES DE SANGUE DO
HEMOCENTRO DE GOIÁS NO PERÍODO DE 2002 A 2011
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Universidade Estadual de Goiás, UnUCET, como
requisito parcial à obtenção do grau de Biólogo
Licenciado.
Orientador: Prof. MSc. Marc Alexandre Duarte
Gigonzac
Anápolis
2012
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AGRADECIMENTOS
À Deus, inspiração maior, que me acompanhou e amparou durante toda esta caminhada.
Ao meu orientador, Prof. MSc. Marc Alexandre Duarte Gigonzac, pelo empenho, auxílio e
pelas contribuições feitas a este trabalho.
Aos meus pais Luiz Antonio Rodrigues e Ione Alves Rodrigues, pelo apoio, incentivo e por
terem feito tudo o que estava aos seus alcances para me oferecerem a oportunidade de estudar
e me formar.
À todos os meus familiares, que torceram e acreditaram na conclusão deste curso.
Ao Carlos Alberto Soares Santana Júnior, pelo carinho, compreensão e incentivo. Obrigada
pela parceria em todas as horas e por todas as palavras ditas que me ajudaram a superar os
momentos de dificuldade.
Aos amigos da turma de Ciências Biológicas 2008/2 pelas agradáveis lembranças que serão
eternamente guardadas no coração.
Aos professores do curso de Ciências Biológicas que compartilharam seus conhecimentos,
principalmente àqueles que se dedicaram para fornecer uma formação de qualidade aos seus
alunos.
À todos, que, de uma forma ou outra, contribuíram para a realização deste trabalho, muito
obrigada!
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RESUMO
A sífilis é uma doença infectocontagiosa causada pela bactéria Treponema pallidum subsp.
pallidum. Sua transmissão ocorre predominantemente pela via sexual, podendo ocorrer
também através do contato direto com as lesões cutâneo-mucosas infectantes; através da
placenta, pelo canal do parto ou durante o aleitamento; por meio da inoculação acidental por
objetos contaminados, e ainda por transfusão de sangue contaminado. O contágio através das
transfusões sanguíneas, hoje praticamente inexistente, tem sido contido através da adoção de
testes sorológicos sensíveis e específicos pelos bancos de sangue. O objetivo deste estudo foi
dimensionar a soroprevalência de sífilis em doadores de sangue do Hemocentro de Goiás, no
período de 2002 a 2011. O estudo foi realizado através da análise dos registros do
Hemocentro de Goiás obtidos no banco de dados HEMOVIDA®. Foram registradas neste
período 389.424 doações, sendo que todas estas foram submetidas ao teste de VDRL (Veneral
Disease Research Laboratory). A prevalência de sífilis encontrada no Hemocentro de Goiás
no período analisado foi de 0,61%, valor este relativamente baixo, quando comparado a
outros índices encontrados em Hemocentros distribuídos pelo país. Nos últimos dez anos
(2002-2011) houve redução da soroprevalência de sífilis entre a população de doadores de
sangue do Hemocentro de Goiás. Embora o estudo não seja representativo para todo o Estado
de Goiás, os resultados obtidos permitem obter uma visão mais ampla sobre a situação da
sífilis em nosso Estado, contribuindo como importante fonte de dados para os levantamentos
epidemiológicos realizados pelos órgãos de saúde e possibilitando a estes o direcionamento de
suas ações.
Palavras-chave: Bancos de sangue, Treponema pallidum, triagem sorológica, VDRL.
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ABSTRACT
Syphilis is an infectious disease caused by the bacterium Treponema pallidum subsp.
pallidum. It is transmitted predominantly through sexual contact, but may also occur through
direct contact with the skin and mucosal lesions infectious; through the placenta, through the
birth canal or during lactation; through accidental inoculation with contaminated objects, and
still contaminated by blood transfusion. The transmission through blood transfusions, now
virtually nonexistent, has been contained through the adoption of sensitive and specific
serological tests for blood banks. The objective of this study was to scale the seroprevalence
of syphilis in blood donors from the Blood Center of Goiás in the period 2002 to 2011. The
study was conducted through analysis of records obtained from the Blood Center of Goiás in
the database HEMOVIDA®. 389,424 were recorded in this period donations, and all these
were tested with VDRL (Venereal Disease Research Laboratory). The prevalence of syphilis
found at the Blood Center of Goiás in the analyzed period was 0.61% which is relatively low
when compared to rates found in other blood centers across the country. Over the past ten
years (2002-2011) there was a reduction of the seroprevalence of syphilis among the
population of blood donors from the Blood Center of Goiás Although the study is not
representative for the entire state of Goiás, the results allow for a broader vision the situation
of syphilis in our state, contributing an important source of data for epidemiological surveys
carried out by health agencies and enabling them directing their actions
Keywords: Blood banks, Treponema pallidum, serological screening, VDRL.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Representação esquemática do Treponema pallidum. Fonte: Trabulsi.
Microbiologia............................................................................................................................11
Figura 2 - Sífilis primária: cancro duro. Fonte: Brasil (1999).................................................12
Figura 3 – a. Sífilis secundária: lesões na face - b. Lesões na palma da mão. Fonte: Avelleira;
Bottino (2006)...........................................................................................................................13
Figura 4 – Sífilis terciária: lesões na face. Fonte: Brasil (1999)..............................................14
Figura 5 – a. Sífilis congênita precoce. Fonte: Santos; Anjos (2009) - b. Fronte olímpica de
recém-nascido com sífilis congênita tardia. Fonte: Costa et al. (2010)....................................15
Figura 6 – Mapa do Estado de Goiás - Destaque das cidades que possuem postos de coleta do
HEMOGO. Fonte: <http://www.juceg.go.gov.br/regionais.htm>............................................22
Figura 7 – Soroprevalência de sífilis observada nos Hemocentros dos Estados do Paraná, Rio
Grande do Sul, Goiás, São Paulo, Amazonas e Sergipe...........................................................24
Figura 8 - Soroprevalência para sífilis observada no Hemocentro de Goiás, no período de
janeiro de 2002 a dezembro de 2011........................................................................................27
Figura 9 - Tendência linear de soroprevalência para sífilis observada no Hemocentro de
Goiás no periodo de janeiro de 2002 a dezembro de 2011.......................................................28
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Total de doações de sangue e soroprevalência para sífilis no Hemocentro de
Goiás, no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2011......................................................23
Tabela 2 – Número de doações e soroprevalência para sífilis observada anualmente no
Hemocentro de Goiás, no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2011.............................26
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS
Acquired Immunodeficiency Syndrome
AM
Amazonas
ANVISA
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CTA
Centro de Testagem e Aconselhamento
DATASUS
Sistema de Informática do Sistema Único de Saúde
DST
Doenças Sexualmente Transmissíveis
ELISA
Enzyme-Linked Immunosorbent Assay
FTA-Abs
Fluorescent Treponemal Antibody Absorption
GO
Goiás
HEMOAM
Fundação de Hematologia e Hemoterapia/Hemocentro do Amazonas
HEMOGO
Hemocentro de Goiás
HEMOLACEN
Hemocentro Laboratório Central
HIV
Human Immunodeficiency Virus
LCR
Líquido cefalorraquidiano
OMS
Organização Mundial de Saúde
PCR
Polymerase Chain Reaction
PN-DST/AIDS
Programa Nacional de DST e AIDS
PR
Paraná
RPR
Rapid Plasma Reagin
RS
Rio Grande do Sul
SE
Sergipe
subsp.
Subespécie
SP
São Paulo
SUS
Sistema Único de Saúde
T. pallidum
Treponema pallidum
TPHA
Treponema pallidum Hemagglutination
VDRL
Veneral Disease Research Laboratory
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................10
2. OBJETIVOS.................................................................................................................20
2.1. OBJETIVO GERAL..............................................................................................20
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................20
3. MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................................21
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................................23
5. CONCLUSÃO..............................................................................................................29
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................31
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1. INTRODUÇÃO
A sífilis, também chamada Lues, é uma doença infectocontagiosa, causada pela bactéria
Treponema pallidum subsp. pallidum, família Spirochaetaceae (PESTONI PORVÉN et al.
2002; AVELAR; PEREIRA, 2008). A doença pode acometer qualquer órgão do corpo
humano e evolui por estágios que alternam períodos de atividade e latência (MILANEZ;
AMARAL, 2008). Em virtude da diversidade de manifestações clínicas que apresenta, a
sífilis, pode simular várias outras enfermidades, sendo conhecida como a “grande imitadora”
(MALERBI et al. 2006; CONTRERAS; ZULUAGA; OCAMPO, 2008).
A presença da sífilis é relatada desde as civilizações Egípcia, Romana e Chinesa, com a
denominação de “lepra venérea” (BRANDÃO; SÁ; ASENSI, 2002). Entretanto, apenas no
final do século XV a doença tornou-se conhecida na Europa (AVELLEIRA; BOTTINO,
2006). A partir deste momento, várias teorias foram propostas a fim de tentar explicar a sua
origem. De acordo com a “Teoria Colombiana” a doença teria surgido no Novo Mundo, sendo
introduzida na Europa por marinheiros que participaram das expedições de Cristovão
Colombo. Outra teoria, denominada “Pré-colombiana”, defende que a sífilis já existia na
Europa antes das expedições de Colombo, porém era erroneamente diagnosticada. Uma teoria
alternativa propõe que a doença seria originária da África, sendo trazida para a Europa por
exploradores portugueses (TALHARI; CORTEZ, 2009).
Apesar da sífilis ter se tornado conhecida há mais de 500 anos, o seu agente etiológico,
Treponema pallidum, foi identificado apenas em 1905, pelo zoologista Fritz Richard
Schaudinn, através do exame do exsudado, coletado pelo médico dermatologista Paul Erich
Hoffmann, de uma lesão na vulva de uma mulher. Este exame revelou a presença de muitos
microrganismos espiralados, delgados e pouco corados. Schaudinn denominou inicialmente
este microrganismo de Spirochaeta pallida e após alguns meses de pesquisa em conjunto com
Hoffmann, propôs inseri-lo em um novo gênero com a denominação Treponema pallidum
(SARACENI; LEAL; HARTZ, 2005; SOUZA, 2005).
O T. pallidum é uma bactéria espiralada, com cerca de 6 a 12 voltas regularmente
espaçadas, delgada (0,1 a 0,2 μm de espessura) e com aproximadamente 6 a 20 μm de
comprimento. Este microrganismo exibe motilidade ativa proporcionada pelos flagelos
periplasmáticos, que iniciam na extremidade distal, enrolam-se ao longo de seu eixo
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longitudinal, e facilitam a invasão tecidual, em virtude dos movimentos de rotação e flexão
por eles produzidos (Figura 1) (AVELAR; PEREIRA, 2008).
Figura 1 – Representação esquemática do Treponema pallidum.
Fonte: Trabulsi. Microbiologia.
Após penetrar no organismo, o T. pallidum atinge o sistema linfático local e por
disseminação hematogênica dirige-se para outras partes do corpo (AVELLEIRA; BOTTINO,
2006). O período de incubação é em torno de 21 dias, podendo variar de 10 a 90 dias de
acordo com o número e virulência dos treponemas e a resposta do hospedeiro (BRASIL,
2006; NORONHA et al. 2006).
A transmissão da sífilis ocorre, predominantemente, por via sexual. Outras formas de
transmissão incluem: o contato direto com as lesões cutâneo-mucosas infectantes; a
transmissão congênita através da placenta, pelo canal do parto ou durante o aleitamento
(quando houver lesão nestas regiões); a inoculação acidental por objetos contaminados, e
ainda por transfusão de sangue contaminado (REICHE et al. 2000; SARACENI; LEAL;
HARTZ, 2005; BRASIL, 2005).
A sífilis pode ser classificada de acordo com os seus estágios de infecção em primária,
secundária, latente e terciária. Outra classificação divide a doença em duas fases: a fase
recente e a fase tardia. A fase recente compreende o primeiro ano da infecção e envolve as
manifestações primárias, secundárias e o início da latência. A fase tardia inicia-se após um
ano de evolução da doença e corresponde às fases de latência tardia e manifestações terciárias
(PESTONI PORVÉN et al. 2002).
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As manifestações clínicas da sífilis primária geralmente surgem no decorrer de três
semanas após a infecção. Desenvolve-se no local de inoculação do agente uma pápula, esta se
rompe originando uma lesão ulcerosa com borda elevada e firme, base lisa e limpa,
denominada cancro duro. Normalmente o cancro é único, indolor e localiza-se na região
genital (Figura 2). Entretanto, pode localizar-se também na região anal, colo uterino, boca,
língua, região mamária e dedos das mãos (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006; BRASIL, 2006).
Nesta fase clínica há aumento dos linfonodos locais (MILANEZ; AMARAL, 2008). A lesão
primária é altamente contagiosa, e regride espontaneamente em média seis semanas após o
seu aparecimento, geralmente sem deixar cicatriz. O aspecto dos gânglios linfáticos persiste
um pouco mais (CONTRERAS; ZULUAGA; OCAMPO, 2008).
Figura 2 - Sífilis primária: cancro duro.
Fonte: Brasil (1999).
As lesões secundárias podem surgir quando o cancro ainda está presente, mas
frequentemente surgem oito semanas após o desaparecimento da lesão primária
(CONTRERAS; ZULUAGA; OCAMPO, 2009; MILANEZ; AMARAL, 2008). Nesta fase da
doença, correspondente à sífilis secundária, ocorre o acometimento da pele e dos órgãos
internos, o que indica a disseminação do Treponema por todo o organismo (AVELLEIRA;
BOTTINO, 2006). Na pele surgem lesões sob a forma de máculas de coloração rósea,
denominadas roséolas sifilíticas (Figura 3a), que evoluem para lesões papulosas,
papuloescamosas, placas, e raramente, lesões pápulo-tuberosas ou nodulares, altamente
infecciosas (TALHARI; CORTEZ, 2009). A presença destas lesões nas regiões palmares e
plantares sugere o diagnóstico de sífilis secundária (Figura 3b) (BRASIL, 2006).
13
a.
b.
Figura 3 – a. Sífilis secundária: lesões na face - b. Lesões na palma da mão.
Fonte: Avelleira; Bottino (2006).
As lesões cutâneas secundárias da sífilis são acompanhadas por sintomas sistêmicos que
compreendem mal-estar, linfadenopatia generalizada, faringite, artralgias, mialgias, cefaléia,
meningismo, dentre outros, visto que qualquer órgão pode ser afetado. As lesões regridem
espontaneamente, mesmo sem tratamento, ocorrendo em surtos intercalados por períodos de
latência cada vez maiores. A doença entra então em um longo período de latência,
caracterizado pela ausência de manifestações clínicas, podendo ou não voltar a se manifestar
(AVELLEIRA; BOTTINO, 2006; NORONHA et al. 2006; SANTOS; ANJOS, 2009).
Caso a doença entre novamente em atividade, o paciente apresentará sífilis terciária.
Nesta fase da doença qualquer órgão pode ser acometido e o paciente poderá apresentar lesões
cutâneo-mucosas, cardiovasculares e neurológicas. A formação de granulomas destrutivos,
denominados gomas, caracteriza esta fase clínica da infecção (Figura 4) (BRASIL, 2006). As
lesões não são infecciosas e podem ser encontradas em qualquer região do corpo,
predominando na superfície extensora dos braços, dorso e face (TALHARI; CORTEZ, 2009).
14
Figura 4 – Sífilis terciária: lesões na face.
Fonte: Brasil (1999).
Em relação às lesões cardiovasculares que a sífilis terciária pode causar, o acometimento
da aorta é a mais comum (aortite sifilítica). A aortite manifesta-se entre 10 a 40 anos após a
infecção pelo Treponema, e em 50% dos casos acomete a aorta ascendente, podendo em
algumas situações levar a morte, se não for tratada cirurgicamente (SARAIVA; CÉSAR;
MELLO, 2010).
Na fase terciária pode ocorrer também o acometimento do sistema nervoso central
(neurossífilis), decorrente da invasão do líquido cefalorraquidiano (LCR) pelo T. pallidum. A
neurossífilis pode comprometer as meninges, cérebro, medula nervosa e as raízes nervosas
(tabes dorsalis), e seus principais sintomas são: cefaléia, vertigens, perturbações da
motilidade, distúrbios de sensibilidade (sensações de entorpecimento dos membros),
demência, convulsões e distúrbios psiquiátricos (depressão, mania, psicose e transtornos de
personalidade) (NADAL; NADAL, 2006; VIANNA, 2010).
Algumas variações na evolução e sintomatologia da sífilis podem ser observadas em
pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Nestes pacientes,
múltiplos cancros podem estar presentes na fase primária da infecção e persistirem por
períodos maiores. Além disso, o tempo decorrido entre as fases clínicas pode variar,
permitindo-se diagnosticar sífilis terciária em períodos mais curtos (PESTONI PORVÉN et
al. 2002; AIRES JUNIOR, 2007; PASSOS et al. 2010).
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Outra manifestação da sífilis ocorre em gestantes infectadas não tratadas ou
inadequadamente tratadas.
Nestas pode ocorrer a transmissão, por via transplacentária, do
Treponema pallidum para o concepto, resultando na sífilis congênita. A transmissão pode
acontecer em qualquer período gestacional e depende do estágio da doença na mãe e do tempo
de exposição do feto no útero. Nas fases iniciais da infecção a taxa de transmissão varia de 70
a 100%, devido à grande quantidade de treponemas presentes na mãe. Já nas fases tardias,
quando o número desses microrganismos na mãe é baixo, as taxas de transmissão reduzem
para aproximadamente 30%. A sífilis congênita pode causar aborto espontâneo, natimorto ou
morte perinatal. Estima-se que mais de 50% dos recém-nascidos sejam assintomáticos ao
nascimento, apresentando sintomatologia a partir do terceiro mês de vida (BRASIL, 2005).
A sífilis congênita é dividida em duas fases: a fase precoce, diagnosticada até o segundo
ano de vida, e a fase tardia, diagnosticada após este período. Alguns sinais clínicos da fase
precoce são: baixo peso ao nascer, desconforto respiratório, hepatoesplenomegalia, lesões
cutâneas, periostite, osteocondrite, pseudoparalisia dos membros, rinite mucossanguinolenta,
icterícia, anemia, linfadenopatia generalizada, convulsão e meningite, trombocitopenia,
leucocitose ou leucopenia (Figura 5a). Na fase tardia, as manifestações clínicas são
irreversíveis e podem envolver vários órgãos. São características dessa fase: fronte olímpica,
nariz em sela, palato em ogiva, dentes de Hutchinson e molares em formato de amora, rágades
periorais, tíbia em sabre, ceratite intersticial, surdez neurológica e retardo mental (Figura 5b)
(BRASIL, 2005).
a.
b.
Figura 5 – a. Sífilis congênita precoce. Fonte: Santos; Anjos (2009) - b. Fronte olímpica de recém-nascido com
sífilis congênita tardia. Fonte: Costa et al. (2010).
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A escolha do melhor método para o diagnóstico da sífilis deve ser realizada levando em
consideração a fase clínica da doença. Os exames incluem a pesquisa direta do Treponema
pallidum, mediante microscopia eletrônica, em campo escuro ou por imunofluorescência
direta, e os testes sorológicos não específicos e específicos (NADAL; FRAMIL, 2007). A
cultura microbiológica não é uma metodologia utilizada para diagnóstico, visto que não foi
possível até o momento desenvolver um meio de cultura para o T. pallidum (CASAL et al.
2011).
Na fase primária e em algumas lesões da fase secundária, o diagnóstico é realizado
rapidamente por meio da pesquisa direta do T. pallidum no exsudato das lesões cutâneas em
microscopia de campo escuro, por meio do exame do material corado (método de FontanaTribondeau), ou ainda através de colorações com marcadores específicos, que possibilitem a
visualização das espiroquetas (teste de imunofluorescência direta) (CONTRERAS;
ZULUAGA; OCAMPO, 2008).
Os testes sorológicos podem ser realizados em qualquer fase da doença, tornando-se
positivos entre duas a quatro semanas após o aparecimento da lesão primária, e são
classificados em não treponêmicos e treponêmicos. Os testes não treponêmicos, VDRL
(Veneral Disease Research Laboratory) e RPR (Rapid Plasma Reagin), são qualitativos e
quantitativos, de baixo custo e alta sensibilidade, sendo os mais indicados para
acompanhamento pós-terapêutico da doença por serem passíveis de titulação. Entretanto,
estes testes detectam anticorpos antilípidicos que estão presentes em várias doenças, podendo
ocorrer reações falso-positivas (NADAL; FRAMIL, 2007; MILANEZ; AMARAL, 2008).
Os testes treponêmicos, FTA-Abs (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption),
TPHA (Treponema pallidum Hemagglutination) e o teste imunoenzimático (ELISA Enzyme-Linked Immunosorbent Assay), são qualitativos e detectam anticorpos específicos
antitreponêmicos. Estes testes são empregados para confirmar o diagnóstico quando os testes
não treponêmicos são reativos ou apresentam baixos títulos (NADAL; FRAMIL, 2007).
A técnica molecular Polymerase Chain Reaction (PCR) já está sendo empregada para o
diagnóstico da sífilis, principalmente nas fases latente e terciária. A alta sensibilidade e
especificidade desta técnica permitem detectar a presença do T. pallidum mesmo quando este
se encontra em pequeno número (BRANDÃO; SÁ; ASENSI, 2002; ROTTA, 2005). Além
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disso, a PCR pode contribuir para a rápida identificação da doença em gestantes,
possibilitando maior agilidade no tratamento e a redução dos riscos de transmissão para o
concepto (CASAL et al. 2011).
Outros métodos diagnósticos para sífilis podem ser aplicados em situações particulares.
Em pacientes com diagnóstico sorológico de sífilis que apresentam sintomas neurais, ou que
mantém exames com títulos elevados após o tratamento correto, e em crianças com sífilis
congênita comprovada, recomenda-se o exame do líquido cefalorraquidiano (LCR). E em
casos suspeitos de sífilis congênita, o exame radiográfico dos ossos longos é indicado para a
constatação de alterações características da doença como osteocondrite, periostite e
osteomielite (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006).
Após a confirmação diagnóstica o medicamento eleito para o tratamento, em todos os
estágios da sífilis, é a penicilina G (benzatina, cristalina ou procaína), via intramuscular ou
endovenosa, em doses diárias ou semanais dependendo da fase clínica e da manifestação da
doença no paciente (NADAL; NADAL, 2006). Outros antibióticos como tetraciclinas,
cefalosporinas e eritromicina podem ser utilizados quando o paciente apresenta alergia à
penicilina (PESTONI PORVÉN et al. 2002; NORONHA et al. 2006).
No século XIX, o desconhecimento de um tratamento eficaz fez com que a sífilis
atingisse elevados índices por todo o mundo, porém o advento da antibioticoterapia e a
comprovação, em 1943, da eficácia da penicilina no seu tratamento, possibilitaram a cura e a
interrupção da evolução da doença, levando a redução da mortalidade da população acometida
(LIMA, 2002; GRIEBELER, 2009; SARAIVA; CÉSAR; MELLO, 2010).
Com o surgimento da pílula anticoncepcional e a consequente mudança no
comportamento sexual da sociedade na década de 60, os números de casos de sífilis
novamente se elevaram (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006). Na década de 70, estimava-se que
havia cerca de 50 milhões de novos casos anuais de sífilis. Estes altos índices estavam
associados ao comportamento sexual da sociedade e a pouca valorização da triagem
sorológica pelos serviços de hemoterapia (SILVEIRA et al. 1987). O surgimento da síndrome
da imunodeficiência adquirida (AIDS) nos anos 80, fez com que a sífilis ganhasse notoriedade
ainda maior, uma vez que as lesões genitais ulceradas por ela causadas favorecem o contágio
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pelo HIV (FLEMING; WASSERHEIT, 1999; BRANDÃO; SÁ; ASENSI, 2002; PASSOS et
al. 2010).
Na década de 90, acredita-se que mudanças nas práticas sexuais, devido à epidemia da
AIDS, levaram a uma redução dos índices de sífilis (SIGNORINI et al. 2007). Entretanto,
fatores como a melhora clínica proporcionada pelos coquetéis antirretrovirais nos portadores
de HIV, a retomada de comportamentos sexuais de risco, e a intensificação do uso de drogas
injetáveis, contribuíram para um novo aumento dos índices de sífilis em todo o mundo
(MARRAZZO, 2007).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que ocorra no mundo cerca de 340
milhões de novos casos de DST curáveis (gonorréia, clamídia, sífilis e tricomoníase) a cada
ano, sendo que 12 milhões destes casos ocorrem no Brasil (WHO, 2001; WHO, 2007).
Quanto à sífilis, estima-se que ocorram aproximadamente, 937.000 casos/ano no Brasil
(PASSOS et al. 2010).
Na tentativa de reduzir estes índices no Brasil, o Programa Nacional de DST e AIDS
(PN-DST/AIDS) do Ministério da Saúde implantou os Centros de Testagem e
Aconselhamento (CTA), visando promover o acesso da população brasileira ao diagnóstico e
à prevenção do HIV e demais DST na rede pública de saúde. Nestes centros, além da
realização gratuita de testes sorológicos, são prestados serviços de aconselhamento e trabalhos
educativos que abordam aspectos sobre a transmissão e prevenção das DST, contribuindo para
a redução do número de ocorrências destas doenças na população. Os CTA também atuam
como importante fonte de dados epidemiológicos, auxiliando na formulação de estratégias
mais eficazes a serem aplicadas em campanhas de prevenção (GERMANO et al. 2008).
Outro fator que tem contribuído para a redução dos índices de sífilis ao longo da história,
não só no Brasil, mas em todo o mundo, é a realização de testes sorológicos pelos serviços de
hemoterapia em doadores de sangue (GERMANO et al. 2008). Nos últimos 35 anos, apenas
quatro casos de transmissão da doença por meio da transfusão de sangue e hemocomponentes
foram relatados na literatura médica (LUNKES; KUNZLER; ROHR, 2011).
A adoção de testes sorológicos de alta sensibilidade e especificidade pelos bancos de
sangue para a identificação das hepatites B e C, AIDS, HTLV I/II, sífilis, doença de Chagas e
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malária nas áreas endêmicas, atendendo a Portaria 1376/1993 e a Resolução RDC 343/2002
estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), garantem uma
melhor qualidade dos produtos sanguíneos utilizados em transfusões e reduzem os riscos de
disseminação de agentes infectocontagiosos (SALLES et al. 2003; OLIVEIRA; VERDASCA;
MONTEIRO, 2008).
A sorologia para sífilis é realizada combinando testes treponêmicos e não treponêmicos.
Entretanto, nos serviços de hemoterapia, em virtude da grande demanda de amostras a serem
analisadas, apenas um tipo de teste (treponêmico ou não treponêmico) pode ser realizado,
desde que rígidos padrões de qualidade sejam seguidos, de modo a evitar que uma unidade
infectada entre no estoque de componentes disponíveis para transfusão. Por este motivo, os
Hemocentros adotam, em sua maioria, testes não treponêmicos em suas triagens sorológicas,
em razão de seu menor custo e de seu rápido diagnóstico (CARRAZZONE; BRITO;
GOMES, 2004; SANTOS; MARCELLINI; RIBEIRO, 2008; LUNKES; KUNZLER; ROHR,
2011).
Em Goiás, o Hemocentro (HEMOGO), cuja sede é situada na cidade de Goiânia, presta
serviços em Hemoterapia e Hematologia e coordena toda a rede de Hemoterapia Pública do
Estado, assegurando a qualidade e o fornecimento de sangue e seus derivados à comunidade
(GOIÁS, 2010). Desde 2002, o HEMOGO coleta em média cerca de 38.000 bolsas de sangue
por ano, as quais são submetidas a rígidos controles de qualidade. A sorologia para sífilis é
realizada através do teste de VDRL, e em caso de reatividade ao teste a bolsa é descartada.
Além de assegurar a qualidade do sangue disponível para transfusão, o rastreamento
sorológico, realizado em bancos de sangue, pode fornecer dados sobre a morbidade
populacional, uma vez que as informações obtidas representam uma parcela significativa da
população adulta, fornecendo informações relevantes para o desenvolvimento de estratégias
para o controle epidemiológico (ANDRADE et al.1989; GERMANO et al. 2008).
Embora muitos esforços tenham sido empregados, dados sobre a prevalência de sífilis
adquirida na população brasileira ainda são escassos, em razão desta não fazer parte da lista
de doenças de notificação compulsória (BRASIL, 2008). Não existem estudos publicados
sobre a prevalência de sífilis em doadores de sangue no Estado de Goiás, realizados nos
últimos 20 anos.
20
2. OBJETIVOS
2.1. GERAL
Dimensionar a soroprevalência da infecção pelo Treponema pallidum na população de
doadores de sangue do Hemocentro de Goiás, no período de 2002 a 2011.
2.2. ESPECÍFICOS
 Avaliar a soroprevalência de sífilis em doadores de sangue do Hemocentro de Goiás.
 Comparar a soroprevalência entre as amostras provenientes das coletas interna e
externa do Hemocentro de Goiás.
 Comparar a soroprevalência de sífilis do Hemocentro de Goiás com outros bancos de
sangue distribuídos pelo país.
 Comparar a soroprevalência de sífilis em doadores do Hemocentro de Goiás entre os
anos em estudo.
21
3. MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal e retrospectivo, realizado por meio da análise dos
registros de doadores de sangue, obtidos na sede do Hemocentro de Goiás (HEMOGO),
localizada na Avenida Anhanguera, número 5.195, Setor Coimbra, Goiânia-GO.
Foram analisados os registros do HEMOGO obtidos no banco de dados HEMOVIDA®,
coordenado e implantado pelo DATASUS®, referentes ao período de janeiro de 2002 a
dezembro de 2011. Apenas o número de ocorrência da doença foi disponibilizado, todas as
demais informações referentes à identificação do doador permaneceram em sigilo.
As amostras laboratoriais foram submetidas ao teste de VDRL (Veneral Disease Research
Laboratory), sendo que todas as amostras caracterizadas como reagentes foram consideradas
para a análise.
A população em estudo foi dividida em dois grupos: doadores de Coleta Interna e
doadores de Coleta Externa. Os doadores de Coleta Interna correspondem àqueles que
realizaram doações dentro da sede do Hemocentro localizada em Goiânia, enquanto que os
doadores de Coleta Externa incluem as doações realizadas: 1) na unidade móvel do
Hemocentro; 2) nos Hemocentros regionais (Catalão, Ceres, Rio Verde e Jataí); 3) nas
unidades de coleta e transfusão (Goiânia - Hospital das Clínicas, Porangatu, Formosa,
Quirinópolis e Iporá) (Figura 6).
22
Figura 6 - Mapa do Estado de Goiás - Destaque das cidades que possuem postos de
coleta do HEMOGO.
Fonte: <http://www.juceg.go.gov.br/regionais.htm>.
A comparação entre as prevalências anuais encontradas no Hemocentro de Goiás foi
realizada através do cálculo de frequências, médias e do teste do qui-quadrado (χ2), com nível
de significância de 5%. E as prevalências médias encontradas nos dois grupos (coleta interna
e externa) foram analisadas estatisticamente através do teste t, com nível de significância de
5%. Todos os dados foram analisados utilizando-se o programa Excel® do pacote Office
2007® da Microsoft®.
23
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O total de doações registradas no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2011 foi de
389.424, sendo 266.949 provenientes do grupo de coleta interna e 122.475 do grupo de coleta
externa. Deste total, 2.364 doações apresentaram sorologia positiva para sífilis, sendo 1.554
do grupo de coleta interna e 810 do grupo de coleta externa (Tabela 1).
A prevalência de sífilis encontrada no Hemocentro de Goiás (HEMOGO) no período
analisado foi de 0,61%. Ao confrontarmos os resultados obtidos do grupo de coleta externa
com os do grupo de coleta interna, observa-se que o número de doações do grupo interno,
cuja doação foi realizada dentro da sede do Hemocentro em Goiânia, é bem superior ao do
grupo externo. Entretanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre as
prevalências de sífilis encontradas nos grupos de coleta interna (0,58%) e de coleta externa
(0,66%) (t= 0,053; gl= 18; p= 0,959) (Tabela 1).
Tabela 1 – Total de doações de sangue e soroprevalência para sífilis no Hemocentro de Goiás, no período de
janeiro de 2002 a dezembro de 2011.
Grupo
Doações
VDRL reagentes
Soroprevalência (%)
Coleta Interna
266.949
1.554
0,58
Coleta Externa
122.475
810
0,66
Total
389.424
2.364
0,61
Segundo dados do Ministério da Saúde, a busca por tratamento por indivíduos
sexualmente ativos que apresentam alguma DST é menor entre os residentes em áreas rurais.
Além disso, a proporção de mulheres sexualmente ativas que nunca fizeram exames
ginecológicos também se apresenta mais elevada neste grupo populacional. A falta do
diagnóstico impede o início do tratamento, permitindo que a doença evolua e continue a ser
transmitida (BRASIL, 2011). Devido a estes fatores acreditava-se que haveria uma maior
prevalência de sífilis no grupo externo, uma vez que este compreende, em sua maioria,
regiões do interior do Estado de Goiás (Catalão, Ceres, Rio Verde, Jataí, Porangatu, Formosa,
Quirinópolis e Iporá), nas quais predomina o perfil rural. Entretanto de acordo com os dados
coletados para este estudo, não foi encontrada diferença significativa entre as prevalências dos
grupos de coleta.
24
A prevalência de amostras soropositivas para sífilis entre os doadores de sangue do
HEMOGO no período em estudo foi relativamente baixa (0,61%), quando comparada ao
índice de 4,1% encontrado por Andrade et al. (1989), em estudo realizado no período de
outubro de 1985 a outubro de 1987, em cinco bancos de sangue de Goiânia – GO. Esta
prevalência também é considerada baixa, quando comparada a outros índices encontrados em
Hemocentros distribuídos pelo país.
Em estudo realizado por Salles et al. (2003) na Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São
Paulo, no período de 1° a 15 de novembro de 2001, foi encontrada prevalência de 1,1% para
sífilis. Outro estudo realizado por Ferreira et al. (2006) na Fundação de Hematologia e
Hemoterapia/Hemocentro do Amazonas (HEMOAM), no período relativo aos anos de 2000 a
2004, encontrou uma prevalência de 1,3%. No Hemocentro Laboratório Central de Sergipe
(HEMOLACEN), no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2006, foi encontrada
prevalência de 1,6% para sífilis (SANTOS; MARCELLINI; RIBEIRO, 2008). Em
contrapartida, estudos realizados no Hemocentro Regional de Cruz Alta - RS, no período de
2003 a 2009, e no Hemonúcleo de Guarapuava - PR, no período de janeiro a dezembro de
2006, revelaram prevalências de 0,3% e 0,2%, respectivamente; valores estes inferiores ao
encontrado no Hemocentro de Goiás (OLIVEIRA; VERDASCA; MONTEIRO, 2008;
LUNKES; KUNZLER; ROHR, 2011) (Figura 7).
Figura 7 – Soroprevalência de sífilis observada nos Hemocentros dos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul,
Goiás, São Paulo, Amazonas e Sergipe.
25
A interpretação dos resultados deve analisar a ocorrência de variantes distintas. Em
primeiro lugar, os resultados encontrados podem refletir as diferentes realidades existentes na
área da saúde nas diversas regiões do país (LIMA, 2002). Além disso, esta variação regional
pode ter ocorrido pelas próprias diferenças existentes entre os conhecimentos e práticas
sexuais da população brasileira. Em pesquisa realizada no ano de 2008 pelo Ministério da
Saúde, observou-se que existem diferenças significativas em relação à adoção de práticas
sexuais seguras no que se refere à região, à renda e ao grau de escolaridade (BRASIL, 2011).
Os altos índices de DST encontrados nas regiões Norte e Nordeste do Brasil podem estar
relacionados às altas taxas de migração desta população. Esta alta mobilidade pode prejudicar
o acesso à informação e aos métodos de prevenção, o que pode agravar as condições de saúde
da referida população. Este fato, muito provavelmente, pode justificar também o elevado
índice encontrado no Estado de São Paulo, região que recebe constantemente imigrantes das
regiões Norte e Nordeste. Ainda de acordo com esta pesquisa, verificou-se que os indivíduos
residentes na Região Sul adotam mais o uso de preservativo, quando comparados aos
indivíduos das demais regiões do país, fato que pode estar relacionado aos baixos índices de
sífilis encontrados nesta região (BRASIL, 2011).
Muito embora a quantidade de reações positivas ao VDRL não represente a prevalência
exata de sífilis na população, esta metodologia pode ser utilizada para estimar a prevalência
desta doença nos bancos de sangue. O fato do teste VDRL não ser totalmente específico,
ocorre em virtude deste poder apresentar reações cruzadas com algumas patologias como:
hanseníase, mononucleose, doença de Chagas, malária, tuberculose, dentre outras. Além
disso, algumas situações como gravidez e imunizações podem também levar à ocorrência de
reações cruzadas. Levando ao somatório de resultados falso-positivos para sífilis, quando
apenas esta metodologia é eleita para o seu diagnóstico, e consequentemente elevando os
percentuais de positividade para esta doença (ANDRADE et al. 1989; MENDES et al. 1996).
Este fato poderia ser solucionado se testes sorológicos treponêmicos fossem realizados para a
confirmação do diagnóstico (FERREIRA et al. 2006).
Ferreira et al. (2006) verificaram que a prevalência de sífilis em doadores de sangue do
HEMOAM (Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas) reduziu de 1,3% para
0,49%, quando as amostras positivas para VDRL eram submetidas ao teste confirmatório por
FTA-Abs. O mesmo foi confirmado por Mendes et al. (1996) em estudo realizado para avaliar
26
a demanda de solicitação sorológica para sífilis em Ribeirão Preto, São Paulo. Neste estudo a
frequência estimada para sífilis quando utilizado o teste de VDRL foi de 10,3%, entretanto ao
submeter as amostras positivas à técnica de FTA-Abs essa frequência reduziu para 9,3%.
Em relação à prevalência de sífilis no Hemocentro de Goiás durante o período de estudo,
observou-se uma variação em torno de 0,45-1,00% (Coleta Total). Quanto à prevalência nos
grupos de coleta, verifica-se uma variação em torno de 0,43-0,83% (Coleta Interna e Externa),
com exceção do ano de 2003 que apresentou maior prevalência nos dois grupos de coleta
(1,08% e 0,91%), e do ano de 2010, que apresentou a menor prevalência de todos os anos em
estudo (0,12%), índice este referente ao grupo de coleta externa (Tabela 2) (Figura 8).
Entretanto, a diferença entre as prevalências encontradas no HEMOGO durante o período em
estudo, não foi estatisticamente significativa (χ2= 0,99).
Tabela 2 – Número de doações e soroprevalência para sífilis observada anualmente no Hemocentro de Goiás, no
período de janeiro de 2002 a dezembro de 2011.
Coleta Interna
Ano
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Doações
19.890
19.518
21.510
24.681
26.851
28.027
27.292
30.018
34.955
34.207
Reagentes
166
210
118
162
162
123
118
140
193
162
Coleta Externa
%
0,83
1,08
0,55
0,66
0,60
0,44
0,43
0,47
0,55
0,47
Doações
15.067
15.829
14.440
14.918
15.578
13.176
13.034
8.605
3.222
8.606
Reagentes
116
144
80
120
113
74
65
43
4
51
Coleta Total
%
0,77
0,91
0,55
0,80
0,73
0,56
0,50
0,50
0,12
0,59
Doações
34.957
35.347
35.950
39.599
42.429
41.203
40.326
38.623
38.177
42.813
Reagentes
282
354
198
282
275
197
183
183
197
213
%
0,81
1,00
0,55
0,71
0,65
0,48
0,45
0,47
0,52
0,50
27
Figura 8 - Soroprevalência para sífilis observada no Hemocentro de Goiás, no período de janeiro de 2002 a
dezembro de 2011.
A maior prevalência no ano de 2003 (coleta interna 1,08%; coleta externa 0,91%)
provavelmente pode ter ocorrido devido à troca da marca dos kits utilizados para o teste de
triagem sorológica. Estas trocas ocorrem em virtude dos processos licitatórios aos quais os
bancos de sangue públicos estão subordinados. Cada marca de reagente gera diferentes
índices de resultados falso-positivos, devido a sua susceptibilidade a reações cruzadas em
diferentes amostras, o que não aconteceria se a mesma marca fosse sempre utilizada
(SALLES et al. 2003). Além disso, neste ano pode ter ocorrido falha na triagem clínica e
epidemiológica dos doadores, possivelmente em virtude de uma baixa quantidade de bolsas de
sangue no estoque. Em decorrência disto, pode ter havido uma intensificação nas campanhas
de incentivo a doações, permitindo que doadores que outrora seriam descartados durante a
triagem clínica e epidemiológica, seguissem para os testes sorológicos, considerando a
possibilidade de que estes poderiam não apresentar restrições à doação.
Em relação ao ano de 2010, a menor prevalência no grupo de coleta externa (0,12%) pode
ter sido decorrente do pequeno número de doações realizadas, número este bem inferior ao
dos demais anos em estudo, gerando um desvio amostral. Além disso, neste ano podem ter
28
ocorrido mudanças temporárias na triagem clínica dos doadores que resultaram em um menor
número de doações.
Por outro lado, pôde-se verificar uma tendência de redução progressiva na prevalência de
sífilis nos últimos anos (Figura 9). Tal fato se deve provavelmente a adoção de algumas
medidas, como a introdução de um sistema informatizado em rede, que impediu novas
doações por indivíduos com sorologia anteriormente positiva a algum agente etiológico; a
automação dos testes laboratoriais; a adoção de padrões de qualidade; e a realização de
campanhas educativas que resultaram no aumento de doadores de repetição, e
consequentemente em uma melhor qualidade do sangue disponibilizado para transfusão
(SALLES et al. 2003).
Figura 9 - Tendência linear de soroprevalência para sífilis observada no Hemocentro de Goiás no período de
janeiro de 2002 a dezembro de 2011.
29
5. CONCLUSÃO
Os resultados obtidos no Hemocentro de Goiás (HEMOGO) demonstraram uma baixa
prevalência de sífilis (0,61%) entre os indivíduos que procuraram o serviço de doação de
sangue durante o período em estudo. Entretanto, a intensificação de medidas como a
realização de campanhas pelos órgãos de saúde, destinadas a informar a população sobre a
doença e suas formas de prevenção, e estimular a adoção de práticas sexuais seguras, podem
contribuir para uma maior redução deste índice.
No HEMOGO foi observada uma queda progressiva da prevalência de sífilis nos últimos
dez anos (2002-2011). Isto é reflexo do trabalho de qualidade desenvolvido neste banco de
sangue, que abrange desde a triagem clínica à laboratorial, até a realização de campanhas
educativas, as quais são voltadas para o estímulo à doação altruísta e voluntária, o que resulta
no aumento de doadores de repetição e na maior qualidade do sangue disponível para
transfusão. A realização de campanhas de prevenção às DST pelos órgãos de saúde também
pode ter contribuído para a redução da prevalência de sífilis no HEMOGO. Portanto, as
medidas adotadas até o momento devem continuar com a mesma eficiência, a fim de que o
êxito alcançado seja mantido.
No Brasil, a realização de testes confirmatórios pelos serviços de hemoterapia, em
amostras reagentes obtidas a partir da triagem sorológica não é obrigatória. Desta forma toda
amostra reativa é descartada, implicando em gastos elevados, e em muitas vezes, no descarte
desnecessário de bolsas de sangue, o que não aconteceria se um teste confirmatório fosse
realizado. Além disso, a adoção de testes confirmatórios reduziria os percentuais de
positividade, não só para sífilis, como também para as demais patologias pesquisadas pelos
bancos de sangue, uma vez que levaria à redução da ocorrência de resultados falso-positivos.
Desde 1989 não existem estudos publicados sobre a prevalência de sífilis em doadores de
sangue no Estado de Goiás, o que demonstra a importância do presente estudo para a saúde
pública, não apenas para este Estado, mas também para todo o país. Embora este estudo não
represente com exatidão a soroprevalência de sífilis em Goiás, os resultados obtidos permitem
que se façam inferências sobre a situação desta doença em nosso Estado, contribuindo para
que os órgãos de saúde possam nortear suas ações no futuro, através da adoção de novas
estratégias educacionais e diretrizes políticas, com o intuito de melhorar o atendimento
30
populacional e os atuais programas de prevenção e monitoramento epidemiológico, não só
para a sífilis, mas também para as demais DST.
31
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SOROPREVALÊNCIA DE SÍFILIS EM DOADORES DE