Liberdade profissional CAPA Linux certificado Certificações atestam o conhecimento do profissional. Como provar que você sabe o que faz com o Linux? por Carlos Bokor, Bruno Gomes Pessanha e Pablo Hess S egundo Randy Russel, diretor de currículo e certificação da Red Hat, “a premissa de qualquer certificação é que ela ajude um gerente de contratações a organizar a pilha de currículos”. Certificar-se em Linux geralmente é um bom negócio. Uma busca por LPI em sites de empregos costuma retornar centenas de vagas. No Trovit [1], por exemplo, são 67 as vagas que mencionam a certificação LPI, com salários a partir de R$ 3.000,00. Outras 12 mencionam a certificação mais famosa da Red Hat, RHCE. Evidentemente, muitos mencionam as certificações Linux em meio a diversas outras, mas isso não significa que cada uma delas seja insuficiente. Muito pelo contrário: é preciso começar por uma só. O valor da certificação Linux pode variar bastante de um país para o outro, e geralmente a sua relevância depende da demanda existente em determinada área, região ou empregador. Em determinadas situações, pode até não fazer qualquer diferença, mas não é o que acontece na maioria dos casos. As certificações fornecem aos empregadores uma importante ferramenta: um padrão para medir a qualidade técnica e a competência de um determinado candidato. E isso é tudo o que uma certificação pode fazer. Linux Magazine #61 | Dezembro de 2009 LPI Desde 1999, a organização sem fins lucrativos Linux Professional Institute (LPI), sediada no Canadá, oferece uma certificação independente de fornecedores. Isso significa que todo o conteúdo dos exames é baseado no padrão LSB (Linux Standard Base), deixando de fora ferramentas e softwares criados por e para uma distribuição Linux específica. A Certificação LPI (LPIC) é oferecida em três níveis: LPIC-1: Administrador Júnior; LPIC-2: Administrador Intermediário; LPIC-3: Administrador Sênior. Cada certificação requer uma pontuação de aprovação em dois exames. Os exames LPIC-1 abrangem as competências básicas de administração do sistema, ao passo que, no LPIC-2, além de ser obrigatório o candidato já possuir o LPIC-1, são abrangidas as habilidades de administração avançada do sistema operacional e de seus serviços. Já o LPIC-3 é projetado para candidatos “enterprise level”. O programa, desenvolvido com a participação de centenas de profissionais Linux em todo o mundo e com a contribuição de algumas das grandes empresas da esfera da tecnologia, representa também o nível mais elevado de profissionais Linux da indústria. Para se tornar LPIC-3, é necessário ser aprovado em apenas um exame “central”, entretanto, caso o profissional queria se certificar em outras especialidades, como ambientes mistos, segurança, alta disponibilidade e virtualização, Web e outras, também há certificações e exames especializados já disponíveis ou em fase de desenvolvimento. O instituto auxilia ainda na criação e no desenvolvimento de outros programas de certificação para Código Aberto, como o Ubuntu Certified Professional (UCP), também disponível por meio da Prometric e de centros de testes Vue. A base do programa de certificação LPI gira em torno de quatro valores: relevância, qualidade, neutralidade e apoio. O LPI cresceu bastante desde sua inauguração, com vários afiliados ao redor do mundo firmando cada vez mais seu reconhecimento internacional. Novos afiliados No mundo inteiro, o LPI é representado por instituições locais na América Latina (sediada no Brasil, juntamente com o LPI Brasil), América do Norte, Europa, África e Ásia, com representantes da instituição em diversos países desses continentes. Os mais novos países afiliados ao LPI são Coreia do Sul, Tunísia, África do Sul, Egito, Paquistão, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Itália. 37 CAPA | Certificações Linux Valor do profissional No momento, todo profissional é valorizado não apenas pelo seu conhecimento técnico, mas também por sua organização e seus métodos de trabalho. De nada adianta conhecer muito sobre um determinado serviço Linux sem saber conectá-lo de forma eficiente e segura à rede da empresa. Da mesma forma, não é visto com bons olhos o profissional “sênior” incapaz de demonstrar e colocar em prática tudo o que sabe, ou aquele que é capaz, mas o faz de forma desorganizada e deixa rastros de falhas de segurança, pontos únicos de falha (SPOFs) e scripts ingerenciáveis (as famosas gambiarras). Portanto, a combinação da certificação LPI com outras, vinculadas ou não a um fornecedor, pode ser uma arma poderosa. O ideal é sempre combinar áreas que sejam conectadas em algum determinado nível e momento. Alguns exemplos de combinações interessantes: Linux com áreas de armazenamento complexa: LPI + certificação de storage, backup, SAN, NAS etc. Ambientes Linux heterogêneos: LPI + certificações AIX, Solaris, Windows etc. Linux em ambiente virtualizado: LPI + certificação VMware, Citrix etc. Gerentes de Projetos Linux: LPI + PMP Ambientes Linux críticos: LPI + certificações de alta disponibilidade, clusters etc. Segurança da informação: LPIC + LPIC-3 Security, CISSP etc. Bancos de dados em clusters de alta disponibilidade em Linux: LPIC-3 High Availability + OCM, CMDBA etc. Conteúdo atualizado Os exames LPI foram recentemente atualizados com conteúdo definido com base nas novas tecnologias e 38 práticas utilizadas pelos profissionais Linux de hoje em dia. Vários assuntos foram incluídos, outros removidos ou diminuídos de acordo com sua relevância atual. Exemplos de conteúdos alterados são: o serviço de impressão CUPS substitui o LPRng; o servico de impressão tem peso menor; consultas básicas de SQL (insert, select, group by etc.) foram incluídas; recursos de acessibilidade foram incluídos: contraste de tela, atalhos no teclado, display braille etc. conjunto de qualidades que o candidato deve comprovar e demonstrar no momento da seleção. Trapacear nas provas pode parecer vantajoso a princípio, mas com isso o candidato perde a importante oportunidade de fazer laboratórios, testar, errar, aprender e absorver conteúdo novo. Certamente isso fará diferença em um momento decisivo, pois nada substitui a prática. A certificação LPI pode, sim, ajudar um profissional a conseguir seu primeiro emprego ou um avanço na carreira. O desenvolvimento dos exames é feito por profissionais Linux/Unix de forma constante, o que permite que as questões sejam consistentes e reflitam algo bem próximo da realidade dos administradores e de suas tarefas cotidianas. Portanto, as provas não são dificeis para quem já tem o hábito de executá-las diariamente. As certificações da poderosa Red Hat, embora completamente focadas em uma única distribuição, têm boa visibilidade e grande aceitação no mercado corporativo, principalmente em virtude da presença do Red Hat Enterprise Linux no ambiente corporativo e da profundidade dos exames. Empresas que contratam profissionais e serviços de TI colocam na balança as vantagens dos certificados. É o caso do CS Storage Backup da IBM, Antônio Carlos Lopes Júnior. Contratado pela empresa no início de 2009, logo após a conquista do certificado RHCE (Red Hat Certified Engineer), o profissional de TI afirma que o certificado realmente pesou para a sua contratação. Segundo ele, a frase definitiva do contratante na etapa final desse processo de seleção foi: estou contratando um RHCE. Antônio Carlos conseguiu negociar melhor o salário e pôde demonstrar aos colegas um pouco do que aprendeu. Para quem trabalha com TI, o mercado de especialistas está repleto de ofertas, mas também de exigências. De acordo com Antônio Carlos Lopes Júnior, o dinheiro aplicado em certificados foi tido como uma fonte segura de rentabilidade para o futuro. Ele afirma que a quantia gasta em todos os cursos e certificados foi Preparação Existem várias formas de se preparar para os exames. Cursos, livros publicados e listas de discussão são alguns exemplos. O índice mantido pelo site do LPI [2] deve ser utilizado como referência para que o candidato compreenda os diferentes pesos dos tópicos e objetivos. Quanto maior o peso, maior o número de questões sobre o tema no exame. O que esperar do LPI As certificações LPI, assim como qualquer certificação, podem parecer garantia de emprego e sucesso, mas é importante atentar a alguns pontos. Em primeiro lugar, a certificação não deve ser utilizada para encobrir a falta de conhecimento em determinada área ou a falta de experiência prática. Além disso, apenas o fato de o profissional ser certificado não garante um bom emprego. A decisão final geralmente é baseada em um Red Hat http://www.linuxmagazine.com.br Certificações Linux | CAPA recuperada em menos de dois meses de trabalho e que a maior vantagem foi o respeito obtido como profissional certificado dentro da equipe de trabalho, uma vez que conhecimento é algo que não se compra, mas que se conquista pelo esforço. O cenário nacional favorece a escolha dos certificados oferecidos pela Red Hat. É notório que o governo brasileiro tem incentivado bastante a adoção de Software Livre nas bases governamentais e que, a cada ano, as empresas privadas também têm usufruído desses benefícios, principalmente em projetos críticos, nos quais é fundamental tratar as informações com segurança, disponibilidade e desempenho. Nesse sentido, quando existe um orçamento restrito e a empresa não abre mão de ter flexibilidade e liberdade de escolha, o Linux empresarial é um sistema operacional que vem sendo muito considerado na arquitetura de TI do datacenter . Neste contexto, a Red Hat angaria, hoje, um número expressivo de profissionais certificados entre seus funcionários, parceiros, clientes e a comunidade do mundo Linux, oferecendo um programa sério de certificação, de amplitude e de reconhecimento global. Sua metodologia de aplicar provas de certificações é referência para o mercado, tanto que, segundo o IDC (IDC MarketScape IT Training Line of Business Study), a Red Hat detém uma das certificações mais admiradas no mercado mundial de TI. As certificações de especialização oferecidas pela Red Hat no Brasil para administradores são: RHCT (Red Hat Certified Technician) [3]: exame prático de duas horas, mede a competência do profissional em sistemas reais. Destina-se a quem está ingressando no universo da administração de sistemas Linux e cobre assuntos como instalação, configuração e administração básica Linux Magazine #61 | Dezembro de 2009 de sistemas Red Hat Enterprise Linux. O exame pode ser feito ao final do curso (RH133) ou de forma independente, caso o candidato já possua a experiência necessária [4]. RHCE (Red Hat Certified Engineer) [5]: exame prático de 3,5 horas, o RHCE mede a competência do profissional em sistemas reais e tarefas mais avançadas, como configuração de serviços de rede e procedimentos de segurança de servidores. Há duas modalidades de preparação, Standard Track (cursos RH033 + RH133 + RH253) e Rapid Track (somente o curso RH300). Assim como no RHCT, a modalidade de preparação depende da familiaridade do profissional com o conteúdo, sendo o Rapid Track voltado àqueles que já possuem habilidades em Unix e Linux. RHCDS (Red Hat Certified Datacenter Specialist): quem já possui certificação RHCE pode obter a certificação RHCDS após três exames: EX401, EX423 e EX436, que cobrem os assuntos de virtualização, serviços de diretório, autenticação, clusters e storage. RHCSS (Red Hat Certified Security Specialist): da mesma forma que o RHCDS, o certificado RHCSS é destinado a profissionais certificados RHCE, e requer aprovação em três exames: EX333 (segurança de serviços de rede), EX423 (serviços de diretório e autenticação) e EX429 (administração de políticas SELinux). O certificado RHCSS, portanto, atesta as habilidades de segurança do profissional. RHCA (Red Hat Certified Architect): o certificado mais abrangente da Red Hat requer que o candidato já seja RHCE e engloba cinco exames nas áreas de serviços de rede, segurança, virtualização, autenticação, clusters, storage e monitoramento de sistemas, entre outras. Entre os diferenciais oferecidos pelas certificações da Red Hat está a forma de aplicação prática do exame. Nela, o candidato precisa implementar todos os itens solicitados durante o exame. Isso evita que o aluno decore perguntas e respostas, além de ampliar a credibilidade da certificação no mercado de trabalho. Para se obter essas certificações, a Red Hat oferece cursos preparatórios em todo o Brasil, com duração média de quatro dias e com a aplicação do exame no quinto dia. n Mais informações [1] Trovit: http://empregos.trovitbrasil.com.br/ [2] LPI: http://www.lpi.org/ [3] Certificação RHCT: https://www.redhat.com/certification/rhct/ [4] Definição do nível de conhecimento do candidato: http://www.redhat.com/apps/training/assess/ [5] Certificação RHCE: https://www.redhat.com/certification/rhce/ Sobre o autor Carlos Bokor é Gerente Regional de Serviços da Red Hat do Brasil. Bruno Gomes Pessanha é administrador sênior de sistemas Unix e Linux há mais de dez anos. É responsável por desenvolver e projetar infraestruturas de TI de alta disponibilidade. 39