SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO DO VALE DO IPOJUCA
FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA – FAVIP/DeVry
COORDENAÇÃO DE JORNALISMO
CURSO DE JORNALISMO
A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CINEMA NO BRASIL
Relato da importância cultural do cinema em Sanharó, no interior Pernambuco
RENAND ZOVKA FREITAS
CARUARU, 2013
RENAND ZOVKA FREITAS
A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CINEMA NO BRASIL
Relato da importância cultural do cinema no interior em Sanharó no Pernambuco
Monografia de Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC) apresentado ao Curso de
Comunicação Social com habilitação em
Jornalismo da Faculdade do Vale do Ipojuca,
como parte do requisito obrigatório para
obtenção do título de bacharel em Jornalismo.
Orientadora: Profa. Ms. Raquel Holanda
CARUARU, 2013
Catalogação na fonte Biblioteca da Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE
F866c
Freitas,
Renand
Zovka.
A construção histórica do cinema no Brasil: relato da
importância cultural do cinema em Sanharó, no interior de
Pernambuco / Renand Zovka Freitas. – Caruaru: FAVIP,
2013.
55 f.: il.
Orientador(a): Raquel Rufino de Holanda.
Trabalho de Conclusão de Curso (Jornalismo) Faculdade do Vale do Ipojuca.
Inclui anexo e apêndice.
1. Cinema. 2. Política. 3. Pernambuco. 4. Sanharó I.
Freitas, Renand Zovka. II. Título.
CDU 070[14.1]
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367
RENAND ZOVKA FREITAS
Monografia aprovada em: ___/___/___
Banca examinadora
__________________________________________
Professor Orientador
__________________________________________
Primeiro Professor examinador
__________________________________________
Segundo Professor examinador
CARUARU, 2013.
DEDICATÓRIA
Um homem constrói sua cultura através das coisas que ele está disposto a viver e enfrentar,
mas nada seria possível se não houvessem outras pessoas para o homem seguir e admirar.
Dedico essa monografia a toda a minha família, que me deu o suporte para viver e para todos
os meus professores de todos os níveis de formação que me proporcionaram o suporte do
eterno conhecimento.
Resumo
Este estudo tem como objetivo propor uma análise do modo de como se construiu o cinema
no interior do Brasil, a partir do olhar de uma sociedade interiorana do país. Para realizar esse
objetivo foi desenvolvida uma linha cronológica dos principais acontecimentos para a
implantação do cinema no exterior e no Brasil, desenvolvendo uma visão geral para se aplicar
ao objeto de estudo que é a cidade de Sanharó no interior de Pernambuco. Este trabalho é
relevante por contribuir para identificar, compreender e mapear o imaginário da sociedade de
Sanharó sobre o período de desenvolvimento do cinema. A pesquisa foi norteada entre os anos
50 e 80, como procedimento metodológico foi necessária uma revisão teórica dos estudos
feitos sobre o cinema no Brasil e a utilizando do método da história oral para compreender os
acontecimentos e o modo de vida da população de Sanharó no período de funcionamento do
cinema na cidade. Foi concluído que a cidade passou por um período de 30 anos de
fortalecimento cultural, social e político com a ajuda da igreja, instituição que implantou o
cinema e outras políticas culturais no período.
Palavra-chave:Cinema;Política;Pernambuco;Sanharó;
Abstract
This study aims to propose an analysis of the mode as the cinema was built in the
interior of Brazil, from the look of a society that lives within the country. To accomplish this
goal we have developed a timeline of major events for the deployment of cinema in Brazil
and abroad, developing an overview to apply to the object of study: the city of Sanharó the
interior of Pernambuco. This work is relevant for helping to identify, understand and map the
imaginary society of the city over the period of development of the cinema. The research was
founded between the years 50 and 80, as methodological procedure was required theoretical
review of studies done on film in Brazil and enjoying the oral history method to understand
the events and the way of life of the population of the city during the period of operation
cinema in the city. It was concluded that the city went through a period of 30 years of
strengthening cultural, social and political development with the help of the church, an
institution that has implemented the cinema and other cultural policies in the period.
Keyword: Cinema, Politics, Pernambuco; Sanharó;
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................................07
Procedimentos metodológicos.............................................................................................09
CAPÍTULO 1 - Fundamentos históricos e políticos do Cinema.........................................10
1.1 Fotografia e o cinema.....................................................................................................12
1.2 O cinema e sua concepção.............................................................................................13
1.3 Apoio político sobre a construção do cinema................................................................16
CAPÍTULO 2 - Desenvolvimento do cinema no Brasil......................................................19
2.1 Crescimento e proliferação da cultura cinematográfica...............................................20
2.2 A aurora cinematográfica da década de 50....................................................................23
2.3
Declínio da produção cinematográfica da década de 70 e 80....................................... 24
CAPÍTULO 3. O interior: a necessidade de uma cultura cinematográfica........................ 26
3.1 Cinemas em Pernambuco...............................................................................................27
3.2 Exemplificações da disseminação no interior de Pernambuco......................................29
3.3 Desenvolvimento cultural e político de Sanharó.........................................................31
3.3.1 Influência social no cotidiano da cidade.....................................................................35
3.4.2 Dependência e manutenção cultural proveniente da igreja....................................... 37
CONCLUSÃO......................................................................................................................39
REFERÊNCIAS....................................................................................................................40
APÊNDICE...........................................................................................................................43
ANEXO.................................................................................................................................53
7
Introdução
A construção histórica é um elemento fundamental para a manutenção da nossa
realidade social. O fator histórico sempre está associado à busca de uma explicação para o
mundo, para a necessidade de compreender as relações sociais e as formas de representar as
questões que fundamentam o fazer cultural. O final do século XIX e o começo do século XX
foi uma época de mudanças culturais, tecnológicas e da comunicação humana. Dentre todos
os instrumentos da propagação de cultura e informação que se desenvolveram nesse período
está o cinema. Durante seu desenvolvimento, o cinema foi utilizado como ferramente de
propagação cultural, ideológica e econômica em todo o mundo.
O cinema passou por turbulências em seu processo de construção de uma narrativa
própria. Este trabalho tem como foco desenvolver a narrativa de um dos principais pontos de
desenvolvimento da cultura no século XX: o cinema brasileiro. Pedro Lima e Vinícius de
Morais, segundo Autran, são os que se destacaram pelo pioneirismo e interesses da construção
da história cinematográfica do país. Vinicius de Moraes cita:
Não posso ser o historiador do Cinema Brasileiro. Primeiro, porque ele ainda não
tem uma História; segundo, porque se a tivesse não seria eu a pessoa mais indicada
para contá-la, que a conheço imperfeitamente. O meu interesse atual pelo Cinema no
Brasil é uma vontade de vê-lo surgir mais que qualquer outra coisa (MORAES apud
AUTRAN, 2007).
A segunda metade do século XX, de acordo com Moraes (2007), trouxe mudanças na
historiografia de um modo geral, marcadas, sobretudo, pela repercussão da Nova História.
Sobre essa perspectiva muitos negam a existência da história do cinema brasileiro. Antes da
década de 50, a curiosidade de participar da construção da história foi reflexo do futuro do
cinema nacional.
Para muitos governos, o mundo cinematográfico exerceu um processo de construção
político e social do país, legitimando o poder e as ações com a publicidade política. Através
do seu desenvolvimento o cinema e suas produções cativaram o mundo com suas técnicas de
persuasão e sedução, atraindo a atenção de todos, despertando o inimaginável.
Este trabalho monográfico teve como objetivo fazer um relato sobre as mudanças
políticas e culturais que as micro-sociedades, principalmente a cidade de Sanharó, sofreram
no interior de Pernambuco com o desenvolvimento cinematográfico. No caso o
desenvolvimento do cinema da cidade de Sanharó que se encontra no Agreste do estado é o
objeto de maior aprofundamento histórico e político, no sentido de resgate de uma memória
que até então não tinha sido relatada.
8
Esta pesquisa é separada em três capítulos com objetivo traçar um breve panorama da
história do cinema no e interior pernambucano, tendo como foco a cidade de Sanharó. Tratase de uma proposta que ainda deverá ser alvo de maior aprofundamento histórico e político do
período de ascensão e decadência do cinema de Sanharó entre as décadas de 50 e 80.
A partir do desenvolvimento da construção histórica cinematográfica esse estudo deve
construir um quadro da época onde o cinema era o único entretenimento das cidades
interioranas e um recurso político. E a importância da disseminação a cultura para os
moradores da cidade. As entrevistas com as pessoas que vivenciaram essa experiência serão o
eixo para a determinação dessa importância da ideia de ter uma alternativa cultural no
município como o cinema.
A importância de se fazer uma pesquisa nesse sentido é despertar e documentar o
desenvolvimento histórico e político de uma sociedade através do cinema. Devido a
aproximação do autor com a cidade de Sanharó, foi visto pelo próprio a necessidade de
mostrar a reação de uma sociedade sobre um fenômeno nacional que foi o desenvolvimento
do cinema observando sua importância para o afloramento cultural para a população. Além
de mostrar as mudanças de vida da sociedade em questão por conta do cinema, mostrando que
o empreendimento derivacional era muito mais para o desenvolvimento da sociedade do que
só uma diversão.
9
Procedimentos metodológicos
Além da revisão bibliografia que serão apresentadas nos capítulos 1 e 2, fez-se
necessário a utilização do método através de entrevistas orais com personagens de relevância
que vivenciaram o desenvolvimento e a construção do cinema na cidade pernambucana de
Sanharó durante o período de 1950 a 1980. O estudo será através da coleta de material
histórico (fotos, cartazes e documentos), para analise e documentação é de extrema
importância para o desenvolvimento desse trabalho.
Para o desenvolvimento desse trabalho foram necessário entrevistar seis pessoas de
relevância para a cidade. Assim como, José Wildner Ferreira Victor que trabalhou no cinema
da cidade de Sanharó durante oito anos. A coleta oral foi de extrema importância para esse
trabalho devido falta de dados físicos sobre a historia do local.
Jean-Pierre Wallot citado por Joutard (1996 p. 57), desenvolve um argumento sobre a
perspectiva da pesquisa oral como "método de pesquisa baseado no registro de depoimentos
orais concedidos em entrevistas'''. Através desse método e possível coletar dados e
perspectivas que possivelmente nunca seriam documentadas, assim como defende Garrido:
Um dos aspectos mais interessantes do uso de fontes orais é que não apenas se
chega a um conhecimento dos fatos, mas também à forma como o grupo os
vivenciou e percebeu. É de importância capital resgatar a subjetividade, mas é um
grave erro passar a confundi-la com fatos objetivos. Esta aproximação critica ao
testemunho oral consegue-se mediante dois procedimentos de caráter interativo: um,
com a documentação escrita existente, e outro, com o resto do corpus de
documentos orais. Daí a importância de se estabelecer urna relação dialética entre os
diversos tipos de fontes. ( GARRIDO. 1993, p. 39).
Sendo assim, a utilização da história oral como metodologia, desenvolve um papel de
contribuição para o resgate e analise de um tema específico através das memoria de um
determinado grupo envolvido no tema. Foi atendendo esses aspectos que se desenvolveu o
estudo desse trabalho sobre a relação da sociedade sanharoense com a contemplação do
cinema na década de 50 até 1979.
O registro oral, de uma forma mais direta do que o escrito por aquilo que tem de
involuntário no sentido de não selecionado para a posteridade , pode oferecer,
eventualmente, estruturas de compreensão alternativas às elaboradas a partir do
trabalho exclusivo com fontes escritas. O que parece evidente é que, pelo menos,
podemos aceitar que pode e deve haver um diálogo, uma relação/inteiração dialética
entre os dois. (GARRIDO. 1993, p. 41).
10
Capítulo 1 - Fundamentos históricos e políticos do Cinema
A exatidão de onde surgiu as primeiras ideias de cinema ou ao menos quem é seu pai
são diversas, ao ponto que seria injusto atribuir esse feito apenas a uma pessoa. A construção
da sétima arte é proveniente de pequenas e grandes contribuições de governos e pessoas
isoladas de todo o mundo. Essas iniciativas se dão pela necessidade humana de se expressar.
A arte rupestre é de fato o primeiro ato artístico humano de representação cultura, um
pequeno pontapé para o que é definido como arte em nosso tempo.
Mais além na história, por volta de 5.000 a.c, surgiu na China uma tipologia teatral
chamada “Jogo das Sombras” (FIG.1), no qual figuras humanas e objetos manipuláveis eram
projetados na parede através e um jogo de luz. Os efeitos eram contemplados com narrações
sempre direcionadas às histórias de aventura com dragões e príncipes. Essa forma de passar
histórias para o público através de artifícios de luz e som foram os registros mais concretos
que foi onde tudo de fato começou.
FIGURA 1: Jogo das sombras
Fonte: http://otakuartes.blogspot.com.br/p/historia-do-cinema.html.
Acesso em: 15 de Setembro,2013.
Ao prosseguir no avanço intelectual e tecnológico das civilizações, vários
instrumentos foram desenvolvidos para aprimorar e disseminar a arte, assim como o princípio
da câmera escura desenvolvido por Leonardo Da Vinci (1452-1519) no século XVI, além da
lanterna mágica, máquina criada por Athanasius Kirchner durante o século XVII capaz de
projetar imagens desenhadas em lâminas de vidro. Alguns historiadores ainda atribuem o
11
princípio teórico da câmera escura de Da Vinci ao chinês Mo Tzu (século V a.C.), outros até
ao o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.).
O Giovanni Batista Della Porta (1541-1615) publicou por volta de 1558 uma descrição
minuciosa sobre a câmera escura (FIG.2) no livro Magia Naturalis sive de Miraculis Rerum
Naturalium. Esta câmara era um quarto estanque à luz, possuía um orifício de um lado e a
parede à sua frente pintada de branco. Quando um objeto era posto diante do orifício, do lado
de fora do compartimento, a sua imagem era projetada invertida sobre a parede branca.
FIGURA 2: Câmara escura, 1545.
Fonte: http://riograndephotofluxo.wordpress.com/2012/08/19/conexoes-19-agosto-teresa-lenzi/
Acesso em: 21 de Setembro, 2013.
Mas em 1824, o pesquisador Peter Mark Roger (1779-1869) baseado em experiência
com os discos de Newton fez uma das maiores colaborações para o cinema até então. Peter
descobriu um fenômeno que ocorre quando o olho humano ele observa um objeto, formando
uma ilusão que o ciêntista denominou de Persistência da Visão ou Persistência da Retina. No
Experimento foi percebido que uma imagem projetada a um ritmo superior a 16 segundos
associam-se na retina sem interrupção.
Um ano depois em Paris, o físico Dr. Joh Ayrton inventou o taumatróscopio, um
instrumento que tinha duas figuras, uma de cada lado em posições invertidas, que quando
giradas as imagens pareciam ser a mesma figura, quanto maior a velocidade girada, dava a
impressão das imagens fundirem em apenas uma, e maior a ilusão. Entre 1828 e 1832, o belga
Joseph Antoine Ferdinand Plateau inventou um dispositivo que anos depois foi substituído
pelo fenascistoscópio (FIG.3).
O invento consistia de dois discos onde um deles tinha
aberturas radiais pelas quais uma pessoa deveria olhar, e o outro disco continha uma
sequência de imagens. Quando os dois discos giravam, a sincronização das imagens criavam
12
um efeito previsto por Mark anos antes, criando uma ilusão de movimento.
FIGURA 3: Fenascistoscópio.
Fonte: http://cinemaearte1.blogspot.com.br/2010/10/origem-indicios-historicos-e.html.
Acesso em: 10 de Outubro, 2013.
O ano de 1834 foi quando o cientista William George Horner, partindo dos estudos de
Simon Stampfer, inventou o daedalum. Invento óptico que permitia visionar um movimento
contínuo ou em ação cíclica. O zootroscópio (1834), aparelho também por Horner, que teve
uma grande demanda de comercio, fornecia coleções de fitas com desenhos que se introduzia
no aparelho para visualização.
1.1 Fotografia e o cinema
É praticamente impossível construir uma narrativa sobre a história do cinema e não
mencionar a criação e evolução da invenção que possibilitou que o cinema saísse das
animações para a realidade. Originada na França no século XVIII, a fotografia derivava da
junção de todas as teorias e tecnologias inventadas até então.
Assim como o cinema diversos estudos acrescentaram novas descobertas e
contribuíram para a invenção da fotografia. Em 1604, o italiano Angelo Sala observou um
composto de prata que escurecia com a exposição ao sol, mas mesmo tomando forma a
imagem não se fixava e acabava desaparecendo.
Os cientistas alemães Johann Heinrich Schulze e Thomas Wedgwook em 1725, assim
como Schulze obtiveram silhuetas fixas em negativo, mas a luz continuava a escurecer as
13
imagens com a transformação química. E só em 1826 que foi registrada na França, pelo
cientista Joseph Nicéphore Niépce, a primeira imagem que foi denominada como View from
the Window at Le Gras, a tradução do nome referencia o registro feito a partir da janela de
Joseph. Um ano depois Niépce recebeu uma carta, de Paris, do pintor Louis Jacques Mandé
Daguerre, falando do interesse do pintor sobre o invento.
Em 1829, os dois iniciam uma sociedade e substituíram as placas de metal revestida de
prata que escurece com o vapor de iodo. Todo esse processo foi detalhado no contrato de
sociedade. Essas informações foram cruciais para a descoberta, em 1831, da sensibilidade da
prata ionizada à luz. Niépce morreu em 1833, deixando sua obra nas mãos de Daguerre.
Foi então que veio, em 1872, o fuzil fotográfico. Máquina desenvolvida pelo inglês
Edward Muybridge que capitava a passagem do cavalo na pista de corrida através de 24
máquinas fotográficas instaladas ao longo do percurso, as 24 poses produzidas
consecutivamente trouxeram o primeiro registro do movimento do real.
1.2 O cinema e sua concepção
O cinema, como assim conhecido hoje, só começou a se concretizar no dia 28 de
dezembro de 1895, dia que os irmãos Auguste Marie e Louis Jean Lumére fizeram sua
primeira exposição pública cinematográfica.
Através de seu invento denominado de
cinematógrafo, os irmãos apresentaram em Paris, no Salão Grand Café, o curta L'Arrivée d'un
Train à La Ciotat, que com uma câmera parada que retratava o movimento de uma
locomotiva. Essa apresentação repercutiu nos continentes e foi o marco zero da disseminação
da sétima arte.
Porém de acordo com a Flávia Cesarino Costa, pesquisadora de história do cinema e
doutora em Comunicação e Semiótica, em seu livro O primeiro cinema: Espetáculo,
narração, domesticação (1995), no começo a cinema tinha sua predominância com as
imagens, porém ele ainda estava misturado a outras formas culturais, como os espetáculos de
lanterna mágica, o teatro popular, os cartuns, as revistas ilustradas e os cartões-postais.
Os aparelhos que projetavam filmes apareceram como mais uma curiosidade entre as
várias invenções que surgiram no final do século XIX. Esses aparelhos eram
exibidos como novidade em demonstrações nos círculos de cientistas, em palestras
ilustradas e nas exposições universais, ou misturados a outras formas de diversão
popular, tais como circos, parques de diversões, gabinetes de curiosidades e
14
espetáculos de variedades. (COSTA, 1995 p.17).
Regina Coeli Vieira Machado, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj),
afirma que foi a partir dos trabalhos do americano David Griffh, com a utilização de câmeras,
que o cinema passou a ser reconhecido como uma arte de entretenimento e informação. De
1895 a 1915 o primeiro cinema passou por uma série de reorganizações nos âmbitos de
produção, distribuição e exibição. Georges Méliès, em 1896, apresentou uma nova
perspectiva sobre a funcionalidade do cinema. O francês levantou a ideia que além de
registrar a realidade, as produções cinematográficas serviriam para modificá-la e torná-la
divertida. O trabalho de Méliès ganha um diferencial quando ele, por epifania, decide utilizar
de truques para desenvolver as produções cinematográficas. A partir disso, o fantasioso se
tornou a marca registrada do diretor que visava explorar um potencial narrativo diferenciado.
L’affaire Dreyfuss, de 1899 (FIG.4), foi uma das primeiras obras de destaque de
George, mas na produção Viagem à lua em 1902 (FIG.5), o diretor pode demonstrar suas reais
ações sobre as trucagens com a câmara cinematográfica. A grande inovação foi a utilização de
cores na película. Porém de acordo com uma publicação da BBC, em 12 de setembro de 2012,
o Museum National Media de Bradford encontrou um registro com cores registrado pelo
fotógrafo inglês Edward Raymond Turner em 22 de março de 1899 (FIG.6). De acordo com
Bryony Dixon, curadora do Bradford Film Institute (BFI), do arquivo nacional britânico, a
película mostrava três crianças brincando com girassóis, soldados marchando e aves de
estimação, entre elas uma arara. Pelo o motivo desses registros só serem descobertos 110 anos
depois, Méliès é registrado como o pioneiro.
15
FIGURA 4: L’affaire Dreyfuss, 1899.
Fonte: Paulo Muniz.
FIGURA 5: Viagem à lua em 1902.
Fonte: Paulo Muniz
16
FIGURA 6: Edward Raymond Turner em 22 de março de 1899.
Fonte: Jornal BBC.
Entre 1909 e 1912, o crescimento e desenvolvimento da indústria cinematográfica vê
da América do Norte, principalmente através da Motion Pictures Patents Company.
A
solidificação do grupo possibilitou que produtores independentes desenvolvesse suas próprias
empresas de distribuição e exibição de filmes.
No processo de desenvolvimento da indústria desse período se destaca o diretor e
produtor D.W. Griffith. O cineasta se aperfeiçoou dos elementos da interpretação e
formatação e formação artística, possibilitando a criação de sua escola que formou grandes
estrelas, como Mary Pickford, Lillian Gish e Lionel Barrymore.
Em meados de 1913, Griffith lançou uma das suas primeiras obras, Judith of
Bethulia, porém o seu trabalho mais notável foi lançado em 1915. Denominado O
nascimento de uma nação e foi dividido em uma película de 12 bobinas. Devido a sua
proporção o filme foi considerado a primeira obra-prima do cinema.
Devido a todo o investimento dos Estados Unidos no cinema, entre 1915 e 1920, assim
como em outros países, mais tarde, o mundo cinematográfico se proliferou pelo o interior do
país.
1.3 Apoio político sobre a construção do cinema
17
Assim como instrumento de registro do cotidiano e de fantasia levantado por Méliès, o
cinema foi utilizado peles governos como instrumento de propagação de conceitos políticos e
de controle da opinião pública. Um período muito claro da utilização direta desse poder foi
de 1933 à 1945, onde Adolf Hitler na Alemanha nazista e Franklin Roosevelt nos Estados
Unidos, desenvolveram produções cinematográficas com ideias específicas para implementar
suas ideologias ao público.
No começo do século XX, a consolidação de governos por meios da comunicação
pública, educação e produção cultural cinematográfica se tornou o novo tipo de poder. De
acordo com Wagner Pinheiro Pereira (2005) em seu artigo, “O poder das imagens: cinema e
propaganda política na governos de Hitler e Roosevelt (1933 – 1945)”, essas estratégias
tomadas pelo os governantes para difundir suas ideologias foram reflexos da especialização
dos estudos sobre cinema e comunicação dos país.
Dentre todos os meios de comunicação utilizados para exercer tal influência
psicológica, o cinema foi bastante privilegiado. Tendo sido utilizado para fins
políticos inicialmente pelos norte-americanos em 1898, durante a Guerra Hispanoamericana, e logo depois pelos ingleses, em 1901, durante a Guerra dos Bôeres
(1899-1902) (PEREIRA, 2005, p.02).
Mas só a partir da Primeira Guerra Mundial em 1914 foi onde os líderes dos governos
envolvidos no conflito necessitaram do novo meio de comunicação para influenciar as massa
a apoiar seus ideais. Porém, de acordo com Pereira, os filmes de propaganda política desse
período eram modestos e muitas vezes até ingênuos, não possuíam ainda a técnica, o fascínio
e a eficácia que teriam os produzidos a partir da ascensão dos regimes nazi-fascistas e da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
É importante ressaltar que esses regimes não foram os únicos que na mesma época ou
antes tomaram conhecimento do poder do cinema como divulgação de propaganda. Os russos
em sua revolução de 1917 desenvolveram um trabalho específico para a produção de
propaganda cinematográfica. O próprio Lênin construiu um conceito que de todas as artes, o
cinema era mais importante para a revolução, por ser o principal canal cultural do
proletariado. Esse pensamento foi seguido por todos os líderes socialistas assumiram a Rússia
e outras nações, tais como: Josef Stálin da União Soviética, Mao Tsé-tung do Imperio Chinês
e Fidel Castro de Cuba.
Assim como os governos totalitários as democracias também aderiram ao recurso
cinematográfico durante esse período. Países como Brasil, Estados Unidos, Inglaterra e
França disseminaram as ideias de seus governos através da publicidade, porém de uma forma
18
mais sutil do que os regimes totalitários ou autoritários. Esses fatores trouxeram o
desenvolvimento e proliferação do cinema como uma prioridade dos governos ao redor do
mundo.
Atuando como indústria, como canal da produção e apresentação de propaganda
política, Pereira (2005) afirma que as indústrias alemã e norte-americana eram formadas por
três elementos bases:
1) O sistema de grandes estúdios, do qual Hollywood foi o modelo mais acabado,
embora não possa ser ignora a importância da Ufa (Universum-Film AG), indústria
cinematográfica alemã, que, durante as décadas de 1920-1940, foi a principal
concorrente do cinema norte-americano; 2) o “star-system”, um sistema de
mitificação de atores e atrizes que fascinava o público alemão e norte-americano,
ditando todo um conjunto de valores, comportamentos, conceitos e visões de mundo
para a época; 3) código de censura, responsável por monitorar as mensagens
veiculadas nos filmes, que atuou de forma mais forte e evidente no cinema alemão e
mais suave e discreta no cinema norte-americano. (PEREIRA, 2005, p.3).
A base dessas medidas também foram adotadas pelo governo de Getúlio Vargas no
Brasil. Mas antes de Vargas assumir o Estado Novo, em 1932 foi desenvolvida a primeira
legislação específica sobre cinema, que foi ajustada nos anos posteriores na consolidação, em
1937, do regime político de Getúlio Vargas. Neste ano, o governo já havia sintetizado o
cinema a sua conveniência nos âmbitos da distribuição e apresentação educativa, comercial,
da censura e estruturais dos órgãos do estado, assim como outros países já citados nessa
pesquisa.
19
Capítulo 2 - História do cinema no Brasil
Antes de se explanar sobre a chegada do cinema no Brasil, e desenvolver uma linha
temporal, deve-se entender que os primeiros anos da produção cinematográfica em território
brasileiro foi um tanto conturbada e muito criticada. As primeiras mostras de cinema no Brasil
são registradas 8 de julho de 1896, no Rio de Janeiro (VIANY, 1987, p.33). Mas somente na
década de 1930 foi onde as primeiras empresas cinematográficas surgiram.
A novidade cinematográfica chegou cedo ao Brasil, e só não chegou antes devido ao
razoável pavor que causava aos viajantes estrangeiros a febre amarela que os
aguardava pontualmente cada verão. Os aparelhos de projeção exibidos ao público
europeu no inverno de 1895-1896 começaram a chegar ao Rio de Janeiro em meio
deste último ano, durante o saudável inverno tropical. No ano seguinte, a novidade
foi apresentada inúmeras vezes nos centros de diversão da Capital, e em algumas
outras cidades. (GOMES, 1980, p.28)
Diferente dos países que desenvolveram a princípio a arte do cinema, o Brasil de
início ficou dependente do cinema exterior para seu próprio desenvolvimento cultural. O
crítico e romancista Jean-Claude Bernardet (1936) aborda que essa dependência se deu pela
mentalidade colonial da sociedade, estabelecendo uma valorização da cultura estrangeira sem
nenhuma resistência.
Para a opinião pública, qualquer produto que supusesse uma certa elaboração tinha
de ser estrangeiro, quanto mais o cinema. O mesmo se dava com as elites, que
tentando superar sua condição de elite de um País atrasado, procuravam imitar a
metrópole. As elites intelectuais, como que vexadas por pertencer a um País
desprovido de tradição cultural e nutridas por ciências e artes vindas de países mais
cultos, só nessas reconheciam a autêntica marca de cultura. (BERNARDET, 1978,
p.20).
O Brasil na época tinha sua economia baseada em exportação de matérias-primas e
importação de produtos manufaturados. Esta configuração econômica e política, é o que leva
Bernardet a acreditar que as decisões, principalmente políticas e econômicas, mas também
culturais, de um País exportador de matérias-primas se tornavam obrigatoriamente reflexas do
estrangeiro (1978, p.20).
O quadro técnico, artístico e comercial do nascente cinema era constituído de
estrangeiros, notadamente italianos cujo fluxo imigratório foi considerável no final
do século XIX e nos primórdios do XX. No terreno mais propriamente artístico, os
encenadores e intérpretes provinham de elencos dramáticos em tournée sulamericana ou de grupos aqui radicados onde predominava o elemento estrangeiro.
(GOMES, 1980, p.28 e 29).
20
O ritmo da construção do cinema se deu pela elite intelectual estrangeira, provando a
falta de estrutura e tradição cultural do país na época. A desenvoltura cinematográfica do
cinema, provenientes dos estrangeiros no Brasil, estava presentes tanto no aspecto importador,
como nas produções e exibições locais. Apesar dos primeiros registros cinematográficos
terem acordado uma revolução cultural no Brasil, o país não se livrou da dependência
estrangeira para o desenvolvimento do seu setor cinematográfico.
O pesquisador Paulo Emílio Salles Gomes (1980, p.41) afirma que uma das principais
dificuldades da produção, exibição e distribuição do cinema nacional foi a falta de
infraestrutura que o Brasil dispunha na época. Na maior parte do país existia uma grande
deficiência política para o desenvolvimento regional principalmente na área de infraestrutura,
e na distribuição da energia:
Os dez primeiros anos de cinema no Brasil são paupérrimos. As salas fixas de
projeção são poucas, e praticamente limitadas a Rio e São Paulo, sendo que os
numerosos cinemas ambulantes não alteravam muito a fisionomia de um mercado de
pouca significação. A justificativa principal para o ritmo extremamente lento com
que se desenvolveu o comércio cinematográfico de 1896 a 1906 deve ser procurada
no atraso brasileiro em matéria de eletricidade. A utilização, em março de 1907, da
energia produzida pela usina Ribeirão das Lages teve conseqüências imediatas para
o cinema no Rio de Janeiro. Em poucos meses foram instaladas umas vinte salas de
exibição, sendo que boa parte delas na recém construída Avenida Central, que já
havia desbancado a velha Rua do Ouvidor como centro comercial, artístico mundano
e jornalístico da Capital Federal. (GOMES, 1980, p.41)
Porém em lugares como o Rio de Janeiro as primeiras produções ganharam grande
força nos primeiros anos do cinema nacional. A pesquisadora Anita Simis (1996) registrou os
primeiros filmes a serem rodados no Brasil por volta de 1897, um deles foi o filme Maxixe, de
Vitor de Maio (SIMIS, 1996, p. 19). Na década seguinte à primeira produção mais de 150
filmes foram produzidos, de acordo com Simis a produção atingia uma média de 15 filmes
por ano. Porém em 1899 e 1900 foram produzidos uma média de 24 a 27 filmes ultrapassando
mostrando a força do cinema nacional (SIMIS, 1996, p. 302).
2.1 Crescimento e proliferação da cultura cinematográfica
Em 1907, Alex Viany fez uma estimativa de quantas salas de projeção abriram na
capital federal, que na época era o Rio de Janeiro, entre agosto e dezembro daquele ano. Em
sua pesquisa Alex (1987, p.36) registrou a abertura de 22 salas de cinema por toda a cidade.
Ainda citando Paulo Emílio, a melhora na infraestrutura das cidades, principalmente na área
21
da energia elétrica, possibilitou o desenvolvimento e a proliferação de dezenas de salas de
cinemas e ainda em maior segurança dos investidores sobre uma produção cinematográfica
nacional. “Um número abundante de curtas-metragens de atualidades abriu caminho para
numerosos filmes de ficção cada vez mais longos” (GOMES, 1980, p.28).
O crescimento do mercado cinematográfico no Brasil se igualou na questão de
produção, distribuição e exibição, ao número das produções que vinha de fora do país. Essa
desenvoltura se deu pela interação dos donos das salas e cinemas.
Esses empresários argutos eram, ao mesmo tempo, produtores, importadores e
proprietários de salas, situação que condicionou ao cinema brasileiro um
harmonioso desenvolvimento pelo menos durante poucos anos. Entre 1908 e 1911, o
Rio conheceu a idade de ouro do cinema brasileiro, classificação válida à sombra da
cinzenta frustração das décadas seguintes. Os gêneros dramáticos e cômicos em
voga eram bastante variados. Predominavam inicialmente os filmes que exibiam os
crimes, crapulosos ou passionais, que impressionavam a imaginação popular. No fim
do ciclo o público era sobretudo atraído pela adaptação ao cinema do gênero de
revistas musicais com temas de atualidade. (GOMES, 1980, p.29).
Tanto Gomes (1980, p.44), quanto Anita Simis (1996, p.72), apontam dados de que as
maiores produções dessa primeira aurora cinematográfica foram Os Estranguladores (1908) e
Paz e Amor (1910). Os Estranguladores, em seu tempo, foi exibido mais de oitocentas vezes,
três anos depois a produção cinematográfica Paz e Amor, bateu o recorde nacional chegando a
mais de novecentas exibições.
Em 1909/10, fizemos mais de cem filmes cada ano, naturalmente em uma parte.
Nesse tempo o cinema brasileiro não temia a concorrência estrangeira, e nossos
filmes realmente atraiam mais atenção do que The Violin Maker of Cremona ou The
Lonely Villa, de Griffith. Nosso cinema dava pancada mesmo no que vinha de fora.
E Gonzaga fala-nos também do que talvez tivesse sido o primeiro estúdio
cinematográfico brasileiro situado em pleno centro comercial do Rio de Janeiro,
perto da confluência das ruas do Lavradio e do Riachuelo. Ergueu-o o italiano
Giuseppe Labanca, tio do ator João Labanca, diz-se que com a bagatela de 30
contos de réis. Só ali, no período em foco, foram feitos uns cem filmes.
(GONZAGA Apud VIANY, 1987 p.44).
A euforia do crescimento não durou por muito tempo, em 1912 as produções
cinematográficas nacionais, por motivos de investimentos tecnológicos, não
conseguem mais se igualar a produção do exterior é são deixadas de lado pela
sociedade.
Em troca do café que exportava, o Brasil importava até palito e era normal que
importasse também o entretenimento fabricado nos grandes centros da Europa e da
América do Norte. Em alguns meses o cinema nacional eclipsou-se e o mercado
cinematográfico brasileiro, em constante desenvolvimento, ficou inteiramente à
disposição do filme estrangeiro. Inteiramente à margem e quase ignorado pelo
público, subsistiu contudo um debilíssimo cinema brasileiro. (GOMES, 1980, p.29).
Em seu artigo “Cinema e política cultural durante a ditadura e a democracia” a
22
pesquisadora Anita Simis (2005), afirma que o cinema brasileiro só veio tomar novas forças a
partir do momento que ele foi percebido como ferramenta governamental.
O governo
provisório de 1930, por já ter uma concepção sobre a funcionalidade política do cinema, e de
como ele vinha se desenvolvendo desde a década de 20 no sentido de propaganda
governamental no cinema, conseguiu rapidamente organizar o quadro cinematográfico do
país.
Assim como governos já citados nessa pesquisa, o governo brasileiro se utilizou da
técnica cinematográfica para propagar as ideologias homogeneizando a sociedade de ensino e
cultura. O cinema com importância governamental foi incluído como prioridade da época,
devido a sua funcionalidade como instrumento pedagógico, formativo, de disseminação
cultural e ideológico.
A ideologia, dessa forma, se espalha e impregna todas as camadas da sociedade. Na
família, na escola ou no trabalho, em todas as partes e por todos os meios, todos
passam a ser orientados para os mesmos fins e enquadrados dentro dos mesmos
princípios (GARCIA, 1992, p.78).
Em 1932, influenciada pelo ministério da propaganda alemão a ditadura de Vargas
transformou o DPDC - Departaento de Propaganda e Difusão Cultural num departamento
específico para difundir e homogeneizar seu nacionalismo denominado de Departamento de
Imprensa e Propaganda – DIP.
Assinale-se também que, com a ditadura, além das encomendas do DIP, é preciso
considerar que a obrigatoriedade de exibição do curta- metragem, prevista no
Decreto de 32, passa ser cumprida de forma mais efetiva com a fiscalização do DIP
e quando o DIP deixa de encomendar filmes, e passa ele próprio a produzir o que
interessa ao governo, em troca os produtores cinematográficos são atendidos em
uma antiga reivindicação, p. a obrigatoriedade de exibição de um longa-metragem
para cada sala por ano. (SIMIS, 2005 p.05).
A partir dos anos 50 até o começo da ditadura militar em 1964, o país passava por um
grande crescimento político, econômico e cultural. O investimento político na construção
cinematográfica consolidou o cinema brasileiro. Um dos primeiros documentários político
conhecido foi intitulado Jango - Como, quando e porque se derruba um presidente, de 1984.
A produção trazia a história de João Goulart, chamado por muitos historiadores como
o herdeiro de Getúlio Vargas. De acordo com a pesquisadora Rose Mara Vidal de Sousa
(2011), afirma que Jango com assim era chamado investiu na produção de sua própria
biografia para atingir as massas e ter aceitação eleitoral. Porém, todos os seus esforços com a
23
propaganda não surtiram efeito culminando em um golpe militar.
2.2 A aurora cinematográfica da década de 50
Por outro lado, Arthur Autran (2007) afirma que a década de 1950 foi fundamental
para a construção e solidificação do cinema brasileiro, caracterizando um grande crescimento
da cultura cinematográfica. Com o desenvolvimento da sétima arte também veio o
crescimento no número de jornais que investiram em críticos, Autran deu destaque a revistas
mineiras de cinema feitas no período e os cineclubes que se espalharam por todo o país, com
destaque a atuação da Cinemateca Brasileira e da Cinemateca do MAM – Museu de Arte
Moderna da Bahia.
Nos anos 50, o Rio de Janeiro se destacou no Brasil pela produção das comédias
carnavalescas. Esses filmes foram bem aceitos pelas massas populares, porém não agradaram
a crítica paulista e nem local. A Companhia Cinematográfica Vera Cruz, inaugurada em 1949,
possibilitou a comparação das produções nacionais com qualidade cinematográfica
internacional.
Entre os grandes críticos de cinema que surgiram de 40 a 50, Arthur Autran, destaca
Paulo Emílio Gomes. De acordo com Autran, o crítico no início da década de 50 foi quem
proporcionou o estreitamento da produção europeia com a brasileira no primeiro festival
Internacional de cinema que ocorreu em São Paulo em 1954.
Reinventando seu modo de criação, a produção cinematográfica brasileira encontra no
mundo da literatura os recursos necessários para uma nova desenvoltura. José Carlos Avellar
(1994), crítico de cinema, acreditava que os cineastas e escritores tinham as mesmas formas
de adquirir inspiração em seus trabalhos, formando uma reciprocidade entre as duas artes.
Um diálogo natural, disse Dias Gomes pensando a questão do ponto de vista do
teatro, “Nenhuma arte é totalmente autônoma no sentido de não utilizar meios de
expressão comuns a outras artes”. Natural e inconsciente acrescentou Plínio Marcos
observando a conversa ainda do ponto de vista do teatro, “Não sei até que ponto o
cinema influenciou minha obra. Mas, certamente, houve influência”. Um diálogo
necessário, disse Clarice Lispector observando a conversa do ponto de vista do
romance, “O romance tem que ser renovado, senão ele morrerá. Nesse aspecto tem
sido das mais fecundas a influência do cinema.” (AVELLAR, 1994, p.8)
Os poderes políticos também desenvolveram essa aproximação. Assim como já visto
24
Getúlio Vargas desenvolveu um grande papel para disseminação da cultura cinematográfica
no país. A implementação do Ministério da Propaganda foi um passo político para
manutenção da sua imagem sobre as massas.
Vários cinejornais exibidos nas capitais e no interior do país. Esses cinemas eram
espaços também para comícios, realizados antes de qualquer exibição dos filmes. A partir
dessa articulação Getúlio foi aclamado pela população como a imagem de “pai dos pobres”
(ROCHA & FRANCO, 2007, p.35).
Pode ser notado uma semelhança entre a ideologia dos cinejornais e as produções
estrangeiras de impacto político social como a campanha nazista. O cinema foi utilizado para
construir um imaginário de que o Brasil era o melhor país para se viver. Assim como é visto o
investimento norte americano até hoje em produções hollywoodianas.
2.3 Declínio da produção cinematográfica da década de 70 e 80.
A Pesquisadora Souza (2006, p.5) afirma que com o instalação da ditadura militar no
Brasil em 1964, a censura dos meios de comunicação foi implementada como instrumento
para fortalecer ainda mais o poder militar político. Uma forma prática utilizada para a
massificação da ditadura foi o cinema através das propagandas políticas desenvolvidas.
Segundo Souza (2006, p.5-6), “sem a censura, o regime de exceção não teria se
sustentado no poder por quase três décadas”. A pesquisadora divide os níveis de evolução da
censura em três categorias: a censura através de conceitos morais, em seguida a censura
começa a ser importas com o poder militar, por fim, a censura dos modos políticos.
Art. 3o Para efeito de censura classificatória de idade, ou de aprovação, total ou
parcial, de obras cinematográficas de qualquer natureza levar-se-á em conta não
serem elas contrárias à segurança nacional e ao regime representativo e democrático,
à ordem e ao decoro públicos, aos bons costumes, ou ofensivas às coletividades ou
as religiões ou, ainda, capazes de incentivar preconceitos de raça ou de lutas de
classes.
Art. 5o A obra cinematográfica poderá ser exibida em versão integral, apenas com
censura classificatória de idade, nas cinematecas e nos cineclubes, de finalidades
culturais. (Lei 5.536/68)
A falta de liberdade na criação de novas obras cinematográficas culminou na queda da
produção artistica. Quando a televisão chegou ao país em 1970, e progressivamente o
crescimeno e proliferação dos aparelhos na casa das pessoas a propaganda governamental
migrou para essa nova plataforma abandonando os investimentos governamentais. Mas o que
se deu de maior importância para o fim do desenvolvimento do cinema de acordo com
25
Roberto Farias foi a redemocratização do país:
Quando voltamos ao regime democrático, a influência do cinema estrangeiro passou
a ser muito mais forte. A indústria de liminares favoreceu o cinema estrangeiro
contra o cinema brasileiro. Questionaram na Justiça os recursos da Embrafilme, a
cota de tela, o ingresso padronizado, enfim..., fecharam o cerco em torno da
empresa. E asfixiando a Embrafilme, impedindo-a de dispor dos recursos para o
desenvolvimento do cinema brasileiro, o nosso concorrente ficou muito mais livre,
mais forte, à vontade para esmagar o filme brasileiro. (FARIAS, 2005, p.16-7).
Ainda acoplado à crise e não menos importante, veio a deterioração das salas
espalhadas pelas grandes cidades e interior. Devido ao abandono do governo, salas as que
restaram migraram para shopping centers, se afastando das massas populares.
Anita Simis (2005), apresenta dados que provam o quanto enfraqueceu o
desenvolvimento cinematográfico do Brasil. De acordo com Simis, em 1975 o país tinha mais
de 275 milhões espectadores, em 2001 esse número chega apenas a 74.884.491, provando que
embora o país tenha atingido a estabilidade econômica em 1994, o Brasil está muito atrás do
que ele costumava ser devido ao abandono político.
26
Capítulo 3 - O interior: a necessidade de uma cultura cinematográfica
Para entender a importância do desenvolvimento cultural de uma sociedade é
necessário primeiro entender o que se define por cultura. Mas conceituar a cultura é uma
tarefa árdua, pois cada nação ou sociedade possui uma subjetividade cultural diferente da
outra.
A diferença cultural não representa simplesmente a controvérsia entre conteúdos o
posicionais ou tradições antagônicas de valor cultural. A diferença cultural introduz
no processo de julgamento e interpretação cultural aquele choque repentino do
tempo sucessivo, não-sincrônico, da significação, ou a interrupção da questão
suplementar que elaborei acima. A própria possibilidade de contestação cultural, a
habilidade de mudar a base de conhecimentos, ou de engajar-se na “guerra de
posição”, demarca o estabelecimento de novas formas de sentido e estratégias de
identificação. (BHABHA, 1998, p. 228).
O antropólogo Patrício Guerreiro Arias (2002) expressa em seu estudo uma narrativa
que a cultura é um reflexo das ações humanas no dia a dia, ou seja, as relações sociais que um
indivíduo desenvolve com outros pessoas resulta na assimilação de características próprias
para todos os envolvidos. A construção da subjetividade social de um povo que se desenvolve
gradativamente através do acúmulo de elementos e significados durante a vivência de um
povo. As junções dessas características formaram a cultura de uma população, uma identidade
diferenciando-os de outras comunidades.
La cultura no es algo dado, uma herencia biológica, sino uma construcción social e
históricamente situada, em consecuencia es um producto histórico concreto, uma
construcción que se inserta em la história y especificamente em la história de las
inter-acciones que los diversos grupos sociales establecen entre si. (ARIAS, 2002,
p.9).
Em resumo, Arias defende que a cultura não é um produto que pode ser pré- fabricado
para ser vendido. Derivada do latim colere, a cultura significa em seu sentido geral habitar e
cultivar. E um processo onde o ser humano constrói atribui sentido a vida através da
construção de características próprias.
Justamente por ser algo em processo, a cultura adquire novas significações ao longo
dos tempos, e segundo Williams (2003) uma inovação era decisiva nos estudos da
cultura: era preciso pensá-la de maneira plural. “(...) las culturas específicas y
variables de diferentes naciones y períodos, pero también las culturas específicas y
variables de los grupos sociales y económicos dentro de una misma nación”.
(Holanda apud WILLIAMS, 2012, pg.17)
Em 1988 foi definida em reformulação da constituição que o Estado tem o papel de
difundir, preservar e valorizar as manifestações culturais do país. A Constituição de 1988
dedica uma seção à cultura e define o papel do Estado:
27
Constitui-se patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à
ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais
se incluem; -as formas de expressão; -os modos de criar, fazer e viver; -as criações
científicas, artísticas e tecnológicas; -as obras, objetos, documentos, edificações e
demais espaços às manifestações artísticas e culturais; -os conjuntos urbanos e sítios
de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico. (art. 216 , Constituição, 1988)
3.1. Cinema em Pernambuco
Assim como no Sudeste do Brasil, o cinema chegou ao Recife por volta de 1920
mudando todo o panorama de produção cultural da cidade. Com o desenvolvimento críticosocial sobre o cinema desenvolvido pela sociedade com o passar do tempo veio os
movimentos cinematográficos anti-estrangeirismos. Esses movimentos eram chamados de
“ciclos regionais”, e tinham como foco desenvolver uma cultura cinematográfica sobre a
realidade sociocultural do Brasil.
O desenvolvimento cinematográfico em Pernambuco se divide basicamente em duas
épocas: Ciclo do Recife, durante a década de 20, e Super 8, na década de 70. Com o
crescimento da criação cinematográfica proveniente dos ciclos vieram os investidores e
distribuidores da arte.
Quando os italianos J. Cambieri e Ugo Falangola chegaram ao Recife, com uma
novidade cinematográfica, fundaram em 1925 a produtora e distribuidora de filmes
denominada Pernambuco Filme, mudando todo o quadro de desenvolvimento artístico da
região. Luiza Morais (2006) afirma que Recife, diferente de muitas outras capitais, já
disponibilizava de uma infraestrutura que possibilitou um crescimento cinematográfico mais
acelerado. A cidade já tinha uma grande desenvoltura cultural principalmente na área teatral,
além de um sistema de comunicação que possibilitava a comunicação com a Europa e o Rio e
janeiro.
Com os movimentos gerados pelo Ciclo do Recife (1923 à 1931), veio a popularização
dos cinemas de bairros com a exibição de filmes de bang-bang, regionais, que de acordo com
Alexandre Figuerôa (2000) mesclavam com o romantismo e a realidade social da época. Os
nove anos posteriores seriam prósperos sobre a concepção cinematográfica dos “ciclos”.
Nesses oito anos que se sucederam foram registrados um grande número de filmes de
longa-metragem e documentários que retratavam o cotidiano da sociedade pernambucana da
época, tais como: Retribuição – o primeiro filme como tema de bandido e mocinha, produzido
28
em Pernambuco produzido pela Aurora Filmes; Aitaré da Praia; Um dia na fazenda; Um ato
de humanidade; Jurando vingar; Filho sem mãe; Grandezas de Pernambuco; Histórias de
uma alma; Herói do século vinte; A filha do advogado; Sangue de irmãos; Reveses, dança,
amor e ventura; Destino das rosas; No cenário da vida entre outros.
Neste período, doze empresas de Pernambuco produziram 50 filmes, desafiando a hegemonia
artístico-econômica do eixo Rio-São Paulo.
Outras cidades também apresentaram uma
programação continua nos anos 20 do século passado, entre elas Cataguases, Barbacena,
Campinas, Manaus, Porto Alegre e Pelotas. Dentre todos os ciclos espalhados por todo o país,
o Ciclo do Recife, foi o ciclo regional brasileiro que mais produtivo (CUNHA, 2006).
O desenvolvimento histórico do cinema pernambucano era taxado por ciclos, com
momentos de abundância na produção cultural e outros momentos uma diminuição da
produção. Porém desde o primeiro ciclo o estado nunca deixou de produzir.
Na década de 1930, o cinema pernambucano, assim como o dos outros estados, se uni
com o governo para desenvolver em conjunto com os departamentos de imprensa e
Propaganda um novo cinema com uma ideologia pedagógica. Essa estratégia foi utilizada pelo
governo para suprir uma deficiência governamental na área de educação, principalmente nas
áreas mais afastadas das grandes capitais.
O cinema deveria ser um dos principais meios responsáveis pela educação no país,
em virtude do seu poder de educar pelo olhar, que trazia consigo os ingredientes da
modernidade, dentro da bandeira da inovação tecnológica que tanto faltava ao
regime estadonovista para a implementação do projeto modernizador do país, e a
inserção definitiva e urgente em um cenário urbano, levando em conta a formação de
novos cidadãos, travando uma relação de consumo característico de uma sociedade
urbana, através de novos hábitos, costumes e comportamentos que poderiam ser
possibilitados pelo projeto pedagógico imagético estadonovista ao oferecer novos
modelos de comportamentos ao país. (MORAIS, 2006, p. 2)
Na mesma época, de acordo Regina Machado (2004), foi quando começou o declínio
da produção cinematográfica pernambucana:
Apesar da grande repercussão nacional do cinema mudo, em 1931, o Ciclo do
Recife, começou sua decadência, devido a diversos fatores como o econômico, a
competitividade do mercado cinematográfico e o surgimento do cinema sonoro de
origem norte americana. Este último foi o que mais contribuiu para a falência, não
somente do cinema pernambucano, mas do cinema brasileiro. (MACHADO, 2004,
p.2)
Na década de 1970, o mercado internacional faz o lançamento de mais uma inovação, a
bitola do Super-8, que revolucionou o mundo internacional do cinema. Essas manifestações
chegaram ao Recife três anos depois do seu surgimento. Porém a existência desse movimento
se restringiu apenas a festivais e acabou com o declínio dos investimentos provenientes do
29
governo.
3.2 Disseminação do Cinema no interior de Pernambuco
Os primeiros cinemas de Pernambuco foram abertos no Recife por volta de 1909. O
primeiro registro é de 27 de julho, com a inauguração do Cinema Pathé na Rua Barão de
Vitória, conhecida como a Rua Nova. Logo depois veio a inauguração do Cinema Royal em
06 de novembro do mesmo ano, instalado na Rua Nova (FIG.8). Este último foi considerado
como o templo sagrado na década de 20 por desenvolver uma programação voltada para a
produção cinematográfica pernambucana na época (MACHADO, 2004 p.2 -3).
Por volta de 1910, os primeiros cinemas foram surgindo no interior de Pernambuco,
cidades como Caruaru, Arcoverde, Pesqueira, Gravatá, Garanhuns, Sanharó dentre outras
passaram a contar com desenvolvimento cinematográfico.
FIGURA 8: Recife, Rua Nova, 1950.
Fonte: Paulo Muniz
Um ano depois da inauguração dos primeiros cinemas no Recife, é inaugurado em
Pesqueira, cidade situada no Agreste do estado, o cinema denominado Recreio Familiar,
situado na Rua Duque de Caxias, onde hoje se encontra a Cardeal da cidade. Em 1913, o
cinema, que tinha a custódia da diocese, mudou seu nome para Cine Pesqueira. A cidade
30
ainda contou com mais três cinemas: Cinema Brasil (1910), O Ideal (1914) e Cinema
Moderno (1938–1991).
Outra cidade a ter investimentos na área cinematográfica foi Arcoverde, situada no
Sertão de Pernambuco. A instalação de energia possibilitou a implementação do cinema Rio
Branco em 1917.
O Cel. Augusto Cavalcanti era o proprietário da obra e encarregou Antônio
Napoleão Pacheco de Albuquerque da administração e da construção do referido
cine teatro que foi inaugurado numa sexta feira, dia 18 de maio de 1917 (UBI apud
MORAES, 2004, p.52).
O cinema da cidade foi um dos poucos do Brasil que não fecharam suas portas com a
crise dos anos 80. Porém, o cinema continuou de forma precária até ser revitalizado. (FIG 9 e
10).
FIGURA 9: Cinema Rio Branco de Arcoverde, 1941.
Fonte: Paulo Muniz.
31
FIGURA 10: Cinema Rio Branco de Arcoverde, 2013.
Fonte: Paulo Muniz.
A Cidade de Caruaru impulsionada pelo comércio das suas feiras teve sua parcela de
crescimento e desenvolvimento no mundo cinematográfico. Embora o cinema pernambucano
na década de 40 tenha caído seu ritmo de produção, Caruaru florescia para o cinema. Em
entrevista, Walter Jones, ex-funcionário da Embrafilme na cidade durante a década de 70 e 80,
observou todo o desenvolvimento e fortalecimento da distribuição cinematográfica no local:
Em Caruaru 3 Famílias se destacaram ao trazer a sétima arte para a cidade, Miguel
das molas fundou o Cinema Santa rosa, a Família Maciel, fundou o Cinema Irmão
Maciel e Cine Grande Hotel, a Família Santino Fundou o Cine Caruaru onde Hoje
Funcional a Agência do Banco do Brasil. (JONES, 2013)
O declínio dos cinemas no município veio com a proliferação das televisões no início
dos anos 80, com o abandono do governo sobre a distribuição e manutenção dos filmes, além
da chegada dos vídeos cacetes e locadoras. “Depois de passar 10 anos sem nenhum cinema,
Caruaru possui dois. Porém está longe da força de abrangência que os antigos cinemas
tinham.” (JONES, 2013).
3.3 Desenvolvimento cultural de Sanharó na década de 50
De acordo com o IBGE (2005), o município de Sanharó foi criado em 1933 pela lei
estadual nº 375. Porém as terras já eram povoadas desde o século XVIII, quando os
32
portugueses chegaram ao interior de Pernambuco e José Vieira de Melo ganhou a doação da
sesmaria da Ararobá. O primeiro local ocupado é onde hoje se denomina como distrito de
Jenipapo. A origem do nome de Sanharó se dá pela existência de uma espécie de abelhas que
viviam as margens do Rio Ipojuca. Na língua indígena Sanharó significa zangado ou excitado.
O município tem duas festas culturais durante o ano, o São João e a Feira do Leite.
Porém, a primeira grande festa na cidade foi o carnaval nos anos 30 (FIG.11), e continuou
sendo a maior festividade até os anos 80. “O carnaval era muito bonito. Todas as pessoas
saiam de suas casas, brincando, rindo e sem violência nenhuma. Pena que tudo isso acabou”
afirma Victor (2013, b), ao relembrar que durante o carnaval as pessoas se mobilizavam para
sair de casa em casa molhando uma as outras.
FIGURA 11: Carnaval em Sanharó nos anos 50.
Fonte: Paulo Muniz.
No início da década de 1930, na casa número 91 da Rua Major Sátiro funcionava a
primeira fábrica de gelo de Pernambuco, Gelo Peixe. O estabelecimento pertencia a Francisco
Peixe que foi líder político do local na época e proprietários de outros empreendimentos na
cidade e também no município vizinho de Pesqueira (FIG.12). Porém, ele defendia o Partido
Republicano Paulista - PRP e foi derrubado pelo Partido Liberal em 1937, deixando a cidade
de Sanharó.
A fábrica de gelo foi fechada e a casa vendida para Maribá Caraciolo, senhora de
grande influência no município e na capital Recife. Foi então, que numa de suas viagens para
33
a capital nos anos 50, Maribá resolveu alugar filmes para serem reproduzidos num cinema
improvisado na antiga fábrica de gelo. O espaço serviu também como escola teatral para
crianças e adolescentes que desenvolviam trabalhos em cima de dramas clássicos.
As apresentações teatrais aconteciam na casa de número 31, ainda na Rua Major Sátiro
e também no armazém da estação ferroviária da cidade. As coordenadoras dos projetos
culturais eram Rosinha Lins e Elvira Aquino, elas tinham o papel de prepara todas as
apresentações das crianças.
FIGURA 12: Aguardente de cana Peixe, de propriedade de Francisco Peixe.
Fonte: Paulo Muniz.
Em 1951, é criada na cidade a paróquia denominada “Sagrado Coração de Jesus”,
liderada pelo Padre Frederico Maciel. Frederico, visando uma maior atuação da igreja na vida
dos sanharoenses, cria em 1955 uma campanha para construir o salão paroquial. A campanha
era formada por missas temáticas para arrecadar doações dos materiais de construção para
levantar o estabelecimento. Em cada missa as pessoas eram convocadas a trazer materiais de
construção, e por isso as missas eram denominadas como: Missa da Telha; Missa do Cimento;
Missa da Tinta, etc.
O projeto foi concluído pelo segundo vigário da cidade, Padre Eraldo Cordeiro de
Barros no ano de 1960. Segundo Geneva Maciel Ferreira Victor (2013, a), conhecida como
Dona Nevinha, o cinema tinha capacidade para 300 pessoas com ingressos a um valor
equivalente ao que hoje seriam três reais. Neste mesmo ano, também foi fechado o pequeno
34
cinema e a escola teatral de Maribá, devido as maiores atenções ao novo cinema.
O Padre Eraldo instalou no salão construído com doações da população o cinema
paroquial que tinha seções regulares todos os domingos e terças-feiras às 19 horas. Às terçasfeiras eram os dias nos quais passavam filmes e seriados, já nos domingos só eram exibidos
filmes. “As terças-feiras eram dias de sala lotada, todas as cadeiras eram preenchidas nesses
dias”, comentou Maria Teresinha (2013).
Os filmes mais exibidos foram os romances e aventuras de Teixerinha, destaque para o
filme Coração de Luto (1968), Tarzan (1977) e Romeu e Julieta (1968), além de filmes de
histórias bíblicas como a paixão de cristo. Os filmes eram adquiridos pelo Padre Eraldo que
tinha grande influência no Governo Federal, possibilitando a ponte entre o grande poder
político e a cidade. De acordo com os moradores da cidade, o Padre Eraldo tinha relações
estreitas com João Gullar. “Brincávamos dizendo que Teixerinha morava em Sanharó de tanto
que os filmes dele passava no cinema e fazia sucesso entre todos da cidade” (VICTOR, 2013
b).
A cultura de frequentar o cinema se desenvolveu rápido no município e se tornou um
atrativo de desenvolvimento trazendo outras pessoas para morar nela. Foi o caso de Geneva
Maciel Ferreira Victor, que veio morar em Sanharó em 1953. “Mesmo pequena, Sanharó não
ficava atrás de Recife em divertimento. Quando morávamos lá sempre frequentamos o cinema
São Luís e os cinemas da Rua Nova. Sempre gostei dessas tramas e naquela época tudo tinha
um gosto de especial” (VICTOR, 2013 a).
Em 1960 nos estudantes gazeavam aula para assistir a série de Dick Tracy contra o
crime que passava toda a terça feira. Orientado pela igreja, o cinema a justava as
programações para intercalar com os filmes religiosos que o padre trazia. A cidade
inteira ficava improvisa com as tramas dos filmes, principalmente quando era as
histórias de Teixerinha. Foi criado até um boato que o ator morava na cidade de
tanto que ele passava no tempo. Eu gostava mais dos romances como Romeu e
Julieta e os filmes contracenados por Marlon Brando e Elizabeth Taylor, (VICTOR,
2013 a).
Embora o cinema originalmente pertencesse a Diocese da cidade de Pesqueira, com a
morte do Padre Eraldo, em 1968, o estabelecimento ficou sem um responsável legal para
colocar o empreendimento para a frente. Foi assim então que Geraldo Alves Lins, mais
conhecido pela população na época como “Gero”, assume em 1971 as responsabilidades de
continuar com a movimentação do cinema.
Logo depois o Bispo Dom Severino Mariano de Aguiar doou os prédios da Diocese
em Sanharó para a família do Prefeito Valdemir Aquino de Freitas, tornado assim o prédio do
cinema propriedade particular da família de maior poder político na época. Gero, por sua vez,
35
elevou os valores cobrados pela bilheteria do cinema por assumir os encargos de alugar o
estabelecimento, um dos motivos do afastamento do público.
Os filmes e todos os materiais do cinema tinham que ser pegos no Recife, e com a
diminuição da frequência das pessoas ao cinema o processo ficou inviável financeiramente.
Outro motivo que distanciou as pessoas do cinema foi à chegada da televisão,
A novela Pai Herói da Rede Globo foi um dos “carrascos” dos cinemas interiorano.
Houve uma decadência brutal em função da televisão aberta. Jogos de futebol e
outros programas também concorreram para essa vertiginosa queda. Muitos cinemas
apelaram para filmes pornográficos ou coisas do gênero. Não foi o caso do nosso
antigo cinema. (MUNIZ, 2013).
Com o fim da ditadura e o suporte da Embrafilmes, e sem o apoio político local, o
cinema de Gero teve que fechar suas portas em 1979. Durante muitos anos o prédio ficou
abandonado. Hoje parte da estrutura original externa ainda existe, porém a parte interna foi
completamente modificada por empreendimentos que se anexaram ao prédio. Atualmente no
local funcionam dez lojas, uma rádio comunitária e uma área de festas.
De acordo a Geneva Victor (2013 a), as pessoas sentiram muita falta do cinema,
porque ele era a única alternativa cultural da época para todos. Os que tinham mais condições
continuaram indo aos cinemas de Pesqueira, porém as outras pessoas mais carentes ficaram
sem possibilidades de divertimento. “Dos anos 80 até hoje os moradores não tem uma
alternativa de divertimento e crescimento cultural na cidade” (VICTOR, 2013 a).
3.3.1 Influência social no cotidiano da cidade
Os irmãos Lumière apresentaram o cinema ao público em 1895, com o passar dos anos
as produções se tornaram sonoras (1927), anos depois, para impactar o público, veio as
produções cinematográficas coloridas. Durante a década de 30, o cinema já era a arte mais
valorizada do mundo. Com o passar do tempo o cinema foi assumindo papéis importantes na
vida das pessoas se tornando um lugar de encontros, informação, de expansão cultural e de
formação de opiniões.
A história mostra que os humanos são copiadores, a cultura é feita de fragmentos que
as pessoas adquirem com sua vivência comum ou científica, e não foi diferente com o cinema.
Quando as pessoas se depararam com toda carga estilística de beleza e glamour que o cinema
trouxe copiaram, imaginando serem os personagens dos filmes. (VICTOR, 2013 b) relata que
muitas pessoas na cidade de Sanharó, durante os anos 70, diziam que os filmes de Bruce Lee,
36
quando exibidos, causava violência entre as pessoas.
Pesquisas já mostraram que a mídia pode influenciar na vida das pessoas, mas que
ela não desempenha um papel determinante no essencial. As causas profundas da
violência juvenil não estão na mídia, mas na desintegração familiar, no tipo de vida
levada nos bairros problemáticos, na miséria e na falta de perspectivas, sem contar a
formação de novos guetos marcados pelos preconceitos e por todos os tipos de
exclusão social. Se existem bandidos, gângsteres, não é porque os indivíduos foram
demais ao cinema ou viram televisão em excesso. (MORIN, 2003, p. 9).
Morin, portanto, acredita que o cinema não inventou ou causou a violência, ou
problemas com drogas, apenas proporcionou mais visibilidade sobre assuntos existentes na
vida das pessoas que não eram pauta no cotidiano. O que o autor defende é que as pessoas
assimilam as informações vindas das telonas de acordo com sua subjetividade, sendo assim,
cada um reage de um modo. “Para cada estímulo ou influência, existem outros estímulos ou
influências, antagônicos, complementares, mais ou me nos carregados de significação para
cada indivíduo” (MORIN, 2003, p. 12).
Em Sanharó, o impacto do cinema não foi diferente, desde sua instalação na década de
50, o estabelecimento se tornou uma variável cultural constante na vida das pessoas. Mesmo
funcionando apenas nos domingos e terças-feiras, o cinema se tornou o local de encontro das
pessoas que saiam de suas casas para socializar. Sendo assim, além de ser de extrema
importância para o desenvolvimento cultural da sociedade que viva o cinema, ele se ganhou
função social em todos no município.
Nas terças-feiras, dia em que eram exibidos os seriados, muitos estudantes deixavam
de ir à aula a noite para não perder o desfeche da série. “Depois que o episódio acabava a
cidade só comentava o que ia acontecer depois. Era a nossa única diversão, então qualquer
filme era assunto de uma semana até passar outro filme” afirma Galvão (2013).
Antes de cada sessão os casais apaixonados podiam dedicar músicas a seus parceiros.
Os bilhetes eram passados para a cabine do locutor que lia a mensagem enviada e passava a
música escolhida. “Era a oportunidade que tínhamos de declarar nosso amor e paquerar as
moças que frequentavam o cinema” (VICTOR, 2013 b) que na época cuidava da bilheteria do
cinema.
De acordo com o antropólogo construtivista J. Dupuis (1996), a interação entre os
indivíduos de um local é de extrema importância para a solidificação e desenvolvimento da
sociedade envolvida. Dupuis afirma que os sentidos das ações de uma sociedade é derivada
da preexistência do local onde todos estão inseridos. Visto assim, o cinema de Sanharó além
de ter sido uma alternativa cultural para as pessoas que o frequentavam, o local desempenhava
37
um papel importante para o desenvolvimento social do indivisos.
Já que o ambiente
fortaleceu uma maior interação entre as pessoas da cidade, unificando e desenvolvendo a
qualidade de vida social e cultural do sanharoense.
Após 34 anos da última sessão a cidade perdeu mais uma de suas alternativas
culturais, onde hoje é a cidade não possui nenhuma manifestação sazonal que atinja a
população culturalmente a sociedade.
3.3.2 Dependência e manutenção cultural proveniente da igreja
Em 1950 a Igreja Católica estava em processo de assimilação de uma nova forma de
agir com as pessoas, adotando um estilo de gestão que na Europa já tinha se consolidado que
era voltado para progressismo. Com esse novo método a instituição se voltou mais para as
massas reformulando o sentido da atuação de grande parte do clero.
Marly Rodrigues, em seu livro O Brasil na década de 50 (2010), afirma que para
organizar esse processo de denúncias com uma maior liberdade de ação contra a violência e
injustiça social é criada em 50 a ACB – Ação Católica Brasileira, que era comandada por D.
Hélder Câmara.
A ação coordenava várias outras ramificações, assim como a JEC –
Juventude Estudantil Católica e
AP – Ação Popular, todas tinham o papel de proliferar o
poder da palavra e garantir um padrão de qualidade social para a população.
De acordo com Marly (2010, p.16), em conjunto a ABC é fundada em 1952 a CNBB
– Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tinha uma atuação voltada para o
desenvolvimento rural e cultural das camadas populares do nordeste. No mesmo ano da sua
criação a CNBB cria um sistema de educação através do rádio que foi estalada em cinco
dioceses da região Nordeste, onde uma delas foi a Diocese de Pesqueira.
Quatro anos após a criação da conferência, os bispos do Nordeste, na Declaração de
Campina Grande, afirmavam: A igreja se proclama sem nenhuma vinculação com
as situações injustas e se coloca ao lado dos injustiçados para cooperar com eles
numa tarefa de recuperação e redenção. (RODRIGUES, 2010, P.15-16)
Foi nesse período que a igreja de Sanharó com apoio da diocese de Pesqueira começou
a desenvolver uma campanha para a construção do cinema local com o mesmo objetivo que a
CNBB tinha.
Nessa época a igreja em Sanharó fomentava a cultura cinematográfica e
radiofônica no mesmo lugar, já que o cinema, assim como já citado anteriormente no trabalho,
38
tinha um local com configuração de programa de rádio onde as pessoas podiam interagir com
as outras antes da sessão. Mas também organizou as pessoas abrindo uma cooperativa rural e
um colégio na cidade, onde hoje se encontra EREM - Escola de Referência Municipal.
Em 1960 quando o cinema paroquial foi aberto a igreja desenvolveu em conjunto o
MEB – Movimento de Educação de Base, que tinha o papel de através do rádio educar os
jovens e adultos sobre assuntos de formação educacional e religiosa. E foi assim que por 10
anos o Padre Eraldo desenvolveu seu papel com pilar político, religioso, social e cultural da
cidade de Sanharó até sua morte no final dos anos 60.
39
Conclusão
Nessa pesquisa fica claro que o desenvolvimento do cinema Brasileiro, tanto nas
capitais quanto no interior, dependeu do apoio político. Sanharó que foi contemplada com a
implementação do cinema na década de 50 até o final de 70, dependia do apoio religioso e
político para manter o padrão cultural formado na época.
Hoje, o município não possui nenhuma influência de órgão público ou privado local,
que estimule o desenvolvimento cultural da cidade. O estado de Pernambuco possui muitas
ações de combate a essa carência da sociedade, como exemplo podemos citar os projetos de
Cinema Intinerante, que geralmente são apoiados pela Federação Pernambucana de
Cineclubes (Fepec), Governo de Pernambuco, entre outras instituições, para levar o cinema a
cidades que estão sem alternativas culturais assim como Sanharó.
Um dos projetos destaques do ano de 2013 é o Cinema Volante Luar do Sertão que
tem como organizador o cineasta Camilo Cavalcante. A iniciativa tem como foco trazer o
cinema a quem não tem condições de pagar e divulgar obras importantes da cinematografia
nacional.
O projeto de Camilo Cavalcante foi lançado em outubro de 2010, com parceria da
Aurora Cinema com a Federação Pernambucana de Cineclubes (Fepec), incentivado pelo
Governo de Pernambuco por meio do Funcultura. Só em 2010 o evento percorreu oito cidades
e atingiu um público de três mil pessoas do Sertão Central e Araripe: Serrita, Cedro,
Moreilândia, Exú, Bodocó, Ouricuri, Parnamirim e duas sessões em Araripina. Em sua
segunda edição em 2011, o projeto desenvolveu seu trabalho em cinco cidades de Sertão do
São Francisco: Cabrobó, Santa Maria da Boa Vista, Belém do São Francisco, Floresta e
Petrolândia. Projetos como esse demonstram que cidades como Sanharó podem ser
contempladas com desenvolvimentos cinematográficos só cabe à desenvoltura política dos
governantes locais para efetuar melhores políticas culturais em seus municípios.
40
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El Caso Alfred Dreyfus. Direção de Georges Mèliés. França : Star Film Company, 1899.
Jango – Como, quando e porque se depõe um presidente da República. Direção de Sílvio
Tendler. Roteiro de Sílvio Tendler. Texto de Mauricio Dias. Produção de Denize Goulart e
Hélio Paulo Ferraz. Rio de Janeiro: Caliban Produções, 1984. DVD (117 min), son., p&b,
color.
L'Arrivée d'un Train à La Ciotat - Lumiere em uma estaçao de trem de Paris e foi apresentado
ENTREVISTADOS
1. Geneva Maciel Ferreira Victor – Espectadora do cinema de Sanharó
2. José Wildner Ferreira Victor – Porteiro do cinema de Sanharó
3. Maria Terezinha Galvão - Espectadora do cinema de Sanharó
4. Paulo Roberto Leite Muniz – Historiador
5. Walter Jones – funcionário de Embra Filmes na década de 70
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APÊNDICE A - Entrevista 1
Nome: Geneva Maciel Ferreira Victor
Mãe: Idalina Alves Maciel
Pai: Istevan Inasscio Ferreira
Nós chegamos em sanharó no dia 14 de julho 1953, dia do meu aniversário de 15 anos.
Filha de Idalina Alves Maciel e Istevan Inascio Ferreira vinhemos de Recife para o aconchego
de uma cidade menor. Mesmo pequena, Sanharó não ficava atrás de Recife em divertimento.
Quando morávamos em lá sempre frequentamos o cinema São Luís. Sem gostei dessas tramas
e naquela época tudo tinha um gosto de especial.
Em 1960 nos estudantes gazeavam aula para assistir a série de Dick Fame contra o
crime que passava toda a terça feira. Orientado pela igreja, o cinema a justava as
programações para intercalar com os filmes religiosos que o padre trazia. Quando do Padre
Eraldo, morreu o cinema se desestabilizou.
A cidade inteira ficava improvisa com as tramas dos filmes, principalmente quando
era as histórias de Teixerinha. Foi criado até um boato que o ator morava na cidade de tanto
que ele passava no tempo. Eu gostava mais dos romances como Romeu e Julieta e os filmes
contracenados por Marlon brando e Elizabete Teylor.
Todos esses filmes eram trazidos pelo padre Eraldo que era muito amigo de João
Gulart e consegui as coisas para a cidade. A construção do cinema também foi obra da igreja
junto com a população de Sanharó através de missas temáticas. Um domingo era dia da missa
das telhas, ai o povo levava as telhas como doação e assim foi adquirido o material para
construir o cinema de Sanharó.
Quando o cinema acabou as pessoas que tinham condições iam para Pesqueira assistir
aos filmes lá. Pois a cidade ficou sem nada mais para fazer. Para falar a verdade acho que está
sim até hoje.
Quando acabou?
A gente saia e ia para o cinema de pesqueira por que não tinha mais o que fazer. A cinema
fechou por motivos de briga política então ninguém ficou dispostos de encara as disputas para
45
colocar para a frente. Então quem tinha mais condições saia da cidade para ir assistir os
filmes em pesqueira.
Problemas políticos?
Eram efetuado missas para trazer os materiais de construções. Como o padre era amigo de
João Gular ele sustentava a cidade no lugar dos governantes. Depois da sua morte a cidade
ficou abandonada e as suas posses foram minguando com o passar do tempo.
Quando surgiu a televisão em 70 as pessoas que tinham um poder econômico preferiram
comprar o equipamento do que brigar politicamente para reabrir o cinema. O cinema foi
construindo com a doação do povo de caruaru e não deveria ter ficado assim. Valdemir não
fez nada para no final dos anos 70.
Filmes exibidos?
Romeu e Julian
Filmes com Marlon Brando e Elizabete
Desde a morte do padre Eraldo a cidade ficou abandonada sem investimentos na área de
cultura.
46
APÊNDICE B - Entrevista 2
Nome: José Wildner Ferreira Victor
Idade: 54
Data: 19 de outubro de 2013
Quem levou o cinema para a cidade?
A igreja foi a responsável por trazer o cinema na década de 50. Quem cuidava de tudo na
cidade até o começo da década de 70 foram os padres. Em 1971 as responsabilidades do
cinema passaram para Tio Geraldo Alves Lins, Gero. Eu ficava na bilheteria e meu irmão era
o locutor e cuidava dos filmes.
Qual era o tipo de movimentação que tinha?
Todas as terça-feira e domingos o cinema era o ponto de encontro das pessoas da
cidade, antes de começar as sessões os namorados podiam mandar músicas para seus amores.
Mas como na época tudo era muito proibido o locutor anunciava que era “de um alguém para
um alguém”, para não ser descobertos. Os filmes de Teixerinha e Tarzan eram os que mais
passavam, o povo adorava as histórias de Teixerinha e sempre choravam.
Quando passava os filmes de Bruce lee os marmanjos da cidade endoidavam e davam
trabalho para a gente, pois quando acabava o filme o lutador incorporava nas pessoas que
brigavam dentro e fora do cinema. Mas era divertido.
Outro impasse engraçado que aconteceu com a gente era que tinha um menino que
falsificava na mão os ingressos. Os bilhetes falsificados ficavam iguais aos originais (risos),
Tio Gero teve que ir na casa dele oferecer entrada gratuita no cinema para sempre desde que
ele não falsificasse mais e assim foi feito.
Qual os tipos de filmes que passavam?
Propagandas politicas
Filmes de lutas
Comedias
Qual o órgão que levou o cinema?
A igreja.
Como o cinema era importante para a cidade?
Sim. Era a única distração que tínhamos constante, era o ponto de encontro de todos para
namorar, brincar, brigar, e acima de tudo se divertir. Uma das maiores diversões eram as
músicas que os casais passavam uns aos outros. Era a oportunidade que tínhamos de declarar
nosso amor e paquerar as moças que frequentavam o cinema.
47
Por que fechou?
Valdemier Aquino, governante na época, que virou o dono do prédio e não deu suporte para
que aquilo tudo continuasse. Depois que o cinema fechou em 1979 a cidade foi morrendo aos
perdemos nosso Carnaval depois e agora estamos perdendo nossa feira do leite.
As pessoas mudaram o modo de comportamento depois que o cinema acabou?
Sim, as pessoas ficaram sem ter o que fazer até hoje.
Depois que fechou as pessoas reclamaram da falta?
Muito. Por não ter mais o que fazer.
48
APÊNDICE C - Entrevista 3
Nome: Maria Terezinha Galvão
Idade: 72
Data: 26 de outubro de 2013
Quem levou o cinema para a cidade?
Foi o Padre Eraldo quem trouxe o cinema até a gente. Antes tinha uma senhora que passava
uns filmes, mas era só para convidados.
Qual era o tipo de movimentação que tinha?
Muita gente ia ao cinema, a gente tinha que chegar cedo para pegar lugar. Ficávamos
conversando e especulando como seria o filme e quando era um seriado as expectativas eram
maiores ainda.
Qual os tipos de filmes que passavam?
Filmes de todos os tipos: Faroestes, romances, e aventuras. Eu gostava muito das histórias de
Teixerinha. O filme coração de luto era emocionante.
Como era a estrutura do cinema?
Era muito grande. Acho que cabia a cidade toda lá dentro na época (risos). Quando acabava
as cadeiras as pessoas traziam as suas próprias.
Como o cinema era importante para a cidade?
Ele com o tempo se tornou o encontro marcado de todos da cidade para jogar a conversa fora
sobre a vida e os filmes.
Por que fechou?
Gero quem cuidava do cinema não pode mais sustentar os gastos sozinho ai teve que fechar, e
também começaram a surgir televisões onde passava a novela Pai Herói, ai mudou a visão das
pessoas.
As pessoas mudaram o modo de comportamento depois que o cinema acabou?
Paramos de sair e nos encontrar no cinema. Muitas pessoas se encontrava em casas de amigos
que tinha TV para assistir à novela e os jogos.
Depois que fechou as pessoas reclamaram da falta?
Sim, muitas que não tinha condições de assistir em uma televisão ou e outro cinema em
49
Pesqueira.
Como se encontra hoje as alternativas culturais da cidade? Só tem o São João que une
todo mundo.
50
APÊNDICE D - Entrevista 4
Nome: Paulo Roberto Leite Muniz
Idade: 61 anos
Data: 05 de novembro de 2013
Quem levou o cinema para a cidade?
A paróquia através do Padre Heraldo Cordeiro de Barros que era sanharoense de nascimento;
Qual era o tipo de movimentação que tinha?
A movimentação era 02 (duas) vezes por semana. Ás terças-feiras e aos domingos.
Qual os tipos de filmes que passavam?
Variados. Nas terças-feiras a opção era pelo estilo Faroeste ou filmes de ação tipo guerra ou
espionagem. Normalmente havia também seriados. No domingo a predominância era pelo
filme românticos. “De amor” como se dizia de filme que não havia qualquer luta.
Como era a estrutura do cinema?
O espaço era grande mais havia uma quantidade pequena de cadeiras de madeiras. Era comum
pedir aos espectadores que trouxessem cadeiras ou tamboretes de casa, quando o cinema
apresentava filmes mais famosos. Exemplo: filmes épicos, romanos ou faroestes com John
Wayne. Dizia Gero ou outro locutor: “Atenção, senhoras e senhores espectadores. Tragam
cadeiras ou tamboretes que o cinema encontra-se completamente lotado”.
Como o cinema era importante para a cidade?
O cinema representava a opção maior e melhor em termos de divertimento. As famílias iam
ao cinema. Os comentários sobre os filmes eram intensos. Havia também as paqueras que se
transformaram em namoros entre os jovens da época. O cinema também servia
magistralmente para as grandes solenidades de formaturas. Até reunião solene da câmara de
vereadores chegou a ser realizada no recinto.
Por que fechou? Quem era o governante na data que fechou?
O cinema paroquial, ou cinema do padre ou ainda, cinema de Gero fechou quando fecharam a
51
maioria dos cinemas do interior. A novela Pai Herói da Rede Globo foi um dos “carrascos”
dos cinemas interiorano. Houve uma decadência brutal em função da televisão aberta. Jogos
de futebol e outros programas também concorreram para essa vertiginosa queda. Muitos
cinemas apelaram para filmes pornográficos ou coisas do gênero. Não foi o caso do nosso
antigo cinema.
As pessoas mudaram o modo de comportamento depois que o cinema acabou?
Não. Ficou a saudade e a boa lembrança de uma época áurea.
Depois que fechou as pessoas reclamaram da falta?
Ainda hoje muitos reclamam. Mais de 30 e quase 40 anos sem cinema. As pessoas se
adaptaram a outros estilos e migraram de vez pra televisão. Vê-se pouquíssimas pessoas à
noite nas nossas praças e ruas...
Como se encontra hoje as alternativas culturais da cidade?
Zero. Não temos teatro e nem cinema, claro, então não há cena cultural na nossa cidade.
Temos alguns folguedos que aparecem eventualmente. Quando passou por aqui um programa
do Sesc, chamado Cine Sesc, houve uma movimentação positiva. Estou concluindo uma
crônica sobre os cinema de Sanharó e, em especial, o Cinema Paroquial...Depois vocês me
darão o prazer de ler e quem sabe comentar se gostaram...
52
APÊNDICE E - Entrevista 5
Nome: Walter Jones
Idade: 49
Data: 29 de Setembro 2013
Quem levou o cinema para a cidade?
Em Caruaru 3 Famílias se destacaram ao trazer a sétima arte para a cidade, miguel
das molas fundou o Cinema Santa rosa, a Família Maciel, fundou o Cinema Irmão
Maciel e Cine Grande Hotel, a Família Santino Fundou o Cine Caruaru onde Hoje
Funcional a Agência do Banco do Brasil.
Qual era o tipo de movimentação que tinha?
Na Década de 70 a Tv no Brasil não tinha a força que tem hoje, por este motivo as
salas de cinema eram lotadas principalmente nos fins de semana.
Qual os tipos de filmes que passavam?
Faroestes, Filmes de Comédia,Romance, Pornochanchada,
Qual o órgão que levou o cinema?
Quem Comandava e Patrocinava as Produções Brasileiras era a Embrafilmes, a
Fiscalização ficava a Cargo da Polícia Federal, pois vivíamos um período de
Ditadura, e os Filmes Tinham Censura, a classificação era 10,12,14,16,18 anos, O
Juizado de Menores Fiscalizava as pessoas na entrada. Tinha que apresentar um
documento de acordo com a Classificação do filme.
Como o cinema era importante para a cidade?
Era um local de lazer para todas as classes sociais, pois as opções culturais eram
poucas naquela época.
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Por que fechou?
A evolução da tecnologia, no inicio dos anos 80 com a chegada do videocassete e
as locadoras, deram um abalo principalmente nos Cinemas do Interior, Fechando
Várias Salas, depois chegou a antena parabólica mais um agravante para o
fechamento de salas, e por último os shopping centers com seus Multiplex,
complexo de calas em centros comerciais. E também o fim da Embrafilmes no
governo de Fernando Collor acabando com o suporte
de todos que viviam do
cinema.
As pessoas mudaram o modo de comportamento depois que o cinema acabou?
Sim, apos o fechamento das salas, os amantes do cinema ficaram órfãos, aqui em
Caruaru passou quase 10 Anos sem Salas de Cinema, depois com da chegada dos
centro de compras esse quadro se inverteu, Caruaru hoje tem mais salas de Cinema
do que antigamente.
Depois que fechou as pessoas reclamaram da falta?
A reclamação era geral quando alguém queria ver um bom filme tinha que ir até
Recife, e pocas pessoas tinham condições de realizar um Programa Destes.
Como se está o cinema regional?
Nos dias de Hoje ouve uma Mudança Para Melhor, as Salas de Cinema Já Exibe os
Lançamentos Simuntânio com a Capital e os Grandes Centros do Sudeste.
Um Fenómeno que esta voltando é o Crescimento no Numero de Salas, em 1970 o
Brasil tinha 6.000 salas de Cinema, depois No Periodo da Decadência ficou com
Pouco mais de 1.000 Salas e Hoje Já estamos Voltando a Ter os Numeros de
Antigamente, Graças aos Centros de Compras
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APÊNDICE F- Entrevista 6
Nome: Valdemir Aquino de Freitas
Idade: 75
Data: 15 de Setembro 2013
Quem levou o cinema para a cidade?
Na casa de numero 91, na Rua Major Sátiro, funcionava uma fábrica de Gelo que diziam na
época que ser a a primeira fábrica do gênero em Pernambuco. Pertencia ao empresário
Francisco Peixa que também foi líder político local na época da Aliança Liberal, sendo que
ele era perripista , portando ligado ao governo que foi derrubado em 1937. Com a saída de
Francisco a casa foi vendida a Maribá Caraciolo de influente família sanharoense que tinha
muita vivência com a capital pernambucana. Com suas idas e voltas Maribá resolveu alugar
filmes na capital e trazer para serem exibidos em Sanharó, instalando seu cinema na referida
casa entre as décadas de 50 e 60. Esse espaço serviu também de escola teatral no qual as
crianças e jovens da época eram preparados para fazer suas apresentações teatrais que na
época era chamado de drama. As principais casas para essas apresentações eram a de numero
31, onde hoje funciona o Mercadinho Freitas e no Galpão da estação ferroviária, hoje onde
funciona a secretaria de cultura da cidade. As professoras responsáveis pela preparação e
apresentação das peças eram : Rosinha Lins e Elvira Aquino. No ano de 1951 , é criada a
paroquia do sagrado coração de jesus, que era comandada por Padre Frederico Maciel, que
em seguida promove campanhas para a construção do salão paroquial, onde o segundo vigario
a assumir a paroquia, Padre Eraldo Cordeiro de Barros instala em 1960 o Cine Paroquial até
o fim da década de 70.
Quantas pessoas cabiam no cinema?
Sendo s única diversão de Sanharó o cinema vivia sempre lotado, cabiam em media 300
pessoas.
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ANEXO
Certidão de compra e venda do terreno do cinema, 1972.
Fonte: Diocese de Pesqueira