A ADMINISTRAÇÃO DO GOVERNADOR-GERAL AUGUSTO FREIRE DE ANDRADE EM MOÇAMBIQUE (1906 – 1910) Thiago Henrique Sampaio 1 Faculdade de Ciências e Letras (UNESP/Assis) Resumo: Portugal foi uma das primeiras nações a formar seu Império Colonial e a última a desmantelá-lo. Após a independência do Brasil (1822), sua colônia mais desenvolvida, a nação portuguesa começou a observar o continente africano como fonte de riqueza e desenvolvimento. Em finais do século XIX ocorreram mudanças na política colonial da Europa em relação ao continente africano. Portugal, historicamente país colonizador, não tinha condições econômicas e nem militares para empregar uma modernização na sua política colonial. O presente artigo tem o objetivo de analisar a administração de Augusto Freire de Andrade (1906-1910), último governador de Moçambique no período monárquico, partindo do seu pensamento colonial de desenvolvimento para a província ultramarina e o incentivo da migração nacional para o território. Freire de Andrade nos anos de 1906 a 1910 escreveu uma série de documentos intitulados Relatórios sobre Moçambique na qual realizou um minucioso detalhamento da situação da província em início de século. A partir da análise desta documentação, conclui-se que a colônia de Moçambique nos anos de 1906-1910, obteve ganhos maiores que as demais províncias ultramarinas, seu orçamento na primeira década do século XX correspondia à metade da arrecadação da metrópole pelas colônias. Palavras-chaves: Portugal; Moçambique; Imperialismo; Augusto Freire de Andrade Terceiro Império Português; 1 Graduando em História pela Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Assis. Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP. 2460 René Pélissier assinala que os últimos governadores da Monarquia em Moçambique (1898 – 1906) não marcaram a época ou porque foram insignificantes ou seus mandatos foram demasiadamente breves para que lhes fossem possível deixar marcas (PÉLISSIER, 1997, p. 185). Com o início da primeira década do século XX e com o desaceleramento das campanhas de pacificação, houve um aprofundamento do desenvolvimento econômico da província. Esta época foi marcada com problemas de aumento de rendibilidade da mão de obra africana, consolidação e aperfeiçoamento das Companhias e seus sistemas produtivos. O último governador do período Monárquico, Alfredo Augusto Freire de Andrade (1906 – 1910) entrou na administração da colônia em um período de maturação e estabilidade. Segundo Fernanda do Nascimento Thomaz, Freire de Andrade foi um dos expoentes do processo militar de implantação do colonialismo português em Moçambique (THOMAZ, 2008, p. 161). Sua administração coincidiu com a de Ayres de Ornellas no Ministério da Marinha e do Ultramar, 1906 – 1907, o qual aumentou os poderes dos governadoresgerais em relação à Metrópole e subscreveu as reformas que Freire de Andrade introduziu na administração colonial (PÉLISSIER, 1997, p. 186). Ao assumir o cargo de governador-geral, Freire de Andrade tinha como prioridade o desenvolvimento da colônia. Em seu primeiro discurso ele afirmou que: A administração colonial e a opinião pública precisam perder o medo do estrangeiro, o ciúme do estrangeiro e a antipatia ao estrangeiro quando tiverem de deliberar acerca de Moçambique. As distinções entre portugueses e estrangeiros, a instabilidades das leis, as despesas e delongas dos processos burocráticos e ainda a complexidade da legislação tributária da Província, contribuem e poderão contribuir mais para que o nosso domínio colonial no sul da África corra grave risco do que qualquer lei, por mais liberal que seja, porquanto a nossa principal salvaguarda e o nosso mais seguro esteio serão sempre identificar com os nossos os elementos estranhos, de modo que eles identifiquem com os seus os interesses da Colônia. (ANDRADE, 1907, p. 84) Em seu governo buscou estabelecer maior participação do Estado na educação local, instituiu que as aulas fossem ministradas em português e na língua local, mas o aprendizado seria da língua da metrópole2. Ensinar o 2 Portaria Provincial nº 730, 4 de dezembro de 1907. 2461 português tornou-se símbolo de civilidade, significava dominar o conhecimento e a liberdade do homem, caracterizando a passagem do homem bárbaro para o homem urbano e civilizado. Esta atitude mostra forte influência do pensamento colonial de Ayres de Ornellas sobre a administração de Freire de Andrade: Queremos pela escola, aportuguesar pouco a pouco macuas e landins, e elevá-los gradualmente até nós, com uma utopia verdadeiramente generosa, antes de explorar uma colônia queremos civilizá-la, esquecendo-nos o velho aforisma romano que dizia: Primum vivere, drinde philosophre. Vamos primeiro vivendo, depois iremos às filosofias. Mas, a centralização excessiva não tava apenas como conseqüência o desnaturar, permitia-se-me a expressão, o desvirtuar as verdadeiras necessidades da colônia, o contentar-se com abstrações sem querer ir aos fatos. Por uma lei fatal, por uma conseqüência incluctavel, a centralização desenvolve ainda o abuso da regulamentação, esse abuso que gasta os caracteres, comprime as iniciativas e asfixia a propriedade (ORNELLAS, 1903, p. 14). Fernanda do Nascimento Thomaz assinala que os colonos brancos eram os que mais se sentiam gratos às políticas implementadas por Freire de Andrade, sua atuação quanto a um segmento social baseou-se na fixação dos recém chegados portugueses em Moçambique, propiciando melhores condições de vida (THOMAZ, 2008, p. 162). Inicialmente, Freire de Andrade teve consciência do perigo da emigração em massa para a África britânica, ele desejava fixar a população africana no local para que ela desempenhasse um duplo papel: criar um pequeno campesinato africano e fornecer braços às Companhias que desenvolviam a Zambézia3. Posteriormente sua administração apoiou fortemente a emigração da população africana do sul de Moçambique para o Transvaal, desde que o recrutamento fosse feito por uma empresa portuguesa, ele acreditava que esta medida traria melhores condições salariais e garantia de que a mão de obra 3 PÉLISSIER, René. op. cit. p. 188. “O trabalho indígena é uma das questões mais graves que temos a considerar na província porque ele se liga muito intimamente às nossas relações com a vinha colônia do Transvaal, onde o nosso preto tem prestado e prestará por muito tempo serviços que dificilmente poderão dispensar. Tem o Governo inglês procurado substituir a mão de obra do indígena de Moçambique por outras e principalmente pela dos chineses, e ultimamente tem feito negociações para conseguir indígenas do Estado Livre do Congo, ao que me consta. Mas nenhum trabalhador se tem contratado equivalente ao nosso preto de Inhambane e Gaza, robusto, resistente, que se entrega sem repugnância aos trabalhos subterrâneos e que custa menos do que qualquer outro em igualdade de circunstâncias.” ANDRADE, A. Freire. Relatórios sobre Moçambique. Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1907, p. 52. 2462 seria transferida para o exterior ao invés de ser entregue às mãos dos colonos a baixos preços. Fernanda do Nascimento Thomaz assinala que logo que se tornou governador geral da colônia de Moçambique, opôs-se ao monopólio da empresa inglesa Witwatersrand Native Labour Association, responsável pelo recrutamento de trabalhadores no sul de Moçambique (THOMAZ, 2008, p. 163). Segundo René Pélissier, essa “benevolência” para com os zambezianos não se estendia aos moçambicanos a sul do Save, e foi durante o mandato de Freire de Andrade que a Convenção com o Transvaal oficializou, mais uma vez4, o recrutamento de trabalhadores do centro e os do sul do distrito de Moçambique, embora a obrigação de trabalhar instaurada por Antonio Ennes fosse comum a todo o Moçambique e a toda a África portuguesa, os abusos no fornecimento de mão de obra forçada pelas autoridades eram talvez menores no sul, onde a Witwatersrand Native Labour Association atuava, que nos Territórios das Companhias. Tudo leva a crer que estas Companhias eram insensíveis a moralização que Freire de Andrade queria introduzir nessas operações que, por vezes, se pareciam com a caça ao homem (PÉLISSIER, 1997, p. 188). Em 1 de abril de 1909, aconteceu uma Convenção com o Transvaal, foi a recondução com pequenas alterações, do modus vivendi de 18 de dezembro de 1901 sobre a exportação de mão de obra (PÉLISSIER, 1997, p. 188). Deu origem a muitas reações hostis por parte de colonos portugueses, que se queixavam de aquela corrente migratória em massa desnacionalizaria a região sul da colônia, debilitaria os africanos, os perverteria, além de destruir a agricultura local. A emigração para o Transvaal produzia para a província dois tipos de rendimentos: direto e indiretos. O rendimento direto é o que resulta da emigração e foi no ano econômico de 1905-1906 de 191:668$567 réis. O rendimento indireto é o obtido pelo comércio feito com o dinheiro trazido pelos indígenas e pela facilidade com que, por meio dele pagam o imposto de 4 Em 18 de Dezembro de 1901 foi concluído um modus vivendi entre Moçambique e o Transvaal, de maneira mais particular, a Witwatersrand Native Labour Association poderia recrutar na colônia trabalhadores para as minas do Rand. 2463 palhota, que tem sucessivamente aumentado nos últimos anos (ANDRADE, 1907, p. 52.): Rendimentos diretos e indiretos obtidos por Moçambique (1902-1906) Anos Imposto de Palhota Rendimento da emigração 1902-1903 359:735$545 134:599$340 1903-1904 538:225$101 173:180$292 1904-1905 711:575$221 249:572$192 1905-1906 737:175$099 191:668$687 Fonte: ANDRADE, A. Freire. Relatórios sobre Moçambique. Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1907, p. 52. Nesta época conclui-se que o rendimento do imposto de palhota continuou subindo, o da emigração se estagnou e não acompanhou na mesma proporção. Leva-se em conta que as regiões do Sul do Save tinham maior percentual na arrecadação total do imposto de palhota: Anos Sul do Save Centro Norte 1904-1905 93% 4,7% 2,2% 1905-1906 93,6% 4,7% 1,7% 1906-1907 93,7% 4,5% 1,9% 1907-1908 95,1% 3,4% 1,5% Fonte: ANDRADE, A. Freire. Relatórios sobre Moçambique. Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1907, p. 106. A emigração é maior nos distritos de Gaza e Inhambane correspondendo 77% de todos os africanos que foram para o Transvaal, em 1906 a sua distribuição foi à seguinte: Números de emigrantes por distrito (1906) Distrito Lourenço Marques Número 4.813 Gaza 14.747 Inhambane 17.079 2464 Moçambique 2.347 Zambézia e Niassa 1.872 Total 40.858 Fonte: ANDRADE, A. Freire. Relatórios sobre Moçambique. Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1907, p. 57. Freire de Andrade acreditava que a emigração trazia dois grandes perigos para a colônia: a diminuição da população e a falta de mão de obra. O declínio populacional produz-se por duas causas: maior mortalidade dos indígenas na região do Transvaal e o fato de muitos não regressarem a Moçambique, porque se habituaram ao serviço na África britânica. Entre os anos de 1903 a 1906, temos os seguintes números de africanos saindo e entrando na colônia de Moçambique: Anos Emigrados Entrados 1903 42.826 26.327 1904 30.710 34.317 1905 39.653 27.735 1906 40.858 34.613 Total 154.047 122.992 Não regressaram a Moçambique 31.055 Fonte: ANDRADE, A. Freire. Relatórios sobre Moçambique. Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1907, p. 58. Na questão tributária, ao contrário de outros governadores, adotou o ouro como medida para arrecadação de impostos, tornando legal e obrigatório o pagamento de salários aos indígenas em ouro, possibilitava assim pagar seus impostos na mesma moeda de troca. Em 1906, foi criada a Escola Colonial, em Lisboa, sob a égide da Sociedade de Geografia, mas obteve pouco resultado, seus diplomados raramente fizeram carreira na administração colonial e durante algum tempo os militares continuaram a administrar a África portuguesa. Em 1907, a província de Moçambique passou por uma reforma administrativa com uma maior descentralização. Segundo René Pélissier, Freire de Andrade e o seu Ministro Ayres de Ornellas a reforma incluiu a 2465 criação de um corpo de funcionários de carreira nomeados por concurso. Foi uma inovação tardia mas de alcance seguro a longo prazo, pois veio introduzir um pouco de ordem e de competência (PÉLISSIER, 1997, p. 187). Desde Antonio Ennes havia uma proposta de reformulação da administração da província, Ennes afirmava que “é em Moçambique, que Moçambique deve ser governado” (ENNES, 1947, p. 236). Sobre a questão da administração em Moçambique, sempre foi motivo de debate a questão de centralização ou descentralização das colônias. Ayres de Ornellas assinalava que Eis a situação dos governadores gerais: com que cuidado se procura anular-lhes a individualidade própria, e toda a espécie de iniciativa? Contra a inércia e indiferença a que tais princípios podem levar, contra a rotina dos processo e o desprestígio da autoridade, em vão até hoje tem clamado as colônias. (...) Surgem porém circunstâncias especiais, torna-se evidente, palpável, que nessa ocasião, a colônia tem que ser governada lá: acode-se com um comissário régio, dandolhe por decreto excepcional todas as atribuições do poder executivo. Mas esta exceção é a regra geral em toda a parte onde há colônias, desde a Índia ao Congo belga, desde a Indo-China a Tunis. E, fato curioso: onde a ação dos dois comissários régios, com quem tive a honra de servir em Moçambique se tornou mais profícua, o que eles deixaram que ainda hoje subsiste, foram as medidas tomadas para combater a ultima conseqüência da centralização a qual me referia: a asfixia da propriedade (ORNELLAS, 1903, p. 14). Moçambique foi divido em cinco distritos (Lourenço Marques, Inhambane, Quelimane, Tete e Moçambique), cada um possuindo um governador distrital na frente. Podemos comparar esta medida, como uma das sugestões anteriormente feitas por Ayres de Ornellas em 1901 no Congresso Colonial Nacional: Abaixo de um Governo geral assim organizado, os governadores de distritos seriam os delegados de todos os poderes executivos do governador geral na área do seu distrito. Não teria faculdades legislativas e exerceria a sua ação executiva por intermédio dos seus chefes de serviço, independentes entre si e dependentes dele, reunindo-se com o delegado do procurador da coroa e sob a presidência do governador de distrito em conselho de administração distrital – e como cada governador de distrito exerce as funções de governador civil ao seu território crear-se-ia uma comissão distrital, como corpo encarregado da vigilância e tutela das corporações administrativa (ORNELLAS, 1903, p. 15). 2466 No preâmbulo da Reforma Administrativa em Moçambique, Ayres de Ornellas justificava que: Moçambique esta indissoluvelmente ligada ao futuro e ao desenvolvimento da África Austral e da África Central Britânica, e necessita, para a concorrência e para a luta pela vida, dos meios de defesa e ação que as colônias vizinhas possuem. É preciso que se lhe dê iniciativa e ação local: reconhecendo-lhe a maioridade e a capacidade e dando-lhe a metrópole liberdade de se governar, deixese-lhe a responsabilidade que lhe caiba se não souber aproveitar-se da concessão, e não será pequeno o castigo. São os princípios que Rebelo da Silva estabelecia como a base da organização ultramarina portuguesa, que a província de Moçambique, cônscia dos seus direitos, reclama hoje lhe sejam aplicados. E os princípios do direito colonial moderno são os que justificam a forma como se lhe propõe aqui essa explicação (ORNELLAS, 1930, p. 273). A capital ficou definitivamente fixada em Lourenço Marque (capital de facto desde 1898). Lourenço Marques passou a concentrar as potencialidades da urbanização da província, sobretudo as de infra-estrutura necessárias para a implementação do Estado Colonial na localidade, ocorreu a construção do edifício dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, a Ponte do Cais, bem como o principal hospital do distrito (THOMAZ, 2008, p. 162). A justificativa de fixação de Lourenço Marques como capital era que: É, na florescente cidade do Sul que se ventilam as mais importantes questões da nossa África oriental, quer nas suas relações com as colônias vizinhas, quer referentes a assuntos da vida interna. É, em Lourenço Marque que mais se precisa da ingerência imediata e pronta das autoridades superiores da província, por ali se debaterem os mais altos interesses de toda ela, por ali se acharem em execução as mais importantes obras, algumas das quais, já em exploração, exigem constantes cuidados e prontas resoluções inadiáveis. É, finalmente, em Lourenço Marques que mais abundam os elementos de vida e ponderação que o governo precisa ouvir, e de cuja colaboração tanto carece para poder administrar com critério e sempre em harmonia com os interesses da colônia e do país. Afastar de Lourenço Marques a sede do governo geral, com o pretexto de que o Norte da província precisa da sua presença para se levar a bom fim a sua ocupação e pacificação, seria um erro condenável e baseado num princípio falso. A ocupação de um território é um dos atos mais simples e menos complexo da administração colonial. Consegue-se com energia, com fato, com persistência, e para isso basta escolher um governo de distrito competente, a quem sejam dadas as convenientes instruções para o cumprimento da sua missão, a quem nunca faltem os meios morais e materiais de a levar a cabo. A administração de uma região já pacificada, que progride e se desenvolve rapidamente, exigindo todos os cuidados da parte de quem por dever e brio tem de orientar e encaminhar a sua marca incerta e vacilante na estrada civilização, do aperfeiçoamento moral, 2467 acompanhando-o de medidas adequadas ao seu estado especial de sociedade nascente, é um problema muito mais difícil e complexo, cuja resolução está dependente de muito estudo, trabalho, cuidado e ponderação (ORNELLAS, 1930, p. 291-292). Nas circunscrições vivia a população indígena, tratava-se de unidades administrativas rurais, chefiadas por um administrador e divididas em postos, por sua vez chefiados por um chefe de posto, que chegava à população africana através dos seus chefes tradicionais, os régulos, que se encarregavam, do recrutamento de mão de obra, do chibalo e da coleta de impostos. A organização administrativa incluía ainda conselhos, subdivididos em freguesias e distritos militares, nas zonas não completamente pacificadas, subdivididos em postos militares (MARQUES, 2001, p. 539-540). Formou-se um Conselho de Governo formado por 17 membros, sendo 10 vogais natos, chefes das principais repartições públicas e o presidente da câmara municipal, e 7 vogais eleitos, representando as associações comerciais com maior número de sócios, os proprietários e os maiores contribuintes da capital e dos distritos de Lourenço Marques, Inhambane, Tete, Quelimane e Moçambique. O governador-geral era o presidente deste conselho e o secretário um primeiro oficial da secretaria-geral da província (MARQUES, 2001, p. 542). Considerações finais Sobre a política colonial portuguesa neste início de século carregou conseqüências diretas do ultimatum. O ultimatum, até certo ponto, foi um incentivo à transição em Portugal do colonialismo tradicional ao colonialismo moderno(CABRAL, 1979, p. 49). Sem dúvidas o Estado não estava preparado para a mudança colonizadora, o país era fortemente agrário e suas poucas indústrias tinham grande dependência econômica em relação à Inglaterra.(PEREIRA, 1971, p. 20). A administração de Augusto Freire de Andrade buscou um rápido desenvolvimento de Moçambique a partir da implementação de maior liberdade aos seus governadores distritais e a consolidação de uma política de emigração nacional. Seu governo fez parte das etapas finais das Campanhas de Pacificação, que terminaria ao fim da Primeira Guerra Mundial. 2468 René Pélissier assinala que Moçambique de 1907 tem mais de cinco anos de avanço em relação à reforma administrativa de Norton de Matos em Angola (1912 – 1913), isso seria resultado da conquista empregada na África Oriental Portuguesa (PÉLISSIER, 1997, p. 187). 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