PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE
MINAS GERAIS / PUC MINAS
O FENÔMENO RELIGIOSO UNIVERSAL
E OS PRINCIPAIS MONOTEÍSMOS
PROF. ISMAR DIAS DE MATOS
2012
Plano de Ensino de Cultura Religiosa I - CH: 64 h/aulas
Ementa:
Com a finalidade de capacitar o(a) aluno(a) a abordar o fenômeno religioso, serão discutidos
vários temas com o objetivo de se fazer um estudo analítico e crítico do fenômeno religioso;
Orientar a leitura de textos; colocar fundamentos filosóficos para uma reflexão crítica da
religião.
Objetivos:
Capacitar o(a) aluno(a) a fazer uma abordagem do fenômeno religioso; possibilitar uma visão
mais integrada do conhecimento para que esta não anule o horizonte religioso do homem e das
sociedades em geral.
Métodos didáticos:
Aulas expositivas e dialogadas com os(as) alunos(as); leituras e debates; trabalhos individuais;
recursos multimídia.
Unidades de ensino:
Unidade I: O homem como ser religioso; A universalidade do problema religioso
Unidade II: O Sagrado e o Profano como categorias de interpretação do fenômeno religioso.
Unidade III: Tradições religiosas monoteístas: Judaísmo – Cristianismo – Islamismo
Unidade IV: A Bíblia: livro de formação da cultura ocidental.
Processo de avaliação:
1º trabalho: 15 pontos (ao final do 2º capítulo), antes da 1ª avaliação; 1ª avaliação: 20 pontos
(capítulos I e II); 2ª avaliação: 25 pontos (capítulos III, IV e V); 2º trabalho: 10 pontos (ao
final do 6º capítulo, antes da prova global); 3ª avaliação: global (30 pontos), conteúdo de toda
a matéria lecionada.
: haverá, após a prova global, uma prova repositiva para aqueles(as) que perderam uma das
avaliações; a prova especial será aplicada após a prova repositiva.
Bibliografia básica (além da que consta após cada capítulo):
BARBOUT, Sciolom. Judaísmo. São Paulo: Globo, 2002.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Trad. de Rogério
Fernandes. Lisboa: Edição Livros do Brasil, 2002 (Coleção Vida e Cultura).
GAER, Joseph. A sabedoria das grandes religiões. São Paulo: Cultrix, 1965.
JORGE, J. Simões. Cultura religiosa: o homem e o fenômeno religioso. São Paulo: Loyola,
1994.
LO JACOMO, Claudio. Islamismo. Trad. de Ana Maria Quirino. São Paulo: Globo, 2002.
MARTINI, Luciano. Cristianismo. São Paulo: Globo, 2002.
WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 1999
ZILLES, Urbano. Filosofia da religião. São Paulo: Paulinas, 1991 (Coleção Filosofia)
2
JUSTIFICATIVA
Por que estudar Cultura Religiosa na Universidade?
A primeira resposta poderia ser bem simples e direta: “porque estamos em uma Universidade
Católica”; e mais – numa Pontifícia Universidade, ligada ao Vaticano e ao Papa. Fazem parte do
currículo de todos os cursos das Pontifícias Universidades as disciplinas Cultura Religiosa e
Filosofia; dos alunos de Agronomia aos de Zoologia, todos estudam as duas disciplinas citadas.
Uma segunda resposta está ligada ao objetivo das PUC’s: oferecer conteúdos humanísticos aos
graduandos de todas as áreas; Cultura Religiosa e Filosofia, somadas aos conteúdos específicos,
darão ao egresso um conteúdo global da ciência e do ser humano, principal finalidade de todo
conhecimento científico. As disciplinas em questão têm a função de lançar as bases lógicas e
éticas de todas as outras disciplinas e garantir a formação de profissionais mais humanos e
menos tecnicistas: condição fundamental para a humanização das ciências.
Quando falamos em Universidade não podemos pensar os cursos isoladamente, como se
fizéssemos uma diferenciação cartesiana das ciências. Acreditamos que deve existir algo em
comum para unificar e, ao mesmo tempo, delimitar o campo epistemológico dos cursos. Tal
papel cabe às disciplinas Cultura Religiosa e Filosofia, que apresentam uma Ética de cunho
humanista e favorecem a valorização do ser humano, apresentando-o de forma integral e não em
partes, como cliente, empresário, agente etc.
Em nossas aulas não estudamos Religião de forma doutrinária. Essa atitude fica para a
catequese de cada Igreja, em seus locais próprios. Não desejamos, também, formar prosélitos ou
seguidores. Queremos abrir espaço para apresentar a Religião como um constructo humano e,
portanto, tão necessário aos humanos como o Direito ou a Matemática.
Nas aulas de Cultura Religiosa não abordamos os temas a partir da fé, mas a partir de sua
existência como fenômeno, como acontecimento. Todas as religiões merecem o mesmo
respeito, pois representam as razões fundamentais para a existência de seus seguidores.
Queremos, com essa atitude, contribuir na formação de um mundo mais tolerante e respeitoso
em relação às diversas pluralidades religiosas, filosóficas etc.
Nossas aulas são pautadas pelo respeito reverente a todas as religiões e credos, como também
respeitamos aqueles que não apresentam crença alguma. Há lugar em nossas aulas, portanto,
para crentes e não crentes, pois o que nos interessa, sobremaneira, é o ser humano em sua
dimensão integral.
Ao contrário do que Karl Marx previa, as Religiões estão em fase de crescimento. Os templos se
multiplicam, as lojas de artigos religiosos estão em toda parte. A Religão está em toda parte: na
música, nas artes, no vestuário, na culinária, nos comportamentos etc, motivos mais do que
suficientes para estudarmos esse fenômeno essencialmente humano.
Façamos de nossas aulas momentos de crescimento humano.
Bons estudos.
Prof. Ismar Dias de Matos
Bacharel em Teologia e Mestre em Filosofia
[email protected]
3
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS
PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012
Capítulo I
1 A RELIGIÃO COMO FENÔMENO UNIVERSAL
A religião é um fenômeno que está presente em todos os quadrantes da terra, em todas as
culturas e em todas as épocas. Existem algumas formas religiosas simples e outras complexas,
mas tais formas levam um elemento comum: o reconhecimento de um poder além do homem,
um poder sobrenatural do qual o homem é dependente, com algumas exceções: não há um Deus
salvador no Budismo. Buda não é Deus, mas um Iluminado que encontrou o caminho para a
Iluminação e o quis transmitir a outros. O Budismo, portanto, é uma religião sem Deus. É uma
espécie de caminho de autossalvação.
Basicamente, os seres humanos de todas as épocas sempre se fizeram perguntas e as diferentes
religiões buscam as respostas para estas perguntas básicas:
Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Qual é o sentido de nossa vida? O que nos é
permitido esperar?
Como um fenômeno humano, a religião é estudada pela Teologia, pela Filosofia, pela História,
pela Psicologia, pela Fenomenologia, pela Psicanálise, pela Sociologia etc. Cada ciência aborda
o fenômeno religioso por um aspecto diferente, mas é impossível ignorar a religião se se quer
obter uma visão de conjunto do ser humano.
Não se sabe com exatidão quando o pensamento religioso surgiu na espécie humana. “Funerais
em que os mortos eram sepultados com flores ou amuletos são indícios claros de manifestações
religiosas, talvez as mais antigas na história da humanidade”, diz o historiador suíço Walter
Burkert, da Universidade de Zurique, autor do livro A criação do sagrado. Os sepultamentos
mais antigos de que se tem notícia datam de 30 mil anos atrás. Fala-se de descobertas
arqueológicas de 60 mil anos atrás que mostram sinais de sepultamentos com indícios de ritos
religiosos.

Escreva o nome da religião à qual pertence cada símbolo1:
2 O SER HUMANO COMO HOMO RELIGIOSUS
As diversas ciências tratam o ser humano como homo sapiens, homo ludens, homo faber, homo
politicus etc, mas ele pode ser considerado também um ser religioso: homo religiosus. Vejamos:
“O homem é animal religioso. A prova é que não cessou de inventar deuses. Mas se trata de
1
Tente dar as respostas. Caso não consiga, confira o n º 8, p. 10.
4
invenção ou da descoberta de verdade que a ele se impôs no curso dos séculos e em todas as
civilizações?” (SAMUEL, 2003, p. 5).
Feuerbach (2007) diz que a religião assenta na diferença essencial que existe entre o homem e o
animal, pois os animais não têm nenhuma religião.
Podemos dizer que duas realidades básicas separam os humanos dos outros animais: a
linguagem (enquanto expressão da racionalidade) e a religião (enquanto outra expressão da
capacidade simbólica humana).
3
Texto para leitura e comentário: Deus existe? (Marcelo Coelho)
Quando a pergunta é simples demais, o santo desconfia. A editora Planeta lançou recentemente
um livro fascinante e curto (125 páginas), que, sob o título "Deus Existe?", transcreve um
diálogo público entre um filósofo ateu, Paolo Flores d'Arcais, e ninguém menos do que o
cardeal alemão Joseph Ratzinger. O encontro se deu num teatro, em Roma, em fevereiro de
2000 - cinco anos antes, portanto, de Ratzinger tornar-se Bento 16.
Apesar do título do livro, a questão sobre a existência de Deus não se coloca de forma direta - e
talvez seja melhor assim. O debate entre um ateu e um cardeal pode ser bem mais complexo do
que sugere a pergunta. Uma formulação muito sumária, do tipo "Deus existe?", pode provocar
respostas simples demais: "Sim", "não sei" ou "não".
Pessoalmente, desde criança marco a terceira alternativa. Mas até mesmo uma opção resoluta
pelo ateísmo pode envolver ambiguidades. Posso dizer, por exemplo: "Não acredito que Deus
exista". Ou: "Acredito que Deus não exista".
Posso, porém, observar apenas: "Quem diz que Deus existe não tem prova nenhuma do que está
dizendo", e acrescentar: "Só acredito no que pode ser provado".
E, nesse momento, o bom Ratzinger já estará esfregando as mãos de contentamento apostólico.
Pois é inegável que acredito em muitas coisas que não sei bem como poderiam ser provadas
cientificamente. Acredito que exista uma coisa chamada beleza, por exemplo. Se me pedirem
para apontá-la, posso citar uma série de exemplos, uma série de manifestações da beleza no
cotidiano; o crente pode apontar outras tantas manifestações de Deus, e ninguém provou nada
com isso.
No seu diálogo com Paolo Flores d'Arcais, entretanto, Ratzinger dá um passo a mais. Certo, diz
o cardeal, a existência de Deus não pode ser provada pelo "método positivo", isto é, científico.
Mesmo sem ter provas, entretanto, a fé em Deus não é puramente irracional. Ao contrário, a
razão está do lado dos católicos nesse caso.
Seu interlocutor resiste bravamente a esse golpe. Tolerante e ateu, Flores d'Arcais aceita que
alguém simplesmente diga, como o velho teólogo Tertuliano, "acredito porque é absurdo". Ou
que lembre Kierkegaard: "A fé começa justamente onde termina o pensamento".
Mas Ratzinger não quer limitar a crença em Deus aos porões sentimentais da alma. A tradição
católica, diz ele, foi uma espécie de "pré-Iluminismo" contra as irracionalidades pagãs.
E a ideia de um Deus criador do céu e da Terra, prossegue, é indispensável para qualquer pessoa
que preze a razão. Sem um logos, um verbo que está na origem de tudo, teríamos de admitir que
o mundo, a natureza, o destino humano, não passa de fruto do acaso, não tem sentido nenhum, é
puramente absurdo. Como então preservar qualquer "racionalidade" com esses pressupostos?
Ratzinger formula o problema com mais eloquência: "Pode a razão renunciar à prioridade do
racional sobre o irracional, à existência original do logos sem abolir a si mesma?" Meu ateísmo
- e meu racionalismo - respondem que sim. A medicina sabe perfeitamente que, com todos os
seus avanços, não elimina o fato de que todos irão morrer. Reconhecer a "prioridade" da morte
não faz com que a medicina esteja pronta a "abolir-se a si mesma"...
Flores d'Arcais não sai vitorioso, entretanto, do debate com Joseph Ratzinger. Quando se trata
de defender princípios universais e inalienáveis, como os direitos humanos, nosso ateu de
plantão cai na armadilha do relativismo: muitas sociedades admitiram o homicídio, a
antropofagia...
Ratzinger insiste, com razão, que se muitas sociedades fizeram coisas detestáveis, isso não torna
casuais, contingentes, os direitos humanos. D'Arcais também não gostaria que isso acontecesse,
5
mas se confunde no debate.
O problema, a meu ver, teria de ser definido de outra forma. Se existem direitos universais, e se
um termo como "dignidade humana" precisa ter sentido, a questão é saber como lhes dar
fundamento. Mas esse fundamento, que deve ser a-histórico, absoluto, transcendente, não
precisa fazer apelo ao "sobrenatural" - e negar o sobrenatural é algo que, pelo que li, não está
nas cogitações de Ratzinger, com tudo o que concede às conquistas do Iluminismo.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1301201016.htm Acesso: 13.01.2010
4 DEFINIÇÕES DE RELIGIÃO E FORMAS RELIGIOSAS
Religião é um vínculo estabelecido entre o mundo sagrado e o mundo profano, entre o ser
humano e um ser divino. Há várias etimologias de religião, como as que apresentamos
resumidamente.
O filósofo romano Marco Túlio Cícero (106 aC – 43 aC) afirma que a palavra vem de RELEGERE (RE-LER): considerar o que pertence ao culto divino, ler de novo, ou então reunir. O
escritor norte-africano Lúcio Célio F. Lactâncio (240-320 dC) define religião como RELIGARE (re-ligar): ligar o homem de novo a Deus. Se se fala em religar é porque está implícita
uma ideia de ruptura. No religamento, o homem vai a Deus e Deus vai ao homem. Uma terceira
etimologia é apresentada pelo filósofo e teólogo Santo Agostinho (354-430 dC), que fala em
RE-ELIGERE (re-eleger): tornar a escolher Deus, que foi perdido pelo pecado.
O filósofo e teólogo italiano Batista Mondin define religião como “um conjunto de
conhecimentos, de ações e de estruturas com que o homem exprime reconhecimento,
dependência, veneração em relação ao Sagrado” (MONDIN, 1986, p. 242).
O escritor e filósofo Rubem Alves afirma que “a linguagem científica pretende descrever o
mundo. A linguagem religiosa exprime como o homem vive, em relação ao mundo. A religião
não é uma hipótese acerca da questão filosófica da existência dos deuses. O ego não se propõe
tal questão, no início de suas operações. O que importa é a ‘paixão infinita’... Separemos,
portanto, de uma vez por todas, a questão da existência de Deus – que é uma questão filosófica
– da experiência religiosa. A primeira é uma hipótese acerca do objeto. A outra é uma paixão
subjetiva. (ALVES, 1984, p. 53-54).
Também podemos falar sobre religião sob dois pontos de vista básicos: um objetivo e outro
subjetivo.
Em sentido real objetivo: religião é o conjunto de crenças, leis e ritos que visam a um poder
que o homem, atualmente, considera supremo, do qual se julga dependente, e com o qual pode
entrar em relação pessoal e do qual pode obter favores.
Em sentido real subjetivo: religião é o reconhecimento pelo homem de sua dependência de um
ser supremo pessoal, pela aceitação de várias crenças e observância de várias leis e ritos
atinentes a este ser.
5 SETE FORMAS RELIGIOSAS BÁSICAS
1 – Teísmo: o sujeito dos atributos divinos é distinto dos outros seres e pertence à ordem
transcendental. Esse ser é o criador do mundo e sua causa vivificante. Opõe-se ao Ateísmo, que
afirma que Deus não existe.
O Teísmo pode-se dividir em Monoteísmo (há um só Deus2), Politeísmo (há vários deuses) e
Henoteísmo (que propõe a veneração de um Deus supremo, mas não nega a existência de outros
deuses. Era a situação vivida na época de Abraão, que não quis um deus entre os deuses, mas
escolheu um Deus Único).
O Hinduísmo é considerado um tipo de Politeísmo. Abaixo, os seus deuses mais importantes:
Brahma, Vishnu e Shiva3. Existem mais de 30 mil deuses no Hinduísmo4.
2
Pela ordem histórica, os principais monoteísmos são: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo.
Por que vemos os nomes de deuses empregados em nomes de bebidas alcoólicas? Brahma, Chivas? Que
relação podemos fazer entre dois seres tão diferentes? As Mitologias grega e latina poderão nos ajudar?
3
6
Brahma
Vishnu
Shiva
2 – Deísmo: o sujeito dos atributos divinos é um Deus sem atributos morais e intelectuais, é um
Deus que não intervém na criação. Não há revelação sobrenatural.
Na Maçonaria, embora não seja considerada uma religião, há uma espécie de Deísmo quando se
fala do Grande Arquiteto do Universo (GADU). Eis o principal e mais popular
símbolo maçônico:
3 – Panteísmo: tudo é Deus – o universo, a natureza e Deus são idênticos. Não há nenhuma
diferença quanto ao ser.
4 – Animismo: é mais uma crença, uma mentalidade, uma ideia, do que uma doutrina
elaborada. Enxerga, por trás dos objetos sensíveis, uma vida-alma, psique ou espírito capaz de
se relacionar diretamente, em certos casos e sob certas condições, com o ser humano. Não é,
propriamente, uma religião, mas uma tentativa de explicar os fenômenos da natureza. Se levar o
homem a uma atitude de adoração ou culto será considerada uma religião.
5 – Magismo: crença numa determinada força ou poder ocultos, mas impessoal, que excede às
forças naturais; crença de que certos homens podem se apropriar de forças especiais e, assim,
realizar efeitos extraordinários. Divide-se, dentre outras formas, em Magia branca (aquela que
procura obter o bem para as pessoas) e Magia negra (aquela usada para prejudicar as pessoas).
6 – Manismo: culto às almas dos defuntos, como oferecimento de sacrifícios. Os deuses nada
mais são do que homens divinizados. Fala-se também de Euhemerismo (Euhemero, filósofo
grego).
7 – Totemismo: Crê-se que há um parentesco entre um clã e uma espécie animal e vegetal.
Julgam-se, por exemplo, descendentes da união de um urso e uma mulher. Então, o nome de seu
totem vai ser urso, que torna-se um animal sagrado, e não se pode matá-lo, a não ser em
4
À semelhança do Hinduísmo com seus milhares de deuses, também o Candomblé possui seus
“incontáveis” Orixás: Exu, Ogum, Oxum, Oxóssi etc.
7
condições especiais, em que se come a sua carne e se bebe o seu sangue para ganhar a força, a
inteligência ou a agilidade daquele animal (Totem)5.
Nos brasões e nas Armas temos exemplos de Totem (Família Matos: dois leões e um pinheiro)
6 CINCO ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA RELIGIÃO
1 – DOUTRINA (crença, dogma): toda religião tem sua doutrina, que fala sobre a origem de
tudo: sentido da vida, da dor, da matéria, do além etc.
Para as religiões primitivas (animismo, fetichismo, politeísmo, etc.) a fonte da tradição repousa
nos antepassados. Para as religiões sapienciais (hinduísmo, budismo, jainismo etc.) e para as
atitudes filosóficas (yoga, seicho-no-iê, teosofia etc.), a fonte é a palavra de sábios iluminados
(hinduísmo, budismo, xintoísmo, confucionismo, taoísmo). Para as religiões proféticas
(judaísmo, cristianismo, islamismo), a fonte é a palavra de Deus revelada pelos profetas.
2 – RITOS (cerimônias): o homem não vive sem símbolos, sem ritos, sem estruturas visíveis.
Os ritos são gestos determinados, palavras determinadas e emoções determinadas que adquirem
o poder de unir os seres humanos e a divindade de uma determinada comunidade religiosa. O
rito é uma repetição de determinado acontecimento significativo para a comunidade de fé, é a
renovação de determinado ato, é renovação da memória. Também existem ritos meramente
civis.
3 – ÉTICA (leis): cada religião traz consigo as consequências de sua doutrina, ensinando o que
é certo e o que é errado, dentro de sua cosmovisão. Os preceitos mais importantes são: lei da
natureza, lei do amor e a lei do bom senso.
4 – COMUNIDADE: toda religião tende a formar uma comunidade, tende a manifestar sua fé
junto de outros. Não se trata de um sentimento individualista.
5 – ATITUDE EU – TU: é a relação da pessoa humana com um diferente, um Tu mais
elevado, superior. Toda religião6, antes de possuir ritos, doutrinas, é uma relação pessoal com
Deus.
5
O poema “I-JUCA PIRAMA”, de Gonçalves Dias, fala do ritual de se comer a carne de um forte para
adquirir a força dele. O título, em tupi, significa “aquele que deve morrer”.
6
Buda não é Deus, mas um Iluminado que encontrou o caminho para a Iluminação e o quis transmitir a
outros. O Budismo, portanto, é uma religião sem Deus. É uma espécie de caminho de autossalvação.
8
7 OS FUNDAMENTOS DO FENÔMENO RELIGIOSO UNIVERSAL
Estudiosos de diversas tendências tentaram explicar o fenômeno religioso. Aqui são
apresentadas explicações que examinam as estruturas externas e as estruturas internas do
homem em sua relação com a religião.
1 – Fatores extrínsecos:
 De acordo com os filósofos positivistas e enciclopedistas franceses, a religião tem suas
raízes no obscurantismo dos padres que a inventaram. A ambição de uma casta sacerdotal
criou, fraudulentamente ou não, dogmas ininteligíveis e práticas supersticiosas.
 De acordo com o marxismo, a religião é uma superestrutura do poder econômico. Existe o
capital e este precisa se defender: para isso precisa do exército, da polícia e também da
religião. A religião diz que é preciso obedecer ao Estado, que Deus vai recompensar; nada
de luta de classes. “A religião é o ópio do povo”, diz Karl Marx (1818-1883), em sua
“Crítica da filosofia do direito de Hegel”, escrita em1843.
 O sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) afirma que o homem tem um sentimento de
profunda dependência em relação à sociedade, que lhe dá tudo: cultura, civilização etc.
Cônscio de sua dependência, o homem começa a aderir à sociedade, fazendo dela uma
divindade, projetando-se para o além, numa divindade.
 Os tradicionalistas dizem que o fenômeno religioso universal explica-se por uma revelação
positiva da parte de Deus
2 – Fatores intrínsecos:
 Para o filósofo positivista francês Augusto Comte (1798-1857), pai da Sociologia, a
religião provém do medo, da ignorância, ou, então, do entusiasmo pelos fenômenos da
natureza. Há, segundo Comte, três estágios na evolução histórica da religião:
TEOLÓGICO: em que os homens procuram explicar tudo com os deuses, também as leis da
natureza;
METAFÍSICO: em que os fenômenos da natureza são explicados com entes ou conceitos
metafísicos;
POSITIVO: em que os fenômenos são estudados cientificamente e explicados por meios
naturais. Assim, o primeiro estágio da humanidade foi o religioso; o segundo, o filosófico; e o
terceiro é o da ciência positiva.
O Positivismo, cujo lema é “Ordem e Progresso”, exerceu forte influência na vida brasileira.
Eram positivistas os principais idealizadores e proclamadores da República.
Abaixo, imagem da Igreja Positivista do Brasil, fundada por Miguel de Lemos e Teixeira
Mendes7. O templo está situado na cidade do Rio de Janeiro, na Rua Benjamim Constant nº 74.
7
Além desses, citamos também outros positivistas: Luís Pereira Barreto, Alberto Sales e Benjamin
Constant.
9
 A religião provém da fantasia viva e irrefletida dos primitivos, ou do apetite ilusório da
felicidade completa, da demasia dos afetos (John Stuart Mill [1806-1873], Claude LéviStrauss [1908-2009] etc) ou de uma perturbação nervosa, de um estado psicológico doentio
da psique humana (Césare Lombroso [1835-1909], Pierre-Marie F. Janet [1859-1947]
etc).
 Para o mitólogo alemão Friedrich Max Müller (1823-1900), a religião provém da
percepção imediata do divino. O homem perceberia o divino por seus sentidos, ou existiria
no homem uma faculdade especial, distinta das faculdades ordinárias da psique humana,
pela qual o homem tenderia ao divino, ao numinoso; percebê-lo-ia como tendência legítima
da natureza e, assim, espontaneamente, seria levado a fazer atos religiosos.
 Para o Pai da Psicanálise, o médico e psiquiatra Sigmund Freud (1856-1939), a religião
provém de uma neurose universal, uma neurose universal de culpa. Um patriarca tinha
diversas mulheres e muitos filhos. Como os filhos não tinham participação nas mulheres,
eles se uniram e repartiram entre si as mulheres. Mas logo depois o sentimento de culpa:
matamos o Pai!!! Esse sentimento não os queria largar. Procuraram tranquilidade para sua
consciência oferecendo sacrifícios para aplacar a ira do Pai. É preciso curar o homem dessa
neurose de culpa, libertando o homem da necessidade da religião.
 O psiquiatra e psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) afirma que a psique
humana, na sua camada mais profunda, é religiosa, crística e teísta. A inspiração e a
revelação são o irromper de conteúdo do inconsciente individual e coletivo para o
consciente. O homem tem dentro de si uma força que o impele para Deus. Quando o homem
recalca essa energia durante um tempo prolongado, ele se torna neurótico. O ateu é aquele
que não permite que o seu ser religioso aflore à consciência.

Como se pode ver, as opiniões de Freud e Jung são antitéticas. Enquanto o primeiro
afirma ser a neurose a causa da religião, o segundo afirma que a falta da vivência religiosa é que
causa a neurose. Reveja a posição de cada um.
8 Explicações da primeira ilustração, página 04.
1) A Cruz Cristã é um símbolo religioso do cristianismo. Este símbolo de dor era usado como
referência de escravos romanos e para os criminosos da Roma antiga. As palavras cruz e
crucifixo, de origem latina, significam “torturar”. Mais informações no Site:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_crist%C3%A3
2) Lua Crescente e Estrela: Símbolos que representam o Islamismo, mas representam
tradicionalmente a identidade turca. Em sua forma moderna, a estrela possui, normalmente,
cinco pontas. Veja: http://es.wikipedia.org/wiki/Creciente_y_estrella
10
3) Estrela de Davi, conhecida também como escudo supremo do Rei Davi, é um símbolo em
forma de estrela formada por dois triângulos sobrepostos, iguais, tendo um a ponta para cima e
outro para baixo; utilizado pelo Judaísmo e por seus adeptos. Outro nome dado a este símbolo é
"Selo de Salomão”. Veja mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrela_de_Davi
4) O Om é o mantra mais importante do Hinduísmo e outras religiões nascidas do Hinduísmo.
Diz-se que ele contém o conhecimento dos Vedas e é considerado o corpo sonoro do Absoluto,
Brahma. O Om é o som do infinito e a semente que "fecunda" os outros mantras. É o simbolo da
Yoga. Veja o Site http://pt.wikipedia.org/wiki/Om
5) Yin Yang, na Filosofia Chinesa, representa o príncipio da dualidade e tem sua origem no
Taoísmo. Em chinês este conhecido símbolo representa a integração e é denominado como
"Diagrama do Tai Chi" (Taiji Tu). Para mais informações, veja o Site:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Yin_Yang_(Filosofia)
6) O Khanda é o símbolo mais importante da religião Sikh. A sua importância no Sikhismo
pode ser comparada à da Estrela de Davi, no Judaísmo, e à Cruz, no Cristianismo. A bandeira
sagrada do Sikhismo, conhecida como Nisham Sahib, erguida em todos os templos sikhs, inclui
o Khanda, que é o resultado da junção de quatro armas: ao centro, uma espada de dois gumes
chamada Khanda, da qual deriva o nome de todo o símbolo. Representa o poder criativo de
Deus que controla o universo. O gume esquerdo representa a justiça divina que castiga os
opressores e o direito a liberdade e a autoridade inspirada em valores morais e espirituais; em
torno do Khanda encontra-se uma arma denominada Chakkar (ou Chakra), usada por quase
todos os guerreiros sikhs do século XVIII. Apresenta uma forma circular que simboliza a
eternidade e a perfeição de Deus; em ambos os lados, duas espadas de forma curva chamadas
Kirpans. A espada que se encontra no lado esquerdo representa o poder espiritual (piri) e a do
lado direito o poder temporal (miri). A atual bandeira do Irã apresenta um símbolo parecido ao
Khanda que não se encontra de qualquer maneira relacionado com o Sikhismo. Veja:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Khanda
7) Cruz da Ordem de Cristo: foi utilizada pelos navegadores portugueses durante a expansão
dos séculos XV e XVI. Causa confusão com a Cruz Patea (também chamada Cruz de Malta)
inspirada na cruz usada pelos cavaleiros Templários. Veja mais informações no site:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_P%C3%A1tea
8) Mãe tríplice (Senhora do Destino) é a deusa mãe dos celtas, é representada como três
mulheres, cada uma segurando um objecto diferente, como um cão, um peixe e um cesto. Três
era considerado um número sagrado para os celtas, daí as figuras triplas ou deuses de três
cabeças. A Lua, a Senhora do Destino, é a grande trindade feminina de Donzela, Mãe e Anciã.
Os rituais druídicos são sempre realizados em conjunção com as fases da Lua, e as Druidesas
(sacerdotisas) alinham o trabalho mágico com os ciclos menstruais. A Senhora do Destino é
consagrada ao dia 6 de janeiro.
O símbolo Mãe tríplice é também conhecido como “Diana de Poitiers” (1499-1566) que foi
uma nobre francesa e viveu nas cortes dos reis Francisco I e Henrique II. Ver mais detalhes em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Diana_de_Poitiers. Maiores informações no Site:
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3e_tr%C3%ADplice
9) Ayyavazhi é uma religião surgida na Índia em meados do século XIX. Ayyavazhi aplica uma
fórmula comum na criação de Universo e do ser humano. Ayyavazhi advoga Ayya Vaikundar
como sendo a única divindade existente. Para maiores informações:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ayyavazhi
11
9 Textos para aprofundamento:
ALVES, Rubem. O enigma da religião. São Paulo: Papirus, 1984, p. 53-54
FEUERBACH, Ludwig. A essência do cristianismo. Petrópolis: Vozes, 2007.
JORGE, Pe. J. Simões. Cultura religiosa: o homem e o fenômeno religioso. 2 ed. São Paulo:
Loyola, 1998.
MONDIN, Battista. O homem, que é ele? São Paulo: Paulinas, 1986.
SAMUEL, Albert. As religiões hoje. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2003.
Walter Burkert. A criação do sagrado. Lisboa: Edições 70, 2001.
WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo. Petrópolis: Vozes, 1996.
ZILLES, Urbano. Filosofia da religião. São Paulo: Paulinas, 1991 (Coleção Filosofia).
Outros sites consultados:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Religious_symbols.svg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_s%C3%ADmbolos_religiosos
12
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS
PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012
Capítulo II
1 O SAGRADO E O PROFANO – HOMOGENEIDADE E RUPTURAS
Há vários modos de se ver o mundo. O ato de ver ou perceber o mundo depende do interesse e
da cultura de cada um. O olhar humano é seletivo. Dentre os diversos olhares, pode-se escolher
olhar o mundo a partir do binômio SAGRADO e PROFANO.
O sagrado é uma experiência da presença de uma potência ou de uma força sobrenatural que
habita algum ser – planta, animal, humano, coisas etc. É a experiência simbólica da diferença
entre os seres.
Sagrado (Santo, em hebraico, é KADOSH) é aquilo que foi “santificado” pelo Ser Divino, que
foi marcado com o selo divino. Não é o homem que determina o sagrado, mas essa
determinação é feita pelo próprio ser divino. Em contraposição ao Sagrado está o Profano, que é
tudo aquilo que rodeia o sagrado. Profano é todo o espaço ao redor do sagrado. Os seres e
objetos que não foram sacralizadas pela divindade são considerados profanos. Ser profano não
significa algo negativo, como o senso comum pensa. Para o senso comum “sagrado” é algo do
bem e “profano” é algo do mal. Isso, para a Ciência da Religião, não é verdadeiro.
O sagrado se manifesta ao ser humano, é algo totalmente diferente do profano. O termo para
designar essa manifestação é Hierofania: que é aquilo que constitui o sagrado. Essa
manifestação, normalmente, é dada pelo fogo ou pela luz. Nas diversas religiões, a luz é uma
representação constante do ser divino.
Após uma hierofania, isto é, após uma manifestação divina, um lugar não é mais um simples
pedaço de chão, mas é um lugar sagrado; uma árvore não é apenas uma árvore, mas é um
símbolo sagrado; uma pedra não é mais uma pedra; torna-se algo além da materialidade.
Pela hierofania o Cosmos torna-se sagrado. Veja-se o exemplo tirado da Bíblia, quando Javé
(Deus) diz a Moisés, quando este vê a sarça ardendo, queimando-se sem se consumir: Tire as
sandálias8 dos pés, porque o lugar onde você está pisando é um lugar sagrado (Êxodo 3,5).
8
Os muçulmanos não entram calçados na Mesquita e, além de tirar os calçados, lavam os pés ou passam
neles uma areia fina, em sinal de purificação. O sagrado e o profano não se misturam.
13
Para o HOMO RELIGIOSUS a sacralidade introduz uma ruptura no mundo. O espaço que
habitamos não é mais homogêneo, mas cheio de rupturas. O espaço dessacralizado, isto é,
homogêneo, neutro e mensurável é o espaço profano. Esse espaço homogêneo é uma
característica da modernidade e dos tempos atuais.
A não homogeneidade do espaço é uma experiência primordial, algo como uma “fundação do
mundo”.
Pode-se dizer que a hierofania funda ontologicamente, funda substancialmente o mundo, isto é,
lhe dá um outro sentido, uma outra forma. As pessoas religiosas e as pessoas secularizadas não
olham o mundo da mesma forma.
A partir da manifestação divina (hierofania) fixa-se um centro para o mundo. E todo o universo
origina-se a partir daquele centro dado. É como se o Homo Religiosus dissesse: AQUI
COMEÇA O MUNDO, ou: AQUI É O UMBIGO DO MUNDO.
Para os antigos judeus, Jerusalém era o “umbigo do mundo”. E o Templo estava construído
sobre uma pedra angular, ou seja, o umbigo do mundo. Do mesmo modo podemos dizer que
Meca é o umbigo do mundo para os muçulmanos (ou islâmicos); Jerusalém também é o umbigo
do mundo para os cristãos, pois foi ali que Jesus, o Cristo e Senhor, viveu e ressuscitou.
2 TOMADA DE POSSE DE UM LUGAR
A Bíblia relata que os hebreus/judeus construíam altares para indicar a posse e a bênção de Deus
naquele determinado lugar sagrado. Os exemplos são vários: Gênesis: 8,20 (Noé, ao sair da
Arca), 13,18 (Abraão em Mambré); 26,25 (Jacó em Bersabeia); Josué no Monte Elbal (Js 8,30)
e muitos outros.
Um altar é o lugar onde se repete um sacrifício religioso, lugar de recriação da bênção9 que se
crê possível. Modernamente, a fixação de uma bandeira numa terra conquistada significa a
tomada de posse. Aquele que figura na bandeira é o dono do novo lugar. Assim aconteceu com
bandeira da Ordem de Cristo fincada pelos portugueses quando aportaram no Brasil, em 1500.
A Ilha de Vera Cruz, mais tarde Terra de Santa Cruz, estava tomada em nome de Cristo e da
Coroa de Portugal. Os norte-americanos, em 1969, quando chegaram à Lua, lá fincaram a
bandeira dos Estados Unidos.
9
O sentido da recriação pode ser compreendido nas palavras do Apóstolo Paulo: “Porque pelo Cristo as
coisas velhas passaram; eis que todas as coisas se tornaram novas” (2 Cor 5, 17).
14
3 PERCEPÇÃO DO MISTÉRIO
Muitas vezes, o ser humano se sente pequeno diante das manifestações da Natureza, diante dos
trovões, raios, das imensas montanhas, ou ao contemplar a abóbada celeste, o mar, os ventos, as
tempestades etc. O ser humano, diante do grande mistério (MYSTERIUM TREMENDUM),
diante de tudo aquilo que o fascina (MYSTERIUM FASCINANS), sente-se “cinza e pó” ,
como diz o escritor no Livro do Gênesis (Gn 18, 27).
O universo macroscópico apresenta-se como um campo fascinante para os humanos, os
cientistas e pesquisadores. Poderíamos dizer que também o universo microscópico representa a
mesma fascinação. O infinitamente grande e o infinitamente pequeno, eis os dois campos da
fascinação humana!
4 LUGARES SAGRADOS
As montanhas são consideradas lugares mais próximos da divindade, lugares mais próximos dos
astros que têm movimentos perfeitos e seguem padrões de comportamento perfeitos. O alto das
montanhas é o lugar onde se pode fazer a ligação entre o céu e a terra. O alto é o lugar da
morada dos deuses.
Exemplos de montes sagrados: Monte Meru (Índia), Monte Haraberezaiti (Irã), Monte Garizin e
Monte Sinai (Palestina) etc.
Para o Islamismo o lugar mais elevado da terra é a KAABA, porque está na posição do centro
do céu. Para os cristãos este lugar é o GÓLGOTA, ou Monte Calvário, pois foi ali que Jesus, o
Salvador, realizou seu ato máximo de amor pela humanidade.
A antiga capital do SOBERANO CHINÊS era também o centro do mundo. Ali, no solstício de
verão, ao meio dia, o Gnomo não devia ter sombra.
Em JERUSALÉM, o rochedo sobre o qual o templo estava construído era o centro da terra.
SHIZ, considerada a JERUSALÉM DOS IRANIANOS, encontra-se também no centro do
mundo. São, portanto, vários os centros do mundo, dependendo, é claro, da cultura que escolhe
cada um.
5 CONSTRUÇÃO DE UMA IGREJA OU DE UMA CIDADE
Antigamente a escolha do lugar para a construção de uma igreja não era motivada
aleatoriamente. A escolha era fruto de alguma espécie de hierofania. No fundo, foi o próprio
Deus que escolheu o lugar do templo. Assim também com a escolha do local das cidades. Os
lugares altos, além da escolha de Deus (lugares mais pertos do céu, local onde era mais fácil
fazer a ligação entre a terra e o céu etc.) eram também lugares estratégicos: do alto se pode ver
mais longe; ver, por exemplo, os inimigos que se aproximam.
6 ALGUNS DETALHES SOBRE AS PARTES DO TEMPLO
Um templo, para os crentes, é uma cópia do céu, é o lugar da ressantificação do mundo. Sua
construção atende a um pedido / ordem de Deus: “ E Javé falou a Moisés, dizendo... Faze-me
um santuário, para que eu possa habitar no meio deles. Farás tudo conforme o modelo da
habitação e o modelo da sua mobília que irei te mostrar” (Ex. 25, 8-9). O Rei Davi dá as
instruções sobre o templo (1 Cron. 28); a Arca de Noé, lugar de salvação antes do Dilúvio, é
construída sob as orientações do próprio Deus. E é Ele que dá as medidas: 300 côvados de
comprimento; 50 côvados de largura e 30 côvados de altura.
A PORTA DO TEMPLO: que se abre para o interior da igreja e dá a ideia de continuidade. O
espaço do mundo (profano) se prolonga dentro do espaço sagrado do templo.
15
LIMIAR OU SOLEIRA: representa a baliza ou fronteira entre os dois espaços (sagrado e
profano). Do limiar para dentro há um espaço diferente daquele que fica lá fora.
As habitações humanas ganharam também um sentido sagrado, protegido, inclusive pelas
constituições laicas. O lar é um espaço inviolável, como diz a nossa Constituição (1988), art. 5º,
inciso XI.
Deus Jânus, o deus (bifronte) da porta. Regente do 1º mês do ano.
O limiar possui guardiões (deuses, espíritos). No limiar das antigas cidades (que eram muradas)
eram feitos os julgamentos, ofereciam-se os sacrifícios.
INTERIOR: lugar da comunicação com os deuses. Aqui os deuses podem descer a terra e os
homens podem subir aos céus.
Betel: “Jacó acordou de seu sonho e disse: ‘Na verdade Javé está neste lugar e eu não sabia’.
Teve medo e disse. ‘Este lugar é terrível. Não é nada menos que uma Casa de Deus e Porta do
Céu’”. Confira em: Gn. 28, 12-19.
TEMPLO DE JERUSALÉM: construído em grandes dimensões, tomava conta de quase a
metade da cidade. Seu grande Pátio era como se fosse o mar, lugar onde judeus e pagãos
poderiam ficar juntos. A Casa Santa era como se fosse a Terra, lugar de judeus e pagãos. Mas
dentro do templo havia lugares só para os judeus e havia também o Santo dos Santos, como se
fosse o Céu e ali só entrava o Sumo Sacerdote.
Quando o Rei da Babilônia, Nabucodonosor, atacou e destruiu o templo dos judeus, certamente
queria atacar o que significava a identidade daquele povo, tudo o que o povo possuía de mais
sagrado. Em outras palavras: era um ataque ao centro ontológico, ao sagrado, ao ponto vital da
cultura judaica. O mesmo se deu quando Vespasiano destruiu o segundo templo, no ano 70 da
era comum.
 Ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001: ponto
central do capitalismo ocidental (Osama bin Laden).
7 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMPO
Para o Homo Religiosus, o tempo não é apenas uma passagem linear, de um dia após o outro. O
tempo é algo mítico e traz em si a possibilidade de um retorno. É um tempo cíclico, reversível,
recuperável, repetível. É como se fosse um eterno presente mítico.
A liturgia das festas religiosas realiza essa recuperação do passado mítico. Participar dessas
festas é como sair do tempo profano, ordinário, e mergulhar no tempo sagrado, extraordinário.
O tempo profano, para o Homo Religiosus, pode ser durável, pode ser parado e revivido.
TEMPLO / TEMPLUM: LUGAR DO ESPACIAL. TEMPO/ TEMPUS: EXPRESSÃO DO
TEMPORAL
TEMPLUM & TEMPUS: O CONJUNTO DESTES ELEMENTOS
CONSTITUI UMA IMAGEM CIRCULAR ESPÁCIO TEMPORAL.
O mito de um tempo que se renova: o ANO NOVO: os seres humanos se livram dos fardos
de suas faltas, de seus pecados, de tudo aquilo que “pesava” sobre os ombros no ano anterior.
Há possibilidade de um novo começo. Se o tempo fosse contínuo não haveria possibilidade de
se aliviar dos fardos.
16
8 A POSSIBILIDADE DA CONTEMPORANEIDADE COM OS DEUSES
O Mito conta uma história sagrada que teve lugar no começo do tempo, no início de tudo (AB
INITIO, como se diz em Latim). Dizer um Mito é proclamar o que se passou deste a origem
(AB ORIGINE), algo que se passou “naquele tempo” (IN ILLO TEMPORE). O Mito funda
uma verdade que não pode ser provada ou negada. Trata-se de uma VERDADE APODÍTICA.
Os Mitos são contados e recontados porque há necessidade de uma reatualização deles para a
religião, para a cultura, a política etc.
O profano não tem um modelo exemplar em que se apoiar, como o sagrado possui.
9 TERRA E ÁGUA E RITUAIS DE PASSAGEM
Será possível, ainda hoje, encantar-se com a Natureza: Foz do Iguaçu, Florestas, Pico da
Bandeira, Himalaia, Oceanos, Vulcões etc? Será possível encontrar nesses seres um certo
fascínio?
Um dos grandes elementos que fascina os humanos é a terra, sobretudo o mito da TERRAMÃE, que afirma que os seres humanos são paridos da terra. As pessoas são enterradas após a
morte, e assim retornam ao seio / ventre da mãe-terra. Há uma valorização poética e sentimental
da terra natal, que funciona como um “lugar do retorno”, onde se busca energia, força etc.
Essa imagem da terra-mãe está presente no livro sagrado dos muçulmanos, que diz: Vossas
mulheres são como campos para vós (Alcorão 2, 225)
O poeta HESÍODO, em sua TEOGONIA (nº 126 e ss), nos diz que a Terra (Geia) pariu o Céu
(Uranos) que era um ser igual a ela e, mesmo assim, capaz de cobri-la, isto é fecundá-la. O céu
abraça sua esposa e a fertiliza com a chuva.
A água é também um símbolo bastante usado nos rituais religiosos. Representa, dentre outras,
uma fonte de vida. No BATISMO representa um NOVO NASCIMENTO, como a humanidade
que renasceu após o DILÚVIO.
10 RITOS DE PASSAGEM
Cada etapa da vida humana é marcada por um ritual religioso ou civil. O nascimento é marcado
pela escolha do nome, pelo ritual de entrada na comunidade (Batismo, Circuncisão etc). Outros
rituais marcam a saída da infância e o ingresso na juventude, assim como a passagem de solteiro
para a vida no casamento. Por fim, a morte também é envolta em muitos rituais. Os humanos
não morrem como os outros animais. Essa última passagem é marcada, nas diversas religiões,
pelas celebrações funerárias, pelo culto que se presta aos mortos e à sua memória.
11 Textos para aprofundamento:
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Lisboa: Edição Livros do
Brasil, 2002. [Coleccão Vida e Cultura]
OTTO, Rudolf. O sagrado: os aspectos irracionais na noção do divino e sua relação com o
racional. Trad. Walter O. Schlupp. São Leopoldo: Sinodal/EST; Petrópolis: Vozes, 2007.
17
TRABALHO DIRIGIDO EM SALA DE AULA: Valor 15 pontos
Ler os 7 tópicos do texto; divisão em grupos para que cada um estude um dos 7
tópicos; apresentação do que foi discutido nos grupos; o texto é também matéria de prova.
Título: Sete questões capitais sobre Deus – e seu impacto no mundo e em nossa vida
Autor: José Ruy Gandra
Fonte: Revista ÉPOCA
 http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI111720-15228,00-MITOS+E+ATRITOS.html Acesso:
13.02.2010
1. DEUS ESTÁ MORTO
Definitivamente, não. Embora muita gente ainda questione a relevância das religiões em sua vida, um
novo debate se impôs globalmente: Deus é benéfico para o mundo? Para os novos ateus, como Dawkins,
Hitchens, Harris e Dennett, ele não passa de um delírio – e, caso de fato existisse, deveria ser executado
em praça pública. Para esse grupo, feroz e irredutível em seus argumentos, a religião é um fenômeno
retrógrado e perverso, que conduz à ignorância, a disputas amargas e a guerras. Karen Armstrong se opõe
a essa visão. Num extrato de seu livro, publicado na revista Foreign Policy, ela parte para o ataque. “Os
novos ateus não estão errados apenas quanto à religião e à política. Eles se enganam quanto à própria
natureza humana”, diz. “Enquanto os cães, até onde se sabe, não especulam sobre sua condição canina
nem se preocupam com a própria efemeridade, nós, seres humanos, mergulhamos facilmente no
desespero caso não encontremos um sentido para nossa vida.” Resumindo: Deus vive. O que não quer
dizer que, figuradamente, seu óbito não possa ser atestado. “Mesmo para os que creem, Deus morre”, diz
o rabino Nilton Bonder, da Congregação Judaica do Brasil (CJB). “Mas não sua essência. O que falece é
nossa percepção sempre inacabada de sua natureza.” Para o xeque Jihad Hassan Hammadeh, um dos
líderes da comunidade islâmica brasileira, o que morre são as ideias teológicas formuladas pelos homens.
“Mas não ‘Ele’. A crença em Deus é um acessório original de fábrica do ser humano, e não um item
opcional. Todos nascem crendo”, diz Jihad. Para as grandes tradições religiosas e a enorme maioria da
humanidade, Deus não parece estar indo a parte alguma – uma razão a mais para que encontremos um
modo equilibrado e profundo de conviver com sua presença.
2. AS RELIGIÕES ESTÃO RENASCENDO
Ao que tudo indica, sim. “Vivemos um período de grandes inquietudes e de uma tremenda ebulição
existencial e espiritual nas mais diversas tradições religiosas”, diz o rabino Bonder. “A questão é se essas
religiões terão grandeza e flexibilidade para não aplicar velhas respostas a essas novas demandas.” Para o
bispo dom Dimas Barbosa, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), esse
fenômeno é particularmente intenso nos países do Leste Europeu. “Após décadas de um ateísmo
totalitário, seus habitantes estão com a fé à flor da pele.” O lama Padma Samten, diretor do Instituto
Caminho do Meio – Centro de Estudos Budistas Bodisatva, de orientação tibetana e sediado em Viamão,
no Rio Grande do Sul, endossa essa tese. “As religiões estão renascendo, pois os conhecimentos que
brotam da ciência, da economia e da política tornaram-se filosoficamente muito limitados.” Segundo
Samten, as religiões, em especial o budismo, hoje oferecem uma compreensão bem mais profunda e
refinada da realidade. “Ouso dizer que, hoje, os cientistas tornaram-se religiosos, e os budistas céticos”,
diz ele. Em The case for God, Karen Armstrong salienta outro fenômeno interessante. Cada vez mais
pessoas acreditam nos ensinamentos e práticas de mais de uma religião. “É inevitável que, hoje, se busque
inspiração em mais de uma tradição religiosa”, afirma. “É parte da globalização.”
3. POR QUE UNS CREEM, E OUTROS NÃO?
Eis uma questão delicada. De acordo com as principais tradições monoteístas, todas as pessoas nascem
crendo. “Até o ateu, mesmo que inconscientemente, busca o criador”, diz o xeque Jihad. “De um modo ou
18
outro, todos correm atrás do prejuízo causado pela ausência de Deus.” O rabino Bonder concorda com a
tese com um quase aforismo. “Há os que creem e há os que creem que não creem”, diz. Para o teólogo e
pastor Ed René Kivitz, da paulistana Igreja Batista de Água Branca, “o paradoxo da fé é exatamente ela
ter como objeto algo que transcende a racionalidade”. A crença, para o lama Samten, é um traço imanente
aos seres humanos. “Mesmo que as pessoas não se deem conta, os elementos espirituais estão presentes e
atuantes nelas.” Por essa razão, ele argumenta, a prática é tão essencial. Karen segue a mesma trilha. “A
religião é uma alquimia ética”, diz ela. “É um exercício de comportamento sistemático que muda as
pessoas e seus valores, pois lhes abre as portas para a intimidade com o sagrado.” De acordo com dom
Dimas, “as pessoas encontram os sinais da fé em si próprias e tomam suas decisões nesse campo com o
coração”.
4. DEUS E POLÍTICA NÃO COMBINAM
Depende. Segundo Karen Armstrong, no Ocidente o secularismo foi bem-sucedido e essencial para a
consolidação da política e da economia modernas. Mas foi alcançado gradativamente, ao longo de três
séculos. Isso permitiu que a nova ideia de governo se cristalizasse em praticamente todos os níveis da
sociedade. Em outras partes do mundo, no entanto, a secularização ocorreu com tamanha rapidez – e,
muitas vezes, de modo tão agressivo – que gerou ressentimentos em populações ainda fortemente ligadas
à religião. Como reação, esses povos passaram a considerar as instituições ocidentais, entre elas a
democracia, modelos impróprios para sua vida e seu país. Por ter liderado essa universalização do
secularismo com a fúria de um rolo compressor, o Ocidente acabou enfrentando sérios reveses. Quando,
apoiado pelos Estados Unidos, os xás do Irã torturaram e exilaram os religiosos que se opunham ao
regime, alguns clérigos, como o aiatolá Khomeini, concluíram que a participação dos líderes islâmicos no
governo deveria ser rapidamente fortalecida. Os resultados dessa mudança de postura dos muçulmanos
xiitas, que por séculos consideraram a distância do poder um princípio sagrado, são bem conhecidos.
5. DEUS SEMEIA A VIOLÊNCIA
Ele não. Os homens, sim. “Deus é justo e prega a paz. As pessoas é que interpretam a religião segundo
seus interesses e a desvirtuam”, diz o xeque Jihad. “Isso acontece porque Deus deu ao ser humano o livrearbítrio, que tanto pode servir ao bem quanto ao mal.” O católico dom Dimas concorda: “O livre-arbítrio
é a glória e, ao mesmo tempo, a miséria dos seres humanos”, diz. “Essa liberdade é minha dignidade;
mas, ao mesmo tempo, se mal usada, pode ser meu flagelo.” Karen aborda o tema por uma ótica
ligeiramente distinta. Não é Deus ou as religiões que semeiam as atrocidades, mas sim a violência
inerente à natureza humana. “Como espécie, sobrevivemos matando outros animais e também nossos
semelhantes”, diz. Essa violência está tão impregnada em nossa vida que é relatada, em termos
assustadores, em praticamente todos os livros sagrados. Felizmente, segundo Karen, ela é
contrabalançada por outros textos que promovem a compaixão e sua regra de ouro: “Trate os outros como
você gostaria que tratassem a você mesmo”. Apesar de inúmeras falhas ao longo dos séculos, essa regra
se manteve no centro de todas as principais tradições religiosas – e é um sólido ponto de partida para o
ecumenismo.
6. DEUS OPRIME AS MULHERES
Infelizmente, sim. “É verdade que nenhuma das principais religiões do mundo tem sido boa para elas”,
afirma Karen. “Mesmo que, em seus primórdios, algumas tenham se mostrado generosas com as
mulheres, como o cristianismo ou o islamismo, em poucas gerações os homens as transformaram num
patriarcado.” De acordo com o rabino Bonder, “todo Deus manipulado pelas ideias humanas é nocivo
para as minorias, em especial as mulheres; os homens ostentam uma espécie de inveja uterina”. Uma das
maiores conquistas da modernidade ocidental foi a emancipação feminina. Mas os fundamentalistas, em
sua luta contra o espírito contemporâneo, tendem a enfatizar a igualdade de gêneros como uma ameaça a
repelir. Parece ter surtido efeito. Onde quer que governantes modernizadores tenham tentado banir o uso
do véu em países islâmicos, as próprias mulheres passaram a adotá-lo em maior número, com um fervor
redobrado. Em 1935, os soldados do xá Mohammad Reza Pahlavi dispararam contra centenas de
manifestantes desarmados que protestavam contra o uso obrigatório de trajes ocidentais. Desatinos desse
tipo acabaram transformando o véu, cujo uso até então não era disseminado, num símbolo da integridade
islâmica. Muitos muçulmanos hoje clamam que, enquanto a moda ocidental é sinônimo de riqueza e
19
privilégio, as vestimentas islâmicas enfatizam o igualitarismo contido nos capítulos do Alcorão,
conhecidos como suratas.
7. CIÊNCIA E FÉ SÃO EXCLUDENTES
Não. Elas apenas operam em dois planos distintos, que, até o século XIX, eram vistos como
complementares. “Fé e razão são duas asas pelas quais o entendimento alça voos em busca da verdade”,
diz dom Dimas, citando uma passagem da encíclica Fides et ratio (Fé e razão) , de João Paulo II. “A fé
sem a ciência é ingênua”, diz. “E a ciência sem a fé, muito fria e desumana.” Enquanto a ciência avança
pelas planícies da razão, a fé busca iluminar os desfiladeiros do mito. Karen deixa essa fronteira clara
numa das mais belas passagens de seu livro, quando diz que a ciência pode diagnosticar o câncer – e até
mesmo curá-lo –, mas não pode ajudar na consternação causada pelo diagnóstico nem ensinar a morrer
bem. Para Karen, desvendar a origem do Universo não é papel da religião, e sim da ciência. A missão da
religião seria nos ajudar a lidar com os aspectos da vida para os quais raramente estamos preparados,
como a morte. “Como espécie, caímos facilmente em desespero se não conseguimos enxergar algum tipo
de significado em nossa existência. A religião enfrenta questões que não podem ser resolvidas de uma vez
por todas”, escreve Karen. É a essa magnífica e penosa tarefa que chamamos fé. O resto é razão.

Rabino Nilton Bonder, da Congregação Judaica do Brasil:“Há os que creem e há os que creem que não
creem. Viver é sempre tomar partido, e crer ou não é um ato além da racionalidade”.
Dom Dimas Barbosa, secretário-geral da CNBB: “Vivemos um período de grandes inquietudes e de uma
tremenda ebulição existencial e espiritual nas mais diversas tradições religiosas”.
Ed René Kivitz, pastor da Igreja Batista de Água Branca: “O que gera a violência é o fator Deus, e não
ele próprio. Diante do dilema de matar ou morrer, Jesus escolheu deixar-se matar por seus oponentes”.
Lama Padma Samten, do Centro de Estudos Budistas Bodisatva: “Os conhecimentos da ciência
tornaram-se limitados. Ouso dizer que, hoje, os cientistas tornaram-se religiosos, e os budistas céticos”.
Xeque Jihad Hassan, líder da comunidade Islâmica: “Toda pessoa nasce com fé. A crença em Deus é um
acessório original de fábrica do ser humano, e não um item opcional. Todos nascem crendo”.

De acordo com o útlimo censo/IBGE-2010, temos no Brasil (milhões):
www.fgv.br/cps/religiao
Católicos Romanos..............................................................130.017.000
Evangélicos de todas as denominações.................................38.380.000
Judeus....................................................................................13.300.000
Muçulmanos.......................................................................... 1.900.000
Sem religião..........................................................................12.760.000
20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS
PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012
O Judaísmo, em de 29/09/2011, entrou no ano 5772 (Rosh Hoshaná).
Capítulo III
1. JUDAÍSMO
Sinteticamente dizemos que o Judaísmo é uma religião monoteísta e é a religião dos
judeus (de Judá, nome adotado a partir da época greco-romana). Os judeus são também
conhecidos como hebreus (nome aplicado pelos habitantes de Canaã aos imigrantes chegados
da “outra margem10”), e também como israelitas (Israel é o nome de Jacó após sua “luta” com
Deus [Gênesis 32,28]). Portanto, quando falamos em judeus, hebreus e israelitas, estamos
falando do mesmo povo.
A história do Judaísmo começa 3800 nos atrás, quando Taré, um chefe de família da cidade de
Ur (ou Haran, segundo outra versão), na Mesopotâmia (hoje, Iraque), foge da cidade e leva
consigo o filho Abraão, a mulher deste, Sarah, e o neto Lot. A história de Abraão pode ser lida
na Bíblia (1º Testamento), a partir do capítulo 12 do livro do Gênesis.
Mais tarde, Abraão (1800 aC) reconhece que só existe um único Deus, e o Todo-Poderoso faz
com Abraão uma Aliança. Este Deus será conhecido durante séculos como o “Deus de Abraão,
o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”.
Uma genealogia breve do Judaísmo: Abraão
Isaac
Jacó11
Abraão com Agar gerou Ismael (que é considerado o Pai dos povos Islâmicos).
(Gênesis 25, 12-18) com Sarah gerou Isaac
Isaac
Jacó
com Rebeca gerou Esaú (primogênito que vendeu a primogenitura)
e Jacó (Gênesis 25)
com Lia gerou: Rubem, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zabulom
com Raquel gerou: José ( Gênesis 37-50) e Benjamin
com Zelfa, a escrava de Lia: Gad e Aser
com Bala, a escrava de Raquel: Dan e Neftali
(Gênesis 35, 22-26)
Cada filho de Jacó/Israel constituiu o que se chamou de Tribo ou Clã. Fala-se em Tribo de
Judá, Tribo de Benjamin etc. Moisés era da Tribo de Levi, o Apóstolo Paulo era da Tribo de
Benjamin.
A população judaica no Brasil, de acordo com o censo/IBGE-2010, é de 13.300.000 adeptos.
10
Segundo GRUEN (1983), os hebreus eram conhecidos como “hapiru” (ou “habiru”), isto é,
“biscateiros”, não possuíam domicílio fixo e trabalhavam também como mercenários, sem pátria etc.
11
Curiosidade: o nome Jacó, em latim, é Jacobus. Em outras línguas: Iago (espanhol), Jacques (francês),
James (inglês). Em nossa língua acabou se transformando em Tiago, isto por causa de Santo Iago...
Sant’Iago... que acabou virando Santiago... São Tiago.
21
2 Quem fundou o Judaísmo?
Embora a tradição informe que Moisés seja o fundador do Judaísmo, hoje não se afirma isso
mais. Diz-se atualmente que Moisés falou em nome de Deus (Livro do Êxodo 3, 13-15) e
‫י ְהוָה‬
revelou ao povo o Nome de Deus (
), YHWH (Iahwé = Javé)12, mas o Judaísmo não foi
fundado por Moisés, pois é o resultado de uma Aliança histórica desde os Patriarcas Abraão,
Isaac e Jacó13. Moisés deu ao povo a Torá (Lei de Deus) no Monte Sinai (Êxodo 19-20) e
estabeleceu com o povo um contrato, uma aliança.
Através da Aliança, Javé prometeu a Abraão e aos seus descendentes quatro coisas básicas:
- DESCENDÊNCIA (biológica / consciência-fé);
- TERRA (País / consciência);
- PROTEÇÃO (Político / Rei / Sacerdote) e
- HABITAR no meio do povo14.
Abaixo, dois símbolos do Judaísmo: o Menorá (candelabro de sete velas) e a Estrela de Davi,
presente na bandeira do atual Estado de Israel:
.‫ י ְהוָה ֶאחָד‬,‫ י ְהוָה אֱֹלהֵינוּ‬:‫ יִשׂ ְָראֵל‬,‫שׁמַע‬
ְ
Shemáh, Israel, Adonái Elohênu, Adonái Ehád. (Dt 6,4)

1- O monoteísmo judaico está expresso na frase hebraica, acima, cuja pronúncia está
transliterada e significa: “Ouve, ó Israel, o Eterno nosso Deus, o Eterno é um só”.
‫י ְהוָה‬
2- Os judeus, por respeito ao segundo mandamento, não pronunciam o nome de Deus: (
).
Quando o encontram no texto, eles o substituem por ADONAI, que quer dizer SENHOR, o
Eterno, o Todo Poderoso etc. Também escrevem “D’us’
3 O Egito e o Êxodo
Nas últimas décadas do século XVIII a.C muitos povos semitas (futuros judeus) migraram para
o Egito em busca de uma vida melhor, como os nossos nordestinos migravam para o sudeste e
para o sul do Brasil. A “casa de Jacó” também se instalou na região nordeste do Delta do Nilo
(Gózen).
No séc. XIII alguns grupos de hebreus liderados por Moisés (por volta do ano 1250 a.C) partem
de volta à Terra Prometida. Esse Êxodo (saída) é um marco primordial na vida do povo judeu. É
recordado na celebração da Páscoa (Pessach: Dt 26, 5-9).
A Bíblia, depois de falar da Pessach, fala de uma caminhada de 40 anos pelo deserto em busca
da Terra Prometida. Mas a Terra de Canaã possuía vários habitantes: lá moravam os cananeus,
os filisteus, jebuseus etc. A conquista, sob a liderança de Josué, sucessor de Moisés, se dá por
meio de muitas batalhas, de uma guerra muito longa. A Palestina (nome que significa “terra dos
filisteus”) é hoje composta pela Faixa de Gaza e pela Cisjordânia, ambas sob o domínio da
chamada Autoridade Palestina. O restante do território é ocupado pelo Estado de Israel.
12
A Bíblia (Ex 3, 14) traduz YHWH por “Eu sou”. Podemos entender também como “Eu sou Aquele
que é”, “Eu sou Aquele que faz (a vida) acontecer”, “Eu sou o Único” etc.
13
WILGES (1994, p. 53) fala dos tradicionais; SCHERER (2005, p. 17) fala sobre a nova postura
histórico-teológica.
14
Descendência judaica é pelo “jus sanguinis”; o indivíduo é israelita pelo “jus solis”. A terra prometida
já era habitada por outros povos. Mudanças na concepção de Messias. Como é que Javé habita no meio de
seu povo?
22
A primeira organização política de Israel foi sob o regime de Juízes (uma espécie de
governadores ou interventores): Otoniel, Aod, Samgar, Débora, Barac, Gedeão, Abimelec, Tola,
Jair, Jefté, Abesã, Elon, Abdon, Sansão.
Depois vieram os Reis de Israel: Saul, Davi e Salomão foram os três primeiros.
A história do povo de Israel é uma história de lutas contínuas. O povo já viveu sob dominadores
diversos. Vejamos:
Sob o império dos assírios: 722 aC
Cativeiro babilônico: 587-539 aC (deportados para a Babilônia do Rei Nabucodonosor). Ciro,
rei da Pérsia, conquista a Babilônia e liberta os judeus. Os libertos irão reconstruir o Templo
que foi destruído por Nabucodonosor. (Ver 2 Reis 24 e 25)
Sob o império romano: 63 aC. No ano 70, da era comum, os romanos destroem o segundo
Templo e dispersam o povo judeu. Do segundo templo restou apenas uma parede, que ficou
conhecida como “muro”: o Muro das Lamentações.
2ª Guerra Mundial (1939-1945): Sob o domínio nazista de Adolf Hitler, os judeus tiveram
cerca de 6 milhões de pessoas assassinadas nos campos de concentração e de extermínio. É
aquilo que os judeus chamam de Shoáh, que significa “catástrofe ou tragédia”, embora o
mundo chame de Holocausto (um sacrifício agradável a Deus). O termo Holocausto é ofensivo
aos judeus e ao judaísmo.
4 TANAK: a Bíblia do Judaísmo ou Bíblia hebraica
A Bíblia hebraica começou a ser escrita por volta do ano 1000 a.C, sobretudo sob o governo do
Rei Salomão. Foram quase dez séculos de escritas, reunidas em três categorias de escritos,
sendo a segunda subdividida em duas seções. Com as iniciais das três categorias – Torá,
Nebiim e Ketubim– forma-se a palavra TaNaK . É com esse nome que os judeus se referem à
sua Bíblia. Não se fala em “testamento”. Eis os livros da TaNaK:
- Torá ou Lei também chamado - Chumash, isto é "Os cinco" primeiros livros: Gênesis
(Bereshit = No princípio), Êxodo (Shemôt = Os nomes), Levítico (Vayikrá = Ele chamou),
Números (Bamidbar = No deserto) e Deuteronômio (Devarim = As palavras)
- Nebiim ou Profetas: subdivide-se em Profetas Anteriores e Posteriores.
- Anteriores: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis
- Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum,
Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
- Ketubim ou Escritos: Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes,
Lamentações, Ester, Daniel, Esdras-Neemias, 1 e 2 Crônicas.
 Além da Torá escrita, o Judaísmo conhece e aceita a Torá oral, que consiste da Halakháh
(o caminho, a lei), da Hagadáh (a narração, explicação), do Midrash (a busca, interpretação).
Aceita também um conjunto de estudos chamado Talmud (que quer dizer, em hebraico,
“estudo”). A parte mais antiga do Talmud se chama Mishná (repetição) e surgiu por volta de
século 5º ou 6º de nossa era.
A Bíblia de Israel existe em duas formas: a forma original, em língua hebraica, com alguns
capítulos em aramaico, língua irmã do hebraico; e também na tradução grega, feita em
Alexandria do Egito, para os judeus que estavam em contato com o mundo de língua grega.
Essa última é chamada Septuaginta (Bíblia dos Setenta) e possui alguns livros a mais
que a Bíblia hebraica. Esses livros, chamados deuterocanônicos, não são aceitos pelos rabinos
23
de Jerusalém: Judith, Tobias, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc. (Não
confundir Eclesiástico com Eclesiastes).
A Bíblia católica contém os sete livros deuterocanônicos, ausentes na Bíblia hebraica/judaica e
na Bíblia protestante.
A ordem dos livros na Tanak ou nos 2 Testamentos da Bíblia católica e protestante não indica
uma cronologia, mas uma disposição apenas didática. Os livros mais antigos são os que falam
dos Reis: 1 e 2 Reis, 1 e 2 Samuel. Eles formam o que alguns autores chamam de Livro da
Sucessão Dinástica (GRUEN,1983, p. 49-52). Deus aparece pouco neste LSD. A impressão é
quase a de uma revista atual, com suas notícias nem sempre edificantes.
Rolo da Torá
Uso da Yad (mão, em hebraico)
Hoje, quando se lê um texto bíblico, é importante lembrar o seguinte esquema:
PRÉ-TEXTO
4.1
TEXTO
CON-TEXTO
 Ler o texto para perceber os absurdos que podemos cometer hoje
Homossexualidade e outros pecados
Rubem Alves
"Minha acuidade visual tem de ser 100% para que eu me aproxime do altar de Deus?",
perguntou-lhe o ouvinte.
Cristãos fundamentalistas são os que acreditam que as sagradas escrituras foram ditadas
diretamente por Deus e que, por isso, tudo o que nelas está escrito é sagrado, verdadeiro e deve
ser obrigatoriamente obedecido para sempre. A verdade divina está fora do tempo. Aquilo que
Deus comandava há 3.000 anos é válido para hoje e para todos os tempos futuros.
Digo isso a propósito de uma carta dirigida a Laura Schlessinger, conhecida locutora de rádio
nos Estados Unidos que tem um desses programas interativos que dá respostas e conselhos aos
ouvintes que a chamam ao telefone. Recentemente, perguntada sobre a homossexualidade, a
locutora disse que se trata de uma abominação, pois assim a Bíblia o afirma no livro de Levítico
18:22. Um ouvinte escreveu-lhe então uma carta que vou transcrever:
"Querida doutora Laura, muito obrigado por se esforçar tanto pra educar as pessoas segundo a
lei de Deus. [...] Mas, de qualquer forma, necessito de alguns conselhos adicionais de sua parte a
respeito de outras leis bíblicas e sobre a forma de cumpri-las: gostaria de vender minha filha
como serva, tal como o indica o livro de Êxodo 21:7. Nos tempos em que vivemos, na sua
opinião, qual seria o preço adequado?
O livro de Levítico 25:44 estabelece que posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres,
desde que não sejam adquiridos de países vizinhos. Um amigo meu afirma que isso só se aplica
aos mexicanos, mas não aos canadenses. Será que a senhora poderia esclarecer esse ponto? Por
que não posso possuir canadenses?
24
Sei que não estou autorizado a ter qualquer contato com mulher alguma no seu período de
impureza menstrual (Levítico 18:19, 20:18 etc.).O problema que se me coloca é o seguinte:
como posso saber se as mulheres estão menstruadas ou não? Tenho tentado perguntar-lhes, mas
muitas mulheres são tímidas e outras se sentem ofendidas.
Tenho um vizinho que insiste em trabalhar no sábado. O livro de Êxodo 35:2 claramente
estabelece que quem trabalha aos sábados deve receber a pena de morte. Isso quer dizer que eu,
pessoalmente, sou obrigado a matá-lo? Será que a senhora poderia, de alguma maneira, aliviarme dessa obrigação aborrecida?
No livro de Levítico 21:18-21 está estabelecido que uma pessoa não pode se aproximar do altar
de Deus se tiver algum defeito na vista. Preciso confessar que eu preciso de óculos para ver.
Minha acuidade visual tem de ser 100% para que eu me aproxime do altar de Deus?
Eu sei, graças a Levítico 11:6-8, que quem tocar a pele de um porco morto fica impuro.
Acontece que adoro jogar futebol americano, cujas bolas são feitas de pele de porco. Será que
me será permitido continuar a jogar futebol americano se usar luvas?
Meu tio tem um sítio. Deixa de cumprir o que diz Levítico 19:19, pois que planta dois tipos
diferentes de semente ao mesmo campo, e também deixa de cumprir a sua mulher, que usa
roupas de dois tecidos diferentes -a saber, algodão e poliéster. Será que é necessário levar a cabo
o complicado procedimento de reunir todas as pessoas da vila para apedrejá-la? Não poderíamos
queimá-la numa reunião privada?
Sei que a senhora estudou esses assuntos com grande profundidade de forma que confio
plenamente na sua ajuda. Obrigado de novo por recordar-nos que a palavra de Deus é eterna e
imutável". (Folha de São Paulo, Cotidiano, 30/09/2008, p. C2)
5 Costumes alimentares do Judaísmo:
Muitas pessoas estão familiarizadas com os termos casher, kosher, cashrut etc. Outras nem
sabem do que se trata, pois jamais ouviram falar. Casher (em hebraico) e kosher (em yidish,
dialeto judaico) querem dizer a mesma coisa: um produto apto, apropriado ao consumo, isto é,
que preenche todos os requisitos da dieta judaica. Cashrut é o conjunto destas leis outorgadas
por Deus ao povo judeu através do recebimento da Torá, no Monte Sinai.
Leis de Casher: No Judaísmo, o código alimentar é denominado de leis de casher. Essas leis
de grande importância religiosa estabelecem quais animais podem ser ingeridos e de que
maneira eles devem ser abatidos e cozidos. As leis do casher proíbem o consumo de carne de
porco, répteis, frutos do mar (ostras, camarões, lagosta) e não permitem a mistura de carne com
laticínios. Para uma carne ser casher, o animal deve ser abatido de uma forma especificada pela
lei judaica. O animal deve ser sacrificado com apenas um golpe para minimizar o seu
sofrimento. Após o abate do animal, algumas veias e partes do corpo do animal são removidas e
seu sangue é totalmente drenado, pois seu consumo é rigidamente proibido pelo Judaísmo.
6 Algumas festas importantes do Judaísmo:
http://www.fisemg.com.br/default_int.php?cat_link=Festas
ROSH HOSHANÁ: é o começo do ano e a recordação do julgamento divino do 1º homem.
Dura até Yom Kippur. Em 2012 será 16/18 setembro; em 2013 – 04/06 de setembro; em 2014 –
24/26 de setembro; em 2015 – 13/15 de setembro.
PURIM: é a recordação da libertação do povo judeu que estava sob o domínio de Assuero, rei
persa. Aconteceu sob a liderança de Ester (cf. Livro de Ester). Será comemorado de 7- 8 de
março de 2012.
25
PESSACH: é a Páscoa, a passagem do Anjo Exterminador que matou os primogênitos. (Ex 11,
4ss; Ex 12, 23; 2Sm 24, 16; 2 Rs 19, 35; Is 26,20). Será comemorada entre 6-14 de abril de
2012.
YOM HAATZAMAUT: no qual o líder David Ben-Gurion declarou o fim do Mandato
Britânico da Palestina e a fundação do Estado de Israel, proclamando sua independência. Será
comemorado dia 17 de abril de 2012; em 2013 será dia 15 de abril.
YOM HASHOAH: celebração em honra aos mortos da tragédia (Shoáh) do chamado Terceiro
Reich, de Hitler. Será celebrado em 19 de abril de 2012.
SHAVUOT: corresponde a Pentecostes. O termo significa “semanas”. A festa é celebrada sete
semanas ou 50 dias após a Pessach. É chamada a festa das primícias e lembra o dom da Torá no
monte Sinai. Em 2012 será comemorado em 27-28 de maio.
YOM KIPPUR: Dia do Perdão, o sábado dos sábados. Encerra o tempo penitencial. É a festa
mais celebrada.
SUKKOTH: festa das tendas, dos tabernáculos. Em 2012 será de 1º a 7 de outubro. Em 2013
será de 19 a 25 de setembro.
CHANUCÁ: literalmente é “inauguração”; é festa das luzes, da purificação do templo efetuada
pelos Macabeus. Recorda a libertação de Jerusalém sob Antíoco Epífanes, em dezembro de 164
a.C. Em 2011 foi comemorado durante os dias 20 – 28 de dezembro. Em 2012 será de 8 a 16 de
dezembro.
Confira o calendário hebraico em: http://www.chabadmorumbi.com.br/calendario/index.htm
7 Textos para aprofundamento:
GRUEN, Wolfgang. O tempo que se chama hoje: uma introdução ao Antigo Testamento. 5.
ed. São Paulo: Paulinas, 1983.
KONINGS, Johan. A palavra se fez livro. 2. ed. atualizada. São Paulo: Loyola, 2002 (Coleção
CES).
WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo. 16 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1994.
SCHERER, Burkhard (Org.). As grandes religiões: temas centrais comparados. Trad. Carlos
Almeida Pereira. Petrópolis-RJ: Vozes, 2005
Sites sobre o Judaísmo:
http://www.chabadmorumbi.com.br/
http://www.fisesp.org.br/express/ (Federação Israelita de São Paulo)
http://www.fisemg.com.br/ (Federação Israelita de Minas Gerais)
Para ouvir a Bíblia em Hebraico:
http://mucheroni.hpg.com.br/religiao/96/hinos/narradah/htm
26
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS
PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012
Capítulo IV
1 CRISTIANISMO
O Cristianismo15, com pouco mais de 2000 anos, é uma religião monoteísta, profética, revelada,
e tem suas raízes no Judaísmo. A primeira parte de suas Escrituras é totalmente comum com o
Judaísmo. O Cristianismo é originário da Palestina e remonta a um pregador itinerante: Jesus,
também chamado de Jesus de Nazaré, Jesus Cristo ou Messias. Com um grupo de 12 Apóstolos
ele inaugurou seu ministério: “Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão,
também chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe
e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão,
o Zelota, e Judas Iscariotes, que foi o traidor” (Mt 10, 2-4).
2
Consultoria – resposta:
Prezado Senhor Nazareno,
Antes de mais nada, queremos agradecer-lhe por depositar a sua confiança em nossa companhia.
Os candidatos que o Senhor escolheu para ocupar seus postos de responsabilidade na sua nova
organização foram, todos eles, submetidos a uma rigorosa bateria de testes e a uma entrevista
personalizada com uma de nossas melhores psicólogas. Os resultados foram analisados com muito
rigor e detalhamento. Nosso pessoal chegou à conclusão que a maioria dos seus candidatos carece de
experiência, não tem formação adequada, tampouco aptidões para o tipo de empreendimento que o
Senhor pretende viabilizar.
Simão Pedro é emocionalmente instável, com tendência a mudanças de humor; André carece
totalmente de capacidade para assumir responsabilidades. Os irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu,
põem os seus interesses pessoais acima de sua entrega à empresa. Tomé é muito questionador e tende a
pôr em dúvida informações recebidas, o que sem dúvida é um obstáculo para quem precisa trabalhar
em equipe. Além disso, nos vemos na obrigação de informar-lhe que o nome de Mateus aparece na
listra negra da Comissão da Grande Jerusalém para a Honradez dos Negócios. Tiago, filho de Alfeu, e
Tadeu são propensos à radicalização: ambos obtiveram uma alta pontuação na escala maníacodepressiva. Mas uma boa notícia: um dos candidatos pareceu-nos altamente capacitado; imaginativo,
com dom de gentes e um enorme tino comercial. Além disso, tem boas relações entre pessoas influentes
e poderosas. Recomendamos, encarecidamente, que faça de Judas Iscariotes seu administrador e
homem de confiança. Está muito motivado, é ambicioso e não teme desafios. O resto dos candidatos
não merece sequer comentário.
Desejamos-lhe muito êxito em seu novo empreendimento.
Atenciosamente,
Caifás Jewish, Consultor.
15
Acima, vemos o lábaro (labarum, em latim) do Imperador Constantino Magno: é um cristograma de
Jesus Cristo, do qual existem diversas formas. É formado a partir das letras gregas Chi (χ) e Rô, (ρ),
iniciais de Χριστός (“Cristo”, em grego).
27
(Da direita p/ a esquerda: YESHUÁH [HA] MASHIAH)
O judeu Jesus de Nazaré16 nasceu provavelmente no ano 4 antes da era comum, na aldeia de
Belém, próximo a Jerusalém, na Palestina17. Após sua pregação, seu sofrimento (paixão), morte
e ressurreição, os apóstolos que haviam sido escolhidos por Jesus continuaram sua missão. A
ressurreição do Mestre era e é o ponto central da pregação, sinal de que Jesus, vencedor da
morte, era verdadeiramente o ungido do Pai e, portanto, o Senhor. A ressurreição dos mortos é,
portanto, a grande novidade do Cristianismo.
A morte não é mais a dominadora, a grande Senhora. Houve quem a destronou e ele é, portanto,
o Senhor.
Assim diz o Prefácio da Missa dos Fiéis Defuntos: “Senhor, para os que creem em vós, a vida
não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado nos céus um corpo
imperecível”.
‘Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, mesmo que morra, viverá. E todo
aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá” (Jo 11, 25-26).
O Cristianismo prega a fé em um Deus Uno e Trino: Pai, Filho e Espírito Santo. O 2º
Testamento bíblico18 contém em seus 27 livros os ensinamentos básicos do Cristianismo.
Imagem popular da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo
16
O nome Jesus, em hebraico, significa Javé salva (Jeshuah). Josué tem o mesmo significado.
17
Belém, em hebraico, é Beit-Lehem = Casa do Pão: Jesus disse sobre Si mesmo: “Eu sou o Pão da
vida”( João 6, 35). Jesus foi colocado na manjedoura, isto é, onde os animais comiam (Lc 2, 7).
18
Também são usados os termos 1º Testamento (para o AT) e 2º Testamento (NT).
28
O Cristianismo Católico19 tem como base de sua fé, além da Bíblia (Escritura), a Tradição e o
Magistério da Igreja. Os Protestantes, em seus diversos matizes, têm como base da fé apenas a
Bíblia (a Escritura). Lutero usava a expressão: Sola Fides et sola Scriptura (Só a fé e só a
Escritura).
3 Símbolos cristãos: Pães e Peixes
O peixe é um símbolo cristão por causa das iniciais da expressão grega “Iesous Christos Theou
Yios Soter” (Jesus Cristo, Deus, Filho, Salvador). As iniciais formam a palavra IKTYS, que
significa “peixe”, em grego.
Pães e peixes lembram o milagre bíblico da multiplicação dos pães e peixes com os quais Jesus
alimentou uma multidão de cinco mil pessoas. Por isso eles representam todos os milagres com
os quais Jesus providenciou alimento. Eles também lembram Jesus como o “pão da vida”,
conforme Mateus 14,17-21 e João 6,35.
A Páscoa é o ponto central do Cristianismo: Jesus ressuscitou, tornou-se o Senhor da
História, venceu a Morte. Agora Ele é o Ungido do Pai, é o Cristo, o Senhor: JESUS CRISTO20.
19
Sinônimos de Católico: Universal, Mundial etc.
O filme O corpo (The body, USA, 2001, 119 min), dirigido por Jonas McCord e estrelado por Antonio
Banderas e Olívia Williams, trata ficticiamente da ressurreição de Cristo, que foi questionada a partir de
uma ossada humana encontrada em uma escavação realizada em Jerusalém.
20
29
A Páscoa, uma das festas móveis, é baseada no calendário lunar judaico21:
Ano
Cinzas
Páscoa
Pentecostes22
Corpus Christi23
2012
2013
2014
2015
2016
22 de fevereiro
13 de fevereiro
05 de março
18 de fevereiro
10 de fevereiro
08 de abril
31 de março
20 de abril
05 de abril
27 de março
27 de maio
19 de maio
08 de junho
24 de maio
15 de maio
07 de junho
30 de maio
19 de junho
04 de junho
26 de maio
3.1
PÁSCOA (retirado da Internet)
- Papai, o que é Páscoa?
- Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!
- Igual ao Natal?
- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e a Páscoa, se não me
engano, comemora-se a sua ressurreição.
- Ressurreição?
- É, ressurreição. Marta, vem cá!
- Sim?
- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus,
três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
- Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?
- Que é isso, menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do
Céu! Nem parece que esse menino foi batizado!
Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos.
Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas
na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
- É, filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade.
Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
- O Espírito Santo também é Deus?
- É, sim.
- E Minas Gerais?
- Sacrilégio!!!
- É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?
- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de
Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no
catecismo a professora explica tudinho!
- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
- Coelho bota ovo?
- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era... era melhor, sim... ou então urubu.
- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu?
- Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.
- Que dia e que mês?
- (???) Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e
ressuscitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.
21
Para encontrar as datas da Páscoa: http://www.novomilenio.inf.br/porto/mapas/nmcalenp.htm
Outras datas de Pentecostes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pentecostes
23
Outras datas de Corpus Christi: http://www.inf.ufrgs.br/~cabral/tabela_pascoa.html
22
30
- Um dia depois!
- Não, três dias depois.
- Então morreu na quarta-feira.
- Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se
não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como?
Pergunte à sua professora de catecismo!
- Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
- É que hoje é Sábado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o
apóstolo que traiu Jesus.
- O Judas traiu Jesus no sábado?
- Claro que não! Se Jesus morreu na sexta !!!
- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
- Ui...
- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.
- Só?
- Que eu saiba, sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse
negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
- Ai coitada!
- Coitada de quem?
- Da sua professora de catecismo!
ANOTE: o maior mandamento do Cristianismo é o amor: “Amar a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo” (Mateus 22, 36), amar os inimigos (Mateus 5, 44),
amar como Jesus ama (João 15,12). O amor será a base para o julgamento final (Mt 25, 3146). Jesus também anunciou o REINO DE DEUS, que deve ser buscado acima de tudo.
4 OS CRISTÃOS SÃO MUITOS E DIVERSOS: UM TERÇO DA HUMANIDADE
Igreja Católica Apostólica Romana (Oriental, língua grega, e Latina, língua latina24):
Fundada a partir do grupo de apóstolos (Colégio Apostólico, que continua a “sucessão
apostólica”) segue as orientações da Bíblia, da Tradição e do Magistério, cujo primaz é o Papa
de Roma (Vaticano25). S.S Bento XVI é o 265º papa.
Abaixo, moeda de 2 euros (2005), com efígie de Bento XVI e, no verso, uma representação
esquemática das muralhas que delimitam a Cidade do Vaticano, com a Basílica de S. Pedro em
primeiro plano. Exibe também as inscrições “75.º ANNO DELLO STATO” e “1929-2004”,
24
A Igreja Católica, fiel ao Romano Pontífice Bento XVI (Joseph Ratzinger), possui dois Códigos de
Direito Canônico: um para a Igreja Latina e outro para a Igreja Oriental.
25
Nome oficial: Estado da Cidade do Vaticano, existente desde 1929, a partir do Tratado de Latrão.
Possui área de 44 hectares ou 0,44 km². É governado pelo Papa, que é o Bispo de Roma.
31
bem como, em letras pequenas, o nome do desenhador “VEROI” e as iniciais do gravador
“L.D.S. INC”. No anel externo figuram as estrelas da União Europeia e a inscrição “CITTA'
DEL VATICANO”.
Igreja Ortodoxa (ano 1050): Segue as orientações dos Patriarcas. A autoridade suprema na
Igreja Católica Apostólica Ortodoxa é o Santo Sínodo Ecumênico, que se compõe de todos os
Patriarcas chefes das Igrejas Autocéfalas e os Arcebispos Primazes das Igrejas Autônomas, que
se reúnem por chamada do Patriarca Ecumênico de Constantinopla e sob a sua presidência, em
local e data que ele determinar.
A autoridade suprema regional em todos os Patriarcados autocéfalos e Igrejas Ortodoxas
autônomas é da competência do Santo Sínodo Local, que é composta dos Metropolitas chefes
das arquidioceses sob a presidência do próprio Patriarca ou Arcebispo que convoca a reunião,
marcando a data, o local e a ordem do dia.
Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB): fundada em 06 de julho de 1945 pelo bispo
Dom Carlos Duarte da Costa (1888-1961), da diocese de Botucatu-SP. Dom Carlos é chamado
pelos icabenses de “São Carlos do Brasil”. A ICAB está presente em Belo Horizonte: Igreja de
Santa Edwiges, Santo Expedito. Veja o site: www.igrejabrasileira.com.br
Igrejas Protestantes. Dividem-se em: Igrejas Históricas, Igrejas Pentecostais, Igrejas NeoPentecostais e Paraprotestantes. O censo/IBGE-2010 diz que todos os Protestantes, no Brasil,
somam 38.380.000 fiéis.
I - Protestantismo Histórico: Igreja Luterana (Martinho Lutero: 1519, Alemanha), Igreja
Anglicana (Rei Henrique VIII, 1534, Inglaterra), Igreja Batista (Thomas Helwys, 1611,
Inglaterra), Igreja Presbiteriana (John Knox, 1643, Inglaterra), Igreja Metodista (John Wesley
(1740).
II - Protestantismo Pentecostal:
Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Igreja do Evangelho Quadrangular, O
Brasil para Cristo, Deus é Amor etc.
III - Protestantismo Neo-pentecostal: Igreja Universal do Reino de Deus (Edir Macedo),
Igreja Internacional da Graça de Deus (R.R Soares), Sara Nossa Terra (Robson e Lúcia
Rodovalho), Renascer em Cristo (Estevam e Sônia Hernandes) etc.
IV - Paraprotestantes: Igreja Adventista: William Miller; Mórmons: em 1830, Joseph Smith;
Testemunhas de Jeová, 1875, USA, Charles Russel.
5 Considerações sobre o Protestantismo e Pentecostalismo
O Protestantismo é um dos grandes ramos do Cristianismo, originário da Reforma ocorrida na
Europa no século XVI. Devido à sua própria natureza, é diverso em sua composição, doutrinas,
práticas e culto. No sentido estrito da palavra, o protestantismo siginifica o grupo de príncipes e
32
cidades imperiais que, na Dieta de Speyer, em 1529, assinaram um protesto contra o Édito de
Worms que proibiu os ensinamentos Luteranos no Sacro Império Romano. A partir daí, a
palavra “protestante” em áreas de língua alemã ainda se refere às Igrejas luteranas, enquanto
que a designação comum para todas as igrejas originadas da Reforma é Reformado. No Brasil
usa-se o termo Evangélico para dizer “Protestante”.
No sentido amplo, a palavra designa todos os grupos religiosos cristãos de origem europeia
ocidental, que romperam com a Igreja Católica Romana como resultado da influência de
Martinho Lutero, fundador das igrejas luteranas, e de João Calvino, fundador do movimento
Calvinista. Um terceiro ramo principal da Reforma, que entrou em conflito tanto com os
Católicos como com os outros Protestantes é conhecido como Reforma Radical ou Anabatista.
Lutero e Calvino distanciaram-se destes movimentos mais radicais, que eles viram como uma
semente de insubordinação social e fanatismo religioso.
5.1 Origens do Protestantismo: revisões radicais na Igreja Católica
Os protestantes situam normalmente a sua separação da igreja católica romana por volta do ano
1500, chamando-lhe a reforma magistral porque propunha inicialmente numerosas revisões
radicais dos padrões da doutrina da Igreja Católica Romana (o chamado magisterium). Os
protestos irromperam repentinamente e em vários locais ao mesmo tempo. De certa forma, esta
explosão de protestos pode ser explicada por dois eventos de dois séculos anteriores na Europa
ocidental.
Primeiro foi a efervescência política na Igreja e no império ocidental, que culminarou na
transferência do Papado para a França, em Avignon26 (1308 - 1378), e no Cisma papal (1378 1416), causando guerras entre príncipes e revoltas entre os camponeses.
Um segundo evento, o Renascimento humanista, estimulava o efervescer da atividade
acadêmica, sem precedentes durante a Idade Média, que pela sua natureza implicava a busca da
liberdade de pensamento. Sérios debates teóricos decorriam agora nas universidades sobre a
natureza da Igreja e a fonte e extensão da autoridade papal, dos concílios e dos príncipes. Uma
das perspectivas novas e mais radicais teve origem em John Wyclif, em Oxford, e
posteriormente Jan Hus, na Universidade de Praga.
Dentro da Igreja Católica Romana, este debate foi oficialmente concluído pelo Concílio de
Constança (1414 - 1418), que executou Jan Hus e baniu postumamente Wyclif como um
herético. No entanto, enquanto Constança confirmou e fortaleceu as concepções medievais da
Igreja e do império, não poderia ter resolvido as tensões nacionais ou as tensões teológicas que
tinham surgido no século anterior. Entre outras coisas, o concílio não conseguiu evitar o Cisma
nem as Guerras Hussíticas da Boêmia.
De certa forma, o protesto iniciado por Martinho Lutero, um monge agostiniano e professor na
Universidade de Wittenberg, provocou a reabertura do debate sobre a venda de indulgências.
Teve um ímpeto de uma força renovada e irresistível do descontentamento que tinha sido
oprimido mas não resolvido.
26
O primeiro papa de Avignon foi Clemente V, francês. Os reis franceses queriam submeter o papa a seu
controle. Houve perda do prestígio papal, nepotismo e o nascimento da teoria conciliarista: o concílio
superior ao papa. O papa Gregório IX pôs fim ao exílio e voltou para Roma.
33
5.2 Protestantismo no Brasil: huguenotes franceses e reformados holandeses
O Protestantismo chegou ao Brasil com viajantes e tentativas de colonização do Brasil por
huguenotes (nome dado aos Reformados franceses) e Reformados holandeses e flamengos
durante o período colonial. Esta tentativa não deixou frutos persistentes.
Com a vinda da família real portuguesa ao Brasil e abertura dos portos a nações amigas, através
do Tratado de Comércio e Navegação, comerciantes ingleses estabeleceram a Igreja Anglicana,
em 1811. Seguiu-se a implantação de Igrejas de Imigração: Alemães trouxeram o Luteranismo
em 1824; imigrantes americanos, as igrejas Batista e Metodista. Depois foram fundadas as
igrejas Congregacional e a Presbiteriana, voltadas ao público brasileiro.
Em 1910 o Brasil receberia o Pentecostalismo, com a chegada da Congregação Cristã no
Brasil e da Assembleia de Deus. Esta, em particular, foi trazida ao Brasil por dois missionários
suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, e estabeleceu-se inicialmente no norte, no Pará. Em
1922 chega ao país o Exército de Salvação, igreja reformada de origem inglesa, pelas mãos de
David Miche e esposa, um casal de missionários suíços.
Em 1932 alguns ministros da Assembleia de Deus devolveram voluntariamente suas credenciais
de obreiros e organizaram a Igreja de Cristo no Brasil, em Mossoró/RN. Esta foi a primeira
igreja pentecostal genuínamente brasileira.
Nos anos 1950 o pentecostalismo mudou-se com a influência de movimentos de suposta cura
divina, que geraram diferentes denominações tais como: Igreja Pentecostal O Brasil para
Cristo, fundada pelo missionário Manoel de Mello. Em 1962 surge a Igreja Pentecostal Deus é
Amor, fundada pelo missionário David Miranda.
Também surgiram outras igrejas, que mantiveram muitas características do protestantismo
histórico mas adicionaram o fervor pentecostal, como exemplo a Igreja Presbiteriana Renovada
e a Convenção Batista Nacional.
A Igreja Cristã Maranata foi fundada em outubro de 1968, no morro do Jaburuna em Vila
Velha, Espírito Santo, por quatro antigos membros da Igreja Presbiteriana do Centro de Vila
Velha. Hoje, a Igreja Cristã Maranata é uma das maiores Igrejas no Brasil.
A década de 1970 viu nascer o movimento neopentecostal, com igrejas que enfatizam a
prosperidade, como a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), fundada pelo
autodenominado Bispo Edir Macedo, em julho de 197727; a Igreja Internacional da Graça de
Deus, fundada por Romildo Ribeiro Soares (conhecido como Missionário R.R Soares), entre
muitas outras28. É também nessa década que mesmo a Igreja Católica Romana no Brasil começa
a sofrer influência dos movimentos pentecostais através da Renovação Carismática Católica, um
movimento originário dos EUA.
A Igreja Mundial do Poder de Deus é uma igreja evangélica de tendência neopentecostal,
dissidente da Igreja Universal do Reino de Deus. Foi fundada na cidade de Sorocaba em 9 de
março de 1998 pelo autodenominado Apóstolo Valdemiro Santiago, ex-bispo da IURD. Sede
em Belo Horizonte: Praça da Estação, próximo ao viaduto da Floresta.
Recentemente cresceram as chamadas igrejas neopentecostais com foco nas classes média e
alta, com um discurso mais liberado quanto aos costumes e menos ênfase nas manifestações
27
Para um conhecimento aprofundado sobre a IURD, ver o livro de Leonildo Silveira Campos: Teatro,
templo e mercado: organização e marketing de um empreendimento neo-pentecostal, 1999.
28
Comentar o tema das “franquias” de Igrejas Neo-pentecostais.
34
pentecostais. Entre elas podemos citar a Igreja Apostólica Renascer em Cristo, fundada por
Estevam e Sonia Hernandez, e a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, fundada por
Robson Rodovalho.
5.3 Pentecostalismo
Pentecostalismo é como chamam-se os grupos religiosos cristãos, originários no seio do
protestantismo baseando-se na crença da presença do Espírito Santo na vida do crente através de
sinais, denominados por estes como dons do Espírito Santo, tais como falar em línguas
estranhas (glossolalia), curas, milagres, visões etc.
Tradicionalmente, reconhece-se o começo do movimento pentecostal como tendo início no ano
1906, em Los Angeles, nos Estados Unidos, na Rua Azuza, onde houve um grande avivamento
caracterizado principalmente pelo "batismo com o Espírito Santo", evidenciado pelos dons do
Espírito (glossolalia, curas milagrosas, profecias, interpretação de línguas e discernimento de
espíritos).
No entanto, o batismo com dons do Espírito Santo não era totalmente novo no cenário
protestante. Existem inúmeros relatos de pessoas que clamam ter manisfestado dons do Espírito
em muitos lugares, desde Martinho Lutero (apesar de controversos quanto a veracidade) no
século XVI até de alguns protestantes na Rússia no século XIX.
Devido à projeção que ganhou na mídia, o avivamento na Rua Azuza rapidamente cresceu e,
subitamente, pessoas de todos os lugares do mundo estavam indo conhecer o movimento. No
começo, as reuniões na Rua Azuza aconteciam informalmente, eram apenas alguns fiéis que se
reuniam em um velho galpão para orar e compartilhar suas experiências, liderados por William
Seymour (1870-1922).
Rapidamente, grupos semelhantes foram formados em muitos lugares dos EUA, mas com o
rápido crescimento do movimento o nível de organização também cresceu até o grupo se
denominar Missão da Fé Apostólica da Rua Azuza.
5.4 Pentecostalismo no Brasil
O movimento pentecostal pode ser dividido em três ondas.
A primeira, chamada pentecostalismo clássico, abrangeu o período de 1910 a 1950 e iniciou-se
com sua implantação no país, decorrente da fundação da Congregação Cristã no Brasil e da
Assembleia de Deus até sua difusão pelo território nacional. Desde o início, ambas as igrejas
caracterizam-se pelo anticatolicismo, pela ênfase na crença no Espírito Santo, por um
sectarismo radical e por um ascetismo que rejeita os valores do mundo e defende a plenitude da
vida moral.
A segunda onda começou a surgir na década de 1950, quando chegaram a São Paulo dois
missionários norte-americanos da International Church of The Foursquare Gospel. Na capital
paulista, eles criaram a Cruzada Nacional de Evangelização e, centrados na cura divina,
iniciaram a evangelização das massas, principalmente pelo rádio, contribuindo bastante para a
expansão do pentecostalismo no Brasil. Em seguida, fundaram a Igreja do Evangelho
Quadrangular. Diz-se “quadrangular” porque tem sua base nos quatro evangelhos (Mateus,
Marcos, Lucas e João), e quatro são seus temas principais: Jesus salva, cura, batiza e voltará. No
seu rastro, surgiram O Brasil para Cristo, Igreja Pentecostal Deus é Amor, Casa da Bênção,
Igreja Unida e diversas outras menores.
A terceira onda, a neopentecostal, teve início na segunda metade dos anos 70. Como já
dissemos, foram fundadas por brasileiros a Igreja Universal do Reino de Deus, a Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra e a Renascer em Cristo, entre as principais; utilizam intensamente
a mídia eletrônica e aplicam técnicas de administração empresarial, com uso de marketing,
planejamento estatístico, análise de resultados etc. Algumas delas pregam a Teologia da
Prosperidade, pela qual o cristão está destinado à prosperidade terrena, rejeitando os tradicionais
usos e costumes pentecostais. O neopentecostalismo constitui a vertente pentecostal mais
influente e a que mais cresce. Também são mais liberais em questões de costumes.
35
Paralelamente ao Pentecostalismo, várias denominações protestantes tradicionais
experimentaram movimentos internos, com manifestações pentecostais, assim foram
denominados "Renovados", como a Igreja Presbiteriana Renovada, Convenção Batista
Nacional, Igreja do Avivamento Bíblico e Igreja Cristã Maranata.
A doutrina de renovação do Pentecostalismo ultrapassou até mesmo as fronteiras do
Protestantismo, surgindo movimentos de renovação pentecostal Católica Romana e Ortodoxa
Oriental, como a Renovação Carismática Católica.
6. Textos para aprofundamento:
CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, tempo e mercado: organização e marketing de um
empreendimento neopentecostal. 2. ed. Petrópolis-RJ: Vozes; São Paulo: Simpósio Editora e
Universidade Metodista de São Paulo, 1999.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Lisboa: Edição Livros do
Brasil, 2002. (Colecão Vida e Cultura)
JORGE, Pe. J. Simões. Cultura religiosa: o homem e o fenômeno religioso. 2. ed. São Paulo:
Loyola, 1998.
WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo. Petrópolis: Vozes, 1996.
ZILLES, Urbano. Filosofia da religião. São Paulo: Paulinas, 1991 (Coleção Filosofia).
Sites consultados:
Pentecostalismo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pentecostalismo
Para ler a Bíblia em Chinês, Espanhol, Inglês, Italiano e Latim – ver o Site do Vaticano:
http://www.vatican.va/archive/bible/index_po.htm
Revista Veja: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/evangelicos/em_resumo.html
Bíblia em Português (versão católica e protestante): http://www.bibliacatolica.com.br/
36
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS
PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012
Capítulo V
1. Islamismo
O ano 2012 corresponde ao ano 1434 para os islâmicos (Hégira do Profeta).
O Islamismo (do árabe: ‫ اإلسالم‬al- islām: submissão a Deus, Paz) é uma religião revelada,
monoteísta, que surgiu na Arábia Saudita (Península Arábica) no ano 622 d.C, e é baseada nos
ensinamentos religiosos do profeta Mohamed (ou Maomé) e numa escritura sagrada, o
Alcorão.29
O texto da bandeira do Reino da Arábia Sadita (capital Riad), abaixo, fundo verde com escritos
‫ال إاله إال محمد رسول ﷲ‬
na cor branca, é o da shahada, a declaração de fé islâmica:
,
cuja transliteração é: “La ilaha Ilallah Muhammadar Rasululah”, e significa: "Não há Deus
senão Alá, e Maomé é o seu mensageiro / profeta" (Alcorão 7, 157).
O Profeta Mohamed , fundador do Islamismo, nasceu em Meca, na atual Arábia Saudita, na
tribo árabe coraixita, em 571 da era cristã. Era filho de Abá-Allah e Amina. Ficou órfão com
seis anos de idade e foi educado por seu avô Abud el-Mutalib. Não teve instrução escolar, não
sabia ler nem escrever. Trabalhou como mercador e pregou a existência de um só Deus, Alá,
Onisciente e Onipotente (Alcorão 2,162). Maomé faleceu em 18 de junho de 632.
Os quatro primeiros sucessores do Profeta – eram chamados “Califas”, ou seja, governantes:
1.
2.
3.
4.
Abu Bakr (sogro do Profeta)
Zaid Ibn Thabet (organizou a primeira compilação do Alcorão)
Osman Ibn Affan (genro do Profeta)
Ali Ibn Ai Talib (filho adotivo e genro do Profeta)
 A partir do 4º califa, a linha sucessória se complica. Veja, abaixo, “Sunitas” e “Xiitas”
SUNITAS: Acreditavam que depois do 4º Califa não se deve obedecer a sucessão por ordem
familiar. A escolha se daria mais pela capacidade do líder. Os Sunitas são em maior número que
os Xiitas.
No Iraque, os Xiitas representam 60% da população, mas nunca havia exercido o poder antes da
queda de Saddam Hussein, que se deu em 2003. Os Sunitas (20%) são a elite intelectual e
universitária. Os curdos (15%) seguem o Islamismo e são de maioria Sunita.
Na atual República Islâmica do Irã (antiga Pérsia, 1935) os poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário estão submetidos à autoridade máxima do líder espiritual, o aiatolá Sayed Ali
29
Para ouvir o Alcorão em árabe: http://www.readthequran.org/ONLINE/PORTUGUESE1/001.html
37
Khamenei, da tradição Xiita. Os Islâmicos se dizem descendentes de Ismael, filho de Abraão
(Ibrahim, em árabe) e Agar.
XIITAS (de Shia = partido): Acreditam que Maomé não é o Profeta único, mas acreditam que
Ali Ibn ai Talib, o genro de Maomé, seria o verdadeiro sucessor do Profeta. Acreditam também
nos filhos de Ali e Fátima, Hassan e Hussein, que morreram mártires da fé islâmica. A
lembrança da “Ashura” (celebrada no próximo 24.11.2012) é quando os muçulmanos xiitas
lembram o martírio dos netos de Maomé em Karbala, onde mulheres e crianças foram
massacradas pelas mãos de Yiazid, o filho de Muawya, aquele que havia lutado contra Ali e
usurpado o califado de Hassan. No Iraque, em certas regiões, a Ashura tomou uma visão
grotesca, com autoflagelações e situações anti-islâmicas.
A morte de Hassan e Hussein tem o mesmo significado que tem a morte de Jesus, comemorada
na Semana Santa para os Católicos.
Os cinco pilares do Islamismo são:
- A recitação e aceitação do credo (Shahada)
- Orar cinco vezes ao longo do dia (salat)
- Pagar dívidas rituais (zakat: 2,5%)
- Observar o jejum no Ramadã (setembro)
- Fazer a peregrinação a Meca
Acima, o Nome de Alá.

As orações (preces) têm os seguites horários: ao nascer do dia, ao meio-dia, às quatro da
tarde, ao pôr do sol, e à noite.
Para marcar o início o Jejum, no fim da noite, diz Maomé: “E comei e bebei até que comeceis
distinguir, na aurora, a linha branca da linha preta” (2, 187).
Para saber as diversas posições do corpo durante a oração, veja:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-85872009000100005&script=sci_arttext
Desde o início, é bom que digamos o seguinte: o Islamismo não deve ser associado aos
extremismos e fanatismos desumanos que deturpam a vontade de Alá e a verdadeira mensagem
do Profeta. Como já dissemos, a palavra Islam significa PAZ ou SUBMISSÃO A DEUS. O
muçulmano ou islamita prega a paz do Deus Clemente e Misericordioso30.
2 Alguns costumes islâmicos:
“São-vos proibidos para a alimentação: a carne putrefata, o sangue, a carne de porco, os
animais consagrados a qualquer outro nome que não seja o de Deus, os animais estrangulados,
os animais mortos por espancamento, os vitimados por feras e os que tenham sido imolados aos
ídolos”. Alcorão 5,3
Carne de animais em cujo abate não seja invocado o nome de Deus; animais e aves carnívoras;
animais e aves de rapina; todos os bípedes e os quadrúpedes que aprisionam para devorar com
os dentes e todas as aves que apanham com as suas garras (raposas, lobos, hienas, leopardos,
leões, tigres, macacos, águias, abutres etc.).
30
Não se usa o termo “maometanos” para os islâmicos/muçulmanos.
38
“Ó fieis, as bebidas inebriantes, os jogos de azar, a dedicação às pedras e a adivinhação com
setas, são manobras abomináveis de Satanás. Evitai-os, pois, para que prospereis.” Alcorão
5,90.
São proibidos aos muçulmanos todos os tipos de bebidas alcoólicas. “ ...porém, quem sem
intenção nem abuso, for compelido a isso, saiba que Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo”.
Alcorão 16,115.
3 Principais festas islâmicas:
Ramadã: Tempo de Jejum, celebrado no 9º mês do calendário islâmico. Ao final do jejum do
mês de Ramadã, comemora-se a revelação do Alcorão. É como a Páscoa para os cristãos.
Pequena Festa (Eid Al-Fitr), celebrada nos três primeiros dias do 10º mês (Xauál =
março/abril, para nós). Comemora-se o término do jejum de Ramadã.
Peregrinação a Meca: Período do Hajj (1 a 10 de Dhu al-Hijja, último mês) - Período em que
os muçulmanos de todo o mundo cumprem o dever de peregrinar a Meca, que lhes incumbe
pelo menos uma vez na vida, como um dos cinco preceitos básicos de vida piedosa. A rigor, o
período do Hajj dura uma semana, mas a movimentação começa antes e termina depois dele.
Nessa época, a Arábia Saudita recebe quase dois milhões de peregrinos, cessando todo o
comércio.
Grande Festa ou Festa do Sacrifício (Eid Al-Adha) é celebrada no dia 10 do último mês do
ano. Os muçulmanos se congratulam, tal como fazem os cristãos no Natal. A data lembra a
ocasião em que o Profeta Ibrahim (Abrahão) teria cumprido a ordem de sacrificar seu filho
Ismael (que a tradição judaica afirma ter sido Isaac), demonstrando imensa fé e sendo por Deus
impedido, no último momento, de consumar o ato. Segundo a tradição, a pedra sobre a qual
Ibrahim ia executar Ismael era uma rocha negra que estava no vale onde hoje se situa Meca.
Essa pedra foi usada na construção da Kaaba. Está numa das quinas da Kaaba, engastada em
prata, e todos querem beijá-la ou tocá-la. Esse feriado ocorre no auge do período da
peregrinação.
Hégira, fuga de Maomé de Meca, marca o Ano Novo do calendário muçulmano, no dia 1° do
mês de Al-Muhharram (junho/julho).
Aniversário de nascimento do Profeta, no dia 12 do mês de Rabiá-al-áual, que cai entre
agosto e setembro.
4 O livro sagrado do Islamismo
O Alcorão, do árabe Al Qur’am (que significa “a leitura”). Al–Corão: deveria ser O Corão,
mas ao passar para o português, a maioria das palavras árabes incorpora o artigo. Dizemos o
açúcar (e não o çúcar), o arroz (e não o roz), o algodão (e não o godão). Em francês se diz “le
sucre”, “le riz”e “le coton”... e “LE CORAN”.
O livro sagrado muçulmano não foi escrito pelo Profeta; foi, sim, revelado a Maomé nos
desertos da Arábia no século VII; é composto de Suras (ou capítulos). São 114 suras Eis,
abaixo, a primeira sura, intitulada Al-Fatiha (“A Abertura”). Na parte superior da Sura, dentro
do círculo, está escrito, em árabe, o nome do Profeta:
Usamos em nosso texto a tradução portuguesa do Alcorão feita por Mansour Challita: edição da
Associação Cultural Internacional Gibran, Rio de Janeiro, s/d.
39
Em nome de Deus, o Clemente o Misericordioso.
Louvado seja Deus, o Senhor dos mundos, o Clemente, o
Misericordioso,
o Soberano do dentro
dia do Julgamento.
6. Ramificações
do Islamismo:
A Ti somente adoramos. Somente a Ti imploramos socorro. Guianos na senda da retidão, a senda dos que favoreceste, não dos que
incorrem na Tua ira, nem dos que estão desencaminhados.
Os muçulmanos, como já dissemos, estão divididos em dois grandes grupos, os sunitas e os
xiitas. Essas tendências surgiram da disputa pelo direito de sucessão a Maomé. A divergência
principal diz respeito à natureza da chefia. Para os xiitas, o Imã ou "Imam" (líder da
comunidade) é herdeiro e continuador da missão espiritual do Profeta. Para os sunitas, o Imã é
apenas um chefe civil e político, sem autoridade espiritual, a qual pertence exclusivamente à
comunidade como um todo.
Apenas 18% dos muçulmanos vive no mundo árabe, um quinto encontra-se espalhado pela
África Subsaariana, cerca de 30% vive no Paquistão, Índia e Bangladesh, e a maior comunidade
nacional encontra-se na Indonésia. Há significantes populações islâmicas na China, Ásia
Central, e Rússia.
A Áustria foi o primeiro país europeu a reconhecer o Islamismo como uma religião oficial
(1912), enquanto que a França tem atualmente a população mais elevada de muçulmanos da
Europa Ocidental (entre 5 a 10%).
Em Portugal existe uma comunidade muçulmana que nada tem a ver com os muçulmanos que
ali viveram durante a Idade Média. São, na sua maioria, naturais das antigas colônias
portuguesas de Moçambique e Guiné-Bissau, que se fixaram em Portugal após a independência
desses territórios. O Islã Xiita Ismailita também está presente em Portugal, tendo a sua sede no
Centro Ismaili de Lisboa, construído pela Fundação Aga Khan. Estima-se que o número de
muçulmanos em Portugal esteja perto dos 30 mil.
Segundo o censo/IBGE de 2010, o Brasil registra 1.900.000 muçulmanos. A maioria dos
muçulmanos brasileiros vive nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná, mas também existem
comunidades significativas no Mato Grosso do Sul e São Paulo. Grande parte destes
muçulmanos são descendentes de emigrantes sírios e libaneses que se fixaram no Brasil durante
a Primeira Guerra Mundial.
40
5 Calendário Islâmico: http://www.novomilenio.inf.br/porto/mapas/nmcalens.htm
Mês
Muhharram
Safar
Rabiá-al-áual
Rabiá-a-Thâni
Jumáda Al-Ula
Jumáda A-Thânia
Rajáb
Xaaban
Ramadan
Xauál
Dhu Al-Qaáda
Dhu Al-Hijja
Dias
30
29
30
29
30
29
30
29
30
29
30
29
Significado do nome
Mês sagrado
Mês da partida p/a guerra
1º mês da Primavera
2º mês da Primavera
1º mês da seca
2º mês da seca
Mês do respeito e da abstinência
Mês da germinação
Mês do grande calor
Mês do acasalamento dos animais
Mês do descanso
Mês da peregrinação
Transcrição
Muharran
Saphar
Rabia-1
Rabia-2
Jomada-1
Jomada-2
Rajab
Shaaban
Ramadan
Shawwâl
Dulkaada
Dulheggia
6 Generalidades sobre o Islamismo:
JESUS NO ALCORÃO: O exemplo de Jesus, ante Deus, é idêntico ao de Adão, que Ele criou
do pó, então lhe disse: Seja! e foi. (Alcorão 3, 59).
Ele (Jesus) não é mais do que um servo que agraciamos, e do qual fizemos um exemplo para os
israelitas (Alcorão 43, 59).
“Dize: Cremos em Deus, no que nos foi revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a
Isaac, a Jacó e às tribos, e no que, de seu Senhor, foi concedido a Moisés, a Jesus e aos profetas;
não fazemos distinção alguma entre eles, porque somos, para Ele, muçulmanos” (Alcorão 3,
84)
“O Mensageiro crê no que foi revelado por seu Senhor e todos os fiéis creem em Deus, em
Seus anjos, em Seus Livros e em Seus mensageiros. Nós não fazemos distinção entre os Seus
mensageiros. Disseram: Escutamos e obedecemos. Só anelamos a Tua indulgência, ó Senhor
nosso! A Ti será o retorno!” (Alcorão 2, 285).
“Ó adeptos do Livro, não exagereis em vossa religião e não digais de Deus senão a verdade. O
Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um mensageiro de Deus e Seu Verbo, com o
qual Ele agraciou Maria por intermédio do Seu Espírito. Crede, pois, em Deus e em Seus
mensageiros e não digais: Trindade! Abstende-vos disso, que será melhor para vós; sabei que
Deus é Uno. Glorificado seja! Longe está a hipótese de ter tido um filho. A Ele pertence tudo
quanto há nos céus e na terra, e Deus é mais do que suficiente Guardião” (Alcorão 4, 171).
Símbolos islâmicos, a lua crescente e a estrela, juntas, formam um símbolo importante nas
nações de maioria muçulmana. Estão na bandeira da Turquia, seguida por outros países que têm
em comum a religião fundada por Maomé, como o Paquistão, também no Oriente Médio, e a
Argélia, na África. É muito comum ver esse símbolo no alto das mesquitas. O calendário
islâmico baseia-se no ciclo lunar, e algumas fontes dizem que a Estrela representaria Alá
(Deus). Por razões religiosas, o início de um mês no calendário muçulmano não é marcado por
41
uma nova lunação, e sim, pela visão da Lua Crescente em um determinado local. Não deixa de
ser poética essa visão de contagem do tempo!
ANJOS E DEMÔNIOS: O Islamismo crê, assim como o Judaísmo e o Cristianismo, na
existência de anjos e demônios, que são seres puramente espirituais.
CIRCUNCISÃO: Como os judeus, também os islâmicos praticam a circuncisão nas crianças.
CORÃO OU ALCORÃO: É o livro sagrado do Islamismo. Alcorão significa: A Leitura. O
texto possui 114 Suras (ou capítulos, cada uma com um título, e se inicia com os dizeres: “Em
nome de Deus / Alá, o Clemente, o Misericordioso etc”. Apenas a Sura nº 9 não possui este
começo.
A denominação islâmica SUNITA, além do Alcorão, possui as SUNAS: interpretações dos
primeiros Califas sobre o Alcorão.
SEITA: Além do que já dissemos, dentro do Islamismo há também os grupos dos Sufis
(movimento místico que data do século VII e que se desenvolveu na Pérsia), dos Sikks
(oriundos da Índia, século XV, que aproximam a doutrina islâmica de certas fórmulas hindus),
dos Wahhabitas (que querem viver o Islamismo em sua pureza primitiva, reagindo ao culto das
relíquias, contra a importância dada ao culto dos santos, contra o luxo e a corrupção dos
costumes, contra o uso do tabaco etc) e dos Bahá’is (que pregam a igualdade e a fraternidade
humanas).
FATWA: numa questão jurídica islâmica, é um parecer final.
GUERRA SANTA: Cruzada, Jihad
KAABA: Templo, de Meca, no qual Maomé mandou colocar a Pedra Negra que Adão e Eva
trouxeram do Paraíso quando de lá foram expulsos. (Ver figura na página seguinte).
MESQUITA: Templo islâmico, que possui um MINARETE de onde o MUEZIM chama os
fieis para a oração / prece.
MUEZIN: É aquele que do alto do minarete (torre) convida, em voz alta, os fiéis para a oração.
PEREGRINAÇÃO A MECA: O muçulmano, caso tenha posses, tem a obrigação de, pelo
menos uma vez na vida, fazer a peregrinação a Meca, cidade do Profeta. No dia da
peregrinação, celebra-se uma reunião em Arafat (colina que dista uns 20 km de Meca). Ali se
vestem de branco e, depois do sol posto, partem para Muzdalifa (6 km de distância), onde
passam a noite em vigília e em oração. Pela manhã, partem para Mina, numa caminhada de 7
km. Ficam em Mina por uns 3 dias e, depois, seguem até Meca, onde cumprem 4 cerimônias: 1)
42
dar sete voltas em torno da Kaaba, no início e no fim da visita; 2) beijar a pedra negra; 3) beber
a água Zenzem;31 4) ir e voltar correndo entre as duas colinas Al-Safa e Al-Marva.
Legendas da Kaaba (Tradução da Internet: Job Parminas):
1. Pedra Preta, na esquina sudeste.
2. Porta de entrada, no Oriente; parede de 2,13 metros acima do nível do solo. Acessado através
de um conjunto de escada móvel.
3. Bico feito de ouro para escoar a água da chuva. Foi adicionado na reconstrução de 1627,
depois que a chuva do ano anterior provocou danos em três das quatro paredes.
4. Canaleta, também adicionada em 1627 para proteger a base da água subterrânea.
5. Hatim, um muro baixo, originalmente parte da Kaaba. Peregrinos não andam na área entre
esta parede e a Kaaba. Alguns acreditam que essa área contém os túmulos de Agar e Ismael.
6. Al-Multazam, a parte da parede entre a Pedra Negra e a porta de entrada.
7. Posto de Abraão (Ibrahim). Diz-se que Abraão permaneceu sobre esta pedra durante a
construção das partes superiores da Kaaba, e vez por outra levantava Ismael sobre seus ombros,
em direção às partes altas da Kaaba.
8.Canto da Pedra Preta (Sudeste).
9. Canto do Iêmen (Sudoeste). Peregrinos tradicionalmente reconhecem uma grande pedra
vertical que forma esse canto.
10. Esquina da Síria (Noroeste).
11. Canto do Iraque (Nordeste).
12. Kiswa, a cobertura bordada, substituída anualmente.
13. Tarja de mármore marcando o início e o fim de cada volta à Kaaba.
POLIGAMIA: O homem tem direito a ter quatro mulheres. O profeta Mohamed, por ser
profeta, teve o privilégio de possuir nove. Além disso, permite-se o divórcio com a condição de
lhe entregar algum dinheiro e com a autorização de tomar outra no seu lugar. A mulher não tem
recurso legal contra o marido. Ele pode punir a infidelidade, provada por quatro testemunhas,
com a morte pela fome. O Profeta pede que os homens sejam bons com suas mulheres.
RAMADÃ: Tempo de um mês de jejum para os islâmicos: em 2012 será de 20/21 de julho a
18/19 de agosto. (2013 = 8/9 julho a 7/8 de agosto; 2014 = 27/28 de junho a 26/27 de julho;
2015 = 17/18 de junho a 15/16 de julho).
31
Segundo a tradição islâmica, Ismael e sua mãe Agar foram expulsos da casa de Abraão por Sara. No
deserto, sentindo sede, o menino Ismael cavou a areia e encontrou água (Zenzen).
43
SEXTA-FEIRA: é o dia considerado sagrado para o Islamismo, assim como o Sábado é o dia
sagrado dos judeus e o domingo, para os cristãos.
7 Textos para aprofundamento sobre o Islamismo:
CARMO, António. Antropologia das religiões. Lisboa: Universidade Aberta, 2001.
ELIAS, Jamal J. Islamismo. Lisboa: Edições 70, 2000.
SCHWIKART, Georg. Dicionário ilustrado das religiões. 2. ed. Tradução de Clóvis Bovo.
Aparecida-SP: Editora Santuário, 2001.
WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo, 16. ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
Sites para consulta:
http://www.islam.org.br/centro_islamicos_no_brasil.htm
Calendário islâmico:
http://www.novomilenio.inf.br/porto/mapas/nmcalens.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio_isl%C3%A2mico
http://www.sbmrj.org.br/calendario-hegira.htm
Alimentação
http://www.comunidadeislamica.pt/04c.html
Sociedade Beneficente Muçulmana de Belo Horizonte:
Rua João Camilo de Oliveira Torres, 20: no final da Rua do Amendoim, Bairro Mangabeiras.
44
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS
PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012
Capítulo VI
1 A BÍBLIA: LIVRO DE JUDEUS E CRISTÃOS
1.1 O que você sabe sobre a Bíblia? Teste seus conhecimentos!

: http://super.abril.com.br/testes/voce-sabe-tudo-biblia-641516.shtml
1 - Acredita-se que a Bíblia - um dos símbolos maiores do Cristianismo - tenha começado a ser escrita por volta de:
Século 15 a.C.
Século 1 d.C.
Século 1 a.C.
Século 10 a.C.
2 - A Bíblia não foi escrita por apenas uma pessoa. Trata-se de um conjunto de livros escritos por autores variados.
Os especialistas estimam que a produção e reunião de todos os textos que compõem a Bíblia foram feitas ao longo de
um período de:
Mais de mil anos
Cerca de 70anos
300 ou 400 anos
Quase 100
anos
3 - Além dos cristãos católicos, outros grupos religiosos aceitam parte das histórias bíblicas como verdadeiras. São
eles:
Budistas e zoroastras
Cristãos protestantes e zoroastras
Cristãos protestantes e judeus
Judeus e ateus
4 - Qual é o significado da palavra "Bíblia"?
"Os livros sagrados"
"O livro do Pai"
"História do mundo"
"Manual da vida"
5 - Os cinco primeiros livros do Antigo Testamento são chamados no catolicismo de Pentateuco. No judaísmo eles
recebem o nome de:
Chabad
Torá
Mitsvá
Anash
6 - As histórias da Bíblia derivam de lendas surgidas na chamada Terra de Canaã, que hoje corresponde a:
Omã, Arábia Saudita, parte da Palestina e Líbia
Líbano, Palestina, Israel e parte da Jordânia, do Egito e da Síria
Parte do Egito, Palestina, Líbia e Irã
Palestina, Líbano, Iêmen, Sudão, Irã, e parte de Omã
7 - De quantos livros é composto o Novo Testamento?
15
19
12
14
27
8 - Nem todos os livros da Bíblia foram aceitos imediatamente pela Igreja. Alguns foram contestados na Antiguidade,
como é o caso de:
Malaquias e Ageu
Apocalipse de João e algumas Epístolas Católicas menores
Deuteronômio
Gênesis e Tobias
45
9 - Para terminar, vamos ver se você sabe responder: Qual é a Bíblia mais valiosa do mundo?
A Bíblia produzida pelo alemão Johannes Gutenberg, o inventor da imprensa
A Bíblia que fica no hall do museu Louvre, em Paris
A Bíblia que o Papa Bento 16 usa nas missas do Vaticano
A Bíblia do príncipe espanhol Felipe de Bourbon, com capa revestida de ouro
1.2 A estrutura da Bíblia
A estrutura da Bíblia pode ser comparada a uma grande estante de livros. Divida a estante
verticalmente ao meio: de um lado vão os 39 (ou 46) livros do Primeiro ou Antigo Testamento;
do outro, os 27 do Segundo ou Novo Testamento. Depois divida cada lado em três ou quatro
andares, e guarde os livros conforme seu tipo.
PRIMEIRO OU ANTIGO TESTAMENTO
SEGUNDO OU NOVO TESTAMENTO
Pentateuco ou Torá
Evangelhos e Atos
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio
Mateus, Marcos, Lucas, João
Históricos e Proféticos
Josué,
Juízes,
I e II Samuel,
I e II Reis
Cartas de Paulo e Pastorais
Isaías, Jeremias, Ezequiel
Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas,
Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias,
Ageu, Zacarias, Malaquias
Livros de Sabedoria, de Festa e Outros Escritos
Salmos,
Jó, Provérbios
Rute, Cantares,
Eclesiastes,
Lamentações, Ester
Atos
Daniel,
1 e 2 Crônicas,
Esdras, Neemias
Romanos, I e II Coríntios,
Gálatas, Efésios,
Filipenses, Colossenses,
I e II Tessalonissenses
I e II
Timóteo,
Tito,
Filemom
Escritos diversos e Apocalipse
Hebreus, Tiago, I e II Pedro,
I, II e III João, Judas
Apocalipse
Deuterocanônicos (fora da TANAK e Bib.protestante)
Judite, Tobias, I e II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico,
Baruc e Epístola de Jeremias.
2 Bíblia: livro ou livros?
A forma mais antiga de livro de que se tem notícia era um rolo de papiro, planta abundante às
margens do rio Nilo, usada pelos antigos egípcios, gregos e romanos para escrever. A palavra
grega para papiro era biblos, derivada do nome do porto fenício de Byblos, hoje Jubayl,
Líbano, através do qual o papiro era exportado.
O plural de biblos (livro, em grego [βίβλιον]) era tá bibliá, que significava literalmente os
livros, e que acabou entrando para o latim eclesiástico para designar o conjunto de livros
sagrados que compõem a Bíblia (βίβλια).
Livros bíblicos (1º e 2º Testamentos) e suas abreviaturas:
Livros do 1º Testamento
Abreviaturas
Gênesis.......................................................................................
Êxodo........................................................................................
Levítico.....................................................................................
Números....................................................................................
Deuteronômio...........................................................................
Gn
Ex
Lv
Nm
Dt
Josué...........................................................................................
Js
46
Juízes..........................................................................................
Rute...........................................................................................
Samuel........................................................................................
Reis............................................................................................
Crônicas.....................................................................................
Esdras........................................................................................
Neemias....................................................................................
Tobias (*).................................................................................
Judite (*).................................................................................
Ester........................................................................................
Jz
Rt
1Sm, 2Sm
1Rs, 2Rs
1Cr, 2Cr
Esd
Ne
Tb
Jt
Est
Macabeus (*)..........................................................................
Jó.............................................................................................
Salmos......................................................................................
Provérbios...............................................................................
Eclesiastes (Coélet) ................................................................
Cântico.....................................................................................
Sabedoria (*)............................................................................
Eclesiástico (ou Sirácida) (*)...................................................
1Mc, 2Mc
Jó
Sl
Pr
Ecl
Ct
Sb
Eclo
Isaías........................................................................................
Jeremias...................................................................................
Lamentações............................................................................
Baruc (*)................................................................................
Ezequiel......................................................................................
Daniel.........................................................................................
Oseias.........................................................................................
Joel............................................................................................
Amós.........................................................................................
Abdias........................................................................................
Jonas..........................................................................................
Miqueias....................................................................................
Naum.........................................................................................
Habacuc.....................................................................................
Sofonias.....................................................................................
Ageu..........................................................................................
Zacarias.....................................................................................
Malaquias32..................................................................................
Is
Jr
Lm
Br
Ez
Dn
Os
Jl
Am
Ab
Jn
Mq
Na
Hab
Sf
Ag
Zc
Ml
(*) Os livros destacados em negrito são os chamados “Deuterocanônicos” e, como já afirmamos acima,
não constam na TANAK hebraica nem na Bíblia Protestante.
Livros do 2º Testamento
Mateus..................................................................................
Marcos..................................................................................
Lucas...................................................................................
João.....................................................................................
Atos dos Apóstolos.............................................................
Romanos.............................................................................
Coríntios (duas)..................................................................
Gálatas..................................................................................
Efésios..................................................................................
Filipenses.............................................................................
Colossenses.........................................................................
Abreviaturas
Mt
Mc
Lc
Jo
At
Rm
1Cor, 2Cor
Gl
Ef
Fl
Cl
32
Todos os doze profetas menores: Ó JOAM, ABDIAS JONAS MIQUEIA NAUM, HÁ SÓ AZÁ
(PARA) MALAQUIAS.
47
Tessalonicenses (duas).........................................................
Timóteo (duas).....................................................................
Tito.......................................................................................
Filemon33..................................................................................
Hebreus..................................................................................
Carta de São Tiago.................................................................
Cartas de São Pedro (duas)...................................................
Cartas de São João (três).......................................................
Carta de São Judas.................................................................
Apocalipse..............................................................................
1Ts, 2Ts
1Tm, 2Tm
Tt
Fm
Hb
Tg
1Pd, 2Pd
1Jo, 2Jo, 3Jo
Jd
Ap
3 As citações bíblicas são feitas do seguinte modo:
A vírgula separa capítulo de versículo. Ex.: Gn 3,1 (Livro do Gênesis, cap. 3, v. 1);
O ponto e vírgula separa capítulos e livros. Ex.: Gn 5,1-7; 6,8; Ex 2,3 (Livro do Gênesis, cap.
5, vv. de 1 a 7; cap. 6, v. 8; Livro do Êxodo, cap. 2, v. 3);
O ponto separa versículo de versículo, quando não seguidos.
Ex.: 2Mc 3,2.5.7-9 (2º livro dos Macabeus cap. 3, vv. 2,5 e de 7 a 9);
O hífen indica sequência de capítulos ou de versículos.
Ex.: Jo 3-5; 2Tm 2,1-6; Mt 1,5-12,9 (Evangelho segundo s. João, capítulos de 3 a 5, 2ª carta a
Timóteo, cap. 2, vv. de 1 a 6; Evangelho segundo Mateus, do cap 1, v. 5 ao cap. 12, v. 9).
3.1
 A Bíblia e o celular (retirado da Internet)
Já imaginou o que aconteceria se tratássemos a nossa Bíblia do jeito que tratamos o nosso
celular?
E se sempre carregássemos a nossa Bíblia no bolso ou na bolsa?
E se déssemos uma olhada nela várias vezes ao dia?
E se voltássemos para apanhá-la quando a esquecemos em casa, no escritório?
E se a usássemos para enviar mensagens aos nossos amigos?
E se a tratássemos como se não pudéssemos viver sem ela. E se a déssemos de presente às
crianças? E se a usássemos quando viajamos?
E se lançássemos mão dela em caso de emergência?
Mais uma coisa:
Ao contrário do celular, a Bíblia não fica sem sinal.. Ela 'pega' em qualquer lugar.
Não é preciso se preocupar com a falta de crédito porque Jesus já pagou o preço e os créditos
não têm fim.
E o melhor de tudo: não cai a ligação e a carga da bateria é para toda a vida. 'Buscai a Deus
enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto' (Is 55,6)
33
Chave mnemônica para as 14 cartas paulinas: ROCOCÓ- GALEFI-COLTETÉ- TITITI- FILÉ
48
4 Quatro níveis de leitura da bíblia
Falamos, em nossas aulas, de quatro níveis de leitura do texto bíblico. No Judaísmo existem
quatro níveis de interpretação ou quatro orientações de leitura da palavra. É o Pardés, palavra
formada com as letras iniciais das palavras Pshat /Remez /Drash / Sod.
4.1 - Nível Simples (Pshat, em hebraico) é o sentido literal, isto é, o que se lê corresponde a
realidade. Estilo fundamentalista de leitura do texto. É ruim e intransigente porque, muitas
vezes, não tolera outra abordagem que não seja a literal.
4.2 - Nível de Insinuação (Remez, em hebraico) é a verdade oculta por trás das palavras.
Tentar descobrir o que o texto “esconde” além de seu sentido literal. O leitor (se) pergunta: “O
que será que está por trás destas palavras?” Momento em que é possível (e necessário) fazer
uma boa exegese34 para se conseguir uma boa hermenêutica (interpretação).
4.3 - Nível de Revirar, remover, etc (Drash, em hebraico) são as verdades ocultas ilustradas
por parábolas e guematrias.
o nome de DaViD. As consoantes são,
Exemplo de guematria realizada com
respectivamente, a 4ª, a 6ª e 4ª que, somadas, dão nº 14 (4+6+4). São 14 as gerações de
Abraão até David; 14 de David até o exílio na Babilônia; 14 do exílio babilônico até Jesus (Mt
1,17).
4.4 - Nível do Segredo, da Mística (Sod, em hebraico) É quando o texto se transforma em
oração. É o secreto ou segredo que se mostra, aquilo que Deus revela. Jesus utiliza
frequentemente de parábolas, dando maior entendimento às suas ideias. Ele é um mestre
especialista no nível de interpretação Drash. Mt 13,11 explica bem essa peculiaridade. A
Pedagogia do rabino (ou sábio) é também gradual. Não cai jamais em precipitações que possam
atrapalhar o aprendizado. O Mestre semeia e espera que as sementes germinem e frutifiquem.
Com as iniciais das palavras hebraicas acima (P,R,D,S) poderemos formar a palavra PaRDéS
que, em hebraico, significa Pomar, Jardim ou Paraíso. Não se trata de um lugar físico, mas levanos a crer que quem amar e entrar nas Sagradas Escrituras também entrará num jardim certo e
ali encontrará paz e nada lhe faltará: encontrou o paraíso.
5 Método exegético, história das formas e gêneros literários na Bíblia
Falar de formas e gêneros literários é buscar um sentido além do sentido literal, é buscar o sentido
original do texto. É um padrão normal da exegese moderna. Em geral, todo método exegético moderno
aborda os seguintes tópicos:
5. 1 MÉTODO EXEGÉTICO BÍBLICO
a) Critica textual (para se evitar o fundamentalismo, isto é, o entendimento no nível 1 = ao pé da letra).
Se os manuscritos originais desapareceram ou nunca foram encontrados, como se sabe que o texto atual
corresponde ao original? Até que ponto o texto que possuímos é fiel ao original? Em 1008, foi
encontrado um manuscrito básico para a edição da melhor bíblia hebraica que se tem hoje. Mas,
questiona-se: por quanto tempo o livro foi sendo recopiado, e foi adquirindo erros de escrita? Muitas
vezes, vários manuscritos (cópias) de um mesmo livro trazem palavras diferentes.
O manuscrito mais antigo do 1º Testamento era composto de fragmentos de um papiro do I ou II século
a.C. Os beduínos acharam às margens do Mar Morto vários manuscritos datando do II século a.C,
alguns, como o livro de Isaías, cujo texto é quase completamente igual ao que temos. A Bíblia original
34
A exegese procura aprofundar-se em um texto pela etimologia, pelo estilo literário, pela busca do
sentido primeiro do texto para, então, vê-lo dentro de um contexto. A exegese auxilia a hermenêutica.
49
(copiada) data do século II d.C. Os rabinos tinham muito cuidado em transmitir a doutrina, e
procuravam unificar os textos. Os textos velhos eram colocados em lugares onde ninguém podia mais
usá-los, chamados gezidas. Numa destas gezidas foi encontrado um documento do ano 800,
aproximadamente, do qual aquele de 1008 é cópia. A diferença entre ambos é pouquíssima. Ora, se a
nossa Bíblia é a tradução daquele manuscrito, considerado autentico, aquela Bíblia é a melhor.
b) SITZ IN LEBEN (Situação na vida). Trata-se de situar o texto em um contexto histórico social. Há
livros que antes de serem escritos, foram passados oralmente por várias gerações. Cada manuscrito que
serviu para a composição de um texto tem uma história diferente. Por isso, os peritos o dividem em
perícopes (textos “independentes”) e estudam as tradições e suas fontes. E como o manuscrito chegou a
esta fonte? Deste estudo se deduz a 'sitz in leben' (situação na vida) deste manuscrito no gênero
literário.
c) História da redação - Por que há certas palavras a mais ou a menos nos Evangelhos? Isto varia com
a 'sitz in leben' do manuscrito. Quem determina isto é a critica literária. Tudo isso dentro do estudo da
história das formas.
5.2 GÊNEROS LITERÁRIOS BÍBLICOS
Dividem-se assim os diversos gêneros literários encontrados na Bíblia:
a) narrativo-didático: que se subdivide em = mito; saga; legenda ou lenda; conto; fábula; alegoria e
parábola.
a.1) Mito35- conto que se passa com deuses, ou cujos personagens são os deuses. Tem tonalidade solene
e é originário de círculos politeístas. A mitologia politeísta babilônica, por exemplo, muito influenciou
no povo de Israel, que sempre foi monoteísta. Isso se vê nos salmos. Nos livros históricos, a influência é
mais velada. Mas a árvore da vida do Gênesis já existe num poema de Gilgamés, de origem Babilônica.
A história do dilúvio tem uma similar na cultura babilônica. É o caso de uma deusa que era amada ao
mesmo tempo por um deus e por um homem. Então para matar o homem, o deus mandou o dilúvio.
O importante a se notar nisso tudo é que, ao transcrever para o livro sagrado, o autor purifica a lenda,
tirando as características politeístas e serve-se da cultura popular para levar uma mensagem. A árvore
da vida, na bíblia, significa que o homem foi criado para não morrer. A sabedoria babilônica explica
que o mundo nasceu de uma briga dos deuses. O deus vencido foi partido ao meio. De uma metade fez
o deus vencedor o céu; de outra fez a terra. Depois pediu a um deus artista que fizesse o homem com o
sangue apodrecido do deus vencido. Por isso, o homem e o mundo são maus do princípio. O autor
sagrado aproveita-se desses elementos, mas purificando-os e adaptando-os. A tradicional briga dos
anjos com Lúcifer existe num mito fenício sob a forma de uma briga de deuses. A linguagem mítica da
bíblia, o antropomorfismo de Deus. Tudo isso tem origem dessa inspiração na literatura exterior a
Israel.
a.2) Saga - contos que se ligam a lugares, pessoas, costumes, modos de vida dos quais se quer explicar
a origem, o valor, o caráter sagrado de qualquer fenômeno que chama a atenção. A saga se chama
etiológica quando procura a causa de um fenômeno. Por exemplo, para explicar a existência de uma
vegetação pobre e espinhosa na região sul ocidental do Mar Morto, surgiu a lenda de Sodoma e
Gomorra, a chuva de enxofre (Livro do Gênesis, cap. 19). A origem de várias estátuas de pedra,
formadas pela erosão é explicada pela história da mulher de Ló, que foi transformada em estátua (Gn
35
Do grego Mythos. Deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar de alguma coisa para
outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Os ouvintes recebem o mito
como narrativa verdadeira, pois confiam na autoridade de quem narra, pois ele testemunhou ou ouviu de
testemunha fiel o que está contando.
50
19, 26). A narrativa de Caim e Abel é outra, para explicar a origem de uma tribo cujos integrantes
tinham um sinal na testa. Explicavam que Deus colocara um sinal em Caim para que ninguém o
matasse, e daí este sinal ficou para a descendência (Gn 4, 15 em diante). O próprio nome de Caim é
inventado, porque a tribo tinha o nome de cainitas e eles deduziram que seu fundador devia chamar-se
Caim.
A saga se chama etimológica quando é para explicar um nome. Existe na Palestina uma Ramat Leqi
(montanha da queixada). Para explicar a origem deste nome eles inventaram a história de Sansão, um
homem muito forte, que lutara contra muitos inimigos usando uma queixada, e os vencera. Depois ele
jogou a queixada naquele monte, que ficou conhecido como monte da queixada. O caso das filhas de Ló
(Gn, 19) é uma história difamatória contra os amonitas e moabitas, tradicionais inimigos de Israel.
(Amon e Moab significam 'do pai').
Outras sagas da Bíblia: a de Noé embriagado; a briga de Labão com Jacó (Gn 31).
A saga se chama heróica quando tem por finalidade engrandecer a vida dos heróis do passado. O valor
da saga está na riqueza popular (folclórica – de VOLK + LORE) que ela traz. Nem sempre há lição em
cada uma. Mas a fartura de detalhes que ela traz mostra a mentalidade do povo. Seu valor é maior para
a crítica literária.
a.3) Legenda ou Lenda - distingue-se da saga porque se refere a pessoas ou objetos sagrados e quer
demonstrar a santidade destes por meio de um fato maravilhoso. Legendas na Bíblia há em Nm 16,1 17,15: histórias a respeito de Moisés; Dan l, 2, 3, 4: sonhos de Daniel; Os milagres de Elias contra os
sacerdotes de Baal; Gn 28,10: Jacó sonha com os anjos (pedra de Betel). É comum nas legendas referirse à lei ou objeto de culto. A imolação de Isaac, que não deu certo, é para reprimir um costume dos
cananeus de imolar crianças, costume proibido pela lei de Moisés. A serpente de bronze (Nm 21) se
refere a uma serpente de bronze mandada fazer pelo rei Manassés, que foi destruída por Javé. A
circuncisão (Gn 17) é explicada assim: Deus apareceu a Abraão para fazer aliança com ele e o pacto era
a circuncisão de todos os meninos no oitavo dia (Js 5, 9). Ex 12 e 13 falam da origem da Páscoa.
a.4) Parábolas, fábulas, alegorias - parábola é uma história comparativa, de sentido global (ex: II Sm
12, 1-4); fábula é a narrativa que faz os seres inanimados ou os animais falarem (ex: Juízes, 9,7);
alegoria é uma história comparativa em que cada elemento tem um significado particular (ex: Is 5, 1-7).
Há ainda o apólogo, quando se trata da animação de objetos.
b) narrativo-histórico
Difere do didático porque pretende contar um fato acontecido realmente. Há três tipos:
b.1) popular, em que ninguém sabe o fim da lenda e o começo da história. É uma história primitiva,
baseada em histórias que corriam na boca do povo, um misto de elementos verídicos e legendários
acrescentados. Os livros Josué e Juízes (550 a.C.) estão nesta categoria.
b.2) epopeia (nacional-religiosa) são histórias retiradas da catequese do povo. Se bem que tenham
elementos acrescentados, todavia a mensagem pode ser considerada autêntica. O exemplo mais típico
desse gênero é a narração epopeica da passagem do mar vermelho (Ex. 14 ). A fuga de Israel do Egito
está ligada a um fato acontecido no tempo de Ramsés II. Ele foi um faraó que empreendeu grandes
conquistas, principalmente à procura de escravos para trabalhar. Entre os povos submetidos havia um
grupo de judeus. Mais tarde, fraquejou a vigilância, e muitos fugiram, inclusive muitos judeus. Então
eles empreenderam a fuga pelo deserto e se aproveitaram de uma região onde havia um braço de mar
que secava durante a maré baixa para sair do território egípcio.
51
Esta narrativa na Bíblia é contada com todos aqueles retoques conhecidos. Mas se analisarmos bem,
veremos que na própria Bíblia, há duas citações do mesmo fato. São as duas tradições36: a Javista, mais
antiga, afirma que o vento soprou durante toda a noite e fez o mar recuar; a Sacerdotal, mais recente,
modificou a narração para a divisão das águas em duas muralhas por onde todos passaram em seco. Há
uma certa contradição nessas duas. Mas o que se deve concluir daí é que os soldados os perseguiram na
fuga e eles passaram na maré baixa. Quando os soldados chegaram, a maré já subira e não dava
passagem. Enquanto isso, eles se adiantaram ainda mais. Ao transcrever isso na Bíblia, o autor sagrado
quer mostrar o fato da presença de Deus em ajuda a seu povo, através dos elementos da natureza.
b.3) historiográfico - é o trabalho dos escribas encarregados de escrever as crônicas dos anais dos reis.
A partir dessas crônicas vários livros foram escritos. O 1º livro de Reis, cap. 11, vers. 41 cita os anais de
Salomão; em 14, 19 afirma que o restante está nos livros das crônicas dos Reis de Israel. São
documentos de maior credibilidade, porque são mais históricos. Somente a partir do livro dos Reis, é
que são usados documentos escritos na época. Antes era apenas história popular.
c) Legislativo (Latim: Lex, Legis = Lei)
É representado na Bíblia, principalmente no Pentateuco, ou seja, nos cinco primeiros livros da Bíblia,
que têm muito em comum com os outros povos vizinhos e herdou muito deles. Há passagens na Bíblia
que são repetições do código de Hamurábi. Os povos orientais são muito ricos nesse tipo de literatura.
Quanto aos tipos de leis, há três: 1. leis causídicas: pormenorizadas conforme as situações; 2. leis
apodíticas: universais; 3. leis rituais.
d) Sapiencial
Originou-se também dos povos vizinhos, principalmente a partir do Exílio. É de origem profana e não
religiosa, pois as suas fontes também não eram religiosas. O povo oriental é pensador por natureza e a
sabedoria é uma virtude muito difundida e apreciada. A sabedoria bíblica não difere muito da sabedoria
oriental em geral.
e) Profético
Também tem origem fora de Israel. Os povos da época tinham seus profetas. Eles moravam nos
palácios dos reis e eram os que dialogavam com os deuses. É preciso notar que naquela época profeta
não era sinônimo de adivinho, como às vezes se identifica. Eles·manifestavam ao povo a vontade de
Deus com sermões, com sinais, exortações e oráculos.
f) Salmos (São 150 salmos)
Também tem influência externa (fora de Israel). Não são todos de Davi. Apareceram conforme as
necessidades. Foram compostos sem sequência ou cronologia. São cantos de louvor, de súplica, etc.
6 Exercícios de interpretação bíblica
6.1 Trecho do Sermão da Montanha (Mt 5,3-10)
Pode-se dizer que este trecho do Sermão da Montanha é o discurso inaugural da pregação de Jesus, pois
todas as outras falas d’Ele encontram aqui um respaldo fundamental.
36
As mais importantes tradições bíblicas são quatro: J-E-P-D: Javista (J, chama a Deus de Javé), Eloísta
(E, chama a Deus de Elohim), Deuteronomista (D, trata-se de uma segunda lei) e Sacerdotal (P, pois
deriva de Priester-Kodex).
52








Bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino do Céu;
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra;
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus;
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa de mim, porque deles é o
Reino.
Sugestão para uma leitura de versículos considerados paralelamente: ler o 1º versículo em
paralelo com o versículo 5º; o 2º com o 6º; o 3º com o 7º; o 4º com o 8º, como segue:
Bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino do Céu;
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra;
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus;
Bem-aventurados os pacíficos, pq serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa de mim, porque deles é o
Reino.
Algumas “pistas” sobre o texto:
 Os pobres (anawin) só têm a misericórdia de Deus. Quem tb terá misericórdia deles?
 Mansos são os retos, os bem intencionados, honestos e quem se une a eles sem
demagogia, sem segundas intenções também verá a Deus porque veem o irmão;
 Os que choram (são tantos e choram por tantos motivos!) encontrarão nos pacíficos uma
fraternidade consoladora; serão irmãos, filhos de Deus.
 Sedentos de justiça = empobrecidos (≠ de pobre!), explorados... perseguidos; são
aqueles que assumem sua defesa; serão os herdeiros do Reino.
Perguntas básicas que podemos fazer (e nos fazer) hoje:
1. O trecho do Sermão da Montanha tem um sentido de Libertação ou de Alienação? P q?
2. O que podemos entender, hoje, por Reino dos Céus?
3. Quais seriam os “Bem-aventurados” de hoje, em nossa sociedade?
6.2 O DECÁLOGO (ou OS DEZ MANDAMENTOS) - Livro do Êxodo: 20, 2-17
Há muitos modos de ler um texto, e cada modo nos leva a descobrir novos significados. Os
antigos cultivavam uma técnica literária chama QUIASMO, que consiste em construir o texto
a partir de Núcleo Central. Ao redor desse núcleo ou ideia central monta-se o resto, usando a
técnica do paralelismo, de modo a conseguir diversas correspondências em paralelo. No fim o
53
texto parece uma cebola, onde as várias capas ou folhas envolvem o centro, preparando e
tirando as consequências do tema central. Vejamos, então, o Decálogo (Dez Mandamentos):
1. Então Deus pronunciou todas estas palavras:
2. Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão.
3. Não terás outros deuses diante de minha face.
4. Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a
terra, ou nas águas, debaixo da terra.
5. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso
que vingo a iniquidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam,
6. mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus
mandamentos.
7. “Não pronunciarás o nome de Javé, teu Deus, em prova de falsidade, porque o Senhor não deixa
impune aquele que pronuncia o seu nome em favor do erro.
8. Lembra-te de santificar o dia de sábado.
9. Trabalharás durante seis dias, e farás toda a tua obra.
10. Mas no sétimo dia, que é um repouso em honra do Senhor, teu Deus, não farás trabalho algum, nem
tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu animal, nem o estrangeiro
que está dentro de teus muros.
11. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que contêm, e repousou no sétimo
dia; e por isso. O Senhor abençoou o dia de sábado e o consagrou.
12. Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus.
13. NÃO MATARÁS.
14. Não cometerás adultério.
15. Não furtarás.
16. Não levantarás falso testemunho contra teu próximo.
17. Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem
sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence.
Podemos dizer que o Versículo 13, 5º mandamento, é o centro do Decálogo: não matarás. Esse
é o problema que está por trás de todos os nossos problemas pessoais e sociais: lutar contra a
Morte, para preservar a Vida. Os diversos mandamentos e aspectos dessa luta fundamental são
apresentados nos outros mandamentos, que se correspondem 2 a 2, aos pares, como vimos na
análise das Bem-aventuranças: o vers. 4º com o 6º, o 3º com o 7º, o 2º com o 8º e o 1º com o 9º.
Na verdade, nunca se viola um mandamento só, porque um sempre implica também o outro. E a
observância de todos leva à Vida. A violação de um só deles desmonta o conjunto inteiro, e
acaba sempre comprometendo a Vida e produzindo algum tipo de morte.
6.3 Uma visão esquemática do texto
O Decálogo (Êxodo 20, 2-17) também pode ser lido no livro do Deuteronômio 5, 6-21,
conforme correspondência abaixo:
54
Introdução: Versículos 1e 2.
1º Mandamento: Versículos 3-6 – Servir ao Deus libertador: Vida (Cf. Dt. 5,6-10)
2º Mandamento: Versículo 7 – Não manipular o nome de Deus (Cf. Dt. 5,11)
3º Mandamento: Versículos 8-11 – Trabalhar e descansar (Cf. Dt. 5,12-15)
4º Mandamento: Versículo 12 – Honrar a própria família (Cf. Dt. 5,16)
5º Mandamento: Versículo 13 – Lutar contra a morte pela Vida (Cf. Dt. 5,17)
6º Mandamento: Versículo 14 – Não adulterar a família do próximo (Cf. Dt. 5,18)
7º Mandamento: Versículo 15 – Não roubar o trabalho e o descanso (Cf. Dt. 5,19)
8º Mandamento: Versículo 16 – Não difamar o nome do próximo (Cf. Dt. 5,20)
9º e 10º Mandamentos: Versículo 17 – Não cobiçar os bens do próximo (Cf. Dt. 5,21)
Apresentamos, adiante, uma leitura tomando o 5º mandamento -
Lutar contra a morte
pela Vida - como centro ou núcleo. Os demais versículos, dois a dois, vão envolvendo esse
núcleo. Como a vida nos vem pela família, então temos que protegê-la e honrá-la e, ao mesmo
tempo, cuidar para que a família do próximo receba o mesmo tratamento que a nossa. Não
podemos cuidar da nossa família e adulterar a do próximo. Também, para cuidar de nossa
família é preciso trabalhar e descansar; ao mesmo tempo é preciso que cuidemos,
solidariamente, para que ninguém nos roube nem roube o trabalho e o descanso do próximo.
Vejamos como fica o esquema:
6.4 Visão concêntrica ou quiástica do Decálogo37:
Servir ao Deus libertador da Vida
Não manipular o nome de Deus
Trabalhar e descansar
Honrar a própria família
 Lutar contra a Morte pela Vida
Não adulterar a família do próximo
Não roubar o trabalho e o descanso
Não difamar o nome do próximo
Não cobiçar os bens do próximo
37
Ler assim também o texto de Ex.1, 15-22, tendo os vers. 18-19 como centro: ler os paralelos 15-16//22;
17// 20-21. Um segunto texto é Ex.2, 1-10, tendo como centro os vers. 5 e 6; ler os paralelos1-2//10c.f; 2
c-3e//9-10b; 4//7-8.
55
6.5 NOVO DECÁLOGO (Ramsi Said)
Amar os amigos sobre todas as coisas.
Amar as árvores, os rios e os pássaros como a si mesmo.
Sobreviver, mesmo sem ter pai ou mãe.
Não trair os amigos, mesmo que isso nos custe a vida.
Não pecar pela hipocrisia.
Não ter medo de matar, se preciso for.
Não gastar a saúde para ganhar dinheiro.
Não deixar para amanhã a alegria que você pode ter hoje.
Não acumular além do que pode carregar enquanto peregrina.
Não pecar contra a caridade.
7. Apocalipse: breve explicação de alguns de seus símbolos
O último livro do Segundo ou Novo Testamento é o Apocalipse, considerado enigmático,
profético etc. A palavra grega “apocalipse” significa REVELAÇÃO, isto é, um desvelamento,
uma mostra daquilo que estava escondido. Mas é uma indicação indireta, realizada por meio de
símbolos, ou seja, uma linguagem cifrada ou codificada. Quem entender os símbolos entenderá
o conteúdo todo. Quem não entender a simbologia ficará apenas com o sentido literal do que foi
dito e não enxergará o que está “por trás” do que foi dito. Vejamos, então, três capítulos.
LIVRO DA “REVELAÇÃO” OU APOCALIPSE (1-2.12)
Capítulo 1:
(1) Revelação de Jesus Cristo, que lhe foi confiada por Deus para manifestar aos seus servos o
que deve acontecer em breve. Ele, por sua vez, por intermédio de seu anjo, comunicou ao seu
servo João, (2) o qual atesta, como palavra de Deus, o testemunho de Jesus Cristo e tudo o que
viu. (3) Feliz o leitor e os ouvintes se observarem as coisas nela escritas, porque o tempo está
próximo.
(4) João às sete igrejas que estão na Ásia: a vós, graça e paz da parte daquele que é, que era e
que vem da parte dos sete Espíritos que estão diante do seu trono (5) e da parte de Jesus Cristo,
testemunha fiel, primogênito dentre os mortos e soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama,
que nos lavou de nossos pecados no seu sangue (6) e que fez de nós um reino de sacerdotes para
Deus e seu Pai, glória e poder pelos séculos dos séculos! Amém.
(7) Ei-lo que vem com as nuvens. Todos os olhos o verão, mesmo aqueles que o traspassaram.
Por sua causa, hão de lamentar-se todas as raças da terra. Sim. Amém. (8) Eu sou o Alfa e o
Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que vem, o Dominador. (9) Eu, João, vosso
irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava
na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
(10) Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e ouvi, por trás de mim, voz forte como de
trombeta, (11) que dizia: O que vês, escreve-o num livro e manda-o às sete igrejas: a Éfeso, a
Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodicéia.(12) Voltei-me para saber que
voz falava comigo. Tendo-me voltado, vi sete candelabros de ouro (13) e, no meio dos
candelabros, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestindo longa túnica até os pés, cingido
o peito por um cinto de ouro. (14) Tinha ele cabeça e cabelos brancos como lã cor de neve. Seus
olhos eram como chamas de fogo. (15) Seus pés se pareciam ao bronze fino incandescido na
fornalha. Sua voz era como o ruído de muitas águas. (16) Segurava na mão direita sete estrelas.
De sua boca saía uma espada afiada, de dois gumes. O seu rosto se assemelhava ao sol, quando
brilha com toda a força. (17) Ao vê-lo, caí como morto aos seus pés. Ele, porém, pôs sobre mim
sua mão direita e disse: Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive. (18) Pois
estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos, tenho as chaves da morte e da
região dos mortos. (19) Escreve, pois, o que viste, tanto as coisas atuais como as futuras. (20)
56
Eis o simbolismo das sete estrelas que viste na minha mão direita e dos sete candelabros de
ouro: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candelabros, as sete igrejas.
Capítulo 2:
(1)Ao anjo da igreja de Éfeso, escreve: Eis o que diz aquele que segura as sete estrelas na sua
mão direita, aquele que anda pelo meio dos sete candelabros de ouro. (2) Conheço tuas obras,
teu trabalho e tua paciência: não podes suportar os maus, puseste à prova os que se dizem
apóstolos e não o são e os achaste mentirosos. (3) Tens perseverança, sofreste pelo meu nome e
não desanimaste.
(4) Mas tenho contra ti que arrefeceste o teu primeiro amor.
(5) Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna às tuas primeiras obras. Senão, virei a
ti e removerei o teu candelabro do seu lugar, caso não te arrependas.(6) Mas isto tens de bem:
detestas as obras dos nicolaítas, como eu as detesto.(7) Quem tiver ouvidos, ouça o que o
Espírito diz às igrejas: Ao vencedor darei de comer (do fruto) da árvore da vida, que se acha no
paraíso de Deus.(8)
Ao anjo da igreja de Esmirna, escreve: Eis o que diz o Primeiro e o Último, que foi morto e
retomou a vida. (9) Eu conheço a tua angústia e a tua pobreza - ainda que sejas rico - e também
as difamações daqueles que se dizem judeus e não o são, são apenas uma sinagoga de Satanás.
(10) Nada temas ante o que hás de sofrer. Por estes dias o demônio vai lançar alguns de vós na
prisão, para pôr-vos à prova. Tereis tribulações durante dez dias. Sê fiel até a morte e te darei a
coroa da vida.(11) Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor não
sofrerá dano algum da segunda morte.
(12) Ao anjo da igreja de Pérgamo, escreve: Eis o que diz aquele que tem a espada afiada de
dois gumes. (13) Sei onde habitas: aí se acha o trono de Satanás. Mas tu te apegas firmemente
ao meu nome e não renegaste a minha fé, mesmo naqueles dias em que minha fiel testemunha
Antipas foi morto entre vós, onde Satanás habita. (14) Todavia, tenho alguma coisa contra ti: é
que tens aí sequazes da doutrina de Balaão, o qual ensinou Balac a fazer tropeçar os filhos de
Israel, para levá-los a comer carne imolada aos ídolos e praticar imundícies. (15) Tens também
sequazes da doutrina dos nicolaítas.(16) Arrepende-te, pois, senão virei em breve a ti e
combaterei contra eles com a espada da minha boca. (17) Quem tiver ouvidos, ouça o que o
Espírito diz às igrejas: Ao vencedor darei o maná escondido e lhe entregarei uma pedra branca,
na qual está escrito um nome novo que ninguém conhece, senão aquele que o receber.
(18) Ao anjo da igreja de Tiatira, escreve: Eis o que diz o Filho de Deus, que tem os olhos
como chamas de fogo e os pés semelhantes ao fino bronze.
(19) Conheço tuas obras, teu amor, tua fidelidade, tua generosidade, tua paciência e persistência,
e as tuas últimas obras, que excedem as primeiras.
(20) Mas tenho contra ti que permites a Jezabel, mulher que se diz profetisa, seduzir meus
servos e ensinar-lhes a praticar imundícies e comer carne imolada aos ídolos.(21) Eu lhe dei
tempo para arrepender-se, mas não quer arrepender-se de suas imundícies.(22) Desta vez a
lançarei num leito, e com ela os cúmplices de seus adultérios para aí sofrerem muito, se não se
arrependerem das suas obras.(23) Farei perecer pela peste os seus filhos, e todas as igrejas hão
de saber que eu sou aquele que sonda os rins e os corações, porque darei a cada um de vós
segundo as suas obras. (24) A vós, porém, e aos demais de Tiatira que não seguis esta doutrina e
não conheceis (como dizem) as profundezas de Satanás, não imporei outro fardo. (25) Mas
guardai o que tendes até que eu venha. (26) Então ao vencedor, ao que praticar minhas obras até
o fim, dar-lhe-ei poder sobre as nações pagãs.(27) Ele as regerá com cetro de ferro, como se
quebra um vaso de argila, (28) assim como eu mesmo recebi o poder de meu Pai, e dar-lhe-ei a
Estrela da manhã. (29) Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Capítulo 12:
(1) Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo
dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.(2) Estava grávida e gritava de dores,
sentindo as angústias de dar à luz. (3) Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão
57
vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas. (4) Varria com sua cauda
uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse Dragão deteve-se diante da Mulher
que estava para dar à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho. (5) Ela deu
à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro.
Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono. (6) A Mulher fugiu então para o
deserto, onde Deus lhe tinha preparado um retiro para aí ser sustentada por mil duzentos e
sessenta dias. (7) Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o
Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, (8) mas não prevaleceram. E já não houve
lugar no céu para eles. (9) Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente,
chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com ele
os seus anjos. (10) Eu ouvi no céu uma voz forte que dizia: Agora chegou a salvação, o poder e
a realeza de nosso Deus, assim como a autoridade de seu Cristo, porque foi precipitado o
acusador de nossos irmãos, que os acusava, dia e noite, diante do nosso Deus. (11) Mas estes
venceram-no por causa do sangue do Cordeiro e de seu eloqüente testemunho. Desprezaram a
vida até aceitar a morte. (12) Por isso alegrai-vos, ó céus, e todos que aí habitais. Mas, ó terra e
mar, cuidado! Porque o Demônio desceu para vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco
tempo lhe resta. (13) O Dragão, vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a Mulher que
dera à luz o Menino. (14) Mas à Mulher foram dadas duas asas de grande águia, a fim de voar
para o deserto, para o lugar de seu retiro, onde é alimentada por um tempo, dois tempos e a
metade de um tempo, fora do alcance da cabeça da Serpente. (15) A Serpente vomitou contra a
Mulher um rio de água, para fazê-la submergir. (16) A terra, porém, acudiu à Mulher, abrindo a
boca para engolir o rio que o Dragão vomitara. (17) Este, então, se irritou contra a Mulher e foi
fazer guerra ao resto de sua descendência, aos que guardam os mandamentos de Deus e têm o
testemunho de Jesus. (18) E ele se estabeleceu na praia.
Retiramos do livro de Frei Carlos Mesters, “Esperança de um povo que luta: o
Apocalipse de São João, uma chave de leitura”, a explicação dos principais símbolos.
01. Mulher grávida (12,1-2): É o povo de Deus. É também Maria, mãe de Jesus, gerando o
Libertador.
02. Dragão ou Serpente (12, 3.9): É o poder do mal que opera no mundo, satanás.
03. Sete cabeças (12,3): são as sete colinas da cidade de Roma (17,9) ou sete reis (17,9-10).
04. Dez chifres (12,3): Chifre é sinal de poder ou de rei (17,12). Dez chifres indica totalidade,
poder completo.
05. 1260 dias (12,6), 42 meses (11,2), tempos, tempo, meio tempo (12,14): é a metade de 7
anos. Indica um tempo limitado e imperfeito. Deus limita o tempo do perseguidor.
06. Asa de águia (12,14): é a proteção com que Deus conduz o seu povo (Dt 32,11; Ex, 19,4).
07. Besta fera (13,1): é o Império Romano, o poder que encarna o mal; capanga do dragão.
08. Besta fera com aparência de cordeiro e voz de dragão (13,11): são os falsos profetas que
se colocam a serviço do Império Romano, ajudando a enganar e a enrolar o povo.
09. Pantera. Urso. Leão (13,2): símbolos da voracidade e de exploração.
10. Cordeiro (14,1): é Jesus, o Cordeiro pascal, cujo sangue traz a libertação.
11. 144.000 Virgens (14,1-4): simboliza o número perfeito = 12 X 12 X 1000. 12 do AT e 12
do NT. Virgens = significa que nunca se contaminou com a doutrina dos falsos profetas do
Império Romano.
12. Babilônia (14,8;18,2): é a cidade de Roma, onde mora o Imperador, que explora o povo
para se enriquecer (18,3.9-13).
13. Filho do Homem (14,4): imagem de Jesus-Messias, tirada do profeta Daniel (Dn 7,13).
14. Harmaguedom (16,16): símbolo da derrota dos exércitos inimigos, tirado de Zacarias (Zc
12,11).
15. Cor branca (19,14): símbolo da vitória.
16. Mil anos (20, 2-7): é o tempo completo entre o fim da perseguição e o fim.
17. Lago de fogo (20,14): símbolo do destino de tudo o que se opõe ao plano de Deus.
18. Segunda morte (20,14): é a morte da própria morte.
58
19. Nova Jerusalém (21,12): símbolo do novo Povo de Deus.
20. Núpcias do Cordeiro (21,2;19,9): vitória e festa final da união de todos com Deus.
21. Sete cabeças: Alfa e Ômega (21,6): primeira e última letra do alfabeto grego. Princípio e
fim.
8 Sites para um estudo da Bíblia:
A Bíblia em Português: http://www.bibliaonline.com.br
A Bíblia em várias línguas (você escolhe):
http://www.bibliacatolica.com.br/historia_biblia/37.php
A Bíblia em Latim: http://www.bibliacatolica.com.br/09/1/1.php
A Bíblia (em Latim) no Site do Vaticano:
http://www.vatican.va/archive/bible/nova_vulgata/documents/nova-vulgata_index_lt.html
A Bíblia em Hebraico (para ouvir):
http://www.mucheroni.hpg.com.br/religiao/96/hinos/narradah.htm
9. Textos para aprofundamento sobre a Bíblia
KONINGS, Johan. A palavra se fez livro. 2. ed. Atualizada. São Paulo: Loyola, 2002 (Coleção
CES).
MESTERS, Carlos. Esperança de um povo que luta. o Apocalipse de São João, uma chave de
leitura. 10. ed. São Paulo: Paulus, 1983.
59
Exercício avaliativo (10 pontos): em grupos de até três pessoas

Destaque apenas uma página com as respostas para entregar ao professor
Nomes:.........................................................................................................................
Coloque nos parênteses abaixo os números que correspondem à afirmativa
1. ETIOLÓGICA 2. QUIASMO 3. SEGREDO ou INSINUAÇÃO 4. PARAÍSO 5. PARÁBOLA
6. INSINUAÇÃO 7. LEGENDA 8. GUEMATRIAS 9. LEGISLATIVO 10. TESTAMENTO
11. SITZ IN LEBEN 12. SALMOS 13. HERMENÊUTICA 14. JAVISTA 15. SABEDORIA
16. PERSEGUIÇÃO 17.SANSÃO 18. SACERDOTAL
( ) Tradição bíblica que menciona Deus como “Javé”;
( ) Uma das Bem-aventuranças: “Bem-aventurados os que sofrem [...] por causa de
mim, porque deles é o Reino do Céu”;
( ) Gênero literário da Bíblia que é representado pelo Pentateuco;
( ) É conhecida como ciência da interpretação.
( ) Nome que se dá a cada uma das duas partes gerais em que se divide a Bíblia;
( ) Gênero literário, diferente da Saga, que quer demonstrar a santidade por meio de
um fato maravilhoso;
( ) Uma das tradições bíblicas que narra a fuga de Israel do Egito;
( ) Termo em alemão que significa, em exegese, “situar o texto em um contexto
histórico social”;
( ) Técnica literária construída a partir de um núcleo central e que usa o recurso do
paralelismo;
( ) Nome de um dos livros deuterocanônicos;
( ) É o último nível de leitura hebraica da Bíblia: Nível do [...] ou nível da Mística;
( ) Personagem bíblico ligado à saga etimológica que explica o nome da Montanha
da Queixada (ou Ramat Leqi);
( ) São, no total, 150 e vários deles têm autoria atribuída a Davi;
( ) Faz parte dos gêneros literários da Bíblia e narra uma história comparativa, de
sentido global;
( ) Tipo de Saga que procura explicar a causa de um fenômeno como, por exemplo,
as estátuas de sal da região do Mar Morto.
( ) Segundo nível de leitura bíblica (Remez, em hebraico), que mostra a verdade
oculta;
( ) Nome, em Português, que é sinônimo das iniciais hebraicas dos 4 níveis de
interpretação bíblica;
( ) Nível de leitura bíblica, ao lado das Parábolas, que mostra o valor simbólico das
letras de um nome (por exemplo: DaViD).
 Na prova global esses conceitos serão cobrados (com outras formas de perguntas).
60
Download

o fenômeno religioso universal e os principais monoteísmos