UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Síntese e Caracterização de Ferritas de Níquel dopadas com Cobalto e Efeito da Substituição nas suas Propriedades Magnéticas Ádila Priscilla Gomes Rodrigues ________________________________________ Dissertação de Mestrado Natal/RN, dezembro de 2013 Ádila Priscilla Gomes Rodrigues Síntese e Caracterização de Ferritas de Níquel dopadas com Cobalto e Efeito da Substituição nas suas Propriedades Magnéticas Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de pósgraduação em química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Química. Orientadora: Profª. Drª.Dulce Maria de Araújo Melo Co-orientadora: Profª. Drª. Danielle K. S. Gomes Natal-RN 2013 Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / SISBI / Biblioteca Setorial Centro de Ciências Exatas e da Terra – CCET. Rodrigues, Ádila Priscilla Gomes. Síntese e caracterização de ferritas de níquel dopadas com cobalto e efeito da substituição nas suas propriedades magnéticas / Ádila Priscilla Gomes Rodrigues. Natal, 2013. 95 f. il.: Orientadora: Profª. Drª. Dulce Maria de Araújo Melo. Co-orientadora: Profª. Drª. Danielle K. S. Gomes. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Programa de Pós-Graduação em Química. 1. Ferritas – Dissertação. 2. Espinélio – Dissertação. 3. Cobalto – Dissertação. 4. Reação de combustão – Dissertação. 5. Propriedades magnéticas – Dissertação. I. Melo, Dulce Maria de Araújo. II. Gomes, Danielle K. S. III. Título. RN/UF/BSE-CCET CDU: 549.73 À Deus, Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente, além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, A esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém. Efésios 3:20-21 Agradecimentos Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, o autor e sustentáculo de minha vida. Ao Programa de Pós-Graduação em Química – PPGQ. A Capes, pelo apoio financeiro. As minhas Orientadoras: As professoras Dulce Maria de Araújo Melo e Danielle Karinne, pela paciência, atenção e orientação segura, durante este trabalho. Ao professor Gecílio, meu orientador na graduação, que sempre me acompanhou desde os primeiros momentos da minha vida acadêmica. À banca examinadora, em especial ao professor José Humberto de Araújo, do Departamento de Física Teórica por sua colaboração decisiva neste trabalho. Aos Laboratórios de Tecnologia Ambiental (LABTAM) e Materiais Catalíticos e seus coordenadores e alunos responsáveis pelos equipamentos: Rodrigo Melo, Rodolfo, José Antonio, Tiago Roberto, Larissa, Nathane, Elania, Alexandre e, em especial, àqueles que dedicaram seus esforços para atender as demandas de caracterizações desse trabalho no decorrer de toda essa pesquisa. Aos meus pais, Tota e Josileide, pela influência espiritual e motivação na área educacional, especialmente minha mãe, que sempre deu o máximo de si para que eu estivesse aqui. A todos os meus amigos, que de uma forma direta ou indireta contribuíram para a minha formação de família (vocês são a minha outra família). Na ciência temos lido apenas as notas de um poema; no cristianismo encontramos o próprio poema. (C.S. Lewis) RESUMO As ferritas de composição Ni1−xCoxFe2O4 (0≤x≤0,75) foram obtidas através do método de síntese assistida por microondas e tiveram suas propriedades estruturais e magnéticas avaliadas em função do efeito da substituição do Ni pelo Co. Os compostos foram preparados de acordo com o conceito da química dos propelentes e aquecidos em forno micro-ondas com potência 7000kw. O material sintetizado foi caracterizado por espectroscopia de absorção na região do infravermelho (FTIR), difração de raios X (DRX), com o uso do refinamento pelo método de Rietveld, área superficial específica (BET), microscopia eletrônica de varredura (MEV) com auxílio de análise por dispersão de energia (EDS) e medidas magnéticas (MAV). Os resultados obtidos, a partir destas técnicas confirmaram a viabilidade do método de síntese empregado para a obtenção da estrutura espinélio desejada, tanto para a ferrita de níquel quanto para as ferritas de níquel dopadas com cobalto. Os resultados do DRX, aliado ao refinamento, mostraram a formação de fases secundárias tais como as fases α - Fe2O3, FeO, (FeCo)O e Ni0. Por outro lado, observou-se um aumento no tamanho do cristalito com o incremento do cobalto nos sistemas, implicando em um aumento da cristalinidade. Os resultados do BET mostraram que os sistemas apresentaram uma redução da área superficial específica com o incremento do cobalto e a partir do MEV observou-se a formação de blocos porosos irregulares e que o aumento da concentração de cobalto dimunuiu o estado de aglomeração dos sistemas. As ferritas estudadas apresentaram características magnéticas diferenciadas de acordo com a quantidade do dopante utilizado, variando de um material magnético bastante mole (fácil magnetização e desmagnetização) - para o sistema sem cobalto - a um material magnético com comportamento um pouco mais duro - para os sistemas contendo cobalto. Os valores do campo coercitivo aumentaram com o crescente incremento do cobalto, e os valores de magnetização de saturação e remanência aumentaram até x=0,25 e depois reduziram. As características magnéticas diferenciadas apresentadas pelos sistemas, de acordo com a quantidade de dopante utilizado, permite o uso desses materiais como magnéticos intermediários. Palavras-chave: ferrita, espinélio, cobalto, reação de combustão, propriedades magnéticas. ABSTRACT The ferrite composition Ni1 - xCoxFe2O4 (0 ≤ x ≤ 0.75) were obtained by the method of microwave assisted synthesis and had their structural and magnetic properties evaluated due to the effect of the substitution of Ni by Co. The compounds were prepared: according to the concept of chemical propellants and heated in the microwave oven with power 7000kw. The synthesized material was characterized by absorption spectroscopy in the infrared (FTIR), Xray diffraction (XRD) using the Rietveld refinement, specific surface area (BET) , scanning electron microscopy (SEM) with aid of energy dispersive analysis (EDS) and magnetic measurements (MAV). The results obtained from these techniques confirmed the feasibility of the method of synthesis employed to obtain the desired spinel structure, the ferrite, nickel ferrite as for nickel doped with cobalt. The results from XRD refinement ally showed the formation of secondary phases concerning stages α - Fe2O3, FeO, (FeCo)O e Ni0. On the other hand, there is an increase in crystallite size with the increase of cobalt in systems, resulting in an increased crystallinity. The results showed that the BET systems showed a reduction in specific surface area with the increase of cobalt and from the SEM, the formation of irregular porous blocks and that the concentration of cobalt decreased the agglomerative state of the system. The magnetic ferrites studied showed different characteristics according to the amount of dopant used, ranging from a very soft magnetic material (easy magnetization and demagnetization ) - for the system without cobalt - a magnetic material with a little stiffer behavior - for systems containing cobalt. The values of the coercive field increased with the increasing growth of cobalt, and the values of saturation magnetization and remanence increased up to x = 0,25 and then reduced. The different magnetic characteristics presented by the systems according to the amount of dopant used, allows the use of these materials as intermediates magnetic. Keywords: ferrite spinel, cobalt, combustion synthesis, magnetic properties. Lista de figuras Figura 1 - Esquema dos orbitais p e d envolvidos na interação de supertroca. ........................ 24 Figura 2 - Tipos de magnetismo encontrado nos materiais. ..................................................... 27 Figura 3 - Curva teórica do inverso da susceptibilidade com a temperatura de uma ferrita de magnésio. .................................................................................................................................. 30 Figura 4 - Esquema de uma parede de domínios (A) e (B) ordenação dos momentos em uma parede de domínios adjacentes. ................................................................................................ 33 Figura 5 - domínios durante os vários estágios de magnetização até a magnetização de saturação. .................................................................................................................................. 34 Figura 6 - Curva de histerese magnética típica de um material ferromagnético. ..................... 35 Figura 7 - Variação da coercividade com o tamanho da partícula. .......................................... 36 Figura 8 - Curvas de histerese de um material magnético (a) mole e (b) duro. ....................... 37 Figura 9 - Representação da célula unitária do espinélio. Os círculos vermelhos representam o oxigênio, os sítios tetraédricos aparecem em amarelo e os sítios octaédricos aparecem em azul. .......................................................................................................................................... 42 Figura 10 - Sítios na estrutura do espinélio (a) cátion ocupante da posição A cercados por 4 íons O2- e (b) cátion na posição B rodeado por 6 íons O2-........................................................ 42 Figura 11 - Sítios Tetraédricos e octaédricos da ferrita de níquel. ........................................... 44 Figura 12 - Representação geométrica dos orbitais s, p e d. .................................................... 47 Figura 13 - Projeção dos orbitais (a) dxy e (b) dx2-y2, bem como os orbitais p dos íons oxigênio, no plano xy. .............................................................................................................. 48 Figura 14 - Efeito do campo cristalino em um octaedro. ......................................................... 49 Figura 15 - Diagrama de energia dos orbitais d de um metal de transição (a) livre (b) em um octaedro perfeito e (c) com deformação Jahn-Teller. ............................................................... 50 Figura 16 – Procedimento de preparação das amostras via reação de combustão assistida por micro-ondas. ............................................................................................................................. 59 Figura 17 - Espectros de Absorção na Região do Infravermelho dos sistemas NF, NFC25, NFC50 e NFC75. ...................................................................................................................... 63 Figura 18 - Difratograma de raios X do NF após refinamento pelo método Rietveld. ............ 66 Figura 19 - Difratograma de raios X do NFC25 após refinamento pelo método Rietveld....... 66 Figura 20 - Difratograma de raios X do NFC50 após refinamento pelo método Rietveld....... 67 Figura 21 - Difratograma de raios X do NFC75 após refinamento pelo método Rietveld....... 67 Figura 22 – Micrografia eletrônica da amostra NF, ilustrando as áreas onde foi realizado as medidas de EDS, no modo janela e seu respetivo espectro. ..................................................... 72 Figura 23 – Micrografia eletrônica da amostra NFC25, ilustrando as áreas onde foi realizado as medidas de EDS, no modo janela e seu respetivo espectro. ................................................ 72 Figura 24 – Micrografia eletrônica da amostra NFC50, ilustrando as áreas onde foi realizado as medidas de EDS, no modo janela e seu respetivo espectro. ................................................ 73 Figura 25 – Micrografia eletrônica da amostra NFC75, ilustrando as áreas onde foi realizado as medidas de EDS, no modo janela e seu respetivo espectro. ................................................ 73 Figura 26 - Variação da magnetização teórica em função da concentração de cobalto. .......... 77 Figura 27 - Curvas de histereses das amostras (a) NF, (b) NFC25, (c) NFC50 e (d) NFC75 .. 78 Figura 28 - (a) Variação da magnetização de saturação (MS); (b) magnetização remanente (MR) em função da concentração de cobalto. .......................................................................... 79 Figura 29 - Variação do campo coersivo (HC) em função da concentração de cobalto. ......... 80 Figura 30 - Variação da magnetização (MR/MS) em função da concentração de cobalto. ..... 81 Lista deTabelas Tabela 1 - Valores das constantes de anisotropia magnetocristalina........................................ 32 Tabela 2 - Distribuição eletrônica e respectivo momento magnético teórico de íons. ............. 40 Tabela 3 – Ocupação do cátion nos sítios A e B da ferrita de níquel. ...................................... 44 Tabela 4 - Reagentes utilizados na preparação dos catalisadores. ........................................... 58 Tabela 5 - Nomenclatura usada neste trabalho ......................................................................... 58 Tabela 6 - Dados comparativos das bandas vibracionais dos espectros de FTIR obtidos neste trabalho e descritos na literatura para a ferrita Ni-Co. ............................................................. 64 Tabela 7 - Dados do refinamento Rietveld dos sistemas preparados. ...................................... 68 Tabela 8 - Raio iônico, OSPE, sítio preferencial e momento magnético dos íons substituintes. .................................................................................................................................................. 70 Tabela 9 - Área específica e tamanho de partículas do sistema Ni1-xCoxFe2O4, preparados por reação de combustão. ................................................................................................................ 71 Tabela 10 - Dados quantitativos por EDS. ............................................................................... 74 Tabela 11 - Cálculo do momento magnético líquido para a amostra NF. ................................ 75 Tabela 12 - Cálculo do momento magnético líquido para a amostra NFC25. ......................... 75 Tabela 13 - Cálculo do momento magnético líquido para a amostra NFC50. ......................... 76 Tabela 14 - Cálculo do momento magnético líquido para a amostra NFC75. ......................... 76 Tabela 15 - Parâmetros de histerese dos sistemas NF, NFC25, NFC50 e NFC75 preparados por reação de combustão em micro-ondas. .............................................................................. 78 Lista de Abreviaturas, Símbolos e Siglas P.A Para Análise FTIR Espectroscopia de absorção na região do infravermelho DRX Difração de raios-X ICDD Centro Internacional para Dados de Difração MAV Magnetômetro de Amostra Vibrante LMMM Laboratório de Magnetismo e Materiais Magnéticos DFTE Departamento de Física Teórica e Experimental NF NiFe2O4 NFC25 Ni0,75Co0,25Fe2O4 NFC50 Ni0,5Co0,5Fe2O4 NFC75 Ni0,25Co0,75Fe2O4 OSPE Energia Preferencial Pelos Sítios Octaédricos MS Magnetização de Saturação MR Magnetização de Remanência HC Campo Coercitivo Χ Susceptilidade Magnética B Indução Magnética G Fator de Landé J Momento Angular H Constante de Planck M Massa do Elétron TN Temperatura de Néel ER Energia Interna Magnética TC Temperatura de Curie C Constante de Curie K Constante de Anisotropia DC Diâmetro Crítico µ Momento de Dipolo Magnético µB Magnéton de Bohr Δ Grau de Inversão Sumário 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 19 2.1 Objetivo Geral ................................................................................................................. 19 2.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 19 3 REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................................... 21 3.1 Magnetismo .................................................................................................................... 21 3.2 Propriedades Magnéticas ................................................................................................ 23 3.3 Tipos de comportamento magnético ............................................................................... 24 3.4 Teoria de Néel para o ferrimagnetismo .......................................................................... 27 3.5 Temperatura de Curie ..................................................................................................... 29 3.6 Anisotropia magnética .................................................................................................... 30 3.7 Domínios magnéticos ..................................................................................................... 32 3.8 Curva de magnetização ................................................................................................... 34 3.9 Materiais Magnéticos Duros e Moles ............................................................................. 36 3.10 Magnetismo no Ferro, Níquel e Cobalto ...................................................................... 37 3.11 Ferritas .......................................................................................................................... 40 3.12 Estrutura AB2O4 ............................................................................................................ 41 3.13 A Ferrita de Níquel ....................................................................................................... 43 3.14 A Ferrita de Cobalto ..................................................................................................... 45 3.15 Campo Cristalino .......................................................................................................... 46 3.16 Efeito Janh-Teller ......................................................................................................... 49 3.17 Obtenção das Ferritas de Ni-Co .................................................................................... 50 3.17.1 Reação de Combustão ............................................................................................ 50 3.17.2 Método da combustão assistida por micro-ondas .................................................. 53 3.18 Métodos de Caracterizações das Ferritas ...................................................................... 54 3.18.1 Espectroscopia na Região do Infravermelho (FTIR) ............................................. 54 3.18.2 Difração de raios X (DRX) .................................................................................... 54 3.18.3 Área Superficial Específica (BET) ........................................................................ 55 3.18.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ........................................................ 56 3.18.5 Magnetômetro de Amostra Vibrante (MAV)......................................................... 56 4 Metodologia .......................................................................................................................... 58 4.1 Reagentes Utilizados....................................................................................................... 58 4.2 Preparação dos espinélios ............................................................................................... 59 4.2.1 Método da combustão assistida por micro-ondas .................................................... 59 4.3 Caracterizações ............................................................................................................... 60 4.3.1 Espectroscopia na Região do Infravermelho (FTIR) ............................................... 60 4.3.2 Difração de raios X (DRX) em conjunto com refinamento Rietveld ...................... 60 4.3.3 Área Superficial Específica (BET) .......................................................................... 60 4.3.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) com auxílio de análise por dispersão de energia (EDS) ....................................................................................................................... 61 4.3.5 Magnetômetro de Amostra Vibrante (MAV)........................................................... 61 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 63 5.1 Espectroscopia na Região do Infravermelho (FTIR) ...................................................... 63 5.2 Difração de raios X (DRX) ............................................................................................. 64 5.2.1 Suposições para a distribuição dos cátions nos sítios octaédricos e tetraédricos ..... 69 5.3 Área Superficial Específica (BET) ................................................................................. 70 5.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) com auxílio de análise por dispersão de energia (EDS) ....................................................................................................................... 71 5.3 Propriedades Magnéticas ................................................................................................ 74 5.3.1 Magnetização Teórica .............................................................................................. 74 5.3.2 Medidas Magnéticas ................................................................................................ 77 6 CONCLUSÕES.................................................................................................................... 83 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 86 APÊNDICE A ......................................................................................................................... 92 15 INTRODUÇÃO 16 1 INTRODUÇÃO A capacidade de certos materiais como o ferro, o níquel, o cobalto e algumas de suas ligas e compostos, de adquirir um alto e permanente momento magnético, é de grande importância. As aplicações de materiais magnéticos são muitas e fazem uso de quase todos os aspectos do comportamento magnético. As pesquisas por materiais magnéticos com melhores características são motivadas em grande parte pela possibilidade de redução nas dimensões dos equipamentos e diminuição de limitações no desempenho devido à saturação e perdas elétricas e magnéticas. Com o desenvolvimento tecnológico acelerado, novos materiais com características inovadoras estão sendo constantemente obtidos através das mais variadas técnicas, e os materiais magnéticos são alvos de incansáveis estudos. Óxidos ferrimagnéticos tais como as ferritas formam uma ampla gama de minerais e materiais sintéticos que estão sendo utilizados em diferentes campos de interesse, já há algum tempo, devido à boa combinação entre as suas propriedades elétricas e magnéticas. Os mais importantes e populares usos das ferritas estão em ótica, eletrônica, mecânica e em outras áreas técnicas. Também tem se tornado significativo o papel do uso de ferritas para fins biomédicos, médicos e, também, na indústria petroquímica, principalmente, na catálise química (ZĀLĪTE et al., 2012). A fórmula geral para as ferritas é MFe2O4, em que M é um ou mais íons divalentes metálicos como Ni2+, Cu2+, Mg2+, Mn2+, Zn2+, entre outros. As propriedades desses materiais variam a partir da sua morfologia, tamanho e microestrutura, daí a importância de analisar a obtenção, condições e método de síntese das nano partículas, assim como a síntese de novos óxidos metálicos com novas propriedades. Ferritas com estrutura espinélio são materiais significativos no desenvolvimento de várias aplicações tecnológicas, em que materiais de alta densidade e de baixa porosidade são necessários (ZĀLĪTE et al., 2012). A indústria eletroeletrônica, em particular a indústria de computadores, vem requerendo, cada vez mais, materiais de alto desempenho elétrico e magnético, por isso o desenvolvimento da miniaturização e integralização dos componentes eletrônicos vem ganhando grande atenção nos últimos anos. Nesse contexto, o desenvolvimento de pesquisas com o intuito de atender ao exigente mercado da indústria eletrônica, tem alavancado as 17 pesquisas de fabricação ferritas que melhor atendam estas especificações, relativas ao desempenho desses materiais. Nesse sentido, vários dopantes e métodos de síntese vêm sendo utilizados com o intuito de melhorar as propriedades elétricas e/ou magnéticas desses materiais, a fim de que os mesmos atendem as inovações tecnológicas requeridas pelos mercados da micro e nano eletrônica. Esse tipo de material é comumente produzido por meio da mistura de óxidos, que consiste na mistura de pós-precursores e uma posterior reação no estado sólido a elevadas temperaturas (>1200 °C). Apesar do método de mistura de óxido cerâmico ser relativamente simples e o mais utilizado industrialmente, ele apresenta desvantagens inerentes, como: impurezas acrescidas durante o processo de moagem; baixo controle da composição; baixa homogeneidade química; tamanhos excessivamente grosseiros das partículas, comprometendo a microestrutura e propriedades finais desses materiais (COSTA, 2009). Para contornar os prováveis problemas, advindos do método de mistura de óxidos, métodos químicos em escala de laboratório foram desenvolvidos, visando obter principalmente o controle da homogeneidade química, morfológica e granulométrica dos pós, garantindo, assim, o controle da microestrutura e propriedades finais do material. O método de reação por combustão assistida por micro-ondas vem se destacando nos últimos anos, devido principalmente à facilidade de sua aplicação, ao custo relativamente baixo, ao controle da homogeneidade química, por requerer poucas etapas e, consequentemente, curto tempo de duração (COSTA, 2009). Diante desta exposição, a proposta desse trabalho é sintetizar a ferrita de níquel dopada com cobalto por combustão assistida por micro-ondas e avaliar a influência da concentração de cobalto nas propriedades estruturais e magnéticas desse material. 18 OBJETIVOS 19 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral O objetivo geral desta dissertação é sintetizar e caracterizar ferritas de níquel dopadas com cobalto e estudar o efeito da substituição do níquel pelo cobalto nas suas propriedades magnéticas. 2.2 Objetivos Específicos Produzir ferritas de composição Ni1-xCoxFe2O4 (0 ≤ x ≤ 0,75), via reação de combustão assistida por micro-ondas visando à obtenção de pós cristalinos, nanométricos e monofásicos; Avaliar a influência da substituição de íons Ni2+ por íons de Co2+ nas propriedades estruturais, morfológicas e magnéticas das ferritas preparadas; Avaliar as propriedades magnéticas dos pós de ferritas por meio de curvas de histerese M x H e através destas determinar propriedades tais como: coercividade, perda por histerese e magnetização de saturação e remanência. 20 REVISÃO DA LITERATURA 21 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Magnetismo Materiais magnéticos são conhecidos pelo homem há pelo menos 3000 anos, sendo que os primeiros relatos sobre suas propriedades de atração e repulsão são oriundos da região da Magnésia, Ásia Menor (ANDRADE, 1958). Quanto à utilização de materiais magnéticos, estudos mostram que os antigos chineses foram os primeiros a utilizá-los construindo bússolas há mais de dois milênios (CHEN, 1986). No inicio do século XIX, em 1820, Oersted descobriu uma relação entre a eletricidade e o magnetismo ao verificar que uma corrente elétrica num fio fazia com que a orientação da agulha de uma bússola mudasse sua direção, observando assim que a corrente gerava um campo magnético. Logo depois, André-Marie Ampère formulou a lei que relaciona o campo magnético gerado com a intensidade da corrente no fio (RESENDE, 2007). Em 1831, Faraday na Inglaterra e Henry nos EUA, descobriram que um campo variável podia induzir uma corrente elétrica num circuito. Em 1864 James Clerk Maxwell fez uma correção na lei de Ampère. Estes estudos culminaram com o desenvolvimento das equações de Maxwell que descrevem o comportamento dos campos magnéticos e elétricos bem como sua interação com a matéria (CULLITY e GRAHAM, 2009). No final do século XIX os fenômenos eletromagnéticos eram bem compreendidos e já existiam inúmeras aplicações como o motor, gerador e transformador elétrico que proporcionaram uma revolução nas atividades industriais e de serviços. Desde então, os materiais magnéticos vêm desempenhando um papel importante no desenvolvimento tecnológico seja com aplicações tradicionais, ou em novas aplicações como gravação magnética (RESENDE, 2007). O comportamento magnético dos materiais em um campo externo é determinado por seus momentos de dipolo magnéticos e pela interação entre eles. A origem dos momentos magnéticos esta relacionado com o momento angular dos elétrons que por sua vez, é originado pelo movimento orbital do elétron em torno do núcleo atômico e o spin. Macroscopicamente a magnetização da matéria é definida pelo momento de dipolo magnético por unidade de volume que é expressa pelo vetor de magnetização M . 22 1 M ii V (1) Onde i é o momento de dipolo magnético, e V é o volume. A magnetização M do material é relacionada ao vetor de indução magnético B e o vetor de intensidade do campo magnético H através da equação 1. No sistema internacional de unidades (SI) temos: B 0 ( H M ) (2) onde, 0 é a permeabilidade magnética no vácuo. As propriedades magnéticas de um material em um campo aplicado são caracterizadas pelo comportamento da magnetização. A relação entre um campo aplicado H e a magnetização M do material é representada pela susceptibilidade magnética , quando a magnetização é induzida na mesma direção do campo aplicado a susceptibilidade é definida por: M H (3) A intensidade do campo magnético e a densidade de fluxo magnético estão relacionadas por: B H (4) Onde a permeabilidade magnética, , é uma propriedade específica do meio (CULLITY e GRAHAM, 2009). A relação entre a susceptibilidade magnética e permeabilidade magnética é relacionada pela Eq. 4 no sistema internacional é dada por: 0 (1 ) (5) O momento magnético de um átomo ou íon isolado é dado por: g B J (6) 23 Onde, J é o momento angular total, g o fator de Landé, B é o magnéton de Bohr definido por: B e 2m (7) Onde é a constante de Planck, e a carga do elétron, m a massa do elétron. 3.2 Propriedades Magnéticas A propriedade magnética pode ser entendida como a capacidade que um material tem de atrair ou repelir outros materiais, e é uma consequência dos momentos magnéticos dos elétrons individuais. Em termos da física clássica, cada elétron em um átomo possui momentos magnéticos devido a dois movimentos: um em torno do próprio eixo (momento magnético de spin) e o outro, em torno do núcleo do átomo (momento magnético orbital) (CALLISTER, 2002). O momento magnético associado a um elétron é denominado magnéton de Bohr (μB) e sua magnitude é de 9,27 x 10-24 A.m2. O momento magnético de spin, para cada elétron em um átomo, é de + μB (sinal positivo - spin ↑ e negativo – spin ↓), sendo a contribuição do momento magnético orbital igual a mIμB, onde mI representa o número quântico magnético do elétron (CALLISTER, 2002). As propriedades magnéticas de um material são determinadas pelas interações que ocorrem entre um campo magnético externo e os momentos de dipolo magnéticos dos átomos constituintes. O momento magnético líquido ou global de um átomo é resultante da soma das contribuições dos momentos magnéticos de cada um dos elétrons, incluindo o cancelamento dos momentos de spin e orbital dos pares eletrônicos (OTHMER, 1983; CAHN, HAASEN e KRAMER, 1994). Quando dois elétrons encontram-se emparelhados no mesmo orbital, o momento magnético resultante será nulo, pois como consequência da regra de Hund, estes elétrons terão spins invertidos. Assim, para o cálculo do momento magnético resultante em um átomo são considerados apenas os elétrons desemparelhados. Em vista disso, os materiais que são 24 compostos por átomos que possuem camadas eletrônicas totalmente preenchidas não são capazes de serem magnetizados permanentemente (CALLISTER, 2002). Nas ferritas a origem do magnetismo se deve à presença de elétrons 3d desemparelhados e distribuídos, em números não equivalentes, nos sítios octaédricos e tetraédricos (NAKAGOMI, 2007). Portanto, as propriedades magnéticas das ferritas dependem dos spins eletrônicos dos cátions e suas interações. Nos metais, as interações de troca ocorrem entre átomos situados em sítios vizinhos. Nas ferritas, por outro lado, os cátions não estão em contato direto, pois têm sempre um átomo de oxigênio como vizinho mais próximo. De forma que, as interações de troca nesses materiais ocorrem através dos elétrons dos átomos de oxigênio e são por isso chamadas de interações de supertroca. Essas interações acontecem porque as funções de onda dos orbitais p do oxigênio se sobrepõem às funções de onda dos orbitais 3d dos cátions, como mostrado na Figura 1 a seguir. Os dois elétrons da última camada do oxigênio estão desemparelhados, polarizando os cátions adjacentes do metal de transição que se acoplam antiparalelamente (O’HANDLEY, 2000). Figura 1 - Esquema dos orbitais p e d envolvidos na interação de supertroca. 3.3 Tipos de comportamento magnético Os materiais, em sua grande maioria, exibem magnetismo reduzido e, somente quando estão na presença de um campo magnético externo se pode classificá-los quanto aos tipos de interação e alinhamento entre os seus momentos de dipolo magnéticos. De acordo com a 25 resposta que apresentam diante da aplicação de um campo magnético externo, os materiais são classificados em cinco tipos principais: Diamagnéticos, paramagnéticos, ferromagnéticos, ferrimagnéticos e antiferromagnéticos (CULLITY, 1972; JILES, 1991; JAKUBOVICS, 1994). Diamagnéticos – São materiais cujos átomos possuem camadas eletrônicas completas nos quais os momentos estão emparelhados e se cancelam, não apresentando magnetização resultante. Quando na presença de um campo magnético externo, eles são fracamente magnetizados no sentido oposto do campo magnético aplicado. Isto se deve ao surgimento de pequenas correntes localizadas no interior do material criando seu próprio campo magnético em oposição ao campo aplicado. Deste modo, apresentam valores reduzidos e negativos de susceptibilidade magnética. Exemplos: vários metais, ex. Ag, Hg, Bi, Au; a maioria dos não metais, ex. B, Si, P; gases nobres; muitos íons, ex. Na+, Cl- e seus sais; moléculas diatômicas, ex. H2, N2; água e a maioria dos compostos orgânicos (CULLITY, 1972; OTHMER, 1983; JILES, 1991; BASSALO, 1994; JAKUBOVICS, 1994). Paramagnéticos – são aqueles materiais cujos átomos possuem momentos magnéticos intrínsecos que não interagem entre si. Os momentos magnéticos encontram-se orientados aleatoriamente não havendo uma magnetização macroscópica líquida ou global. Porém, a aplicação de um campo magnético externo provoca o alinhamento dos dipolos na direção do campo e sua intensidade de magnetização é proporcional ao mesmo. Apresentam valores reduzidos e positivos de susceptibilidade magnética. Exemplos: Alguns metais, ex. Cr, Mn, Al; alguns gases diatômicos, ex. O2, NO; íons de metais de transição e metais, sais e óxidos de terras raras (CULLITY, 1972; OTHMER, 1983; JILES, 1991; BASSALO, 1994; JAKUBOVICS, 1994). Ferromagnéticos- são aqueles que têm momentos de dipolo magnéticos permanentes que interagem entre si causando alinhamento paralelo. Ou seja, apresentam magnetização espontânea na ausência de campo externo. Quando estão sob a influência de um campo externo, seus momentos de dipolo magnéticos se alinham na direção e sentido do campo, podendo seguir orientados mesmo com a sua retirada. Acima de uma temperatura crítica denominada de temperatura Curie (Tc), este alinhamento é destruído e o material se comporta como um paramagneto (KOROLEVA e KHAPAEVA, 2007). Apresentam valores altos e positivos de susceptibilidade magnética. Um material ferromagnético atinge a máxima magnetização, chamada de magnetização de saturação Ms, quando todos os dipolos magnéticos estão alinhados com o campo magnético. Exemplos: metais de transição, Fe, Co, 26 Ni; terras raras, Gd, Tb, Dy, Ho, Er e Tm; ligas de elementos ferromagnéticos e algumas ligas de Mn, ex. MnBi (CULLITY, 1972; OTHMER, 1983; JILES, 1991). Antiferromagnéticos - são aqueles que têm momentos de dipolos magnéticos alinhados em sentido antiparalelo, levando a uma magnetização nula. Quando expostos a um campo magnético externo, os momentos se orientam na direção do campo apresentando valores reduzidos e positivos de susceptibilidade magnética. Porém, acima da temperatura de Néel (TN), o alinhamento antiparalelo desaparece e o material passa a exibir um comportamento paramagnético. Exemplos: compostos de metais de transição, ex. MnO, FeO, CoO, NiO, MnS, CuCl2 (CULLITY, 1972; OTHMER, 1983; JILES, 1991). Entretanto, alguns materiais antiferromagnéticos se comportam de forma diferente, apresentando uma pequena magnetização resultante. Estes materiais deixam de ser totalmente antiferromagnéticos e passam a exibir um ferromagnetismo fraco. Tal fenômeno é explicado em função da interação de troca Dzialoshinskii-Moriya, na qual ocorre a formação de um pequeno campo molecular devido a uma inclinação dos spins (spin canting) que compõe a rede cristalina do material, resultando numa magnetização não nula. Alguns óxidos perovskitas e a hematita (α-Fe2O3) são exemplos de materiais que se comportam como ferromagnetos fracos. Ferrimagnéticos são aqueles que apresentam um alinhamento semelhante aos antiferromagnéticos, porém com momentos de dipolos magnéticos de magnitude diferentes, fazendo com que estes materiais tenham uma pequena magnetização espontânea. Estes materiais apresentam valores altos e positivos de susceptibilidade magnética. O Fe3O4 e as ferritas são alguns exemplos destes materiais (CULLITY, 1972; MALCOLM, 1977; JILES, 1991). Na Figura 8 são ilustrados os tipos de magnetismo encontrado nos materiais com suas orientações de dipolo magnéticos. 27 Figura 2 - Tipos de magnetismo encontrado nos materiais. Fonte: CALLISTER (2002) Nas ferritas as sub-redes do sitio A e as sub-redes do sítio B interagem de forma ferromagnética, mas a interação entre as sub-redes dos dois sítios é antiferromagnética. A diferença entre o número de cátions magnéticos existentes nos sítios A e B faz com que a interação resultante seja ferrimagnética (CARVALHO, 2012). Como as propriedades magnéticas dos materiais ferrimagnéticos com estrutura espinélio dependem das interações entre os sítios A (tetraédricos) e sítios B (octaédricos), a distribuição desses íons nestes sítios é de extrema importância. Em algumas ferritas há uma considerável variação na preferência do sítio por íons particulares, que também é muito dependente da temperatura de preparação, da taxa de resfriamento e posterior tratamento térmico (SANTOS, 2002). 3.4 Teoria de Néel para o ferrimagnetismo O fenômeno do ferrimagnetismo pode ser estudado de modo geral a partir do argumento sugerido por Kittel (1986), o qual contém características essenciais da teoria detalhada de Néel. Assumindo que podemos aplicar a teoria do campo interno médio de Weiss para materiais ferrimagnéticos, então, desde que haja duas sub redes magnéticas, 28 teremos dois campos de Weiss, os quais são proporcionais às magnetizações das sub-redes. Assumimos também que as magnetizações da sub-rede MA e MB são devidas a momentos magnéticos de íons em sítios A e B respectivamente. Os campos e consequentemente as magnetizações são devidos a interações de troca entre íons A–A, íons B–B e íons A–B. Desse modo, os campos que atuam nos sítios A e B são: BA M A M B (8) BB M B M A (9) Os campos e as magnetizações são vetores e , e são constantes positivas incorporadas à constante magnética 0 . Na presença destes campos, a energia interna magnética total Er é dada pela soma das interações das magnetizações individuais da sub-rede com a ação de seu campo médio, isto é, a soma do produto escalar: 1 1 Er M A .BA M B .BB 2 2 (10) Teremos então 1 1 M A .(M A M B ) M B .( M B M A ) 2 2 1 2 1 1 2 1 M A M A .M B M B M A .M B 2 2 2 2 (11) (12) Onde, 2 2 M A = M A2 e M B = M B2 Então, 1 1 Er M A2 M B2 M A .M B 2 2 (13) Nesta última expressão se expandirmos o produto escalar teremos: M A .M B M A M B cos (14) Onde é o ângulo entre os vetores de magnetização MA e MB. A estrutura cristalina mais estável é conseguida pela minimização da energia total. Se = 900, o termo anterior é zero, de forma que uma redução na energia é alcançada neste caso. No entanto, a maior redução ocorre quando a expressão é negativa, e a grande possibilidade de se ter esse valor negativo é quando = 1800, dado 29 que cos 180º = -1. Isto corresponde a um alinhamento antiferrimagnético nas magnetizações das subredes MA e MB. A energia total do cristal é então, 1 1 Er M A2 M B2 M A .M B 2 2 (15) O alinhamento antiferrimagnético das duas sub-redes de magnetização pode ser alcançado somente se cada sub-rede é ferromagneticamente alinhada. Este resultado mostra que há um alinhamento antiferromagnético entre as sub-redes. Se os momentos magnéticos são iguais, teremos espécies antiferromagnéticas, porém se os momentos são diferentes, teremos espécies ferrimagnéticas. À temperatura de 0 K, a magnetização de saturação é a diferença entre a magnetização nas sub-redes, no entanto, a uma temperatura diferente de 0 K a energia térmica provoca a agitação dos spins e uma consequente diminuição da magnetização em relação à 0 K. 3.5 Temperatura de Curie Pierre de Curie (1859-1906) descobriu que a magnetização espontânea desaparece a partir de uma temperatura crítica. Esta temperatura critica em que um material ferromagnético ou ferrimagnético perde a sua magnetização ficou conhecida como temperatura de Curie, Tc (CULLITY e GRAHAM, 2009). A temperatura influencia as características magnéticas dos materiais, um aumento na temperatura de um sólido resulta em um aumento na magnitude das vibrações térmicas dos átomos, o maior movimento térmico dos átomos torna aleatórias as direções de quaisquer momentos que possam estar alinhados. Isso resulta em uma diminuição na magnetização de saturação tanto para os materiais ferromagnéticos quanto para os materiais ferrimagnéticos. A saturação magnética máxima ocorre na temperatura de 0 K, onde as vibrações térmicas são mínimas. Com o aumento da temperatura, a magnetização de saturação diminui gradualmente, até ser nula em Tc. A partir desta temperatura o material tem um comportamento paramagnético. Uma boa aproximação para a se obter a temperatura de Curie de materiais ferrimagnéticos é dada pela equação de Curie-Weiss: 30 C T (C 0 ) (16) Onde é a suscetibilidade do material, C é a constante de Curie do material, T temperatura e 0 é uma constante de que depende das interações entre os sitos cristalinos. Podemos estimar o valor teórico para a temperatura de Curie fazendo 1 0 , assim como determinar experimentalmente o valor da temperatura de Curie, fazendo o gráfico do inverso da susceptibilidade com a temperatura, Figura 3 (CULLITY e GRAHAM, 2009). Figura 3 - Curva teórica do inverso da susceptibilidade com a temperatura de uma ferrita de magnésio. Fonte: CULLITY e GRAHAM (2009) 3.6 Anisotropia magnética Como a magnetização tem origem na estrutura eletrônica dos materiais, existem interações com a estrutura cristalina. A energia que está associada à direção no processo de magnetização recebe o nome de anisotropia. O somatório destas energias pode ser definido como energia de anisotropia total (K) (SMIT e WIJN, 1959). 31 Existem três tipos principais de anisotropia magnética: anisotropia magnetocristalina, anisotropia magnetoestrictiva (ou magnetoelástica) e anisotropia magnetostática (ou de forma) (CARVALHO, 2012). Porém somente a anisotropia cristalina é intrínseca do material sendo as outras induzidas ou extrínsecas (GUIMARÃES, 2000). Neste trabalho será considerada apenas a anisotropia magnetocristalina. A anisotropia magnetocristalina ocorre quando existem eixos preferenciais de magnetização, o que é causado pela interação spin-órbita. Quando uma amostra é submetida a um campo magnético externo, o spin e a órbita do elétron tentam se alinhar com o campo aplicado; porém, como a órbita está fortemente ligada à rede cristalina do material, faz-se necessário certa quantidade de energia para que haja uma reorientação do spin (CARVALHO, 2012). Como dito anteriormente, a energia necessária para orientar o spin em uma certa direção é chamada de energia de anisotropia, sendo dada para sistemas cúbicos pela EQ. (1), que é uma expansão em série dos eixos principais de magnetização em relação ao sistema de coordenadas cartesianas (CARVALHO, 2012). EC K0 K1 (12 22 2232 3212 ) K 212 2232 ... (17) onde K0, K1, K2 são as chamadas constantes de anisotropia cúbica e α1 = sen φ.cos θ, α2 = sen φ.sen θ, α3 = cos θ. Num material magnético há várias direções de magnetização, algumas preferenciais e outras não. Quanto menor for a anisotropia, mais fáceis serão a magnetização e a desmagnetização, pois não haverá direção preferencial. Uma alta energia de anisotropia indica que há uma direção preferencial e que a magnetização será mais fácil nesta direção. Os valores de anisotropia são muito importantes, pois afetam diretamente a magnetização, permeabilidade, perdas magnéticas, temperatura de Curie, entre outros (PAULO, 2006). A Tabela 1 mostra os valores das constantes K1 e K2 para diferentes materiais ferrimagnéticos, entre eles a ferrita de níquel. Pode-se perceber que o valor da constante de anisotropia magnetocristalina K1 é maior nas estruturas hexagonais do que nas estruturas cúbicas (CULLITY e GRAHAM, 2009). 32 Tabela 1 - Valores das constantes de anisotropia magnetocristalina Estrutura Cúbica K1 K2 Substância (105 erg/cm3) (105 erg/cm3) Fe 4,8 Ni -0,5 Fe3O4 -1,1 MnFe2O4 -0,3 ±0,5 NiFe2O4 -0,62 -0,2 MgFe2O4 -0,25 CoFe2O4 20 Co 45 BaO.6Fe2O3 33 YCo5 550 MnBi 89 15 Hexagonal 27 Fonte: CULLITY e GRAHAM (2009) 3.7 Domínios magnéticos Materiais ferromagnéticos ou ferrimagnéticos, que se encontram a uma temperatura abaixo da temperatura de Curie (Tc), são compostos por regiões de pequeno volume onde existe um alinhamento mútuo de todos os momentos magnéticos na mesma direção. Tais regiões são denominadas de domínios e cada domínio está magnetizado até a sua magnetização de saturação. Estes domínios são separados dos domínios adjacentes por uma parede denominada de Bloch (CALLISTER, 2002), Figura 4. 33 Figura 4 - Esquema de uma parede de domínios (A) e (B) ordenação dos momentos em uma parede de domínios adjacentes. Fonte: JILES (1991) Normalmente, os domínios possuem dimensões microscópicas, podendo cada grão de uma amostra policristalina consistir em mais de um domínio. Assim, em um material com dimensões macroscópicas, existirá um grande número de domínios, onde todos poderão ter diferentes orientações de magnetização. As orientações dos domínios variam em função do campo H aplicado, enquanto que seu tamanho é determinado por diversos fatores incluindo as propriedades intrínsecas do material e a sua microestrutura (CULLITY, 1972; CALLISTER, 2002). A avaliação das estruturas de domínios permite entender os mecanismos de magnetização e de histerese em materiais ferromagnéticos. Estruturas de domínios esquemáticas estão representadas em vários pontos ao longo da curva M versus H da Figura 9. À medida que um campo H é aplicado, os domínios que estão orientados favoravelmente (ou que estejam praticamente alinhados) na direção do campo, crescem à custa daqueles que estão orientados de maneira desfavorável. Esse processo continua com o aumento da força do campo, até que a amostra macroscópica se torne um único domínio, com todos os seus spins alinhados com o campo. Nesse ponto, têm-se a magnetização de saturação, Ms. Deste modo, o processo de magnetização de uma amostra consiste em convertê-la de um estado de multidomínios ferromagnéticos, pela aplicação de um campo magnético externo, para um estado no qual há um único domínio na mesma direção do campo aplicado (CALLISTER, 2002). 34 Figura 5 - domínios durante os vários estágios de magnetização até a magnetização de saturação. Fonte: CALLISTER (2002) 3.8 Curva de magnetização A curva de magnetização, também conhecida como curva ou ciclo de histerese é de extrema importância para caracterização magnética de um material, pois através dela é possível obter informações a respeito de suas propriedades magnéticas. Para se obter a curva de magnetização, o material é inicialmente exposto a um campo magnético onde à medida que o campo aumenta, a magnetização cresce até atingir um patamar constante, em que todos os momentos magnéticos estão apontando na mesma direção do campo aplicado. Neste ponto, têm-se a magnetização de saturação (MS). Reduzindo o campo magnético a partir do valor de magnetização de saturação, a magnetização decresce lentamente. Porém, a curva de desmagnetização não acompanha a curva de magnetização inicial, e o material ainda permanece magnetizado, ou seja, os momentos magnéticos não perdem totalmente seu alinhamento. Para o campo magnético nulo H = 0, obtêm-se o valor residual de magnetização chamado magnetização remanente (MR). Aplicando-se o campo no sentido inverso, a magnetização é reduzida a zero sendo o campo necessário para atingir esse 35 valor denominado de campo coercivo (Hc). Por fim, continuando a variar o módulo do campo, o material alcança novamente o valor de saturação. O ciclo é repetido no sentido inverso até se obter a curva fechada chamada de histerese (RIBEIRO, 2000). As curvas de histerese magnética podem ter características diferentes dependendo do tamanho da partícula magnética analisada. Além disso, a forma e o tamanho da curva de histerese de um material variam de acordo com a composição e as condições de preparação do material, sendo caracterizada pela remanência MR, pelo campo coercitivo, Hc e pela magnetização de saturação Ms. Tais parâmetros permitem avaliar a adequação do material ferromagnético para uma determinada aplicação. Na Figura 6 mostra uma curva de histerese de um material ferromagnético. Figura 6 - Curva de histerese magnética típica de um material ferromagnético. Fonte: FERRI (2007) A coercividade é uma importante propriedade que varia em função do tamanho das partículas magnéticas. Esta dependência é mostrada de forma esquemática na Figura 11. Quando a partícula tem o seu tamanho reduzido, a coercividade aumenta até atingir um valor máximo e, então tende a zero. Três regiões podem ser identificadas no gráfico da Figura 7: (1) Para diâmetros muito pequenos, o momento magnético não é estável e, portanto, Hc = 0 (abaixo de diâmetro crítico (Dc) ≈ 3 nm); (2) para diâmetros intermediários (3 nm < Dc< 10 nm), o momento é estável, e a 36 coercividade cresce com Dc; e por fim, (3) para diâmetros maiores (acima de vários μm), o regime é de multidomínio e a coercividade cai com o aumento de Dc (CULLITY e GRAHAN, 2009). Figura 7 - Variação da coercividade com o tamanho da partícula. Fonte: CULLITY e GRAHAN (2009). 3.9 Materiais Magnéticos Duros e Moles A partir da análise da curva de histerese (Fig. 8), pode-se classificar o material quanto a sua dureza magnética, isto é, se o material é magnético duro ou mole, segundo a sua capacidade de polarização e despolarização quando submetido a um campo. Os materiais magnéticos duros são aqueles que apresentam largas curvas de histerese, com altos valores de magnetização remanente e coercividade. Estes materiais encontram ampla aplicação em dispositivos de memória magnética como disquetes, HD de computadores e tarja de cartões bancários. Já os materiais magnéticos moles apresentam ciclo de histerese estreito e baixos valores de magnetização remanente e coercividade, o que é caracterizado por uma fácil polarização e despolarização, sendo usados em dispositivos que necessitam trabalhar com altas frequências como aparelhos de comunicação, radares, chip de computadores, etc. (GOMES FILHO, 2009). 37 Figura 8 - Curvas de histerese de um material magnético (a) mole e (b) duro. Fonte: MYERS (1997) 3.10 Magnetismo no Ferro, Níquel e Cobalto Em elementos denominados ferromagnéticos, como o ferro, níquel e cobalto, o movimento dos elétrons no orbital não contribui, de forma substancial, para o magnetismo observado. Desta forma, os átomos destas substâncias agem como um conjunto de minúsculos magnetos (BASSALO, 1994). Uma percepção importante no magnetismo é considerar um átomo como sendo um anel de arame infinitesimal, que transporta corrente. Movimento esse que gera um campo magnético, denominado de dipolo magnético. Por definição, dipolos magnéticos consistem de dois polos magnéticos antagônicos e conjugados, que geram perturbações magnéticas acentuadas a seu redor, em incessante transmissão entre os referidos dipolos caracterizando o momento magnético (BASSALO, 1994; MUSAL e BUSH 1998). Esta concepção possibilita a visualização do comportamento magnético dos átomos de uma maneira simplificada. O momento magnético gerado pelo núcleo do átomo, por ser de uma ordem de grandeza de 10-3 do momento magnético do elétron, é desprezado e, portanto, o momento magnético de um átomo corresponde à soma dos momentos magnéticos de cada um dos 38 elétrons, incluindo as contribuições tanto ao nível de orbital quanto de spin, considerando-se o cancelamento dos momentos. Uma boa aproximação para descrever o momento magnético de um sólido pode ser feita em termos de sua estrutura eletrônica (OTHMER, 1983; MUSAL e BUSH 1998). A interação dos momentos magnéticos induzidos com um campo magnético externo aplicado resulta nas propriedades magnéticas macroscópicas dos materiais (MUSAL e BUSH 1998). Quando um átomo ou um íon apresenta vários elétrons fora da última camada completa, seu comportamento magnético é determinado pelas propriedades desses elétrons. Isto se explica pelo fato de que numa camada cheia, os elétrons ocupam orbitais com todos os valores de ml (número quântico magnético) possíveis, positivos e negativos, bem como todos os valores de ms (número quântico de spin) possíveis. Desta forma, o momento angular total da camada fechada é nulo, acarretando, portanto, num momento magnético nulo. A maneira pela quais os elétrons externos ocupam os orbitais para formar o estado fundamental é determinada pelas condições de mínima energia. Tais condições são determinadas pelas regras de Hund, enunciadas da seguinte maneira (SILVA et al., 2006). Os elétrons ocupam os estados de modo a maximizar a componente z do spin total, , sem violar o principio de Pauli. Os elétrons ocupam orbitais que resultam no máximo valor de consistente com a regra 1 e com o princípio de Pauli. O valor do número quântico de magnitude do momentum angular total é quando a camada tem menos da metade do número de elétrons que ela comporta, e quando tem mais da metade do número de elétrons. Para calcular o momento magnético de átomos ou íons isolados, é necessário aplicar a regra de Hund para determinar a configuração do estado fundamental. No entanto, deve-se em primeiro lugar verificar na distribuição eletrônica destes, a quantidade de elétrons desemparelhados. Como exemplo analise as distribuições do Fe3+ e Ni2+, respectivamente: Fe3+ → (1s2 2s2 2p6 3s2 3p6) 3d5 39 Os orbitais entre parênteses possuem resultante magnética nula, uma vez que, os elétrons contidos nestes orbitais estão todos emparelhados. Portanto, o momento magnético será originado pelo orbital 3d5. Logo, os elétrons neste orbital serão distribuídos da seguinte forma. 3d5 → ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ De acordo com esta distribuição observamos cinco elétrons desemparelhados, cuja magnetização de saturação intrínseca desse íon será de 5μB, onde μB é a unidade magnética de Bohr denominada de magnéton de Bohr (μB). Por analogia, vejamos a distribuição do Ni2+: Ni2+ → (1s2 2s2 2p6 3s2 3p6) 3d8 3d8 → ↑↓ ↑↓ ↑↓ ↑ ↑ A partir da distribuição observa-se que apenas dois elétrons estão desemparelhados. Logo a resultante magnética será 2µB. A Tabela 2 abaixo apresenta a distribuição eletrônica de alguns íons importantes, bem como seu respectivo momento magnético. 40 Tabela 2 - Distribuição eletrônica e respectivo momento magnético teórico de íons. Íon Configuração Distribuição Eletrônica Momento Somatório Mag. Teórico dos Spins (μB) (Σms) Fe3+ (1s22s22p63s23p6)3d54s2 |↑|↑|↑|↑|↑| 5μB 5/2 Ni2+ (1s22s22p63s23p6)3d84s2 | ↑↓ | ↑↓ | ↑↓ | ↑ | ↑| 2μB 1 Co2+ (1s22s22p63s23p6)3d74s2 | ↑↓ | ↑↓ | ↑ | ↑ | ↑ | 3μB 3/2 Na estrutura cristalina do espinélio, os íons magnéticos localizados em sítios octaédricos se orientam na direção oposta aos íons situados em sítios tetraédricos. Da mesma forma que os momentos magnéticos dos elétrons emparelhados nos orbitais atômicos são cancelados, os momentos magnéticos de íons que ocupam sítios tetraédricos também sofrem uma influência inversa dos íons magnéticos situados em sítios octaédricos. Desta forma, para conhecer o momento magnético resultante de uma célula unitária do espinélio, deve-se verificar a diferença entre o somatório dos momentos magnéticos de íons que ocupam sítios octaédricos e o somatório dos momentos magnéticos de íons que se situam em sítios tetraédricos. 3.11 Ferritas As Ferritas são cerâmicas ferrimagnéticas e estão entre os óxidos com estrutura espinélio. Tais materiais demonstram uma ampla aplicabilidade industrial devido as suas características óticas, magnéticas, elétricas, sua estabilidade termodinâmica, condutividade elétrica, atividade eletrocatalítica e resistência à corrosão (COSTA, 2010; GUL, 2010). Genericamente, podem ser consideradas como produtos da reação entre hematita (Fe2O3) e outros óxidos metálicos. São representadas pela fórmula química M2+Fe23+O4 ou MO. Fe2O3, onde M é um metal de transição, geralmente do grupo do ferro (Mn2+, Fe2+, Co2+, Ni2+, Ba2+, Sr2+, Cu2+ e Zn2+) (KARPOVA et al., 2012). 41 As ferritas que pertencem ao grupo espinélio possuem a estrutura do mineral espinélio natural MgAl2O4. Muitas destas ferritas comercialmente importantes são sintéticas, mas um dos mais importantes espinélios e, provavelmente, o mais antigo material magnético com aplicações práticas, a magnetita (Fe3O4), é um óxido natural. Este material na realidade tem composição FeO.Fe2O3, onde o Fe2+ ocupa o lugar do Mg2+ e Fe3+ ocupa a posição do Al3+ na estrutura cristalina do espinélio. A grande abundância deste óxido aponta para uma grande estabilidade da estrutura espinélio (VALENZUELA, 1994). As ferritas têm sido detalhadamente estudadas nas últimas décadas por apresentarem propriedades elétricas e magnéticas, possuindo por este motivo um vasto campo de aplicação em materiais elétricos e eletrônicos como núcleos de transformadores, cabeçotes de gravação de fitas magnéticas, isoladores, circuladores e transmissão de micro-ondas, isolantes, sensores, entre outros. Há também estudos de aplicação deste tipo de material como transdutores magnetoelásticos para a medição de forças de tensão e compressão. As funções elétricas e magnéticas das ferritas variam de acordo com as propriedades químicas, tamanhos de partículas e claro, da forma como os compostos são preparados (BRITO, 2006; KUMBHAR et al., 2012; KARPOVA et al., 2012 ). 3.12 Estrutura AB2O4 De modo geral, espinélios ferríticos adotam uma simetria cúbica de corpo centrada gerada pelo agrupamento de oito unidades AB2O4 em que o cátion A representa um cátion metálico divalente locado no centro de um tetraedro e B representa um cátion metálico trivalente locado no centro de um octaedro, no qual os vértices são ocupados por íons O2-. A célula unitária da estrutura espinélio é constituída por 96 interstícios entre os ânions em uma célula unitária cúbica de face centrada, caracterizada pelo grupo espacial Fd3m, sendo 64 interstícios tetraédricos e 32 interstícios octaédricos. Entretanto, somente 24 desses interstícios são ocupados por cátions na estrutura do espinélio, sendo que 8 ocupam interstícios tetraédricos e 16 sítios octaédricos. Dessa forma permanecem 56 sítios tetraédricos e 16 octaédricos vazios no espaço intersticial da estrutura que, conceitualmente, poderia conter um cátion (SREEKUMAR, JYOTHI et al., 2000; PULIŠOVÁ, et al., 2013). 42 Figura 9 - Representação da célula unitária do espinélio. Os círculos vermelhos representam o oxigênio, os sítios tetraédricos aparecem em amarelo e os sítios octaédricos aparecem em azul. Fonte: http://som.web.cmu.edu/structures/S060-MgAl2O4.html Figura 10 - Sítios na estrutura do espinélio (a) cátion ocupante da posição A cercados por 4 íons O2- e (b) cátion na posição B rodeado por 6 íons O2-. Fonte: CULLITY (1972). Dependendo da posição desses cátions, tais cerâmicas podem ordenar-se segundo arranjos ditos normais, inversos ou intermediários. Na estrutura do espinélio normal os cátions divalentes estão nos sítios tetraédricos “A” e os trivalentes estão nos sítios octaédricos “B”. Essa distribuição pode ser representada como (A)[B2]O4, com os colchetes referindo-se 43 aos sítios octaédricos e os parênteses, sítios tetraédricos. Para o espinélio inverso a distribuição dos cátions ocorre conforme um arranjo inverso, (B)[AB]O4, onde os cátions divalentes e metade dos cátions trivalentes estão nos sítios octaédricos e a outra metade dos cátions trivalentes estão nos sítios tetraédricos. A priori, a distribuição catiônica das ferritas segue a fórmula cristalográfica (MeδIIFe1-δIII)[MeδIIFe1-δIII]O4, onde o sub índice δ designa o parâmetro ou grau de inversão: Se δ=0 , tem-se a ferrita do tipo normal e se δ=1, do tipo inversa. Em muitos casos, o colapso dos arranjos catiônicos ocorre quando o parâmetro de inversão assume valores 0<δ<1, gerando assim estruturas intermediárias – ferritas mistas (LEONEL, 2011; MARTINS e TRINDADE, 2012). Portanto, muitas das propriedades ferrimagnéticas e/ou ferroelétricas extrínsecas desses materiais são diretamente relacionados à natureza e distribuição de seus cátions constituintes. A distribuição dos cátions na rede é muito influenciada pelo método empregado na síntese de obtenção desses materiais, além de ser altamente sensível ao tratamento térmico. Naturalmente que, em função do efeito da substituição do íon e de sua quantidade de ocupação na rede espinélio são conseguidas alterações nas suas propriedades e características (REZLESCU, SACHELARIE et al., 2000). 3.13 A Ferrita de Níquel Do ponto de vista magnético, os espinélios mais importantes são os óxidos cujos cátions possuem estado de oxidação +2, +3 como a ferrita de níquel. A ferrita de níquel é uma das mais importantes ferritas com estrutura espinélio (VALENZUELA, 1994). A ferrita de níquel é um óxido cúbico ferrimagnético que possui uma estrutura cristalina espinélio inversa (interação de intercâmbio negativa) do tipo MgAl2O4 (Aluminato de manganês) (SANTOS, 2002). O momento magnético da ferrita de níquel (NiFe2O4) de estrutura espinélio inversa, é devido exclusivamente a momentos magnéticos não compensados de oito íons de Ni2+ nos sítios octaédricos (Fig. 9)(SANTOS, 2002). 44 Figura 11 - Sítios Tetraédricos e octaédricos da ferrita de níquel. Fonte: McCURRIE (1994) A estrutura magnética do NiFe2O4 pode ser convenientemente escrita de forma que a direção dos momentos magnéticos dos íons seja observada claramente, como mostrado abaixo. A Tabela 3 mostra o momento magnético resultante por fórmula nos sítios A e B na ferrita de níquel. Tabela 3 – Ocupação do cátion nos sítios A e B da ferrita de níquel. Sítios A Sítios B A B |A+B| Expt1 (tetraédricos) (octaédricos) (µB) (µB) (µB) (µB) Fe3+ Ni2+ Fe3+ 5 2+5 2 2,3 Ferrita NiFe2O4 FONTE: McCURRIE (1994) Valores experimentais comprovam que para o NiFe2O4 ter uma estrutura espinélio inversa completa é atribuída a contribuição do momento magnético orbital que não é totalmente extinto pelo campo magnético no cristal (SANTOS, 2002). 45 Esta ferrita tem sido largamente estudada devido a propriedades como: extraordinária dureza mecânica, alta coercividade, moderada saturação de magnetização; excelente estabilidade química e excelente desempenho magnético, que estão intimamente ligadas à composição química, microestrutura e tamanho dos cristalitos, que podem ser controlados através do método de preparação (NASERI, SAION et al., 2011). 3.14 A Ferrita de Cobalto A ferrita de cobalto (CoFe2O4) é um óxido com uma estrutura cristalina do tipo espinélio parcialmente inverso de fórmula cristalográfica (Fe3+)A[Co2+Fe3+]BO42-,que apresenta moderada magnetização de saturação, excelente estabilidade química e elevada dureza, sendo um ótimo material para mídias de gravação e outras aplicações tecnológicas (XIAO, LUOB et al., 2010). Nesse material, a direção 〈100〉é a direção de fácil magnetização, o que também é observado em ferritas mistas que contêm uma alta porcentagem de cobalto (CULLITY e GRAHAM, 2009). Uma característica marcante da ferrita de cobalto é que o material possui uma constante de anisotropia magnetocristalina de valor relativamente grande e positivo (MATHEW e JUANG, 2007); devido a essa propriedade, o cobalto é comumente usado como aditivo em outras ferritas para compensar a anisotropia pequena e negativa das mesmas quando puras (GOLDMAN, 2006). Outra propriedade significativa da ferrita de cobalto é que o material é magneticamente duro, ou seja, apresenta grande resistência à magnetização e desmagnetização, enquanto todas as outras ferritas são magneticamente macias (CULLITY e GRAHAM, 2009). Isso significa que a ferrita de cobalto possui alta coercividade e elevada remanência, bem como baixa permeabilidade inicial e grandes perdas de energia por histerese. As propriedades das nanopartículas de CoFe2O4 são mais complicadas que no material comum e variam com o tamanho das partículas. Assim, por exemplo, a magnetização de saturação é menor e diminui com a diminuição do tamanho das partículas devido à desordem dos spins situados na superfície. O campo coercitivo atinge um valor máximo quando o 46 tamanho dos cristalitos está próximo do tamanho crítico para a formação de um monodomínio (ZHANG, YANG et al., 2010). Além disso, as nanopartículas de ferrita de cobalto podem apresentar um grau de inversão diferente do observado no material comum e que depende de vários fatores (CHAE, KIM et al., 2002). 3.15 Campo Cristalino Os metais de transição 3d, quando livres, possuem cinco orbitais degenerados em energia, que são dxz, dyz, dxy, dx2-y2 e dz2, cada um com formas e orientações diferentes. Na mesma condição, o oxigênio 2p possui três diferentes orbitais px, py e pz, também degenerados em energia. No entanto, a degenerescência dos orbitais d é quebrada quando os metais de transição estão situados no centro de um octaedro de O2- (2p6). De acordo com a Figura 12, pode-se observar que os orbitais dx2-y2 e dz2 seguem ao longo dos eixos x, y e z, enquanto que os orbitais dxz, dyz e dxy seguem ao longo dos planos xz, yz e xy, respectivamente. Devido à repulsão coulombiana, os orbitais dx2-y2 e dz2 por apontarem diretamente para os íons de oxigênio são mais energéticos, em comparação aos orbitais dxz, dyz e dxy. Por consequência, os elétrons dos orbitais dx2-y2 e dz2 vão ter um caráter itinerante, enquanto que os dxz, dyz e dxy serão localizados. O caráter localizado ou itinerante dos elétrons do metal de transição é determinado pela geometria da ligação B-O-B (ARAUJO, 2005). 47 Figura 12 - Representação geométrica dos orbitais s, p e d. Fonte: CALVACANTE (2009) Este desfavorecimento energético é melhor visualizado na Figura 13, onde se observa a projeção dos orbitais dxy e dx2-y2 no plano xy, bem como os orbitais p dos íons oxigênio. Isso faz com que os orbitais d do metal de transição se divida em dois grupos: os orbitais triplamente degenerados conhecidos como t2g (dxz, dyz, dxy), de mais baixa energia e, os orbitais eg (dx2-y2, dz2) duplamente degenerados, e de maior energia (Fig. 14). No entanto, a degenerescência dos cinco orbitais d é levantada pela presença de um octaedro de oxigênio, o que resulta em dois subgrupos de orbitais novamente degenerados: um com energia de 2∆/5 a menos que no caso do íon livre, contendo os orbitais d xz, dyz e dxy; 48 e o outro com energia 3∆/5 a mais que no caso do íon livre contendo os orbitais dx2-y2 e dz2. Esta diferença energética (∆) entre os subgrupos de orbitais denomina-se desdobramento do campo cristalino (ORGEL, 1970). Tomando-se como exemplo o íon Fe3+, na presença de campo fraco, os cinco elétrons 3d serão distribuídos de forma que os três primeiros elétrons irão preencher os orbitais t2g com spins paralelos e os outros dois irão preencher os orbitais eg, também paralelamente, de acordo com a regra de Hund. Assim, teremos cinco elétrons desemparelhados e S = 5/2. Esse efeito é conhecido como configuração de alto-spin. Para a situação de campo forte, os cinco elétrons estarão ocupando os níveis do orbital t2g, e os níveis do orbital eg estarão desocupados. Nesse caso, há apenas um elétron desemparelhado e S = 1/2. Esta configuração é dita como de baixo-spin. Figura 13 - Projeção dos orbitais (a) dxy e (b) dx2-y2, bem como os orbitais p dos íons oxigênio, no plano xy. Fonte: CALVACANTE (2009) 49 Figura 14 - Efeito do campo cristalino em um octaedro. Fonte: CALVACANTE (2009) 3.16 Efeito Janh-Teller Em um octaedro perfeito, os íons de oxigênio estão fixos e esta configuração remove a degenerescência dos orbitais d do íon de transição livre, conduzindo ao desdobramento dos orbitais em dois subníveis t2g e eg. Conforme discutido, os orbitais eg sofrem um aumento de energia devido à vizinhança em forma de octaedro, de forma que os íons ligados procuram diminuir a energia total do sistema, alterando suas posições iniciais e provocando distorções no octaedro (JUNIOR, 2003; PEREZ, 2000). Esse processo que remove a degenerescência dos orbitais eg é conhecido como efeito Jahn-Teller. Um caso particular de distorção Jahn-Teller ocorre quando o octaedro se alonga em uma determinada direção, fazendo com que os octaedros vizinhos sejam comprimidos nesta mesma direção, e assim por diante. Este fenômeno é conhecido como efeito Jahn-Teller cooperativo. 50 Estas distorções implicam em severas consequências às propriedades magnéticas, elétricas e estruturais dos óxidos espinélios. Certas deformações podem alterar o ângulo θ da ligação B-O-B, diminuindo, consequentemente a mobilidade eletrônica entre os íons de transição. Na Figura 15 é ilustrado um resumo dos conceitos discutidos neste parágrafo. Figura 15 - Diagrama de energia dos orbitais d de um metal de transição (a) livre (b) em um octaedro perfeito e (c) com deformação Jahn-Teller. Fonte: CALVACANTE (2009) 3.17 Obtenção das Ferritas de Ni-Co 3.17.1 Reação de Combustão O método da reação de combustão, também conhecida como síntese auto-propagante, consiste em aquecer uma solução aquosa saturada com sais metálicos e um combustível adequado, até que a mistura se inflame seguida de uma combustão auto-sustentável e rápida. 51 Embora as reações de redução sejam de natureza explosiva se não forem controladas, a queima de nitratos metálicos e ureia geralmente não é explosiva. A reação é extremamente exotérmica e pode atingir temperaturas superiores a 1000 ºC (JAIN, ADIGA e PAI VERNEKER, 1981). A técnica é uma maneira fácil, segura e rápida para a produção de pós-cerâmicos, tendo como principais vantagens: requerer menos energia que os processos convencionais de síntese de materiais cerâmicos e tempo de processamento reduzido para poucos minutos (MARTINELLI, 2011). Podemos também destacar como grandes vantagens do método de combustão, características interessantes como a sua simplicidade (uma vez que não necessita de múltiplas etapas), custo relativamente baixo e normalmente leva a produtos com estrutura e composição desejadas, devido à elevada homogeneização favorecida pela solubilidade dos sais em água (KIMINAMI et al., 2000). A base da técnica de síntese através da reação de combustão deriva dos conceitos termodinâmicos usados na química dos propelentes e explosivos, envolvendo a reação de uma mistura redox, contendo os íons metálicos de interesse como reagentes oxidantes, e um combustível, geralmente a ureia (CO (NH2)2) como agente redutor (JAIN, ADIGA e PAI VERNEKER, 1981). Além da ureia, vários outros combustíveis têm sido usados na síntese por combustão de óxidos cerâmicos mistos e puros, tais como, glicina (C2H5NO2), triazina tetraformol (TFTA, C4H16N6O2), hidrazida maléica (C4H4N2O2) e carbohidrazida (CO(N2H3)2, etc.. Todos estes combustíveis contêm nitrogênio, mas diferem na capacidade de “redução de pó” e na quantidade de gases por eles gerados, fatores que obviamente afetam as características do produto de reação. A uréia tem a mais baixa redução do pó (valência total +6) e produz um pequeno volume de gases (4 mol/mol de ureia). As vantagens de se usar a ureia são: disponibilidade comercial, baixo custo, e o fato de gerar altas temperaturas, as quais são necessárias para a formação das fases desejadas nos produtos. Segundo alguns autores, utilizando-se teor de uréia em excesso na reação, os gases gerados são liberados mais rapidamente e com maior dissipação de energia, ou seja, menor será a quantidade de energia disponível para a sinterização e cristalização, evitando-se a formação de aglomerados duros e/ou crescimento das partículas (SEGADÃES, MORELLI e KIMINAMI, 1998; FUMO, 1997). 52 A mistura entre os oxidantes (precursores metálicos) e o combustível é um importante parâmetro para se obter os produtos desejados (SILVA, 2010). Os Nitratos metálicos são os sais mais utilizados como fonte de íons porque são hidrossolúveis, baixas temperaturas são suficientes para fundi-los, garantindo uma excelente homogeneização da solução e as moléculas de água não afetam a valência total do nitrato sendo, portanto, irrelevantes para a reação de combustão (SILVA, 2010). Os nitratos metálicos reagem com o combustível redutor, resultando na formação de um pó óxido fino, seco, e geralmente cristalino. Enquanto as reações de redução são exotérmicas por natureza e conduzem a uma explosão se não controlada, a combustão da mistura de nitratos metálicos com a ureia geralmente ocorre com uma reação exotérmica não explosiva (MARTINELLI, 2011). O mecanismo das reações de combustão pode ser resumido nos seguintes passos (MANOHARAN et al., 1992): I. Fusão dos nitratos e da ureia (também chamada carbamida) e eliminação das águas de hidratação. II. Decomposição da ureia em biureto e NH3 a 240 °C e do biureto em ácido cianúrico (HNCO) 3 a 360°C e dos nitratos formando óxidos de nitrogênio. III. Ignição dos produtos de decomposição da ureia e nitratos, formando uma chama com temperatura de 1200 ± 100 °C, garantindo energeticamente a formação do óxido a partir dos precursores gelificados, formados por cadeias poliméricas de ácido cianúrico e gel hidroxonitroso dos íons metálicos. O sucesso deste processo está intimamente ligado à escolha de um combustível ou agente complexante (ácido cítrico, ureia, glicina,...) e da reação redox em meio aquoso entre este e um agente oxidante contendo os íons de interesse (nitratos, acetatos,...). Além da escolha dos agentes oxidantes e do combustível, diversos outros parâmetros influenciam a reação, tais como, razão combustível-oxidante, uso de oxidante em excesso, quantidade de água contida na mistura precursora. Além destes, a própria forma de aquecimento da solução pode proporcionar a obtenção de pós com características diferentes. Nos últimos anos tem se destacado o uso das micro-ondas para prover um aquecimento rápido e homogêneo da mistura precursora (MARTINELLI, 2011). 53 As características dos pós, tais como, tamanho de cristalito, área superficial e natureza de aglomeração (forte ou fraca) são governadas principalmente pela entalpia e temperatura de chama gerada durante a combustão que, por sua vez, depende da natureza do combustível e da razão combustível-oxidante empregada. Por outro lado, a rápida evolução de um grande volume de gases durante a combustão dissipa o calor do processo e limita a temperatura, reduzindo a possibilidade de sinterização prematura localizada entre as partículas primarias. A evolução dos gases também ajuda limitar o contato entre as partículas, resultando em um produto mais facilmente fragmentável, o que permite a obtenção de materiais mais porosos e em geral com maior área superficial. Por outro lado, o excesso de gases pode também promover a formação de fases espúrias nos produtos obtidos, tais como, hidróxidos, oxicarbonatos e oxinitratos, quando a reação não é completa (MARTINELLI, 2011). 3.17.2 Método da combustão assistida por micro-ondas A autocombustão assistida por micro-ondas consiste em uma reação de combustão convencional, onde o calor necessário para a ignição é fornecido através do aquecimento gerado por moléculas polares quando submetidas à incidência de micro-ondas. As vantagens deste método de aquecimento em relação aos métodos normalmente usados na síntese por reação de combustão (placa de aquecimento e mufla) são: baixo tempo necessário para alcançar a temperatura de ignição e uniformidade da distribuição de temperatura, que neste caso é gerada dentro da própria solução precursora. Além disso, o aquecimento via microondas permite um maior controle das condições de síntese, visto que a intensidade das emissões de micro-ondas pode ser rapidamente interrompida, diminuída ou aumentada, permitindo a obtenção de materiais com características bastante especificas (MARTINELLI, 2011). Dois importantes aspectos da reação de combustão assistida por micro-ondas são as características de aquecimento instantâneo e volumétrico. Desta forma, toda a mistura pode reagir uniformemente durante o aquecimento via micro-ondas (MARTINELLI, 2011). O aquecimento por micro-ondas também apresenta outras vantagens. Como o calor é gerado dentro do próprio material, ou seja, do centro para a superfície podem ser criados 54 gradientes de temperatura inversos. Isto pode levar a obtenção de diferentes microestruturas (MARTINELLI, 2011). 3.18 Métodos de Caracterizações das Ferritas 3.18.1 Espectroscopia na Região do Infravermelho (FTIR) A espectroscopia na região do infravermelho baseia-se no fato de que as ligações químicas das substâncias possuem frequências de vibrações especificas, as quais correspondem a níveis de energia da molécula (chamados nesse caso de níveis vibracionais). Tais frequências dependem da forma da superfície de energia potencial da molécula, da geometria molecular, das massas dos átomos e, eventualmente, do acoplamento vibracional. A espectroscopia na região do infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) é uma técnica de análise que coleta os dados variando-se a frequência da radiação infravermelha monocromática. A radiação IV (com todos os comprimentos de onda da fixa usada) é guiada através de um interferômetro. Realizando-se uma transformada de Fourier no sinal resulta-se em um espectro idêntico ao da espectroscopia IV convencional (dispersiva). (ACCHAR, 2006; SKOOG e LEARY, 1992). 3.18.2 Difração de raios X (DRX) A difração de raios X é um método de grande importância na análise estrutural de amostras, pois permite obter informações sobre o tipo da estrutura e os parâmetros de rede. Visto que os comprimentos de onda dos raios X são análogos às distâncias que separam os átomos em suas redes cristalinas, a técnica é utilizada para a identificação das fases e caracterização do produto obtido mediante determinação das distâncias Inter planares e intensidades relativas e comparação dos resultados com fichas JCPDS. 55 Método Rietveld O método de Rietveld consiste na construção de um padrão de difração calculado, de acordo com o modelo estrutural. O padrão calculado é obtido pela introdução direta dos dados cristalográficos, como: Simetria do grupo espacial, posições atômicas, posições de ocupação e parâmetros de rede. O método tem como principio realizar um ajuste do padrão de difração, refinando os fatores instrumentais e os parâmetros estruturais característicos da amostra a ser analisada (parâmetro de rede, posições atômicas, anisotropia, parâmetros de alargamento relacionados com tensões da rede e tamanho de cristalitos). É fundamental ter o cuidado de verificar se o padrão de difração calculado está suficientemente próximo do observado. A aproximação entre os padrões calculados e observados é feita pelo método dos mínimos quadrados. Este método apresenta algumas vantagens como rapidez de resolução e determinação dos erros estatísticos em cada ciclo do refinamento. A quantidade minimizada utilizada no refinamento é o resíduo (R). A diferença entre o difratograma experimental e um difratograma baseado num modelo estrutural de partida resulta em uma função que expressa o resíduo (R), de acordo com a equação abaixo: R = Σ wi (yio – yic)2 onde : wi= 1/yi yio= intensidade observada no i-ésimo passo do difratograma; yic= intensidade calculada no i-ésimo passo do difratograma; 3.18.3 Área Superficial Específica (BET) A área superficial específica é uma das medidas fundamentais em relação às propriedades das superfícies. Em partículas sólidas essa área tem sido usualmente obtida através do método desenvolvido por Brunauer, Emmett e Teller e conhecido pelo nome de 56 BET. Este procedimento utiliza dados referentes à adsorção de um gás, usualmente nitrogênio, e equações provenientes do processo de adsorção identificado pelo procedimento BET que fornece como resultado a área superficial específica. 3.18.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) O microscópio eletrônico de varredura é um equipamento versátil que permite a obtenção de informações morfológicas e químicas de diversas amostras. O seu funcionamento consiste em incidir um feixe fino de elétrons de alta energia na superfície da amostra onde, ocorrendo urna interação, parte do feixe é refletido e coletado por um detector que converte este sinal em imagem de BSE, ou seja, imagem de elétrons retroespalhados (LEBOURGEOIS et al., 2003) ou nesta interação a amostra emite elétrons produzindo imagem de ES (elétrons secundários). Ocorre também a emissão de fluorescência de raios X que fornece a composição química elementar de um ponto ou região da superfície, possibilitando a identificação de praticamente qualquer elemento presente. 3.18.5 Magnetômetro de Amostra Vibrante (MAV) A técnica de Magnetometria possibilita caracterizar amostras de material magnético através da aplicação de um campo magnético externo, utilizando um sistema de bobinas. O comportamento dos materiais magnéticos num campo externo é determinado pela origem de seus dipolos magnéticos e pela natureza da interação entre eles. Quando o material é ferrimagnético, os momentos vizinhos são diferentes e a magnetização resultante é diferente de zero (REZENDE,1996). Quando um material magnético virgem (desmagnetizado) é submetido a um campo magnético externo, temos a formação da curva de magnetização (ou curva de histerese), que define com clareza o tipo de aplicação para qual o material pode ser utilizado (REZENDE,1996). 57 METODOLOGIA 58 4 Metodologia 4.1 Reagentes Utilizados Os reagentes utilizados na preparação dos catalisadores, com estrutura tipo espinélio, obtidos via reação de combustão assistida por micro-ondas são apresentados na Tabela 4. Tabela 4 - Reagentes utilizados na preparação dos sistemas. Reagentes Fórmula Nitrato de Níquel hexahidratado Ni(NO3)2.6H2O Vetec 97% Nitrato de Cobalto hexahidratado Co(NO3)2. 6H2O Vetec 97% Nitrato de Ferro III nonahidratado Fe(NO3)3. 9H2O Vetec 98% Vetec P.Aa Ureia a CH4N2O Marca Teor (%) – P.A: Para análise Os reagentes utilizados neste trabalho são padrões analíticos (P.A.) e não foram submetidos a nenhum tratamento prévio. Os materiais listados na Tabela 4 foram utilizados para se obter os óxidos com estrutura espinélio do tipo Ni1-xCoxFe2O4, onde x=0; x=0,25; x=0,50 e x=0,75 de composições: NiFe2O4, Ni0,75Co0,25Fe2O4, Ni0,5Co0,5Fe2O4 e Ni0,25Co0,75Fe2O4, que serão nomeados segundo a Tabela 5 a seguir: Tabela 5 - Nomenclatura usada neste trabalho Nomenclatura NF NFC25 NFC50 NFC75 Estrutura Ni1-xCoxFe2O4 NiFe2O4 Ni0,75Co0,25Fe2O4 Ni0,5Co0,5Fe2O4 Ni0,25Co0,75Fe2O4 Valor de x x = 0,0 x = 0,25 x = 0,50 x = 0,75 59 4.2 Preparação dos espinélios 4.2.1 Método da combustão assistida por micro-ondas Basicamente, este método compõe-se da combinação de seus reagentes em meio aquoso, tendo como precedente uma mistura redox contendo os nitratos metálicos, como agentes oxidantes, e a ureia, como combustível redutor. A mistura é levada a um forno microondas até sofrer a ignição autossustentável em uma rápida reação de combustão. Foram utilizados para os cálculos da composição inicial da solução os conceitos da química dos propelentes e explosivos, os quais se baseiam na valência total dos reagentes oxidantes e redutores, Para isso, os elementos níquel, cobalto, ferro, hidrogênio e carbono com suas respectivas valências +2, +2, +3, +1 e +4 foram considerados agentes redutores, enquanto que o oxigênio, cuja valência é -2 foi considerado como agente oxidante. Já o nitrogênio, é considerado com valência zero, pois não interage na reação e a ureia que possui valência +6. Os reagentes pré-determinados (descritos na tabela 4), em concentrações calculadas previamente, foram misturados em um Becker e submetidos a um pré-aquecimento, em seguida introduzidos em forno micro-ondas Panasonic STYLEPANAGRILL, pré-programado nas condições de síntese com potência de 7000 kWatts e 10 minutos de exposição, até a ocorrência da autoignição. O fluxograma de preparação dos sistemas é mostrado a seguir: Figura 16 – Procedimento de preparação das amostras via reação de combustão assistida por micro-ondas. Nitratos de Ni, Co e Fe Combustível (Ureia) Mistura Aquosa Micro-ondas 10 min/7000kw Pré-aquecimento Combustão (autoignição) Ni1-xCoxFe2O4 60 4.3 Caracterizações 4.3.1 Espectroscopia na Região do Infravermelho (FTIR) Os espectros de absorção na região do infravermelho foram registrados na faixa espectral de 4000 a 400 cm-1 em um espectrômetro ABB Bomem, modelo MB104, usando-se janelas de KBr para análise e os óxidos na forma de pastilhas dispersos em KBr. 4.3.2 Difração de raios X (DRX) em conjunto com refinamento Rietveld As amostras dos óxidos preparados foram analisados através da técnica de difração de raios X usando radiação CuKα, em um equipamento da Shimadzu, modelo XRD-7000. Os dados foram coletados em um intervalo de variação angular entre 10 e 800. As fases cristalinas foram identificadas usando o banco de dados do Centro Internacional para Dados de Difração (ICDD). As análises realizadas por refinamento neste trabalho puderam ser avaliadas pela observação da plotagem dos padrões calculados e observado. Neste trabalho, o refinamento foi realizado no programa Philips X'PertHighScore. O programa utilizado para o tratamento matemático por Rietveld foi o Maud versão 2.044. 4.3.3 Área Superficial Específica (BET) As áreas superficiais específicas foram calculadas através do método Brunauer Emmett - Teller (BET) para obter as isotermas de adsorção/dessorção de N2 a baixas temperaturas utilizando um equipamento da Quantachrome, modelo NOVA 2000. 61 4.3.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) com auxílio de análise por dispersão de energia (EDS) As micrografias das amostras foram obtidas em um microscópio eletrônico de varredura de alta resolução marca Shimadzu, modelo EPMA 1720H do laboratório de DRX e Microscopia do LABTAM/UFRN. As imagens foram geradas através de elétrons secundários. O equipamento de EDS é da Oxford modelo X-ACT do mesmo laboratório. Voltagem 15kV com metalização (fina camada superficial de ouro – aproximadamente 20nm). 4.3.5 Magnetômetro de Amostra Vibrante (MAV) O MAV descrito neste trabalho foi desenvolvido com autonomia para medir M x T em um intervalo de temperatura de 77 a 650 K e em campos magnéticos de até 15000 Oe. Além disso, o ciclo de histerese pode ser traçado em campos de - 15000 a 15000 Oe na mesma região de temperatura. O MAV foi montado e desenvolvido no Laboratório de Magnetismo e Materiais Magnéticos (LMMM) do Departamento de Física Teórica e Experimental (DFTE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), tendo a mesma qualidade de medidas feitas por equipamentos comerciais similares. 62 RESULTADOS E DISCUSSÃO 63 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Espectroscopia na Região do Infravermelho (FTIR) Na Figura 17 são observados os espectros na região do infravermelho de 500 – 4000 cm-1 para as amostras NF, NFC25, NFC50 e NFC75. Figura 17 - Espectros de Absorção na Região do Infravermelho dos sistemas NF, NFC25, NFC50 e NFC75. 60 55 50 40 20 1540 1383 25 1657 30 573 35 2346 Transmitância (u.a.) 45 NF NFC25 NFC50 NFC75 15 10 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Numero de Onda (cm ) Analisando os espectros da figura 17, observa-se que todos têm comportamento semelhante. A banda em torno de 2346 cm-1 corresponde a deformação de moleculas de CO2 advindo da atmosfera de decomposição ou absorvido da atmosfera ambiente durante o manuseio do material (MOUALLEM-BAHOUT et al, 2005). Em todos os espectros contendo cobalto em sua composição observam-se bandas em 1657 cm-1 e 1540 cm-1, atribuídas à deformação angular simétrica no plano de N–H, proveniente de resíduos do combustível (Ureia), utilizado no método de síntese (SILVERTEIN et al., 2006). De acordo com a teoria dos grupos, os espectros de óxidos do espinélio devem apresentar quatro bandas 700–650 (1); 600–500 (2); 400–300 (3); e 200–150 cm-1(4) 64 (MOUALLEM-BAHOUT, 2005 e GOMES, 2010). Nessa investigação, foram realizadas mediçõesde até 500 cm-1, limitando, assim, o estudo apenas para as bandas de alta frequência 2. Nos espectros,2, a 573 cm-1, estão relacionados com as ligações internas dos metais nos sítios tetraedricos, da estrutura de espinélio. As vibrações menos intensas entre 450 – 385 cm-1, que correspondem às vibrações intrinsecas dos metais nos sitios octaedricos não puderam der detectadas como dito anteriormente. A presença dos estiramentos das vibrações intrinsecas do metal com o oxigênio nos sítios tetraedricos e octaédricos confirmam a formação da fase ferrita espinelio de Ni-Co. Na Tabela 6 estão descritos comparativamente, com os dados da literatura, os estiramentos e deformações angulares das ferritas preparada por reação de combustão assistido por micro-ondas. Tabela 6 - Dados comparativos das bandas vibracionais dos espectros de FTIR obtidos neste trabalho e descritos na literatura para a ferrita Ni-Co. Nº de onda (cm-1) (Observado) Atribuição Nº de onda (cm-1) (Literatura) 2346 δ CO2 2900 – 1450 1657 – 1547 δs N – H 1650 – 1580 1383 δs C – H 1439 – 1399 573 Mtetraédrico ↔ O 600 – 500 δs – deformação angular simetrica no plano 5.2 Difração de raios X (DRX) As ferritas pertencentes ao sistema Ni1-xCoxFe2O4 (0 ≤x ≤ 0,75), sintetizadas por meio de reação de combustão assistida por micro-ondas foram analisadas por difração de raios X e refinada pelo método de Rietveld com o intuito de apresentar o tipo de estrutura, grupo espacial, parâmetros de rede e respectivos tamanhos de cristalito. 65 Os difratogramas e as analises do refinamento Rietveld para os sistemas preparados são mostrados nas Figuras 18 a 21. As intensidades são apresentadas em escala de contagem para melhor visualização das reflexões. Os difratogramas apresentam sobreposição com o refinamento dos espectros indicando a formação da fase ferrita do tipo espinélio, para todos os sistemas, evidenciada pelo aparecimento do pico principal 2σ = 35,5º, característicos das ferritas cúbicas pertencentes ao grupo espacial Fd3m:1. A estrutura apresenta características de espinélio inverso e parcialmente inverso, devido ao posicionamento dos íons na rede cristalina. Os espectros de difração e o refinamento apresentam boa concordância entre os picos experimentais e o espectro calculado (teórico). Por outro lado, além da fase ferrita cúbica, outra fase secundaria foi identificada de acordo com o refinamento Rietveld como sendo hematita (-Fe2O3). A hematita é uma fase que tende a aparecer quando a amostra é submetida a uma temperatura superior a 500ºC e em um ambiente rico em O2, isto porque abaixo de 500ºC não é fornecida energia suficiente para que ocorra reação do ferro com o oxigênio do meio, formando a fase -Fe2O3. A hematita por apresentar propriedades antiferromagnéticas é indesejada. Um meio de controlar o aparecimento desta fase é o controle da atmosfera de queima e temperatura (BEZERRA et al, 2010). No entanto, apenas a composição NF apresentou a fase hematita, tendo as composições NFC25, NFC50 e NFC75 apresentado à precipitação de outras fases como: FeO, (FeCo)O e Niº, sendo a última comum a todas as composições. Além disso, existe a possibilidade da volatização dos metais que resulta em efeitos adversos na formação da estrutura das ferritas provocando desvios composicionais e favorecendo a precipitação de várias fases distintas. Ainda com base nos difratogramas observou-se que o incremento do cobalto tornou os picos mais intensos e estreitos o que caracteriza um grau de cristalinidade mais acentuado. Estes resultados mostram que o método de reação de combustão assistida por micro-ondas é um processo bastante favorável para obtenção de ferritas de alta cristalinidade. 66 Figura 18 - Difratograma de raios X do NF após refinamento pelo método Rietveld. Figura 19 - Difratograma de raios X do NFC25 após refinamento pelo método Rietveld. 67 Figura 20 - Difratograma de raios X do NFC50 após refinamento pelo método Rietveld. Figura 21 - Difratograma de raios X do NFC75 após refinamento pelo método Rietveld. Através do tratamento dos dados de raios X pela técnica de Rietveld foi possível extrair informações detalhadas sobre os parâmetros da estrutura cristalina obtida, além de confirmar a formação da fase espinélio para todas as composições, cujos valores, em % de massa, corresponderam a 72%; 94%; 90% e 87% para os sistemas NF, NFC25; NFC50 e 68 NFC75, respectivamente. Na Tabela 7 encontram-se os dados do refinamento dos sistemas preparados, na qual foi possível analisar os parâmetros de rede e o tamanho médio de cristalitos. Com base nos dados do refinamento obtidos podemos constatar que a célula unitária permaneceu com simetria cúbica e que a substituição do íon Ni2+ por Co2+, praticamente não alterou o parâmetro de rede, apontando para a estabilidade estrutural dos sistemas. O tamanho médio de cristalito aumentou de 9,78 para 21,63 nm com o aumento da concentração de cobalto. Tabela 7 - Dados do refinamento Rietveld dos sistemas preparados. Amostra NF NFC25 NFC50 NFC75 Rw 28,36 37,79 34,46 33,56 Rexp 23,81 30,62 32,47 30,57 Sig 1,19 1,19 1,06 1,09 Fases (massa %) Parâmetro de rede (nm) Tamanho de cristalito (nm) Ferrita Ni (72,02%) a = 8,357 9,78 - Fe2O3 (5,4%) a = 5,42; c = 55,21 3,98 FeO (9,58%) a = 4,17 10,52 Ni (12,9%) a = 3,53 10,28 Ferrita Ni-Co (94%) a = 8,357 20,23 FeO (3,5%) a = 4,18 7,52 Ni (2,5%) a = 3,53 10,4 Ferrita Ni-Co (90%) a = 8,366 18,96 (FeCo)O (7,5%) a = 4,20 4,84 Ni (2,5%) a = 3,53 10,09 Ferrita Ni-Co (87,25%) a = 8,375 21,63 (FeCo)O (8,42%) a = 4,17 5,67 Ni (4,33%) a = 3,54 22,14 Os parâmetros Rw, Rexp e Sig dizem respeito ao progresso do refinamento e a concordância entre o perfil observado e o calculado. Dentre eles, o Sig é chamado de índice da qualidade do refinamento (“Gooddness off it”) e o Rw são os de maior significância. Segundo a literatura, o Sig inclui o número de variáveis sob-refinamento, valores de Sig ≤ 1,3 são favoráveis (CASAGRANDE e BLANCO, 2005). Observando na tabela 7 os valores obtidos do Sig para os difratogramas dos sistemas preparados constata-se que são valores concordantes com os publicados na literatura. 69 É sabido que a ferrita de níquel é um espinélio inverso, cuja célula unitária é representada pela formula (Fe1-x)[NiFe1+x]O4, onde os íons de Fe3+ estão igualmente distribuídos nas posições tetraédrica e octaédrica da rede. No entanto, a precipitação da fase níquel metálico na ferrita sugerem que íons de níquel de raio iônico 0,69Å, que ocupam normalmente posições octaédricas, competem com íons de ferro de raio iônico 0,55Å e devido ao menor valor do raio do ferro, este último se difunde na estrutura atômica com mais facilidade e ocupa as posições vazias que deveriam ser ocupadas por íons de níquel. Esse comportamento leva a uma segregação de íons níquel formando a fase níquel metálico. A formação da fase níquel pode indicar também baixa homogeneidade química da mistura de nitratos para os sistemas, segregando níquel na microestrutura (MOURA, 2008). Diante disso, a precipitação das fases níquel metálico evidenciado em todos os sistemas preparados é justificada. No entanto, com o incremento do cobalto na estrutura a porcentagem desta fase diminui cujos valores são: NF (12,9%), NFC25 (2,5%), NFC50 (2,5%) e NFC75 (4,33%). 5.2.1 Suposições para a distribuição dos cátions nos sítios octaédricos e tetraédricos A distribuição dos cátions nos sítios intersticiais é determinada pela “energia preferencial pelos sítios octaédricos” (OSPE), estimada a partir de dados termodinâmicos (AMIN e NEWNHAM, 1992). A Tabela 10 apresenta tais valores para os cátions Ni2+, Co2+ e Fe3+, bem como a contribuição magnética de cada íon substituinte utilizado na estrutura espinélio. O momento magnético de cada átomo está relacionado ao número de spins desemparelhados que o mesmo possui. Convencionalmente, a preferência pelos sítios tetraédricos é indicada por valores positivos. Portanto, quanto mais negativa o valor de OSPE, mais fortemente será a preferência pelos sítios octaédricos (AMIN e NEWNHAM, 1992). 70 Tabela 8 - Raio iônico, OSPE, sítio preferencial e momento magnético dos íons substituintes. Raio iônico OSPE (Å) (kcal/mol) Fe3+ 0,55 ~ 0,0 Tetraédrico ou octaédrico 5 Ni2+ 0,69 - 2,06 Octaédrico 2 Co2+ 0,75 - 7,06 Octaédrico 3 Cátion Sítio preferencial Momento Magnético (μB) O posicionamento dos átomos na ferrita é extremamente complexo do ponto de vista magnético, pois além da alteração em seu próprio estado magnético, podem ocorrer alterações nas interações entre os átomos. Levando em consideração os resultados experimentais conseguidos nesse trabalho, a partir dos dados do refinamento e do EDS, juntamente com as suposições baseadas nos dados teóricos, a estrutura dos sistemas preparados para a fase da ferrita Ni-Co ficam distribuídas da seguinte forma: NF – (Fe1,0)[ Ni0,80Fe1,20]O4 NFC25 – (Co0,26Fe0,74)[ Ni0,71Fe1,28]O4 NFC50 – (Co0,13Fe0,87)[ Ni0,45Co0,39Fe1,16]O4 NFC75 – (Co0,10Fe0,90)[ Ni0,14Co0,70Fe1,10]O4 5.3 Área Superficial Específica (BET) A Tabela 9 apresenta as características das amostras área superficial específica (SBET), tamanho de partícula (DBET), tamanho de cristalito (DDRX) e a relação entre DBET/DDRX preparados por reação de combustão. A partir dos dados de BET, observa-se que a elevação da concentração do íon Co2+ no sistema Ni1-xCoxFe2O4 causou uma redução da área superficial específica e consequentemente aumentou o tamanho de partícula. O tamanho médio de partículas (DBET) foi calculado a partir dos dados de área superficial, utilizando-se a equação: 71 DBET em que d teórica 6 dteórica.S BET é a densidade teórica (g.m-3). Nesta equação, SBET e DBET estão em m2. g-1 e nm, respectivamente. Tabela 9 - Área específica e tamanho de partículas do sistema Ni1-xCoxFe2O4, preparados por reação de combustão. Amostra SBET (m2.g-1) DBET (nm)* DDRX (nm)** DBET/DDRX NFC 3,395 33 9,78 3,37 NFC25 2,222 50 20,23 2,47 NFC50 2,206 51 19,79 2,58 NFC75 3,049 35 21,51 1,63 *Calculado a partir do BET, ** Calculado a partir do refinamento de Rietveld, Densidade teórica = 5,373 g/cm3 De acordo com a relação DBET/DDRX, verificou-se que todas as amostras apresentam um valor superior a 1, indicando que as partículas são policristalinas e se aglomeram facilmente devido a alta tensão superficial. Percebeu-se que de uma forma geral, a elevação do teor de cobalto levou a uma diminuição dos valores da relação DBET/DDRX, indicando que os pós tenderam a formar aglomerados menores. 5.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) com auxílio de análise por dispersão de energia (EDS) As Figuras 22 a 25 ilustram a morfologia das amostras obtidas por microscopia eletrônica de varredura com os respectivos espectros de EDS. Pode-se observar nas micrografias que o tamanho das partículas varia bastante dentro de um mesmo material. Observou-se também a formação de aglomerados com formatos de blocos porosos (não densos) irregulares, constituídos por partículas finas com porosidade interpartícula, o que os definem como aglomerados de característica mole ou friável (constituídos por ligações fracas), de fácil desaglomeração. Os poros formados são devidos à liberação dos gases durante a combustão. 72 Em todas as composições existem regiões com partículas grandes e regiões com partículas pequenas, com graus diferentes de aglomeração. É sabido que quanto menor o tamanho de partículas, maior a sua tensão superficial, o que gera força motriz para favorecer o aumento do estado de aglomeração e/ou agregação (COSTA, 2009). Com isso, a maior aglomeração ocorre para x = 0. Figura 22 – Micrografia eletrônica da amostra NF, ilustrando as áreas onde foi realizado as medidas de EDS, no modo janela e seu respetivo espectro. Figura 23 – Micrografia eletrônica da amostra NFC25, ilustrando as áreas onde foi realizado as medidas de EDS, no modo janela e seu respetivo espectro. 73 Figura 24 – Micrografia eletrônica da amostra NFC50, ilustrando as áreas onde foi realizado as medidas de EDS, no modo janela e seu respetivo espectro. Figura 25 – Micrografia eletrônica da amostra NFC75, ilustrando as áreas onde foi realizado as medidas de EDS, no modo janela e seu respetivo espectro. As medidas de Espectroscopia por Dispersão de Energia (EDS) foram feitas em pontos referentes ao aglomerado e matriz, objetivando certificar as fases precipitadas dadas pelo DRX e para as suposições teóricas da estequiometria. Foi usado como procedimento para análise composicional o modo janela, onde é tomado o espectro EDS em uma região da amostra, que sofre uma varredura em uma área pré-estabelecida. A tabela 10 apresenta os resultados de EDS para as amostras. 74 Tabela 10 - Dados quantitativos por EDS. Amostra Elemento at% O NF NFC25 NFC50 NFC75 Matriz Fe Ni Co 10,53 55,91 33,56 - Aglomerado 11,99 54,87 33,13 - Matriz 12,46 80,93 6,61 - Aglomerado 10,09 83,06 6,86 - 54,97 34,91 2,61 7,52 Aglomerado 56,15 30,87 9,38 3,60 45,16 42,12 2,45 10,27 Aglomerado 24,92 56,24 5,93 12,91 Matriz Matriz 5.3 Propriedades Magnéticas As propriedades magnéticas dos sistemas foram estudadas via medidas de magnetização, com suposições teóricas e a partir de dados experimentais. A coercividade, magnetização de saturação e campo remanente e podem ser obtidas a partir do gráfico de histerese. As perdas por histerese é determinada pela área da curva M-H. 5.3.1 Magnetização Teórica A magnetização teórica no estado fundamental de cada composição foi estimada para as amostras NF, NFC25, NFC50 e NFC75. Os valores são calculados com base na contribuição magnética e na quantidade estequiométrica de cada íon na estrutura. As interações AB, AA, BB são todas negativas, mas a interação AB tende a ser mais forte, o que leva todos os momentos do sitio A a serem paralelos entre si e antiparalelos aos momentos do sítio B. Segundo a literatura, o momento magnético do íon de níquel Ni2+ é 2μB, do Fe3+ é 5μB e do Co2+ é 3μB. (O’HANDLEY, 2000). 75 O valores do momento magnético líquido das amostras de Ni1-xCoxFe2O4 foram calculados da forma: A primeira etapa compreende a multiplicação do valor de ocupação de cada íon pelo respectivo momento magnético. Na segunda etapa, são somados os valores dos magnétons de Bohr referentes a cada sítio. Na terceira etapa é calculada a diferença entre os valores dos magnétons de Bohr dos sítios A e B, pois a interação é negativa, e assim obtém-se o valor do momento magnético líquido da célula unitária. Os cálculos da magnetização teórica são mostrados nas tabelas 11 a 14: Tabela 11 - Cálculo do momento magnético líquido para a amostra NF. SÍTIO A B Distribuição Fe13+ Ni0,802+Fe1,203+ 1x5μB 0,80x2μB + 1,20x5μB Magnéton de Bohr por íon Soma dos magnetos de Bohr nos sítios Fe3+ Fe3+ + Ni2+ (-) (+) 5μB 7,6μB Momento magnético líquido μB 7,6-5 μB= 2,6 μB Tabela 12 - Cálculo do momento magnético líquido para a amostra NFC25. SÍTIO A B Distribuição Fe0,743+Co0,262+ Ni0,712+Fe1,283+ Magnéton de Bohr por íon Soma dos magnetos de Bohr nos sítios Momento magnético líquido μB 0,74x5μB + 0,26x3 μB 0,71x2μB + 1,28x5μB Fe3+ + Co2+ Fe3+ + Ni2+ (-) (+) 4,48μB 7,82μB 7,82-4,48 μB= 3,34 μB 76 Tabela 13 - Cálculo do momento magnético líquido para a amostra NFC50. SÍTIO A B Distribuição Fe0,873+Co0,132+ Ni0,452+ Co0,392+ Fe1,163+ 0,87x5μB + 0,13x3 0,45x2μB + 0,39x3 μB + μB 1,16x5μB Fe3+ + Co2+ Fe3+ + Ni2++ Co2+ (-) (+) 4,74μB 7,87μB Magnéton de Bohr por íon Soma dos magnetos de Bohr nos sítios Momento magnético líquido μB 7,41-4,62 μB= 3,13 μB Tabela 14 - Cálculo do momento magnético líquido para a amostra NFC75. SÍTIO A B Distribuição Fe0,903+Co0,102+ Ni0,142+ Co0,702+ Fe1,103+ 0,90x5μB + 0,10x3 0,14x2μB + 0,70x3 μB + μB 1,10x5μB Fe3+ + Co2+ Fe3+ + Ni2++ Co2+ (-) (+) 4,8μB 7,88μB Magnéton de Bohr por íon Soma dos magnetos de Bohr nos sítios Momento magnético líquido μB 7,88-4,8 μB= 3,08 μB A Figura 26 a seguir mostra o comportamento da magnetização teórica em função da concentração de cobalto. 77 Figura 26 - Variação da magnetização teórica em função da concentração de cobalto. 3,4 3,3 Magnetizaçao Teorica 3,2 3,1 3,0 2,9 2,8 2,7 2,6 2,5 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 [Co] 5.3.2 Medidas Magnéticas A Figura 27 exibe a dependência da magnetização (σ) em função do campo magnético aplicado (H) por meio do laço de histerese para os pós-correspondentes aos sistemas NF, NFC25, NFC50 e NFC75. Por meio das curvas foi possível determinar valores de alguns parâmetros magnéticos, tais como: campo coercitivo (Hc), magnetização remanente (MR) e magnetização de saturação (MS). Podemos observar que os sistemas apresentaram ciclo M x H diferenciado em função da presença do cobalto na estrutura, com comportamento variando de material magnético bastante mole (fácil magnetização e desmagnetização) para o sistema NF, a um material magnético com comportamento um pouco mais duro para os sistemas contendo cobalto, NFC25, NFC50 e NFC75. 78 Figura 27 - Curvas de histereses das amostras (a) NF, (b) NFC25, (c) NFC50 e (d) NFC75 50 50 NF 40 30 30 20 20 Sigma (emu/g) Sigma (emu/g) 40 10 0 -10 -20 10 0 -10 -20 -30 -30 -40 -40 -50 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 -50 -1,5 1,5 NFC25 -1,0 (a)(c) 0,0 0,5 1,0 1,5 (b)(b) 50 50 NFC50 40 40 30 30 20 20 Sigma (emu/g) Sigma (emu/g) -0,5 Campo Aplicado (kOe) Campo Aplicado (kOe) 10 0 -10 -20 10 0 -10 -20 -30 -30 -40 -40 -50 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 Campo Aplicado (kOe) (c) 1,0 1,5 NFC75 -50 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 Campo Aplicado (kOe) (d) A Figura 27d mostra uma maior área do laço de histerese quando comparado com os outros sistemas. Isto mostra que a adição do cobalto tendeu a aumentar a área do laço de histerese, ou seja, aumentar as perdas por histerese tornando o material com características mais duras. Os valores detalhados dos parâmetros magnéticos estão descritos na tabela 15. Tabela 15 - Parâmetros de histerese dos sistemas NF, NFC25, NFC50 e NFC75 preparados por reação de combustão em micro-ondas. Amostras MS MR HC MR/MS (combustão) (emu/g) (emu/g) (Oe) NF 35,75 4,5 96 0,13 NFC25 41,18 15,8 363 0,38 NFC50 32,41 13,4 512 0,41 NFC75 29,30 12,6 657 0,43 79 A Figura 28 a seguir mostra o comportamento da magnetização de saturação e remanência em função da concentração de cobalto. Figura 28 - (a) Variação da magnetização de saturação (MS); (b) magnetização remanente (MR) em função da concentração de cobalto. 42 40 MS (emu/g) 38 36 34 32 30 28 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,5 0,6 0,7 0,8 [Co] (a) 16 14 MR (emu/g) 12 10 8 6 4 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 [Co] (b) Em estruturas cristalinas cúbicas de espinélio ferrimagnéticos, a ordem magnética é principalmente devida a uma troca de interação entre os íons metálicos nos sítios (A) e [B]. A magnetização de saturação e a remanência tiveram comportamentos similares com o aumento da concentração de cobalto. Os valores obtidos para a saturação magnética e remanência aumentam em x=0,25 (NFC25) de cobalto e diminuí com o continuo acréscimo de cobalto. Como as propriedades magnéticas destes sistemas também são governadas pela distribuição dos cátions em diferentes sítios, o valor máximo na NFC25 se deve ao fato da maior quantidade de níquel que permanece na estrutura da ferrita Ni-Co e a menor contribuição das fases antiferromagnéticas - as fases secundarias FeO e Niº que precipitaram foram em torno 80 de 6% (o menor valor obtido quando comparado aos demais) - contribuindo assim para uma melhor magnetização. À primeira vista, poder-se-ia supor que, aumentando o percentual de cobalto, a ferrita mista apresentasse uma magnetização de saturação cada vez maior. Isso não acontece porque, a partir de uma determinada concentração de cobalto, este vai também para o sítio B, aumentando a contribuição do momento magnético do ferro no sítio A e diminuindo assim o momento magnético líquido. A Figura 29 a seguir mostra o comportamento do campo coersivo em função da concentração de cobalto. Figura 29 - Variação do campo coersivo (HC) em função da concentração de cobalto. 700 600 HC (Oe) 500 400 300 200 100 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 [Co] Verifica-se que o aumento do teor de cobalto aumenta o valor do campo coersivo, isso se deve as propriedades anisotrópicas do cobalto. A ferrita de cobalto possui uma constante de anisotropia magnetocristalina de valor relativamente grande e positivo (MATHEW e JUANG, 2007) devido a essa propriedade, o cobalto é comumente usado como aditivo em outras ferritas para compensar a anisotropia pequena e negativa das mesmas quando puras (GOLDMAN, 2006). A Figura 30, a seguir, mostra a variação da magnetização (MR/MS) em função do teor de cobalto na estrutura. 81 Figura 30 - Variação da magnetização (MR/MS) em função da concentração de cobalto. 0,45 0,40 MR/MS 0,35 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 [Co] O gráfico obtido indica que a magnetização aumenta com o aumento do teor de cobalto na estrutura para valores próximos de 0,5, aproximando do valor crítico para a região de monodomínio. Em estruturas cristalinas cúbicas de espinélios ferrimagnéticos, a ordem magnética é principalmente devida a uma troca de interação entre os íons metálicos nos sítios (A) e [B], sendo influenciada também pela anisotropia. 82 CONCLUSÕES 83 6 CONCLUSÕES A síntese por reação de combustão assistida em micro-ondas foi favorável para a obtenção de pós nano cristalinos de ferritas de níquel dopadas com cobalto. Os DRXs mostraram a formação da fase cristalina da ferrita tipo espinélio inverso ou parcialmente inverso como sendo majoritária em todos os sistemas (NF - 72%, NFC25 - 94%, NFC50 - 90% e NFC75 - 87%). A cela unitária permaneceu com simetria cúbica, e a presença do cobalto praticamente não afetou o parâmetro de rede, devido à semelhança de seus raios, apontando para a estabilidade estrutural dos sistemas. O tamanho do cristalito aumentou de 9,78 (NF) para 21,63 (NFC75), o que caracteriza um grau de cristalinidade mais acentuado. O BET mostrou que a elevação da concentração de cobalto no sistema causou uma redução da área superficial específica e consequentemente aumentou o tamanho de partícula, levando a uma diminuição dos valores da relação DBET/DDRX, indicando que os pós tenderam a formar aglomerados menores. De acordo com a relação DBET/DDRX, verificou-se que todas as amostras apresentam um valor superior a 1, indicando que as partículas são policristalinas e se aglomeram facilmente devido a alta tensão superficial. Pode-se observar nas micrografias a formação de aglomerados com formatos de blocos porosos irregulares e que o aumento da concentração de cobalto dimunuiu o estado de aglomeração dos sistemas. Os resultados de EDS confirmaram a segregação das fases secundárias. O aumento da concentração de cobalto nos sistemas interferiu diretamente nas características magnéticas das nano partículas, com comportamento variando de material magnético bastante mole (fácil magnetização e desmagnetização) para o sistema sem cobalto, a um material magnético com comportamento um pouco mais duro para os sistemas contendo cobalto. Os valores do campo coercitivo aumentaram com o crescente incremento do cobalto, e os valores de magnetização de saturação e remanência aumentaram até x=0,25 e depois reduziram. Verificou-se, de forma geral, que as propriedades magnéticas são melhoradas com o incremento do cobalto, e no caso especial do NFC25 tem um aumento da magnetização de saturação, devido a maior percentagem de ferrita pura. 84 As características magnéticas diferenciadas apresentadas pelos sistemas, de acordo com a quantidade de dopante utilizado, permite o uso desses materiais como magnéticos intermediários. Eles têm MR e HC suficientemente grandes para reter a informação contida no campo de gravação, porém menores que nos ímãs permanentes, para permitir que a informação seja apagada, sendo, portanto, aplicados em armazenamento de informação (quer como suporte da informação (fitas magnéticas, discos de computador, etc.), quer como ferramentas de gravação ou leitura da informação armazenada em bandas magnéticas). 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 86 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACCHAR, W. Materiais Cerâmicos: caracterizações e aplicações. Natal: EDUFRN, Cap.2, p.20, 2006. AMIN, A.; NEWNHAM, R. E. Thermistors. Key engineering materials, v. 66-67, n. 861, p. 339-374, 1992. ANDRADE, E. N. D. C. The Early History of the Permanent Magnet. Endeavour, v. 17, 1958. ARAÚJO; G.C.; Efeito da substituição parcial do níquel por cobalto (ou rutênio) nas propriedades de catalisadores do tipo perovskita, Tese de doutorado, UFBA, 2005. BASSALO, J. M. F. A crônica da física do estado sólido: IV. magnetismo. 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Já para as amostras NFC50 e NFC75 foram feitas também a partir dos dados do EDS, devido a presença da mistura de óxidos como fases secundárias nessas amostras. Cálculo Teórico para a Amostra NF Fases que precipitaram (dados do DRX): Fe2O4 – 5,4% FeO – 9,58% Ni – 12,9% Pela estequiometria original (NiFe2O4) temos: 2/3 Fe = 66,67% 1/3 Ni = 33,33% Precipitaram: % Fe no precipitado Fe2O3 5,4 x 111,7/159,7 = 3,78% % Fe no precipitado FeO 9,58 . 55,85/71,85 = 7,45% Total de Fe que precipitou = 11,23% Percentuais Reais: Fe: 66,67 – 11,23 = 55,44% Ni: 33,33 – 12,9 = 20,10% Encontrando a nova estequiometria para a suposição da distribuição catiônica nos sítios: 75,54%→ 3 átomos 55,44%→ XFe XFe = 2,20 75,54%→ 3 átomos 20,10%→ XNi XNi = 0,80 Portanto, ficamos com Ni0,80Fe2,2O4 e supomos a distribuição nos sítios da forma: (Fe1)[Ni0,80Fe1,20]O4 Cálculo Teórico para a Amostra NFC25 Fases que precipitaram (dados do DRX): FeO – 3,5% Ni – 2,5% Pela estequiometria original (Ni0,75Co0,25Fe2O4) tem-se: 93 2/3 Fe = 66,67% 0,25/3 Co = 8,33% 0,75/3 Ni = 25% Precipitaram: % Fe no precipitado FeO 3,5 . 55,85/71,85= 2,72% Percentuais Reais: Fe: 66,67 – 2,72 = 63,95% Ni: 25 – 2,5 = 22,5% Co: 8,33 Encontrando a nova estequiometria para a suposição da distribuição catiônica nos sítios: 94,78%→ 3 átomos 63,95%→ XFe XFe = 2,02 94,78%→ 3 átomos 22,5%→ XNi XNi = 0,71 94,78%→ 3 átomos 8,33%→ XCo XCo = 0,26 Portanto, ficamos com Ni0,71Co0,26Fe2,02O4 e supomos a distribuição nos sítios da forma: (Co0,26Fe0,74)[Ni0,71Fe1,28]O4 Cálculo Teórico para a Amostra NFC50 Fases que precipitaram (dados do DRX): (FeCo)O – 7,5% Ni – 2,5% Dados do EDS: O: 56,15% Fe: 30,87% Co: 3,60% Ni: 9,38% Achando a percentagem de cada elemento na mistura de óxidos: (FeCo)O = 7,5% A partir dos dados do EDS foi feita a aproximação: 9.Co + Co + 16.Co = 7,5 Fazendo Co = x, 9x + x + 16x = 7,5 26x = 7,5 x = 0,288% (quantidade de Co) 94 O Fe é 9.Co assim, 9. 0,288 = 2,592% Pela estequiometria original (Ni0,5Co0,5Fe2O4) tem-se: 2/3 Fe = 66,67% 0,5/3 Co = 16,67% 0,5/3 Ni = 16,67% Percentuais Reais: Fe: 66,67 – 2,592 = 64,08% Ni: 16,67 – 2,5 = 14,17% Co: 16,67 – 0,288 = 16,38% Encontrando a nova estequiometria para a suposição da distribuição catiônica nos sítios: 94,63%→ 3 átomos 64,08%→ XFe XFe = 2,03 94,63%→ 3 átomos 14,17%→ XNi XNi = 0,45 94,63%→ 3 átomos 16,38%→ XCo XCo = 0,52 Portanto, ficamos com Ni0,45Co0,52Fe2,03O4 e supomos a distribuição nos sítios da forma: (Co0,13Fe0,87)[ Ni0,45 Co0,39Fe1,16]O4 Cálculo Teórico para a Amostra NFC75 Fases que precipitaram (dados do DRX): (FeCo)O – 9,95% Ni – 4,33% Dados do EDS: O: 24,92% Fe: 56,24% Co: 12,91% Ni: 5,93% Achando a percentagem de cada elemento na mistura de óxidos: (FeCo)O = 9,95% A partir dos dados do EDS foi feita a aproximação: 4,4.Co + Co + 2.Co = 9,95 Fazendo Co = x, 4,4x + x + 2x = 9,95 7,4x = 9,95 95 x = 1,345% (quantidade de Co) O Fe é 4,4.Co assim, 4,4.1,345 = 5,918% Pela estequiometria original (Ni0,25Co0,75Fe2O4) tem-se: 2/3 Fe = 66,67% 0,75/3 Co = 25% 0,25/3 Ni = 8,33% Percentuais Reais: Fe: 66,67 – 5,918 = 60,75% Ni: 8,33– 4,33 = 4% Co: 25 – 1,345 = 23,66% Encontrando a nova estequiometria para a suposição da distribuição catiônica nos sítios: 88,41%→ 3 átomos 60,75%→ XFe XFe = 2,06 88,41%→ 3 átomos 4%→ XNi XNi = 0,14 88,41%→ 3 átomos 23,66%→ XCo XCo = 0,80 Portanto, ficamos com Ni0,14Co0,80Fe2,06O4 e supomos a distribuição nos sítios da forma: (Co0,10Fe0,90)[ Ni0,14 Co0,70Fe1,10]O4