____________________________________________Estereoscopia Digital no Ensino da Química
5. NOTAS FINAIS
5.1. Conclusões finais
Aqui chegados exige-se um balanço do trabalho efectuado. Esta análise
centra-se, inevitavelmente, na hipótese formulada. Assim, verificou-se que a
utilização de um site específico de Química, de figuras estereoscópicas, como
recurso pedagógico ajudou um conjunto de alunos do 12º ano de Química a
compreenderem
melhor
a
geometria
molecular
orgânica.
Quanto
à
familiaridade de professores e alunos com as tecnologias no contexto
educativo, ficou clara a distância entre todos. Por um lado, professores
reconhecem que a sua preparação no campo tecnológico é deficiente, o que
os faz evitar a utilização de certos dispositivos. Por outro, confirma-se que são
os professores mais novos que estão mais motivados em aprender e utilizar
TIC nas suas aulas.
As professoras entrevistadas com mais tempo de serviço revelaram uma
frágil integração curricular das tecnologias. Utilizam apenas as TIC como
instrumento a título pessoal e não tanto para a aprendizagem de um conteúdo.
Noutro caso, as TIC não se “deslocam” à sala de aula nem sequer o professor
ensina os alunos como realizar a tarefa proposta. Apenas é indicado um tema
de trabalho para pesquisa na Internet. Por estes motivos não se pode
considerar que exista, de forma generalizada, integração curricular das TIC.
Para a mudança necessária, os professores deveriam perceber, através da
formação inicial e da contínua, as potencialidades das tecnologias, valorizar
estes recursos didácticos para a transformação das práticas pedagógicas e
implementar novas estratégias suportadas tecnologicamente.
No campo dos alunos, nenhum usufrui devidamente das TIC. Como
alunos do 12º ano deveriam ser já capazes de utilizar, por exemplo, os vários
tipos de software que têm à disposição: genérico (como os processador de
texto), específico de cada disciplina e meios de comunicação (como e-mail,
fóruns de discussão, etc). Infelizmente, tudo isto está ainda um pouco afastado
do seu dia-a-dia e das aulas, o que origina lacunas na sua formação.
O
presente
trabalho
permitiu
também
verificar
algumas
das
concepções alternativas mencionadas na revisão da literatura. De facto,
constatou-se que os alunos apresentam muitas dificuldades em “visualizar” as
105
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moléculas. É-lhes muito difícil compreender, no reino abstracto, a estrutura
tridimensional. A análise dos roteiros dos alunos e das entrevistas
demonstraram que essa dificuldade varia com os alunos: se alguns
ultrapassaram as questões sem dificuldades, outros confessaram que só
através do site “Estereoscopia Digital no Ensino da Química” é que se percebe
que as moléculas orgânicas não são planas! Esta afirmação leva a crer que
não deve ter havido uma pesquisa das concepções alternativas nas aulas nem
a verificação da validade dos raciocínios dos alunos, no final da unidade.
Também se pode concluir que o site de figuras estereoscópicas ajudou a
superar as concepções alternativas da aluna.
Docentes e discentes acreditam que a representação no quadro das
cadeias dos hidrocarbonetos é causa fundamental do erro de pensar que as
ditas são planas. Mesmo representando moléculas de geometria tetraédrica
como o metano no quadro, não se revela suficiente para a compreensão da
tridimensionalidade.
De acordo com as novas orientações para a organização do ensino da
Química, o modelo de ensino deve recorrer à inter e à transdisciplinaridade dos
saberes e à utilização de estratégias de trabalho metodologicamente
concordantes. Por este ponto de vista se crê que a utilização de sites
específicos como o apresentado neste trabalho, será importante no ensino e
aprendizagem da Química.
Como a Química será uma disciplina terminal do ensino secundário de
carácter opcional, a utilização de metodologias inovadoras por parte dos
professores será benéfica para despertar o interesse dos alunos. Esta
motivação pode-se reflectir no prosseguimento dos estudos nesta área.
No novo programa da disciplina de Química do 12º ano, a sub-unidade
referente à transformação do crude nos seus derivados abrange uma série de
conteúdos passíveis de serem descobertos e assimilados com o site de figuras
estereoscópicas. Salientam-se os seguintes: hidrocarbonetos derivados do
petróleo, hidrocarbonetos de cadeia aberta e de cadeia fechada, isómeros
como compostos de diferentes identidades mas com a mesma fórmula
molecular, todos os tipos isómeros constitucionais e estereoisómeros.
106
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Também o novo programa tem como princípio ensinar Química para
compreender as relações com as tecnologias e compreender como se interinfluenciam os conhecimentos tecnológico e científico. Por este motivo, faz
todo o sentido incluir nas aulas um site específico da disciplina. Os alunos
serão
capazes
de
aprender
conteúdos
e
simultaneamente
dominar
conhecimentos técnicos.
Importa também interpretar os resultados obtidos nesta investigação
quanto à utilização efectiva desta metodologia na sala de aula. Por parte dos
alunos, todos achariam benéfico! É um método apelativo, atractivo para os
jovens e eficaz na aprendizagem da geometria molecular. No entanto, quanto à
sua receptividade perante o desafio de aprender conteúdos com novos
métodos, é curioso verificar que não estariam dispostos a abandonar a “antiga”
explicação da matéria no quadro. Pode-se concluir que são um pouco
fechados ao ensino por descoberta: primeiro têm que aprender os conteúdos
através da exposição por parte do professor e só depois podem explorar um
site sobre o assunto.
No lado dos professores, também todos consideram como vantajosa a
inclusão desta estratégia nas suas aulas. Reconhecem que os métodos
tradicionais são insuficientes para compreender a tridimensionalidade das
moléculas, com excepção dos modelos moleculares. A vantagem da utilização
do site está na capacidade de armazenar inúmeros exemplares e na
possibilidade de consultar as vezes que forem necessárias. Apesar destas
opiniões, os professores também não se mostraram muito capazes de mudar
as suas estratégias nas aulas: alegam a falta de condições técnicas e o pouco
“à vontade” com todos os mecanismos inerentes.
Acredita-se que não só os conteúdos de Química seriam aprendidos de
forma efectiva, como também o contexto de sala de aula e as relações
pedagógicas fora desta sairiam beneficiados com a utilização adequada das
TIC.
107
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Apresenta-se na tabela seguinte uma análise/síntese de alguns
propósitos ou correntes/ideias explicitadas ao longo do trabalho. Para cada
caso, quer do ponto de vista das potencialidades do protótipo quer do ponto de
vista da sua aplicação, são atribuídos os níveis 1 (nada conseguido) a 5 (muito
conseguido):
Pág.
Potencialidades
Confirmado/
do
/reforçado
Protótipo
pela aplicação
protótipo
1 Generalidades TIC
A1. Ajuda o aluno a descobrir o
conhecimento por si
9
3
2
9
4
4
de
9
5
1
A5. Aumenta a motivação dos
9
5
5
9
5
4
9
5
1
9
5
3
14
4
1
14
5
2
5
1
A3. Impulsiona a utilização, por
parte de alunos e professores, de
diversas ferramentas intelectuais.
A4.
Enriquece
diversifica
as
as
aulas
metodologias
pois
ensino-aprendizagem
alunos e professores.
A6.
Amplia
informação
o
volume
disponível
para
de
os
alunos, que está disponível de
forma rápida e simples.
A7. Proporciona
interdisciplinaridade.
A12. A aprendizagem torna-se, de
facto, efectiva, dadas as inúmeras
potencialidades gráficas.
C2. Usar as tecnologias na sala de
aula.
C5.
Usar as
tecnologias
para
aprender um conteúdo de uma
disciplina.
C6. Usar software educativo numa
disciplina.
14
108
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D3. Modelação e Simulação.
18
4
4
D4. Armazenamento da informação
19
5
5
19
3
3
destinatário.
22
4
4
E2. Aproveitamento do meio.
22
4
2
E3. Qualidade de informação.
22
5
3
23
4
2
Potencialidades
Confirmado/
do
/reforçado
Protótipo
pela aplicação
D6.
Representação
gráfica
de
dados e estruturas.
E1.
Adequação
ao
público
F3. Justifica-se a utilização do
software perante outras
ferramentas mais acessíveis e de
menor custo?
Pág.
protótipo
2 Conteúdos do programa 12º ano
H1.
Ao
fazer
fórmulas
de
compostos
a
revisão
das
estrutura
orgânicos
de
e
42
4
3
42
4
4
45
4
3
46
5
4
isomerismo, deverá confirmar-se
que
os
alunos
conhecem
a
disposição real dos átomos no
espaço.
H2. Os tipos de isomerismo a
considerar são: geométrico cistrans, de cadeia, funcional e de
posição.
I5. Ensinar Química para
compreender a sua inter-relação
com a tecnologia.
I7. Ensinar Química por razões
estéticas.
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Pág.
Potencialidades
Confirmado/
do
/reforçado
Protótipo
pela aplicação
protótipo
3 Concepções alternativas
J2. As repulsões entre os pares
electrónicos ligantes não
66
3
1
66
2
1
66
5
3
66
5
4
66
4
4
influenciam a forma da molécula.
J3. Os pares de electrões não
ligantes não participam na
determinação da geometria
molecular.
J5. Os átomos em moléculas como
o metano estão todos no mesmo
plano.
J6. As cadeias dos
hidrocarbonetos são lineares.
J7. As moléculas cíclicas são
planares.
Pág.
4 Entrevista
Realizado/Atingido no estudo
L1. Definir objectivos
75
4
L2. Construir o guião da entrevista
75
5
L3. Inferir quanto ao modo de
75
2
L4. Escolher os entrevistados
75
5
L5. Preparar os entrevistados
75
4
L6. Marcar data, hora e local
75
5
75
1
76
3
76
2
76
3
resposta
M2. Escolher uma questão inicial
que coloque o entrevistado no
tema de conversa.
M4. Saber escutar.
M6.
Utilizar
perguntas
de
aquecimento e de focagem.
M7.
Evitar
Sim/Não.
respostas
do
tipo
110
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M9. Mostrar interesse e vontade de
saber mais detalhes, até para
76
4
77
4
77
1
78
4
78
2
clarificar contradições.
N1. Registar as observações sobre
o comportamento do entrevistado.
N2. Registar as observações sobre
o ambiente em que decorreu a
entrevista.
O2. Permite aprofundar questões e
dúvidas.
O4. Podem-se registar
comportamentos e atitudes do
entrevistado.
Tabela 13 – Resumo da análise do trabalho
5.1.1. Protótipo e contexto educativo
Sem lirismos se reconhecem os aspectos menos positivos do trabalho…
Em relação à técnica de construção de sites HTML, ainda há muito que
aprender e aperfeiçoar. Outro software é capaz de proporcionar mais
funcionalidades, mas também se pode acrescentar mais efeitos ao produto já
apresentado.
Quanto ao design da página, pensa-se que a paleta de cores escolhida é
agradável ao utilizador, a barra de navegação é bastante explícita e todas as
acções pretendidas podem ser executadas sem dificuldade. Esta é também a
opinião dos professores e alunos entrevistados Embora todos se tenham
revelado distantes das tecnologias/Internet, acharam que “navegar” no site
“Estereoscopia Digital no Ensino da Química” é muito fácil.
O especialista em usabilidade entrevistado apontou uma série aspectos
que devem ser analisados com atenção. Atendendo ao facto de que nem todos
os utilizadores fazem o download das imagens, o entrevistado acha
imprescindível uma navegação secundária em texto, para que a navegação
interna seja sempre possível. Quanto aos hiperlinks de texto, devem apelar a
metáforas conhecidas do utilizador, tal como a alteração da cor, ou o sublinhar
das palavras. Assim, o utilizador reconhece melhor as hiperligações.
111
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Para melhorar a navegabilidade, sugeriu a inclusão de um roteiro de
exploração do site e de um mapa do site. Em ambos os casos devem funcionar
links internos para todas as páginas.
Na sub-secção dos “Links”, o entrevistado indicou a organização dos
endereços electrónicos por indexação e com ligações exteriores para a web:
esta é uma forma cómoda para o utilizador encontrar a informação desejada.
Há, no entanto, duas sugestões que já foram seguidas. A primeira diz
respeito à colocação de etiquetas Alt, que acompanham todas as imagens e
explicitam o seu significado, para o caso dos referidos utilizadores que não
fazem download de imagens. A segunda relaciona-se com os blocos de texto.
Para evitar o cansaço e a dispersão do leitor, reduziu-se o tamanho das linhas
e colocou-se, quase na totalidade, cada assunto no seu parágrafo. Estas
modificações vão de encontro a outro aspecto relevante em termos de
usabilidade: evitar scrollbars horizontais.
Teria sido interessante elaborar mais roteiros, com outros níveis de
dificuldade para analisar, talvez, um público mais jovem na carreira escolar.
Para incrementar a ideia de interdisciplinaridade do site e do tema, a subsecção “Actividades” poderia incluir mais exemplos que pusessem em
evidência a participação de outras disciplinas que não a Físico-Química.
5.1.2. Metodologia do estudo
A amostra analisada de alunos e professores não foi exactamente a
desejada… Pretendia-se um conjunto maior de alunos e professores
entrevistados. Neste caso, poder-se-ia ter usado até um estudo quantitativo.
Uma vez que não se tratava de alunos da professora investigadora, não
foi possível o seu estudo num contexto de sala de aula. Por outro lado, também
o próprio estudo poderia ter sido diferente. Poderia ter havido um conjunto de
alunos a aprender Química Orgânica pelas metodologias tradicionais e outro
conjunto a aprender os conteúdos utilizando o site de figuras estereoscópicas.
Com a realização de pós-testes ficaria avaliado o site em termos efectivos de
aprendizagem.
Uma outra circunstância interessante com dois grupos de alunos seria
testá-los após aprenderem Química Orgânica com o site “Estereoscopia Digital
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no Ensino da Química”, de duas maneiras diferentes. Num caso, os conteúdos
eram imediatamente apresentados online, e tudo era ensinado pelo site. Aos
alunos do segundo grupo, seria fornecida uma introdução “teórica” à matéria e
só numa fase final entrariam em contacto com o site.
Caso os alunos tivessem sido entrevistados em contexto de sala de
aula, poder-se-ia ter optado por uma metodologia do tipo investigação-acção.
Assim, os aspectos apontados pelos alunos seriam prontamente remodelados.
5.2. Auto-crítica, Reformulações e Propósitos
Ao finalizar um trabalho há sempre ideias que ficam por concretizar e
que se transformam em projectos futuros. Assim, pretende-se que as subsecções do site sofram algumas alterações. Em “Fábrica” será possível
encomendar
exemplares
de
moléculas
para
enriquecer
a
biblioteca
estereoscópica; em “Fórum” será possível discutir de forma assíncrona temas
relacionados com Química e outros; em “Links” serão postos à disposição da
necessidade e interesse do utilizador uma série de endereços electrónicos. A
organização desta lista seguirá as indicações do especialista em usabilidade
consultado nesta investigação.
Reconhece-se que em termos de técnica de construção de páginas web
em linguagem HTML e usabilidade, o site poderia estar muito mais completo.
Seria também interessante que, futuramente, se utilizasse a já referida
linguagem VRML (Virtual Reality Markup Language) para interagir com as
moléculas estereoscópicas. O utilizador poderia manipular e “entrar” na
molécula ficando com uma noção ainda mais realista da sua geometria
espacial.
Um estudo mais generalizado com mais alunos e em contexto de sala de
aula fará todo o sentido. Todavia, além dos aspectos anteriores, a
investigadora tem propósitos sérios em fomentar o site tendo em vista um
público
geral
e
sem
conhecimentos
de
Química.
A
sub-secção
“Geoespecificidade” ficará muito mais rica com curiosidades do quotidiano
relacionadas
com
isomeria
e
sempre
acompanhadas
de
imagens
estereoscópicas. Esta será uma forma de encaminhar a sociedade até à
ciência e à tecnologia.
113
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Não obstante o entusiasmo e o acolhimento revelado por alunos e
professores evidenciam-se, ainda que nas entrelinhas, inércias e obstáculos
inibitórios de uma mudança mais radical no uso desta tecnologia no terreno
educativo.
Da parte de quem elaborou este trabalho, porém, haverá persistência
animada (ou mesmo teimosia) na inovação, melhorando recursos e
estratégias, a bem do ensino da Química.
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5.1. Conclusões finais