Fundamentos de Física Clássica – UFCG – Prof. Ricardo Potencial Elétrico O que é diferença de potencial (ddp)? A diferença de potencial entre dois pontos 1 e 2 num campo elétrico, seja ele uniforme ou não, é, por definição, o trabalho W por unidade de carga (J/C ou Volts) necessário para mover uma carga de prova q0 dentro deste campo. Ela é calculada da seguinte maneira: coloca-se a carga de prova (positiva) num campo, uma força externa (você, por exemplo) desloca esta carga com velocidade constante (neste caso, a força externa tem que ser igual à força elétrica, porém, com sentido oposto) entre estes dois pontos. Matematicamente, podemos escrever a diferença de potencial elétrico como sendo: V2 − V1 = W12 . q0 (1) No caso da situação mostrada na figura abaixo, um agente externo, que conduz a carga para próximo de +Q, realiza um trabalho positivo (vamos mostrar isso brevemente) e, neste caso, dizemos que a diferença de potencial elétrico é positiva, ou seja, o potencial em 2 é maior que o potencial em 1. Agora, se a carga de prova é deslocada no sentido oposto (digamos, de 2 para 1), neste caso, o agente externo ainda aplica uma força contrária a força elétrica, porém, o sentido de deslocamento da carga é oposto ao da força externa. Campo Elétrico 1 q0 2 Equipotencial +Q Representação de uma carga de prova se deslocando entre dois pontos de um campo elétrico. Neste caso, como a carga que produz o campo é positiva, um agente externo tem que levar a carga de prova para junto de Q. Vimos em Física I que o trabalho realizado por uma força F quando desloca um corpo por um valor infinitesimal dl é dado pela seguinte equação: 1 Fundamentos de Física Clássica – UFCG – Prof. Ricardo W12 = ∫ 2 1 F . dl (2) As conseqüências físicas desta equação estão baseadas nas propriedades de produto interno vetorial. Lembremos que, se θ for o ângulo entre a força e o deslocamento infinitesimal, então: F . dl = F dl cos(θ ) a) Se a carga é deslocada no sentido perpendicular a aplicação da força, então nenhum trabalho é realizado sobre a carga (lembra daquele exemplo do homem levando um balaio pesado na cabeça?). Isto significa que se a carga é deslocada ao longo do círculo que denominamos de equipotencial (ver figura acima), então não existe trabalho e, consequentemente, a ddp é zero; b) Se a carga se desloca no mesmo sentido da força externa aplicada, então o trabalho é positivo e a ddp é positiva (cos (0) = 1). O inverso também é válido, ou seja, se a carga se desloca no sentido contrário à força externa, então o trabalho é negativo ( cos(180º) = -1 ) e a ddp também o é. Deslocar uma carga sobre uma trajetória em que não existe variação de ddp significa que esta trajetória é uma equipotencial. c) Uma integral representa o somatório de todas as parcelas infinitesimais do produto interno entre a força e o deslocamento, sendo assim, o trabalho total é exatamente o somatório de todas as parcelas por onde a carga foi deslocada. Considerando que a força externa é oposta a força elétrica (Fele), então podemos reescrever a equação (2) da seguinte maneira: 2 2 W12 = − ∫ q0 E. dl ⇒ W12 = − q0 ∫ E. dl . 1 (3) 1 Mas, de acordo com a equação (1), ∆V = V2 − V1 = 2 W12 = − ∫ E.dl . 1 q0 (4) Na forma diferencial, podemos escrever que dW = - q0 E.dl e dV = - E.dl (5) No cálculo da ddp, o que é importante é exatamente a diferença entre dois potenciais. Assim, normalmente tomamos como zero o potencial daquele ponto que se encontra no infinito. Vamos recordar Física I quando calculávamos a energia potencial de um corpo. Se colocávamos um corpo sobre uma mesa, normalmente dizíamos que a energia potencial na mesa era dada por mgh e que, ao cair o corpo sofria uma variação de energia potencial igual a mgh também, mas isso era válido porque tomávamos o chão como o local onde a energia potencial era zero. 2 Fundamentos de Física Clássica – UFCG – Prof. Ricardo A partir da eq. (5) podemos dizer que o campo elétrico é obtido a partir do gradiente da função potencial, e é representado da seguinte forma: E = −∇V , ou seja, o campo elétrico é o negativo do gradiente da função escalar potencial elétrico. Ex = − ∂V ( x, y, z ) ∂V ( x, y, z ) ∂V ( x, y, z ) , Ey = − e Ez = − . ∂x ∂y ∂z Lembremos que o gradiente de uma função escalar representa o vetor que indica o sentido e a direção de maior alteração da função escalar. Para o caso do potencial depender apenas de uma variável, e.g., x, podemos dizer que o campo elétrico é dado pela seguinte equação: E=− dV ( x) xˆ dx As figuras abaixo mostram duas situações distintas para composição do campo elétrico e equipotenciais. Na primeira, uma carga pontual positiva onde esta produz um campo elétrico radial (já vimos isso no capítulo de Campo Elétrico) que é representado pelas setas e as equipotenciais representadas por círculos concêntricos. A segunda figura mostra o campo e as equipotenciais devido às duas cargas pontuais positivas. As equipotenciais são círculos concêntricos próximos de carga; perceba que, à medida que se afasta dessas cargas, a configuração muda. Campo elétrico e equipotenciais. http://qbx6.ltu.edu/s_schneider/physlets/main/equipotentials.shtml 3 Fundamentos de Física Clássica – UFCG – Prof. Ricardo Energia Potencial Elétrica A energia potencial elétrica é exatamente igual ao trabalho necessário para trazer uma carga Exemplo -q0E Qual a ddp de uma carga pontual? q0 Q Este problema é simples, mas, é muito importante. Ao colocarmos uma carga de prova num campo elétrico, esta será acelerada na direção do campo (caso soltemos esta carga). À medida que ela ganha velocidade, ela perde energia potencial, ou, à medida que ela se afasta da carga, seu potencial elétrico diminui. O caso da carga pontual, a linha de campo é radial, e aponta para fora da carga. Se queremos calcular a ddp quando a carga é movida de um ponto para outro, temos que ter conhecimento do campo elétrico da carga Q ( E = (kQ r 2 )rˆ ). Podemos escrever que rˆ.dl = 1.dl.cos(θ ) = dr . Sendo assim, levando na expressão acima na equação (5) e integrando, obtemos: Vb − Va = − ∫ b a 1 1 kQ dr = k Q − 2 r rb ra . Para a energia potencial, temos: 1 1 ∆U = k q0 Q − rb ra . Exemplo Suponha um campo elétrico uniforme (este, mais simples, impossível). Calcule a ddp quando uma carga se desloca por uma distância d do ponto 1 para o ponto 2 ao longo de uma reta. O trabalho realizado pela força externa F é dado pela equação (2). Mas, em termos de campo elétrico, podemos escreve que o trabalho é determinado por: 2 2 E 2 W12 = − q0 ∫ E.dl = − q0 ∫ E.dl.cos(180 ) = + q0 E ∫ dl 1 1 0 q0 F 2 dl q0 . E 1 1 W12 = q0 Ed . 4 Fundamentos de Física Clássica – UFCG – Prof. Ricardo Considerando que a ddp é o trabalho sobre a carga de prova, então: V2 − V1 = V12 = W12 = E d. q0 Exemplo Considere agora, a mesma figura do exemplo anterior, porém, antes de chegar em 2, a carga de prova passa pelo ponto (i) que está a uma distância d/2, onde d é a distância entre os pontos 1 e 2. Neste caso, o ângulo entre dl e E é de 135º entre 1 e i e 225º entre i e 2. O trabalho total que a força externa realiza para deslocar a carga do ponto 1 para 2, passando por i é: i E dl W12 = W1i + Wi 2. . O vetor dl entre 1 e i é dado pela seguinte 2 expressão: dl = dx xˆ + dy yˆ = dl (− E dl E q0 F 1 1 xˆ + yˆ ) 2 2 dl q0 . E 1 Lembrando que: dx = dl.cos(135º ), dy = dl.sen(135º ) Fazendo o produto interno entre dl e E para o trecho 1i, obtemos: E ⋅ dl = − E. dl 2 i W1i = − ∫ (−)q0 E 1 q Ed dl 1 d = q0 E = 0 . 2 2 2 2 Já o vetor dl para o trecho i e 2 tem a seguinte expressão: dl = dx xˆ + dy yˆ = dl (− 2 Wi 2 = − ∫ (−)q0 E i 1 1 xˆ − yˆ ) 2 2 q Ed dl 1 d = q0 E = 0 . 2 2 2 2 5 Fundamentos de Física Clássica – UFCG – Prof. Ricardo Somando os dois últimos resultados acima, obtemos que W12 = q0 .E.d e, consequentemente, a ddp entre 1 e 2, passando por i, é: V2 − V1 = V1i + Vi 2 = W1i Wi 2 d d + = E + E = E.d q0 q0 2 2 (6) Veja que os resultados apresentados nas equações (5) e (6) são os mesmos. Podemos concluir que o cálculo da diferença de potencial, o importante é apenas o ponto inicial e o ponto final. Potencial Elétrico – Resumo e exemplos (exercícios) DDP – Diferença de Potencial Elétrico – Definição ∆V = V2 − V1 = 2 W12 = − ∫ E.dl 1 q0 ou, na forma diferencial, dV = - E.dl Se temos um campo elétrico no espaço, associado a ele, existe um potencial elétrico. Se uma carga se desloca dentro deste campo, então a variação de potencial elétrico sobre esta carga é dada por: dU = qdV = −qE ⋅ dl . Esse potencial é também o trabalho realizado por uma força contrária à força elétrica para deslocar a carga com velocidade constante. Se temos no espaço um campo de potencial elétrico, então podemos calcular o campo elétrico (vetor) a partir do gradiente da função potencial, ou seja: E = − grad (v( x, y, z ) = −∇ ⋅ V ( x, y, z ) Exemplo: Suponha que um campo elétrico E = 2 x xˆ . Calcule a ddp entre x1 = 2m e x2 = 4m. Solução: Temos que dV = - E.dl 4 4 2 2 ∆V = V (4) − V (2) = ∫ dV = − ∫ 2 x xˆ ⋅ dx xˆ ~ = −12Volts . Este resultado é esperado já que o campo elétrico aponta para o valor de menor potencial. Se sairmos de 2m para 4m então significa que estamos caminhando para o menor potencial mesmo que o valor de x aumente. Aqui usamos do fato que o vetor deslocamento infinitesimal é escrito como sendo dl = dx xˆ . 6 Fundamentos de Física Clássica – UFCG – Prof. Ricardo Neste problema foram dados os pontos para calcular a ddp, porém, caso isso não fosse fornecido, a ddp seria obtido da seguinte forma: V ( x) = − ∫ 2 x dx = − x 2 + V0 , (7) onde o valor V0 (potencial de referência) depende de cada problema. Assim, se queremos voltar para a expressão do campo elétrico, é só aplicar o gradiente na equação acima, ou seja: dV ( x) E = −∇ ⋅ V ( x, y, z ) ⇒ Ex = − = 2 x. (8) dx Aqui, devido ao fato da expressão do potencial ser apenas dependente de x, o gradiente foi aplicado apenas na component x. Veja que voltamos para a expressão original do campo elétrico que tem componente apenas na direção x. Exemplo: Cálculo da variação de energia potencial Tendo a expressão da ddp acima, podemos calcular o valor da energia potencial que uma carga de 1µC sofre ao sair de 2m para 4m. ∆U = q ∆V = 1.10−6.(−12) = −12.10−6 Joules O que ocorreria com a variação de energia potencial caso esta carga fosse negativa? Exemplo: Qual o potencial de um dipolo no eixo dos x para x >> d. Vimos no capítulo de campo elétrico que, neste caso, o campo é dado pela seguinte equação: E= -d 4 k qd xˆ x3 -q y d x + q Assim, a ddp pode ser calculada da seguinte maneira: V ( x) = − ∫ E ⋅ dl = − ∫ E x dx = − ∫ 4kqd 2kqd dx = 2 + V0 3 x x Aqui fizemos dl = dx xˆ . Podemos tomar o potencial V0 como sendo igual a zero. Exemplo: Suponha que esta carga, cuja massa é igual a 6x10-6kg, é solta em x1. Calcule a velocidade com que esta carga chega em x2 = 4m. 7 Fundamentos de Física Clássica – UFCG – Prof. Ricardo Solução: A carga sofreu uma variação de energia potencial ()U) que será totalmente transforma em energia cinética ()K). ∆K = 1 m (v 2f − vi2 ) = −∆U = −(−12.10−6 ) ⇒ v f = 2m/s . 2 Neste problema usamos do fato que, para forças conservativas, ∆K + ∆U = 0 Exemplo: Um canhão de elétrons dispara elétrons através de uma região de 30000V. Qual a velocidade que esses elétrons colidem no tubo supondo que eles partem do repouso? Vi = 0 30000V Vf = ? ∆K + ∆U = 0 , então, de modo semelhante ao exemplo anterior, obtemos que a velocidade dos elétrons no tudo é de 1,03.108m/s. Exemplo: próton e elétron A distância entre um próton e um elétrons é de 0,529Å. Calcule a energia potencial eletrostática do sistema próton-elétron, ou seja, o trabalho realizado para trazer, por exemplo, o elétron do infinito, até uma determinada distância do próton. Considerando que um próton é uma carga pontual, então a ddp devido um próton é: V= kq 9.109.1, 6.10−19 = = 27, 2Volts r 0,529.10−10 Sendo assim, a energia potencial deste sistema é: U = eV = −1, 6.1019.27, 2 = −43, 6.10 −19 J . Podemos apresentar este resultado em electron-Volts, ou seja: U = - 27,2 eV (um elétron-volt é a quantidade de energia cinética ganha por um único elétron quando acelerado por uma ddp de um volt, no vácuo – Wikipedia). O fato da energia potencial do sistema ser negativa significa que as cargas estão se atraindo. Energia potencial de um sistema é igual ao trabalho total realizado para montar uma determinada configuração de cargas. No caso acima, este trabalho é exatamente igual a variação de energia potencial do sistema próton-elétron. Exemplo: Calcule o potencial elétrico no ponto P devido à 2 prótons. Considere d = 1 Å. A ddp no ponto P é determinada a partir do somatório dos potenciais de cada próton separadamente: 8 Fundamentos de Física Clássica – UFCG – Prof. Ricardo V= kq kq kq 9.109.1, 6.10−19 + =2 =2 = 28,8 V d d d 1.10−10 P d Calcule, agora, a variação de potencial sobre um elétron caso este fosse trazido do infinito até o ponto P. ∆U = V .e = 28,8.(−1, 6.10 −19 ) = −46,1.10 −19 J q 1= q d q2=q Façamos a seguinte pergunta: qual a energia (ou trabalho) necessária(o) para reunir estas três cargas? Vamos inicialmente considerar que uma carga já estava no lugar, sendo assim, para a segunda carga (q2) tomar a sua posição, a energia necessária para trazê-la do infinito é: U12 = k q1 q2 . r12 Agora temos que realizar outro trabalho para trazer o elétron do infinito até a posição P (3); neste caso, lembremos que o potencial no ponto P agora é devido às duas cargas: kq kq U123 = 1 + 2 q3 . r23 r13 Logo, a energia do sistema de cargas é o somatório de todas as energias, ou seja: U total = U12 + U123 . No caso do problema acima, a energia do sistema de cargas envolvendo 2 prótons e um elétron é dado pela seguinte expressão: O valor total da energia deste sistema (2 prótons + 1 elétron) é -23,04.10-16 J . 9