Comunicaciones breves
Acta Farm. Bonaerense 25 (1): 108-11 (2006)
Recibido el 25 de noviembre de 2004
Aceptado el 12 de noviembre de 2005
Efeitos Agudos das Frações Hexânicas de Alho (Allium sativum L.),
de Capim-Limão [Cymbopogom citratus (DC) Stapf] e de
suas Associações sobre a Pressão Arterial de Ratos Anestesiados.
Glenan SINGI *1; Dênis Derly DAMASCENO 1; Éverton Dias D’ANDRÉA 1;
Marcelo Henrique dos SANTOS 2 & Geraldo Alves da SILVA 2
Departamento de Ciências Biológicas.
Departamento de Farmácia. Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL-MG,
Rua Gabriel Monteiro da Silva, nº 714 ,
Centro - Alfenas - (MG)-37130-000. Fone: 035-3299-1303.
1
2
RESUMO. Este trabalho objetivou verificar os efeitos anti-hipertensivos da aplicação intravenosa aguda
das frações hexânicas do Allium sativum e do Cymbopogon citratus, bem como verificar se as respostas
eram incrementadas pela associação das duas plantas. Foram usados ratos adultos machos, n=7. Os ratos
foram anestesiados, traqueostomizados e realizada canulação da jugular e carótida. As doses injetadas foram de 1 mg, separadamente e em associação (1 mg + 1 mg), no volume de 0,2 ml. A pressão arterial média (PAM) foi registrada por meio de um sistema Biopac, modelo MP100. O Allim sativum e o Cymbopogon
citratus diminuíram significativamente a PAM somente aos 15 s em relação ao controle. A associação das
duas plantas também diminuiu a PAM aos 15 s, mas esta resposta não foi diferente daquela obtida pelas
duas plantas separadamente.
SUMMARY. “Acute Effects of Hexanic Fractions of Allium sativum, Cymbopongon citratus and their Associations on Arterial Blood Pressure of Anesthetized Rats”. The aim of this paper was to verify the anti-hypertensive
effects of the acute intravenous applications of the hexanic fractions of Allium sativum and Cymbopogon citratus,
as well as to know if the association of these two plants increase the answer. Adults males rats, n=7, were used.
The rats were anesthetized, they were made tracheotomy and cannulation of both jugular and carotid. The injected doses were 1 mg separately, and in association of both (1 mg + 1 mg), in volume of 0,2 ml. The mean arterial
blood pressure (MAP) was recorded with a Biopac System, model MP100. Allium sativum and Cymbopogon citratus decreased MAP only at 15 s from the control. The association of the two plants also decreased MAP at 15s,
but this answer wasn’t different from that obtained with two plants separately.
INTRODUÇÃO
O comércio de plantas medicinais e produtos fitoterápicos encontra-se em expansão em
todo o mundo e um dos fatores que contribui
para isto é o alto custo dos medicamentos industrializados 1. Por isso, parte da população de
países subdesenvolvidos permanece dependente
de plantas medicinais para o cuidado da saúde,
devido ao estado de pobreza destes países 2.
Atualmente, existe uma tendência para estudos
etnobotânicos referentes à utilização de plantas
medicinais como alternativa e solução terapêutica e também de evolução farmacológica e fitoquímica de novos compostos bioativos 3. Em
adição, a OMS encoraja a inclusão de plantas
medicinais em programas de países em desen-
volvimento, por causa do grande potencial que
estas plantas representam no combate de várias
doenças 2.
A hipertensão arterial é uma doença altamente prevalente em nosso meio, atingindo cerca de 15 a 20% da população adulta com mais
de 18 anos, chegando a alcançar índices de 50%
nos idosos 4. A hipertensão arterial é considerada um problema de saúde pública por sua magnitude, risco e dificuldade de controle, sendo
este último importante para a redução da morbimortalidade cardiovascular 5.
Atualmente, uma das plantas que vem sendo
empregada no tratamento da hipertensão arterial é o alho (Allium sativum) 6, que também
apresenta efeitos natriurético e diurético 7, inibi-
PALAVRAS-CHAVES: Allium sativum, Cymbopogon citratus, Pressão arterial.
KEY WORDS: Allium sativum, Arterial pressure, Cymbopogon citratus.
*
108
Autor para quem deverá ser enviada a correspondência. E-mail: [email protected]
ISSN 0326-2383
acta farmacéutica bonaerense - vol. 25 n° 1 - año 2006
dor da agregação plaquetária e aumento da atividade fibrinolítica 8 e cardioprotetor na reperfusão e na isquemia 9. Apresenta também efeitos
não relacionados ao sistema circulatório, como
antifúngico, antimicrobiano, anti-hiperglicemiante e antilipidemiante 10.
Outra planta que também apresenta efeito
sobre a pressão arterial é o capim-limão (Cymbopogon citratus), cuja ação anti-hipertensiva foi
citada por Carbajal et al. 11. Esta também apresenta propriedades analgésicas, antipiréticas e
efeito depressor sobre o sistema nervoso central
12. No Brasil, tem sido empregado popularmente
como remédio para vários distúrbios gastrintestinais e nervosos, não apresentando efeitos tóxicos 13.
As ervas têm sido usadas no tratamento medicinal desde a origem da civilização, mas muitos remédios herbais não têm sido submetidos à
cuidadosa avaliação científica e alguns causam
sérios efeitos tóxicos, principalmente na interação de duas drogas 8. Por outro lado, costuma-se associar plantas com efeitos similares na
tentativa de se aumentar à eficácia do tratamento. Na região de Bafia, pequena localidade situada a 120 km de Yaoundé, capital política do
Camarão, costuma-se associar Allium sativum e
Cympobobon citratus no tratamento da hipertensão arterial 2.
Geralmente os compostos presentes em menor proporção na planta são os que apresentam
melhores efeitos biológicos. Neste sentido, torna-se indispensável à análise da potência das
frações e das substâncias puras em relação à sua
concentração 14. O presente estudo objetivou
verificar os efeitos agudos da administração endovenosa das frações hexânicas do alho, do capim-limão e de suas associações sobre a pressão
arterial de ratos anestesiados.
MATERIAL E MÉTODOS
Os bulbos de alho (Allium sativum L. Liliaceae) e as folhas de capim-limão (Cymbopogon citratus (DC) Stapf, Gramineae) foram colhidos
no horto da UNIFAL-MG. No laboratório de Plantas Medicinais e Fitoterápicos foi realizada a
preparação dos extratos hidroalcóolicos pelo
processo “A” descrito na Farmacopéia dos Estados Unidos do Brasil 15, sendo o álcool etílico a
70% o líquido extrator. Após este processo, de
acordo com Cechinel Filho 14, os extratos hidroalcóolicos foram submetidos a um processo de
partição líquido-líquido, com solventes de polaridades crescentes, utilizando-se 250 ml do solvente em cada partição. Foram utilizados, pri-
meiramente, hexano no total de 5 L para ambas
as plantas; em seguida, o acetato de etila, 2,5 L
para o alho e 2 L para o capim-limão; e, por último, o butanol no total de 0,5 L para ambas as
plantas. Além destas três frações, ainda restou
uma última fração de cada planta que foi denominada fração aquosa. As frações foram evaporadas em rotavapor sob pressão reduzida, protegidas contra a luz, armazenadas, liofilizadas e
mantidas a -10 °C. As doses administradas foram
preparadas com solução salina, seus pHs ajustados para valor fisiológico (7,4) e filtradas antes
das aplicações.
Ratos machos, adultos (Rattus novergicus albinus) (n=7), pesando em média 400 g, provenientes do biotério da UNIFAL-MG, mantidos em
jejum de 12 h, foram utilizados como grupo experimental, de acordo com metodologia descrita
por Carbajal et al. 11, tendo sido os animais anestesiados com pentobarbital sódico (30 mg/Kg,
intraperitoneal) e, em seguida, traqueostomizados e realizada canulação da veia jugular direita,
para aplicação dos extratos, e da artéria carótida
esquerda, para o registro da pressão arterial média (PAM). Após o procedimento cirúrgico,
aguardava-se a estabilização das variáveis hemodinâmicas, o que ocorria em torno de 15 min.
Experimentos preliminares foram realizados
para a obtenção das frações com os melhores
efeitos hipotensores, sendo que as frações hexânicas do alho e também do capim-limão foram
as escolhidas. As seguintes doses destas frações
foram aplicadas: 1mg da fração hexânica do alho, 1mg da fração hexânica do capim-limão e a
associação de 1mg da fração hexânica do alho +
1mg da fração hexânica do capim-limão. O volume injetado foi de 0,2 ml, durante 5 s, seguindo-se a aplicação de 0,2 ml de salina para lavagem de possíveis resíduos na cânula. Antes da
aplicação da dose inicial, era injetado 0,2 ml de
solução salina que servia como controle das
condições hemodinâmicas dos animais. Em caso
de variações da pressão arterial após este procedimento, o experimento era descartado. O registro da PAM foi obtido através de um transdutor
de pressão modelo TSD 104A, acoplado a um
sistema Biopac MP 100 (Santa Bárbara - Califórnia), o qual foi ligado a um computador, possibilitando o registro em mmHg.
Os resultados obtidos foram expressos como
médias e erros padrões das médias e analisados
estatisticamente pelo teste de “Student-NewmanKeuls”, no controle e nos tempos de 15, 60 e
120 s após a aplicação dos extratos, sendo considerados significativos valores com p< 0,001.
109
SINGI G., DAMASCENO D.D., D’ANDRÉA E.D., SANTOS M.H. dos & SILVA G.A. da
Controle
15 s
60 s
120 s
Allium sativum
131 + 2 mmHg
110 + 2* mmHg
120 + 3 mmHg
122 + 3 mmHg
Cymbopogom citratus
130 + 3 mmHg
109 + 3* mmHg
119 + 3 mmHg
120 + 3 mmHg
A. sativum + C. citratus
131 + 3 mmHg
109 + 3* mmHg
125 + 2 mmHg
127 + 2 mmHg
Tabela 1. Resultados da aplicação das frações hexânicas, expressos em média ± EPM.
* Significativamente diferente do controle para p<0,001.
RESULTADOS
A aplicação de 1mg da fração hexânica do
Allium sativum provocou diminuição significativa da PAM (p<0,001), passando de 131±2
mmHg, no controle, para 110±2 mmHg aos 15 s
(Tabela 1, Fig. 1-A). A aplicação de 1mg da
fração hexânica do Cymbopongon citratus também provocou a diminuição significativa da
PAM (p<0,001), passando de 130±3 mmHg, no
controle, para 109±3 mmHg aos 15 segundos
(Tabela 1, Fig. 1-B). Não houve diferenças significativas entre os efeitos das frações hexânicas
do Allium sativum e do Cymbopongon citratus
sobre a PAM dos ratos anestesiados. A aplicação
de 1mg da fração hexânica do Allium sativum e
de 1mg da fração hexânica do Cymbopongon citratus também provocou diminuição significati-
va da PAM (p<0,001), passando de 131±3
mmHg, no controle, para 109±3 mmHg aos 15 s
(Tabela 1, Fig. 1-C). Os efeitos da associação
das frações duas plantas não foram diferentes
daqueles produzidos pelas frações das plantas
separadamente.
DISCUSSÃO
Objetivou-se, nesta pesquisa, primordialmente, verificar os efeitos agudos da administração
endovenosa das frações hexânicas destas duas
plantas sobre a pressão arterial e também verificar se a associação delas poderia incrementar
seus efeitos separados.
O efeito anti-hipertensivo do alho, demonstrado por vários autores em revisão literária de
Banerjee & Marilik 16, foi confirmado. O seu me-
Figura 1.
Efeitos
da aplicação aguda
das frações
hexânicas
do alho (A),
do capim-limão (B)
e de sua
associação (C).
110
acta farmacéutica bonaerense - vol. 25 n° 1 - año 2006
canismo de ação ainda não foi bem elucidado.
De acordo com Pedrazza-Chaverri et al. 9 o alho
é capaz de incrementar in vivo a atividade da
oxido nítrico sintetase, que é responsável pela
produção do óxido nítrico, que é um potente
vasodilatador, induzindo queda da pressão arterial. Sharifi et al. 17 sugerem para esta planta
efeito inibidor da enzima conversora da angiotensina (ECA), possibilitando sua inibição direta
e participando no controle renovascular da hipertensão. Al-Qattan et al. 18 acreditam que a
atividade anti-hipertensiva do alho seja devido a
efeito na redução da síntese de prostanóides vasoconstritores e em parte pela supressão da
NHE-1 (bomba de Na/H). A troca de Na+/H+ é
responsável pela reabsorção de sódio do filtrado
glomerular e regulação do pH. Ojewole & Adewunmi 19 sugerem que o efeito cardiodepressor
do alho pode ser devido a um bloqueio adrenoceptor, pois evidências experimentais obtidas
em estudos por eles desenvolvidos indicam que
o alho produz bradicardia, vasodilatação e hipotensão. Sem dúvida, para se entender o mecanismo de ação do alho como hipotensor, há necessidade de fazer experimentos ligados a receptores e à liberação de substâncias no plasma.
No presente trabalho, foi confirmado também efeito anti-hipertensivo do capim-limão, relatado por Carbajal et al. 11, que acreditam não
ser este efeito devido a uma vasodilatação direta
nem a uma depressão cardíaca. Segundo Gálvez
et al. 20 esta planta apresenta leve efeito diurético, que juntamente com os efeitos sedativos, ansiolítico e espasmolítico de musculatura lisa, podem ser coadjuvantes para o efeito hipotensor.
A associação das frações hexânicas do alho
com o capim-limão não aumentou o efeito hipotensor separado das duas plantas, podendose sugerir que nem sempre a associação de
plantas medicinais seja benéfica.
CONCLUSÃO
As frações dos extratos hidroalcoólicos do alho e do capim-limão que apresentaram os melhores efeitos hipotensores foram as hexânicas.
As frações hexânicas do alho e do capim-limão
foram igualmente potentes para reduzir a
pressão arterial de ratos anestesiados. Não houve potencialização dos efeitos hipotensores na
associação das frações hexânicas do alho e do
capim-limão.
Agradecimentos. Agradecemos ao Auxiliar Técnico
do Laboratório de Farmacologia e Fisiologia da UNIFAL-MG, Fernando Ponciano, e ao Técnico do Laboratório de Plantas Medicinais e Fitoterápicos da UNIFAL-MG, Luiz Marcelo da Silva. Agradecemos também
à ajuda da Profª. Dra. Ruth Gazola de Freitas Andrade, professora titular de Fisiologia aposentada pelo
Departamento de Ciências Biológicas da Efoa/Ceufe.
Apoio financeiro: PROBIC: Efoa/Ceufe.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Brandão, M.G.L., N. Freire & C.D. Vianna-Soares (1998) Cad. Saúde Pública. 14: 13-6.
2. Noumi, E., F. Houngue & D. Lontsi (1999) Fitoterapia 70: 134-9.
3. Martinez, M.C., M.V.Fresneda & D.C. Martínez
(1996) Rev. Cub. Plant. Med. 1: 13-17.
4. Mion Jr.,D., A.M.S. Pierin & A. Guimarães
(2001) Rev. Assoc. Méd. Brás. 47: 249-54.
5. Molina, M.C.B., R.S.Cunha, L.F.Herkenhoff &
J.G. Mill (2003) Rev. Saúde Pública. 37: 743-50.
6. Pantoja, C.V., Chiang., B.B.Norris, & J.B. Concha (1991) J. Ethnopharmacol. 31: 325-33.
7. Pantoja, C.V., N.T. Martin. B.C. Norris & C.M.
Contreras (2000) J. Ethnopharmacol. 70: 35-40.
8. Mashour, N.R., G.I. Lin & W.H. Frishman
(1998) Arch. Intern. Med. 158: 2225-32.
9. Pedrazza-Chaverri, J., E.Tapia, O.N. MedinaCampos, M.L.A. Granado & M. Franco (1998)
Life Sci.. 62: 71-7.
10. Sotolongo, Y.S. (2000) Rev. Cub. Angiol. Cir.
Vasc. 1: 155-60.
11. Carbajal, D., A.Casaco, L. Arruzazabala, R.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
Gonzalez, & T. Tolon (1989) J. Ethnopharmacol. 25: 103-7.
Guerra, M.J.M, J.B Badell, A.R.R. Albajes,
H.B.Pérez, R.M. Valencia & A.L. Azcy (2000)
Rev. Cub. Plant. Med. 5: 97-101.
Lorenzetti, B.B., G.E.P. Souza, S.J.Sarti, D. Santos Filho & S.H. Ferreir (1991) J. Ethnopharmacol. 43: 43-8.
Cechinel Filho, V. & R.A. Yunes (1998) Quím.
Nova. 21: 99-105.
Farmacopéia dos Estados Unidos do Brasil 2ª
Ed. (1959) Industria Gráfica Siqueira S.A., São
Paulo, Págs. 448-9.
Banerjee, S.K & S.K. Marilik, (2002) J. Nutr. 1:
4-8.
Sharifi, A.M., R. Darabi, & N. Akbarloo (2003) J.
Ethnopharmacol. 86: 219-24.
Al-Qattan, K.K., I. Kham, M.A. Almaqeeb & M.
Ali (2001) Prostag. Leuko. Ess. 64: 5-10.
Ojewole, J.A.O. & C.O. Adewunmi (2001) Am.
J. Hypertens. 14: A-29, Supplement 1.
Gálvez, J.L.H., I.P. Torres, O.E.A. Aguilar & M.L.
Lara (1998) Rev. Cub. Plant. Med. 3: 79-82.
111
Download

Efeitos Agudos das Frações Hexânicas de Alho (Allium sativum L