A necessidade de direcionamento pedagógico na condução do tempo dedicado aos estudos em cursos de formação de professor ministrado à distância Mario Eustáquio Nogueira Gomes1 Professor de Física de Ensino médio y Universitário de Ouro Preto, Estado de Minas Gerais, Brasil Diosnel Centurión2 Universidad Americana Recepción: agosto 2009 Aprobación: noviembre 2009 Resumo: O objetivo desse artigo é discutir a definição do tempo pp.133-189 dedicado aos estudos em cursos de graduação ministrados à distância. Tomando por base uma pesquisa realizada com 144 ex-alunas de um Curso de Licenciatura em Educação Básica, ministrado pelo Centro de Educação Aberta e a Distância (CEAD) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil. O tempo dedicado aos 1 Professor de Física de varias instituições educativas de ensino médio y universitário de Ouro Preto, Estado de Minas Gerais, Brasil. Mestre em Educacao pela Universidade Autônoma de Assunção e candidato ao Doutorado em Educação pela mesma universidade. 2 Ph.D. em Comunicacao Internacional e Meios de Comunicação de Massas pela Universidade Macquarie de Sydney, Australia. Mestre em Comunicação e Desenvolvimento pela Universidade de Filipinas. Comunicólogo, pesquisador, orientador de teses, professor, consultor internacional e editor da revista Irundú. [email protected] Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 133 estudos fora da sala de aula não superam e nem se igualam ao tempo estabelecido pela carga horária oficial para aquele curso. Através de um estudo não-experimental, transversal e comparativo, foi possível detectar a diferença existente entre o tempo dedicado aos estudos fora da instituição e o tempo estabelecido na carga horária obrigatória do curso. Tomando-se por base o ano letivo (200 dias), apurou-se que os sujeitos da pesquisa estudaram em média 2,1 horas por dia, sendo a opção dessas estudar 2,5 dias por semana, dando 5,25 horas de estudo por semana, 210 horas por ano e 840 horas ao longo de 4 anos (duração total do curso). Comparando com a carga horária oficial do curso que é de 3225 horas, as alunas deveriam apresentar o seguinte panorama: 806,25 horas de estudo por ano, 20,16 horas de estudo por semana, 8,06h de estudo por dia (considerando a opção de 2,5 dias de estudo por semana). Conclui-se diante desse panorama que a defasagem é da ordem de 5,96 horas por dia. Em outras palavras, as alunas que concluíram o curso em análise, estudaram durante o curso 2385h a menos do que a recomenda a carga horária oficial do curso, o que indica em termos percentuais que as estudantes dedicaram 26% da carga horária prevista para a realização de estudos não presenciais. Palavras chave: Educação à Distância; Carga horária; Perfil de estudos, EAD, Abstract: The present article aimed to discuss a concept of the time devoted to studies within graduate studies done through distance. The study was done with 144 Licentiate in Basic Education graduates, carried out by the Distance Open Education Centre of Ouro Preto‟s State University, in Ouro Preto, Minas Gerais, Brazil. The time utilized for studies outside the classroom does not overcome nor matches the course‟s official time load. Based on a non experimental, transversal and comparative study, it was detected a difference between the time dedicated to studies out of the institution and the official time established for the course. Knowing that the school year takes 200 days, it was found that the students did study an average mean of 2.1 hours per day, of which could be studied 2,5 days a week, resulting in 5,25 hours of study per week, 210 hours per year and 840 hours throughout 4 years (the course‟s total duration). Comparing with the course‟s official time load, which is 3225 hours, the students should exhibit the following profile: 806,25 hours of study per year; 20,16 hours per week; 8,06 hours per day (considering the option of 2,5 days per week). That is, the students who concluded the course being analyzed, did actually study 2.385 hours less than the official time load Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 134 recommended, which shows in terms of percentage that they devoted 26% of the time load allocated for the distance course. Keywords: Distance Education; Time; Time load; Profile of studies, elearning. 1. Introdução Um assunto pouco discutido pela literatura específica e pelas produções intelectuais de diversos níveis é a questão do tempo dedicado aos estudos. No caso do ensino de nível superior essa discussão ganha mais importância a partir do surgimento da Educação à Distância. Mesmo nos cursos presenciais, encontrase nas diversas universidades e faculdades uma variação superior ao chamado currículo mínimo, ou seja, a quantidade mínima estabelecida para a legalização do ensino superior. A definição do currículo mínimo é feita pela legislação, assim a educação torna-se dependente da política, que por sua vez tem o poder de favorecer a determinados setores da sociedade. Assim como no passado a educação privilegiou as classes dominantes através de sua organização, a definição legal da carga horária continua atendendo aos interesses do Estado, uma vez que não são desenvolvidos estudos e pesquisas que justifiquem seus valores. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 135 Para que a educação se realize de maneira plena e satisfatória, atendendo aos princípios aos quais se encontra subordinada é necessário atenção aos mecanismos e dispositivos evolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Uma das variáveis contidas nesse processo é o tempo, que nesse artigo é tratado através da carga horária, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. A educação brasileira há muito tempo, reflete, técnicas e métodos convencionalmente estabelecidos em sociedades diferentes, especialmente os modelos europeu e norte-americano os quais direcionaram as descobertas e inovações da educação institucional em quase todo o mundo. Analisando a história da educação brasileira é possível perceber que a carga horária sempre foi instituída e pouco estudada em termos de eficiência e aplicabilidade. A medida em que os modelos iam sendo implantados a carga horária era reproduzida, representando a quantidade de tempo que deveria ser dedicado para esta ou aquela determinada formação. A complementação dos ciclos escolares e acadêmicos ganha um contorno ainda mais institucional quando passa a existir definitivamente a figura da escola e, principalmente do professor, tendo o Estado a obrigação de arcar com a instrução popular. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 136 A carga horária figura na educação brasileira como indicador de validade e até mesmo um qualificador em relação ao tipo de formação a que se destina. Sua contagem em horas é marcada pela necessidade de organização do trabalho docente e não em função do tempo necessário ao aprendizado, pois como indica Muller (2008, p. 1) no Brasil, na década de 1940, o então Ministro da Educação lança em 22 de fevereiro de 1940 o Decreto nº 2028, o qual fixava os critérios para a remuneração dos professores e fiscalização da correta da aplicação desses critérios. Por outro lado, os neurocientistas defendem a idéia de impossibilidade da determinação do tempo necessário para a realização do aprendizado, alegando que a base para a explicação neurológica do aprendizado é a individualidade do cérebro humano. Durante muito tempo se imaginou que os processos de aprendizagem ocorridos no cérebro podiam ser manipulados apenas com estímulos externo e que sua dinâmica interna pouco importava para aquisição do conhecimento. Modernamente, a tecnologia permite um mapeamento da atividade cerebral durante a realização de alguns exercícios, como por exemplo, atividades de leitura. Esses novos exames destacam a importância da competência individual para a Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 137 realização do processo de ensino-aprendizagem (Wolineck, 2004, p.1). Ao considerar o confronto entre o tempo estabelecido pela legislação e a impossibilidade de se determinar o tempo para a realização do aprendizado, uma tentativa de aproximação para conhecer melhor essa questão foi a apuração do tempo dedicado aos estudos fora da sala de aula por alunas de um curso de Formação de Professor em Educação Básica, identificando uma defasagem em relação ao tempo dedicado e a carga horária oficial prevista para a conclusão do curso. O objetivo geral é “determinar a relação entre o tempo dedicado aos estudos pelos alunos do Curso de Licenciatura em Educação Básica a Distância, ministrado pelo Centro de Educação Aberta e a Distância (CEAD) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e a carga horária oficialmente estabelecida para a realização do mesmo”. Metodologicamente, trata-se de estimar a relação entre duas variáveis, o que indica um estudo correlacional, modelo não experimental. Opera com aspectos quantitativos e qualitativos. No plano quantitativo, a identificação do valor da variável dependente, ou seja, o tempo dedicado foi obtido através de Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 138 análise estatística, utilizando a média ponderada simples para a apuração dos resultados que envolvem tempo na organização dos estudos. Foram ainda testadas estatisticamente as variáveis independentes: número de filhos, faixa etária e renda média familiar, buscando identificar diferenças significativas entre essas variáveis e a constante primeiramente valorada, representada pelo tempo dedicado aos estudos fora da sala de aula. Em relação aos resultados vale observar que esses produziram um indicador do tempo dedicado aos estudos fora da sala de aula, não aferindo as diferenças existentes entre os sujeitos da pesquisa, considerando mais importante o estabelecimento da média para comparação com a carga horária oficial do que as razões que justificam as diferenças existentes no grupo observado. 2. Referencial Teórico Em termos globais, Aranha (1996, p. 28) explica que a gênese da educação se funde com o início da vida em sociedade, expondo que o aprendizado nas sociedades tribais, nos períodos Paleolítico, Neolítico e a Idade dos Metais, guardam uma importante mudança baseada na organização social dos seres Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 139 humanos. A partir do momento em que as tribos começam a se fixar nos solos, o conhecimento, anteriormente aberto e a disposição de todos para que sobrevivessem e se desenvolvessem passa a ser considerado um privilégio da classe dominante, seja dentro da mesma tribo ou na imposição de uma cultura à outra. A pré-história da humanidade como é conhecida pelos especialistas inicia-se, segundo Cambi (1999) com a posição ereta por parte do hominídeo, de acordo com os estudos de Leroi Gourhan. Conforme seguiu na sua evolução, o Homo Sapiens, então dotado de uma rudimentar linguagem, caçador, artista, nômade, se vê impregnado de cultura e começa a desenvolver meios para transmitir esses conhecimentos como forma de sobrevivência e perpetuação da espécie. Nesse contexto, a imitação foi a forma pela qual os mais velhos ensinaram os mais novos, fenômeno observado inclusive nos animais. O conteúdo, dessa fase da Educação será o uso das armas, as maneiras de se transformar o meio ambiente, o culto aos mortos, a caça, o plantio a colheita. Trata-se de uma Educação totalmente informal e não institucionalizada, baseada apenas no ensinar e no aprender, não existem problemas complexos como alguém Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 140 especial para ensinar ou alguém que não aprende. Após esta fase, aproximadamente há 8 mil anos atrás surge o período Neolítico, quando o homem já está suficientemente iluminado para começar a organizar a Educação. De relevância que a revolução neolítica é considerada pelos especialistas, como uma revolução educacional, visto que (Cambi, 1999): Fixa uma divisão educativa paralela a divisão do trabalho (entre homem, mulher, entre especialista do sagrado e da defesa e grupo de produtores); fixa o papel chave da família na reprodução das infra-estruturas culturais; papel sexual; papéis sociais; competências elementares; „introjeção‟ da autoridade; produz o incremento dos locais de aprendizagem e de adestramento específicos (nas diversas oficinas artesanais ou algo semelhante; nos campos; no adestramento; nos rituais; nas artes) que embora ocorram sempre por imitação e processo de participação ativa no exercício de uma atividade, tendem depois a especializar-se, dando vida a momentos ou locais cada vez mais específicos para a aprendizagem. Depois são, a linguagem e as técnicas Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 141 (linguagens mágicas e técnicas pragmáticas) que regulam de maneira cada vez mais separada (p. 59). Ao longo de sua história, a educação conservou essa tendência de privilegiar as classes dominantes, até que o mundo passa a presenciar um momento de democratização do ensino embutido na vitória das democracias políticas. Assim como nas eras pré-históricas, em cada modelo social a educação era ministrada como uma espécie de patrimônio, um bem acessível apenas aos que pertenciam as classes mais favorecidas, assim a idéia de restringir o acesso de todos ao ensino utiliza-se basicamente de dois mecanismos os custos educacionais e a forma de organização curricular. No Brasil, a situação não difere dos demais países e ainda caminha lentamente rumo à uma verdadeira evolução em relação ao acesso e especificamente em relação aos métodos. Desde a proclamação da República, quando o país se tornou livre a educação seguiu um modelo ainda mais excludente, privilegiando a burguesia que se formou com as partes restantes do imperialismo. A República do Brasil se desenvolveu quase totalmente no século XIX, tendo crescido a autonomia dos estados fazendo Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 142 com que governo federal se desinteressasse por completo pela instrução primária. Surge então a desproporcionalidade do número de escolas entre as diversas partes do território nacional. Enquanto estados progressistas abriam escolas em muitos pontos, a maior parte do Brasil não se desenvolveu nessa área, favorecendo o que até hoje existe no país, números educacionais heterogêneos. Ribeiro (1999, p. 49) informa que em relação ao ensino secundário, exceto a existência e proliferação das Escolas Normais, surgem também com bastante ênfase as aulas avulsas e particulares para meninos, sem fiscalização e muito menos organização. Para se ter uma idéia, o conteúdo alternava entre: o ensino do latim, retórica, filosofia, geometria, francês e comércio. A precariedade dos ensinamentos em face da formação exigida pela sociedade da época, aliada às dificuldades dos mestres em manterem tais serviços, acabaram por extinguir essas práticas. O ápice da desorganização foi justamente o que Ribeiro (1999, p. 50) chamou de tentativa de imprimir organicidade, época em que foram criados os Liceus Provinciais, que na realidade, nada mais eram do que uma reunião de aulas Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 143 avulsas em um mesmo prédio. Cronologicamente surgiram: Em 1825 – Ateneu no Rio Grande do Norte; Em 1836 – os Liceus da Bahia e da Paraíba; Em 1837 – O Colégio Pedro II, já na Corte. A Educação brasileira foi se desenvolvendo a medida em que a política também se desenvolvia. Enquanto não eram efetivadas ações políticas, a educação permanecia estagnada. A 31 de dezembro de 1927, Júlio Prestes sancionou a lei n.° 1884 que abria mão do monopólio oficial e permitia a criação de escolas normais livres, não mais se dependia de autorização, apenas de recursos. Daí seguiram-se uma série de reformas as quais podem ser assim destacadas: a) Primeira Reforma (1901) – Promovida por Epitácio Pessoa; Lutava pela equiparação do ensino particular ao valor do ensino público, não alterando as estruturas pedagógicas sobre nenhuma forma (Petters e Cooman, 1999, p. 149); b) Reforma Rivadávia Correia (1911) – Defendia a proliferação do Ensino Livre; c) Reforma Carlos Maximiliano (1915) – Institui o sistema dos exames parcelados, baseado nos modelos anglo-saxão; d) Reforma Rocha Vaz (1926) – Estabelece a seriação dos cursos e institui a necessidade de que bancas examinadoras avaliem os alunos Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 144 dos ginásios particulares; e) Reforma Francisco Campo (1930) – Acabou com o monopólio do Estado em termos de reconhecimento das instituições particulares e estabeleceu programas de ensino muito extensos, que estavam muito além das capacidades dos estudantes da época. Definiu a conclusão do ginásio em 5 séries e relegou menor importância ao estudo das humanidades em face das exatas. Segundo Lage (2007) o panorama observado recentemente no Brasil ainda reflete a prevalência do acesso à educação às „elites‟. Ao passo em que dos jovens que concluem o ensino médio, apenas 11% desses conseguem chegar à universidade, sendo que a maioria deles vem da rede privada de ensino, esses dados mostram que a realidade educacional no Brasil pouco se modificou desde que o homem começou a utilizar o conhecimento como instrumento de poder. Uma pesquisa realizada pela FUVEST mostrou que em São Paulo, 85 % das vagas na USP, UNESP e UNICAMP são ocupadas por alunos de escolas particulares. De acordo com Moraes e Theophilo (2005), os primeiros cursos superiores no Brasil surgem em 1808 com o Colégio MédicoCirúrgico na Bahia e a Cadeira de Anatomia, implantada no Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 145 Hospital Militar do Rio de Janeiro, seguida pela criação da Escola Anatômica Cirúrgica e Médica, no Morro do Castelo, ainda no Rio de Janeiro. De relevância, o surgimento da Universidade do Distrito Federal, futura Universidade do Brasil, fundada em 1934 por Anísio Teixeira e a consolidação da Universidade Católica de Direito Pontifício, posteriormente Universidade Pontifícia do Rio de Janeiro, já em 1940, sendo estas instalações consolidadas na mesma época, nas cidades de Porto Alegre, Recife e Belo Horizonte. O ano de 1930 é realmente decisivo para o Brasil, nessa mesma época é criado o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública através do Decreto 19.402 de 14 de fevereiro de 1930. Com o impulso das universidades, a base legislativa passou a ser um referencial para as mudanças na Educação do Brasil, logo a Lei Orgânica de abril de 1942, chamada de Lei Capanema que apresentou mudanças radicais na estrutura e funcionamento do ensino brasileiro. Quanto a forma, instituiu que o ginásio (ensino primário ) abrangeria dois ciclos de 4 anos cada um, o colégio (ensino secundário) por sua vez seria dividido em duas seções, uma clássica e outra científica. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 146 Posteriormente: 1930 – Surge o Ministério da Educação Brasileiro, ligado aos Negócios e Saúde Pública; (Decreto n. 19.402); 1946 – Institui as divisões para Educação Superior, Ensino Secundário, Ensino Comercial e Ensino Industrial (Decreto Lei n. 8.535/46); 1961 – Surge a primeira Lei de Diretrizes e Bases instituída, inscrita sob n. 4024, promulgada em 20 dezembro de 1961 – Regulava aspectos financeiros como a concessão de bolsas escolares no sistema privado de ensino; 1971 – Surge a segunda Lei de Diretrizes e Bases, inscrita sob o n. 5692, promulgada em 11 de agosto de 1971 – Estabelecia a distinção entre 1º e 2º Graus de ensino; 1982 – A Lei 7044, promulgada em 18 de outubro de 1982 institui e oficializa o ensino profissionalizante; 1996 – Surge à terceira Lei de Diretrizes e Bases, inscrita sob o n. 9394, promulgada em 20 de dezembro de 1996 – Estabelece as diretrizes e bases da Educação Brasileira e promove alterações como a designação dos níveis de estudo: Ensino Fundamental, Médio, Supletivo, Graduação, Tecnólogo e estabelece normas para a realização e formalização do Ensino à Distância. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação apresenta na atualidade diversas iniciativas em relação ao Ensino Superior, tais como: Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 147 mudanças na Educação Superior com vistas a fortalecer e expandir o ensino público gratuito; política de estabelecimento de quotas para estudantes carentes, negros e indígenas; o ProUni - Programa Universidade para Todos, que seleciona alunos que cursaram o Ensino Médio em escolas Públicas ou com bolsas integrais em escolas particulares, para receberem bolsas de até 100% em Faculdades Particulares (MEC, 2009). As principais teorias que se destinam a explicar a forma como o aprendizado se realiza não consideram muito o fator tempo como relevante. Ao passo em que indicam a importância e necessidade de outros aspectos como: ambiente, método, maturação e principalmente uso da memória, essas teorias as quais se ocupam de explicar que o aprendizado é um processo que pode e deve ser construído e não algo que surge ou é realizado de maneira simples. Duas afirmações ficam evidentes em todas as teorias que explicam o aprendizado: O tempo de aprender é o tempo de realizar as estruturas para aquisição do conhecimento e o tempo para a realização das estruturas de aprendizado varia de indivíduo para indivíduo. Os conceitos de aprendizagem vão desde a modificação do comportamento humano até a evolução do ser intelectual, ainda Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 148 que fisicamente seja também privilegiado. Assim como é importante não confundir ensino com pesquisa, é importante não confundir aprendizagem com desempenho, uma vez que qualquer mudança genérica de comportamento pode ser admitida como aprendizagem. O critério utilizado para medir o aprendizado não deve ser diferente da apuração de mudança, ou seja, a aquisição de conhecimento. Esse saber certo, completo, errado ou incompleto a tudo isso se chama aprendizado. Outras camadas podem e devem ser aplicadas no sentido de direcionar a aprendizado para as formas adequadas e úteis. O que pode ser sintetizado, em termos cognitivos, é que a aprendizagem humana apresenta duas esferas distintas, mas interdependentes. A primeira diz respeito à condição biológica: toda possibilidade de aprendizagem repousa no aparato sensoperceptivo do corpo e de suas experiências concretas na relação com o meio e que se referem ao trabalho material, à luta pela sobrevivência. A segunda representação, relacionada refere-se ao trabalho à capacidade de não-material. A aprendizagem que consiste em trabalho não-material ocorre de diversas maneiras segundo as teorias do aprendizado. Moreira (2007) explica que uma das teorias mais consistentes sobre a Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 149 maneira de como os aprendizes adquirem conhecimento é a teoria da aprendizagem significativa, conforme Moreira (2007): O núcleo firme dessa perspectiva é a interação cognitiva não-arbitrária e não-literal entre o novo conhecimento, potencialmente significativo, e algum conhecimento prévio, especificamente relevante, existente na estrutura cognitiva do aprendiz... (p.1). Assim sendo, o processo de ensino-aprendizagem vai além de alguém ensinar e alguém aprender, envolve uma análise qualitativa da mudança de comportamento daquele que “aprendeu”. O desempenho é um fator secundário no processo de ensino-aprendizagem, valendo apenas a mudança como resultada parcialmente positivo. Analisando tecnicamente, um aluno com baixo desempenho não deixou de aprender a errar. Na Figura 1, o esquema da aprendizagem significativa de Ausubel prevê o esquecimento como uma continuação natural da aprendizagem, sendo que o resíduo desse processo, também chamado subsunçor seria o objeto aprendido. Já na teoria humanista da aprendizagem desenvolvida por Joseph Novak, o aprendizado depende de outras variáveis as quais este indicou como lugares-comuns da educação que seriam Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 150 em síntese a integração entre aluno – professor – avaliação, meio social e outros, sendo o processo sintetizado na Figura 2. Na teoria de Novak, quando a aprendizagem é significativa o aprendiz cresce, experimenta uma sensação boa e se predispõe a outros aprendizados, enquanto que, num processo de aprendizado mecânico, o aprendiz rejeita o conteúdo devido à aplicação do método voltado para o mesmo. O que difere esta teoria da teoria clássica de Ausubel é a consideração da predisposição para aprender. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 151 Figura 1 – Teoria ausubeliana Fonte: Moreira, 2007 (p. 1) Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 152 Figura 2 – Teoria de Novak Fonte: Moreira, 2007 (p. 4) Na visão interaciosnista de Gorwin, o professor é uma peça chave no aprendizado, uma vez que domina a manipulação dos significados e os encaminha aos aprendizes. Isso ocorre por conta da interação, demonstrada na Figura 3. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 153 Figura 3 – Teoria de Gorwin Fonte: Moreira, 2007 (p. 6) Da perspectiva neurofisiológica, a base para a explicação da realização do aprendizado é a individualidade do cérebro humano. Durante muito tempo se imaginou que os processos de aprendizagem ocorridos no cérebro podiam ser manipulados apenas com estímulos externo e que sua dinâmica interna pouco importava para aquisição do conhecimento. Modernamente, a tecnologia permite um mapeamento da atividade cerebral durante a realização de alguns exercícios, como por exemplo, atividades de leitura. Esses novos exames destacam a importância da competência individual para a realização do processo de ensino-aprendizagem. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 154 Segundo Wolineck (2004): Na antiguidade os filósofos imaginavam o cérebro como uma caixa vazia esperando para ser preenchida. Na segunda metade do século passado essa metáfora mudou para uma analogia com um computador esperando para ser programado, acreditando-se que estímulos externos, e não uma motivação intrínseca eram os propulsores da aprendizagem. Ensino e aprendizagem eram vistos como sinônimos. O professor é que controlava a aprendizagem e não o cérebro do estudante. As diferenças entre a inteligência individual eram vistas como hereditárias e praticamente imutáveis. O cérebro prefere buscar e descobrir padrão por si próprio, gerenciando mais facilmente situações reais complexas do que artificiais mais simples. O cérebro está sempre tentando fazer conexões entre novos padrões e os já existentes, agindo não só racionalmente, mas também de forma criativa buscando por conexões não usuais. Cada cérebro é tão único quanto às características físicas que dotam cada pessoa da sua individualidade. Não existem duas pessoas que aprendam do mesmo jeito e na mesma velocidade. Uma vez que a aprendizagem produz mudanças Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 155 no cérebro, quanto mais uma pessoa aprende, mais diferenciado torna-se o cérebro... (p. 1). Diament (2005) explica que a aprendizagem se realiza através do sistema nervoso (SN), envolvendo boa parte do cérebro, mas que, no entanto não é possível se indicar qual área específica é responsável pela aprendizagem. O autor alerta para o fato de que a aprendizagem utiliza um conjunto de funções, fisiológicas, bioquímicas e elétricas para funcionar, logo se torna dependente do funcionamento desse conjunto. “Parece não haver uma região específica do cérebro que seja responsável exclusiva pela aprendizagem. Esta parece ser a resultante de complexas operações neurofisiológicas e neuropsicológicas e os mecanismos envolvidos, embora não totalmente conhecidos, compreendem uma série de fatores...” (p. 83). Outra variável importante pertencente às funções do sistema neurológico é a questão do uso da memória, na apropriação do conhecimento. Rocha (1999) afirma que a função principal do cérebro é observar o mundo através dos sistemas sensoriais. A busca nessa observação é a identificação e o entendimento das relações, especialmente as que podem ser úteis ao desenvolvimento das espécies. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 156 No caso do ser humano o sistema de apropriação do conhecimento é sofisticado. Uma forma primária de explicação prevê que qualquer animal guarda na memória dados e o ser humano se preocupa em processá-los e transformá-los em informações, as quais posteriormente terão que ser novamente armazenadas. O que se pode deduzir das informações de Rocha (1999, p. 125) é que os seres humanos utilizam-se muito mais de sua memória do que os animais de outras espécies. Em termos mais específicos, Rocha (1999) define: Aprendizado e memória são, portanto, fenômenos que envolvem transações entre neurônios em sistemas neurais amplamente distribuídos no cérebro. Cada área cerebral tem uma participação definida no processo. A participação de cada área nesses processos está relacionada com a especialização (p. 126). Basicamente todo processo se resume ao sucesso em se fazer associações. Por exemplo, Rocha (1999, p. 127) explica que as informações verbais memorizadas são guardadas no lobo temporal esquerdo e as imagens guardadas no hemisfério direito, assim as biografias são definidas pela associação entre as informações verbais e as imagens. Conforme mencionado Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 157 anteriormente, nos seres humanos os dados são processados, armazenados cada um em seu respectivo hemisfério, associados, e depois são novamente armazenados, desta vez permanentemente. Assim, entra em cena uma função importante diretamente ligada ao aprendizado que é a Potencialização de Longa Duração – PLD, essa função será responsável pela consolidação da memória, o que também pode ser chamado de registro. Diament (2005) afirma que para entender como se processa a aprendizagem, é necessário entender mais do que a organização do Sistema Nervoso e sua neurofisiologia; É necessário compreender como os mecanismos neuroquímicos e os processos de memória se realizam ao ponto de produzirem informações armazenadas, disponíveis à utilização ou acessíveis a qualquer momento. O Sistema Nervoso não pode ser entendido apenas como um amontoado de partes, ou seja, um mosaico de funções isoladas, que simplesmente coexistem. A setorização apenas facilita o estudo e o entendimento das áreas e funções neurofisiológicas, contudo, as funções básicas do SN (Sistema Nervoso) se resumem em duas classes: a) Regulação da estabilidade do organismo através das funções básicas: Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 158 circulação, ventilação, secreções, ajustes metabólicos em curto prazo; b) Sobrevivência do indivíduo como organismos e espécie, desempenho de funções como: produção glandular e contrações musculares necessárias, ativadas automaticamente, atos reflexos e condicionados e manifestações instintivas. Vale lembrar que até este ponto, tanto humanos quanto animais agem e reagem de maneira idêntica. As diferenças começam a ser percebida a partir da elaboração das reações. O que se pode perceber da literatura específica que distingue os sistemas neurofisiológicos de homens e animais são as funções que consideram o processamento dos dados em memória. A memorização, desde sua formação até sua efetiva utilização marca o diferencial entre o ato comum e o ato que é aprendido. Diament (2005) é categórico em afirmar que a memória é à base do raciocínio. Ao "chamar" a informação, o cérebro humano está apto a combiná-la e a organizá-la. Não se combina o que não se conserva, daí o painel integrativo da memória, função indispensável à análise, seleção, conexão, síntese, formulação e regulação das informações necessárias à elaboração, planificação e execução de comportamentos. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 159 A memória armazena e preserva a informação, mas somente depois da consolidação se dá a compreensão. Só serão facilmente reconhecidos os estímulos que se encontrarem retidos. Esse dado é válido até mesmo para a aprendizagem falada. A sua aquisição requer que a informação auditiva seja armazenada e conservada, depois de ter sido compreendida (linguagem interior). Só a partir desse ponto, a linguagem é integrada e formulada para ser posteriormente exprimida. A memória associa, portanto, as funções de recepção com as funções de expressão, pois essas não se dão sem as funções de: armazenamento, compreensão, integração e formulação (rememorização). Esquecer é desaprender. Esquecer coisas é provavelmente o resultado de não tê-las organizado interiormente. Os estudos relativos à memória, dentre eles o de Diament (2005), descobriram que a dificuldade em adquirir novas recordações ou em se lembrar de nomes e acontecimentos interfere significativamente na aprendizagem e em suas transferências proativas, da mesma forma, se sabe hoje que a memória é extremamente um sistema complexo, funcional que afeta e inter-hemisférico, a aprendizagem, principalmente no que diz respeito à memória de curto tempo. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 160 As informações devem ser trabalhadas para que cheguem ao seu destino, facilitando a memorização, é possível afirmar após as análises empreendidas que aprender é, neurofisiologicamente, memorizar. O variável tempo está diretamente envolvido em praticamente todas as etapas da Educação formal, desde a elaboração dos planos e diretrizes de funcionamento até as marcações da vida acadêmica do aluno. Não seria exagero dizer que a Educação se realiza muito mais em termos de tempo do que espaço. A escola é um objeto de referência mutável; Pode se transformar, se extinguir, já o tempo de estudos esse é indissolúvel, inalterável, razão pela qual constitui o objetivo de estudo desse trabalho. As revisões realizadas nesse trabalho encontraram afirmações categóricas de que a relação entre tempo e Educação são relativas, especialmente as que consideram o tempo do ensino e o tempo do aprendizado. É importante que a sociedade comece a dissociar os conceitos que, na maioria das vezes são estudados em conjunto por formarem um único processo: ensinoaprendizagem. Na realidade, a integração entre essas duas variáveis é a realização da Educação que apresenta como produto final – a Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 161 aquisição do conhecimento. Outro aspecto repleto de relatividade, o qual coloca em questão o sistema de ensino são os critérios de avaliação do conhecimento adquirido. Seus fundamentos teóricos e filosóficos e ainda, o modelo de como se realiza acabam por avaliar apenas o aluno, quando os métodos também estão em questão. A instituição de ensino após analisar o aluno e considerando o seu aprendizado em nível insuficiente, descarta-o simplesmente não se preocupando se o mal resultado obtido por este pode ser fruto da má formulação da metodologia de ensino, figurando assim, como condicionante e condição de um mesmo processo. As teorias pedagógicas diferem das teorias da aprendizagem. A aquisição de conhecimento é algo que não preocupou muito aos pensadores do século XVII a XXI, isso porque houve uma preocupação excessiva com a organização da Educação e um relativo descaso com a qualidade do mesmo. Muito se fez em termos de projeção da vida acadêmica e pouco se avançou em termos de praticar o desenvolvimento cognitivo na escola. Em síntese, o atual modelo educacional prevê que o aluno avance, mas não se importa com que o aluno aprenda. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 162 Uma parte considerável da Educação moderna está organizada em função do tempo. A criação de níveis educacionais facilita essa organização para os alunos e para os gestores do processo, responsável pela aplicação das políticas educacionais que são essencialmente destinadas à organização institucional. Logo, configuram-se dois cenários, o político-organizacional educativo e o prático-operacional educacional; Sendo o primeiro, a escola enquanto instituição e o segundo, a escola enquanto local adequado ao aprendizado. A relação existente entre tempo e aprendizado é colocada diante da organização das instituições de ensino. Não se encontra em documentos oficiais do Ministério da Educação Brasileiro informações que justifiquem o estabelecimento da carga horária, nem para currículo mínimo, quanto menos para a construção das matrizes curriculares de ensino superior. O conceito amplamente difundido nos documentos oficiais relativos à educação brasileira é o conceito de hora-aula, o qual permite a organização do calendário escolar em dias letivos. Historicamente, Muller (2008) noticia que no Brasil, na década de 1940, o então Ministro da Educação lança em 22 de fevereiro de 1940 o Decreto nº 2028, o qual fixava os critérios para a Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 163 remuneração dos professores e fiscalização da correta aplicação desses critérios. Nesse sentido, também foi expedida a Portaria 204 de 05 de abril de 1945, que dispõem em seu artigo 4º o seguinte (Muller, 2008, p. 1): Art. 4º – Computar-se-á como uma aula: I- Nos estabelecimentos particulares de ensino superior ou de segundo grau, o trabalho letivo será de 50 minutos durante o dia ou de 40 minutos à noite. II– Nos estabelecimentos particulares de ensino primário e em qualquer outro caso em que o ensino não deva ser feito em lições com intervalos repetidos, cada período de uma hora, a ser contado do início ao fim do tempo durante o qual fique o professor no estabelecimento, a seu serviço, de conformidade com o horário. “Nesta hipótese, o período fracionário que se prolongue por mais de 30 minutos computar-se-á como uma aula e o período igual a 30 minutos computar-se-á como meia aula”. Ao analisar essa informação histórica, nota-se que a organização do ensino no Brasil se desdobrou de 1940 para cá, segundo as diretrizes trabalhistas e legais e não pedagógicas. A alteração no conceito de hora-aula é prova da influência político-econômica Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 164 na sala de aula. Muller (2008, p. 1) explica que o sistema de remuneração do professor, estabelecido na Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT toma como referência o conceito de hora-aula, mas não se limita a remunerar apenas 50 ou 60 minutos e sim o trabalho prévio de preparação, isto é, três quartos, inclusive planejamento da disciplina e preparação de provas (outros três quartos) como também o trabalho subseqüente de correção de provas e aferição de resultados. Assim, a hora-aula, na verdade, é uma simples unidade de medida, para fins de remuneração de um trabalho docente. Zotti (2008) informa que a reforma realizada por Benjamim Constant, personificada no Decreto nº. 981 de 8 de novembro de 1890, a escola primária ficou dividida em duas categorias: 1º grau (7 a 13 anos) e 2º grau (13 a 15 anos) (art. 2º). A partir dessa determinação, a matriz curricular passa a constar na lei de forma bem detalhada, sendo que ainda, ao final, o reformador especifica, em cada disciplina, conforme o grau e os cursos correspondentes, um detalhado rol dos conteúdos e o número de aulas de cada uma delas. Uma visível preocupação metodológica também perpassa a reforma. É definido no artigo 3º, § 2º que “Em todos os cursos será constantemente empregado o methodo Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 165 intuitivo, servindo o livro de simples auxiliar, e de accordo com programmas minuciosamente especificados” Os currículos foram assim organizados em termos de disciplinas, estabelece: Para o ensino primário em nível de 1º Grau, definiu-se a obrigatoriedade das seguintes disciplinas: Leitura e escrita; Ensino prático de língua portuguesa; Contar e calcular. Aritmética pratica até regra de três, mediante o emprego, primeiro dos processos espontâneos, e depois dos processos sistemáticos; Sistema métrico, precedido do estudo da geometria pratica; Elementos de geografia e historia, especialmente do Brasil; Lições de cousas e noções concretas de ciências físicas e historia natural; Instrução moral e cívica; Desenho; Elementos de musica; Ginástica e exercícios militares; Trabalhos manuaes (para os meninos); Trabalhos de agulha (para as meninas); Noções praticas de agronomia (p. 11). A escola primária de 2º grau compreendia em seu currículo: Caligrafia; Português; Elementos da língua francesa; Aritmética (estudo complementar). Álgebra elementar. Geometria e trigonometria; Geografia e historia Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 166 particularmente do Brasil; Elementos de ciências físicas e historia natural aplicáveis às indústrias, à agricultura e a higiene; Noções de direito pátrio e economia política; Desenho de ornato, paisagem, figurado e tomográfico; Musica; Ginástica e exercícios militares; Trabalhos manuais (para os meninos); Trabalhos de agulha (para as meninas) Idem (p. 13). Vivemos atualmente um resíduo de erros cometidos há 3 séculos. No Brasil, tivemos em determinado momento histórico, mais precisamente 1750 a 1777 a época pombalina, cujo primeiro ministro Marquês de Pombal empreendeu diversas mudanças na educação, especialmente: Ensino Público Oficial: nomeação de professores, planos de estudo e inspeção. Primeiros passos da organização da profissão docente; Sistema de aulas régias de disciplinas isoladas; Subsídio literário: imposto para o pagamento de professores; Vantagens: aulas de línguas modernas e conhecimento aritmético, geometria, ciências naturais e difusão do espírito moderno, contra o dogmatismo da Igreja; Desvantagens: dispersão dos colégios; ausência de uniformidade no ensino; ausência de encadeamento dos níveis de formação; referências constantes à Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 167 “incompetência” dos mestres, não há escolas específicas para formação de professores; não há fiscalização. Nesse período, Portugal desenvolvia uma grande dependência econômica da Inglaterra, assim, o modelo europeu de ensino era oferecido ao Brasil, então colônia, com a intenção de que esse se tornasse efetivamente uma extensão de Portugal. Logo, não irá existir um modelo brasileiro de educação e sim um modelo europeu de educação aplicado e radicado no Brasil. Segundo o disposto no Parecer 008/2007 do Conselho Nacional de Educação – CNE emitido pela Câmara de Educação Superior – CES, homologado em 13 de junho de 2006, a carga horária do ensino superior brasileiro baseia-se na configuração do modelo de ensino superior europeu. Através do Tratado da Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, Decreto n° 3.927, de 19 de setembro de 2001, estabelece que por parte do governo brasileiro será sugerido não só a reflexão sobre os parâmetros utilizados na normalização da duração dos cursos superiores ofertados pelas Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil, como também o modelo de acreditação e duração de cursos em processo de implantação em Portugal, pautado por Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 168 um critério de harmonização ao sistema educacional superior europeu, que fixa em anos a duração dos bacharelados e das licenciaturas, mas, estipula que o ano letivo seja composto por cerca de 32 semanas, ocupadas por quantidade de trabalho escolar que varia entre 25 e 32 horas semanais, ou seja, entre 800 e 1.024 horas anuais de trabalho discente. Ainda de acordo com o disposto no Parecer 008/2007, a União Européia recomenda que as graduações tenham no mínimo três anos de duração, correspondentes a 180 créditos, no qual cada crédito envolve 26 horas de trabalho escolar, fazendo com que um curso de três anos seja composto por 4.680 horas de trabalho discente, equivalentes a 1.560 horas anuais. Um curso de quatro anos exigiria o equivalente a 240 créditos ou 6.240 horas de trabalho escolar, mantidas as 1.560 horas anuais. Através dessas recomendações, Brasil e Portugal decidiram reconhecer, como cursos de graduação, aqueles que tenham a duração mínima de três anos, ou seja, para ser reconhecido como curso superior de formação na modalidade bacharelado ou licenciatura, estes não podem apresentar carga horária inferior a 4.680 horas de trabalho discente. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 169 Especificamente quanto à formação de professores, conhecido como Curso Normal Superior, segundo prescrição do Ministério da Educação Brasileiro ao qual incumbe interpretar e normalizar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, inscrita sob o n. 9394/96, resta estabelecido a definição do currículo mínimo para o ensino superior no país. Especificamente para a área da Educação, ficou estabelecido que a carga horária dos cursos de formação da Educação Básica, assim como os cursos de licenciatura, será garantida mediante a realização da integralização de 2.800 (duas mil e oitocentas) horas, assim distribuídas, segundo estabelece o CNE/CP009 (2001): a) 400 (quatrocentas) horas de prática de ensino, vivenciadas ao longo do curso; b) 400 (quatrocentas) horas de estágio supervisionado, sob forma concentrada ao final do curso; c) 1800 (mil e oitocentas) horas para os conteúdos curriculares de atividades acadêmico-científico-culturais em sala de aula; d) 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmicocientífico-culturais. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 170 3. Metodologia O estudo utiliza o modelo não experimental, de cunho transversal e de modalidade comparativa, onde se comparam variáveis. De acordo com Hernández-Sampieri et al. (2003) tem aspectos descritivos já que se pretende investigar as características e hábitos de um determinado grupo de pessoas, tendo no caso em questão a intenção de classificar o tempo que um determinado grupo dedicada aos estudos fora da sala de aula como uma variável válida para a pesquisa. Quanto ao método científico, esse estudo caracterizou-se como comparativo, o qual segundo Gil (1995, p. 35) consiste na investigação de indivíduos, classes, fenômenos ou fatos com vistas a ressaltar as diferenças e similaridades entre eles. A pesquisa não experimental se destina à observação do fenômeno tal como ocorre em seu contexto natural, analisando-o posteriormente, também chamada de pesquisa ex-post-facto, já que as variáveis estudadas se relacionam a fatos do passado, sem manipulá-las. A transversalidade fez que os dados fossem colhidos num único tempo, descrevendo a variável e suas relações em um dado momento. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 171 O trabalho opera com aspectos quantitativos e qualitativos. No plano quantitativo, a identificação do valor da variável dependente, ou seja, o tempo dedicado foi obtido através de análise estatística, utilizando a média ponderada simples para a apuração dos resultados que envolvem tempo na organização dos estudos. Foram ainda testadas estatisticamente as variáveis independentes: número de filhos, faixa etária e renda média familiar em busca de se identificar diferenças significativas entre essas variáveis e a constante primeiramente encontrada, aqui representada pelo tempo dedicado aos estudos fora da sala de aula. A pesquisa foi realizada na cidade de Ouro Preto no Estado de Minas Gerais – Brasil. A população dessa pesquisa é composta de 230 ex-alunas que participaram do Curso de Licenciatura em Educação Básica a Distância, ministrado pelo Centro de Ensino a Distância (CEAD) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), o qual teve conclusão em janeiro de 2007. A amostra estatística dessa população resultou em um total de 144 (cento e quarenta e quatro) ex-alunas, o que corresponde a 63% da população. Tal percentual se deve a operacionalização dos cálculos utilizando-se um nível de confiabilidade de 95%. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 172 O tamanho da amostra aleatória simples foi definido com base na fórmula indicada por Lopes (2003, p. 98): n N . p.q.z 2 e 2 ( N 1) p.q.z 2 onde: n = tamanho da amostra N = tamanho da população p = probabilidade de sucesso (no caso 50% = 0,5) q = probabilidade de não ocorrência (no caso 50% = 0,5) z = nível de confiança (usaremos 95% = 1,96) e = erro estatístico (no caso 5%= 0,05) Daí: n = 230x0,5x0,5x1,96²/[0,5x0,5x1,96²+(230-1)x0,05²] n = 144 (tamanho da amostra = 144 alun@s) 4. Resultados O primeiro procedimento de inferência resultou na descoberta de um valor estimado o qual pode ser atribuído em média o tempo dedicado aos estudos fora da sala de aula por parte das ex-alunas do curso em análise. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 173 Distribuição da amostra em relação ao tempo dedicado em horas/dia 50 40 40 35 30 30 Fi 21 20 12 6 10 0 1 |-- | 1,5 1,6 |-- | 2 2,1 |-- | 2,5 2,6 |-- | 3,0 3,1 |-- | 3,5 3,6 |-- | 4 Tempo de estudo em horas/dia Gráfico 1 – Distribuição da amostra em relação ao tempo dedicado aos estudos não-presenciais A distribuição da amostra de acordo com o tempo dedicado aos estudos apresentou o panorama retratado no Gráfico 1. Uma análise desse gráfico indicaria que 28% das entrevistadas estudam de 1,0 a 1,5 horas por dia. Ocorre que, esse panorama deve ser analisado considerando o tempo total de estudo em dias e períodos. No Gráfico 2 é possível observar que há freqüência em todos os dias da semana, sendo que esta freqüência apresenta pico aos sábados (18%) e a organização dos estudos em apenas 1 período do dia (50%). Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 174 Opções de dias da semana e períodos do dia - manhã, tarde e noite 60 50% 50 % 40 33% 30 20 17% 17% 10% 12% 10% 18% 16% 17% 10 od os od os 3p erí od o 2p erí 1p erí ter seg un da -fe ira çafei ra qu art a- f eir a qu int a-f ei r a sex t afei ra sáb ad o do mi ng o 0 Gráfico 2 – Opção em relação ao dia da semana e períodos do dia dedicados aos estudos não presenciais A variabilidade na organização do tempo dedicado aos estudos coloca os dados fora do plano linear, ou seja, ao passo em que 40 das 144 entrevistadas, que representa 28% dedica entre 1,0 e 1,5 horas dia aos estudos, este percentual está distribuído em dias e períodos, logo, torna-se mais difícil identificar quanto essa aluna estudou ao longo de 4 anos que é a duração total do curso. O contorno a essa dificuldade de mensuração induziu o pesquisador a estimar a média do tempo dedicado com base nos Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 175 valores declarados pelas entrevistadas. Assim, primeiramente foram analisados os valores indicados para criação da escala que posteriormente serviu como plataforma para o cálculo da média ponderada do tempo dedicado aos estudos fora da sala de aula, sendo esse valor 2,1 horas/dia. Após a obtenção desse valor estimado em média foi possível decompor o valor total indicado pela carga horária oficial do curso e comparar com o valor/dia indicado por essa metodologia de cálculo. Para obtenção do valor dia da carga horária oficial, foi utilizado o seguinte procedimento: Disponibilidade de tempo Horas Dias letivos 200 Sábados e domingos correspondentes ao ano letivo 80* TABELA 1 – Disponibilidade de tempo para estudo segundo a carga horária oficial distribuída nos dias em que seria possível a realização de estudos segundo o calendário acadêmico da UFOP *Considera a realização dos 200 dias letivos ao longo de 40 semanas (200/5=40). Logo, considerando que cada semana é composta invariavelmente por 7 dias (2*40=80). Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 176 Variáveis do cálculo geral Horas Ano(s) Total geral de horas Nº de horas estudadas por dia 2,1 1 2,1 1 5,25 1 210 Nº de horas estudadas por ano 1 210 Total de anos do curso 4 840 Nº de dias estudados na semana Nº de semanas estudadas por ano Días Semanas 2,5 40 TABELA 2 – Tempo dedicado segundo a média horas/dia e a opção das estudantes por 2,5 dias/semana. A tabela 2 mostra que a identificação de 40 semanas como variável do cálculo permitiu a estimativa do tempo total dedicado em horas, operacionalizando da seguinte maneira. Considerando a média de horas diariamente dedicadas aos estudos (2,1 horas), esse valor foi multiplicado por (2,5 dias) que é o indicativo de opção das estudantes, sendo seu produto multiplicado por (40 semanas), obtendo, assim, o valor de estudos em horas/ano (210 horas). O valor de referências horas/ano obtido foi multiplicado pelo número de anos em que se realiza o curso, resultando em 840 horas ao longo de 4 anos. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 177 Para que fosse possível estabelecer um comparativo mais confiável, utilizou-se uma metodologia que apura o valor de referência hora/dia indicado pela distribuição da carga horária nos mesmos parâmetros utilizados para a obtenção do valor horas/ano. Tomando por base a carga horária oficial (3225 horas), esta foi divida por quatro anos, chegando-se ao valor de (806,25 horas/ano). Esse valor foi distribuído em 40 semanas, levando a outro valor de referência (20,16 horas semanais). A partir desses pontos, são consideradas as possibilidades de estudos para caracterização do valor de referência hora/dia, começando por considerar a possibilidade de se estudar 5 dias por semana, o que impõe (4,03 horas/dia). Considerando a possibilidade de se estudar 7 dias por semana, há uma imposição de se estudar (2,88 horas/dia). O utlimo panorama mostra a indicação de horas segundo a carga horária considerando a opção das estudantes de estudar 2,5 dias na semana, nessa perspectiva há uma imposição de que sejam realizadas 8,06 horas/dia de estudos. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 178 Anos Total geral de horas Total de horas do curso 4 3225 Nº de horas estudadas por ano 1 806,25 1 20,16 Variáveis do cálculo geral Horas Dias Nº de horas indicadas por semana Semanas 40 Nº de horas indicadas por dia 5 1 4,03 Nº de horas indicadas por dia 7 1 2,87 Nº de horas indicadas por dia 2,5 1 8,06 TABELA 3 – Indicação da carga horária, segundo calendário acadêmico e de acordo com a opção. O gráfico 3 a seguir mostra que a quantidade em horas aumenta conforme diminui o número de dias estudados na semana. Esse aumento confirma a preocupação dos organizadores de EaD da instituição objeto de estudo com garantir a qualidade do ensino, estipulando um valor diário de dedicação aos estudos para esta modalidade (4,03 horas) muito próximo da carga horária dos alunos do ensino regular presencial. Assim, caso o estudante opte por estudar apenas 2,5 dias por semana como foi o caso dessa pesquisa, teria que dedicar 8,06 horas por dia; em optando por estudar 5 dias, teria que dedicar 4,03 horas por dia e optando por estudar 7 dias por semana, deve dedicar 2,87 horas por dia. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 179 Comparativo entre o tempo efetivamente dedicado distribuído nos dias da semana com a indicação da carga horária para o mesmo período 10 8 6 4 2 0 8,06 4,03 2,1 média do tempo efetivamente dedicado em 2,5 dias 2,87 indicação de carga indicação de carga indicação da carga horária para 2,5 horária para 5 dias horária para 7 dias dias Tempo efetivamente dedicado Indicações de carga horária Gráfico 3 – Defasagem entre o tempo dedicado e a indicação da carga horária em horas/dia. Esse artigo considerou como variáveis independentes possíveis de influenciar no tempo dedicado o estado civil, a faixa etária, o número de filhos e a renda média familiar. Para testar essas hipóteses estatísticas foi realizado o teste Qui-quadrado, onde o valor de X2 Tab. cal. deve necessariamente ser menor que o valor X 2 o que de fato indica significância nas relações. A síntese dessa metodologia de cálculo está expressa na Tabela 4. O gráfico 4 mostra as grandezas "tempo efetivamente dedicado aos estudos não-presenciais" e "carga horária oficial definida pela instituição". A comparação desses valores indica a defasagem existente entre o que foi indicado para que fosse cumprido e o que foi efetivamente utilizado. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 180 Comparativo entre o tempo efetivamente dedicado e a carga horária oficial 3500 3225 3000 2500 2000 1500 840 1000 500 0 Tempo efetivamente dedicado Carga horária oficial Gráfico 4 – Comparativo entre o tempo efetivamente dedicado aos estudos não-presenciais e a carga horária oficial do curso. Variáveis Independentes Valor de p X2 Calculado X2 Tabelado Status Estado Civil 5,96 24,06 5.99 Significante Nº de Filhos < 0,1 11,02 3.84 Significante Faixa etária < 0,1 8,95 3.84 Significante Renda 0,49 0,45 3.84 Insignificante TABELA 4 – Aplicação do teste Qui-Quadrado para relação entre variáveis. Observa-se na tabela que a única variável que não apresentou significância em relação ao tempo dedicado foi a renda média Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 181 familiar, sendo o valor X2 cal. =0,45 enquanto o X2 Tab. = 3,84. A não significância nesse caso indica a menor probabilidade de influência dessa variável a p<0,05. 5. Conclusões e Recomendações O objetivo desse artigo foi apurar a relação existente entre a carga horária oficial do Curso de Formação de Professores em Educação Básica, ministrados à distância com o tempo efetivamente dedicado aos estudos fora da sala de aula. Nessa etapa, o trabalho de campo indicou que os sujeitos da pesquisa estudam em média 2,1 horas/dia, não podendo precisar com exatidão a maneira como esse tempo é utilizado, nem em relação ao dias e nem quanto aos períodos. A apuração de média foi a opção mais adequada para estimativa, tendo em vista o alto índice de variação encontrado nas afirmações da amostra pesquisada. As tentativas de aproximação para compreensão das variáveis independentes incidentes no tempo dedicado ocorreram por inferência estatística, através do teste Qui-quadrado, através do qual foi medido o grau de significância da relação entre as variáveis, sendo que essa análise apontou insignificância apenas Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 182 para a variável renda média familiar a qual está mais afastada como variável de influência no tempo dedicado aos estudos nãopresenciais. Quanto ao tempo efetivamente dedicado aos estudos nãopresenciais, considerando o ano letivo (200 dias), apurou-se que os sujeitos da pesquisa estudaram em média 2,1 horas por dia, sendo a opção de esses estudar 2,5 dias por semana, perfazendo 5,25 horas de estudo por semana, 210 horas por ano e 840horas ao longo de 4 anos (duração total do curso). Ao comparar esse valor com a carga horária oficial do curso que é de 3225 horas, as alunas deveriam apresentar o seguinte panorama: 806,25 horas de estudo por ano, 20,16 horas de estudo por semana, 8,06h de estudo por dia (considerando a opção de 2,5 dias de estudo por semana). Conclui-se, diante desse panorama que a defasagem é da ordem de 5,96 horas por dia. No plano geral, as alunas que concluíram o curso em análise, estudaram durante o curso 2385h a menos que do que a recomenda a carga horária oficial do curso, o que indica em termos percentuais que as estudantes dedicaram efetivamente 26% da carga horária prevista para a realização de estudos não-presenciais, ou seja menos de 1/3 do previsto e indicado pela instituição. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 183 A partir destes pontos, recomenda-se que as instituições que ministram Ensino à Distância, mantenham um banco de dados atualizados com o perfil social de seus alun@s no intuito de que seja apurada a possibilidade de se destinar tempo para conclusão efetiva da carga horária prevista. Em um segundo plano, recomenda-se ainda a revisão do tradicionalismo na definição da carga horária visando adequação dessas à vida cotidiana dos estudantes mediante as mudanças que sofre a sociedade moderna, a qual se configura de maneira diferente com passar do tempo. Importante ressaltar que enquanto não há uma revisão da carga horária oficial dos cursos ministrados em EaD, que sejam tomadas atitudes pedagógicas capazes de aumentar o tempo dedicado aos estudos não-presenciais, sendo por tanto necessário a intervenção de especialistas na área da educação os quais poderão analisar e sugerir de acordo com cada caso, métodos e técnicas para melhoria da organização e administração desse tempo, especialmente na modalidade de Ensino à Distância. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 184 6. Referências Abramowicz, M. (1994). Avaliação, Tomada de Decisões e Políticas. Estudos em Avaliação Educacional. Fundação Carlos Chagas. Nº 10. Aranha, M. L. de Arruda (1996). História da educação (2 ed.). São Paulo: Moderna. Aretio García, L. (1994). El Aprendizaje a Distancia de Las Personas Adultas. Madrid: UNED. Argento, H. (2009). Teoria construtivista. http://www.robertexto.com/archivo5/teoria_construtivista.ht m/ Aulete, Caldas (1964). Novo dicionário completo. São Paulo: Britânica. Belloni, M. L. (2001). Educação a Distância. Campinas-SP. 2ªed. Brandão Rodrigues, C. (1994). O que é Educação. 31 ed, São Paulo: Ed. Brasiliense. Cambi, F. (1999). História da pedagogia. São Paulo: Unesp. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 185 Castro, A. Domingues de; Carvalho, A. M. Pessoa de (2001). Ensinar a ensinar. São Paulo: Pioneira Coll, S. C. (1994). Aprendizagem escolar e construção do conhecimento. Rio de Janeiro: Artes Médicas. Diament, Aron J. (1983). Neurofisiologia da aprendizagem. Revista de Pediatria. São Paulo. Gadotti, Moacir (2002). História da idéias pedagógicas. São Paulo: Ática Gil, Antônio Carlos (1995). Como elaborar projetos de pesquisa. (3. ed.). São Paulo: Atlas. Giordani M. C. (1972). A educação em Roma. Rio de Janeiro: Vozes. Hall, Stuart (2000). A Identidade cultural na pós-modernidade. (4. ed.). Rio de Janeiro: DP&A. Hernádez-Sampieri, R.; Collado, C. e Baptista, L. P. (2003). Metodología de la Investigación. 3ª Ed. Mèxico, DF: McGraw-Hill. Interamericana Editores. ________________ (2006). Metodología de La Investigación. 4ª ed. México: McGraw-Hill. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 186 http://www.if.ufrgs.br/~moreira/visaoclasicavisaocritica.pdf http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/787.pdf Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2009). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). http://www.ibge.gov.br Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2009). Exame Nacional de Desempenho (ENADE-2006). http://www. inep.gov.br Litwin, E. (2001). Educação a distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: ArtMed. Luzuriaga, L. (1990). História da educação e da pedagogia. São Paulo: Nacional. Manacorda, M. A. (1999). História da educação: da antiguidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez. Marconi, M. de Andrade, & Lakatos, E. M. (2001). Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. (6. ed.). São Paulo: Atlas. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 187 Meirieu, P. (2005). O Cotidiano da escola e da sala de aula: o fazer e o compreender. Porto Alegre: Artes Médicas. Ministério da Educação (2009). Legislação. http://www.mec.gov.br Moreira, M. A. (2008). Aprendizagem significativa: da visão clássica à visão crítica. Muller, J. L. (2009). Hora-aula e hora-reunião. Disponível em: http://www.sinepes.org.br/noticias_detalhes_materia.asp?Id= 5246&Tipo=2003 Niskier, A. (1999). Educação a Distância: Fundamentos de Educação a Distância. São Paulo. Loyola. 2ªed. Palangana, I. C. (1994). Desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Plexus. Perrenoud, P. (2000). Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas. Peters, F.; Cooman, M. A. de (1993). Pequena história da educação. São Paulo: Melhoramentos Preti, O. (1996). Educação a distância: Inícios e indícios de um percurso. Cuiabá. CEAD/ UFMT. Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 188 Ribeiro, M. L. S. (1999). História da educação brasileira: a organização escolar. Campinas: Autores Associados. Richardson, R. J. (1999). Pesquisa social: métodos e técnicas. (3. ed.) São Paulo: Atlas. Rocha, A. Freitas da (1999). O cérebro: um breve relato de sua função. São Paulo: Jundiaí. Saviani, D. (2000). Da nova LDB ao novo plano nacional de educação: por uma outra política educacional (2. ed.). Campinas: Autores Associados. Tedesco, J. C. (2004). Educação e novas tecnologias: esperança ou incerteza? São Paulo: Cortez. Veiga, I. P. A. (org.) (1996). Didática. Campinas: Papirus. Wolineck, E. (2004). Evolução dos conceitos sobre O cérebro e o processo de aprendizagem. Revista Techne. Janeiro/2004. http://www.techne.com.br/artigos/ArtEdu_evolucao.pdf Xavier, M. E.; Ribeiro, M. L.; Noronha, O. M. (1994). São Paulo: FTD. Zotti, S. A. (2009). Organização do ensino primário no Brasil:uma leitura da história do currículo oficial. http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_frames/arti go_102.html Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 189