Continuidade de uma função Consideremos f : D f ⊆ ℝ → ℝ uma função real de variável real (f.r.v.r.) e a um ponto de acumulação de D f que pertence a D f . Diz-se que a função f é contínua em a se lim fx = fa. x→a Diz-se que a função f é contínua se f é contínua em qualquer ponto do seu domínio. Diz-se que f é contínua à direita em a se lim fx = fa; x→a + diz-se que f é contínua à esquerda em a se lim fx = fa. x→a − Da definição de limite segundo Cauchy, resulta que f é contínua em a sse ∀δ > 0 ∃ > 0 ∀x : x ∈ D f ∧ |x − a| < |fx − fa| < δ Da definição de limite segundo Heine, resulta que f é contínua em a sse para qualquer sucessão x n , de elementos de D f , se x n → a então fx n → fa. Ana Matos - AMI 07/08 (versão de 26 de Março 08) Acet. Continuidade 1 Prolongamento por continuidade Sendo f e g duas funções com domínios D f e D g , diz-se que g é um prolongamento de f (ou que f é uma restrição de g) se D f D g e ∀x ∈ D f , fx = gx. Diz-se que f é prolongável por continuidade a a, sendo a um ponto de acumulação de D f que não pertence a D f , se existe um prolongamento de f, com domínio D f ∪ a, contínuo em a. Proposição: Seja f : D f ⊆ ℝ → ℝ e a um ponto de acumulação de D f , com a ∉ D f . f é prolongável por continuidade a a sse existe (e é finito) lim fx. x→a Neste caso, o prolongamento por continuidade de f a a é a função g : D f ∪ a → ℝ definida por gx = , se x ∈ D f fx lim fx , se x = a x→a Exemplo: O prolongamento por continuidade de g : ℝ → ℝ definida por gx = Ana Matos - AMI 07/08 sin x x sin x x , se x ≠ 0 1 , se x = 0 (versão de 26 de Março 08) é a função . Acet. Continuidade 2 Teoremas fundamentais das funções contínuas Se a, b ⊆ D f , então diz-se que f é contínua no intervalo a, b se f é contínua em a, b, é contínua à direita em a e é contínua à esquerda em b. Teorema de Bolzano (ou do Valor Intermédio): Seja f : D f ⊆ ℝ → ℝ uma função contínua em a, b, com a < b. Então, para qualquer k estritamente compreendido entre fa e fb, existe pelo menos um c ∈a, b tal que fc = k. Intuitivamente, uma função contínua num intervalo não passa de um valor a outro sem assumir todos os valores intermédios. Corolário 1: Se f é contínua no intervalo a, b e não se anula em algum ponto de a, b, então em todos os pontos de a, b a função f tem o mesmo sinal. Corolário 2: Se f é contínua no intervalo a, b e fa × fb < 0 então f tem pelo menos um zero em a, b. Teorema de Weirstrass: Qualquer função contínua num intervalo a, b (fechado e limitado) tem máximo e mínimo nesse intervalo. Observação: Em qualquer um destes resultados, as condições são apenas condições suficientes; não são condições necessárias. Ana Matos - AMI 07/08 (versão de 26 de Março 08) Acet. Continuidade 3 Propriedades das funções contínuas (relativamente às operações) Proposição: Se f, g são funções contínuas em a e k ∈ ℝ, então: • as funções kf, f + g, f − g, f × g e | f | são contínuas em a; • se ga ≠ 0, as funções 1 g e f g são contínuas em a. Proposição: Se f é uma função contínua em a e g é contínua em fa, então g ∘ f é contínua em a. Teorema (continuidade da função inversa): Se f : I ⊂ ℝ → ℝ é uma função contínua e estritamente monótona em I, então: • • • f é invertível em I; f −1 é estritamente monótona; f −1 é contínua. Observação: O facto de f ser estritamente monótona em I garante que f é injectiva em I. Ana Matos - AMI 07/08 (versão de 26 de Março 08) Acet. Continuidade 4 Aplicação às funções trigonométricas inversas A função seno tem domínio ℝ e contradomínio −1, 1, é periódica (com período 2π, é ímpar, anula-se em x = kπ, com k ∈ ℤ; não é injectiva nem sobrejectiva. Restringindo-a a − π2 , π 2 , temos a restrição principal do seno: sen : − π , π → −1, 1, 2 2 que é contínua e estritamente crescente em − π2 , π2 , logo invertível e com inversa contínua e estritamente crescente em −1, 1: π/2 1 -π/2 0 -1 π/2 0 1 -1 -π/2 sen x arcsen : −1, 1 → − π2 , arcsen x π 2 e y = arcsen x ⇔ sen y = x ∧ y ∈ − π2 , Ana Matos - AMI 07/08 (versão de 26 de Março 08) π 2 Acet. Continuidade 5 A função coseno tem domínio ℝ e contradomínio −1, 1, é periódica (com período 2π, é par e anula-se para x = kπ + com k ∈ ℤ; não é injectiva nem sobrejectiva. π 2 , Restringindo-a a 0, π, temos a restrição principal do coseno: cos : 0, π → −1, 1, que é contínua e estritamente decrescente em 0, π, logo é invertível e a sua inversa é contínua e estritamente decrescente em −1, 1: π 1 π 0 π/2 π/2 -1 0 -1 cos x 1 arccos x arccos : −1, 1 → 0, π e y = arccos x ⇔ cos y = x ∧ y ∈ 0, π Ana Matos - AMI 07/08 (versão de 26 de Março 08) Acet. Continuidade 6 senx A função tangente, definida por tgx = cos x , tem domínio ℝ\ kπ + π2 : k ∈ ℤ e contradomínio ℝ, é periódica (com período π, é ímpar e anula-se em x = kπ, com k ∈ ℤ; não é injectiva mas é sobrejectiva: Restringindo-a a − π2 , tangente π 2 , temos a restrição principal da tg : − π , π → ℝ, 2 2 que é contínua e estritamente crescente em − π2 , π2 , logo é invertível e a sua inversa é contínua e estritamente crescente em ℝ: π/2 -π/2 0 0 π/2 -π/2 arctg x tg x arctg : ℝ → − π2 , π 2 e y = arctg x ⇔ tg y = x ∧ y ∈ − π2 , Ana Matos - AMI 07/08 (versão de 26 de Março 08) π 2 Acet. Continuidade 7 x A função cotangente, definida por cotg x = cos senx , tem domínio ℝ\kπ : k ∈ ℤ e contradomínio ℝ, é periódica (com período π, é ímpar anula-se em x = kπ + π2 , com k ∈ ℤ; não é injectiva mas é sobrejectiva: Restringindo-a a 0, π, obtemos a restrição principal da cotangente: cotg : 0, π → ℝ, que é contínua e estritamente decrescente em 0, π, logo é invertível e a sua inversa é contínua e estritamente decrescente em ℝ: π 0 π/2 π π/2 0 cotg x arccotg x arccotg : ℝ → 0, π e y = arccotg x ⇔ cotg y = x ∧ y ∈ 0, π Ana Matos - AMI 07/08 (versão de 26 de Março 08) Acet. Continuidade 8