FIGURAÇÕES DO CAMPO E DA CIDADE EM CONTOS DE ADELINO MAGALHÃES Tatiana da Silva Manera (PROIC/ PIBIC/CNPq- AF), Regina Célia dos Santos Alves (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Letras Vernáculas Londrina, PR. Ciências Humanas - Educação Palavras-chave: Adelino Magalhães; Campo; Cidade; Modernidade. Resumo: O presente trabalho tem por objetivo o estudo dos contos “As Bananas” e “A Vingança” de Casos e impressões (1916), e de “Darcilinha” e “A greve”, de Visões, cenas e perfis (1918). Nos dois primeiros, cujo ambiente retratado é o campo e o comportamento do homem que vive nesse espaço, vislumbramos, nas discussões rotineiras, a crítica do autor aos sentimentos mesquinhos e, por vezes, materialistas do ser humano. Nos contos de Visões, cenas e perfis a paisagem é a do Rio de Janeiro nos vertiginosos anos da Belle Époque. O ambiente da cidade ressurgirá nos contos do autor como o espaço onde a apreensão, o temor e a inquietude da modernidade se alojam. A denúncia da miséria humana será tema recorrente em Adelino Magalhães. Introdução Adelino Magalhães, que nasceu em 1887 e morreu em 1969, produziu uma obra significativa, tanto no sentido quantitativo – sua Obra Completa reúne dez livros em gêneros variados, como o conto, a crônica, a novela, a rapsódia, dentre outros, quanto no qualitativo, uma vez que seus escritos possuem um caráter singular, sobretudo quando consideramos seus primeiro livros, escritos nas primeiras décadas do século XX. Para alguns críticos, como Andrade Muricy, Adelino Magalhães é um escritor “excepcional”, um verdadeiro precursor, no cenário brasileiro, da prosa vanguardista que tão fortemente irá marcar o primeiro momento de nosso Modernismo. A prosa refinada de Adelino Magalhães, no entanto, não conseguiu garantir ao escritor o reconhecimento dos leitores e nem mesmo da crítica, sendo hoje um escritor quase desconhecido, inclusive no meio acadêmico. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Dentre os vários temas que aparecem na obra de Adelino Magalhães, verifica-se tanto a paisagem urbana do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século passado, recorrentes em quase todas as suas obras, quanto a paisagem rural, mais presente em seu primeiro livro, Casos e impressões. Todavia, tanto na reconstrução do urbano quanto do campo, o olhar crítico capta com agudeza as contradições e as ambigüidades do mundo moderno e do homem que nele vive por meio de uma linguagem singular, que mescla traços simbolistas, naturalistas, expressionistas, expondo uma tensão entre o lírico e o brutal e que, com freqüência, aponta para uma imagem desencantada da modernidade. Materiais e métodos A pesquisa desenvolvida é de natureza bibliográfica. Consiste, portanto, de leitura e análise de textos do e sobre contos acima citados de Casos e impressões e de Visões, cenas e perfis, de Adelino Magalhães. Por enquadramento teórico, esta pesquisa se utiliza em um primeiro momento de leituras teóricas sobre a modernidade, sobre o campo e sobre a cidade, sua história e seu desenvolvimento. Em um segundo momento, o estudo se direciona para o estudo do espaço enquanto categoria da narrativa literária. Em um terceiro momento, a leitura está voltada para textos teóricos e críticos sobre a Belle Époque e sobre a produção literária de Adelino Magalhães. Por fim, em um quarto momento, já de posse de um instrumental teórico adequado, o estudo volta-se-á para os textos da coletânea citada, no sentido de atender aos objetivos de análise propostos, dando seqüência à pesquisa e na elaboração da redação final. Diante de todos esses apontamentos, o que se percebe mais efetivamente, nos contos estudados, “As Bananas” e “A Vingança” de Casos e Impressões, é a denúncia dos sentimentos mesquinhos do homem diante da modernização. Sentimento como angústia, por exemplo, se faz presente em quase todas as produções do autor. Tanto em “As Bananas” quanto em “A Vingança” são nítidos sentimentos de vingança calculada dos personagens, motivados por intriga e anseios materialistas. No conto “Darcilinha”, de Visões, cenas e perfis, Adelino contrapõe uma visão desencantada do urbano e da modernidade à valorização da vida simples e rústica do campo, que se configura como um espaço ainda não corrompido pela modernidade. O narrador vê em Darcilinha (personagem) um elemento rural idealizado, já que a mesma representa a pureza, a simplicidade e o encantamento. Nesse sentido, pode-se considerar a personagem metonímia do campo, uma representação do meiocampesino. No conto “A Greve”, presente também em Visões, cenas e perfis, o narrador coloca a cidade como representação da própria repressão, do materialismo, na desunião, do próprio processo de desumanização dos homens e da valorização das máquinas. Há uma descrição de um espaço todo corrompido que leva a reflexão das questões dos valores, das estruturas sociais e das desigualdades sociais, que só fortaleceu ainda mais a hierarquização entre os homens. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Resultados e Discussão O autor aqui estudado apresenta em suas narrativas (se é que podemos classificá-lo como narrativas) o inegável tom simbolista e a construção a partir da justaposição de cenas particulares, aspecto que se assemelha à técnica de composição cinematográfica usada pelos modernistas brasileiros como Mario e Oswald de Andrade, por exemplo. Para Ivan Teixeira, a dívida do Modernismo para com o Simbolismo quanto a esse procedimento é o de composição. Segundo o autor, a justaposição de imagens, normalmente colocada como invenção modernista, já e observável, bem antes, com uso recorrente, em Broquéis, de Cruz e Sousa (TEIXEIRA, 1993, p.XIV). Adelino Magalhães, enquanto escritor da Belle Époque, visto como momento de transição das estéticas presentes no final do século XIX – Realismo, Naturalismo, Simbolismo – para a virada modernista, parece compreender, por meio da técnica utilizada, a contribuição original da literatura de fim de século enquanto forma eficiente na representação da realidade da vida moderna que se impõe com a entrada do novo século. Embora seja evidente a qualidade da produção literária de Adelino Magalhães, o autor, intelectual atuante no meio literário da primeira metade do século XX, encontra-se quase esquecido, tanto pelo leitor comum quando pelos pesquisadores. Nesse sentido, faz-se pertinente a tentativa de resgate do autor por meio do estudo de alguns aspectos de sua obra. Conclusões Adelino Magalhães, juntamente com Lima Barreto e João do Rio, por exemplo, é um dos escritores mais expressivos da chamada Belle Époque brasileira. Por meio de uma linguagem muito particular, que praticamente o isola no momento em que publica seus primeiros textos, o autor não perde de vista questões fundamentais do momento em que escreve como a modernidade, o campo e a cidade, por exemplo, que aqui nos propusemos a estudar, sempre abordadas por meio de um olhar extremamente agudo e reflexivo, a não deixar espaço para abordagens simplistas. Agradecimentos Gostaria de agradecer minha orientadora, a Prof.Dra. Regina Célia dos Santos Alves pela oportunidade de fazer parte do Projeto de Pesquisa da mesma. Ao CNPq, pela bolsa concedida e também aos meus pais, os responsáveis por minha formação. Referências Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. TEIXEIRA, Ivan. Cem anos de Simbolismo: Broquéis e alguns fatores de sua modernidade. In: CRUZ E SOUSA, Joao da. Missal/Broquéis. Sao Paulo: Martins Fontes, 1993. WILLIAMS, Raymond. O campo e a cidade: na história e na literatura. Trad. Paulo Henriques POE, Edgar Alan. O homem na multidão. In: Contos. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1986. NEEDEL, Jeffrey. Belle Époque tropical. São Paulo:Companhia das Letras, 1993. MURICY, Andrade. Testemunho. In: MAGALHÃES, Adelino. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963. MAGALHÃES, Adelino. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963. LINS, Osman. Lima Barreto e o espaço romanesco. São Paulo: Ática, 1976. Adelino. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963. GOMES, Eugênio. Adelino Magalhães e a moderna literatura experimental. In: MAGALHÃES, CANDIDO, Antonio. Entre campo e cidade. In: Tese e antítese. 2 ed. São Paulo:Nacional, 1971. _______. O discurso e a cidade. 3 ed. São Paulo:duas Cidades, 2004. BRADBURY, Malcolm. As cidades do modernismo. In: Modernismo: guia geral 1890-1930. BENJAMIN, Walter. A modernidade e os modernos. Trad. Heidrun K. M. da Silva et al. Rio de Janeiro:tempo Brasileiro, 1975. _____. Obras escolhidas III. Charles Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo. Trad. José Carlos Martins Barbosa e Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 1989. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.