ENTRE FÁBULAS E CONTOS DE FADAS: ANÁLISE DE PRODUÇÕES TEXTUAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL Roseane Huber (E.E.B Professor Carlos Maffezzolli) [email protected] Thais de Souza Schlichting (Furb) [email protected] Otilia Lizete de Oliveira Martins Heinig (Furb) [email protected] Resumo: O presente artigo ancora-se em teorias acerca do estudo de gêneros discursivos da esfera literária e do ensino de texto na sala de aula. Tem por objetivo compreender como se dá o processo de internalização dos esquemas narrativos de ficção e sua posterior transposição para os textos narrativos produzidos pelo aprendiz. Para a realização deste trabalho, foram analisados dados coletados no PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) realizado pela FURB (Universidade Regional de Blumenau). Os dados expostos e analisados nesse artigo provêm de narrativas escritas por estudantes de 6ª e 7ª séries, matriculados em uma escola pública situada em Guabiruba – SC. A partir de um comando com uma história muda, os educandos deveriam produzir um texto narrativo, explicando a sucessão de acontecimentos expostos pelas figuras. Partindo da análise dos dados, percebe-se que os estudantes têm os gêneros discursivos infantis amplamente internalizados, as fábulas e os contos de fada aparecem muito nos textos narrativos coletados, há uma confusão entre os gêneros que circulam na vida dos alunos. Não há, por parte dos estudantes, uma distinção entre os elementos básicos de um texto narrativo, do conto de fadas e da fábula, e então acontece a adaptação de alguns desses elementos de um gênero para outro. Essa internalização se dá pelo contato com as histórias no âmbito familiar e que é, posteriormente, frisada durante as aulas que trabalham esses gêneros. Percebe-se que os estudantes têm dificuldade em se distanciar dos gêneros que foram muito trabalhados ou lidos durante o seu processo de formação discursiva, trazendo, assim, a moral da história e as fórmulas de abertura e fechamento, características típicas da fábula e do conto de fadas, respectivamente, para seus textos narrativos. Palavras-Chave: Fábula; Contos de fada; Ensino de texto; Gêneros textuais; Narrativa; 1. INTRODUÇÃO O presente artigo1 integra as atividades do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), desenvolvido pelos acadêmicos de Letras da Universidade Regional de Blumenau (FURB) no período 2011/II a 2013/II. Durante o tempo em que os acadêmicos estão envolvidos com o subprojeto, algumas atividades específicas são 1 Uma primeira versão do presente artigo foi publicada na Revista Leitura: Teoria e Prática e apresentada no Congresso Brasileiro de Leitura (COLE) de 2012 estabelecidas pelos coordenadores, tais atividades têm fundamental importância para a conclusão deste artigo. O grupo que coletou os dados analisados neste artigo trabalha na Escola de Educação Básica “Professor Carlos Maffezzolli”, localizada no município de Guabiruba-SC. A escolha das escolas que seriam contempladas pelo PIBID se deu através do último IDEB divulgado, sendo o da escola na qual trabalhamos igual a 4,4. O subprojeto de Letras visa compreender as maiores dificuldades dos estudantes nas atividades que tangem à leitura e escrita. Para tanto, nosso primeiro semestre de trabalho girou em torno da análise de produções escritas feitas pelos estudantes, a partir de um comando aplicado pelos participantes. O comando foi aplicado em cinco turmas: três turmas de 6ª série (7º ano) e duas turmas de 7ª série (8º ano) com as quais nossa professora supervisora trabalha. Tal comando trata-se de uma série de imagens de um garoto e duas árvores, a partir da qual os estudantes deveriam desenvolver uma história narrativa. Após a aplicação do comando, as narrativas foram digitadas fielmente, foram mantidos os textos originais. Inicialmente, porém, mantivemos o foco na produção em si, as noções que as crianças têm de causa e consequência, episódios de narrativas e outros elementos do texto como conectivos e anafóricos. Embasados pelo modelo de Stein & Glenn reformulado por Scliar-Cabral e GrimmCabral, fizemos a análise dos episódios das narrativas, e algumas constantes foram encontradas. Dentre elas está o fato de os estudantes mesclarem os textos narrativos com contos de fada e fábulas. A internalização dos gêneros fantásticos é tão forte que os alunos começam suas narrativas com a fórmula de abertura “era uma vez”, muitas vezes concluem com “Fim.” e adicionam a moral da história em seus textos. Tais observações levaram à produção deste artigo, a fim de investigar as ocorrências e compreender como se passa essa relação entre os gêneros infantis e os textos narrativos produzidos pelos alunos. 2. ENTRANDO EM CONTATO COM A TEORIA A fim de compreendermos melhor a esfera dos gêneros infantis, recorremos a alguns estudos acerca deste assunto. A fábula é um gênero “em que se predomina a narração que é estrategicamente usada como um modo enunciativo para argumentar”. (SILVA, p. 96,1999). A fábula é um conto tradicional, uma história curta, onde “há grandes diferenças entre as pessoas, e devemos fazer opções sobre como queremos ser. Essas características aparecem divididas entre os personagens, separando bondade/maldade, beleza/feiura, fraqueza/força, etc.” (UNESCO, p. 44, 2005). Percebemos que a fábula traz personagens estereotipados, a personificação das características humanas, um personagem pode ser completamente bom ou inteiramente mau. Conhecida pela ‘moral da história’, a fábula pode ser percebida sempre com objetivos grifados, por trás das histórias – na maioria das vezes encenadas por animais – escondem-se condutas que as crianças devem (ou não) seguir. Além do caráter persuasivo em relação à criança, a fábula bem como os contos, lendas e mitos, é um tipo de narrativa originária desde as mais antigas civilizações. Estes povos, através das histórias que contavam, passavam ensinamentos e preservavam sua cultura. Graças à tradição oral e mais tarde ao texto impresso, a arte de contar histórias foi passada de geração a geração, constituindo até os dias de hoje, importantes fontes de informações para entendermos a história das civilizações. (FREIRE & GUIMARÃES, p. 04, 2007) As fábulas são histórias muito antigas que vão sendo passadas de geração em geração, regendo a educação de muitas crianças, colaborando para a formação de valores e traçando uma linha de comportamento pela qual deverão seguir suas atitudes. Dentre as muitas fábulas que conhecemos, talvez a mais famosa seja a da ‘Cigarra e a Formiga’ de La Fontaine, na qual a mensagem de que devemos trabalhar, fazer a nossa parte é muito perceptível, não devemos apenas ficar brincando, temos que correr atrás de objetivos. Diante das fábulas, as crianças conseguem tirar morais e lições das histórias, muitas vezes levando-as para seus textos narrativos, porque elas internalizam essa ordem canônica de que é necessário que haja uma moral em cada texto que escreverem. Compreendido o que é fábula, nos ancoramos, agora, em estudos sobre os contos de fada, outro gênero fundamental para a compreensão das ideias que os estudantes têm a cerca de produção narrativa. Os contos de fada têm como característica básica suas fórmulas de abertura e fechamento. Freire & Guimarães explicam: há muito tempo atrás, num lugar bem longe daqui, em meio a bruxas, dragões, ogros, anões, fadas, duendes, príncipes, donzelas e acontecimentos sobrenaturais, e em clima de “Era uma vez...” e “Viveram felizes para sempre”, nasciam os contos de fada. Eles existem há milênios e fazem parte da herança cultural da humanidade, alguns datados do século II d.C. Em diversas culturas, em todos os continentes, existem histórias com estruturas e narrativas semelhantes aos contos que conhecemos hoje. (p.10, 2007) Podemos observar que as fórmulas de abertura e fechamento são inatas de tal forma aos contos de fada que, apenas ao citá-los já compreendemos de que gênero estamos falando. Mais uma vez, trata-se de um gênero que passa de geração em geração, fazendo parte da infância de muitas pessoas, porém, o que muitas pessoas não sabem é que os contos não nasceram com o intuito de ser apresentados às crianças: originalmente, estes contos não foram escritos para crianças, muito menos para transmitir ensinamentos, ao contrário, foram destinados para entrenimento dos adultos, contados em reuniões sociais, nas salas de fiar e outros ambientes onde eles se reuniam. (FREIRE & GUIMARÃES, p. 10, 2007). As versões infantis dos contos de fadas nasceram no século XVII, na corte de Luís XIV, no ano de 1697, pelas mãos do escritor francês Charles Perrault (1628-1703), primeiro a coletar e organizar contos para criança em um livro chamado Contos da Mãe Gansa, constituídos de uma coletânea de oito histórias: A Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, O Barba azul, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar. Mais adiante, na Europa do século XIX, os irmãos Jakob e Wilhelm Grimm (entre 1785 e 1863), na Alemanha, e Hans Christian Andersen (1805-1875), na Dinamarca, realizaram um trabalho de coletâneas de contos populares. Estes escritores tornaram um dos principais autores e adaptadores de contos de fadas para crianças. Bem como a fábula, o conto de fada também tem um caráter normativo em relação às condutas infantis e a formação de seus ideais, por lidarem com conteúdos da sabedoria popular e com conteúdos essenciais a condição humana, os contos de fada se perpetuam até hoje no imaginário coletivo, nos lares, nas escolas e em espaços em que se privilegie a formação de valores, a fantasia, a imaginação e o simbólico, numa perspectiva lúdica. (FREIRE & GUIMARÃES, p. 11, 2007) Os gêneros infantis compartilham da ideia principal de educar as crianças através de suas histórias. Os contos de fada também são responsáveis por noções do que é certo e errado, trazendo à tona, através de seus personagens estereotipados, a personificação de boas e más ações. Ainda embasados em Freire & Guimarães (p. 10, 2007) apresentaremos, mais algumas características do conto de fada: 1. São sempre assumidamente de ficção, ou seja, não pretendem ter acontecido de fato; 2. Misturam realidade e fantasia, atualizando e reinterpretando questões universais, tais como a dicotomia entre o bem e o mal, o forte e o fraco, a riqueza e a pobreza, o belo e o feio, entre outras; 3. Envolvem algum tipo de magia, metamorfose, encantamento, instrumentos mágicos, vozes do além, viagens extraordinárias e amigos ou inimigos sobrenaturais; 4. O enredo expressa os obstáculos ou provas que precisam ser vencidos, como um verdadeiro ritual iniciático; 5. Temporalidade difusa, isso é, o tempo não é definido, é remoto, é o tempo do “Era uma vez...”; 6. Os personagens normalmente não possuem nomes; 7. A moral da história corresponde a um conjunto de normas de comportamento destinado a regular as relações entre os indivíduos. A partir das noções de fábula e conto de fadas, podemos partir para a análise das narrativas produzidas pelas crianças, compreendendo como se dá o processo de internalização dos gêneros infantis e sua transposição aos gêneros escolares. 3. RELACIONANDO AS NARRATIVAS COM A TEORIA A fim de compreender as fases da infância e os gêneros textuais referentes a cada fase, recorremos mais uma vez a Freire & Guimarães (p. 06, 2007), que divulgam a seguinte relação de gêneros e faixa-etária, com base na Psicologia: A fase do mito (3/4 a 7/8 anos) – nesta fase a criança não diferencia a realidade e a fantasia, por isso a leitura mais adequada são os contos de fadas, os mitos, as lendas e as fábulas; A fase do conhecimento da realidade (7/8 a 11/12 anos) – a criança tem maior necessidade da ação, passa do contemplativo para o executivo. A leitura adequada para a essa fase são os contos de aventura, o relato histórico, os relatos mitológicos, os heróis (sobre o princípio da vida dos povos), os de viagens e façanhas; A fase do pensamento racional (11/12 anos até a adolescência) - nesta fase as questões pessoais adquirem valor extraordinário, por isso a leitura de romances é a mais adequada pelo caráter de seus heróis e por seus temas. É importante salientar que cada criança tem um processo de desenvolvimento diferente e que essa relação de fases serve apenas como referência de modo geral. Observamos, porém, que os gêneros textuais fábula e contos de fada fazem parte da primeira fase da infância. Como se dá, então, essa transposição dos gêneros primários à sua produção textual já na segunda infância e adolescência? Depreendemos que a internalização desses gêneros textuais acontece, sim, na primeira infância, e que posteriormente ela é arraigada durante a vida escolar, através do trabalho com gêneros textuais dos quais as crianças participam. A partir do momento em que uma pessoa entra em largo contato com um gênero, ela acaba criando uma relação de ‘condição’ desse gênero. O estudante produz os textos com os quais está acostumado. Muitas vezes, o estudo dos gêneros textuais não leva em conta o momento do enunciado, dado fundamental para a produção de textos, não fica claro que a fábula tem uma lição de moral porque essa é sua finalidade: trazer, envolta em um enredo interessante, um repasse de valores e condutas. Ou que as fórmulas de abertura e fechamento “era uma vez”, “viveram felizes para sempre. Fim.” são típicas dos contos de fadas. Não fica claro para o estudante que ele não precisa acoplar a todas as suas narrativas uma lição de moral ou um personagem estereotipado. A partir da análise das narrativas coletadas com as atividades do PIBID, chegamos à seguinte tabela que tange às produções narrativas que contém algum aspecto de contos de fada ou fábula: Série Total de Contos de Fada: narrativas: "Era uma vez" Contos de Fada: "Viveram felizes para sempre" Finalizadas Fábula: com: Contém moral "Fim." da história: 6ª séries: 60 27 1 24 9 7ª séries: 54 12 0 4 14 Tabela (1): Relação do número total de narrativas e incidência da internalização dos gêneros infantis. Ao analisarmos a tabela com os dados das narrações dos estudantes, percebemos alguns pontos chave: Grande parte dos estudantes iniciaram suas narrativas com a fórmula de abertura clássica dos contos de fada, ao abrirem seus textos com “era uma vez...”, os estudantes fazem a introdução de sua história. Mesmo não sendo característica de textos dissertativos, a fórmula inicial foi amplamente utilizada tanto nas turmas de 6ª série quanto nas de 7ª série, “Era uma vez um menino que adorava cuidar da natureza,” é o início da narração de um estudante de 12 anos que está cursando a 6ª série e “Era uma vez João num belo dia de sol resolveu plantar alguns pés de arvores” é a abertura do texto de um estudante de 15 anos, cursando a 7ª série. Observamos que a diferença de idade dos dois estudantes é de três anos, e ambos utilizam a fórmula de abertura dos contos de fadas. Um fato interessante para observarmos é que a fórmula de abertura é amplamente utilizada, porém a fórmula de fechamento dos contos de fada aparece em apenas um texto: “...ele amarrou uma rede para dormir e ele viveu feliz para senpre.” Assim foi finalizado o texto de um estudante de 14 anos, da 6ª série. Apesar de muitos textos sugerirem que os personagens viveram bem após o término da história, apenas esse utilizou a fórmula de fechamento explicitamente. Podemos levantar algumas teorias para a grande incidência da fórmula inicial em detrimento à fórmula de fechamento. Os estudantes podem ter a fórmula inicial tão bem internalizada que já não se deem conta de que é uma estrutura típica dos contos de fada, porém conseguem distinguir a fórmula de fechamento como uma característica deste gênero infantil. Outra alternativa para explicar a ocorrência pode ser o fato de que, ao entrarem em contato com os contos de fada, as crianças prestem mais atenção no início da história, levando mais em consideração, assim, o “era uma vez...”. Ainda no campo das finalizações das narrativas, uma característica recorrente nas histórias coletadas, é que a palavra “fim” é muito utilizada para demarcar o término das narrações. Nas narrativas dos estudantes da 6ª série, quase 50% são finalizadas com a palavra fim que também é característica dos gêneros infantis. “A menina ficou feliz. FIM.” é como termina a narrativa de um estudante de 15 anos, da 6ª série, na mesma turma, uma estudante de 12 anos fecha sua história assim: “ele colocou sua rede e dormiu nela. Fim”. Mais uma vez, percebemos que alunos de diferentes idades, mas que estão em uma mesma turma, produzem narrativas utilizando dos mesmos episódios. A moral da história, própria do gênero fábula, também aparece nas produções dos estudantes, e podemos observar que sua ocorrência se deu em maior número nas produções de estudantes de 7ª série. Um fato acerca desse assunto é que, na maioria das vezes, a moral da história estava incrustada no texto: “resolveu colocar uma rede entre elas, para finalmente, relachar... ...Enfim ele sabia que havia feito uma coisa boa, para ele e para o mundo”, que aparece na história de uma estudante de 13 anos, da 7ª série. Outras vezes, porém, ela vinha apontada no rodapé da folha, como na narrativa de uma aluna de 13 anos, da 7ª série: “Moral: Pedrinho aprendeu que se todos fizerem sua parte podem melhorar o mundo e após isso descançarem.”. Outro aspecto recorrente nas narrativas é o uso dos nomes Pedro/Pedrinho e João/Joãozinho para os personagens. Esses nomes também são característicos de protagonistas de histórias infantis. Dentre as produções coletadas, 11 estudantes de 6ª série chamaram seu personagem de João, e 3 de Pedro. Já nas turmas de 7ª série, 7 estudantes adotaram o nome João para os protagonistas e 8 os chamaram de Pedro. Percebemos que os protagonistas de “João e Maria”, “João e o pé de feijão” e “Pedro e o lobo” ainda são muito presentes na memória de nossos estudantes. Depreendemos que a mistura de gêneros infantis em textos narrativos é muito presente nas produções dos estudantes, é possível que, muitas vezes, eles não percebam que estão recorrendo às formas pré-construídas para desenvolver suas produções. Como afirma João Wanderley Geraldi: pode-se dizer que o trabalho lingüístico é tipicamente um trabalho constitutivo: tanto da própria linguagem e das línguas particulares quanto dos sujeitos, cujas consciências sígnicas se formam com o conjunto das noções que, por circularem nos discursos produzidos nas interações de que os sujeitos participam, são por eles internalizadas. (1991, p. 03) Compreendemos, então, que a produção textual vai se desenvolvendo ao longo da vida de cada um, o trabalho linguístico, como afirma Geraldi, é um processo que vai se construir através da prática e do contato com os gêneros textuais. Entendemos, a partir disso, o porquê da produção estar tão ligada às formas que as crianças conhecem desde tenra idade. Quanto maior for o contato com os gêneros, mais internalizados eles ficarão em cada pessoa, e então, de alguma forma, as pessoas se sentem mais seguras em usar as estruturas que já conhecem. A comodidade e a segurança quando estamos produzindo um texto que já nos é familiar é muito maior do que quando nos aventuramos em produções novas. Sabemos, no entanto, que a prática é que traz o aprimoramento e que, quanto mais nos dedicarmos aos novos gêneros, mais simples e cômodos eles nos parecerão. 4. O ENSINO DOS GÊNEROS TEXTUAIS EM SALA DE AULA Diante do que foi até aqui apresentado, compreendemos que criança já conhece os gêneros infantis, e que é por meio do trabalho com gêneros na sala de aula que esses gêneros são internalizados, então, algumas compreensões a cerca do assunto são cabíveis. O trabalho com gêneros textuais em sala de aula exige muita preparação por parte do professor, e ainda que os conceitos teóricos não devam ser transpostos para as aulas, é a apreensão desses conceitos que possibilita o desenvolvimento de um trabalho que, de fato, leva em conta o processo de construção da significação, ou seja, leva em conta o processo discursivo a ser desenvolvido pelos aprendizes. (BARROS, p. 113, 2011) Com a explicação de Barros, abarcamos que a formação do professor precisa ser abrangente em relação ao ensino de texto na escola, é importante que ele conheça os conceitos teóricos que aplicará, mas que não os imponha em sala de aula. Ao entrar em contato com os gêneros, o interessante para os alunos é compreender como o gênero funciona, quais as suas características, mas muito melhor que isso, é produzir determinado gênero a fim de entender, na prática, seu funcionamento. O gênero pode ser trabalhado como uma forma relativamente estável como afirmou Andrade (2007), porém deve ser levada em conta sua mutabilidade e consequente variabilidade em função do momento em que o enunciado foi produzido. Os gêneros textuais também são eficientes meios para se compreender a linguagem, afinal a linguagem é algo que os alunos já possuem, e que precisar ser adequada às situações de interação social. Antunes (p. 18, 2009) firma que é fundamental que “o professor consiga (...) alfabetizar, fazer crescer o letramento dos alunos e ampliar as competências mais significativas para as atividades sociais, interativas e de encantamento, relativas aos usos literários ou não das línguas.” (grifo da autora). Compreendemos, assim, que o professor é um elo fundamental na mediação do conhecimento de seus alunos, e que, ele deve descobrir novas facetas para explorar o letramento de seus estudantes. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como proposto no início do artigo, fizemos um apanhado geral sobre as noções de fábula, conto de fadas e como os gêneros textuais podem ser trabalhados em sala de aula. Relacionando a teoria aos excertos produzidos pelos estudantes, depreendemos que a internalização dos gêneros infantis se dá, inicialmente, durante a infância e é ainda melhor fundida durante os trabalhos com estes gêneros textuais na escola. A partir do contato que um estudante tem com o texto, ele o assimila e sente-se mais seguro ao realizar a produção com as regras que lhe são comuns. Muitas vezes, por essa internalização, é que o aluno utiliza as fórmulas de abertura “era uma vez...” e de fechamento “e viveram felizes para sempre. Fim.”, aspectos básicos dos contos de fada, em seus textos narrativos, nos quais tais estruturas não caberiam. Como também utilizam a moral da história, aspecto intrínseco do gênero fábula. Compreendemos como se dá o processo de transposição dos gêneros infantis aos demais gêneros textuais, obtivendo uma visão ampla de como os professores podem trabalhar os gêneros discursivos em sala de aula. É necessário, pois, que o professor tenha domínio do assunto de que está falando e que não se limite aos exercícios prescritivos e descritivos, afinal esse não é o objetivo da produção textual. Os sujeitos, nossos estudantes, se formam a partir da consciência sígnica com a qual têm contato, então é fundamental que eles sejam ‘apresentados’ a todos os gêneros possíveis, para que, com base em seu conhecimento, possam produzir variados gêneros textuais com autoridade. REFERÊNCIAS ANDRADE, K. A. Os gêneros textuais no ensino do português. Ao Pé da Letra (UFPE), v. 9, p. 1-9, 2007. ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. Parábola Editorial. São Paulo, 2009. BARROS, S. C. G. Processos linguísticos na produção de textos: mecanismos de qualificação e relações intersubjetivas. São Paulo, 2011. FREIRE, A. M.E.S. & GUIMARÃES, Z.M. at all. Contos (clássicos / mitológicos / modernos) EDUCAÇÃO INFANTIL / Ciclos de Aprendizagem I e II / EJA. Salvador, 2007. GERALDI, J. W. O ensino e as diferentes instâncias de uso da linguagem in Em Aberto, ano 10. n.52. Brasília,1991. SILVA, J. Q. G. Gênero discursivo e tipo textual in Revista Scripta.: Editora PucMinas, V.1, n. 1. Belo Horizonte, 1999 UNESCO. Caderno pedagógico: A Criança Descobrindo, Interpretando e Agindo sobre o Mundo. Brasília, 2005.