8 Alternativo O Estado do Maranhão - São Luís, 13 de maio de 2015 - quarta-feira Fotos/Divulgação “Minha arte é patrimônio público e sobre ela falo quantas vezes quiser. Agora, da minha vida ninguém sabe” Maria Casadevall, atriz, sobre não falar sobre sua vida íntima Trilogia Exibição Depois de lançar três livros históricos sobre a chegada da corte portuguesa no Rio ("1808"), a Independência do Brasil ("1822") e sobre a proclamação da República ("1889"), o escritor Laurentino Gomes anunciou uma nova trilogia sobre a escravidão. Prevista para 2019, a série de livros-reportagem sairá pela Globo Livros. "É um trabalho de longo prazo, para ser concluído em 2021 ou 2022, porque exige pesquisas exaustivas em bibliotecas, museus e centros de estudos no Brasil e outros países. A bibliografia é enorme, com centenas de livros publicados aqui e no exterior", afirmou ele, em comunicado divulgado pela editora. Após grande sucesso, Avenida Brasil (2012), da TV Globo, será exibida na Tailândia. Este será o segundo país da Ásia que vai transmitir o folhetim – o primeiro foi a Mongólia. A novela de João Emanuel Carneiro já foi vendida para mais de 130 países ao redor do mundo. Exibida em Portugal em 2013, Avenida Brasil bateu todos os recordes de audiência na SIC, canal aberto que lá exibe as novelas da Globo. Na ocasião, o capítulo final não chegou a ser o programa mais visto do ano, como aconteceu no Brasil em 2012, mas foi a maior audiência do dia na SIC e o segundo programa mais visto do dia em Portugal. Hoje é dia de... Chagas, nosso poeta Jomar Moraes A o cair da tarde de hoje (mais precisamente às 17h), parentes, amigos e confrades, enfim - admiradores em geral do poeta e cronista José Chagas reunir-se-ão na Igreja do Desterro, para, em comunhão cristã, participarem da santa missa evocativa da memória do nosso poeta, segundo invariavelmente a ele se referia Joãozinho, motorista, fiel amigo e uma espécie de faz-tudo na casa fraterna e festiva que sempre assim foi, desde os tempos em que ela se localizava noutro endereço. Nela, a cidade, representada por expressiva parcela de seus habitantes mais sensíveis às coisas do belo, festejou efusivamente os 80 anos bem vividos de quem a cantou mais e melhor, dedicando, em prosa e verso, a expressão maior de seu talento raro e poliédrico. Chagas, a par de maranhense convicto e ludovicense apaixonado, não o foi em razão do nascimento, mas por livre e consciente escolha. Portanto, mais senhor de seu destino que nós outros, que logo ao nascer fomos investidos de uma naturalidade traçada pela mão do destino. José Chagas igualmente teve a sua naturalidade, mas sem abjurá-la. Por contingências a princípio alheias à sua vontade, acompanhou pais e irmãos na diáspora que os tangeu da paisagem comburida e dos chãos ásperos e sáfaros para as plagas viridentes do Vale do Mearim, no Maranhão. Da vida em Pedreiras, estágio preparatório para o desembarque definitivo na Ilha, são registros líricos os livros “O discurso da ponte” (São Luís: Secretaria da Educação e Cultura, 1959) e “Cem anos de infância ou o poeta e o rio” (São Luís: Secma/Sioge, 1985). Este último, livro de poemas dedicado ao poeta pedreirense Correia de Araújo, por ocasião de seu centenário de nascimento. Por volta de 1946 Chagas finalmente aportou na Ilha e nela fincou raízes profundas, como seu cronista maior e seu poeta idem, terminando por ser o autor da obra que mais enternecida e apaixonadamente elegeu nossa cidade como seu motivo maior e mais constante. Atingiu o ápice desse candente testemunho meu amigo Jomar Moraes, com a gratidão maior de quem recebeu demais e por mais que faça só pode agradecer de menos. O meu abraço e todas as minhas emoções também reunidas. / José Chagas / São Luís, 26.02.1980. Chagas, autoproclamado pastor dos telhados de São Luís, além de cantá-los qual ninguém jamais o fez, cantou os azulejos, os sobradões, os chãos, os bares e os subterrâneos sociais cuja pobreza extrema nos entristece e nos envergonha sobre maneira. Chagas, autoproclamado pastor dos telhados de São Luís, além de cantá-los qual ninguém jamais o fez, cantou os azulejos, os sobradões, os chãos, os bares (...) de amor com o poema-rio “Os canhões do silêncio”, livro que tive a alegria e a honra de editar em 1979, quando dirigia o extinto Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado - SIOGE. Também o reeditei em 1980, pelo mesmo SIOGE, no compacto volume de 598 páginas, intitulado “Poesia reunida”, que enfeixa dez livros do poeta, publicação com a qual fiz uma agradável surpresa ao poeta. Quando, às vésperas de uma viagem que me manteria por quase um ano no Rio de Janeiro, visitei Chagas levando-lhe a surpresa do “Poesia reunida”, ele escreveu o seguinte no meu exemplar, que guardo cuidadosamente: “Ao Na denúncia-lamentação de “Maré/memória”, Chagas diz a certa altura: “Daí o homem do mangue ser da idade anterior à idade que traz no sangue curtido em sezão e dor. “Como um fóssil desprezado que não se guarda em museu, ele se vê num passado que São Luís não viveu. “A imagem da palafita não veio de Portugal nem é lembrança bonita da França Equinocial. “Ela vem de muito antes de quanto a história nos diz. Por isso seus habitantes não são bem de São Luís. [...] “E ali improvisa a casa, a cama e até a família, criando na tábua rasa uma ilusão de mobília.” A transcrição foi longa, porque se impôs por si mesma, e mais longe iria, se não tivesse eu a decisão de interrompê-la. Chagas, meu querido e inesquecível amigoirmão, conquistou São Luís e foi pela cidade para sempre conquistado. Por isso vive na memória de tantos amigos e admiradores. Dizia-me sempre ele que gostaria de haver nascido em maio mês de sua especial predileção, e que cantou o soneto 25 do “Colégio do vento”, livro evocativo da sua infância na Paraíba, por mim publicado e republicado três vezes. A 4ª edição, comemorativa do 89º aniversário natalício do poeta, em 2013, é uma volta sentimental à terra de seu nascimento. Como dizia o soneto 25 desse livro termina com estes versos: “Maio diminuía as nossas penas e me criou em tempo de poesia.” E para encerrar com as palavras do poeta, em honra de quem vai esta crônica, que fale ele próprio na abertura de “Os telhados”: “No alto dos mirantes me fiz e me desfiz. Soprai-me brisas errantes sobre toda São Luís.”