Campo gravitacional Entre duas partículas puntiformes a força gravitacional é fácil de ser escrita e entendida intuitivamente, pois aponta sempre de uma partícula para a outra e é sempre atrativa. No entanto, quando uma partícula puntiforme encontra-se na presença de um corpo extenso, a direção da força de atração sobre a partícula pontual não pode mais ser facilmente adivinhada. Isso acontece porque, geralmente, a força gravitacional não aponta para o centro de massa do corpo extenso, mas depende de sua distribuição de massa. É por isso que o conceito de campo gravitacional é útil, já que consiste das linhas de força que ocupam o espaço, sendo geradas por qualquer corpo dotado de massa. Tome uma partícula pontual de massa m que interage gravitacionalmente com um corpo extenso de massa M. A força sobre a massinha m, suposta fixa no ponto r, é dada por ˆ ρ (r0 ) 0 (1) F (r) = −Gm d3 r 0 3 (r − r ) , |r − r0 | V onde ρ (r0 ) é a densidade de massa do corpo extenso de massa total M, calculada no ponto r0 . Note que a integral é sobre o volume V do corpo de massa M. A integração pode ser estendida para todo o espaço físico, já que ρ (r0 ) = 0 caso o ponto r0 não esteja dentro do volume V. Fazendo o limite da massa m indo a zero, definimos o campo gravitacional como ˆ F (r) ρ (r0 ) 0 g (r) = lim+ (2) = −G d3 r 0 3 (r − r ) . m m→0 |r − r0 | V É fácil verificar que, como a força gravitacional é conservativa, existe uma função escalar G (r) tal que g (r) = ∇G (r) , (3) onde G (r) é chamado de potencial gravitacional. Note que o sinal é invertido com relação à energia potencial V (r) , cujo gradiente dá a força gravitacional multiplicada por −1 : F = −∇V (r) . (4) Para ver que a Eq. (1) dá a Eq. (4), basta notar que ∇ 1 |r − r0 | = − r − r0 |r − r0 | 3. (5) Para ver que essa relação é válida, note que r − r0 = x̂ (x − x0 ) + ŷ (y − y 0 ) + ẑ (z − z 0 ) (6) e, portanto, 0 |r − r | = q 2 2 2 (x − x0 ) + (y − y 0 ) + (z − z 0 ) . 1 (7) Logo, 1 |r − r0 | = 1 q (x − 2 x0 ) . 2 (8) 2 + (y − y 0 ) + (z − z 0 ) Assim, ∂ ∂x 1 |r − r0 | = ∂ q ∂x 1 (x − 2 x0 ) + (y − 2 y0 ) + (z − 2 z0) , isto é, ∂ ∂x 1 |r − r0 | x − x0 = −h (x − 2 x0 ) + (y − 2 y0 ) + (z − 2 z0) i3/2 , ou seja, ∂ ∂x 1 |r − r0 | x − x0 = − onde usei a Eq. (8). Analogamente, ∂ 1 = ∂y |r − r0 | 3, |r − r0 | − y − y0 3 |r − r0 | e ∂ ∂z 1 |r − r0 | = − z − z0 |r − r0 | 3, Com essas derivadas parciais, podemos agora escrever 1 ∂ 1 ∂ 1 ∂ 1 ∇ = x̂ + ŷ + ẑ , |r − r0 | ∂x |r − r0 | ∂y |r − r0 | ∂z |r − r0 | isto é, ∇ 1 |r − r0 | = −x̂ x − x0 |r − 3 r0 | − ŷ y − y0 |r − 3 r0 | − ẑ z − z0 |r − r0 | 3, ou seja, ∇ 1 |r − r0 | = − x̂ (x − x0 ) + ŷ (y − y 0 ) + ẑ (z − z 0 ) |r − 3 r0 | =− r − r0 |r − r0 | onde usei a Eq. (6) e esse resultado mostra a validade da Eq. (5). Usando a Eq. (5) na Eq. (1) dá ˆ 1 F (r) = Gm d3 r0 ρ (r0 ) ∇ . |r − r0 | V 2 3, Como o operador ∇ opera na variável r e não em r0 , podemos escrever essa equação assim também: ˆ ρ (r0 ) F (r) = Gm . d3 r 0 ∇ |r − r0 | V Como a variável de integração é r0 e não r, segue que o operador ∇ pode ser retirado da integral e o resultado disso é ˆ ρ (r0 ) , F (r) = Gm∇ d3 r0 |r − r0 | V isto é, F (r) −∇V (r) , = onde definimos a energia potencial gravitacional ˆ Gmρ (r0 ) . V (r) = − d3 r 0 |r − r0 | V (9) Esse resultado mostra a Eq. (4). De forma análoga, a Eq. (3) pode ser vista facilmente a partir da Eq. (2): ˆ ˆ 0 ρ (r0 ) 0 3 0 3 0 ρ (r ) (r − r ) = G d r ∇ g (r) = −G d r , 3 |r − r0 | |r − r0 | V V isto é, g (r) = ∇G (r) , onde definimos ˆ G (r) d3 r0 = V Gρ (r0 ) . |r − r0 | (10) O campo gravitacional é irrotacional, pois ∇ × g (r) = ∇ × ∇G (r) = 0. (11) O fluxo do campo gravitacional sobre uma superfície fechada, S, é dado por ˆ ˆ ˆ ρ (r0 ) dan̂ · g (r) = −G dan̂ · d3 r0 (r − r0 ) , 0 |3 |r − r S S V que, para uma massa m pontual dentro da superfície S, ao invés de um corpo extenso, dá ˆ ˆ mn̂ · (r − r0 ) dan̂ · g (r) = −G da . 3 |r − r0 | S S 3 Mas vou tomar a origem exatamente sobre a massinha m. Então, ˆ ˆ ˆ mn̂ · r mn̂ · r̂ , dan̂ · g (r) = −G da = −G da 3 r2 |r| S S S onde r = |r| . No integrando, dan̂ · r̂ = dΩr2 , onde dΩ é o elemento de ângulo sólido subentendido pelo elemento de área da. Então, ˆ ˆ ˆ dΩr2 dan̂ · g (r) = −Gm = −Gm dΩ = −4πGm. (12) 2 S S r S Como a superfície S pode ser completamente arbitrária, m pode ficar em qualquer ponto interno a S e o resultado sempre será o mesmo. Em particular, quando temos mais do que uma massa m apenas dentro de S, basta somarmos o resultado: ˆ X dan̂ · g (r) = −4πG mk . (13) S k No caso de uma distribuição contínua, ˆ ˆ dan̂ · g (r) = −4πG d3 rρ (r) , S (14) V com V sendo uma região no interior da superfície fechada S. Pelo teorema da divergência de Gauss, podemos escrever ˆ ˆ d3 r∇ · g (r) = dan̂ · g (r) (15) V S e, usando a Eq. (14), a Eq. (15) fornece ˆ ˆ 3 d r∇ · g (r) = −4πG d3 rρ (r) , V V isto é, ˆ d3 r [∇ · g (r) + 4πGρ (r)] = 0, V para todo volume V. Sendo assim, ∇ · g (r) = −4πGρ (r) . 4 (16) Substituindo a Eq. (3) na Eq. (16) fornece ∇ · ∇G (r) = −4πGρ (r) , isto é, ∇2 G (r) = −4πGρ (r) , (17) que é a chamada equação de Poisson para o potencial gravitacional e o operador ∇2 = ∇·∇ é chamado de laplaciano. Quando estamos considerando a Eq. (17) em uma região do espaço onde não há massa, obtemos a chamada equação de Laplace para o potencial gravitacional: ∇2 G (r) = 0. (18) As Eqs. (11) e (16) são as equações fundamentais para o campo gravitacional de Newton. A Eq. (17) reúne ambas as Eqs. (11) e (16). No entanto, para resolver essas equações, é necessário saber as condições de contorno que o campo gravitacional deve satisfazer na fronteira da região onde essas equações devem ser resolvidas. Bibliografia [1] Keith R. Symon, Mechanics, terceira edição (Addison Wesley, 1971). 5