PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS / PUC MINAS O FENÔMENO RELIGIOSO UNIVERSAL E OS PRINCIPAIS MONOTEÍSMOS PROF. ISMAR DIAS DE MATOS 2012 Plano de Ensino de Cultura Religiosa I - CH: 64 h/aulas Ementa: Com a finalidade de capacitar o(a) aluno(a) a abordar o fenômeno religioso, serão discutidos vários temas com o objetivo de se fazer um estudo analítico e crítico do fenômeno religioso; Orientar a leitura de textos; colocar fundamentos filosóficos para uma reflexão crítica da religião. Objetivos: Capacitar o(a) aluno(a) a fazer uma abordagem do fenômeno religioso; possibilitar uma visão mais integrada do conhecimento para que esta não anule o horizonte religioso do homem e das sociedades em geral. Métodos didáticos: Aulas expositivas e dialogadas com os(as) alunos(as); leituras e debates; trabalhos individuais; recursos multimídia. Unidades de ensino: Unidade I: O homem como ser religioso; A universalidade do problema religioso Unidade II: O Sagrado e o Profano como categorias de interpretação do fenômeno religioso. Unidade III: Tradições religiosas monoteístas: Judaísmo – Cristianismo – Islamismo Unidade IV: A Bíblia: livro de formação da cultura ocidental. Processo de avaliação: 1º trabalho: 15 pontos (ao final do 2º capítulo), antes da 1ª avaliação; 1ª avaliação: 20 pontos (capítulos I e II); 2ª avaliação: 25 pontos (capítulos III, IV e V); 2º trabalho: 10 pontos (ao final do 6º capítulo, antes da prova global); 3ª avaliação: global (30 pontos), conteúdo de toda a matéria lecionada. : haverá, após a prova global, uma prova repositiva para aqueles(as) que perderam uma das avaliações; a prova especial será aplicada após a prova repositiva. Bibliografia básica (além da que consta após cada capítulo): BARBOUT, Sciolom. Judaísmo. São Paulo: Globo, 2002. ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Trad. de Rogério Fernandes. Lisboa: Edição Livros do Brasil, 2002 (Coleção Vida e Cultura). GAER, Joseph. A sabedoria das grandes religiões. São Paulo: Cultrix, 1965. JORGE, J. Simões. Cultura religiosa: o homem e o fenômeno religioso. São Paulo: Loyola, 1994. LO JACOMO, Claudio. Islamismo. Trad. de Ana Maria Quirino. São Paulo: Globo, 2002. MARTINI, Luciano. Cristianismo. São Paulo: Globo, 2002. WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 1999 ZILLES, Urbano. Filosofia da religião. São Paulo: Paulinas, 1991 (Coleção Filosofia) 2 JUSTIFICATIVA Por que estudar Cultura Religiosa na Universidade? A primeira resposta poderia ser bem simples e direta: “porque estamos em uma Universidade Católica”; e mais – numa Pontifícia Universidade, ligada ao Vaticano e ao Papa. Fazem parte do currículo de todos os cursos das Pontifícias Universidades as disciplinas Cultura Religiosa e Filosofia; dos alunos de Agronomia aos de Zoologia, todos estudam as duas disciplinas citadas. Uma segunda resposta está ligada ao objetivo das PUC’s: oferecer conteúdos humanísticos aos graduandos de todas as áreas; Cultura Religiosa e Filosofia, somadas aos conteúdos específicos, darão ao egresso um conteúdo global da ciência e do ser humano, principal finalidade de todo conhecimento científico. As disciplinas em questão têm a função de lançar as bases lógicas e éticas de todas as outras disciplinas e garantir a formação de profissionais mais humanos e menos tecnicistas: condição fundamental para a humanização das ciências. Quando falamos em Universidade não podemos pensar os cursos isoladamente, como se fizéssemos uma diferenciação cartesiana das ciências. Acreditamos que deve existir algo em comum para unificar e, ao mesmo tempo, delimitar o campo epistemológico dos cursos. Tal papel cabe às disciplinas Cultura Religiosa e Filosofia, que apresentam uma Ética de cunho humanista e favorecem a valorização do ser humano, apresentando-o de forma integral e não em partes, como cliente, empresário, agente etc. Em nossas aulas não estudamos Religião de forma doutrinária. Essa atitude fica para a catequese de cada Igreja, em seus locais próprios. Não desejamos, também, formar prosélitos ou seguidores. Queremos abrir espaço para apresentar a Religião como um constructo humano e, portanto, tão necessário aos humanos como o Direito ou a Matemática. Nas aulas de Cultura Religiosa não abordamos os temas a partir da fé, mas a partir de sua existência como fenômeno, como acontecimento. Todas as religiões merecem o mesmo respeito, pois representam as razões fundamentais para a existência de seus seguidores. Queremos, com essa atitude, contribuir na formação de um mundo mais tolerante e respeitoso em relação às diversas pluralidades religiosas, filosóficas etc. Nossas aulas são pautadas pelo respeito reverente a todas as religiões e credos, como também respeitamos aqueles que não apresentam crença alguma. Há lugar em nossas aulas, portanto, para crentes e não crentes, pois o que nos interessa, sobremaneira, é o ser humano em sua dimensão integral. Ao contrário do que Karl Marx previa, as Religiões estão em fase de crescimento. Os templos se multiplicam, as lojas de artigos religiosos estão em toda parte. A Religão está em toda parte: na música, nas artes, no vestuário, na culinária, nos comportamentos etc, motivos mais do que suficientes para estudarmos esse fenômeno essencialmente humano. Façamos de nossas aulas momentos de crescimento humano. Bons estudos. Prof. Ismar Dias de Matos Bacharel em Teologia e Mestre em Filosofia [email protected] 3 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012 Capítulo I 1 A RELIGIÃO COMO FENÔMENO UNIVERSAL A religião é um fenômeno que está presente em todos os quadrantes da terra, em todas as culturas e em todas as épocas. Existem algumas formas religiosas simples e outras complexas, mas tais formas levam um elemento comum: o reconhecimento de um poder além do homem, um poder sobrenatural do qual o homem é dependente, com algumas exceções: não há um Deus salvador no Budismo. Buda não é Deus, mas um Iluminado que encontrou o caminho para a Iluminação e o quis transmitir a outros. O Budismo, portanto, é uma religião sem Deus. É uma espécie de caminho de autossalvação. Basicamente, os seres humanos de todas as épocas sempre se fizeram perguntas e as diferentes religiões buscam as respostas para estas perguntas básicas: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Qual é o sentido de nossa vida? O que nos é permitido esperar? Como um fenômeno humano, a religião é estudada pela Teologia, pela Filosofia, pela História, pela Psicologia, pela Fenomenologia, pela Psicanálise, pela Sociologia etc. Cada ciência aborda o fenômeno religioso por um aspecto diferente, mas é impossível ignorar a religião se se quer obter uma visão de conjunto do ser humano. Não se sabe com exatidão quando o pensamento religioso surgiu na espécie humana. “Funerais em que os mortos eram sepultados com flores ou amuletos são indícios claros de manifestações religiosas, talvez as mais antigas na história da humanidade”, diz o historiador suíço Walter Burkert, da Universidade de Zurique, autor do livro A criação do sagrado. Os sepultamentos mais antigos de que se tem notícia datam de 30 mil anos atrás. Fala-se de descobertas arqueológicas de 60 mil anos atrás que mostram sinais de sepultamentos com indícios de ritos religiosos. Escreva o nome da religião à qual pertence cada símbolo1: 2 O SER HUMANO COMO HOMO RELIGIOSUS As diversas ciências tratam o ser humano como homo sapiens, homo ludens, homo faber, homo politicus etc, mas ele pode ser considerado também um ser religioso: homo religiosus. Vejamos: “O homem é animal religioso. A prova é que não cessou de inventar deuses. Mas se trata de 1 Tente dar as respostas. Caso não consiga, confira o n º 8, p. 10. 4 invenção ou da descoberta de verdade que a ele se impôs no curso dos séculos e em todas as civilizações?” (SAMUEL, 2003, p. 5). Feuerbach (2007) diz que a religião assenta na diferença essencial que existe entre o homem e o animal, pois os animais não têm nenhuma religião. Podemos dizer que duas realidades básicas separam os humanos dos outros animais: a linguagem (enquanto expressão da racionalidade) e a religião (enquanto outra expressão da capacidade simbólica humana). 3 Texto para leitura e comentário: Deus existe? (Marcelo Coelho) Quando a pergunta é simples demais, o santo desconfia. A editora Planeta lançou recentemente um livro fascinante e curto (125 páginas), que, sob o título "Deus Existe?", transcreve um diálogo público entre um filósofo ateu, Paolo Flores d'Arcais, e ninguém menos do que o cardeal alemão Joseph Ratzinger. O encontro se deu num teatro, em Roma, em fevereiro de 2000 - cinco anos antes, portanto, de Ratzinger tornar-se Bento 16. Apesar do título do livro, a questão sobre a existência de Deus não se coloca de forma direta - e talvez seja melhor assim. O debate entre um ateu e um cardeal pode ser bem mais complexo do que sugere a pergunta. Uma formulação muito sumária, do tipo "Deus existe?", pode provocar respostas simples demais: "Sim", "não sei" ou "não". Pessoalmente, desde criança marco a terceira alternativa. Mas até mesmo uma opção resoluta pelo ateísmo pode envolver ambiguidades. Posso dizer, por exemplo: "Não acredito que Deus exista". Ou: "Acredito que Deus não exista". Posso, porém, observar apenas: "Quem diz que Deus existe não tem prova nenhuma do que está dizendo", e acrescentar: "Só acredito no que pode ser provado". E, nesse momento, o bom Ratzinger já estará esfregando as mãos de contentamento apostólico. Pois é inegável que acredito em muitas coisas que não sei bem como poderiam ser provadas cientificamente. Acredito que exista uma coisa chamada beleza, por exemplo. Se me pedirem para apontá-la, posso citar uma série de exemplos, uma série de manifestações da beleza no cotidiano; o crente pode apontar outras tantas manifestações de Deus, e ninguém provou nada com isso. No seu diálogo com Paolo Flores d'Arcais, entretanto, Ratzinger dá um passo a mais. Certo, diz o cardeal, a existência de Deus não pode ser provada pelo "método positivo", isto é, científico. Mesmo sem ter provas, entretanto, a fé em Deus não é puramente irracional. Ao contrário, a razão está do lado dos católicos nesse caso. Seu interlocutor resiste bravamente a esse golpe. Tolerante e ateu, Flores d'Arcais aceita que alguém simplesmente diga, como o velho teólogo Tertuliano, "acredito porque é absurdo". Ou que lembre Kierkegaard: "A fé começa justamente onde termina o pensamento". Mas Ratzinger não quer limitar a crença em Deus aos porões sentimentais da alma. A tradição católica, diz ele, foi uma espécie de "pré-Iluminismo" contra as irracionalidades pagãs. E a ideia de um Deus criador do céu e da Terra, prossegue, é indispensável para qualquer pessoa que preze a razão. Sem um logos, um verbo que está na origem de tudo, teríamos de admitir que o mundo, a natureza, o destino humano, não passa de fruto do acaso, não tem sentido nenhum, é puramente absurdo. Como então preservar qualquer "racionalidade" com esses pressupostos? Ratzinger formula o problema com mais eloquência: "Pode a razão renunciar à prioridade do racional sobre o irracional, à existência original do logos sem abolir a si mesma?" Meu ateísmo - e meu racionalismo - respondem que sim. A medicina sabe perfeitamente que, com todos os seus avanços, não elimina o fato de que todos irão morrer. Reconhecer a "prioridade" da morte não faz com que a medicina esteja pronta a "abolir-se a si mesma"... Flores d'Arcais não sai vitorioso, entretanto, do debate com Joseph Ratzinger. Quando se trata de defender princípios universais e inalienáveis, como os direitos humanos, nosso ateu de plantão cai na armadilha do relativismo: muitas sociedades admitiram o homicídio, a antropofagia... Ratzinger insiste, com razão, que se muitas sociedades fizeram coisas detestáveis, isso não torna casuais, contingentes, os direitos humanos. D'Arcais também não gostaria que isso acontecesse, 5 mas se confunde no debate. O problema, a meu ver, teria de ser definido de outra forma. Se existem direitos universais, e se um termo como "dignidade humana" precisa ter sentido, a questão é saber como lhes dar fundamento. Mas esse fundamento, que deve ser a-histórico, absoluto, transcendente, não precisa fazer apelo ao "sobrenatural" - e negar o sobrenatural é algo que, pelo que li, não está nas cogitações de Ratzinger, com tudo o que concede às conquistas do Iluminismo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1301201016.htm Acesso: 13.01.2010 4 DEFINIÇÕES DE RELIGIÃO E FORMAS RELIGIOSAS Religião é um vínculo estabelecido entre o mundo sagrado e o mundo profano, entre o ser humano e um ser divino. Há várias etimologias de religião, como as que apresentamos resumidamente. O filósofo romano Marco Túlio Cícero (106 aC – 43 aC) afirma que a palavra vem de RELEGERE (RE-LER): considerar o que pertence ao culto divino, ler de novo, ou então reunir. O escritor norte-africano Lúcio Célio F. Lactâncio (240-320 dC) define religião como RELIGARE (re-ligar): ligar o homem de novo a Deus. Se se fala em religar é porque está implícita uma ideia de ruptura. No religamento, o homem vai a Deus e Deus vai ao homem. Uma terceira etimologia é apresentada pelo filósofo e teólogo Santo Agostinho (354-430 dC), que fala em RE-ELIGERE (re-eleger): tornar a escolher Deus, que foi perdido pelo pecado. O filósofo e teólogo italiano Batista Mondin define religião como “um conjunto de conhecimentos, de ações e de estruturas com que o homem exprime reconhecimento, dependência, veneração em relação ao Sagrado” (MONDIN, 1986, p. 242). O escritor e filósofo Rubem Alves afirma que “a linguagem científica pretende descrever o mundo. A linguagem religiosa exprime como o homem vive, em relação ao mundo. A religião não é uma hipótese acerca da questão filosófica da existência dos deuses. O ego não se propõe tal questão, no início de suas operações. O que importa é a ‘paixão infinita’... Separemos, portanto, de uma vez por todas, a questão da existência de Deus – que é uma questão filosófica – da experiência religiosa. A primeira é uma hipótese acerca do objeto. A outra é uma paixão subjetiva. (ALVES, 1984, p. 53-54). Também podemos falar sobre religião sob dois pontos de vista básicos: um objetivo e outro subjetivo. Em sentido real objetivo: religião é o conjunto de crenças, leis e ritos que visam a um poder que o homem, atualmente, considera supremo, do qual se julga dependente, e com o qual pode entrar em relação pessoal e do qual pode obter favores. Em sentido real subjetivo: religião é o reconhecimento pelo homem de sua dependência de um ser supremo pessoal, pela aceitação de várias crenças e observância de várias leis e ritos atinentes a este ser. 5 SETE FORMAS RELIGIOSAS BÁSICAS 1 – Teísmo: o sujeito dos atributos divinos é distinto dos outros seres e pertence à ordem transcendental. Esse ser é o criador do mundo e sua causa vivificante. Opõe-se ao Ateísmo, que afirma que Deus não existe. O Teísmo pode-se dividir em Monoteísmo (há um só Deus2), Politeísmo (há vários deuses) e Henoteísmo (que propõe a veneração de um Deus supremo, mas não nega a existência de outros deuses. Era a situação vivida na época de Abraão, que não quis um deus entre os deuses, mas escolheu um Deus Único). O Hinduísmo é considerado um tipo de Politeísmo. Abaixo, os seus deuses mais importantes: Brahma, Vishnu e Shiva3. Existem mais de 30 mil deuses no Hinduísmo4. 2 Pela ordem histórica, os principais monoteísmos são: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Por que vemos os nomes de deuses empregados em nomes de bebidas alcoólicas? Brahma, Chivas? Que relação podemos fazer entre dois seres tão diferentes? As Mitologias grega e latina poderão nos ajudar? 3 6 Brahma Vishnu Shiva 2 – Deísmo: o sujeito dos atributos divinos é um Deus sem atributos morais e intelectuais, é um Deus que não intervém na criação. Não há revelação sobrenatural. Na Maçonaria, embora não seja considerada uma religião, há uma espécie de Deísmo quando se fala do Grande Arquiteto do Universo (GADU). Eis o principal e mais popular símbolo maçônico: 3 – Panteísmo: tudo é Deus – o universo, a natureza e Deus são idênticos. Não há nenhuma diferença quanto ao ser. 4 – Animismo: é mais uma crença, uma mentalidade, uma ideia, do que uma doutrina elaborada. Enxerga, por trás dos objetos sensíveis, uma vida-alma, psique ou espírito capaz de se relacionar diretamente, em certos casos e sob certas condições, com o ser humano. Não é, propriamente, uma religião, mas uma tentativa de explicar os fenômenos da natureza. Se levar o homem a uma atitude de adoração ou culto será considerada uma religião. 5 – Magismo: crença numa determinada força ou poder ocultos, mas impessoal, que excede às forças naturais; crença de que certos homens podem se apropriar de forças especiais e, assim, realizar efeitos extraordinários. Divide-se, dentre outras formas, em Magia branca (aquela que procura obter o bem para as pessoas) e Magia negra (aquela usada para prejudicar as pessoas). 6 – Manismo: culto às almas dos defuntos, como oferecimento de sacrifícios. Os deuses nada mais são do que homens divinizados. Fala-se também de Euhemerismo (Euhemero, filósofo grego). 7 – Totemismo: Crê-se que há um parentesco entre um clã e uma espécie animal e vegetal. Julgam-se, por exemplo, descendentes da união de um urso e uma mulher. Então, o nome de seu totem vai ser urso, que torna-se um animal sagrado, e não se pode matá-lo, a não ser em 4 À semelhança do Hinduísmo com seus milhares de deuses, também o Candomblé possui seus “incontáveis” Orixás: Exu, Ogum, Oxum, Oxóssi etc. 7 condições especiais, em que se come a sua carne e se bebe o seu sangue para ganhar a força, a inteligência ou a agilidade daquele animal (Totem)5. Nos brasões e nas Armas temos exemplos de Totem (Família Matos: dois leões e um pinheiro) 6 CINCO ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA RELIGIÃO 1 – DOUTRINA (crença, dogma): toda religião tem sua doutrina, que fala sobre a origem de tudo: sentido da vida, da dor, da matéria, do além etc. Para as religiões primitivas (animismo, fetichismo, politeísmo, etc.) a fonte da tradição repousa nos antepassados. Para as religiões sapienciais (hinduísmo, budismo, jainismo etc.) e para as atitudes filosóficas (yoga, seicho-no-iê, teosofia etc.), a fonte é a palavra de sábios iluminados (hinduísmo, budismo, xintoísmo, confucionismo, taoísmo). Para as religiões proféticas (judaísmo, cristianismo, islamismo), a fonte é a palavra de Deus revelada pelos profetas. 2 – RITOS (cerimônias): o homem não vive sem símbolos, sem ritos, sem estruturas visíveis. Os ritos são gestos determinados, palavras determinadas e emoções determinadas que adquirem o poder de unir os seres humanos e a divindade de uma determinada comunidade religiosa. O rito é uma repetição de determinado acontecimento significativo para a comunidade de fé, é a renovação de determinado ato, é renovação da memória. Também existem ritos meramente civis. 3 – ÉTICA (leis): cada religião traz consigo as consequências de sua doutrina, ensinando o que é certo e o que é errado, dentro de sua cosmovisão. Os preceitos mais importantes são: lei da natureza, lei do amor e a lei do bom senso. 4 – COMUNIDADE: toda religião tende a formar uma comunidade, tende a manifestar sua fé junto de outros. Não se trata de um sentimento individualista. 5 – ATITUDE EU – TU: é a relação da pessoa humana com um diferente, um Tu mais elevado, superior. Toda religião6, antes de possuir ritos, doutrinas, é uma relação pessoal com Deus. 5 O poema “I-JUCA PIRAMA”, de Gonçalves Dias, fala do ritual de se comer a carne de um forte para adquirir a força dele. O título, em tupi, significa “aquele que deve morrer”. 6 Buda não é Deus, mas um Iluminado que encontrou o caminho para a Iluminação e o quis transmitir a outros. O Budismo, portanto, é uma religião sem Deus. É uma espécie de caminho de autossalvação. 8 7 OS FUNDAMENTOS DO FENÔMENO RELIGIOSO UNIVERSAL Estudiosos de diversas tendências tentaram explicar o fenômeno religioso. Aqui são apresentadas explicações que examinam as estruturas externas e as estruturas internas do homem em sua relação com a religião. 1 – Fatores extrínsecos: De acordo com os filósofos positivistas e enciclopedistas franceses, a religião tem suas raízes no obscurantismo dos padres que a inventaram. A ambição de uma casta sacerdotal criou, fraudulentamente ou não, dogmas ininteligíveis e práticas supersticiosas. De acordo com o marxismo, a religião é uma superestrutura do poder econômico. Existe o capital e este precisa se defender: para isso precisa do exército, da polícia e também da religião. A religião diz que é preciso obedecer ao Estado, que Deus vai recompensar; nada de luta de classes. “A religião é o ópio do povo”, diz Karl Marx (1818-1883), em sua “Crítica da filosofia do direito de Hegel”, escrita em1843. O sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) afirma que o homem tem um sentimento de profunda dependência em relação à sociedade, que lhe dá tudo: cultura, civilização etc. Cônscio de sua dependência, o homem começa a aderir à sociedade, fazendo dela uma divindade, projetando-se para o além, numa divindade. Os tradicionalistas dizem que o fenômeno religioso universal explica-se por uma revelação positiva da parte de Deus 2 – Fatores intrínsecos: Para o filósofo positivista francês Augusto Comte (1798-1857), pai da Sociologia, a religião provém do medo, da ignorância, ou, então, do entusiasmo pelos fenômenos da natureza. Há, segundo Comte, três estágios na evolução histórica da religião: TEOLÓGICO: em que os homens procuram explicar tudo com os deuses, também as leis da natureza; METAFÍSICO: em que os fenômenos da natureza são explicados com entes ou conceitos metafísicos; POSITIVO: em que os fenômenos são estudados cientificamente e explicados por meios naturais. Assim, o primeiro estágio da humanidade foi o religioso; o segundo, o filosófico; e o terceiro é o da ciência positiva. O Positivismo, cujo lema é “Ordem e Progresso”, exerceu forte influência na vida brasileira. Eram positivistas os principais idealizadores e proclamadores da República. Abaixo, imagem da Igreja Positivista do Brasil, fundada por Miguel de Lemos e Teixeira Mendes7. O templo está situado na cidade do Rio de Janeiro, na Rua Benjamim Constant nº 74. 7 Além desses, citamos também outros positivistas: Luís Pereira Barreto, Alberto Sales e Benjamin Constant. 9 A religião provém da fantasia viva e irrefletida dos primitivos, ou do apetite ilusório da felicidade completa, da demasia dos afetos (John Stuart Mill [1806-1873], Claude LéviStrauss [1908-2009] etc) ou de uma perturbação nervosa, de um estado psicológico doentio da psique humana (Césare Lombroso [1835-1909], Pierre-Marie F. Janet [1859-1947] etc). Para o mitólogo alemão Friedrich Max Müller (1823-1900), a religião provém da percepção imediata do divino. O homem perceberia o divino por seus sentidos, ou existiria no homem uma faculdade especial, distinta das faculdades ordinárias da psique humana, pela qual o homem tenderia ao divino, ao numinoso; percebê-lo-ia como tendência legítima da natureza e, assim, espontaneamente, seria levado a fazer atos religiosos. Para o Pai da Psicanálise, o médico e psiquiatra Sigmund Freud (1856-1939), a religião provém de uma neurose universal, uma neurose universal de culpa. Um patriarca tinha diversas mulheres e muitos filhos. Como os filhos não tinham participação nas mulheres, eles se uniram e repartiram entre si as mulheres. Mas logo depois o sentimento de culpa: matamos o Pai!!! Esse sentimento não os queria largar. Procuraram tranquilidade para sua consciência oferecendo sacrifícios para aplacar a ira do Pai. É preciso curar o homem dessa neurose de culpa, libertando o homem da necessidade da religião. O psiquiatra e psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) afirma que a psique humana, na sua camada mais profunda, é religiosa, crística e teísta. A inspiração e a revelação são o irromper de conteúdo do inconsciente individual e coletivo para o consciente. O homem tem dentro de si uma força que o impele para Deus. Quando o homem recalca essa energia durante um tempo prolongado, ele se torna neurótico. O ateu é aquele que não permite que o seu ser religioso aflore à consciência. Como se pode ver, as opiniões de Freud e Jung são antitéticas. Enquanto o primeiro afirma ser a neurose a causa da religião, o segundo afirma que a falta da vivência religiosa é que causa a neurose. Reveja a posição de cada um. 8 Explicações da primeira ilustração, página 04. 1) A Cruz Cristã é um símbolo religioso do cristianismo. Este símbolo de dor era usado como referência de escravos romanos e para os criminosos da Roma antiga. As palavras cruz e crucifixo, de origem latina, significam “torturar”. Mais informações no Site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_crist%C3%A3 2) Lua Crescente e Estrela: Símbolos que representam o Islamismo, mas representam tradicionalmente a identidade turca. Em sua forma moderna, a estrela possui, normalmente, cinco pontas. Veja: http://es.wikipedia.org/wiki/Creciente_y_estrella 10 3) Estrela de Davi, conhecida também como escudo supremo do Rei Davi, é um símbolo em forma de estrela formada por dois triângulos sobrepostos, iguais, tendo um a ponta para cima e outro para baixo; utilizado pelo Judaísmo e por seus adeptos. Outro nome dado a este símbolo é "Selo de Salomão”. Veja mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrela_de_Davi 4) O Om é o mantra mais importante do Hinduísmo e outras religiões nascidas do Hinduísmo. Diz-se que ele contém o conhecimento dos Vedas e é considerado o corpo sonoro do Absoluto, Brahma. O Om é o som do infinito e a semente que "fecunda" os outros mantras. É o simbolo da Yoga. Veja o Site http://pt.wikipedia.org/wiki/Om 5) Yin Yang, na Filosofia Chinesa, representa o príncipio da dualidade e tem sua origem no Taoísmo. Em chinês este conhecido símbolo representa a integração e é denominado como "Diagrama do Tai Chi" (Taiji Tu). Para mais informações, veja o Site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Yin_Yang_(Filosofia) 6) O Khanda é o símbolo mais importante da religião Sikh. A sua importância no Sikhismo pode ser comparada à da Estrela de Davi, no Judaísmo, e à Cruz, no Cristianismo. A bandeira sagrada do Sikhismo, conhecida como Nisham Sahib, erguida em todos os templos sikhs, inclui o Khanda, que é o resultado da junção de quatro armas: ao centro, uma espada de dois gumes chamada Khanda, da qual deriva o nome de todo o símbolo. Representa o poder criativo de Deus que controla o universo. O gume esquerdo representa a justiça divina que castiga os opressores e o direito a liberdade e a autoridade inspirada em valores morais e espirituais; em torno do Khanda encontra-se uma arma denominada Chakkar (ou Chakra), usada por quase todos os guerreiros sikhs do século XVIII. Apresenta uma forma circular que simboliza a eternidade e a perfeição de Deus; em ambos os lados, duas espadas de forma curva chamadas Kirpans. A espada que se encontra no lado esquerdo representa o poder espiritual (piri) e a do lado direito o poder temporal (miri). A atual bandeira do Irã apresenta um símbolo parecido ao Khanda que não se encontra de qualquer maneira relacionado com o Sikhismo. Veja: http://pt.wikipedia.org/wiki/Khanda 7) Cruz da Ordem de Cristo: foi utilizada pelos navegadores portugueses durante a expansão dos séculos XV e XVI. Causa confusão com a Cruz Patea (também chamada Cruz de Malta) inspirada na cruz usada pelos cavaleiros Templários. Veja mais informações no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_P%C3%A1tea 8) Mãe tríplice (Senhora do Destino) é a deusa mãe dos celtas, é representada como três mulheres, cada uma segurando um objecto diferente, como um cão, um peixe e um cesto. Três era considerado um número sagrado para os celtas, daí as figuras triplas ou deuses de três cabeças. A Lua, a Senhora do Destino, é a grande trindade feminina de Donzela, Mãe e Anciã. Os rituais druídicos são sempre realizados em conjunção com as fases da Lua, e as Druidesas (sacerdotisas) alinham o trabalho mágico com os ciclos menstruais. A Senhora do Destino é consagrada ao dia 6 de janeiro. O símbolo Mãe tríplice é também conhecido como “Diana de Poitiers” (1499-1566) que foi uma nobre francesa e viveu nas cortes dos reis Francisco I e Henrique II. Ver mais detalhes em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Diana_de_Poitiers. Maiores informações no Site: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3e_tr%C3%ADplice 9) Ayyavazhi é uma religião surgida na Índia em meados do século XIX. Ayyavazhi aplica uma fórmula comum na criação de Universo e do ser humano. Ayyavazhi advoga Ayya Vaikundar como sendo a única divindade existente. Para maiores informações: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ayyavazhi 11 9 Textos para aprofundamento: ALVES, Rubem. O enigma da religião. São Paulo: Papirus, 1984, p. 53-54 FEUERBACH, Ludwig. A essência do cristianismo. Petrópolis: Vozes, 2007. JORGE, Pe. J. Simões. Cultura religiosa: o homem e o fenômeno religioso. 2 ed. São Paulo: Loyola, 1998. MONDIN, Battista. O homem, que é ele? São Paulo: Paulinas, 1986. SAMUEL, Albert. As religiões hoje. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2003. Walter Burkert. A criação do sagrado. Lisboa: Edições 70, 2001. WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo. Petrópolis: Vozes, 1996. ZILLES, Urbano. Filosofia da religião. São Paulo: Paulinas, 1991 (Coleção Filosofia). Outros sites consultados: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Religious_symbols.svg http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_s%C3%ADmbolos_religiosos 12 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012 Capítulo II 1 O SAGRADO E O PROFANO – HOMOGENEIDADE E RUPTURAS Há vários modos de se ver o mundo. O ato de ver ou perceber o mundo depende do interesse e da cultura de cada um. O olhar humano é seletivo. Dentre os diversos olhares, pode-se escolher olhar o mundo a partir do binômio SAGRADO e PROFANO. O sagrado é uma experiência da presença de uma potência ou de uma força sobrenatural que habita algum ser – planta, animal, humano, coisas etc. É a experiência simbólica da diferença entre os seres. Sagrado (Santo, em hebraico, é KADOSH) é aquilo que foi “santificado” pelo Ser Divino, que foi marcado com o selo divino. Não é o homem que determina o sagrado, mas essa determinação é feita pelo próprio ser divino. Em contraposição ao Sagrado está o Profano, que é tudo aquilo que rodeia o sagrado. Profano é todo o espaço ao redor do sagrado. Os seres e objetos que não foram sacralizadas pela divindade são considerados profanos. Ser profano não significa algo negativo, como o senso comum pensa. Para o senso comum “sagrado” é algo do bem e “profano” é algo do mal. Isso, para a Ciência da Religião, não é verdadeiro. O sagrado se manifesta ao ser humano, é algo totalmente diferente do profano. O termo para designar essa manifestação é Hierofania: que é aquilo que constitui o sagrado. Essa manifestação, normalmente, é dada pelo fogo ou pela luz. Nas diversas religiões, a luz é uma representação constante do ser divino. Após uma hierofania, isto é, após uma manifestação divina, um lugar não é mais um simples pedaço de chão, mas é um lugar sagrado; uma árvore não é apenas uma árvore, mas é um símbolo sagrado; uma pedra não é mais uma pedra; torna-se algo além da materialidade. Pela hierofania o Cosmos torna-se sagrado. Veja-se o exemplo tirado da Bíblia, quando Javé (Deus) diz a Moisés, quando este vê a sarça ardendo, queimando-se sem se consumir: Tire as sandálias8 dos pés, porque o lugar onde você está pisando é um lugar sagrado (Êxodo 3,5). 8 Os muçulmanos não entram calçados na Mesquita e, além de tirar os calçados, lavam os pés ou passam neles uma areia fina, em sinal de purificação. O sagrado e o profano não se misturam. 13 Para o HOMO RELIGIOSUS a sacralidade introduz uma ruptura no mundo. O espaço que habitamos não é mais homogêneo, mas cheio de rupturas. O espaço dessacralizado, isto é, homogêneo, neutro e mensurável é o espaço profano. Esse espaço homogêneo é uma característica da modernidade e dos tempos atuais. A não homogeneidade do espaço é uma experiência primordial, algo como uma “fundação do mundo”. Pode-se dizer que a hierofania funda ontologicamente, funda substancialmente o mundo, isto é, lhe dá um outro sentido, uma outra forma. As pessoas religiosas e as pessoas secularizadas não olham o mundo da mesma forma. A partir da manifestação divina (hierofania) fixa-se um centro para o mundo. E todo o universo origina-se a partir daquele centro dado. É como se o Homo Religiosus dissesse: AQUI COMEÇA O MUNDO, ou: AQUI É O UMBIGO DO MUNDO. Para os antigos judeus, Jerusalém era o “umbigo do mundo”. E o Templo estava construído sobre uma pedra angular, ou seja, o umbigo do mundo. Do mesmo modo podemos dizer que Meca é o umbigo do mundo para os muçulmanos (ou islâmicos); Jerusalém também é o umbigo do mundo para os cristãos, pois foi ali que Jesus, o Cristo e Senhor, viveu e ressuscitou. 2 TOMADA DE POSSE DE UM LUGAR A Bíblia relata que os hebreus/judeus construíam altares para indicar a posse e a bênção de Deus naquele determinado lugar sagrado. Os exemplos são vários: Gênesis: 8,20 (Noé, ao sair da Arca), 13,18 (Abraão em Mambré); 26,25 (Jacó em Bersabeia); Josué no Monte Elbal (Js 8,30) e muitos outros. Um altar é o lugar onde se repete um sacrifício religioso, lugar de recriação da bênção9 que se crê possível. Modernamente, a fixação de uma bandeira numa terra conquistada significa a tomada de posse. Aquele que figura na bandeira é o dono do novo lugar. Assim aconteceu com bandeira da Ordem de Cristo fincada pelos portugueses quando aportaram no Brasil, em 1500. A Ilha de Vera Cruz, mais tarde Terra de Santa Cruz, estava tomada em nome de Cristo e da Coroa de Portugal. Os norte-americanos, em 1969, quando chegaram à Lua, lá fincaram a bandeira dos Estados Unidos. 9 O sentido da recriação pode ser compreendido nas palavras do Apóstolo Paulo: “Porque pelo Cristo as coisas velhas passaram; eis que todas as coisas se tornaram novas” (2 Cor 5, 17). 14 3 PERCEPÇÃO DO MISTÉRIO Muitas vezes, o ser humano se sente pequeno diante das manifestações da Natureza, diante dos trovões, raios, das imensas montanhas, ou ao contemplar a abóbada celeste, o mar, os ventos, as tempestades etc. O ser humano, diante do grande mistério (MYSTERIUM TREMENDUM), diante de tudo aquilo que o fascina (MYSTERIUM FASCINANS), sente-se “cinza e pó” , como diz o escritor no Livro do Gênesis (Gn 18, 27). O universo macroscópico apresenta-se como um campo fascinante para os humanos, os cientistas e pesquisadores. Poderíamos dizer que também o universo microscópico representa a mesma fascinação. O infinitamente grande e o infinitamente pequeno, eis os dois campos da fascinação humana! 4 LUGARES SAGRADOS As montanhas são consideradas lugares mais próximos da divindade, lugares mais próximos dos astros que têm movimentos perfeitos e seguem padrões de comportamento perfeitos. O alto das montanhas é o lugar onde se pode fazer a ligação entre o céu e a terra. O alto é o lugar da morada dos deuses. Exemplos de montes sagrados: Monte Meru (Índia), Monte Haraberezaiti (Irã), Monte Garizin e Monte Sinai (Palestina) etc. Para o Islamismo o lugar mais elevado da terra é a KAABA, porque está na posição do centro do céu. Para os cristãos este lugar é o GÓLGOTA, ou Monte Calvário, pois foi ali que Jesus, o Salvador, realizou seu ato máximo de amor pela humanidade. A antiga capital do SOBERANO CHINÊS era também o centro do mundo. Ali, no solstício de verão, ao meio dia, o Gnomo não devia ter sombra. Em JERUSALÉM, o rochedo sobre o qual o templo estava construído era o centro da terra. SHIZ, considerada a JERUSALÉM DOS IRANIANOS, encontra-se também no centro do mundo. São, portanto, vários os centros do mundo, dependendo, é claro, da cultura que escolhe cada um. 5 CONSTRUÇÃO DE UMA IGREJA OU DE UMA CIDADE Antigamente a escolha do lugar para a construção de uma igreja não era motivada aleatoriamente. A escolha era fruto de alguma espécie de hierofania. No fundo, foi o próprio Deus que escolheu o lugar do templo. Assim também com a escolha do local das cidades. Os lugares altos, além da escolha de Deus (lugares mais pertos do céu, local onde era mais fácil fazer a ligação entre a terra e o céu etc.) eram também lugares estratégicos: do alto se pode ver mais longe; ver, por exemplo, os inimigos que se aproximam. 6 ALGUNS DETALHES SOBRE AS PARTES DO TEMPLO Um templo, para os crentes, é uma cópia do céu, é o lugar da ressantificação do mundo. Sua construção atende a um pedido / ordem de Deus: “ E Javé falou a Moisés, dizendo... Faze-me um santuário, para que eu possa habitar no meio deles. Farás tudo conforme o modelo da habitação e o modelo da sua mobília que irei te mostrar” (Ex. 25, 8-9). O Rei Davi dá as instruções sobre o templo (1 Cron. 28); a Arca de Noé, lugar de salvação antes do Dilúvio, é construída sob as orientações do próprio Deus. E é Ele que dá as medidas: 300 côvados de comprimento; 50 côvados de largura e 30 côvados de altura. A PORTA DO TEMPLO: que se abre para o interior da igreja e dá a ideia de continuidade. O espaço do mundo (profano) se prolonga dentro do espaço sagrado do templo. 15 LIMIAR OU SOLEIRA: representa a baliza ou fronteira entre os dois espaços (sagrado e profano). Do limiar para dentro há um espaço diferente daquele que fica lá fora. As habitações humanas ganharam também um sentido sagrado, protegido, inclusive pelas constituições laicas. O lar é um espaço inviolável, como diz a nossa Constituição (1988), art. 5º, inciso XI. Deus Jânus, o deus (bifronte) da porta. Regente do 1º mês do ano. O limiar possui guardiões (deuses, espíritos). No limiar das antigas cidades (que eram muradas) eram feitos os julgamentos, ofereciam-se os sacrifícios. INTERIOR: lugar da comunicação com os deuses. Aqui os deuses podem descer a terra e os homens podem subir aos céus. Betel: “Jacó acordou de seu sonho e disse: ‘Na verdade Javé está neste lugar e eu não sabia’. Teve medo e disse. ‘Este lugar é terrível. Não é nada menos que uma Casa de Deus e Porta do Céu’”. Confira em: Gn. 28, 12-19. TEMPLO DE JERUSALÉM: construído em grandes dimensões, tomava conta de quase a metade da cidade. Seu grande Pátio era como se fosse o mar, lugar onde judeus e pagãos poderiam ficar juntos. A Casa Santa era como se fosse a Terra, lugar de judeus e pagãos. Mas dentro do templo havia lugares só para os judeus e havia também o Santo dos Santos, como se fosse o Céu e ali só entrava o Sumo Sacerdote. Quando o Rei da Babilônia, Nabucodonosor, atacou e destruiu o templo dos judeus, certamente queria atacar o que significava a identidade daquele povo, tudo o que o povo possuía de mais sagrado. Em outras palavras: era um ataque ao centro ontológico, ao sagrado, ao ponto vital da cultura judaica. O mesmo se deu quando Vespasiano destruiu o segundo templo, no ano 70 da era comum. Ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001: ponto central do capitalismo ocidental (Osama bin Laden). 7 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMPO Para o Homo Religiosus, o tempo não é apenas uma passagem linear, de um dia após o outro. O tempo é algo mítico e traz em si a possibilidade de um retorno. É um tempo cíclico, reversível, recuperável, repetível. É como se fosse um eterno presente mítico. A liturgia das festas religiosas realiza essa recuperação do passado mítico. Participar dessas festas é como sair do tempo profano, ordinário, e mergulhar no tempo sagrado, extraordinário. O tempo profano, para o Homo Religiosus, pode ser durável, pode ser parado e revivido. TEMPLO / TEMPLUM: LUGAR DO ESPACIAL. TEMPO/ TEMPUS: EXPRESSÃO DO TEMPORAL TEMPLUM & TEMPUS: O CONJUNTO DESTES ELEMENTOS CONSTITUI UMA IMAGEM CIRCULAR ESPÁCIO TEMPORAL. O mito de um tempo que se renova: o ANO NOVO: os seres humanos se livram dos fardos de suas faltas, de seus pecados, de tudo aquilo que “pesava” sobre os ombros no ano anterior. Há possibilidade de um novo começo. Se o tempo fosse contínuo não haveria possibilidade de se aliviar dos fardos. 16 8 A POSSIBILIDADE DA CONTEMPORANEIDADE COM OS DEUSES O Mito conta uma história sagrada que teve lugar no começo do tempo, no início de tudo (AB INITIO, como se diz em Latim). Dizer um Mito é proclamar o que se passou deste a origem (AB ORIGINE), algo que se passou “naquele tempo” (IN ILLO TEMPORE). O Mito funda uma verdade que não pode ser provada ou negada. Trata-se de uma VERDADE APODÍTICA. Os Mitos são contados e recontados porque há necessidade de uma reatualização deles para a religião, para a cultura, a política etc. O profano não tem um modelo exemplar em que se apoiar, como o sagrado possui. 9 TERRA E ÁGUA E RITUAIS DE PASSAGEM Será possível, ainda hoje, encantar-se com a Natureza: Foz do Iguaçu, Florestas, Pico da Bandeira, Himalaia, Oceanos, Vulcões etc? Será possível encontrar nesses seres um certo fascínio? Um dos grandes elementos que fascina os humanos é a terra, sobretudo o mito da TERRAMÃE, que afirma que os seres humanos são paridos da terra. As pessoas são enterradas após a morte, e assim retornam ao seio / ventre da mãe-terra. Há uma valorização poética e sentimental da terra natal, que funciona como um “lugar do retorno”, onde se busca energia, força etc. Essa imagem da terra-mãe está presente no livro sagrado dos muçulmanos, que diz: Vossas mulheres são como campos para vós (Alcorão 2, 225) O poeta HESÍODO, em sua TEOGONIA (nº 126 e ss), nos diz que a Terra (Geia) pariu o Céu (Uranos) que era um ser igual a ela e, mesmo assim, capaz de cobri-la, isto é fecundá-la. O céu abraça sua esposa e a fertiliza com a chuva. A água é também um símbolo bastante usado nos rituais religiosos. Representa, dentre outras, uma fonte de vida. No BATISMO representa um NOVO NASCIMENTO, como a humanidade que renasceu após o DILÚVIO. 10 RITOS DE PASSAGEM Cada etapa da vida humana é marcada por um ritual religioso ou civil. O nascimento é marcado pela escolha do nome, pelo ritual de entrada na comunidade (Batismo, Circuncisão etc). Outros rituais marcam a saída da infância e o ingresso na juventude, assim como a passagem de solteiro para a vida no casamento. Por fim, a morte também é envolta em muitos rituais. Os humanos não morrem como os outros animais. Essa última passagem é marcada, nas diversas religiões, pelas celebrações funerárias, pelo culto que se presta aos mortos e à sua memória. 11 Textos para aprofundamento: CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002. ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Lisboa: Edição Livros do Brasil, 2002. [Coleccão Vida e Cultura] OTTO, Rudolf. O sagrado: os aspectos irracionais na noção do divino e sua relação com o racional. Trad. Walter O. Schlupp. São Leopoldo: Sinodal/EST; Petrópolis: Vozes, 2007. 17 TRABALHO DIRIGIDO EM SALA DE AULA: Valor 15 pontos Ler os 7 tópicos do texto; divisão em grupos para que cada um estude um dos 7 tópicos; apresentação do que foi discutido nos grupos; o texto é também matéria de prova. Título: Sete questões capitais sobre Deus – e seu impacto no mundo e em nossa vida Autor: José Ruy Gandra Fonte: Revista ÉPOCA http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI111720-15228,00-MITOS+E+ATRITOS.html Acesso: 13.02.2010 1. DEUS ESTÁ MORTO Definitivamente, não. Embora muita gente ainda questione a relevância das religiões em sua vida, um novo debate se impôs globalmente: Deus é benéfico para o mundo? Para os novos ateus, como Dawkins, Hitchens, Harris e Dennett, ele não passa de um delírio – e, caso de fato existisse, deveria ser executado em praça pública. Para esse grupo, feroz e irredutível em seus argumentos, a religião é um fenômeno retrógrado e perverso, que conduz à ignorância, a disputas amargas e a guerras. Karen Armstrong se opõe a essa visão. Num extrato de seu livro, publicado na revista Foreign Policy, ela parte para o ataque. “Os novos ateus não estão errados apenas quanto à religião e à política. Eles se enganam quanto à própria natureza humana”, diz. “Enquanto os cães, até onde se sabe, não especulam sobre sua condição canina nem se preocupam com a própria efemeridade, nós, seres humanos, mergulhamos facilmente no desespero caso não encontremos um sentido para nossa vida.” Resumindo: Deus vive. O que não quer dizer que, figuradamente, seu óbito não possa ser atestado. “Mesmo para os que creem, Deus morre”, diz o rabino Nilton Bonder, da Congregação Judaica do Brasil (CJB). “Mas não sua essência. O que falece é nossa percepção sempre inacabada de sua natureza.” Para o xeque Jihad Hassan Hammadeh, um dos líderes da comunidade islâmica brasileira, o que morre são as ideias teológicas formuladas pelos homens. “Mas não ‘Ele’. A crença em Deus é um acessório original de fábrica do ser humano, e não um item opcional. Todos nascem crendo”, diz Jihad. Para as grandes tradições religiosas e a enorme maioria da humanidade, Deus não parece estar indo a parte alguma – uma razão a mais para que encontremos um modo equilibrado e profundo de conviver com sua presença. 2. AS RELIGIÕES ESTÃO RENASCENDO Ao que tudo indica, sim. “Vivemos um período de grandes inquietudes e de uma tremenda ebulição existencial e espiritual nas mais diversas tradições religiosas”, diz o rabino Bonder. “A questão é se essas religiões terão grandeza e flexibilidade para não aplicar velhas respostas a essas novas demandas.” Para o bispo dom Dimas Barbosa, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), esse fenômeno é particularmente intenso nos países do Leste Europeu. “Após décadas de um ateísmo totalitário, seus habitantes estão com a fé à flor da pele.” O lama Padma Samten, diretor do Instituto Caminho do Meio – Centro de Estudos Budistas Bodisatva, de orientação tibetana e sediado em Viamão, no Rio Grande do Sul, endossa essa tese. “As religiões estão renascendo, pois os conhecimentos que brotam da ciência, da economia e da política tornaram-se filosoficamente muito limitados.” Segundo Samten, as religiões, em especial o budismo, hoje oferecem uma compreensão bem mais profunda e refinada da realidade. “Ouso dizer que, hoje, os cientistas tornaram-se religiosos, e os budistas céticos”, diz ele. Em The case for God, Karen Armstrong salienta outro fenômeno interessante. Cada vez mais pessoas acreditam nos ensinamentos e práticas de mais de uma religião. “É inevitável que, hoje, se busque inspiração em mais de uma tradição religiosa”, afirma. “É parte da globalização.” 3. POR QUE UNS CREEM, E OUTROS NÃO? Eis uma questão delicada. De acordo com as principais tradições monoteístas, todas as pessoas nascem crendo. “Até o ateu, mesmo que inconscientemente, busca o criador”, diz o xeque Jihad. “De um modo ou 18 outro, todos correm atrás do prejuízo causado pela ausência de Deus.” O rabino Bonder concorda com a tese com um quase aforismo. “Há os que creem e há os que creem que não creem”, diz. Para o teólogo e pastor Ed René Kivitz, da paulistana Igreja Batista de Água Branca, “o paradoxo da fé é exatamente ela ter como objeto algo que transcende a racionalidade”. A crença, para o lama Samten, é um traço imanente aos seres humanos. “Mesmo que as pessoas não se deem conta, os elementos espirituais estão presentes e atuantes nelas.” Por essa razão, ele argumenta, a prática é tão essencial. Karen segue a mesma trilha. “A religião é uma alquimia ética”, diz ela. “É um exercício de comportamento sistemático que muda as pessoas e seus valores, pois lhes abre as portas para a intimidade com o sagrado.” De acordo com dom Dimas, “as pessoas encontram os sinais da fé em si próprias e tomam suas decisões nesse campo com o coração”. 4. DEUS E POLÍTICA NÃO COMBINAM Depende. Segundo Karen Armstrong, no Ocidente o secularismo foi bem-sucedido e essencial para a consolidação da política e da economia modernas. Mas foi alcançado gradativamente, ao longo de três séculos. Isso permitiu que a nova ideia de governo se cristalizasse em praticamente todos os níveis da sociedade. Em outras partes do mundo, no entanto, a secularização ocorreu com tamanha rapidez – e, muitas vezes, de modo tão agressivo – que gerou ressentimentos em populações ainda fortemente ligadas à religião. Como reação, esses povos passaram a considerar as instituições ocidentais, entre elas a democracia, modelos impróprios para sua vida e seu país. Por ter liderado essa universalização do secularismo com a fúria de um rolo compressor, o Ocidente acabou enfrentando sérios reveses. Quando, apoiado pelos Estados Unidos, os xás do Irã torturaram e exilaram os religiosos que se opunham ao regime, alguns clérigos, como o aiatolá Khomeini, concluíram que a participação dos líderes islâmicos no governo deveria ser rapidamente fortalecida. Os resultados dessa mudança de postura dos muçulmanos xiitas, que por séculos consideraram a distância do poder um princípio sagrado, são bem conhecidos. 5. DEUS SEMEIA A VIOLÊNCIA Ele não. Os homens, sim. “Deus é justo e prega a paz. As pessoas é que interpretam a religião segundo seus interesses e a desvirtuam”, diz o xeque Jihad. “Isso acontece porque Deus deu ao ser humano o livrearbítrio, que tanto pode servir ao bem quanto ao mal.” O católico dom Dimas concorda: “O livre-arbítrio é a glória e, ao mesmo tempo, a miséria dos seres humanos”, diz. “Essa liberdade é minha dignidade; mas, ao mesmo tempo, se mal usada, pode ser meu flagelo.” Karen aborda o tema por uma ótica ligeiramente distinta. Não é Deus ou as religiões que semeiam as atrocidades, mas sim a violência inerente à natureza humana. “Como espécie, sobrevivemos matando outros animais e também nossos semelhantes”, diz. Essa violência está tão impregnada em nossa vida que é relatada, em termos assustadores, em praticamente todos os livros sagrados. Felizmente, segundo Karen, ela é contrabalançada por outros textos que promovem a compaixão e sua regra de ouro: “Trate os outros como você gostaria que tratassem a você mesmo”. Apesar de inúmeras falhas ao longo dos séculos, essa regra se manteve no centro de todas as principais tradições religiosas – e é um sólido ponto de partida para o ecumenismo. 6. DEUS OPRIME AS MULHERES Infelizmente, sim. “É verdade que nenhuma das principais religiões do mundo tem sido boa para elas”, afirma Karen. “Mesmo que, em seus primórdios, algumas tenham se mostrado generosas com as mulheres, como o cristianismo ou o islamismo, em poucas gerações os homens as transformaram num patriarcado.” De acordo com o rabino Bonder, “todo Deus manipulado pelas ideias humanas é nocivo para as minorias, em especial as mulheres; os homens ostentam uma espécie de inveja uterina”. Uma das maiores conquistas da modernidade ocidental foi a emancipação feminina. Mas os fundamentalistas, em sua luta contra o espírito contemporâneo, tendem a enfatizar a igualdade de gêneros como uma ameaça a repelir. Parece ter surtido efeito. Onde quer que governantes modernizadores tenham tentado banir o uso do véu em países islâmicos, as próprias mulheres passaram a adotá-lo em maior número, com um fervor redobrado. Em 1935, os soldados do xá Mohammad Reza Pahlavi dispararam contra centenas de manifestantes desarmados que protestavam contra o uso obrigatório de trajes ocidentais. Desatinos desse tipo acabaram transformando o véu, cujo uso até então não era disseminado, num símbolo da integridade islâmica. Muitos muçulmanos hoje clamam que, enquanto a moda ocidental é sinônimo de riqueza e 19 privilégio, as vestimentas islâmicas enfatizam o igualitarismo contido nos capítulos do Alcorão, conhecidos como suratas. 7. CIÊNCIA E FÉ SÃO EXCLUDENTES Não. Elas apenas operam em dois planos distintos, que, até o século XIX, eram vistos como complementares. “Fé e razão são duas asas pelas quais o entendimento alça voos em busca da verdade”, diz dom Dimas, citando uma passagem da encíclica Fides et ratio (Fé e razão) , de João Paulo II. “A fé sem a ciência é ingênua”, diz. “E a ciência sem a fé, muito fria e desumana.” Enquanto a ciência avança pelas planícies da razão, a fé busca iluminar os desfiladeiros do mito. Karen deixa essa fronteira clara numa das mais belas passagens de seu livro, quando diz que a ciência pode diagnosticar o câncer – e até mesmo curá-lo –, mas não pode ajudar na consternação causada pelo diagnóstico nem ensinar a morrer bem. Para Karen, desvendar a origem do Universo não é papel da religião, e sim da ciência. A missão da religião seria nos ajudar a lidar com os aspectos da vida para os quais raramente estamos preparados, como a morte. “Como espécie, caímos facilmente em desespero se não conseguimos enxergar algum tipo de significado em nossa existência. A religião enfrenta questões que não podem ser resolvidas de uma vez por todas”, escreve Karen. É a essa magnífica e penosa tarefa que chamamos fé. O resto é razão. Rabino Nilton Bonder, da Congregação Judaica do Brasil:“Há os que creem e há os que creem que não creem. Viver é sempre tomar partido, e crer ou não é um ato além da racionalidade”. Dom Dimas Barbosa, secretário-geral da CNBB: “Vivemos um período de grandes inquietudes e de uma tremenda ebulição existencial e espiritual nas mais diversas tradições religiosas”. Ed René Kivitz, pastor da Igreja Batista de Água Branca: “O que gera a violência é o fator Deus, e não ele próprio. Diante do dilema de matar ou morrer, Jesus escolheu deixar-se matar por seus oponentes”. Lama Padma Samten, do Centro de Estudos Budistas Bodisatva: “Os conhecimentos da ciência tornaram-se limitados. Ouso dizer que, hoje, os cientistas tornaram-se religiosos, e os budistas céticos”. Xeque Jihad Hassan, líder da comunidade Islâmica: “Toda pessoa nasce com fé. A crença em Deus é um acessório original de fábrica do ser humano, e não um item opcional. Todos nascem crendo”. De acordo com o útlimo censo/IBGE-2010, temos no Brasil (milhões): www.fgv.br/cps/religiao Católicos Romanos..............................................................130.017.000 Evangélicos de todas as denominações.................................38.380.000 Judeus....................................................................................13.300.000 Muçulmanos.......................................................................... 1.900.000 Sem religião..........................................................................12.760.000 20 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012 O Judaísmo, em de 29/09/2011, entrou no ano 5772 (Rosh Hoshaná). Capítulo III 1. JUDAÍSMO Sinteticamente dizemos que o Judaísmo é uma religião monoteísta e é a religião dos judeus (de Judá, nome adotado a partir da época greco-romana). Os judeus são também conhecidos como hebreus (nome aplicado pelos habitantes de Canaã aos imigrantes chegados da “outra margem10”), e também como israelitas (Israel é o nome de Jacó após sua “luta” com Deus [Gênesis 32,28]). Portanto, quando falamos em judeus, hebreus e israelitas, estamos falando do mesmo povo. A história do Judaísmo começa 3800 nos atrás, quando Taré, um chefe de família da cidade de Ur (ou Haran, segundo outra versão), na Mesopotâmia (hoje, Iraque), foge da cidade e leva consigo o filho Abraão, a mulher deste, Sarah, e o neto Lot. A história de Abraão pode ser lida na Bíblia (1º Testamento), a partir do capítulo 12 do livro do Gênesis. Mais tarde, Abraão (1800 aC) reconhece que só existe um único Deus, e o Todo-Poderoso faz com Abraão uma Aliança. Este Deus será conhecido durante séculos como o “Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. Uma genealogia breve do Judaísmo: Abraão Isaac Jacó11 Abraão com Agar gerou Ismael (que é considerado o Pai dos povos Islâmicos). (Gênesis 25, 12-18) com Sarah gerou Isaac Isaac Jacó com Rebeca gerou Esaú (primogênito que vendeu a primogenitura) e Jacó (Gênesis 25) com Lia gerou: Rubem, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zabulom com Raquel gerou: José ( Gênesis 37-50) e Benjamin com Zelfa, a escrava de Lia: Gad e Aser com Bala, a escrava de Raquel: Dan e Neftali (Gênesis 35, 22-26) Cada filho de Jacó/Israel constituiu o que se chamou de Tribo ou Clã. Fala-se em Tribo de Judá, Tribo de Benjamin etc. Moisés era da Tribo de Levi, o Apóstolo Paulo era da Tribo de Benjamin. A população judaica no Brasil, de acordo com o censo/IBGE-2010, é de 13.300.000 adeptos. 10 Segundo GRUEN (1983), os hebreus eram conhecidos como “hapiru” (ou “habiru”), isto é, “biscateiros”, não possuíam domicílio fixo e trabalhavam também como mercenários, sem pátria etc. 11 Curiosidade: o nome Jacó, em latim, é Jacobus. Em outras línguas: Iago (espanhol), Jacques (francês), James (inglês). Em nossa língua acabou se transformando em Tiago, isto por causa de Santo Iago... Sant’Iago... que acabou virando Santiago... São Tiago. 21 2 Quem fundou o Judaísmo? Embora a tradição informe que Moisés seja o fundador do Judaísmo, hoje não se afirma isso mais. Diz-se atualmente que Moisés falou em nome de Deus (Livro do Êxodo 3, 13-15) e י ְהוָה revelou ao povo o Nome de Deus ( ), YHWH (Iahwé = Javé)12, mas o Judaísmo não foi fundado por Moisés, pois é o resultado de uma Aliança histórica desde os Patriarcas Abraão, Isaac e Jacó13. Moisés deu ao povo a Torá (Lei de Deus) no Monte Sinai (Êxodo 19-20) e estabeleceu com o povo um contrato, uma aliança. Através da Aliança, Javé prometeu a Abraão e aos seus descendentes quatro coisas básicas: - DESCENDÊNCIA (biológica / consciência-fé); - TERRA (País / consciência); - PROTEÇÃO (Político / Rei / Sacerdote) e - HABITAR no meio do povo14. Abaixo, dois símbolos do Judaísmo: o Menorá (candelabro de sete velas) e a Estrela de Davi, presente na bandeira do atual Estado de Israel: . י ְהוָה ֶאחָד, י ְהוָה אֱֹלהֵינוּ: יִשׂ ְָראֵל,שׁמַע ְ Shemáh, Israel, Adonái Elohênu, Adonái Ehád. (Dt 6,4) 1- O monoteísmo judaico está expresso na frase hebraica, acima, cuja pronúncia está transliterada e significa: “Ouve, ó Israel, o Eterno nosso Deus, o Eterno é um só”. י ְהוָה 2- Os judeus, por respeito ao segundo mandamento, não pronunciam o nome de Deus: ( ). Quando o encontram no texto, eles o substituem por ADONAI, que quer dizer SENHOR, o Eterno, o Todo Poderoso etc. Também escrevem “D’us’ 3 O Egito e o Êxodo Nas últimas décadas do século XVIII a.C muitos povos semitas (futuros judeus) migraram para o Egito em busca de uma vida melhor, como os nossos nordestinos migravam para o sudeste e para o sul do Brasil. A “casa de Jacó” também se instalou na região nordeste do Delta do Nilo (Gózen). No séc. XIII alguns grupos de hebreus liderados por Moisés (por volta do ano 1250 a.C) partem de volta à Terra Prometida. Esse Êxodo (saída) é um marco primordial na vida do povo judeu. É recordado na celebração da Páscoa (Pessach: Dt 26, 5-9). A Bíblia, depois de falar da Pessach, fala de uma caminhada de 40 anos pelo deserto em busca da Terra Prometida. Mas a Terra de Canaã possuía vários habitantes: lá moravam os cananeus, os filisteus, jebuseus etc. A conquista, sob a liderança de Josué, sucessor de Moisés, se dá por meio de muitas batalhas, de uma guerra muito longa. A Palestina (nome que significa “terra dos filisteus”) é hoje composta pela Faixa de Gaza e pela Cisjordânia, ambas sob o domínio da chamada Autoridade Palestina. O restante do território é ocupado pelo Estado de Israel. 12 A Bíblia (Ex 3, 14) traduz YHWH por “Eu sou”. Podemos entender também como “Eu sou Aquele que é”, “Eu sou Aquele que faz (a vida) acontecer”, “Eu sou o Único” etc. 13 WILGES (1994, p. 53) fala dos tradicionais; SCHERER (2005, p. 17) fala sobre a nova postura histórico-teológica. 14 Descendência judaica é pelo “jus sanguinis”; o indivíduo é israelita pelo “jus solis”. A terra prometida já era habitada por outros povos. Mudanças na concepção de Messias. Como é que Javé habita no meio de seu povo? 22 A primeira organização política de Israel foi sob o regime de Juízes (uma espécie de governadores ou interventores): Otoniel, Aod, Samgar, Débora, Barac, Gedeão, Abimelec, Tola, Jair, Jefté, Abesã, Elon, Abdon, Sansão. Depois vieram os Reis de Israel: Saul, Davi e Salomão foram os três primeiros. A história do povo de Israel é uma história de lutas contínuas. O povo já viveu sob dominadores diversos. Vejamos: Sob o império dos assírios: 722 aC Cativeiro babilônico: 587-539 aC (deportados para a Babilônia do Rei Nabucodonosor). Ciro, rei da Pérsia, conquista a Babilônia e liberta os judeus. Os libertos irão reconstruir o Templo que foi destruído por Nabucodonosor. (Ver 2 Reis 24 e 25) Sob o império romano: 63 aC. No ano 70, da era comum, os romanos destroem o segundo Templo e dispersam o povo judeu. Do segundo templo restou apenas uma parede, que ficou conhecida como “muro”: o Muro das Lamentações. 2ª Guerra Mundial (1939-1945): Sob o domínio nazista de Adolf Hitler, os judeus tiveram cerca de 6 milhões de pessoas assassinadas nos campos de concentração e de extermínio. É aquilo que os judeus chamam de Shoáh, que significa “catástrofe ou tragédia”, embora o mundo chame de Holocausto (um sacrifício agradável a Deus). O termo Holocausto é ofensivo aos judeus e ao judaísmo. 4 TANAK: a Bíblia do Judaísmo ou Bíblia hebraica A Bíblia hebraica começou a ser escrita por volta do ano 1000 a.C, sobretudo sob o governo do Rei Salomão. Foram quase dez séculos de escritas, reunidas em três categorias de escritos, sendo a segunda subdividida em duas seções. Com as iniciais das três categorias – Torá, Nebiim e Ketubim– forma-se a palavra TaNaK . É com esse nome que os judeus se referem à sua Bíblia. Não se fala em “testamento”. Eis os livros da TaNaK: - Torá ou Lei também chamado - Chumash, isto é "Os cinco" primeiros livros: Gênesis (Bereshit = No princípio), Êxodo (Shemôt = Os nomes), Levítico (Vayikrá = Ele chamou), Números (Bamidbar = No deserto) e Deuteronômio (Devarim = As palavras) - Nebiim ou Profetas: subdivide-se em Profetas Anteriores e Posteriores. - Anteriores: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis - Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. - Ketubim ou Escritos: Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras-Neemias, 1 e 2 Crônicas. Além da Torá escrita, o Judaísmo conhece e aceita a Torá oral, que consiste da Halakháh (o caminho, a lei), da Hagadáh (a narração, explicação), do Midrash (a busca, interpretação). Aceita também um conjunto de estudos chamado Talmud (que quer dizer, em hebraico, “estudo”). A parte mais antiga do Talmud se chama Mishná (repetição) e surgiu por volta de século 5º ou 6º de nossa era. A Bíblia de Israel existe em duas formas: a forma original, em língua hebraica, com alguns capítulos em aramaico, língua irmã do hebraico; e também na tradução grega, feita em Alexandria do Egito, para os judeus que estavam em contato com o mundo de língua grega. Essa última é chamada Septuaginta (Bíblia dos Setenta) e possui alguns livros a mais que a Bíblia hebraica. Esses livros, chamados deuterocanônicos, não são aceitos pelos rabinos 23 de Jerusalém: Judith, Tobias, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc. (Não confundir Eclesiástico com Eclesiastes). A Bíblia católica contém os sete livros deuterocanônicos, ausentes na Bíblia hebraica/judaica e na Bíblia protestante. A ordem dos livros na Tanak ou nos 2 Testamentos da Bíblia católica e protestante não indica uma cronologia, mas uma disposição apenas didática. Os livros mais antigos são os que falam dos Reis: 1 e 2 Reis, 1 e 2 Samuel. Eles formam o que alguns autores chamam de Livro da Sucessão Dinástica (GRUEN,1983, p. 49-52). Deus aparece pouco neste LSD. A impressão é quase a de uma revista atual, com suas notícias nem sempre edificantes. Rolo da Torá Uso da Yad (mão, em hebraico) Hoje, quando se lê um texto bíblico, é importante lembrar o seguinte esquema: PRÉ-TEXTO 4.1 TEXTO CON-TEXTO Ler o texto para perceber os absurdos que podemos cometer hoje Homossexualidade e outros pecados Rubem Alves "Minha acuidade visual tem de ser 100% para que eu me aproxime do altar de Deus?", perguntou-lhe o ouvinte. Cristãos fundamentalistas são os que acreditam que as sagradas escrituras foram ditadas diretamente por Deus e que, por isso, tudo o que nelas está escrito é sagrado, verdadeiro e deve ser obrigatoriamente obedecido para sempre. A verdade divina está fora do tempo. Aquilo que Deus comandava há 3.000 anos é válido para hoje e para todos os tempos futuros. Digo isso a propósito de uma carta dirigida a Laura Schlessinger, conhecida locutora de rádio nos Estados Unidos que tem um desses programas interativos que dá respostas e conselhos aos ouvintes que a chamam ao telefone. Recentemente, perguntada sobre a homossexualidade, a locutora disse que se trata de uma abominação, pois assim a Bíblia o afirma no livro de Levítico 18:22. Um ouvinte escreveu-lhe então uma carta que vou transcrever: "Querida doutora Laura, muito obrigado por se esforçar tanto pra educar as pessoas segundo a lei de Deus. [...] Mas, de qualquer forma, necessito de alguns conselhos adicionais de sua parte a respeito de outras leis bíblicas e sobre a forma de cumpri-las: gostaria de vender minha filha como serva, tal como o indica o livro de Êxodo 21:7. Nos tempos em que vivemos, na sua opinião, qual seria o preço adequado? O livro de Levítico 25:44 estabelece que posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, desde que não sejam adquiridos de países vizinhos. Um amigo meu afirma que isso só se aplica aos mexicanos, mas não aos canadenses. Será que a senhora poderia esclarecer esse ponto? Por que não posso possuir canadenses? 24 Sei que não estou autorizado a ter qualquer contato com mulher alguma no seu período de impureza menstrual (Levítico 18:19, 20:18 etc.).O problema que se me coloca é o seguinte: como posso saber se as mulheres estão menstruadas ou não? Tenho tentado perguntar-lhes, mas muitas mulheres são tímidas e outras se sentem ofendidas. Tenho um vizinho que insiste em trabalhar no sábado. O livro de Êxodo 35:2 claramente estabelece que quem trabalha aos sábados deve receber a pena de morte. Isso quer dizer que eu, pessoalmente, sou obrigado a matá-lo? Será que a senhora poderia, de alguma maneira, aliviarme dessa obrigação aborrecida? No livro de Levítico 21:18-21 está estabelecido que uma pessoa não pode se aproximar do altar de Deus se tiver algum defeito na vista. Preciso confessar que eu preciso de óculos para ver. Minha acuidade visual tem de ser 100% para que eu me aproxime do altar de Deus? Eu sei, graças a Levítico 11:6-8, que quem tocar a pele de um porco morto fica impuro. Acontece que adoro jogar futebol americano, cujas bolas são feitas de pele de porco. Será que me será permitido continuar a jogar futebol americano se usar luvas? Meu tio tem um sítio. Deixa de cumprir o que diz Levítico 19:19, pois que planta dois tipos diferentes de semente ao mesmo campo, e também deixa de cumprir a sua mulher, que usa roupas de dois tecidos diferentes -a saber, algodão e poliéster. Será que é necessário levar a cabo o complicado procedimento de reunir todas as pessoas da vila para apedrejá-la? Não poderíamos queimá-la numa reunião privada? Sei que a senhora estudou esses assuntos com grande profundidade de forma que confio plenamente na sua ajuda. Obrigado de novo por recordar-nos que a palavra de Deus é eterna e imutável". (Folha de São Paulo, Cotidiano, 30/09/2008, p. C2) 5 Costumes alimentares do Judaísmo: Muitas pessoas estão familiarizadas com os termos casher, kosher, cashrut etc. Outras nem sabem do que se trata, pois jamais ouviram falar. Casher (em hebraico) e kosher (em yidish, dialeto judaico) querem dizer a mesma coisa: um produto apto, apropriado ao consumo, isto é, que preenche todos os requisitos da dieta judaica. Cashrut é o conjunto destas leis outorgadas por Deus ao povo judeu através do recebimento da Torá, no Monte Sinai. Leis de Casher: No Judaísmo, o código alimentar é denominado de leis de casher. Essas leis de grande importância religiosa estabelecem quais animais podem ser ingeridos e de que maneira eles devem ser abatidos e cozidos. As leis do casher proíbem o consumo de carne de porco, répteis, frutos do mar (ostras, camarões, lagosta) e não permitem a mistura de carne com laticínios. Para uma carne ser casher, o animal deve ser abatido de uma forma especificada pela lei judaica. O animal deve ser sacrificado com apenas um golpe para minimizar o seu sofrimento. Após o abate do animal, algumas veias e partes do corpo do animal são removidas e seu sangue é totalmente drenado, pois seu consumo é rigidamente proibido pelo Judaísmo. 6 Algumas festas importantes do Judaísmo: http://www.fisemg.com.br/default_int.php?cat_link=Festas ROSH HOSHANÁ: é o começo do ano e a recordação do julgamento divino do 1º homem. Dura até Yom Kippur. Em 2012 será 16/18 setembro; em 2013 – 04/06 de setembro; em 2014 – 24/26 de setembro; em 2015 – 13/15 de setembro. PURIM: é a recordação da libertação do povo judeu que estava sob o domínio de Assuero, rei persa. Aconteceu sob a liderança de Ester (cf. Livro de Ester). Será comemorado de 7- 8 de março de 2012. 25 PESSACH: é a Páscoa, a passagem do Anjo Exterminador que matou os primogênitos. (Ex 11, 4ss; Ex 12, 23; 2Sm 24, 16; 2 Rs 19, 35; Is 26,20). Será comemorada entre 6-14 de abril de 2012. YOM HAATZAMAUT: no qual o líder David Ben-Gurion declarou o fim do Mandato Britânico da Palestina e a fundação do Estado de Israel, proclamando sua independência. Será comemorado dia 17 de abril de 2012; em 2013 será dia 15 de abril. YOM HASHOAH: celebração em honra aos mortos da tragédia (Shoáh) do chamado Terceiro Reich, de Hitler. Será celebrado em 19 de abril de 2012. SHAVUOT: corresponde a Pentecostes. O termo significa “semanas”. A festa é celebrada sete semanas ou 50 dias após a Pessach. É chamada a festa das primícias e lembra o dom da Torá no monte Sinai. Em 2012 será comemorado em 27-28 de maio. YOM KIPPUR: Dia do Perdão, o sábado dos sábados. Encerra o tempo penitencial. É a festa mais celebrada. SUKKOTH: festa das tendas, dos tabernáculos. Em 2012 será de 1º a 7 de outubro. Em 2013 será de 19 a 25 de setembro. CHANUCÁ: literalmente é “inauguração”; é festa das luzes, da purificação do templo efetuada pelos Macabeus. Recorda a libertação de Jerusalém sob Antíoco Epífanes, em dezembro de 164 a.C. Em 2011 foi comemorado durante os dias 20 – 28 de dezembro. Em 2012 será de 8 a 16 de dezembro. Confira o calendário hebraico em: http://www.chabadmorumbi.com.br/calendario/index.htm 7 Textos para aprofundamento: GRUEN, Wolfgang. O tempo que se chama hoje: uma introdução ao Antigo Testamento. 5. ed. São Paulo: Paulinas, 1983. KONINGS, Johan. A palavra se fez livro. 2. ed. atualizada. São Paulo: Loyola, 2002 (Coleção CES). WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo. 16 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1994. SCHERER, Burkhard (Org.). As grandes religiões: temas centrais comparados. Trad. Carlos Almeida Pereira. Petrópolis-RJ: Vozes, 2005 Sites sobre o Judaísmo: http://www.chabadmorumbi.com.br/ http://www.fisesp.org.br/express/ (Federação Israelita de São Paulo) http://www.fisemg.com.br/ (Federação Israelita de Minas Gerais) Para ouvir a Bíblia em Hebraico: http://mucheroni.hpg.com.br/religiao/96/hinos/narradah/htm 26 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012 Capítulo IV 1 CRISTIANISMO O Cristianismo15, com pouco mais de 2000 anos, é uma religião monoteísta, profética, revelada, e tem suas raízes no Judaísmo. A primeira parte de suas Escrituras é totalmente comum com o Judaísmo. O Cristianismo é originário da Palestina e remonta a um pregador itinerante: Jesus, também chamado de Jesus de Nazaré, Jesus Cristo ou Messias. Com um grupo de 12 Apóstolos ele inaugurou seu ministério: “Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, também chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelota, e Judas Iscariotes, que foi o traidor” (Mt 10, 2-4). 2 Consultoria – resposta: Prezado Senhor Nazareno, Antes de mais nada, queremos agradecer-lhe por depositar a sua confiança em nossa companhia. Os candidatos que o Senhor escolheu para ocupar seus postos de responsabilidade na sua nova organização foram, todos eles, submetidos a uma rigorosa bateria de testes e a uma entrevista personalizada com uma de nossas melhores psicólogas. Os resultados foram analisados com muito rigor e detalhamento. Nosso pessoal chegou à conclusão que a maioria dos seus candidatos carece de experiência, não tem formação adequada, tampouco aptidões para o tipo de empreendimento que o Senhor pretende viabilizar. Simão Pedro é emocionalmente instável, com tendência a mudanças de humor; André carece totalmente de capacidade para assumir responsabilidades. Os irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu, põem os seus interesses pessoais acima de sua entrega à empresa. Tomé é muito questionador e tende a pôr em dúvida informações recebidas, o que sem dúvida é um obstáculo para quem precisa trabalhar em equipe. Além disso, nos vemos na obrigação de informar-lhe que o nome de Mateus aparece na listra negra da Comissão da Grande Jerusalém para a Honradez dos Negócios. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu são propensos à radicalização: ambos obtiveram uma alta pontuação na escala maníacodepressiva. Mas uma boa notícia: um dos candidatos pareceu-nos altamente capacitado; imaginativo, com dom de gentes e um enorme tino comercial. Além disso, tem boas relações entre pessoas influentes e poderosas. Recomendamos, encarecidamente, que faça de Judas Iscariotes seu administrador e homem de confiança. Está muito motivado, é ambicioso e não teme desafios. O resto dos candidatos não merece sequer comentário. Desejamos-lhe muito êxito em seu novo empreendimento. Atenciosamente, Caifás Jewish, Consultor. 15 Acima, vemos o lábaro (labarum, em latim) do Imperador Constantino Magno: é um cristograma de Jesus Cristo, do qual existem diversas formas. É formado a partir das letras gregas Chi (χ) e Rô, (ρ), iniciais de Χριστός (“Cristo”, em grego). 27 (Da direita p/ a esquerda: YESHUÁH [HA] MASHIAH) O judeu Jesus de Nazaré16 nasceu provavelmente no ano 4 antes da era comum, na aldeia de Belém, próximo a Jerusalém, na Palestina17. Após sua pregação, seu sofrimento (paixão), morte e ressurreição, os apóstolos que haviam sido escolhidos por Jesus continuaram sua missão. A ressurreição do Mestre era e é o ponto central da pregação, sinal de que Jesus, vencedor da morte, era verdadeiramente o ungido do Pai e, portanto, o Senhor. A ressurreição dos mortos é, portanto, a grande novidade do Cristianismo. A morte não é mais a dominadora, a grande Senhora. Houve quem a destronou e ele é, portanto, o Senhor. Assim diz o Prefácio da Missa dos Fiéis Defuntos: “Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado nos céus um corpo imperecível”. ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá” (Jo 11, 25-26). O Cristianismo prega a fé em um Deus Uno e Trino: Pai, Filho e Espírito Santo. O 2º Testamento bíblico18 contém em seus 27 livros os ensinamentos básicos do Cristianismo. Imagem popular da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo 16 O nome Jesus, em hebraico, significa Javé salva (Jeshuah). Josué tem o mesmo significado. 17 Belém, em hebraico, é Beit-Lehem = Casa do Pão: Jesus disse sobre Si mesmo: “Eu sou o Pão da vida”( João 6, 35). Jesus foi colocado na manjedoura, isto é, onde os animais comiam (Lc 2, 7). 18 Também são usados os termos 1º Testamento (para o AT) e 2º Testamento (NT). 28 O Cristianismo Católico19 tem como base de sua fé, além da Bíblia (Escritura), a Tradição e o Magistério da Igreja. Os Protestantes, em seus diversos matizes, têm como base da fé apenas a Bíblia (a Escritura). Lutero usava a expressão: Sola Fides et sola Scriptura (Só a fé e só a Escritura). 3 Símbolos cristãos: Pães e Peixes O peixe é um símbolo cristão por causa das iniciais da expressão grega “Iesous Christos Theou Yios Soter” (Jesus Cristo, Deus, Filho, Salvador). As iniciais formam a palavra IKTYS, que significa “peixe”, em grego. Pães e peixes lembram o milagre bíblico da multiplicação dos pães e peixes com os quais Jesus alimentou uma multidão de cinco mil pessoas. Por isso eles representam todos os milagres com os quais Jesus providenciou alimento. Eles também lembram Jesus como o “pão da vida”, conforme Mateus 14,17-21 e João 6,35. A Páscoa é o ponto central do Cristianismo: Jesus ressuscitou, tornou-se o Senhor da História, venceu a Morte. Agora Ele é o Ungido do Pai, é o Cristo, o Senhor: JESUS CRISTO20. 19 Sinônimos de Católico: Universal, Mundial etc. O filme O corpo (The body, USA, 2001, 119 min), dirigido por Jonas McCord e estrelado por Antonio Banderas e Olívia Williams, trata ficticiamente da ressurreição de Cristo, que foi questionada a partir de uma ossada humana encontrada em uma escavação realizada em Jerusalém. 20 29 A Páscoa, uma das festas móveis, é baseada no calendário lunar judaico21: Ano Cinzas Páscoa Pentecostes22 Corpus Christi23 2012 2013 2014 2015 2016 22 de fevereiro 13 de fevereiro 05 de março 18 de fevereiro 10 de fevereiro 08 de abril 31 de março 20 de abril 05 de abril 27 de março 27 de maio 19 de maio 08 de junho 24 de maio 15 de maio 07 de junho 30 de maio 19 de junho 04 de junho 26 de maio 3.1 PÁSCOA (retirado da Internet) - Papai, o que é Páscoa? - Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa! - Igual ao Natal? - É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e a Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição. - Ressurreição? - É, ressurreição. Marta, vem cá! - Sim? - Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal. - Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu? - Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho? - Que é isso, menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo! - Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus? - É, filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. - O Espírito Santo também é Deus? - É, sim. - E Minas Gerais? - Sacrilégio!!! - É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo? - Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho! - Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa? - Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos. - Coelho bota ovo? - Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais! - Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa? - Era... era melhor, sim... ou então urubu. - Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu? - Isso eu sei: na Sexta-feira Santa. - Que dia e que mês? - (???) Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressuscitou três dias depois, no Sábado de Aleluia. 21 Para encontrar as datas da Páscoa: http://www.novomilenio.inf.br/porto/mapas/nmcalenp.htm Outras datas de Pentecostes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pentecostes 23 Outras datas de Corpus Christi: http://www.inf.ufrgs.br/~cabral/tabela_pascoa.html 22 30 - Um dia depois! - Não, três dias depois. - Então morreu na quarta-feira. - Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo! - Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua? - É que hoje é Sábado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus. - O Judas traiu Jesus no sábado? - Claro que não! Se Jesus morreu na sexta !!! - Então por que eles não malham o Judas no dia certo? - Ui... - Papai, qual era o sobrenome de Jesus? - Cristo. Jesus Cristo. - Só? - Que eu saiba, sim, por quê? - Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha? - Ai coitada! - Coitada de quem? - Da sua professora de catecismo! ANOTE: o maior mandamento do Cristianismo é o amor: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” (Mateus 22, 36), amar os inimigos (Mateus 5, 44), amar como Jesus ama (João 15,12). O amor será a base para o julgamento final (Mt 25, 3146). Jesus também anunciou o REINO DE DEUS, que deve ser buscado acima de tudo. 4 OS CRISTÃOS SÃO MUITOS E DIVERSOS: UM TERÇO DA HUMANIDADE Igreja Católica Apostólica Romana (Oriental, língua grega, e Latina, língua latina24): Fundada a partir do grupo de apóstolos (Colégio Apostólico, que continua a “sucessão apostólica”) segue as orientações da Bíblia, da Tradição e do Magistério, cujo primaz é o Papa de Roma (Vaticano25). S.S Bento XVI é o 265º papa. Abaixo, moeda de 2 euros (2005), com efígie de Bento XVI e, no verso, uma representação esquemática das muralhas que delimitam a Cidade do Vaticano, com a Basílica de S. Pedro em primeiro plano. Exibe também as inscrições “75.º ANNO DELLO STATO” e “1929-2004”, 24 A Igreja Católica, fiel ao Romano Pontífice Bento XVI (Joseph Ratzinger), possui dois Códigos de Direito Canônico: um para a Igreja Latina e outro para a Igreja Oriental. 25 Nome oficial: Estado da Cidade do Vaticano, existente desde 1929, a partir do Tratado de Latrão. Possui área de 44 hectares ou 0,44 km². É governado pelo Papa, que é o Bispo de Roma. 31 bem como, em letras pequenas, o nome do desenhador “VEROI” e as iniciais do gravador “L.D.S. INC”. No anel externo figuram as estrelas da União Europeia e a inscrição “CITTA' DEL VATICANO”. Igreja Ortodoxa (ano 1050): Segue as orientações dos Patriarcas. A autoridade suprema na Igreja Católica Apostólica Ortodoxa é o Santo Sínodo Ecumênico, que se compõe de todos os Patriarcas chefes das Igrejas Autocéfalas e os Arcebispos Primazes das Igrejas Autônomas, que se reúnem por chamada do Patriarca Ecumênico de Constantinopla e sob a sua presidência, em local e data que ele determinar. A autoridade suprema regional em todos os Patriarcados autocéfalos e Igrejas Ortodoxas autônomas é da competência do Santo Sínodo Local, que é composta dos Metropolitas chefes das arquidioceses sob a presidência do próprio Patriarca ou Arcebispo que convoca a reunião, marcando a data, o local e a ordem do dia. Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB): fundada em 06 de julho de 1945 pelo bispo Dom Carlos Duarte da Costa (1888-1961), da diocese de Botucatu-SP. Dom Carlos é chamado pelos icabenses de “São Carlos do Brasil”. A ICAB está presente em Belo Horizonte: Igreja de Santa Edwiges, Santo Expedito. Veja o site: www.igrejabrasileira.com.br Igrejas Protestantes. Dividem-se em: Igrejas Históricas, Igrejas Pentecostais, Igrejas NeoPentecostais e Paraprotestantes. O censo/IBGE-2010 diz que todos os Protestantes, no Brasil, somam 38.380.000 fiéis. I - Protestantismo Histórico: Igreja Luterana (Martinho Lutero: 1519, Alemanha), Igreja Anglicana (Rei Henrique VIII, 1534, Inglaterra), Igreja Batista (Thomas Helwys, 1611, Inglaterra), Igreja Presbiteriana (John Knox, 1643, Inglaterra), Igreja Metodista (John Wesley (1740). II - Protestantismo Pentecostal: Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Igreja do Evangelho Quadrangular, O Brasil para Cristo, Deus é Amor etc. III - Protestantismo Neo-pentecostal: Igreja Universal do Reino de Deus (Edir Macedo), Igreja Internacional da Graça de Deus (R.R Soares), Sara Nossa Terra (Robson e Lúcia Rodovalho), Renascer em Cristo (Estevam e Sônia Hernandes) etc. IV - Paraprotestantes: Igreja Adventista: William Miller; Mórmons: em 1830, Joseph Smith; Testemunhas de Jeová, 1875, USA, Charles Russel. 5 Considerações sobre o Protestantismo e Pentecostalismo O Protestantismo é um dos grandes ramos do Cristianismo, originário da Reforma ocorrida na Europa no século XVI. Devido à sua própria natureza, é diverso em sua composição, doutrinas, práticas e culto. No sentido estrito da palavra, o protestantismo siginifica o grupo de príncipes e 32 cidades imperiais que, na Dieta de Speyer, em 1529, assinaram um protesto contra o Édito de Worms que proibiu os ensinamentos Luteranos no Sacro Império Romano. A partir daí, a palavra “protestante” em áreas de língua alemã ainda se refere às Igrejas luteranas, enquanto que a designação comum para todas as igrejas originadas da Reforma é Reformado. No Brasil usa-se o termo Evangélico para dizer “Protestante”. No sentido amplo, a palavra designa todos os grupos religiosos cristãos de origem europeia ocidental, que romperam com a Igreja Católica Romana como resultado da influência de Martinho Lutero, fundador das igrejas luteranas, e de João Calvino, fundador do movimento Calvinista. Um terceiro ramo principal da Reforma, que entrou em conflito tanto com os Católicos como com os outros Protestantes é conhecido como Reforma Radical ou Anabatista. Lutero e Calvino distanciaram-se destes movimentos mais radicais, que eles viram como uma semente de insubordinação social e fanatismo religioso. 5.1 Origens do Protestantismo: revisões radicais na Igreja Católica Os protestantes situam normalmente a sua separação da igreja católica romana por volta do ano 1500, chamando-lhe a reforma magistral porque propunha inicialmente numerosas revisões radicais dos padrões da doutrina da Igreja Católica Romana (o chamado magisterium). Os protestos irromperam repentinamente e em vários locais ao mesmo tempo. De certa forma, esta explosão de protestos pode ser explicada por dois eventos de dois séculos anteriores na Europa ocidental. Primeiro foi a efervescência política na Igreja e no império ocidental, que culminarou na transferência do Papado para a França, em Avignon26 (1308 - 1378), e no Cisma papal (1378 1416), causando guerras entre príncipes e revoltas entre os camponeses. Um segundo evento, o Renascimento humanista, estimulava o efervescer da atividade acadêmica, sem precedentes durante a Idade Média, que pela sua natureza implicava a busca da liberdade de pensamento. Sérios debates teóricos decorriam agora nas universidades sobre a natureza da Igreja e a fonte e extensão da autoridade papal, dos concílios e dos príncipes. Uma das perspectivas novas e mais radicais teve origem em John Wyclif, em Oxford, e posteriormente Jan Hus, na Universidade de Praga. Dentro da Igreja Católica Romana, este debate foi oficialmente concluído pelo Concílio de Constança (1414 - 1418), que executou Jan Hus e baniu postumamente Wyclif como um herético. No entanto, enquanto Constança confirmou e fortaleceu as concepções medievais da Igreja e do império, não poderia ter resolvido as tensões nacionais ou as tensões teológicas que tinham surgido no século anterior. Entre outras coisas, o concílio não conseguiu evitar o Cisma nem as Guerras Hussíticas da Boêmia. De certa forma, o protesto iniciado por Martinho Lutero, um monge agostiniano e professor na Universidade de Wittenberg, provocou a reabertura do debate sobre a venda de indulgências. Teve um ímpeto de uma força renovada e irresistível do descontentamento que tinha sido oprimido mas não resolvido. 26 O primeiro papa de Avignon foi Clemente V, francês. Os reis franceses queriam submeter o papa a seu controle. Houve perda do prestígio papal, nepotismo e o nascimento da teoria conciliarista: o concílio superior ao papa. O papa Gregório IX pôs fim ao exílio e voltou para Roma. 33 5.2 Protestantismo no Brasil: huguenotes franceses e reformados holandeses O Protestantismo chegou ao Brasil com viajantes e tentativas de colonização do Brasil por huguenotes (nome dado aos Reformados franceses) e Reformados holandeses e flamengos durante o período colonial. Esta tentativa não deixou frutos persistentes. Com a vinda da família real portuguesa ao Brasil e abertura dos portos a nações amigas, através do Tratado de Comércio e Navegação, comerciantes ingleses estabeleceram a Igreja Anglicana, em 1811. Seguiu-se a implantação de Igrejas de Imigração: Alemães trouxeram o Luteranismo em 1824; imigrantes americanos, as igrejas Batista e Metodista. Depois foram fundadas as igrejas Congregacional e a Presbiteriana, voltadas ao público brasileiro. Em 1910 o Brasil receberia o Pentecostalismo, com a chegada da Congregação Cristã no Brasil e da Assembleia de Deus. Esta, em particular, foi trazida ao Brasil por dois missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, e estabeleceu-se inicialmente no norte, no Pará. Em 1922 chega ao país o Exército de Salvação, igreja reformada de origem inglesa, pelas mãos de David Miche e esposa, um casal de missionários suíços. Em 1932 alguns ministros da Assembleia de Deus devolveram voluntariamente suas credenciais de obreiros e organizaram a Igreja de Cristo no Brasil, em Mossoró/RN. Esta foi a primeira igreja pentecostal genuínamente brasileira. Nos anos 1950 o pentecostalismo mudou-se com a influência de movimentos de suposta cura divina, que geraram diferentes denominações tais como: Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo, fundada pelo missionário Manoel de Mello. Em 1962 surge a Igreja Pentecostal Deus é Amor, fundada pelo missionário David Miranda. Também surgiram outras igrejas, que mantiveram muitas características do protestantismo histórico mas adicionaram o fervor pentecostal, como exemplo a Igreja Presbiteriana Renovada e a Convenção Batista Nacional. A Igreja Cristã Maranata foi fundada em outubro de 1968, no morro do Jaburuna em Vila Velha, Espírito Santo, por quatro antigos membros da Igreja Presbiteriana do Centro de Vila Velha. Hoje, a Igreja Cristã Maranata é uma das maiores Igrejas no Brasil. A década de 1970 viu nascer o movimento neopentecostal, com igrejas que enfatizam a prosperidade, como a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), fundada pelo autodenominado Bispo Edir Macedo, em julho de 197727; a Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada por Romildo Ribeiro Soares (conhecido como Missionário R.R Soares), entre muitas outras28. É também nessa década que mesmo a Igreja Católica Romana no Brasil começa a sofrer influência dos movimentos pentecostais através da Renovação Carismática Católica, um movimento originário dos EUA. A Igreja Mundial do Poder de Deus é uma igreja evangélica de tendência neopentecostal, dissidente da Igreja Universal do Reino de Deus. Foi fundada na cidade de Sorocaba em 9 de março de 1998 pelo autodenominado Apóstolo Valdemiro Santiago, ex-bispo da IURD. Sede em Belo Horizonte: Praça da Estação, próximo ao viaduto da Floresta. Recentemente cresceram as chamadas igrejas neopentecostais com foco nas classes média e alta, com um discurso mais liberado quanto aos costumes e menos ênfase nas manifestações 27 Para um conhecimento aprofundado sobre a IURD, ver o livro de Leonildo Silveira Campos: Teatro, templo e mercado: organização e marketing de um empreendimento neo-pentecostal, 1999. 28 Comentar o tema das “franquias” de Igrejas Neo-pentecostais. 34 pentecostais. Entre elas podemos citar a Igreja Apostólica Renascer em Cristo, fundada por Estevam e Sonia Hernandez, e a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, fundada por Robson Rodovalho. 5.3 Pentecostalismo Pentecostalismo é como chamam-se os grupos religiosos cristãos, originários no seio do protestantismo baseando-se na crença da presença do Espírito Santo na vida do crente através de sinais, denominados por estes como dons do Espírito Santo, tais como falar em línguas estranhas (glossolalia), curas, milagres, visões etc. Tradicionalmente, reconhece-se o começo do movimento pentecostal como tendo início no ano 1906, em Los Angeles, nos Estados Unidos, na Rua Azuza, onde houve um grande avivamento caracterizado principalmente pelo "batismo com o Espírito Santo", evidenciado pelos dons do Espírito (glossolalia, curas milagrosas, profecias, interpretação de línguas e discernimento de espíritos). No entanto, o batismo com dons do Espírito Santo não era totalmente novo no cenário protestante. Existem inúmeros relatos de pessoas que clamam ter manisfestado dons do Espírito em muitos lugares, desde Martinho Lutero (apesar de controversos quanto a veracidade) no século XVI até de alguns protestantes na Rússia no século XIX. Devido à projeção que ganhou na mídia, o avivamento na Rua Azuza rapidamente cresceu e, subitamente, pessoas de todos os lugares do mundo estavam indo conhecer o movimento. No começo, as reuniões na Rua Azuza aconteciam informalmente, eram apenas alguns fiéis que se reuniam em um velho galpão para orar e compartilhar suas experiências, liderados por William Seymour (1870-1922). Rapidamente, grupos semelhantes foram formados em muitos lugares dos EUA, mas com o rápido crescimento do movimento o nível de organização também cresceu até o grupo se denominar Missão da Fé Apostólica da Rua Azuza. 5.4 Pentecostalismo no Brasil O movimento pentecostal pode ser dividido em três ondas. A primeira, chamada pentecostalismo clássico, abrangeu o período de 1910 a 1950 e iniciou-se com sua implantação no país, decorrente da fundação da Congregação Cristã no Brasil e da Assembleia de Deus até sua difusão pelo território nacional. Desde o início, ambas as igrejas caracterizam-se pelo anticatolicismo, pela ênfase na crença no Espírito Santo, por um sectarismo radical e por um ascetismo que rejeita os valores do mundo e defende a plenitude da vida moral. A segunda onda começou a surgir na década de 1950, quando chegaram a São Paulo dois missionários norte-americanos da International Church of The Foursquare Gospel. Na capital paulista, eles criaram a Cruzada Nacional de Evangelização e, centrados na cura divina, iniciaram a evangelização das massas, principalmente pelo rádio, contribuindo bastante para a expansão do pentecostalismo no Brasil. Em seguida, fundaram a Igreja do Evangelho Quadrangular. Diz-se “quadrangular” porque tem sua base nos quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), e quatro são seus temas principais: Jesus salva, cura, batiza e voltará. No seu rastro, surgiram O Brasil para Cristo, Igreja Pentecostal Deus é Amor, Casa da Bênção, Igreja Unida e diversas outras menores. A terceira onda, a neopentecostal, teve início na segunda metade dos anos 70. Como já dissemos, foram fundadas por brasileiros a Igreja Universal do Reino de Deus, a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra e a Renascer em Cristo, entre as principais; utilizam intensamente a mídia eletrônica e aplicam técnicas de administração empresarial, com uso de marketing, planejamento estatístico, análise de resultados etc. Algumas delas pregam a Teologia da Prosperidade, pela qual o cristão está destinado à prosperidade terrena, rejeitando os tradicionais usos e costumes pentecostais. O neopentecostalismo constitui a vertente pentecostal mais influente e a que mais cresce. Também são mais liberais em questões de costumes. 35 Paralelamente ao Pentecostalismo, várias denominações protestantes tradicionais experimentaram movimentos internos, com manifestações pentecostais, assim foram denominados "Renovados", como a Igreja Presbiteriana Renovada, Convenção Batista Nacional, Igreja do Avivamento Bíblico e Igreja Cristã Maranata. A doutrina de renovação do Pentecostalismo ultrapassou até mesmo as fronteiras do Protestantismo, surgindo movimentos de renovação pentecostal Católica Romana e Ortodoxa Oriental, como a Renovação Carismática Católica. 6. Textos para aprofundamento: CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, tempo e mercado: organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. 2. ed. Petrópolis-RJ: Vozes; São Paulo: Simpósio Editora e Universidade Metodista de São Paulo, 1999. ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Lisboa: Edição Livros do Brasil, 2002. (Colecão Vida e Cultura) JORGE, Pe. J. Simões. Cultura religiosa: o homem e o fenômeno religioso. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1998. WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo. Petrópolis: Vozes, 1996. ZILLES, Urbano. Filosofia da religião. São Paulo: Paulinas, 1991 (Coleção Filosofia). Sites consultados: Pentecostalismo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pentecostalismo Para ler a Bíblia em Chinês, Espanhol, Inglês, Italiano e Latim – ver o Site do Vaticano: http://www.vatican.va/archive/bible/index_po.htm Revista Veja: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/evangelicos/em_resumo.html Bíblia em Português (versão católica e protestante): http://www.bibliacatolica.com.br/ 36 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012 Capítulo V 1. Islamismo O ano 2012 corresponde ao ano 1434 para os islâmicos (Hégira do Profeta). O Islamismo (do árabe: اإلسالمal- islām: submissão a Deus, Paz) é uma religião revelada, monoteísta, que surgiu na Arábia Saudita (Península Arábica) no ano 622 d.C, e é baseada nos ensinamentos religiosos do profeta Mohamed (ou Maomé) e numa escritura sagrada, o Alcorão.29 O texto da bandeira do Reino da Arábia Sadita (capital Riad), abaixo, fundo verde com escritos ال إاله إال محمد رسول ﷲ na cor branca, é o da shahada, a declaração de fé islâmica: , cuja transliteração é: “La ilaha Ilallah Muhammadar Rasululah”, e significa: "Não há Deus senão Alá, e Maomé é o seu mensageiro / profeta" (Alcorão 7, 157). O Profeta Mohamed , fundador do Islamismo, nasceu em Meca, na atual Arábia Saudita, na tribo árabe coraixita, em 571 da era cristã. Era filho de Abá-Allah e Amina. Ficou órfão com seis anos de idade e foi educado por seu avô Abud el-Mutalib. Não teve instrução escolar, não sabia ler nem escrever. Trabalhou como mercador e pregou a existência de um só Deus, Alá, Onisciente e Onipotente (Alcorão 2,162). Maomé faleceu em 18 de junho de 632. Os quatro primeiros sucessores do Profeta – eram chamados “Califas”, ou seja, governantes: 1. 2. 3. 4. Abu Bakr (sogro do Profeta) Zaid Ibn Thabet (organizou a primeira compilação do Alcorão) Osman Ibn Affan (genro do Profeta) Ali Ibn Ai Talib (filho adotivo e genro do Profeta) A partir do 4º califa, a linha sucessória se complica. Veja, abaixo, “Sunitas” e “Xiitas” SUNITAS: Acreditavam que depois do 4º Califa não se deve obedecer a sucessão por ordem familiar. A escolha se daria mais pela capacidade do líder. Os Sunitas são em maior número que os Xiitas. No Iraque, os Xiitas representam 60% da população, mas nunca havia exercido o poder antes da queda de Saddam Hussein, que se deu em 2003. Os Sunitas (20%) são a elite intelectual e universitária. Os curdos (15%) seguem o Islamismo e são de maioria Sunita. Na atual República Islâmica do Irã (antiga Pérsia, 1935) os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário estão submetidos à autoridade máxima do líder espiritual, o aiatolá Sayed Ali 29 Para ouvir o Alcorão em árabe: http://www.readthequran.org/ONLINE/PORTUGUESE1/001.html 37 Khamenei, da tradição Xiita. Os Islâmicos se dizem descendentes de Ismael, filho de Abraão (Ibrahim, em árabe) e Agar. XIITAS (de Shia = partido): Acreditam que Maomé não é o Profeta único, mas acreditam que Ali Ibn ai Talib, o genro de Maomé, seria o verdadeiro sucessor do Profeta. Acreditam também nos filhos de Ali e Fátima, Hassan e Hussein, que morreram mártires da fé islâmica. A lembrança da “Ashura” (celebrada no próximo 24.11.2012) é quando os muçulmanos xiitas lembram o martírio dos netos de Maomé em Karbala, onde mulheres e crianças foram massacradas pelas mãos de Yiazid, o filho de Muawya, aquele que havia lutado contra Ali e usurpado o califado de Hassan. No Iraque, em certas regiões, a Ashura tomou uma visão grotesca, com autoflagelações e situações anti-islâmicas. A morte de Hassan e Hussein tem o mesmo significado que tem a morte de Jesus, comemorada na Semana Santa para os Católicos. Os cinco pilares do Islamismo são: - A recitação e aceitação do credo (Shahada) - Orar cinco vezes ao longo do dia (salat) - Pagar dívidas rituais (zakat: 2,5%) - Observar o jejum no Ramadã (setembro) - Fazer a peregrinação a Meca Acima, o Nome de Alá. As orações (preces) têm os seguites horários: ao nascer do dia, ao meio-dia, às quatro da tarde, ao pôr do sol, e à noite. Para marcar o início o Jejum, no fim da noite, diz Maomé: “E comei e bebei até que comeceis distinguir, na aurora, a linha branca da linha preta” (2, 187). Para saber as diversas posições do corpo durante a oração, veja: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-85872009000100005&script=sci_arttext Desde o início, é bom que digamos o seguinte: o Islamismo não deve ser associado aos extremismos e fanatismos desumanos que deturpam a vontade de Alá e a verdadeira mensagem do Profeta. Como já dissemos, a palavra Islam significa PAZ ou SUBMISSÃO A DEUS. O muçulmano ou islamita prega a paz do Deus Clemente e Misericordioso30. 2 Alguns costumes islâmicos: “São-vos proibidos para a alimentação: a carne putrefata, o sangue, a carne de porco, os animais consagrados a qualquer outro nome que não seja o de Deus, os animais estrangulados, os animais mortos por espancamento, os vitimados por feras e os que tenham sido imolados aos ídolos”. Alcorão 5,3 Carne de animais em cujo abate não seja invocado o nome de Deus; animais e aves carnívoras; animais e aves de rapina; todos os bípedes e os quadrúpedes que aprisionam para devorar com os dentes e todas as aves que apanham com as suas garras (raposas, lobos, hienas, leopardos, leões, tigres, macacos, águias, abutres etc.). 30 Não se usa o termo “maometanos” para os islâmicos/muçulmanos. 38 “Ó fieis, as bebidas inebriantes, os jogos de azar, a dedicação às pedras e a adivinhação com setas, são manobras abomináveis de Satanás. Evitai-os, pois, para que prospereis.” Alcorão 5,90. São proibidos aos muçulmanos todos os tipos de bebidas alcoólicas. “ ...porém, quem sem intenção nem abuso, for compelido a isso, saiba que Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo”. Alcorão 16,115. 3 Principais festas islâmicas: Ramadã: Tempo de Jejum, celebrado no 9º mês do calendário islâmico. Ao final do jejum do mês de Ramadã, comemora-se a revelação do Alcorão. É como a Páscoa para os cristãos. Pequena Festa (Eid Al-Fitr), celebrada nos três primeiros dias do 10º mês (Xauál = março/abril, para nós). Comemora-se o término do jejum de Ramadã. Peregrinação a Meca: Período do Hajj (1 a 10 de Dhu al-Hijja, último mês) - Período em que os muçulmanos de todo o mundo cumprem o dever de peregrinar a Meca, que lhes incumbe pelo menos uma vez na vida, como um dos cinco preceitos básicos de vida piedosa. A rigor, o período do Hajj dura uma semana, mas a movimentação começa antes e termina depois dele. Nessa época, a Arábia Saudita recebe quase dois milhões de peregrinos, cessando todo o comércio. Grande Festa ou Festa do Sacrifício (Eid Al-Adha) é celebrada no dia 10 do último mês do ano. Os muçulmanos se congratulam, tal como fazem os cristãos no Natal. A data lembra a ocasião em que o Profeta Ibrahim (Abrahão) teria cumprido a ordem de sacrificar seu filho Ismael (que a tradição judaica afirma ter sido Isaac), demonstrando imensa fé e sendo por Deus impedido, no último momento, de consumar o ato. Segundo a tradição, a pedra sobre a qual Ibrahim ia executar Ismael era uma rocha negra que estava no vale onde hoje se situa Meca. Essa pedra foi usada na construção da Kaaba. Está numa das quinas da Kaaba, engastada em prata, e todos querem beijá-la ou tocá-la. Esse feriado ocorre no auge do período da peregrinação. Hégira, fuga de Maomé de Meca, marca o Ano Novo do calendário muçulmano, no dia 1° do mês de Al-Muhharram (junho/julho). Aniversário de nascimento do Profeta, no dia 12 do mês de Rabiá-al-áual, que cai entre agosto e setembro. 4 O livro sagrado do Islamismo O Alcorão, do árabe Al Qur’am (que significa “a leitura”). Al–Corão: deveria ser O Corão, mas ao passar para o português, a maioria das palavras árabes incorpora o artigo. Dizemos o açúcar (e não o çúcar), o arroz (e não o roz), o algodão (e não o godão). Em francês se diz “le sucre”, “le riz”e “le coton”... e “LE CORAN”. O livro sagrado muçulmano não foi escrito pelo Profeta; foi, sim, revelado a Maomé nos desertos da Arábia no século VII; é composto de Suras (ou capítulos). São 114 suras Eis, abaixo, a primeira sura, intitulada Al-Fatiha (“A Abertura”). Na parte superior da Sura, dentro do círculo, está escrito, em árabe, o nome do Profeta: Usamos em nosso texto a tradução portuguesa do Alcorão feita por Mansour Challita: edição da Associação Cultural Internacional Gibran, Rio de Janeiro, s/d. 39 Em nome de Deus, o Clemente o Misericordioso. Louvado seja Deus, o Senhor dos mundos, o Clemente, o Misericordioso, o Soberano do dentro dia do Julgamento. 6. Ramificações do Islamismo: A Ti somente adoramos. Somente a Ti imploramos socorro. Guianos na senda da retidão, a senda dos que favoreceste, não dos que incorrem na Tua ira, nem dos que estão desencaminhados. Os muçulmanos, como já dissemos, estão divididos em dois grandes grupos, os sunitas e os xiitas. Essas tendências surgiram da disputa pelo direito de sucessão a Maomé. A divergência principal diz respeito à natureza da chefia. Para os xiitas, o Imã ou "Imam" (líder da comunidade) é herdeiro e continuador da missão espiritual do Profeta. Para os sunitas, o Imã é apenas um chefe civil e político, sem autoridade espiritual, a qual pertence exclusivamente à comunidade como um todo. Apenas 18% dos muçulmanos vive no mundo árabe, um quinto encontra-se espalhado pela África Subsaariana, cerca de 30% vive no Paquistão, Índia e Bangladesh, e a maior comunidade nacional encontra-se na Indonésia. Há significantes populações islâmicas na China, Ásia Central, e Rússia. A Áustria foi o primeiro país europeu a reconhecer o Islamismo como uma religião oficial (1912), enquanto que a França tem atualmente a população mais elevada de muçulmanos da Europa Ocidental (entre 5 a 10%). Em Portugal existe uma comunidade muçulmana que nada tem a ver com os muçulmanos que ali viveram durante a Idade Média. São, na sua maioria, naturais das antigas colônias portuguesas de Moçambique e Guiné-Bissau, que se fixaram em Portugal após a independência desses territórios. O Islã Xiita Ismailita também está presente em Portugal, tendo a sua sede no Centro Ismaili de Lisboa, construído pela Fundação Aga Khan. Estima-se que o número de muçulmanos em Portugal esteja perto dos 30 mil. Segundo o censo/IBGE de 2010, o Brasil registra 1.900.000 muçulmanos. A maioria dos muçulmanos brasileiros vive nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná, mas também existem comunidades significativas no Mato Grosso do Sul e São Paulo. Grande parte destes muçulmanos são descendentes de emigrantes sírios e libaneses que se fixaram no Brasil durante a Primeira Guerra Mundial. 40 5 Calendário Islâmico: http://www.novomilenio.inf.br/porto/mapas/nmcalens.htm Mês Muhharram Safar Rabiá-al-áual Rabiá-a-Thâni Jumáda Al-Ula Jumáda A-Thânia Rajáb Xaaban Ramadan Xauál Dhu Al-Qaáda Dhu Al-Hijja Dias 30 29 30 29 30 29 30 29 30 29 30 29 Significado do nome Mês sagrado Mês da partida p/a guerra 1º mês da Primavera 2º mês da Primavera 1º mês da seca 2º mês da seca Mês do respeito e da abstinência Mês da germinação Mês do grande calor Mês do acasalamento dos animais Mês do descanso Mês da peregrinação Transcrição Muharran Saphar Rabia-1 Rabia-2 Jomada-1 Jomada-2 Rajab Shaaban Ramadan Shawwâl Dulkaada Dulheggia 6 Generalidades sobre o Islamismo: JESUS NO ALCORÃO: O exemplo de Jesus, ante Deus, é idêntico ao de Adão, que Ele criou do pó, então lhe disse: Seja! e foi. (Alcorão 3, 59). Ele (Jesus) não é mais do que um servo que agraciamos, e do qual fizemos um exemplo para os israelitas (Alcorão 43, 59). “Dize: Cremos em Deus, no que nos foi revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacó e às tribos, e no que, de seu Senhor, foi concedido a Moisés, a Jesus e aos profetas; não fazemos distinção alguma entre eles, porque somos, para Ele, muçulmanos” (Alcorão 3, 84) “O Mensageiro crê no que foi revelado por seu Senhor e todos os fiéis creem em Deus, em Seus anjos, em Seus Livros e em Seus mensageiros. Nós não fazemos distinção entre os Seus mensageiros. Disseram: Escutamos e obedecemos. Só anelamos a Tua indulgência, ó Senhor nosso! A Ti será o retorno!” (Alcorão 2, 285). “Ó adeptos do Livro, não exagereis em vossa religião e não digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um mensageiro de Deus e Seu Verbo, com o qual Ele agraciou Maria por intermédio do Seu Espírito. Crede, pois, em Deus e em Seus mensageiros e não digais: Trindade! Abstende-vos disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno. Glorificado seja! Longe está a hipótese de ter tido um filho. A Ele pertence tudo quanto há nos céus e na terra, e Deus é mais do que suficiente Guardião” (Alcorão 4, 171). Símbolos islâmicos, a lua crescente e a estrela, juntas, formam um símbolo importante nas nações de maioria muçulmana. Estão na bandeira da Turquia, seguida por outros países que têm em comum a religião fundada por Maomé, como o Paquistão, também no Oriente Médio, e a Argélia, na África. É muito comum ver esse símbolo no alto das mesquitas. O calendário islâmico baseia-se no ciclo lunar, e algumas fontes dizem que a Estrela representaria Alá (Deus). Por razões religiosas, o início de um mês no calendário muçulmano não é marcado por 41 uma nova lunação, e sim, pela visão da Lua Crescente em um determinado local. Não deixa de ser poética essa visão de contagem do tempo! ANJOS E DEMÔNIOS: O Islamismo crê, assim como o Judaísmo e o Cristianismo, na existência de anjos e demônios, que são seres puramente espirituais. CIRCUNCISÃO: Como os judeus, também os islâmicos praticam a circuncisão nas crianças. CORÃO OU ALCORÃO: É o livro sagrado do Islamismo. Alcorão significa: A Leitura. O texto possui 114 Suras (ou capítulos, cada uma com um título, e se inicia com os dizeres: “Em nome de Deus / Alá, o Clemente, o Misericordioso etc”. Apenas a Sura nº 9 não possui este começo. A denominação islâmica SUNITA, além do Alcorão, possui as SUNAS: interpretações dos primeiros Califas sobre o Alcorão. SEITA: Além do que já dissemos, dentro do Islamismo há também os grupos dos Sufis (movimento místico que data do século VII e que se desenvolveu na Pérsia), dos Sikks (oriundos da Índia, século XV, que aproximam a doutrina islâmica de certas fórmulas hindus), dos Wahhabitas (que querem viver o Islamismo em sua pureza primitiva, reagindo ao culto das relíquias, contra a importância dada ao culto dos santos, contra o luxo e a corrupção dos costumes, contra o uso do tabaco etc) e dos Bahá’is (que pregam a igualdade e a fraternidade humanas). FATWA: numa questão jurídica islâmica, é um parecer final. GUERRA SANTA: Cruzada, Jihad KAABA: Templo, de Meca, no qual Maomé mandou colocar a Pedra Negra que Adão e Eva trouxeram do Paraíso quando de lá foram expulsos. (Ver figura na página seguinte). MESQUITA: Templo islâmico, que possui um MINARETE de onde o MUEZIM chama os fieis para a oração / prece. MUEZIN: É aquele que do alto do minarete (torre) convida, em voz alta, os fiéis para a oração. PEREGRINAÇÃO A MECA: O muçulmano, caso tenha posses, tem a obrigação de, pelo menos uma vez na vida, fazer a peregrinação a Meca, cidade do Profeta. No dia da peregrinação, celebra-se uma reunião em Arafat (colina que dista uns 20 km de Meca). Ali se vestem de branco e, depois do sol posto, partem para Muzdalifa (6 km de distância), onde passam a noite em vigília e em oração. Pela manhã, partem para Mina, numa caminhada de 7 km. Ficam em Mina por uns 3 dias e, depois, seguem até Meca, onde cumprem 4 cerimônias: 1) 42 dar sete voltas em torno da Kaaba, no início e no fim da visita; 2) beijar a pedra negra; 3) beber a água Zenzem;31 4) ir e voltar correndo entre as duas colinas Al-Safa e Al-Marva. Legendas da Kaaba (Tradução da Internet: Job Parminas): 1. Pedra Preta, na esquina sudeste. 2. Porta de entrada, no Oriente; parede de 2,13 metros acima do nível do solo. Acessado através de um conjunto de escada móvel. 3. Bico feito de ouro para escoar a água da chuva. Foi adicionado na reconstrução de 1627, depois que a chuva do ano anterior provocou danos em três das quatro paredes. 4. Canaleta, também adicionada em 1627 para proteger a base da água subterrânea. 5. Hatim, um muro baixo, originalmente parte da Kaaba. Peregrinos não andam na área entre esta parede e a Kaaba. Alguns acreditam que essa área contém os túmulos de Agar e Ismael. 6. Al-Multazam, a parte da parede entre a Pedra Negra e a porta de entrada. 7. Posto de Abraão (Ibrahim). Diz-se que Abraão permaneceu sobre esta pedra durante a construção das partes superiores da Kaaba, e vez por outra levantava Ismael sobre seus ombros, em direção às partes altas da Kaaba. 8.Canto da Pedra Preta (Sudeste). 9. Canto do Iêmen (Sudoeste). Peregrinos tradicionalmente reconhecem uma grande pedra vertical que forma esse canto. 10. Esquina da Síria (Noroeste). 11. Canto do Iraque (Nordeste). 12. Kiswa, a cobertura bordada, substituída anualmente. 13. Tarja de mármore marcando o início e o fim de cada volta à Kaaba. POLIGAMIA: O homem tem direito a ter quatro mulheres. O profeta Mohamed, por ser profeta, teve o privilégio de possuir nove. Além disso, permite-se o divórcio com a condição de lhe entregar algum dinheiro e com a autorização de tomar outra no seu lugar. A mulher não tem recurso legal contra o marido. Ele pode punir a infidelidade, provada por quatro testemunhas, com a morte pela fome. O Profeta pede que os homens sejam bons com suas mulheres. RAMADÃ: Tempo de um mês de jejum para os islâmicos: em 2012 será de 20/21 de julho a 18/19 de agosto. (2013 = 8/9 julho a 7/8 de agosto; 2014 = 27/28 de junho a 26/27 de julho; 2015 = 17/18 de junho a 15/16 de julho). 31 Segundo a tradição islâmica, Ismael e sua mãe Agar foram expulsos da casa de Abraão por Sara. No deserto, sentindo sede, o menino Ismael cavou a areia e encontrou água (Zenzen). 43 SEXTA-FEIRA: é o dia considerado sagrado para o Islamismo, assim como o Sábado é o dia sagrado dos judeus e o domingo, para os cristãos. 7 Textos para aprofundamento sobre o Islamismo: CARMO, António. Antropologia das religiões. Lisboa: Universidade Aberta, 2001. ELIAS, Jamal J. Islamismo. Lisboa: Edições 70, 2000. SCHWIKART, Georg. Dicionário ilustrado das religiões. 2. ed. Tradução de Clóvis Bovo. Aparecida-SP: Editora Santuário, 2001. WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo, 16. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. Sites para consulta: http://www.islam.org.br/centro_islamicos_no_brasil.htm Calendário islâmico: http://www.novomilenio.inf.br/porto/mapas/nmcalens.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio_isl%C3%A2mico http://www.sbmrj.org.br/calendario-hegira.htm Alimentação http://www.comunidadeislamica.pt/04c.html Sociedade Beneficente Muçulmana de Belo Horizonte: Rua João Camilo de Oliveira Torres, 20: no final da Rua do Amendoim, Bairro Mangabeiras. 44 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS – PUC MINAS PROF. ISMAR DIAS DE MATOS - 2012 Capítulo VI 1 A BÍBLIA: LIVRO DE JUDEUS E CRISTÃOS 1.1 O que você sabe sobre a Bíblia? Teste seus conhecimentos! : http://super.abril.com.br/testes/voce-sabe-tudo-biblia-641516.shtml 1 - Acredita-se que a Bíblia - um dos símbolos maiores do Cristianismo - tenha começado a ser escrita por volta de: Século 15 a.C. Século 1 d.C. Século 1 a.C. Século 10 a.C. 2 - A Bíblia não foi escrita por apenas uma pessoa. Trata-se de um conjunto de livros escritos por autores variados. Os especialistas estimam que a produção e reunião de todos os textos que compõem a Bíblia foram feitas ao longo de um período de: Mais de mil anos Cerca de 70anos 300 ou 400 anos Quase 100 anos 3 - Além dos cristãos católicos, outros grupos religiosos aceitam parte das histórias bíblicas como verdadeiras. São eles: Budistas e zoroastras Cristãos protestantes e zoroastras Cristãos protestantes e judeus Judeus e ateus 4 - Qual é o significado da palavra "Bíblia"? "Os livros sagrados" "O livro do Pai" "História do mundo" "Manual da vida" 5 - Os cinco primeiros livros do Antigo Testamento são chamados no catolicismo de Pentateuco. No judaísmo eles recebem o nome de: Chabad Torá Mitsvá Anash 6 - As histórias da Bíblia derivam de lendas surgidas na chamada Terra de Canaã, que hoje corresponde a: Omã, Arábia Saudita, parte da Palestina e Líbia Líbano, Palestina, Israel e parte da Jordânia, do Egito e da Síria Parte do Egito, Palestina, Líbia e Irã Palestina, Líbano, Iêmen, Sudão, Irã, e parte de Omã 7 - De quantos livros é composto o Novo Testamento? 15 19 12 14 27 8 - Nem todos os livros da Bíblia foram aceitos imediatamente pela Igreja. Alguns foram contestados na Antiguidade, como é o caso de: Malaquias e Ageu Apocalipse de João e algumas Epístolas Católicas menores Deuteronômio Gênesis e Tobias 45 9 - Para terminar, vamos ver se você sabe responder: Qual é a Bíblia mais valiosa do mundo? A Bíblia produzida pelo alemão Johannes Gutenberg, o inventor da imprensa A Bíblia que fica no hall do museu Louvre, em Paris A Bíblia que o Papa Bento 16 usa nas missas do Vaticano A Bíblia do príncipe espanhol Felipe de Bourbon, com capa revestida de ouro 1.2 A estrutura da Bíblia A estrutura da Bíblia pode ser comparada a uma grande estante de livros. Divida a estante verticalmente ao meio: de um lado vão os 39 (ou 46) livros do Primeiro ou Antigo Testamento; do outro, os 27 do Segundo ou Novo Testamento. Depois divida cada lado em três ou quatro andares, e guarde os livros conforme seu tipo. PRIMEIRO OU ANTIGO TESTAMENTO SEGUNDO OU NOVO TESTAMENTO Pentateuco ou Torá Evangelhos e Atos Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio Mateus, Marcos, Lucas, João Históricos e Proféticos Josué, Juízes, I e II Samuel, I e II Reis Cartas de Paulo e Pastorais Isaías, Jeremias, Ezequiel Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias Livros de Sabedoria, de Festa e Outros Escritos Salmos, Jó, Provérbios Rute, Cantares, Eclesiastes, Lamentações, Ester Atos Daniel, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonissenses I e II Timóteo, Tito, Filemom Escritos diversos e Apocalipse Hebreus, Tiago, I e II Pedro, I, II e III João, Judas Apocalipse Deuterocanônicos (fora da TANAK e Bib.protestante) Judite, Tobias, I e II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e Epístola de Jeremias. 2 Bíblia: livro ou livros? A forma mais antiga de livro de que se tem notícia era um rolo de papiro, planta abundante às margens do rio Nilo, usada pelos antigos egípcios, gregos e romanos para escrever. A palavra grega para papiro era biblos, derivada do nome do porto fenício de Byblos, hoje Jubayl, Líbano, através do qual o papiro era exportado. O plural de biblos (livro, em grego [βίβλιον]) era tá bibliá, que significava literalmente os livros, e que acabou entrando para o latim eclesiástico para designar o conjunto de livros sagrados que compõem a Bíblia (βίβλια). Livros bíblicos (1º e 2º Testamentos) e suas abreviaturas: Livros do 1º Testamento Abreviaturas Gênesis....................................................................................... Êxodo........................................................................................ Levítico..................................................................................... Números.................................................................................... Deuteronômio........................................................................... Gn Ex Lv Nm Dt Josué........................................................................................... Js 46 Juízes.......................................................................................... Rute........................................................................................... Samuel........................................................................................ Reis............................................................................................ Crônicas..................................................................................... Esdras........................................................................................ Neemias.................................................................................... Tobias (*)................................................................................. Judite (*)................................................................................. Ester........................................................................................ Jz Rt 1Sm, 2Sm 1Rs, 2Rs 1Cr, 2Cr Esd Ne Tb Jt Est Macabeus (*).......................................................................... Jó............................................................................................. Salmos...................................................................................... Provérbios............................................................................... Eclesiastes (Coélet) ................................................................ Cântico..................................................................................... Sabedoria (*)............................................................................ Eclesiástico (ou Sirácida) (*)................................................... 1Mc, 2Mc Jó Sl Pr Ecl Ct Sb Eclo Isaías........................................................................................ Jeremias................................................................................... Lamentações............................................................................ Baruc (*)................................................................................ Ezequiel...................................................................................... Daniel......................................................................................... Oseias......................................................................................... Joel............................................................................................ Amós......................................................................................... Abdias........................................................................................ Jonas.......................................................................................... Miqueias.................................................................................... Naum......................................................................................... Habacuc..................................................................................... Sofonias..................................................................................... Ageu.......................................................................................... Zacarias..................................................................................... Malaquias32.................................................................................. Is Jr Lm Br Ez Dn Os Jl Am Ab Jn Mq Na Hab Sf Ag Zc Ml (*) Os livros destacados em negrito são os chamados “Deuterocanônicos” e, como já afirmamos acima, não constam na TANAK hebraica nem na Bíblia Protestante. Livros do 2º Testamento Mateus.................................................................................. Marcos.................................................................................. Lucas................................................................................... João..................................................................................... Atos dos Apóstolos............................................................. Romanos............................................................................. Coríntios (duas).................................................................. Gálatas.................................................................................. Efésios.................................................................................. Filipenses............................................................................. Colossenses......................................................................... Abreviaturas Mt Mc Lc Jo At Rm 1Cor, 2Cor Gl Ef Fl Cl 32 Todos os doze profetas menores: Ó JOAM, ABDIAS JONAS MIQUEIA NAUM, HÁ SÓ AZÁ (PARA) MALAQUIAS. 47 Tessalonicenses (duas)......................................................... Timóteo (duas)..................................................................... Tito....................................................................................... Filemon33.................................................................................. Hebreus.................................................................................. Carta de São Tiago................................................................. Cartas de São Pedro (duas)................................................... Cartas de São João (três)....................................................... Carta de São Judas................................................................. Apocalipse.............................................................................. 1Ts, 2Ts 1Tm, 2Tm Tt Fm Hb Tg 1Pd, 2Pd 1Jo, 2Jo, 3Jo Jd Ap 3 As citações bíblicas são feitas do seguinte modo: A vírgula separa capítulo de versículo. Ex.: Gn 3,1 (Livro do Gênesis, cap. 3, v. 1); O ponto e vírgula separa capítulos e livros. Ex.: Gn 5,1-7; 6,8; Ex 2,3 (Livro do Gênesis, cap. 5, vv. de 1 a 7; cap. 6, v. 8; Livro do Êxodo, cap. 2, v. 3); O ponto separa versículo de versículo, quando não seguidos. Ex.: 2Mc 3,2.5.7-9 (2º livro dos Macabeus cap. 3, vv. 2,5 e de 7 a 9); O hífen indica sequência de capítulos ou de versículos. Ex.: Jo 3-5; 2Tm 2,1-6; Mt 1,5-12,9 (Evangelho segundo s. João, capítulos de 3 a 5, 2ª carta a Timóteo, cap. 2, vv. de 1 a 6; Evangelho segundo Mateus, do cap 1, v. 5 ao cap. 12, v. 9). 3.1 A Bíblia e o celular (retirado da Internet) Já imaginou o que aconteceria se tratássemos a nossa Bíblia do jeito que tratamos o nosso celular? E se sempre carregássemos a nossa Bíblia no bolso ou na bolsa? E se déssemos uma olhada nela várias vezes ao dia? E se voltássemos para apanhá-la quando a esquecemos em casa, no escritório? E se a usássemos para enviar mensagens aos nossos amigos? E se a tratássemos como se não pudéssemos viver sem ela. E se a déssemos de presente às crianças? E se a usássemos quando viajamos? E se lançássemos mão dela em caso de emergência? Mais uma coisa: Ao contrário do celular, a Bíblia não fica sem sinal.. Ela 'pega' em qualquer lugar. Não é preciso se preocupar com a falta de crédito porque Jesus já pagou o preço e os créditos não têm fim. E o melhor de tudo: não cai a ligação e a carga da bateria é para toda a vida. 'Buscai a Deus enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto' (Is 55,6) 33 Chave mnemônica para as 14 cartas paulinas: ROCOCÓ- GALEFI-COLTETÉ- TITITI- FILÉ 48 4 Quatro níveis de leitura da bíblia Falamos, em nossas aulas, de quatro níveis de leitura do texto bíblico. No Judaísmo existem quatro níveis de interpretação ou quatro orientações de leitura da palavra. É o Pardés, palavra formada com as letras iniciais das palavras Pshat /Remez /Drash / Sod. 4.1 - Nível Simples (Pshat, em hebraico) é o sentido literal, isto é, o que se lê corresponde a realidade. Estilo fundamentalista de leitura do texto. É ruim e intransigente porque, muitas vezes, não tolera outra abordagem que não seja a literal. 4.2 - Nível de Insinuação (Remez, em hebraico) é a verdade oculta por trás das palavras. Tentar descobrir o que o texto “esconde” além de seu sentido literal. O leitor (se) pergunta: “O que será que está por trás destas palavras?” Momento em que é possível (e necessário) fazer uma boa exegese34 para se conseguir uma boa hermenêutica (interpretação). 4.3 - Nível de Revirar, remover, etc (Drash, em hebraico) são as verdades ocultas ilustradas por parábolas e guematrias. o nome de DaViD. As consoantes são, Exemplo de guematria realizada com respectivamente, a 4ª, a 6ª e 4ª que, somadas, dão nº 14 (4+6+4). São 14 as gerações de Abraão até David; 14 de David até o exílio na Babilônia; 14 do exílio babilônico até Jesus (Mt 1,17). 4.4 - Nível do Segredo, da Mística (Sod, em hebraico) É quando o texto se transforma em oração. É o secreto ou segredo que se mostra, aquilo que Deus revela. Jesus utiliza frequentemente de parábolas, dando maior entendimento às suas ideias. Ele é um mestre especialista no nível de interpretação Drash. Mt 13,11 explica bem essa peculiaridade. A Pedagogia do rabino (ou sábio) é também gradual. Não cai jamais em precipitações que possam atrapalhar o aprendizado. O Mestre semeia e espera que as sementes germinem e frutifiquem. Com as iniciais das palavras hebraicas acima (P,R,D,S) poderemos formar a palavra PaRDéS que, em hebraico, significa Pomar, Jardim ou Paraíso. Não se trata de um lugar físico, mas levanos a crer que quem amar e entrar nas Sagradas Escrituras também entrará num jardim certo e ali encontrará paz e nada lhe faltará: encontrou o paraíso. 5 Método exegético, história das formas e gêneros literários na Bíblia Falar de formas e gêneros literários é buscar um sentido além do sentido literal, é buscar o sentido original do texto. É um padrão normal da exegese moderna. Em geral, todo método exegético moderno aborda os seguintes tópicos: 5. 1 MÉTODO EXEGÉTICO BÍBLICO a) Critica textual (para se evitar o fundamentalismo, isto é, o entendimento no nível 1 = ao pé da letra). Se os manuscritos originais desapareceram ou nunca foram encontrados, como se sabe que o texto atual corresponde ao original? Até que ponto o texto que possuímos é fiel ao original? Em 1008, foi encontrado um manuscrito básico para a edição da melhor bíblia hebraica que se tem hoje. Mas, questiona-se: por quanto tempo o livro foi sendo recopiado, e foi adquirindo erros de escrita? Muitas vezes, vários manuscritos (cópias) de um mesmo livro trazem palavras diferentes. O manuscrito mais antigo do 1º Testamento era composto de fragmentos de um papiro do I ou II século a.C. Os beduínos acharam às margens do Mar Morto vários manuscritos datando do II século a.C, alguns, como o livro de Isaías, cujo texto é quase completamente igual ao que temos. A Bíblia original 34 A exegese procura aprofundar-se em um texto pela etimologia, pelo estilo literário, pela busca do sentido primeiro do texto para, então, vê-lo dentro de um contexto. A exegese auxilia a hermenêutica. 49 (copiada) data do século II d.C. Os rabinos tinham muito cuidado em transmitir a doutrina, e procuravam unificar os textos. Os textos velhos eram colocados em lugares onde ninguém podia mais usá-los, chamados gezidas. Numa destas gezidas foi encontrado um documento do ano 800, aproximadamente, do qual aquele de 1008 é cópia. A diferença entre ambos é pouquíssima. Ora, se a nossa Bíblia é a tradução daquele manuscrito, considerado autentico, aquela Bíblia é a melhor. b) SITZ IN LEBEN (Situação na vida). Trata-se de situar o texto em um contexto histórico social. Há livros que antes de serem escritos, foram passados oralmente por várias gerações. Cada manuscrito que serviu para a composição de um texto tem uma história diferente. Por isso, os peritos o dividem em perícopes (textos “independentes”) e estudam as tradições e suas fontes. E como o manuscrito chegou a esta fonte? Deste estudo se deduz a 'sitz in leben' (situação na vida) deste manuscrito no gênero literário. c) História da redação - Por que há certas palavras a mais ou a menos nos Evangelhos? Isto varia com a 'sitz in leben' do manuscrito. Quem determina isto é a critica literária. Tudo isso dentro do estudo da história das formas. 5.2 GÊNEROS LITERÁRIOS BÍBLICOS Dividem-se assim os diversos gêneros literários encontrados na Bíblia: a) narrativo-didático: que se subdivide em = mito; saga; legenda ou lenda; conto; fábula; alegoria e parábola. a.1) Mito35- conto que se passa com deuses, ou cujos personagens são os deuses. Tem tonalidade solene e é originário de círculos politeístas. A mitologia politeísta babilônica, por exemplo, muito influenciou no povo de Israel, que sempre foi monoteísta. Isso se vê nos salmos. Nos livros históricos, a influência é mais velada. Mas a árvore da vida do Gênesis já existe num poema de Gilgamés, de origem Babilônica. A história do dilúvio tem uma similar na cultura babilônica. É o caso de uma deusa que era amada ao mesmo tempo por um deus e por um homem. Então para matar o homem, o deus mandou o dilúvio. O importante a se notar nisso tudo é que, ao transcrever para o livro sagrado, o autor purifica a lenda, tirando as características politeístas e serve-se da cultura popular para levar uma mensagem. A árvore da vida, na bíblia, significa que o homem foi criado para não morrer. A sabedoria babilônica explica que o mundo nasceu de uma briga dos deuses. O deus vencido foi partido ao meio. De uma metade fez o deus vencedor o céu; de outra fez a terra. Depois pediu a um deus artista que fizesse o homem com o sangue apodrecido do deus vencido. Por isso, o homem e o mundo são maus do princípio. O autor sagrado aproveita-se desses elementos, mas purificando-os e adaptando-os. A tradicional briga dos anjos com Lúcifer existe num mito fenício sob a forma de uma briga de deuses. A linguagem mítica da bíblia, o antropomorfismo de Deus. Tudo isso tem origem dessa inspiração na literatura exterior a Israel. a.2) Saga - contos que se ligam a lugares, pessoas, costumes, modos de vida dos quais se quer explicar a origem, o valor, o caráter sagrado de qualquer fenômeno que chama a atenção. A saga se chama etiológica quando procura a causa de um fenômeno. Por exemplo, para explicar a existência de uma vegetação pobre e espinhosa na região sul ocidental do Mar Morto, surgiu a lenda de Sodoma e Gomorra, a chuva de enxofre (Livro do Gênesis, cap. 19). A origem de várias estátuas de pedra, formadas pela erosão é explicada pela história da mulher de Ló, que foi transformada em estátua (Gn 35 Do grego Mythos. Deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar de alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Os ouvintes recebem o mito como narrativa verdadeira, pois confiam na autoridade de quem narra, pois ele testemunhou ou ouviu de testemunha fiel o que está contando. 50 19, 26). A narrativa de Caim e Abel é outra, para explicar a origem de uma tribo cujos integrantes tinham um sinal na testa. Explicavam que Deus colocara um sinal em Caim para que ninguém o matasse, e daí este sinal ficou para a descendência (Gn 4, 15 em diante). O próprio nome de Caim é inventado, porque a tribo tinha o nome de cainitas e eles deduziram que seu fundador devia chamar-se Caim. A saga se chama etimológica quando é para explicar um nome. Existe na Palestina uma Ramat Leqi (montanha da queixada). Para explicar a origem deste nome eles inventaram a história de Sansão, um homem muito forte, que lutara contra muitos inimigos usando uma queixada, e os vencera. Depois ele jogou a queixada naquele monte, que ficou conhecido como monte da queixada. O caso das filhas de Ló (Gn, 19) é uma história difamatória contra os amonitas e moabitas, tradicionais inimigos de Israel. (Amon e Moab significam 'do pai'). Outras sagas da Bíblia: a de Noé embriagado; a briga de Labão com Jacó (Gn 31). A saga se chama heróica quando tem por finalidade engrandecer a vida dos heróis do passado. O valor da saga está na riqueza popular (folclórica – de VOLK + LORE) que ela traz. Nem sempre há lição em cada uma. Mas a fartura de detalhes que ela traz mostra a mentalidade do povo. Seu valor é maior para a crítica literária. a.3) Legenda ou Lenda - distingue-se da saga porque se refere a pessoas ou objetos sagrados e quer demonstrar a santidade destes por meio de um fato maravilhoso. Legendas na Bíblia há em Nm 16,1 17,15: histórias a respeito de Moisés; Dan l, 2, 3, 4: sonhos de Daniel; Os milagres de Elias contra os sacerdotes de Baal; Gn 28,10: Jacó sonha com os anjos (pedra de Betel). É comum nas legendas referirse à lei ou objeto de culto. A imolação de Isaac, que não deu certo, é para reprimir um costume dos cananeus de imolar crianças, costume proibido pela lei de Moisés. A serpente de bronze (Nm 21) se refere a uma serpente de bronze mandada fazer pelo rei Manassés, que foi destruída por Javé. A circuncisão (Gn 17) é explicada assim: Deus apareceu a Abraão para fazer aliança com ele e o pacto era a circuncisão de todos os meninos no oitavo dia (Js 5, 9). Ex 12 e 13 falam da origem da Páscoa. a.4) Parábolas, fábulas, alegorias - parábola é uma história comparativa, de sentido global (ex: II Sm 12, 1-4); fábula é a narrativa que faz os seres inanimados ou os animais falarem (ex: Juízes, 9,7); alegoria é uma história comparativa em que cada elemento tem um significado particular (ex: Is 5, 1-7). Há ainda o apólogo, quando se trata da animação de objetos. b) narrativo-histórico Difere do didático porque pretende contar um fato acontecido realmente. Há três tipos: b.1) popular, em que ninguém sabe o fim da lenda e o começo da história. É uma história primitiva, baseada em histórias que corriam na boca do povo, um misto de elementos verídicos e legendários acrescentados. Os livros Josué e Juízes (550 a.C.) estão nesta categoria. b.2) epopeia (nacional-religiosa) são histórias retiradas da catequese do povo. Se bem que tenham elementos acrescentados, todavia a mensagem pode ser considerada autêntica. O exemplo mais típico desse gênero é a narração epopeica da passagem do mar vermelho (Ex. 14 ). A fuga de Israel do Egito está ligada a um fato acontecido no tempo de Ramsés II. Ele foi um faraó que empreendeu grandes conquistas, principalmente à procura de escravos para trabalhar. Entre os povos submetidos havia um grupo de judeus. Mais tarde, fraquejou a vigilância, e muitos fugiram, inclusive muitos judeus. Então eles empreenderam a fuga pelo deserto e se aproveitaram de uma região onde havia um braço de mar que secava durante a maré baixa para sair do território egípcio. 51 Esta narrativa na Bíblia é contada com todos aqueles retoques conhecidos. Mas se analisarmos bem, veremos que na própria Bíblia, há duas citações do mesmo fato. São as duas tradições36: a Javista, mais antiga, afirma que o vento soprou durante toda a noite e fez o mar recuar; a Sacerdotal, mais recente, modificou a narração para a divisão das águas em duas muralhas por onde todos passaram em seco. Há uma certa contradição nessas duas. Mas o que se deve concluir daí é que os soldados os perseguiram na fuga e eles passaram na maré baixa. Quando os soldados chegaram, a maré já subira e não dava passagem. Enquanto isso, eles se adiantaram ainda mais. Ao transcrever isso na Bíblia, o autor sagrado quer mostrar o fato da presença de Deus em ajuda a seu povo, através dos elementos da natureza. b.3) historiográfico - é o trabalho dos escribas encarregados de escrever as crônicas dos anais dos reis. A partir dessas crônicas vários livros foram escritos. O 1º livro de Reis, cap. 11, vers. 41 cita os anais de Salomão; em 14, 19 afirma que o restante está nos livros das crônicas dos Reis de Israel. São documentos de maior credibilidade, porque são mais históricos. Somente a partir do livro dos Reis, é que são usados documentos escritos na época. Antes era apenas história popular. c) Legislativo (Latim: Lex, Legis = Lei) É representado na Bíblia, principalmente no Pentateuco, ou seja, nos cinco primeiros livros da Bíblia, que têm muito em comum com os outros povos vizinhos e herdou muito deles. Há passagens na Bíblia que são repetições do código de Hamurábi. Os povos orientais são muito ricos nesse tipo de literatura. Quanto aos tipos de leis, há três: 1. leis causídicas: pormenorizadas conforme as situações; 2. leis apodíticas: universais; 3. leis rituais. d) Sapiencial Originou-se também dos povos vizinhos, principalmente a partir do Exílio. É de origem profana e não religiosa, pois as suas fontes também não eram religiosas. O povo oriental é pensador por natureza e a sabedoria é uma virtude muito difundida e apreciada. A sabedoria bíblica não difere muito da sabedoria oriental em geral. e) Profético Também tem origem fora de Israel. Os povos da época tinham seus profetas. Eles moravam nos palácios dos reis e eram os que dialogavam com os deuses. É preciso notar que naquela época profeta não era sinônimo de adivinho, como às vezes se identifica. Eles·manifestavam ao povo a vontade de Deus com sermões, com sinais, exortações e oráculos. f) Salmos (São 150 salmos) Também tem influência externa (fora de Israel). Não são todos de Davi. Apareceram conforme as necessidades. Foram compostos sem sequência ou cronologia. São cantos de louvor, de súplica, etc. 6 Exercícios de interpretação bíblica 6.1 Trecho do Sermão da Montanha (Mt 5,3-10) Pode-se dizer que este trecho do Sermão da Montanha é o discurso inaugural da pregação de Jesus, pois todas as outras falas d’Ele encontram aqui um respaldo fundamental. 36 As mais importantes tradições bíblicas são quatro: J-E-P-D: Javista (J, chama a Deus de Javé), Eloísta (E, chama a Deus de Elohim), Deuteronomista (D, trata-se de uma segunda lei) e Sacerdotal (P, pois deriva de Priester-Kodex). 52 Bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino do Céu; Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra; Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus; Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa de mim, porque deles é o Reino. Sugestão para uma leitura de versículos considerados paralelamente: ler o 1º versículo em paralelo com o versículo 5º; o 2º com o 6º; o 3º com o 7º; o 4º com o 8º, como segue: Bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino do Céu; Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra; Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus; Bem-aventurados os pacíficos, pq serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa de mim, porque deles é o Reino. Algumas “pistas” sobre o texto: Os pobres (anawin) só têm a misericórdia de Deus. Quem tb terá misericórdia deles? Mansos são os retos, os bem intencionados, honestos e quem se une a eles sem demagogia, sem segundas intenções também verá a Deus porque veem o irmão; Os que choram (são tantos e choram por tantos motivos!) encontrarão nos pacíficos uma fraternidade consoladora; serão irmãos, filhos de Deus. Sedentos de justiça = empobrecidos (≠ de pobre!), explorados... perseguidos; são aqueles que assumem sua defesa; serão os herdeiros do Reino. Perguntas básicas que podemos fazer (e nos fazer) hoje: 1. O trecho do Sermão da Montanha tem um sentido de Libertação ou de Alienação? P q? 2. O que podemos entender, hoje, por Reino dos Céus? 3. Quais seriam os “Bem-aventurados” de hoje, em nossa sociedade? 6.2 O DECÁLOGO (ou OS DEZ MANDAMENTOS) - Livro do Êxodo: 20, 2-17 Há muitos modos de ler um texto, e cada modo nos leva a descobrir novos significados. Os antigos cultivavam uma técnica literária chama QUIASMO, que consiste em construir o texto a partir de Núcleo Central. Ao redor desse núcleo ou ideia central monta-se o resto, usando a técnica do paralelismo, de modo a conseguir diversas correspondências em paralelo. No fim o 53 texto parece uma cebola, onde as várias capas ou folhas envolvem o centro, preparando e tirando as consequências do tema central. Vejamos, então, o Decálogo (Dez Mandamentos): 1. Então Deus pronunciou todas estas palavras: 2. Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão. 3. Não terás outros deuses diante de minha face. 4. Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. 5. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniquidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam, 6. mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. 7. “Não pronunciarás o nome de Javé, teu Deus, em prova de falsidade, porque o Senhor não deixa impune aquele que pronuncia o seu nome em favor do erro. 8. Lembra-te de santificar o dia de sábado. 9. Trabalharás durante seis dias, e farás toda a tua obra. 10. Mas no sétimo dia, que é um repouso em honra do Senhor, teu Deus, não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu animal, nem o estrangeiro que está dentro de teus muros. 11. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que contêm, e repousou no sétimo dia; e por isso. O Senhor abençoou o dia de sábado e o consagrou. 12. Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus. 13. NÃO MATARÁS. 14. Não cometerás adultério. 15. Não furtarás. 16. Não levantarás falso testemunho contra teu próximo. 17. Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence. Podemos dizer que o Versículo 13, 5º mandamento, é o centro do Decálogo: não matarás. Esse é o problema que está por trás de todos os nossos problemas pessoais e sociais: lutar contra a Morte, para preservar a Vida. Os diversos mandamentos e aspectos dessa luta fundamental são apresentados nos outros mandamentos, que se correspondem 2 a 2, aos pares, como vimos na análise das Bem-aventuranças: o vers. 4º com o 6º, o 3º com o 7º, o 2º com o 8º e o 1º com o 9º. Na verdade, nunca se viola um mandamento só, porque um sempre implica também o outro. E a observância de todos leva à Vida. A violação de um só deles desmonta o conjunto inteiro, e acaba sempre comprometendo a Vida e produzindo algum tipo de morte. 6.3 Uma visão esquemática do texto O Decálogo (Êxodo 20, 2-17) também pode ser lido no livro do Deuteronômio 5, 6-21, conforme correspondência abaixo: 54 Introdução: Versículos 1e 2. 1º Mandamento: Versículos 3-6 – Servir ao Deus libertador: Vida (Cf. Dt. 5,6-10) 2º Mandamento: Versículo 7 – Não manipular o nome de Deus (Cf. Dt. 5,11) 3º Mandamento: Versículos 8-11 – Trabalhar e descansar (Cf. Dt. 5,12-15) 4º Mandamento: Versículo 12 – Honrar a própria família (Cf. Dt. 5,16) 5º Mandamento: Versículo 13 – Lutar contra a morte pela Vida (Cf. Dt. 5,17) 6º Mandamento: Versículo 14 – Não adulterar a família do próximo (Cf. Dt. 5,18) 7º Mandamento: Versículo 15 – Não roubar o trabalho e o descanso (Cf. Dt. 5,19) 8º Mandamento: Versículo 16 – Não difamar o nome do próximo (Cf. Dt. 5,20) 9º e 10º Mandamentos: Versículo 17 – Não cobiçar os bens do próximo (Cf. Dt. 5,21) Apresentamos, adiante, uma leitura tomando o 5º mandamento - Lutar contra a morte pela Vida - como centro ou núcleo. Os demais versículos, dois a dois, vão envolvendo esse núcleo. Como a vida nos vem pela família, então temos que protegê-la e honrá-la e, ao mesmo tempo, cuidar para que a família do próximo receba o mesmo tratamento que a nossa. Não podemos cuidar da nossa família e adulterar a do próximo. Também, para cuidar de nossa família é preciso trabalhar e descansar; ao mesmo tempo é preciso que cuidemos, solidariamente, para que ninguém nos roube nem roube o trabalho e o descanso do próximo. Vejamos como fica o esquema: 6.4 Visão concêntrica ou quiástica do Decálogo37: Servir ao Deus libertador da Vida Não manipular o nome de Deus Trabalhar e descansar Honrar a própria família Lutar contra a Morte pela Vida Não adulterar a família do próximo Não roubar o trabalho e o descanso Não difamar o nome do próximo Não cobiçar os bens do próximo 37 Ler assim também o texto de Ex.1, 15-22, tendo os vers. 18-19 como centro: ler os paralelos 15-16//22; 17// 20-21. Um segunto texto é Ex.2, 1-10, tendo como centro os vers. 5 e 6; ler os paralelos1-2//10c.f; 2 c-3e//9-10b; 4//7-8. 55 6.5 NOVO DECÁLOGO (Ramsi Said) Amar os amigos sobre todas as coisas. Amar as árvores, os rios e os pássaros como a si mesmo. Sobreviver, mesmo sem ter pai ou mãe. Não trair os amigos, mesmo que isso nos custe a vida. Não pecar pela hipocrisia. Não ter medo de matar, se preciso for. Não gastar a saúde para ganhar dinheiro. Não deixar para amanhã a alegria que você pode ter hoje. Não acumular além do que pode carregar enquanto peregrina. Não pecar contra a caridade. 7. Apocalipse: breve explicação de alguns de seus símbolos O último livro do Segundo ou Novo Testamento é o Apocalipse, considerado enigmático, profético etc. A palavra grega “apocalipse” significa REVELAÇÃO, isto é, um desvelamento, uma mostra daquilo que estava escondido. Mas é uma indicação indireta, realizada por meio de símbolos, ou seja, uma linguagem cifrada ou codificada. Quem entender os símbolos entenderá o conteúdo todo. Quem não entender a simbologia ficará apenas com o sentido literal do que foi dito e não enxergará o que está “por trás” do que foi dito. Vejamos, então, três capítulos. LIVRO DA “REVELAÇÃO” OU APOCALIPSE (1-2.12) Capítulo 1: (1) Revelação de Jesus Cristo, que lhe foi confiada por Deus para manifestar aos seus servos o que deve acontecer em breve. Ele, por sua vez, por intermédio de seu anjo, comunicou ao seu servo João, (2) o qual atesta, como palavra de Deus, o testemunho de Jesus Cristo e tudo o que viu. (3) Feliz o leitor e os ouvintes se observarem as coisas nela escritas, porque o tempo está próximo. (4) João às sete igrejas que estão na Ásia: a vós, graça e paz da parte daquele que é, que era e que vem da parte dos sete Espíritos que estão diante do seu trono (5) e da parte de Jesus Cristo, testemunha fiel, primogênito dentre os mortos e soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama, que nos lavou de nossos pecados no seu sangue (6) e que fez de nós um reino de sacerdotes para Deus e seu Pai, glória e poder pelos séculos dos séculos! Amém. (7) Ei-lo que vem com as nuvens. Todos os olhos o verão, mesmo aqueles que o traspassaram. Por sua causa, hão de lamentar-se todas as raças da terra. Sim. Amém. (8) Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que vem, o Dominador. (9) Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. (10) Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e ouvi, por trás de mim, voz forte como de trombeta, (11) que dizia: O que vês, escreve-o num livro e manda-o às sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodicéia.(12) Voltei-me para saber que voz falava comigo. Tendo-me voltado, vi sete candelabros de ouro (13) e, no meio dos candelabros, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestindo longa túnica até os pés, cingido o peito por um cinto de ouro. (14) Tinha ele cabeça e cabelos brancos como lã cor de neve. Seus olhos eram como chamas de fogo. (15) Seus pés se pareciam ao bronze fino incandescido na fornalha. Sua voz era como o ruído de muitas águas. (16) Segurava na mão direita sete estrelas. De sua boca saía uma espada afiada, de dois gumes. O seu rosto se assemelhava ao sol, quando brilha com toda a força. (17) Ao vê-lo, caí como morto aos seus pés. Ele, porém, pôs sobre mim sua mão direita e disse: Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive. (18) Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos, tenho as chaves da morte e da região dos mortos. (19) Escreve, pois, o que viste, tanto as coisas atuais como as futuras. (20) 56 Eis o simbolismo das sete estrelas que viste na minha mão direita e dos sete candelabros de ouro: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candelabros, as sete igrejas. Capítulo 2: (1)Ao anjo da igreja de Éfeso, escreve: Eis o que diz aquele que segura as sete estrelas na sua mão direita, aquele que anda pelo meio dos sete candelabros de ouro. (2) Conheço tuas obras, teu trabalho e tua paciência: não podes suportar os maus, puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são e os achaste mentirosos. (3) Tens perseverança, sofreste pelo meu nome e não desanimaste. (4) Mas tenho contra ti que arrefeceste o teu primeiro amor. (5) Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna às tuas primeiras obras. Senão, virei a ti e removerei o teu candelabro do seu lugar, caso não te arrependas.(6) Mas isto tens de bem: detestas as obras dos nicolaítas, como eu as detesto.(7) Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor darei de comer (do fruto) da árvore da vida, que se acha no paraíso de Deus.(8) Ao anjo da igreja de Esmirna, escreve: Eis o que diz o Primeiro e o Último, que foi morto e retomou a vida. (9) Eu conheço a tua angústia e a tua pobreza - ainda que sejas rico - e também as difamações daqueles que se dizem judeus e não o são, são apenas uma sinagoga de Satanás. (10) Nada temas ante o que hás de sofrer. Por estes dias o demônio vai lançar alguns de vós na prisão, para pôr-vos à prova. Tereis tribulações durante dez dias. Sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida.(11) Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor não sofrerá dano algum da segunda morte. (12) Ao anjo da igreja de Pérgamo, escreve: Eis o que diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes. (13) Sei onde habitas: aí se acha o trono de Satanás. Mas tu te apegas firmemente ao meu nome e não renegaste a minha fé, mesmo naqueles dias em que minha fiel testemunha Antipas foi morto entre vós, onde Satanás habita. (14) Todavia, tenho alguma coisa contra ti: é que tens aí sequazes da doutrina de Balaão, o qual ensinou Balac a fazer tropeçar os filhos de Israel, para levá-los a comer carne imolada aos ídolos e praticar imundícies. (15) Tens também sequazes da doutrina dos nicolaítas.(16) Arrepende-te, pois, senão virei em breve a ti e combaterei contra eles com a espada da minha boca. (17) Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor darei o maná escondido e lhe entregarei uma pedra branca, na qual está escrito um nome novo que ninguém conhece, senão aquele que o receber. (18) Ao anjo da igreja de Tiatira, escreve: Eis o que diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chamas de fogo e os pés semelhantes ao fino bronze. (19) Conheço tuas obras, teu amor, tua fidelidade, tua generosidade, tua paciência e persistência, e as tuas últimas obras, que excedem as primeiras. (20) Mas tenho contra ti que permites a Jezabel, mulher que se diz profetisa, seduzir meus servos e ensinar-lhes a praticar imundícies e comer carne imolada aos ídolos.(21) Eu lhe dei tempo para arrepender-se, mas não quer arrepender-se de suas imundícies.(22) Desta vez a lançarei num leito, e com ela os cúmplices de seus adultérios para aí sofrerem muito, se não se arrependerem das suas obras.(23) Farei perecer pela peste os seus filhos, e todas as igrejas hão de saber que eu sou aquele que sonda os rins e os corações, porque darei a cada um de vós segundo as suas obras. (24) A vós, porém, e aos demais de Tiatira que não seguis esta doutrina e não conheceis (como dizem) as profundezas de Satanás, não imporei outro fardo. (25) Mas guardai o que tendes até que eu venha. (26) Então ao vencedor, ao que praticar minhas obras até o fim, dar-lhe-ei poder sobre as nações pagãs.(27) Ele as regerá com cetro de ferro, como se quebra um vaso de argila, (28) assim como eu mesmo recebi o poder de meu Pai, e dar-lhe-ei a Estrela da manhã. (29) Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Capítulo 12: (1) Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.(2) Estava grávida e gritava de dores, sentindo as angústias de dar à luz. (3) Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão 57 vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas. (4) Varria com sua cauda uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse Dragão deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho. (5) Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono. (6) A Mulher fugiu então para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um retiro para aí ser sustentada por mil duzentos e sessenta dias. (7) Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, (8) mas não prevaleceram. E já não houve lugar no céu para eles. (9) Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com ele os seus anjos. (10) Eu ouvi no céu uma voz forte que dizia: Agora chegou a salvação, o poder e a realeza de nosso Deus, assim como a autoridade de seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que os acusava, dia e noite, diante do nosso Deus. (11) Mas estes venceram-no por causa do sangue do Cordeiro e de seu eloqüente testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte. (12) Por isso alegrai-vos, ó céus, e todos que aí habitais. Mas, ó terra e mar, cuidado! Porque o Demônio desceu para vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta. (13) O Dragão, vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino. (14) Mas à Mulher foram dadas duas asas de grande águia, a fim de voar para o deserto, para o lugar de seu retiro, onde é alimentada por um tempo, dois tempos e a metade de um tempo, fora do alcance da cabeça da Serpente. (15) A Serpente vomitou contra a Mulher um rio de água, para fazê-la submergir. (16) A terra, porém, acudiu à Mulher, abrindo a boca para engolir o rio que o Dragão vomitara. (17) Este, então, se irritou contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência, aos que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus. (18) E ele se estabeleceu na praia. Retiramos do livro de Frei Carlos Mesters, “Esperança de um povo que luta: o Apocalipse de São João, uma chave de leitura”, a explicação dos principais símbolos. 01. Mulher grávida (12,1-2): É o povo de Deus. É também Maria, mãe de Jesus, gerando o Libertador. 02. Dragão ou Serpente (12, 3.9): É o poder do mal que opera no mundo, satanás. 03. Sete cabeças (12,3): são as sete colinas da cidade de Roma (17,9) ou sete reis (17,9-10). 04. Dez chifres (12,3): Chifre é sinal de poder ou de rei (17,12). Dez chifres indica totalidade, poder completo. 05. 1260 dias (12,6), 42 meses (11,2), tempos, tempo, meio tempo (12,14): é a metade de 7 anos. Indica um tempo limitado e imperfeito. Deus limita o tempo do perseguidor. 06. Asa de águia (12,14): é a proteção com que Deus conduz o seu povo (Dt 32,11; Ex, 19,4). 07. Besta fera (13,1): é o Império Romano, o poder que encarna o mal; capanga do dragão. 08. Besta fera com aparência de cordeiro e voz de dragão (13,11): são os falsos profetas que se colocam a serviço do Império Romano, ajudando a enganar e a enrolar o povo. 09. Pantera. Urso. Leão (13,2): símbolos da voracidade e de exploração. 10. Cordeiro (14,1): é Jesus, o Cordeiro pascal, cujo sangue traz a libertação. 11. 144.000 Virgens (14,1-4): simboliza o número perfeito = 12 X 12 X 1000. 12 do AT e 12 do NT. Virgens = significa que nunca se contaminou com a doutrina dos falsos profetas do Império Romano. 12. Babilônia (14,8;18,2): é a cidade de Roma, onde mora o Imperador, que explora o povo para se enriquecer (18,3.9-13). 13. Filho do Homem (14,4): imagem de Jesus-Messias, tirada do profeta Daniel (Dn 7,13). 14. Harmaguedom (16,16): símbolo da derrota dos exércitos inimigos, tirado de Zacarias (Zc 12,11). 15. Cor branca (19,14): símbolo da vitória. 16. Mil anos (20, 2-7): é o tempo completo entre o fim da perseguição e o fim. 17. Lago de fogo (20,14): símbolo do destino de tudo o que se opõe ao plano de Deus. 18. Segunda morte (20,14): é a morte da própria morte. 58 19. Nova Jerusalém (21,12): símbolo do novo Povo de Deus. 20. Núpcias do Cordeiro (21,2;19,9): vitória e festa final da união de todos com Deus. 21. Sete cabeças: Alfa e Ômega (21,6): primeira e última letra do alfabeto grego. Princípio e fim. 8 Sites para um estudo da Bíblia: A Bíblia em Português: http://www.bibliaonline.com.br A Bíblia em várias línguas (você escolhe): http://www.bibliacatolica.com.br/historia_biblia/37.php A Bíblia em Latim: http://www.bibliacatolica.com.br/09/1/1.php A Bíblia (em Latim) no Site do Vaticano: http://www.vatican.va/archive/bible/nova_vulgata/documents/nova-vulgata_index_lt.html A Bíblia em Hebraico (para ouvir): http://www.mucheroni.hpg.com.br/religiao/96/hinos/narradah.htm 9. Textos para aprofundamento sobre a Bíblia KONINGS, Johan. A palavra se fez livro. 2. ed. Atualizada. São Paulo: Loyola, 2002 (Coleção CES). MESTERS, Carlos. Esperança de um povo que luta. o Apocalipse de São João, uma chave de leitura. 10. ed. São Paulo: Paulus, 1983. 59 Exercício avaliativo (10 pontos): em grupos de até três pessoas Destaque apenas uma página com as respostas para entregar ao professor Nomes:......................................................................................................................... Coloque nos parênteses abaixo os números que correspondem à afirmativa 1. ETIOLÓGICA 2. QUIASMO 3. SEGREDO ou INSINUAÇÃO 4. PARAÍSO 5. PARÁBOLA 6. INSINUAÇÃO 7. LEGENDA 8. GUEMATRIAS 9. LEGISLATIVO 10. TESTAMENTO 11. SITZ IN LEBEN 12. SALMOS 13. HERMENÊUTICA 14. JAVISTA 15. SABEDORIA 16. PERSEGUIÇÃO 17.SANSÃO 18. SACERDOTAL ( ) Tradição bíblica que menciona Deus como “Javé”; ( ) Uma das Bem-aventuranças: “Bem-aventurados os que sofrem [...] por causa de mim, porque deles é o Reino do Céu”; ( ) Gênero literário da Bíblia que é representado pelo Pentateuco; ( ) É conhecida como ciência da interpretação. ( ) Nome que se dá a cada uma das duas partes gerais em que se divide a Bíblia; ( ) Gênero literário, diferente da Saga, que quer demonstrar a santidade por meio de um fato maravilhoso; ( ) Uma das tradições bíblicas que narra a fuga de Israel do Egito; ( ) Termo em alemão que significa, em exegese, “situar o texto em um contexto histórico social”; ( ) Técnica literária construída a partir de um núcleo central e que usa o recurso do paralelismo; ( ) Nome de um dos livros deuterocanônicos; ( ) É o último nível de leitura hebraica da Bíblia: Nível do [...] ou nível da Mística; ( ) Personagem bíblico ligado à saga etimológica que explica o nome da Montanha da Queixada (ou Ramat Leqi); ( ) São, no total, 150 e vários deles têm autoria atribuída a Davi; ( ) Faz parte dos gêneros literários da Bíblia e narra uma história comparativa, de sentido global; ( ) Tipo de Saga que procura explicar a causa de um fenômeno como, por exemplo, as estátuas de sal da região do Mar Morto. ( ) Segundo nível de leitura bíblica (Remez, em hebraico), que mostra a verdade oculta; ( ) Nome, em Português, que é sinônimo das iniciais hebraicas dos 4 níveis de interpretação bíblica; ( ) Nível de leitura bíblica, ao lado das Parábolas, que mostra o valor simbólico das letras de um nome (por exemplo: DaViD). Na prova global esses conceitos serão cobrados (com outras formas de perguntas). 60