SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO DO VALE DO IPOJUCA FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA – FAVIP/DeVry COORDENAÇÃO DE JORNALISMO CURSO DE JORNALISMO A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CINEMA NO BRASIL Relato da importância cultural do cinema em Sanharó, no interior Pernambuco RENAND ZOVKA FREITAS CARUARU, 2013 RENAND ZOVKA FREITAS A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CINEMA NO BRASIL Relato da importância cultural do cinema no interior em Sanharó no Pernambuco Monografia de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Faculdade do Vale do Ipojuca, como parte do requisito obrigatório para obtenção do título de bacharel em Jornalismo. Orientadora: Profa. Ms. Raquel Holanda CARUARU, 2013 Catalogação na fonte Biblioteca da Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE F866c Freitas, Renand Zovka. A construção histórica do cinema no Brasil: relato da importância cultural do cinema em Sanharó, no interior de Pernambuco / Renand Zovka Freitas. – Caruaru: FAVIP, 2013. 55 f.: il. Orientador(a): Raquel Rufino de Holanda. Trabalho de Conclusão de Curso (Jornalismo) Faculdade do Vale do Ipojuca. Inclui anexo e apêndice. 1. Cinema. 2. Política. 3. Pernambuco. 4. Sanharó I. Freitas, Renand Zovka. II. Título. CDU 070[14.1] Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367 RENAND ZOVKA FREITAS Monografia aprovada em: ___/___/___ Banca examinadora __________________________________________ Professor Orientador __________________________________________ Primeiro Professor examinador __________________________________________ Segundo Professor examinador CARUARU, 2013. DEDICATÓRIA Um homem constrói sua cultura através das coisas que ele está disposto a viver e enfrentar, mas nada seria possível se não houvessem outras pessoas para o homem seguir e admirar. Dedico essa monografia a toda a minha família, que me deu o suporte para viver e para todos os meus professores de todos os níveis de formação que me proporcionaram o suporte do eterno conhecimento. Resumo Este estudo tem como objetivo propor uma análise do modo de como se construiu o cinema no interior do Brasil, a partir do olhar de uma sociedade interiorana do país. Para realizar esse objetivo foi desenvolvida uma linha cronológica dos principais acontecimentos para a implantação do cinema no exterior e no Brasil, desenvolvendo uma visão geral para se aplicar ao objeto de estudo que é a cidade de Sanharó no interior de Pernambuco. Este trabalho é relevante por contribuir para identificar, compreender e mapear o imaginário da sociedade de Sanharó sobre o período de desenvolvimento do cinema. A pesquisa foi norteada entre os anos 50 e 80, como procedimento metodológico foi necessária uma revisão teórica dos estudos feitos sobre o cinema no Brasil e a utilizando do método da história oral para compreender os acontecimentos e o modo de vida da população de Sanharó no período de funcionamento do cinema na cidade. Foi concluído que a cidade passou por um período de 30 anos de fortalecimento cultural, social e político com a ajuda da igreja, instituição que implantou o cinema e outras políticas culturais no período. Palavra-chave:Cinema;Política;Pernambuco;Sanharó; Abstract This study aims to propose an analysis of the mode as the cinema was built in the interior of Brazil, from the look of a society that lives within the country. To accomplish this goal we have developed a timeline of major events for the deployment of cinema in Brazil and abroad, developing an overview to apply to the object of study: the city of Sanharó the interior of Pernambuco. This work is relevant for helping to identify, understand and map the imaginary society of the city over the period of development of the cinema. The research was founded between the years 50 and 80, as methodological procedure was required theoretical review of studies done on film in Brazil and enjoying the oral history method to understand the events and the way of life of the population of the city during the period of operation cinema in the city. It was concluded that the city went through a period of 30 years of strengthening cultural, social and political development with the help of the church, an institution that has implemented the cinema and other cultural policies in the period. Keyword: Cinema, Politics, Pernambuco; Sanharó; SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................................07 Procedimentos metodológicos.............................................................................................09 CAPÍTULO 1 - Fundamentos históricos e políticos do Cinema.........................................10 1.1 Fotografia e o cinema.....................................................................................................12 1.2 O cinema e sua concepção.............................................................................................13 1.3 Apoio político sobre a construção do cinema................................................................16 CAPÍTULO 2 - Desenvolvimento do cinema no Brasil......................................................19 2.1 Crescimento e proliferação da cultura cinematográfica...............................................20 2.2 A aurora cinematográfica da década de 50....................................................................23 2.3 Declínio da produção cinematográfica da década de 70 e 80....................................... 24 CAPÍTULO 3. O interior: a necessidade de uma cultura cinematográfica........................ 26 3.1 Cinemas em Pernambuco...............................................................................................27 3.2 Exemplificações da disseminação no interior de Pernambuco......................................29 3.3 Desenvolvimento cultural e político de Sanharó.........................................................31 3.3.1 Influência social no cotidiano da cidade.....................................................................35 3.4.2 Dependência e manutenção cultural proveniente da igreja....................................... 37 CONCLUSÃO......................................................................................................................39 REFERÊNCIAS....................................................................................................................40 APÊNDICE...........................................................................................................................43 ANEXO.................................................................................................................................53 7 Introdução A construção histórica é um elemento fundamental para a manutenção da nossa realidade social. O fator histórico sempre está associado à busca de uma explicação para o mundo, para a necessidade de compreender as relações sociais e as formas de representar as questões que fundamentam o fazer cultural. O final do século XIX e o começo do século XX foi uma época de mudanças culturais, tecnológicas e da comunicação humana. Dentre todos os instrumentos da propagação de cultura e informação que se desenvolveram nesse período está o cinema. Durante seu desenvolvimento, o cinema foi utilizado como ferramente de propagação cultural, ideológica e econômica em todo o mundo. O cinema passou por turbulências em seu processo de construção de uma narrativa própria. Este trabalho tem como foco desenvolver a narrativa de um dos principais pontos de desenvolvimento da cultura no século XX: o cinema brasileiro. Pedro Lima e Vinícius de Morais, segundo Autran, são os que se destacaram pelo pioneirismo e interesses da construção da história cinematográfica do país. Vinicius de Moraes cita: Não posso ser o historiador do Cinema Brasileiro. Primeiro, porque ele ainda não tem uma História; segundo, porque se a tivesse não seria eu a pessoa mais indicada para contá-la, que a conheço imperfeitamente. O meu interesse atual pelo Cinema no Brasil é uma vontade de vê-lo surgir mais que qualquer outra coisa (MORAES apud AUTRAN, 2007). A segunda metade do século XX, de acordo com Moraes (2007), trouxe mudanças na historiografia de um modo geral, marcadas, sobretudo, pela repercussão da Nova História. Sobre essa perspectiva muitos negam a existência da história do cinema brasileiro. Antes da década de 50, a curiosidade de participar da construção da história foi reflexo do futuro do cinema nacional. Para muitos governos, o mundo cinematográfico exerceu um processo de construção político e social do país, legitimando o poder e as ações com a publicidade política. Através do seu desenvolvimento o cinema e suas produções cativaram o mundo com suas técnicas de persuasão e sedução, atraindo a atenção de todos, despertando o inimaginável. Este trabalho monográfico teve como objetivo fazer um relato sobre as mudanças políticas e culturais que as micro-sociedades, principalmente a cidade de Sanharó, sofreram no interior de Pernambuco com o desenvolvimento cinematográfico. No caso o desenvolvimento do cinema da cidade de Sanharó que se encontra no Agreste do estado é o objeto de maior aprofundamento histórico e político, no sentido de resgate de uma memória que até então não tinha sido relatada. 8 Esta pesquisa é separada em três capítulos com objetivo traçar um breve panorama da história do cinema no e interior pernambucano, tendo como foco a cidade de Sanharó. Tratase de uma proposta que ainda deverá ser alvo de maior aprofundamento histórico e político do período de ascensão e decadência do cinema de Sanharó entre as décadas de 50 e 80. A partir do desenvolvimento da construção histórica cinematográfica esse estudo deve construir um quadro da época onde o cinema era o único entretenimento das cidades interioranas e um recurso político. E a importância da disseminação a cultura para os moradores da cidade. As entrevistas com as pessoas que vivenciaram essa experiência serão o eixo para a determinação dessa importância da ideia de ter uma alternativa cultural no município como o cinema. A importância de se fazer uma pesquisa nesse sentido é despertar e documentar o desenvolvimento histórico e político de uma sociedade através do cinema. Devido a aproximação do autor com a cidade de Sanharó, foi visto pelo próprio a necessidade de mostrar a reação de uma sociedade sobre um fenômeno nacional que foi o desenvolvimento do cinema observando sua importância para o afloramento cultural para a população. Além de mostrar as mudanças de vida da sociedade em questão por conta do cinema, mostrando que o empreendimento derivacional era muito mais para o desenvolvimento da sociedade do que só uma diversão. 9 Procedimentos metodológicos Além da revisão bibliografia que serão apresentadas nos capítulos 1 e 2, fez-se necessário a utilização do método através de entrevistas orais com personagens de relevância que vivenciaram o desenvolvimento e a construção do cinema na cidade pernambucana de Sanharó durante o período de 1950 a 1980. O estudo será através da coleta de material histórico (fotos, cartazes e documentos), para analise e documentação é de extrema importância para o desenvolvimento desse trabalho. Para o desenvolvimento desse trabalho foram necessário entrevistar seis pessoas de relevância para a cidade. Assim como, José Wildner Ferreira Victor que trabalhou no cinema da cidade de Sanharó durante oito anos. A coleta oral foi de extrema importância para esse trabalho devido falta de dados físicos sobre a historia do local. Jean-Pierre Wallot citado por Joutard (1996 p. 57), desenvolve um argumento sobre a perspectiva da pesquisa oral como "método de pesquisa baseado no registro de depoimentos orais concedidos em entrevistas'''. Através desse método e possível coletar dados e perspectivas que possivelmente nunca seriam documentadas, assim como defende Garrido: Um dos aspectos mais interessantes do uso de fontes orais é que não apenas se chega a um conhecimento dos fatos, mas também à forma como o grupo os vivenciou e percebeu. É de importância capital resgatar a subjetividade, mas é um grave erro passar a confundi-la com fatos objetivos. Esta aproximação critica ao testemunho oral consegue-se mediante dois procedimentos de caráter interativo: um, com a documentação escrita existente, e outro, com o resto do corpus de documentos orais. Daí a importância de se estabelecer urna relação dialética entre os diversos tipos de fontes. ( GARRIDO. 1993, p. 39). Sendo assim, a utilização da história oral como metodologia, desenvolve um papel de contribuição para o resgate e analise de um tema específico através das memoria de um determinado grupo envolvido no tema. Foi atendendo esses aspectos que se desenvolveu o estudo desse trabalho sobre a relação da sociedade sanharoense com a contemplação do cinema na década de 50 até 1979. O registro oral, de uma forma mais direta do que o escrito por aquilo que tem de involuntário no sentido de não selecionado para a posteridade , pode oferecer, eventualmente, estruturas de compreensão alternativas às elaboradas a partir do trabalho exclusivo com fontes escritas. O que parece evidente é que, pelo menos, podemos aceitar que pode e deve haver um diálogo, uma relação/inteiração dialética entre os dois. (GARRIDO. 1993, p. 41). 10 Capítulo 1 - Fundamentos históricos e políticos do Cinema A exatidão de onde surgiu as primeiras ideias de cinema ou ao menos quem é seu pai são diversas, ao ponto que seria injusto atribuir esse feito apenas a uma pessoa. A construção da sétima arte é proveniente de pequenas e grandes contribuições de governos e pessoas isoladas de todo o mundo. Essas iniciativas se dão pela necessidade humana de se expressar. A arte rupestre é de fato o primeiro ato artístico humano de representação cultura, um pequeno pontapé para o que é definido como arte em nosso tempo. Mais além na história, por volta de 5.000 a.c, surgiu na China uma tipologia teatral chamada “Jogo das Sombras” (FIG.1), no qual figuras humanas e objetos manipuláveis eram projetados na parede através e um jogo de luz. Os efeitos eram contemplados com narrações sempre direcionadas às histórias de aventura com dragões e príncipes. Essa forma de passar histórias para o público através de artifícios de luz e som foram os registros mais concretos que foi onde tudo de fato começou. FIGURA 1: Jogo das sombras Fonte: http://otakuartes.blogspot.com.br/p/historia-do-cinema.html. Acesso em: 15 de Setembro,2013. Ao prosseguir no avanço intelectual e tecnológico das civilizações, vários instrumentos foram desenvolvidos para aprimorar e disseminar a arte, assim como o princípio da câmera escura desenvolvido por Leonardo Da Vinci (1452-1519) no século XVI, além da lanterna mágica, máquina criada por Athanasius Kirchner durante o século XVII capaz de projetar imagens desenhadas em lâminas de vidro. Alguns historiadores ainda atribuem o 11 princípio teórico da câmera escura de Da Vinci ao chinês Mo Tzu (século V a.C.), outros até ao o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.). O Giovanni Batista Della Porta (1541-1615) publicou por volta de 1558 uma descrição minuciosa sobre a câmera escura (FIG.2) no livro Magia Naturalis sive de Miraculis Rerum Naturalium. Esta câmara era um quarto estanque à luz, possuía um orifício de um lado e a parede à sua frente pintada de branco. Quando um objeto era posto diante do orifício, do lado de fora do compartimento, a sua imagem era projetada invertida sobre a parede branca. FIGURA 2: Câmara escura, 1545. Fonte: http://riograndephotofluxo.wordpress.com/2012/08/19/conexoes-19-agosto-teresa-lenzi/ Acesso em: 21 de Setembro, 2013. Mas em 1824, o pesquisador Peter Mark Roger (1779-1869) baseado em experiência com os discos de Newton fez uma das maiores colaborações para o cinema até então. Peter descobriu um fenômeno que ocorre quando o olho humano ele observa um objeto, formando uma ilusão que o ciêntista denominou de Persistência da Visão ou Persistência da Retina. No Experimento foi percebido que uma imagem projetada a um ritmo superior a 16 segundos associam-se na retina sem interrupção. Um ano depois em Paris, o físico Dr. Joh Ayrton inventou o taumatróscopio, um instrumento que tinha duas figuras, uma de cada lado em posições invertidas, que quando giradas as imagens pareciam ser a mesma figura, quanto maior a velocidade girada, dava a impressão das imagens fundirem em apenas uma, e maior a ilusão. Entre 1828 e 1832, o belga Joseph Antoine Ferdinand Plateau inventou um dispositivo que anos depois foi substituído pelo fenascistoscópio (FIG.3). O invento consistia de dois discos onde um deles tinha aberturas radiais pelas quais uma pessoa deveria olhar, e o outro disco continha uma sequência de imagens. Quando os dois discos giravam, a sincronização das imagens criavam 12 um efeito previsto por Mark anos antes, criando uma ilusão de movimento. FIGURA 3: Fenascistoscópio. Fonte: http://cinemaearte1.blogspot.com.br/2010/10/origem-indicios-historicos-e.html. Acesso em: 10 de Outubro, 2013. O ano de 1834 foi quando o cientista William George Horner, partindo dos estudos de Simon Stampfer, inventou o daedalum. Invento óptico que permitia visionar um movimento contínuo ou em ação cíclica. O zootroscópio (1834), aparelho também por Horner, que teve uma grande demanda de comercio, fornecia coleções de fitas com desenhos que se introduzia no aparelho para visualização. 1.1 Fotografia e o cinema É praticamente impossível construir uma narrativa sobre a história do cinema e não mencionar a criação e evolução da invenção que possibilitou que o cinema saísse das animações para a realidade. Originada na França no século XVIII, a fotografia derivava da junção de todas as teorias e tecnologias inventadas até então. Assim como o cinema diversos estudos acrescentaram novas descobertas e contribuíram para a invenção da fotografia. Em 1604, o italiano Angelo Sala observou um composto de prata que escurecia com a exposição ao sol, mas mesmo tomando forma a imagem não se fixava e acabava desaparecendo. Os cientistas alemães Johann Heinrich Schulze e Thomas Wedgwook em 1725, assim como Schulze obtiveram silhuetas fixas em negativo, mas a luz continuava a escurecer as 13 imagens com a transformação química. E só em 1826 que foi registrada na França, pelo cientista Joseph Nicéphore Niépce, a primeira imagem que foi denominada como View from the Window at Le Gras, a tradução do nome referencia o registro feito a partir da janela de Joseph. Um ano depois Niépce recebeu uma carta, de Paris, do pintor Louis Jacques Mandé Daguerre, falando do interesse do pintor sobre o invento. Em 1829, os dois iniciam uma sociedade e substituíram as placas de metal revestida de prata que escurece com o vapor de iodo. Todo esse processo foi detalhado no contrato de sociedade. Essas informações foram cruciais para a descoberta, em 1831, da sensibilidade da prata ionizada à luz. Niépce morreu em 1833, deixando sua obra nas mãos de Daguerre. Foi então que veio, em 1872, o fuzil fotográfico. Máquina desenvolvida pelo inglês Edward Muybridge que capitava a passagem do cavalo na pista de corrida através de 24 máquinas fotográficas instaladas ao longo do percurso, as 24 poses produzidas consecutivamente trouxeram o primeiro registro do movimento do real. 1.2 O cinema e sua concepção O cinema, como assim conhecido hoje, só começou a se concretizar no dia 28 de dezembro de 1895, dia que os irmãos Auguste Marie e Louis Jean Lumére fizeram sua primeira exposição pública cinematográfica. Através de seu invento denominado de cinematógrafo, os irmãos apresentaram em Paris, no Salão Grand Café, o curta L'Arrivée d'un Train à La Ciotat, que com uma câmera parada que retratava o movimento de uma locomotiva. Essa apresentação repercutiu nos continentes e foi o marco zero da disseminação da sétima arte. Porém de acordo com a Flávia Cesarino Costa, pesquisadora de história do cinema e doutora em Comunicação e Semiótica, em seu livro O primeiro cinema: Espetáculo, narração, domesticação (1995), no começo a cinema tinha sua predominância com as imagens, porém ele ainda estava misturado a outras formas culturais, como os espetáculos de lanterna mágica, o teatro popular, os cartuns, as revistas ilustradas e os cartões-postais. Os aparelhos que projetavam filmes apareceram como mais uma curiosidade entre as várias invenções que surgiram no final do século XIX. Esses aparelhos eram exibidos como novidade em demonstrações nos círculos de cientistas, em palestras ilustradas e nas exposições universais, ou misturados a outras formas de diversão popular, tais como circos, parques de diversões, gabinetes de curiosidades e 14 espetáculos de variedades. (COSTA, 1995 p.17). Regina Coeli Vieira Machado, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), afirma que foi a partir dos trabalhos do americano David Griffh, com a utilização de câmeras, que o cinema passou a ser reconhecido como uma arte de entretenimento e informação. De 1895 a 1915 o primeiro cinema passou por uma série de reorganizações nos âmbitos de produção, distribuição e exibição. Georges Méliès, em 1896, apresentou uma nova perspectiva sobre a funcionalidade do cinema. O francês levantou a ideia que além de registrar a realidade, as produções cinematográficas serviriam para modificá-la e torná-la divertida. O trabalho de Méliès ganha um diferencial quando ele, por epifania, decide utilizar de truques para desenvolver as produções cinematográficas. A partir disso, o fantasioso se tornou a marca registrada do diretor que visava explorar um potencial narrativo diferenciado. L’affaire Dreyfuss, de 1899 (FIG.4), foi uma das primeiras obras de destaque de George, mas na produção Viagem à lua em 1902 (FIG.5), o diretor pode demonstrar suas reais ações sobre as trucagens com a câmara cinematográfica. A grande inovação foi a utilização de cores na película. Porém de acordo com uma publicação da BBC, em 12 de setembro de 2012, o Museum National Media de Bradford encontrou um registro com cores registrado pelo fotógrafo inglês Edward Raymond Turner em 22 de março de 1899 (FIG.6). De acordo com Bryony Dixon, curadora do Bradford Film Institute (BFI), do arquivo nacional britânico, a película mostrava três crianças brincando com girassóis, soldados marchando e aves de estimação, entre elas uma arara. Pelo o motivo desses registros só serem descobertos 110 anos depois, Méliès é registrado como o pioneiro. 15 FIGURA 4: L’affaire Dreyfuss, 1899. Fonte: Paulo Muniz. FIGURA 5: Viagem à lua em 1902. Fonte: Paulo Muniz 16 FIGURA 6: Edward Raymond Turner em 22 de março de 1899. Fonte: Jornal BBC. Entre 1909 e 1912, o crescimento e desenvolvimento da indústria cinematográfica vê da América do Norte, principalmente através da Motion Pictures Patents Company. A solidificação do grupo possibilitou que produtores independentes desenvolvesse suas próprias empresas de distribuição e exibição de filmes. No processo de desenvolvimento da indústria desse período se destaca o diretor e produtor D.W. Griffith. O cineasta se aperfeiçoou dos elementos da interpretação e formatação e formação artística, possibilitando a criação de sua escola que formou grandes estrelas, como Mary Pickford, Lillian Gish e Lionel Barrymore. Em meados de 1913, Griffith lançou uma das suas primeiras obras, Judith of Bethulia, porém o seu trabalho mais notável foi lançado em 1915. Denominado O nascimento de uma nação e foi dividido em uma película de 12 bobinas. Devido a sua proporção o filme foi considerado a primeira obra-prima do cinema. Devido a todo o investimento dos Estados Unidos no cinema, entre 1915 e 1920, assim como em outros países, mais tarde, o mundo cinematográfico se proliferou pelo o interior do país. 1.3 Apoio político sobre a construção do cinema 17 Assim como instrumento de registro do cotidiano e de fantasia levantado por Méliès, o cinema foi utilizado peles governos como instrumento de propagação de conceitos políticos e de controle da opinião pública. Um período muito claro da utilização direta desse poder foi de 1933 à 1945, onde Adolf Hitler na Alemanha nazista e Franklin Roosevelt nos Estados Unidos, desenvolveram produções cinematográficas com ideias específicas para implementar suas ideologias ao público. No começo do século XX, a consolidação de governos por meios da comunicação pública, educação e produção cultural cinematográfica se tornou o novo tipo de poder. De acordo com Wagner Pinheiro Pereira (2005) em seu artigo, “O poder das imagens: cinema e propaganda política na governos de Hitler e Roosevelt (1933 – 1945)”, essas estratégias tomadas pelo os governantes para difundir suas ideologias foram reflexos da especialização dos estudos sobre cinema e comunicação dos país. Dentre todos os meios de comunicação utilizados para exercer tal influência psicológica, o cinema foi bastante privilegiado. Tendo sido utilizado para fins políticos inicialmente pelos norte-americanos em 1898, durante a Guerra Hispanoamericana, e logo depois pelos ingleses, em 1901, durante a Guerra dos Bôeres (1899-1902) (PEREIRA, 2005, p.02). Mas só a partir da Primeira Guerra Mundial em 1914 foi onde os líderes dos governos envolvidos no conflito necessitaram do novo meio de comunicação para influenciar as massa a apoiar seus ideais. Porém, de acordo com Pereira, os filmes de propaganda política desse período eram modestos e muitas vezes até ingênuos, não possuíam ainda a técnica, o fascínio e a eficácia que teriam os produzidos a partir da ascensão dos regimes nazi-fascistas e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). É importante ressaltar que esses regimes não foram os únicos que na mesma época ou antes tomaram conhecimento do poder do cinema como divulgação de propaganda. Os russos em sua revolução de 1917 desenvolveram um trabalho específico para a produção de propaganda cinematográfica. O próprio Lênin construiu um conceito que de todas as artes, o cinema era mais importante para a revolução, por ser o principal canal cultural do proletariado. Esse pensamento foi seguido por todos os líderes socialistas assumiram a Rússia e outras nações, tais como: Josef Stálin da União Soviética, Mao Tsé-tung do Imperio Chinês e Fidel Castro de Cuba. Assim como os governos totalitários as democracias também aderiram ao recurso cinematográfico durante esse período. Países como Brasil, Estados Unidos, Inglaterra e França disseminaram as ideias de seus governos através da publicidade, porém de uma forma 18 mais sutil do que os regimes totalitários ou autoritários. Esses fatores trouxeram o desenvolvimento e proliferação do cinema como uma prioridade dos governos ao redor do mundo. Atuando como indústria, como canal da produção e apresentação de propaganda política, Pereira (2005) afirma que as indústrias alemã e norte-americana eram formadas por três elementos bases: 1) O sistema de grandes estúdios, do qual Hollywood foi o modelo mais acabado, embora não possa ser ignora a importância da Ufa (Universum-Film AG), indústria cinematográfica alemã, que, durante as décadas de 1920-1940, foi a principal concorrente do cinema norte-americano; 2) o “star-system”, um sistema de mitificação de atores e atrizes que fascinava o público alemão e norte-americano, ditando todo um conjunto de valores, comportamentos, conceitos e visões de mundo para a época; 3) código de censura, responsável por monitorar as mensagens veiculadas nos filmes, que atuou de forma mais forte e evidente no cinema alemão e mais suave e discreta no cinema norte-americano. (PEREIRA, 2005, p.3). A base dessas medidas também foram adotadas pelo governo de Getúlio Vargas no Brasil. Mas antes de Vargas assumir o Estado Novo, em 1932 foi desenvolvida a primeira legislação específica sobre cinema, que foi ajustada nos anos posteriores na consolidação, em 1937, do regime político de Getúlio Vargas. Neste ano, o governo já havia sintetizado o cinema a sua conveniência nos âmbitos da distribuição e apresentação educativa, comercial, da censura e estruturais dos órgãos do estado, assim como outros países já citados nessa pesquisa. 19 Capítulo 2 - História do cinema no Brasil Antes de se explanar sobre a chegada do cinema no Brasil, e desenvolver uma linha temporal, deve-se entender que os primeiros anos da produção cinematográfica em território brasileiro foi um tanto conturbada e muito criticada. As primeiras mostras de cinema no Brasil são registradas 8 de julho de 1896, no Rio de Janeiro (VIANY, 1987, p.33). Mas somente na década de 1930 foi onde as primeiras empresas cinematográficas surgiram. A novidade cinematográfica chegou cedo ao Brasil, e só não chegou antes devido ao razoável pavor que causava aos viajantes estrangeiros a febre amarela que os aguardava pontualmente cada verão. Os aparelhos de projeção exibidos ao público europeu no inverno de 1895-1896 começaram a chegar ao Rio de Janeiro em meio deste último ano, durante o saudável inverno tropical. No ano seguinte, a novidade foi apresentada inúmeras vezes nos centros de diversão da Capital, e em algumas outras cidades. (GOMES, 1980, p.28) Diferente dos países que desenvolveram a princípio a arte do cinema, o Brasil de início ficou dependente do cinema exterior para seu próprio desenvolvimento cultural. O crítico e romancista Jean-Claude Bernardet (1936) aborda que essa dependência se deu pela mentalidade colonial da sociedade, estabelecendo uma valorização da cultura estrangeira sem nenhuma resistência. Para a opinião pública, qualquer produto que supusesse uma certa elaboração tinha de ser estrangeiro, quanto mais o cinema. O mesmo se dava com as elites, que tentando superar sua condição de elite de um País atrasado, procuravam imitar a metrópole. As elites intelectuais, como que vexadas por pertencer a um País desprovido de tradição cultural e nutridas por ciências e artes vindas de países mais cultos, só nessas reconheciam a autêntica marca de cultura. (BERNARDET, 1978, p.20). O Brasil na época tinha sua economia baseada em exportação de matérias-primas e importação de produtos manufaturados. Esta configuração econômica e política, é o que leva Bernardet a acreditar que as decisões, principalmente políticas e econômicas, mas também culturais, de um País exportador de matérias-primas se tornavam obrigatoriamente reflexas do estrangeiro (1978, p.20). O quadro técnico, artístico e comercial do nascente cinema era constituído de estrangeiros, notadamente italianos cujo fluxo imigratório foi considerável no final do século XIX e nos primórdios do XX. No terreno mais propriamente artístico, os encenadores e intérpretes provinham de elencos dramáticos em tournée sulamericana ou de grupos aqui radicados onde predominava o elemento estrangeiro. (GOMES, 1980, p.28 e 29). 20 O ritmo da construção do cinema se deu pela elite intelectual estrangeira, provando a falta de estrutura e tradição cultural do país na época. A desenvoltura cinematográfica do cinema, provenientes dos estrangeiros no Brasil, estava presentes tanto no aspecto importador, como nas produções e exibições locais. Apesar dos primeiros registros cinematográficos terem acordado uma revolução cultural no Brasil, o país não se livrou da dependência estrangeira para o desenvolvimento do seu setor cinematográfico. O pesquisador Paulo Emílio Salles Gomes (1980, p.41) afirma que uma das principais dificuldades da produção, exibição e distribuição do cinema nacional foi a falta de infraestrutura que o Brasil dispunha na época. Na maior parte do país existia uma grande deficiência política para o desenvolvimento regional principalmente na área de infraestrutura, e na distribuição da energia: Os dez primeiros anos de cinema no Brasil são paupérrimos. As salas fixas de projeção são poucas, e praticamente limitadas a Rio e São Paulo, sendo que os numerosos cinemas ambulantes não alteravam muito a fisionomia de um mercado de pouca significação. A justificativa principal para o ritmo extremamente lento com que se desenvolveu o comércio cinematográfico de 1896 a 1906 deve ser procurada no atraso brasileiro em matéria de eletricidade. A utilização, em março de 1907, da energia produzida pela usina Ribeirão das Lages teve conseqüências imediatas para o cinema no Rio de Janeiro. Em poucos meses foram instaladas umas vinte salas de exibição, sendo que boa parte delas na recém construída Avenida Central, que já havia desbancado a velha Rua do Ouvidor como centro comercial, artístico mundano e jornalístico da Capital Federal. (GOMES, 1980, p.41) Porém em lugares como o Rio de Janeiro as primeiras produções ganharam grande força nos primeiros anos do cinema nacional. A pesquisadora Anita Simis (1996) registrou os primeiros filmes a serem rodados no Brasil por volta de 1897, um deles foi o filme Maxixe, de Vitor de Maio (SIMIS, 1996, p. 19). Na década seguinte à primeira produção mais de 150 filmes foram produzidos, de acordo com Simis a produção atingia uma média de 15 filmes por ano. Porém em 1899 e 1900 foram produzidos uma média de 24 a 27 filmes ultrapassando mostrando a força do cinema nacional (SIMIS, 1996, p. 302). 2.1 Crescimento e proliferação da cultura cinematográfica Em 1907, Alex Viany fez uma estimativa de quantas salas de projeção abriram na capital federal, que na época era o Rio de Janeiro, entre agosto e dezembro daquele ano. Em sua pesquisa Alex (1987, p.36) registrou a abertura de 22 salas de cinema por toda a cidade. Ainda citando Paulo Emílio, a melhora na infraestrutura das cidades, principalmente na área 21 da energia elétrica, possibilitou o desenvolvimento e a proliferação de dezenas de salas de cinemas e ainda em maior segurança dos investidores sobre uma produção cinematográfica nacional. “Um número abundante de curtas-metragens de atualidades abriu caminho para numerosos filmes de ficção cada vez mais longos” (GOMES, 1980, p.28). O crescimento do mercado cinematográfico no Brasil se igualou na questão de produção, distribuição e exibição, ao número das produções que vinha de fora do país. Essa desenvoltura se deu pela interação dos donos das salas e cinemas. Esses empresários argutos eram, ao mesmo tempo, produtores, importadores e proprietários de salas, situação que condicionou ao cinema brasileiro um harmonioso desenvolvimento pelo menos durante poucos anos. Entre 1908 e 1911, o Rio conheceu a idade de ouro do cinema brasileiro, classificação válida à sombra da cinzenta frustração das décadas seguintes. Os gêneros dramáticos e cômicos em voga eram bastante variados. Predominavam inicialmente os filmes que exibiam os crimes, crapulosos ou passionais, que impressionavam a imaginação popular. No fim do ciclo o público era sobretudo atraído pela adaptação ao cinema do gênero de revistas musicais com temas de atualidade. (GOMES, 1980, p.29). Tanto Gomes (1980, p.44), quanto Anita Simis (1996, p.72), apontam dados de que as maiores produções dessa primeira aurora cinematográfica foram Os Estranguladores (1908) e Paz e Amor (1910). Os Estranguladores, em seu tempo, foi exibido mais de oitocentas vezes, três anos depois a produção cinematográfica Paz e Amor, bateu o recorde nacional chegando a mais de novecentas exibições. Em 1909/10, fizemos mais de cem filmes cada ano, naturalmente em uma parte. Nesse tempo o cinema brasileiro não temia a concorrência estrangeira, e nossos filmes realmente atraiam mais atenção do que The Violin Maker of Cremona ou The Lonely Villa, de Griffith. Nosso cinema dava pancada mesmo no que vinha de fora. E Gonzaga fala-nos também do que talvez tivesse sido o primeiro estúdio cinematográfico brasileiro situado em pleno centro comercial do Rio de Janeiro, perto da confluência das ruas do Lavradio e do Riachuelo. Ergueu-o o italiano Giuseppe Labanca, tio do ator João Labanca, diz-se que com a bagatela de 30 contos de réis. Só ali, no período em foco, foram feitos uns cem filmes. (GONZAGA Apud VIANY, 1987 p.44). A euforia do crescimento não durou por muito tempo, em 1912 as produções cinematográficas nacionais, por motivos de investimentos tecnológicos, não conseguem mais se igualar a produção do exterior é são deixadas de lado pela sociedade. Em troca do café que exportava, o Brasil importava até palito e era normal que importasse também o entretenimento fabricado nos grandes centros da Europa e da América do Norte. Em alguns meses o cinema nacional eclipsou-se e o mercado cinematográfico brasileiro, em constante desenvolvimento, ficou inteiramente à disposição do filme estrangeiro. Inteiramente à margem e quase ignorado pelo público, subsistiu contudo um debilíssimo cinema brasileiro. (GOMES, 1980, p.29). Em seu artigo “Cinema e política cultural durante a ditadura e a democracia” a 22 pesquisadora Anita Simis (2005), afirma que o cinema brasileiro só veio tomar novas forças a partir do momento que ele foi percebido como ferramenta governamental. O governo provisório de 1930, por já ter uma concepção sobre a funcionalidade política do cinema, e de como ele vinha se desenvolvendo desde a década de 20 no sentido de propaganda governamental no cinema, conseguiu rapidamente organizar o quadro cinematográfico do país. Assim como governos já citados nessa pesquisa, o governo brasileiro se utilizou da técnica cinematográfica para propagar as ideologias homogeneizando a sociedade de ensino e cultura. O cinema com importância governamental foi incluído como prioridade da época, devido a sua funcionalidade como instrumento pedagógico, formativo, de disseminação cultural e ideológico. A ideologia, dessa forma, se espalha e impregna todas as camadas da sociedade. Na família, na escola ou no trabalho, em todas as partes e por todos os meios, todos passam a ser orientados para os mesmos fins e enquadrados dentro dos mesmos princípios (GARCIA, 1992, p.78). Em 1932, influenciada pelo ministério da propaganda alemão a ditadura de Vargas transformou o DPDC - Departaento de Propaganda e Difusão Cultural num departamento específico para difundir e homogeneizar seu nacionalismo denominado de Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP. Assinale-se também que, com a ditadura, além das encomendas do DIP, é preciso considerar que a obrigatoriedade de exibição do curta- metragem, prevista no Decreto de 32, passa ser cumprida de forma mais efetiva com a fiscalização do DIP e quando o DIP deixa de encomendar filmes, e passa ele próprio a produzir o que interessa ao governo, em troca os produtores cinematográficos são atendidos em uma antiga reivindicação, p. a obrigatoriedade de exibição de um longa-metragem para cada sala por ano. (SIMIS, 2005 p.05). A partir dos anos 50 até o começo da ditadura militar em 1964, o país passava por um grande crescimento político, econômico e cultural. O investimento político na construção cinematográfica consolidou o cinema brasileiro. Um dos primeiros documentários político conhecido foi intitulado Jango - Como, quando e porque se derruba um presidente, de 1984. A produção trazia a história de João Goulart, chamado por muitos historiadores como o herdeiro de Getúlio Vargas. De acordo com a pesquisadora Rose Mara Vidal de Sousa (2011), afirma que Jango com assim era chamado investiu na produção de sua própria biografia para atingir as massas e ter aceitação eleitoral. Porém, todos os seus esforços com a 23 propaganda não surtiram efeito culminando em um golpe militar. 2.2 A aurora cinematográfica da década de 50 Por outro lado, Arthur Autran (2007) afirma que a década de 1950 foi fundamental para a construção e solidificação do cinema brasileiro, caracterizando um grande crescimento da cultura cinematográfica. Com o desenvolvimento da sétima arte também veio o crescimento no número de jornais que investiram em críticos, Autran deu destaque a revistas mineiras de cinema feitas no período e os cineclubes que se espalharam por todo o país, com destaque a atuação da Cinemateca Brasileira e da Cinemateca do MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia. Nos anos 50, o Rio de Janeiro se destacou no Brasil pela produção das comédias carnavalescas. Esses filmes foram bem aceitos pelas massas populares, porém não agradaram a crítica paulista e nem local. A Companhia Cinematográfica Vera Cruz, inaugurada em 1949, possibilitou a comparação das produções nacionais com qualidade cinematográfica internacional. Entre os grandes críticos de cinema que surgiram de 40 a 50, Arthur Autran, destaca Paulo Emílio Gomes. De acordo com Autran, o crítico no início da década de 50 foi quem proporcionou o estreitamento da produção europeia com a brasileira no primeiro festival Internacional de cinema que ocorreu em São Paulo em 1954. Reinventando seu modo de criação, a produção cinematográfica brasileira encontra no mundo da literatura os recursos necessários para uma nova desenvoltura. José Carlos Avellar (1994), crítico de cinema, acreditava que os cineastas e escritores tinham as mesmas formas de adquirir inspiração em seus trabalhos, formando uma reciprocidade entre as duas artes. Um diálogo natural, disse Dias Gomes pensando a questão do ponto de vista do teatro, “Nenhuma arte é totalmente autônoma no sentido de não utilizar meios de expressão comuns a outras artes”. Natural e inconsciente acrescentou Plínio Marcos observando a conversa ainda do ponto de vista do teatro, “Não sei até que ponto o cinema influenciou minha obra. Mas, certamente, houve influência”. Um diálogo necessário, disse Clarice Lispector observando a conversa do ponto de vista do romance, “O romance tem que ser renovado, senão ele morrerá. Nesse aspecto tem sido das mais fecundas a influência do cinema.” (AVELLAR, 1994, p.8) Os poderes políticos também desenvolveram essa aproximação. Assim como já visto 24 Getúlio Vargas desenvolveu um grande papel para disseminação da cultura cinematográfica no país. A implementação do Ministério da Propaganda foi um passo político para manutenção da sua imagem sobre as massas. Vários cinejornais exibidos nas capitais e no interior do país. Esses cinemas eram espaços também para comícios, realizados antes de qualquer exibição dos filmes. A partir dessa articulação Getúlio foi aclamado pela população como a imagem de “pai dos pobres” (ROCHA & FRANCO, 2007, p.35). Pode ser notado uma semelhança entre a ideologia dos cinejornais e as produções estrangeiras de impacto político social como a campanha nazista. O cinema foi utilizado para construir um imaginário de que o Brasil era o melhor país para se viver. Assim como é visto o investimento norte americano até hoje em produções hollywoodianas. 2.3 Declínio da produção cinematográfica da década de 70 e 80. A Pesquisadora Souza (2006, p.5) afirma que com o instalação da ditadura militar no Brasil em 1964, a censura dos meios de comunicação foi implementada como instrumento para fortalecer ainda mais o poder militar político. Uma forma prática utilizada para a massificação da ditadura foi o cinema através das propagandas políticas desenvolvidas. Segundo Souza (2006, p.5-6), “sem a censura, o regime de exceção não teria se sustentado no poder por quase três décadas”. A pesquisadora divide os níveis de evolução da censura em três categorias: a censura através de conceitos morais, em seguida a censura começa a ser importas com o poder militar, por fim, a censura dos modos políticos. Art. 3o Para efeito de censura classificatória de idade, ou de aprovação, total ou parcial, de obras cinematográficas de qualquer natureza levar-se-á em conta não serem elas contrárias à segurança nacional e ao regime representativo e democrático, à ordem e ao decoro públicos, aos bons costumes, ou ofensivas às coletividades ou as religiões ou, ainda, capazes de incentivar preconceitos de raça ou de lutas de classes. Art. 5o A obra cinematográfica poderá ser exibida em versão integral, apenas com censura classificatória de idade, nas cinematecas e nos cineclubes, de finalidades culturais. (Lei 5.536/68) A falta de liberdade na criação de novas obras cinematográficas culminou na queda da produção artistica. Quando a televisão chegou ao país em 1970, e progressivamente o crescimeno e proliferação dos aparelhos na casa das pessoas a propaganda governamental migrou para essa nova plataforma abandonando os investimentos governamentais. Mas o que se deu de maior importância para o fim do desenvolvimento do cinema de acordo com 25 Roberto Farias foi a redemocratização do país: Quando voltamos ao regime democrático, a influência do cinema estrangeiro passou a ser muito mais forte. A indústria de liminares favoreceu o cinema estrangeiro contra o cinema brasileiro. Questionaram na Justiça os recursos da Embrafilme, a cota de tela, o ingresso padronizado, enfim..., fecharam o cerco em torno da empresa. E asfixiando a Embrafilme, impedindo-a de dispor dos recursos para o desenvolvimento do cinema brasileiro, o nosso concorrente ficou muito mais livre, mais forte, à vontade para esmagar o filme brasileiro. (FARIAS, 2005, p.16-7). Ainda acoplado à crise e não menos importante, veio a deterioração das salas espalhadas pelas grandes cidades e interior. Devido ao abandono do governo, salas as que restaram migraram para shopping centers, se afastando das massas populares. Anita Simis (2005), apresenta dados que provam o quanto enfraqueceu o desenvolvimento cinematográfico do Brasil. De acordo com Simis, em 1975 o país tinha mais de 275 milhões espectadores, em 2001 esse número chega apenas a 74.884.491, provando que embora o país tenha atingido a estabilidade econômica em 1994, o Brasil está muito atrás do que ele costumava ser devido ao abandono político. 26 Capítulo 3 - O interior: a necessidade de uma cultura cinematográfica Para entender a importância do desenvolvimento cultural de uma sociedade é necessário primeiro entender o que se define por cultura. Mas conceituar a cultura é uma tarefa árdua, pois cada nação ou sociedade possui uma subjetividade cultural diferente da outra. A diferença cultural não representa simplesmente a controvérsia entre conteúdos o posicionais ou tradições antagônicas de valor cultural. A diferença cultural introduz no processo de julgamento e interpretação cultural aquele choque repentino do tempo sucessivo, não-sincrônico, da significação, ou a interrupção da questão suplementar que elaborei acima. A própria possibilidade de contestação cultural, a habilidade de mudar a base de conhecimentos, ou de engajar-se na “guerra de posição”, demarca o estabelecimento de novas formas de sentido e estratégias de identificação. (BHABHA, 1998, p. 228). O antropólogo Patrício Guerreiro Arias (2002) expressa em seu estudo uma narrativa que a cultura é um reflexo das ações humanas no dia a dia, ou seja, as relações sociais que um indivíduo desenvolve com outros pessoas resulta na assimilação de características próprias para todos os envolvidos. A construção da subjetividade social de um povo que se desenvolve gradativamente através do acúmulo de elementos e significados durante a vivência de um povo. As junções dessas características formaram a cultura de uma população, uma identidade diferenciando-os de outras comunidades. La cultura no es algo dado, uma herencia biológica, sino uma construcción social e históricamente situada, em consecuencia es um producto histórico concreto, uma construcción que se inserta em la história y especificamente em la história de las inter-acciones que los diversos grupos sociales establecen entre si. (ARIAS, 2002, p.9). Em resumo, Arias defende que a cultura não é um produto que pode ser pré- fabricado para ser vendido. Derivada do latim colere, a cultura significa em seu sentido geral habitar e cultivar. E um processo onde o ser humano constrói atribui sentido a vida através da construção de características próprias. Justamente por ser algo em processo, a cultura adquire novas significações ao longo dos tempos, e segundo Williams (2003) uma inovação era decisiva nos estudos da cultura: era preciso pensá-la de maneira plural. “(...) las culturas específicas y variables de diferentes naciones y períodos, pero también las culturas específicas y variables de los grupos sociales y económicos dentro de una misma nación”. (Holanda apud WILLIAMS, 2012, pg.17) Em 1988 foi definida em reformulação da constituição que o Estado tem o papel de difundir, preservar e valorizar as manifestações culturais do país. A Constituição de 1988 dedica uma seção à cultura e define o papel do Estado: 27 Constitui-se patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem; -as formas de expressão; -os modos de criar, fazer e viver; -as criações científicas, artísticas e tecnológicas; -as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços às manifestações artísticas e culturais; -os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (art. 216 , Constituição, 1988) 3.1. Cinema em Pernambuco Assim como no Sudeste do Brasil, o cinema chegou ao Recife por volta de 1920 mudando todo o panorama de produção cultural da cidade. Com o desenvolvimento críticosocial sobre o cinema desenvolvido pela sociedade com o passar do tempo veio os movimentos cinematográficos anti-estrangeirismos. Esses movimentos eram chamados de “ciclos regionais”, e tinham como foco desenvolver uma cultura cinematográfica sobre a realidade sociocultural do Brasil. O desenvolvimento cinematográfico em Pernambuco se divide basicamente em duas épocas: Ciclo do Recife, durante a década de 20, e Super 8, na década de 70. Com o crescimento da criação cinematográfica proveniente dos ciclos vieram os investidores e distribuidores da arte. Quando os italianos J. Cambieri e Ugo Falangola chegaram ao Recife, com uma novidade cinematográfica, fundaram em 1925 a produtora e distribuidora de filmes denominada Pernambuco Filme, mudando todo o quadro de desenvolvimento artístico da região. Luiza Morais (2006) afirma que Recife, diferente de muitas outras capitais, já disponibilizava de uma infraestrutura que possibilitou um crescimento cinematográfico mais acelerado. A cidade já tinha uma grande desenvoltura cultural principalmente na área teatral, além de um sistema de comunicação que possibilitava a comunicação com a Europa e o Rio e janeiro. Com os movimentos gerados pelo Ciclo do Recife (1923 à 1931), veio a popularização dos cinemas de bairros com a exibição de filmes de bang-bang, regionais, que de acordo com Alexandre Figuerôa (2000) mesclavam com o romantismo e a realidade social da época. Os nove anos posteriores seriam prósperos sobre a concepção cinematográfica dos “ciclos”. Nesses oito anos que se sucederam foram registrados um grande número de filmes de longa-metragem e documentários que retratavam o cotidiano da sociedade pernambucana da época, tais como: Retribuição – o primeiro filme como tema de bandido e mocinha, produzido 28 em Pernambuco produzido pela Aurora Filmes; Aitaré da Praia; Um dia na fazenda; Um ato de humanidade; Jurando vingar; Filho sem mãe; Grandezas de Pernambuco; Histórias de uma alma; Herói do século vinte; A filha do advogado; Sangue de irmãos; Reveses, dança, amor e ventura; Destino das rosas; No cenário da vida entre outros. Neste período, doze empresas de Pernambuco produziram 50 filmes, desafiando a hegemonia artístico-econômica do eixo Rio-São Paulo. Outras cidades também apresentaram uma programação continua nos anos 20 do século passado, entre elas Cataguases, Barbacena, Campinas, Manaus, Porto Alegre e Pelotas. Dentre todos os ciclos espalhados por todo o país, o Ciclo do Recife, foi o ciclo regional brasileiro que mais produtivo (CUNHA, 2006). O desenvolvimento histórico do cinema pernambucano era taxado por ciclos, com momentos de abundância na produção cultural e outros momentos uma diminuição da produção. Porém desde o primeiro ciclo o estado nunca deixou de produzir. Na década de 1930, o cinema pernambucano, assim como o dos outros estados, se uni com o governo para desenvolver em conjunto com os departamentos de imprensa e Propaganda um novo cinema com uma ideologia pedagógica. Essa estratégia foi utilizada pelo governo para suprir uma deficiência governamental na área de educação, principalmente nas áreas mais afastadas das grandes capitais. O cinema deveria ser um dos principais meios responsáveis pela educação no país, em virtude do seu poder de educar pelo olhar, que trazia consigo os ingredientes da modernidade, dentro da bandeira da inovação tecnológica que tanto faltava ao regime estadonovista para a implementação do projeto modernizador do país, e a inserção definitiva e urgente em um cenário urbano, levando em conta a formação de novos cidadãos, travando uma relação de consumo característico de uma sociedade urbana, através de novos hábitos, costumes e comportamentos que poderiam ser possibilitados pelo projeto pedagógico imagético estadonovista ao oferecer novos modelos de comportamentos ao país. (MORAIS, 2006, p. 2) Na mesma época, de acordo Regina Machado (2004), foi quando começou o declínio da produção cinematográfica pernambucana: Apesar da grande repercussão nacional do cinema mudo, em 1931, o Ciclo do Recife, começou sua decadência, devido a diversos fatores como o econômico, a competitividade do mercado cinematográfico e o surgimento do cinema sonoro de origem norte americana. Este último foi o que mais contribuiu para a falência, não somente do cinema pernambucano, mas do cinema brasileiro. (MACHADO, 2004, p.2) Na década de 1970, o mercado internacional faz o lançamento de mais uma inovação, a bitola do Super-8, que revolucionou o mundo internacional do cinema. Essas manifestações chegaram ao Recife três anos depois do seu surgimento. Porém a existência desse movimento se restringiu apenas a festivais e acabou com o declínio dos investimentos provenientes do 29 governo. 3.2 Disseminação do Cinema no interior de Pernambuco Os primeiros cinemas de Pernambuco foram abertos no Recife por volta de 1909. O primeiro registro é de 27 de julho, com a inauguração do Cinema Pathé na Rua Barão de Vitória, conhecida como a Rua Nova. Logo depois veio a inauguração do Cinema Royal em 06 de novembro do mesmo ano, instalado na Rua Nova (FIG.8). Este último foi considerado como o templo sagrado na década de 20 por desenvolver uma programação voltada para a produção cinematográfica pernambucana na época (MACHADO, 2004 p.2 -3). Por volta de 1910, os primeiros cinemas foram surgindo no interior de Pernambuco, cidades como Caruaru, Arcoverde, Pesqueira, Gravatá, Garanhuns, Sanharó dentre outras passaram a contar com desenvolvimento cinematográfico. FIGURA 8: Recife, Rua Nova, 1950. Fonte: Paulo Muniz Um ano depois da inauguração dos primeiros cinemas no Recife, é inaugurado em Pesqueira, cidade situada no Agreste do estado, o cinema denominado Recreio Familiar, situado na Rua Duque de Caxias, onde hoje se encontra a Cardeal da cidade. Em 1913, o cinema, que tinha a custódia da diocese, mudou seu nome para Cine Pesqueira. A cidade 30 ainda contou com mais três cinemas: Cinema Brasil (1910), O Ideal (1914) e Cinema Moderno (1938–1991). Outra cidade a ter investimentos na área cinematográfica foi Arcoverde, situada no Sertão de Pernambuco. A instalação de energia possibilitou a implementação do cinema Rio Branco em 1917. O Cel. Augusto Cavalcanti era o proprietário da obra e encarregou Antônio Napoleão Pacheco de Albuquerque da administração e da construção do referido cine teatro que foi inaugurado numa sexta feira, dia 18 de maio de 1917 (UBI apud MORAES, 2004, p.52). O cinema da cidade foi um dos poucos do Brasil que não fecharam suas portas com a crise dos anos 80. Porém, o cinema continuou de forma precária até ser revitalizado. (FIG 9 e 10). FIGURA 9: Cinema Rio Branco de Arcoverde, 1941. Fonte: Paulo Muniz. 31 FIGURA 10: Cinema Rio Branco de Arcoverde, 2013. Fonte: Paulo Muniz. A Cidade de Caruaru impulsionada pelo comércio das suas feiras teve sua parcela de crescimento e desenvolvimento no mundo cinematográfico. Embora o cinema pernambucano na década de 40 tenha caído seu ritmo de produção, Caruaru florescia para o cinema. Em entrevista, Walter Jones, ex-funcionário da Embrafilme na cidade durante a década de 70 e 80, observou todo o desenvolvimento e fortalecimento da distribuição cinematográfica no local: Em Caruaru 3 Famílias se destacaram ao trazer a sétima arte para a cidade, Miguel das molas fundou o Cinema Santa rosa, a Família Maciel, fundou o Cinema Irmão Maciel e Cine Grande Hotel, a Família Santino Fundou o Cine Caruaru onde Hoje Funcional a Agência do Banco do Brasil. (JONES, 2013) O declínio dos cinemas no município veio com a proliferação das televisões no início dos anos 80, com o abandono do governo sobre a distribuição e manutenção dos filmes, além da chegada dos vídeos cacetes e locadoras. “Depois de passar 10 anos sem nenhum cinema, Caruaru possui dois. Porém está longe da força de abrangência que os antigos cinemas tinham.” (JONES, 2013). 3.3 Desenvolvimento cultural de Sanharó na década de 50 De acordo com o IBGE (2005), o município de Sanharó foi criado em 1933 pela lei estadual nº 375. Porém as terras já eram povoadas desde o século XVIII, quando os 32 portugueses chegaram ao interior de Pernambuco e José Vieira de Melo ganhou a doação da sesmaria da Ararobá. O primeiro local ocupado é onde hoje se denomina como distrito de Jenipapo. A origem do nome de Sanharó se dá pela existência de uma espécie de abelhas que viviam as margens do Rio Ipojuca. Na língua indígena Sanharó significa zangado ou excitado. O município tem duas festas culturais durante o ano, o São João e a Feira do Leite. Porém, a primeira grande festa na cidade foi o carnaval nos anos 30 (FIG.11), e continuou sendo a maior festividade até os anos 80. “O carnaval era muito bonito. Todas as pessoas saiam de suas casas, brincando, rindo e sem violência nenhuma. Pena que tudo isso acabou” afirma Victor (2013, b), ao relembrar que durante o carnaval as pessoas se mobilizavam para sair de casa em casa molhando uma as outras. FIGURA 11: Carnaval em Sanharó nos anos 50. Fonte: Paulo Muniz. No início da década de 1930, na casa número 91 da Rua Major Sátiro funcionava a primeira fábrica de gelo de Pernambuco, Gelo Peixe. O estabelecimento pertencia a Francisco Peixe que foi líder político do local na época e proprietários de outros empreendimentos na cidade e também no município vizinho de Pesqueira (FIG.12). Porém, ele defendia o Partido Republicano Paulista - PRP e foi derrubado pelo Partido Liberal em 1937, deixando a cidade de Sanharó. A fábrica de gelo foi fechada e a casa vendida para Maribá Caraciolo, senhora de grande influência no município e na capital Recife. Foi então, que numa de suas viagens para 33 a capital nos anos 50, Maribá resolveu alugar filmes para serem reproduzidos num cinema improvisado na antiga fábrica de gelo. O espaço serviu também como escola teatral para crianças e adolescentes que desenvolviam trabalhos em cima de dramas clássicos. As apresentações teatrais aconteciam na casa de número 31, ainda na Rua Major Sátiro e também no armazém da estação ferroviária da cidade. As coordenadoras dos projetos culturais eram Rosinha Lins e Elvira Aquino, elas tinham o papel de prepara todas as apresentações das crianças. FIGURA 12: Aguardente de cana Peixe, de propriedade de Francisco Peixe. Fonte: Paulo Muniz. Em 1951, é criada na cidade a paróquia denominada “Sagrado Coração de Jesus”, liderada pelo Padre Frederico Maciel. Frederico, visando uma maior atuação da igreja na vida dos sanharoenses, cria em 1955 uma campanha para construir o salão paroquial. A campanha era formada por missas temáticas para arrecadar doações dos materiais de construção para levantar o estabelecimento. Em cada missa as pessoas eram convocadas a trazer materiais de construção, e por isso as missas eram denominadas como: Missa da Telha; Missa do Cimento; Missa da Tinta, etc. O projeto foi concluído pelo segundo vigário da cidade, Padre Eraldo Cordeiro de Barros no ano de 1960. Segundo Geneva Maciel Ferreira Victor (2013, a), conhecida como Dona Nevinha, o cinema tinha capacidade para 300 pessoas com ingressos a um valor equivalente ao que hoje seriam três reais. Neste mesmo ano, também foi fechado o pequeno 34 cinema e a escola teatral de Maribá, devido as maiores atenções ao novo cinema. O Padre Eraldo instalou no salão construído com doações da população o cinema paroquial que tinha seções regulares todos os domingos e terças-feiras às 19 horas. Às terçasfeiras eram os dias nos quais passavam filmes e seriados, já nos domingos só eram exibidos filmes. “As terças-feiras eram dias de sala lotada, todas as cadeiras eram preenchidas nesses dias”, comentou Maria Teresinha (2013). Os filmes mais exibidos foram os romances e aventuras de Teixerinha, destaque para o filme Coração de Luto (1968), Tarzan (1977) e Romeu e Julieta (1968), além de filmes de histórias bíblicas como a paixão de cristo. Os filmes eram adquiridos pelo Padre Eraldo que tinha grande influência no Governo Federal, possibilitando a ponte entre o grande poder político e a cidade. De acordo com os moradores da cidade, o Padre Eraldo tinha relações estreitas com João Gullar. “Brincávamos dizendo que Teixerinha morava em Sanharó de tanto que os filmes dele passava no cinema e fazia sucesso entre todos da cidade” (VICTOR, 2013 b). A cultura de frequentar o cinema se desenvolveu rápido no município e se tornou um atrativo de desenvolvimento trazendo outras pessoas para morar nela. Foi o caso de Geneva Maciel Ferreira Victor, que veio morar em Sanharó em 1953. “Mesmo pequena, Sanharó não ficava atrás de Recife em divertimento. Quando morávamos lá sempre frequentamos o cinema São Luís e os cinemas da Rua Nova. Sempre gostei dessas tramas e naquela época tudo tinha um gosto de especial” (VICTOR, 2013 a). Em 1960 nos estudantes gazeavam aula para assistir a série de Dick Tracy contra o crime que passava toda a terça feira. Orientado pela igreja, o cinema a justava as programações para intercalar com os filmes religiosos que o padre trazia. A cidade inteira ficava improvisa com as tramas dos filmes, principalmente quando era as histórias de Teixerinha. Foi criado até um boato que o ator morava na cidade de tanto que ele passava no tempo. Eu gostava mais dos romances como Romeu e Julieta e os filmes contracenados por Marlon Brando e Elizabeth Taylor, (VICTOR, 2013 a). Embora o cinema originalmente pertencesse a Diocese da cidade de Pesqueira, com a morte do Padre Eraldo, em 1968, o estabelecimento ficou sem um responsável legal para colocar o empreendimento para a frente. Foi assim então que Geraldo Alves Lins, mais conhecido pela população na época como “Gero”, assume em 1971 as responsabilidades de continuar com a movimentação do cinema. Logo depois o Bispo Dom Severino Mariano de Aguiar doou os prédios da Diocese em Sanharó para a família do Prefeito Valdemir Aquino de Freitas, tornado assim o prédio do cinema propriedade particular da família de maior poder político na época. Gero, por sua vez, 35 elevou os valores cobrados pela bilheteria do cinema por assumir os encargos de alugar o estabelecimento, um dos motivos do afastamento do público. Os filmes e todos os materiais do cinema tinham que ser pegos no Recife, e com a diminuição da frequência das pessoas ao cinema o processo ficou inviável financeiramente. Outro motivo que distanciou as pessoas do cinema foi à chegada da televisão, A novela Pai Herói da Rede Globo foi um dos “carrascos” dos cinemas interiorano. Houve uma decadência brutal em função da televisão aberta. Jogos de futebol e outros programas também concorreram para essa vertiginosa queda. Muitos cinemas apelaram para filmes pornográficos ou coisas do gênero. Não foi o caso do nosso antigo cinema. (MUNIZ, 2013). Com o fim da ditadura e o suporte da Embrafilmes, e sem o apoio político local, o cinema de Gero teve que fechar suas portas em 1979. Durante muitos anos o prédio ficou abandonado. Hoje parte da estrutura original externa ainda existe, porém a parte interna foi completamente modificada por empreendimentos que se anexaram ao prédio. Atualmente no local funcionam dez lojas, uma rádio comunitária e uma área de festas. De acordo a Geneva Victor (2013 a), as pessoas sentiram muita falta do cinema, porque ele era a única alternativa cultural da época para todos. Os que tinham mais condições continuaram indo aos cinemas de Pesqueira, porém as outras pessoas mais carentes ficaram sem possibilidades de divertimento. “Dos anos 80 até hoje os moradores não tem uma alternativa de divertimento e crescimento cultural na cidade” (VICTOR, 2013 a). 3.3.1 Influência social no cotidiano da cidade Os irmãos Lumière apresentaram o cinema ao público em 1895, com o passar dos anos as produções se tornaram sonoras (1927), anos depois, para impactar o público, veio as produções cinematográficas coloridas. Durante a década de 30, o cinema já era a arte mais valorizada do mundo. Com o passar do tempo o cinema foi assumindo papéis importantes na vida das pessoas se tornando um lugar de encontros, informação, de expansão cultural e de formação de opiniões. A história mostra que os humanos são copiadores, a cultura é feita de fragmentos que as pessoas adquirem com sua vivência comum ou científica, e não foi diferente com o cinema. Quando as pessoas se depararam com toda carga estilística de beleza e glamour que o cinema trouxe copiaram, imaginando serem os personagens dos filmes. (VICTOR, 2013 b) relata que muitas pessoas na cidade de Sanharó, durante os anos 70, diziam que os filmes de Bruce Lee, 36 quando exibidos, causava violência entre as pessoas. Pesquisas já mostraram que a mídia pode influenciar na vida das pessoas, mas que ela não desempenha um papel determinante no essencial. As causas profundas da violência juvenil não estão na mídia, mas na desintegração familiar, no tipo de vida levada nos bairros problemáticos, na miséria e na falta de perspectivas, sem contar a formação de novos guetos marcados pelos preconceitos e por todos os tipos de exclusão social. Se existem bandidos, gângsteres, não é porque os indivíduos foram demais ao cinema ou viram televisão em excesso. (MORIN, 2003, p. 9). Morin, portanto, acredita que o cinema não inventou ou causou a violência, ou problemas com drogas, apenas proporcionou mais visibilidade sobre assuntos existentes na vida das pessoas que não eram pauta no cotidiano. O que o autor defende é que as pessoas assimilam as informações vindas das telonas de acordo com sua subjetividade, sendo assim, cada um reage de um modo. “Para cada estímulo ou influência, existem outros estímulos ou influências, antagônicos, complementares, mais ou me nos carregados de significação para cada indivíduo” (MORIN, 2003, p. 12). Em Sanharó, o impacto do cinema não foi diferente, desde sua instalação na década de 50, o estabelecimento se tornou uma variável cultural constante na vida das pessoas. Mesmo funcionando apenas nos domingos e terças-feiras, o cinema se tornou o local de encontro das pessoas que saiam de suas casas para socializar. Sendo assim, além de ser de extrema importância para o desenvolvimento cultural da sociedade que viva o cinema, ele se ganhou função social em todos no município. Nas terças-feiras, dia em que eram exibidos os seriados, muitos estudantes deixavam de ir à aula a noite para não perder o desfeche da série. “Depois que o episódio acabava a cidade só comentava o que ia acontecer depois. Era a nossa única diversão, então qualquer filme era assunto de uma semana até passar outro filme” afirma Galvão (2013). Antes de cada sessão os casais apaixonados podiam dedicar músicas a seus parceiros. Os bilhetes eram passados para a cabine do locutor que lia a mensagem enviada e passava a música escolhida. “Era a oportunidade que tínhamos de declarar nosso amor e paquerar as moças que frequentavam o cinema” (VICTOR, 2013 b) que na época cuidava da bilheteria do cinema. De acordo com o antropólogo construtivista J. Dupuis (1996), a interação entre os indivíduos de um local é de extrema importância para a solidificação e desenvolvimento da sociedade envolvida. Dupuis afirma que os sentidos das ações de uma sociedade é derivada da preexistência do local onde todos estão inseridos. Visto assim, o cinema de Sanharó além de ter sido uma alternativa cultural para as pessoas que o frequentavam, o local desempenhava 37 um papel importante para o desenvolvimento social do indivisos. Já que o ambiente fortaleceu uma maior interação entre as pessoas da cidade, unificando e desenvolvendo a qualidade de vida social e cultural do sanharoense. Após 34 anos da última sessão a cidade perdeu mais uma de suas alternativas culturais, onde hoje é a cidade não possui nenhuma manifestação sazonal que atinja a população culturalmente a sociedade. 3.3.2 Dependência e manutenção cultural proveniente da igreja Em 1950 a Igreja Católica estava em processo de assimilação de uma nova forma de agir com as pessoas, adotando um estilo de gestão que na Europa já tinha se consolidado que era voltado para progressismo. Com esse novo método a instituição se voltou mais para as massas reformulando o sentido da atuação de grande parte do clero. Marly Rodrigues, em seu livro O Brasil na década de 50 (2010), afirma que para organizar esse processo de denúncias com uma maior liberdade de ação contra a violência e injustiça social é criada em 50 a ACB – Ação Católica Brasileira, que era comandada por D. Hélder Câmara. A ação coordenava várias outras ramificações, assim como a JEC – Juventude Estudantil Católica e AP – Ação Popular, todas tinham o papel de proliferar o poder da palavra e garantir um padrão de qualidade social para a população. De acordo com Marly (2010, p.16), em conjunto a ABC é fundada em 1952 a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tinha uma atuação voltada para o desenvolvimento rural e cultural das camadas populares do nordeste. No mesmo ano da sua criação a CNBB cria um sistema de educação através do rádio que foi estalada em cinco dioceses da região Nordeste, onde uma delas foi a Diocese de Pesqueira. Quatro anos após a criação da conferência, os bispos do Nordeste, na Declaração de Campina Grande, afirmavam: A igreja se proclama sem nenhuma vinculação com as situações injustas e se coloca ao lado dos injustiçados para cooperar com eles numa tarefa de recuperação e redenção. (RODRIGUES, 2010, P.15-16) Foi nesse período que a igreja de Sanharó com apoio da diocese de Pesqueira começou a desenvolver uma campanha para a construção do cinema local com o mesmo objetivo que a CNBB tinha. Nessa época a igreja em Sanharó fomentava a cultura cinematográfica e radiofônica no mesmo lugar, já que o cinema, assim como já citado anteriormente no trabalho, 38 tinha um local com configuração de programa de rádio onde as pessoas podiam interagir com as outras antes da sessão. Mas também organizou as pessoas abrindo uma cooperativa rural e um colégio na cidade, onde hoje se encontra EREM - Escola de Referência Municipal. Em 1960 quando o cinema paroquial foi aberto a igreja desenvolveu em conjunto o MEB – Movimento de Educação de Base, que tinha o papel de através do rádio educar os jovens e adultos sobre assuntos de formação educacional e religiosa. E foi assim que por 10 anos o Padre Eraldo desenvolveu seu papel com pilar político, religioso, social e cultural da cidade de Sanharó até sua morte no final dos anos 60. 39 Conclusão Nessa pesquisa fica claro que o desenvolvimento do cinema Brasileiro, tanto nas capitais quanto no interior, dependeu do apoio político. Sanharó que foi contemplada com a implementação do cinema na década de 50 até o final de 70, dependia do apoio religioso e político para manter o padrão cultural formado na época. Hoje, o município não possui nenhuma influência de órgão público ou privado local, que estimule o desenvolvimento cultural da cidade. O estado de Pernambuco possui muitas ações de combate a essa carência da sociedade, como exemplo podemos citar os projetos de Cinema Intinerante, que geralmente são apoiados pela Federação Pernambucana de Cineclubes (Fepec), Governo de Pernambuco, entre outras instituições, para levar o cinema a cidades que estão sem alternativas culturais assim como Sanharó. Um dos projetos destaques do ano de 2013 é o Cinema Volante Luar do Sertão que tem como organizador o cineasta Camilo Cavalcante. A iniciativa tem como foco trazer o cinema a quem não tem condições de pagar e divulgar obras importantes da cinematografia nacional. O projeto de Camilo Cavalcante foi lançado em outubro de 2010, com parceria da Aurora Cinema com a Federação Pernambucana de Cineclubes (Fepec), incentivado pelo Governo de Pernambuco por meio do Funcultura. Só em 2010 o evento percorreu oito cidades e atingiu um público de três mil pessoas do Sertão Central e Araripe: Serrita, Cedro, Moreilândia, Exú, Bodocó, Ouricuri, Parnamirim e duas sessões em Araripina. Em sua segunda edição em 2011, o projeto desenvolveu seu trabalho em cinco cidades de Sertão do São Francisco: Cabrobó, Santa Maria da Boa Vista, Belém do São Francisco, Floresta e Petrolândia. Projetos como esse demonstram que cidades como Sanharó podem ser contempladas com desenvolvimentos cinematográficos só cabe à desenvoltura política dos governantes locais para efetuar melhores políticas culturais em seus municípios. 40 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Vicente de Paula. A bela época do cinema brasileiro. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1985. 418 p. ARIAS, P. G. La cultura. Estrategias Conceptuales para comprender a identidad, la diversidad, la alteridad y la diferencia. Quito: 2002, Escuela de Antropologia Aplicada. BACZO, Bronislaw. A imaginação social In: Leach, Edmund et Alii. Anthropos-Homem. Lisboa Nacional/Casa da Moeda, 1985 BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. 8.ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. BHABHA, H.K. O local da cultura. Belo Horizonte: ED. UFMG, 1998 Bookman. 2001. CAMPOS, Renato Márcio Martins de. Cinema brasileiro: ciclos de produção de mercado. São Paulo: Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, 2003. CESARINO, Flavia. 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DVD (117 min), son., p&b, color. L'Arrivée d'un Train à La Ciotat - Lumiere em uma estaçao de trem de Paris e foi apresentado ENTREVISTADOS 1. Geneva Maciel Ferreira Victor – Espectadora do cinema de Sanharó 2. José Wildner Ferreira Victor – Porteiro do cinema de Sanharó 3. Maria Terezinha Galvão - Espectadora do cinema de Sanharó 4. Paulo Roberto Leite Muniz – Historiador 5. Walter Jones – funcionário de Embra Filmes na década de 70 44 APÊNDICE A - Entrevista 1 Nome: Geneva Maciel Ferreira Victor Mãe: Idalina Alves Maciel Pai: Istevan Inasscio Ferreira Nós chegamos em sanharó no dia 14 de julho 1953, dia do meu aniversário de 15 anos. Filha de Idalina Alves Maciel e Istevan Inascio Ferreira vinhemos de Recife para o aconchego de uma cidade menor. Mesmo pequena, Sanharó não ficava atrás de Recife em divertimento. Quando morávamos em lá sempre frequentamos o cinema São Luís. Sem gostei dessas tramas e naquela época tudo tinha um gosto de especial. Em 1960 nos estudantes gazeavam aula para assistir a série de Dick Fame contra o crime que passava toda a terça feira. Orientado pela igreja, o cinema a justava as programações para intercalar com os filmes religiosos que o padre trazia. Quando do Padre Eraldo, morreu o cinema se desestabilizou. A cidade inteira ficava improvisa com as tramas dos filmes, principalmente quando era as histórias de Teixerinha. Foi criado até um boato que o ator morava na cidade de tanto que ele passava no tempo. Eu gostava mais dos romances como Romeu e Julieta e os filmes contracenados por Marlon brando e Elizabete Teylor. Todos esses filmes eram trazidos pelo padre Eraldo que era muito amigo de João Gulart e consegui as coisas para a cidade. A construção do cinema também foi obra da igreja junto com a população de Sanharó através de missas temáticas. Um domingo era dia da missa das telhas, ai o povo levava as telhas como doação e assim foi adquirido o material para construir o cinema de Sanharó. Quando o cinema acabou as pessoas que tinham condições iam para Pesqueira assistir aos filmes lá. Pois a cidade ficou sem nada mais para fazer. Para falar a verdade acho que está sim até hoje. Quando acabou? A gente saia e ia para o cinema de pesqueira por que não tinha mais o que fazer. A cinema fechou por motivos de briga política então ninguém ficou dispostos de encara as disputas para 45 colocar para a frente. Então quem tinha mais condições saia da cidade para ir assistir os filmes em pesqueira. Problemas políticos? Eram efetuado missas para trazer os materiais de construções. Como o padre era amigo de João Gular ele sustentava a cidade no lugar dos governantes. Depois da sua morte a cidade ficou abandonada e as suas posses foram minguando com o passar do tempo. Quando surgiu a televisão em 70 as pessoas que tinham um poder econômico preferiram comprar o equipamento do que brigar politicamente para reabrir o cinema. O cinema foi construindo com a doação do povo de caruaru e não deveria ter ficado assim. Valdemir não fez nada para no final dos anos 70. Filmes exibidos? Romeu e Julian Filmes com Marlon Brando e Elizabete Desde a morte do padre Eraldo a cidade ficou abandonada sem investimentos na área de cultura. 46 APÊNDICE B - Entrevista 2 Nome: José Wildner Ferreira Victor Idade: 54 Data: 19 de outubro de 2013 Quem levou o cinema para a cidade? A igreja foi a responsável por trazer o cinema na década de 50. Quem cuidava de tudo na cidade até o começo da década de 70 foram os padres. Em 1971 as responsabilidades do cinema passaram para Tio Geraldo Alves Lins, Gero. Eu ficava na bilheteria e meu irmão era o locutor e cuidava dos filmes. Qual era o tipo de movimentação que tinha? Todas as terça-feira e domingos o cinema era o ponto de encontro das pessoas da cidade, antes de começar as sessões os namorados podiam mandar músicas para seus amores. Mas como na época tudo era muito proibido o locutor anunciava que era “de um alguém para um alguém”, para não ser descobertos. Os filmes de Teixerinha e Tarzan eram os que mais passavam, o povo adorava as histórias de Teixerinha e sempre choravam. Quando passava os filmes de Bruce lee os marmanjos da cidade endoidavam e davam trabalho para a gente, pois quando acabava o filme o lutador incorporava nas pessoas que brigavam dentro e fora do cinema. Mas era divertido. Outro impasse engraçado que aconteceu com a gente era que tinha um menino que falsificava na mão os ingressos. Os bilhetes falsificados ficavam iguais aos originais (risos), Tio Gero teve que ir na casa dele oferecer entrada gratuita no cinema para sempre desde que ele não falsificasse mais e assim foi feito. Qual os tipos de filmes que passavam? Propagandas politicas Filmes de lutas Comedias Qual o órgão que levou o cinema? A igreja. Como o cinema era importante para a cidade? Sim. Era a única distração que tínhamos constante, era o ponto de encontro de todos para namorar, brincar, brigar, e acima de tudo se divertir. Uma das maiores diversões eram as músicas que os casais passavam uns aos outros. Era a oportunidade que tínhamos de declarar nosso amor e paquerar as moças que frequentavam o cinema. 47 Por que fechou? Valdemier Aquino, governante na época, que virou o dono do prédio e não deu suporte para que aquilo tudo continuasse. Depois que o cinema fechou em 1979 a cidade foi morrendo aos perdemos nosso Carnaval depois e agora estamos perdendo nossa feira do leite. As pessoas mudaram o modo de comportamento depois que o cinema acabou? Sim, as pessoas ficaram sem ter o que fazer até hoje. Depois que fechou as pessoas reclamaram da falta? Muito. Por não ter mais o que fazer. 48 APÊNDICE C - Entrevista 3 Nome: Maria Terezinha Galvão Idade: 72 Data: 26 de outubro de 2013 Quem levou o cinema para a cidade? Foi o Padre Eraldo quem trouxe o cinema até a gente. Antes tinha uma senhora que passava uns filmes, mas era só para convidados. Qual era o tipo de movimentação que tinha? Muita gente ia ao cinema, a gente tinha que chegar cedo para pegar lugar. Ficávamos conversando e especulando como seria o filme e quando era um seriado as expectativas eram maiores ainda. Qual os tipos de filmes que passavam? Filmes de todos os tipos: Faroestes, romances, e aventuras. Eu gostava muito das histórias de Teixerinha. O filme coração de luto era emocionante. Como era a estrutura do cinema? Era muito grande. Acho que cabia a cidade toda lá dentro na época (risos). Quando acabava as cadeiras as pessoas traziam as suas próprias. Como o cinema era importante para a cidade? Ele com o tempo se tornou o encontro marcado de todos da cidade para jogar a conversa fora sobre a vida e os filmes. Por que fechou? Gero quem cuidava do cinema não pode mais sustentar os gastos sozinho ai teve que fechar, e também começaram a surgir televisões onde passava a novela Pai Herói, ai mudou a visão das pessoas. As pessoas mudaram o modo de comportamento depois que o cinema acabou? Paramos de sair e nos encontrar no cinema. Muitas pessoas se encontrava em casas de amigos que tinha TV para assistir à novela e os jogos. Depois que fechou as pessoas reclamaram da falta? Sim, muitas que não tinha condições de assistir em uma televisão ou e outro cinema em 49 Pesqueira. Como se encontra hoje as alternativas culturais da cidade? Só tem o São João que une todo mundo. 50 APÊNDICE D - Entrevista 4 Nome: Paulo Roberto Leite Muniz Idade: 61 anos Data: 05 de novembro de 2013 Quem levou o cinema para a cidade? A paróquia através do Padre Heraldo Cordeiro de Barros que era sanharoense de nascimento; Qual era o tipo de movimentação que tinha? A movimentação era 02 (duas) vezes por semana. Ás terças-feiras e aos domingos. Qual os tipos de filmes que passavam? Variados. Nas terças-feiras a opção era pelo estilo Faroeste ou filmes de ação tipo guerra ou espionagem. Normalmente havia também seriados. No domingo a predominância era pelo filme românticos. “De amor” como se dizia de filme que não havia qualquer luta. Como era a estrutura do cinema? O espaço era grande mais havia uma quantidade pequena de cadeiras de madeiras. Era comum pedir aos espectadores que trouxessem cadeiras ou tamboretes de casa, quando o cinema apresentava filmes mais famosos. Exemplo: filmes épicos, romanos ou faroestes com John Wayne. Dizia Gero ou outro locutor: “Atenção, senhoras e senhores espectadores. Tragam cadeiras ou tamboretes que o cinema encontra-se completamente lotado”. Como o cinema era importante para a cidade? O cinema representava a opção maior e melhor em termos de divertimento. As famílias iam ao cinema. Os comentários sobre os filmes eram intensos. Havia também as paqueras que se transformaram em namoros entre os jovens da época. O cinema também servia magistralmente para as grandes solenidades de formaturas. Até reunião solene da câmara de vereadores chegou a ser realizada no recinto. Por que fechou? Quem era o governante na data que fechou? O cinema paroquial, ou cinema do padre ou ainda, cinema de Gero fechou quando fecharam a 51 maioria dos cinemas do interior. A novela Pai Herói da Rede Globo foi um dos “carrascos” dos cinemas interiorano. Houve uma decadência brutal em função da televisão aberta. Jogos de futebol e outros programas também concorreram para essa vertiginosa queda. Muitos cinemas apelaram para filmes pornográficos ou coisas do gênero. Não foi o caso do nosso antigo cinema. As pessoas mudaram o modo de comportamento depois que o cinema acabou? Não. Ficou a saudade e a boa lembrança de uma época áurea. Depois que fechou as pessoas reclamaram da falta? Ainda hoje muitos reclamam. Mais de 30 e quase 40 anos sem cinema. As pessoas se adaptaram a outros estilos e migraram de vez pra televisão. Vê-se pouquíssimas pessoas à noite nas nossas praças e ruas... Como se encontra hoje as alternativas culturais da cidade? Zero. Não temos teatro e nem cinema, claro, então não há cena cultural na nossa cidade. Temos alguns folguedos que aparecem eventualmente. Quando passou por aqui um programa do Sesc, chamado Cine Sesc, houve uma movimentação positiva. Estou concluindo uma crônica sobre os cinema de Sanharó e, em especial, o Cinema Paroquial...Depois vocês me darão o prazer de ler e quem sabe comentar se gostaram... 52 APÊNDICE E - Entrevista 5 Nome: Walter Jones Idade: 49 Data: 29 de Setembro 2013 Quem levou o cinema para a cidade? Em Caruaru 3 Famílias se destacaram ao trazer a sétima arte para a cidade, miguel das molas fundou o Cinema Santa rosa, a Família Maciel, fundou o Cinema Irmão Maciel e Cine Grande Hotel, a Família Santino Fundou o Cine Caruaru onde Hoje Funcional a Agência do Banco do Brasil. Qual era o tipo de movimentação que tinha? Na Década de 70 a Tv no Brasil não tinha a força que tem hoje, por este motivo as salas de cinema eram lotadas principalmente nos fins de semana. Qual os tipos de filmes que passavam? Faroestes, Filmes de Comédia,Romance, Pornochanchada, Qual o órgão que levou o cinema? Quem Comandava e Patrocinava as Produções Brasileiras era a Embrafilmes, a Fiscalização ficava a Cargo da Polícia Federal, pois vivíamos um período de Ditadura, e os Filmes Tinham Censura, a classificação era 10,12,14,16,18 anos, O Juizado de Menores Fiscalizava as pessoas na entrada. Tinha que apresentar um documento de acordo com a Classificação do filme. Como o cinema era importante para a cidade? Era um local de lazer para todas as classes sociais, pois as opções culturais eram poucas naquela época. 53 Por que fechou? A evolução da tecnologia, no inicio dos anos 80 com a chegada do videocassete e as locadoras, deram um abalo principalmente nos Cinemas do Interior, Fechando Várias Salas, depois chegou a antena parabólica mais um agravante para o fechamento de salas, e por último os shopping centers com seus Multiplex, complexo de calas em centros comerciais. E também o fim da Embrafilmes no governo de Fernando Collor acabando com o suporte de todos que viviam do cinema. As pessoas mudaram o modo de comportamento depois que o cinema acabou? Sim, apos o fechamento das salas, os amantes do cinema ficaram órfãos, aqui em Caruaru passou quase 10 Anos sem Salas de Cinema, depois com da chegada dos centro de compras esse quadro se inverteu, Caruaru hoje tem mais salas de Cinema do que antigamente. Depois que fechou as pessoas reclamaram da falta? A reclamação era geral quando alguém queria ver um bom filme tinha que ir até Recife, e pocas pessoas tinham condições de realizar um Programa Destes. Como se está o cinema regional? Nos dias de Hoje ouve uma Mudança Para Melhor, as Salas de Cinema Já Exibe os Lançamentos Simuntânio com a Capital e os Grandes Centros do Sudeste. Um Fenómeno que esta voltando é o Crescimento no Numero de Salas, em 1970 o Brasil tinha 6.000 salas de Cinema, depois No Periodo da Decadência ficou com Pouco mais de 1.000 Salas e Hoje Já estamos Voltando a Ter os Numeros de Antigamente, Graças aos Centros de Compras 54 APÊNDICE F- Entrevista 6 Nome: Valdemir Aquino de Freitas Idade: 75 Data: 15 de Setembro 2013 Quem levou o cinema para a cidade? Na casa de numero 91, na Rua Major Sátiro, funcionava uma fábrica de Gelo que diziam na época que ser a a primeira fábrica do gênero em Pernambuco. Pertencia ao empresário Francisco Peixa que também foi líder político local na época da Aliança Liberal, sendo que ele era perripista , portando ligado ao governo que foi derrubado em 1937. Com a saída de Francisco a casa foi vendida a Maribá Caraciolo de influente família sanharoense que tinha muita vivência com a capital pernambucana. Com suas idas e voltas Maribá resolveu alugar filmes na capital e trazer para serem exibidos em Sanharó, instalando seu cinema na referida casa entre as décadas de 50 e 60. Esse espaço serviu também de escola teatral no qual as crianças e jovens da época eram preparados para fazer suas apresentações teatrais que na época era chamado de drama. As principais casas para essas apresentações eram a de numero 31, onde hoje funciona o Mercadinho Freitas e no Galpão da estação ferroviária, hoje onde funciona a secretaria de cultura da cidade. As professoras responsáveis pela preparação e apresentação das peças eram : Rosinha Lins e Elvira Aquino. No ano de 1951 , é criada a paroquia do sagrado coração de jesus, que era comandada por Padre Frederico Maciel, que em seguida promove campanhas para a construção do salão paroquial, onde o segundo vigario a assumir a paroquia, Padre Eraldo Cordeiro de Barros instala em 1960 o Cine Paroquial até o fim da década de 70. Quantas pessoas cabiam no cinema? Sendo s única diversão de Sanharó o cinema vivia sempre lotado, cabiam em media 300 pessoas. 55 ANEXO Certidão de compra e venda do terreno do cinema, 1972. Fonte: Diocese de Pesqueira