O TEMPO VERBAL NAS NARRATIVAS: A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR
ALUNOS DE ENSINO FUNDAMENTAL II
Cristiane Seuck Anziliero
Acadêmica do curso de Letras da Universidade Regional de Blumenau (FURB)
Bolsista do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID)
[email protected]
Este trabalho discute a função do tempo verbal utilizado nas narrativas. O ponto de partida
está no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Este projeto tem
como objetivos centrais criar espaços para qualificar a formação inicial dos licenciados e os
inserir no cotidiano da educação escolar na rede pública. O subprojeto de Letras - Língua
Portuguesa da FURB tem como objetivo principal estudar os princípios de organização do
sistema de escrita, buscando uma ação mais sólida de docência através da elaboração de
proposta de produção de textos na educação básica. Após a aplicação de um comando no dia
05 de outubro de 2011 nas 6ª, 7ª e 8ª séries da Escola de Ensino Fundamental Padre Theodoro
Becker (Brusque, SC) foi realizado um levantamento dos dados coletados das produções
escritas dos alunos e a partir disto, com base na literatura selecionada acerca dos tempos
verbais e sua função numa narrativa, foi abordada a forma como eles empregam o verbo nesse
tipo de gênero textual. A análise, com base teórica nas regras de Stein e Glenn (1979) e
Scliar-Cabral (1991), permitiu a observação de que a utilização dos tempos verbais de
maneira adequada possibilita uma melhor construção da história. Os resultados indicam um
uso restrito, voltado ao emprego do verbo no conto de fadas, as produções em sua maioria
apresentam características desse estilo. Vê-se a necessidade da proposta de atividades e
produção de materiais que possam ajudar no trabalho com as dificuldades encontradas.
Palavras-chave: Utilização de tempos verbais. Narrativas. Produção de textos.
1 Introdução
O presente artigo discute a função do tempo verbal utilizado no gênero narrativo.
Esta pesquisa surgiu a partir da proposta de estudar um aspecto relevante das narrativas
elaboradas pelos alunos do ensino fundamental II, da Escola de Ensino Fundamental Padre
Theodoro Becker, situada no município de Brusque, Santa Catarina, onde foi aplicado um
comando no dia 05 de outubro de 2011, em virtude dos estudos realizados pelos bolsistas
participantes do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID), do curso de Letras –
Língua Portuguesa, da Universidade Regional de Blumenau (FURB).
O comando aplicado aos alunos consistia em cinco quadros de imagens, onde,
basicamente, no primeiro quadro um menino plantava uma árvore, em um dia de sol; no
segundo ele plantava outra árvore; ele regava a planta no terceiro quadro; no quarto, as duas
árvores estavam bem grandes e o garoto parecia feliz por isso; já no quinto e último quadro,
ele colocou uma rede entre as duas árvores e deitou para descansar.
Partindo dos dados coletados, o artigo tem por objetivo analisar o uso do tempo
verbal nas narrativas produzidas pelos alunos, observando a frequência e a percepção deles
em relação ao uso. O corpus é constituído de 86 textos escritos por alunos das séries finais do
ensino fundamental e foram selecionados aleatoriamente sete textos para estudo.
Para o estudo seguiu-se o modelo de regras estabelecido por Stein e Glenn (1979) e
reformulado por Scliar-Cabral (1991). A análise, com base teórica nessas regras permitiu a
observação de que a utilização dos tempos verbais de maneira adequada possibilita uma
melhor construção da história.
Também foi abordada a forma como os professores vêm trabalhando o ensino dos
verbos tendo como suporte teórico Travaglia (2003) em sua obra intitulada: Gramática Ensino
Plural.
2 Os tempos verbais nas narrativas
No texto narrativo, a atividade verbal é constante e os fatos se transformam. As
personagens que desenvolvem as suas ações no tempo e no espaço caracterizam os elementos
principais de um texto narrativo. Ocorre uma progressão temporal, o texto se desenvolve no
tempo, um fato se sucede a outro fato, como sequências temporais, as quais podem ser
realizadas por verbos nos tempos pretéritos do modo indicativo.
O tempo verbal pretérito imperfeito é um assinalador de fatos contínuos ou ações
frequentes, quando há repetição, pode apresentar a causa e a consequência no texto. Usa-se
este tempo quando se quer expressar que a ação está em curso ou que as ações foram
interrompidas. O pretérito perfeito exprime um fato concluso e o mais-que-perfeito é usado
quando o narrador retoma um acontecimento ainda mais anterior aos fatos que narra.
A coesão é obtida parcialmente através da gramática e parcialmente através do
léxico. No que compreende a gramática se observa os tempos verbais nas narrativas.
Os tempos verbais situam o leitor ou o ouvinte no processo comunicacional da
linguagem. O pretérito perfeito, o imperfeito e o mais-que-perfeito indicam o que está sendo
narrado. Segundo Nunes (1988), o presente, o passado composto e o futuro configuram uma
situação de locução discursiva. O pretérito ao contrário indica que há uma narrativa e faz
alusão ao mundo das coisas distantes, não imediatas, fora das urgências do fazer.
Travaglia (2003, p. 160) sustenta no ensino do verbo, considerar o uso linguístico do
aluno e o seu conhecimento prévio, categorias do verbo (como o aspecto e a modalidade), não
restringir apenas às recomendações da Gramática Normativa. Ele afirma que desta forma é
como se a Linguística, nestes anos todos, não tivesse dito nada sobre o verbo:
[...] suas formas e categorias, suas possibilidades significativas, seu funcionamento
textual-discursivo tanto para a coesão, a coerência, a argumentação e a preservação
de faces, por exemplo, quanto para outros usos como operadores discursivo-textuais
[...]
O autor alerta para o fato de que raramente a significação é trabalhada, ocorre uma
predominância voltada quase que exclusivamente para as formas (flexão, identificação e
denominação).
Para Travaglia (2003, p. 162) é importante:
[...] mostrar o funcionamento do verbo no nível textual, em que se tem fatos como:
a)coesão (continuidades de tempo e aspecto); b) relações entre categorias e tipologia
de textos e superestruturas, como, por exemplo, o fato do perfectivo caracterizar a
narração [...]
Conforme Nunes (1988) narramos no pretérito, o que importa em divisar uma ação
transcorrida, e, portanto, de acordo com o sistema gramatical, em situá-la no passado, como
fase do próprio tempo.
3 Análise dos tempos verbais nas narrativas coletadas
A estrutura do texto narrativo mantém relação com determinados tempos verbais do
modo indicativo, especialmente os pretéritos perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito. A
análise permite um estudo destes tempos para a progressão do texto, para que ele se constitua
num encadeamento linear de acontecimentos. Esses tempos indicam pelo distanciamento e
pelo curso livre que imprimem à linguagem, que estamos contando ou narrando. Configuram,
por conseguinte uma situação de locução narrativa.
Seguem alguns trechos dos textos selecionados aleatoriamente, numerados a fim de
facilitar a análise e os verbos estão destacados na forma itálica.
Texto 1: “Era uma vez, João queria planta dois pé muda ele pegou uma pá e
começou a cava ele pegou as duas muda é colocou no buraco, todos dias ele viam jogar água
nas planta.”
O tempo verbal que perdura em quase todo o trecho é o pretérito perfeito que
apresenta os fatos conclusos.
Texto 2: “Davi era um menino muito inteligente, gostava de brincar, jogar futebol,
volei, etc... mas tirava um bom momento para cuidar das plantas; regar, plantar e cuidar das
árvores. Depois de cuidar de suas obrigações, colocava sua rede nas árvores e ia tirar um
cochilo...”
O trecho acima indica um texto caracterizado pelo pretérito imperfeito, assinalando
ações frequentes.
Texto 3: “E até que amanheceu e ele foi feliz para ver aplanta. E é claro pasou anos e
anos cuidando da arvore, e ela foi crecendo, crecendo e crecendo e até que ficou grande. Ele
ficou encantado sodever a quela arvore crande que ele cuidou.”
Os fatos conclusos indicam o uso do pretérito perfeito. O uso de verbos auxiliares
com gerúndios se referem ao aspecto durativo de cada ação, ou seja, o tempo explicado como
duração do fato.
Texto 4: “Ele adorava muito aquelas árvores e um dia ele colocou uma rede pra se
deitar. Ele ficou descansando em baixo das árvores, a árvore o dava sombra e proteção a ele,
até que ele dormiu.”
Assim como nos textos 1 e 3 o tempo verbal que perdura em todo o trecho é o
pretérito perfeito que apresenta os fatos conclusos.
Texto 5: “Era uma vez um menino lenhador, ele plantava, cuidava e depois cortava
as arvores depois de grande.”
Assim como o texto 2, o trecho acima também é caracterizado pelo pretérito
imperfeito, assinalando ações frequentes.
Texto 6: “Com o passar dos anos as árvores foram crescendo e Gabriel cuidando
cada vê mais para elas dar bons frutos Gabriel se orgulhava do que ele havia feito porque
sabia que já tinha feito a sua parte.”
Identifica-se o uso do pretérito mais-que-perfeito composto no texto 6, o narrador
retoma um acontecimento ainda mais anterior aos fatos que narra.
Texto 7: “Passando um tempo a árvore estava grande pronta para o objetivo do
menino. Para ele colocar sua rede e se diverti muito. Com duas arvore grande e forte ele
ponhou a rede e se divertiu muito.”
O pretérito perfeito foi o tempo verbal mais utilizado também neste trecho.
Em alguns trechos também se percebe o uso frequente do tempo verbal no infinitivo
para enumerar atividades ou então apresentar finalidades.
4 O ensino do verbo
Ao trabalhar com o verbo e seus diversos subtópicos ou itens é preciso que o
professor, conforme orienta Travaglia (2003, p. 162), esteja atento às seguintes
recomendações:
[...] 1) observar sobre qual plano determinado fato se refere: fonológico,
morfológico, sintático e semântico. 2) Mostrar o funcionamento do verbo nos níveis
lexical, frasal e textual. 3) Na organização das atividades usar duas formas básicas:
tipo de recurso e instrução de sentido. 4) Priorizar o objetivo de ensino de língua
materna de desenvolver a competência comunicativa do aluno... [...]
Observa-se que o ensino/aprendizagem sobre o verbo deve recair sobre o
desenvolvimento da competência comunicativa. No entanto, conforme Travaglia (2003), o
que ocorre é uma preocupação com as formas (flexão, identificação e denominação).
Travaglia (2003) traz uma classificação dos verbos para orientar o estudo: verbos
lexicais e verbos gramaticais. O autor estabelece verbos lexicais como sendo responsáveis
para expressar situações identificáveis no mundo da biopsicofisicossocial, funcionando como
lexemas e os gramaticais responsáveis por outras funções tais como marcar categorias verbais
(tempo, modalidade, aspecto e voz) ou então ser simplesmente um “carregador” ou “suporte”
de categorias, como no caso dos verbos de ligação e assim por diante.
Há a necessidade da proposta de atividades e produção de materiais que possam
aguçar o interesse no aprendizado relacionado aos verbos. A apresentação de textos variados
para possibilitar um contato maior com o gênero também é pertinente.
5 Conclusão
A análise feita mostra que ao escrever textos narrativos, os alunos optam por
determinados tempos verbais, esses por sua vez contribuem para a elaboração expressiva das
ideias no texto, colaboram com o ato de narrar e assim resultam numa produção textual
coerente e organizada. As narrativas produzidas em sua maioria têm as características de um
conto de fadas, porém, ressalta-se a necessidade de orientação para o uso destes tempos
verbais também em outros estilos deste gênero textual, como por exemplo, romances, contos e
crônicas.
As produções textuais analisadas indicam o uso do tempo pretérito no modo
indicativo com o objetivo de narrar algo, o que assinala um conhecimento do emprego em
narrativas, contudo, faz-se necessário a ampliação desse uso para outros estilos do gênero
textual narrativas, o que sugere um contato maior com estes estilos em sala de aula. Esse
contato pode ser permeado por maneiras que possam atrair mais o interesse dos alunos, por
exemplo, sites de jogos sobre narrativas.
No decorrer do ano estão sendo realizadas diversas atividades buscando ampliar o
conhecimento e o uso de elementos importantes para a escrita de uma narrativa por meio do
trabalho desenvolvido pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (PIBID) junto à escola.
6 Referências
NUNES, Benedito. O tempo na narrativa. São Paulo: Editora Ática S.A., 1988.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática ensino plural.
SCLIAR-CABRAL, L. Introdução à Psicolingüística. São Paulo, Ática, 1991.
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