Guilherme Cesar Temp Schmidt
REVISTA O DELTA:
IDÉIAS E VOZ DA MAÇONARIA GAÚCHA
(1916-1927)
Passo Fundo
2006
Guilherme Cesar Temp Schmidt
REVISTA O DELTA:
IDÉIAS E VOZ DA MAÇONARIA GAÚCHA
(1916-1927)
Dissertação ap resentada ao Programa de
Pós-G raduação em Histó ria, do In stituto d e
Fi loso fia e Ciên cia s Hu mana s, da Un iversid ade d e
Passo Fundo, como requisito parcial e final para a
obtenção do g rau d e Mest re em Hi stória, sob
orientação da Prof. Dr. Jai me Giolo.
Passo Fundo
2006
_______________________________________________________________
S349r
Schmidt, Guilherme Cesar Temp
Revista O Delta : idéias e voz da Maçonaria gaúcha
(1916-1927) / Guilherme Cesar Temp Schmidt – 2006.
103 f. ; 29 cm.
Dissertação (mestrado) – Universidade de Passo Fundo, 2006.
Orientação: Dr. Jaime Giolo.
1. Rio Grande do Sul - História. 2. Maçonaria. 3. Imprensa.
4. Igreja Católica. I. Giolo, Jaime, orient. II. Título.
CDU 981.65:061.236.6
_______________________________________________________________
Catalogação: bibliotecário Juliano de Lima Rodrigues - CRB 10/1642
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V ict o r Hugo – Os Miserá ve is
Para meu s p a is,
Aldo e Ta is,
por tudo.
6
AGRADECIMENTOS
Meu primeiro agradecimento vai para três pessoas muito especiais em minha
vida, que me apóiam nesta caminhada iniciada à sete anos, minha família: Aldo, Taís e
Anelise, obrigado por tudo, amo vocês!
À Capes, pela bolsa a mim concedida, imprescindível para a realização deste
trabalho.
Aos amigos Lia e Astor. À prof. Eliane “Lia” Colussi, agradeço por aceitar-me
como orientando, acompanhando meu trabalho até a conclusão mesmo estando
desligada do PPGH, pelas aulas de história política e as orientações que sempre foram
muito bem vindas. Ao prof. Astor, pelos devaneios pela história e pela historiografia
através das conversas regadas à chimarrão e churrasco. Ao casal e as crianças, agradeço
a amizade, o carinho e a confiança.
Ao prof. Jaime Giolo, que me acolheu de braços abertos como orientador em um
momento turbulento do programa. Agradeço as orientações e conselhos sempre muito
pertinentes para o amadurecimento de meu trabalho.
Ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul não tenho palavras suficientes para
agradecer abertura dos arquivos para minha pesquisa, assim como todo o apoio e
amparo. A todos os dirigentes da instituição que proporcionaram que este trabalho se
concretizasse, o meu fraterno abraço aos tios: Juracy Vilela de Souza, José Aristides
Firmino, Sylvio Bustamante, Edegar Vieira e Poty Odillon Berny.
Em especial o meu agradecimento e respeito a quatro senhores que convivem
quase que diariamente no subsolo do GORGS: ao tio Chico (Francisco Munhoz
Silveira), agradeço a atenção e a paciência em localizar os documentos do arquivo que,
sem a sua ajuda estaria até hoje perdido em meio as caixas. Ao tio Zé Luis Gonzáles
Montesdeoca, agradeço o acolhimento, as conversas e a forte amizade. Aos tios Dante
7
Bosio e Ibrahim Nunes, exemplos de vida, pelas décadas de sabedoria expressas em
conversas no arquivo regadas a café.
À todos os tios da loja São João da Escócia de Santa Rosa, em especial ao Ven∴
Elton Von Borowsky, por toda a força, apoio e amparo.
Também um agradecimento especial para aqueles que me acolheram em Porto
Alegre no período das pesquisas no arquivo, os primos Ingo, Beatriz e Gabriel Goltz, e
também aos colegas Guto (Zimpel) e Tati (Zismman)
Ao amigo e irmão Diogo “Cego” Freisleben, pelas horas de conversas aleatórias,
às festas, aos momentos destílicos entre outros tantos vivenciados em Passo Fundo, o
meu abraço pelo respeito e a amizade que se fortalece a cada dia.
Aos amigos que conheci com a vinda à Passo Fundo, o meu sincero
agradecimento por estarem em minha vida e por trazerem tantas alegrias: Cristiano
Durat, Ivandro Pissolo, Chulé Hernandez, Batata, Gruma Burtet, Jamé Kives, Lari,
Gabila, Felipe Thomé, Bonfada, Junico, Gio Corso, Beto Zanoni e Claudinha Borella,
vocês são demais!!!
Em especial à três amigas de boa conversa e festa: Natália Bortholacci, Roberta
Zanardo e Karla Saraiva, três lindas mulheres, amigas que se perpetuarão em meu
coração.
À Karyne, por ter entrado em minha vida, pela paciência no final da dissertação
e por todos os bons momentos que vivenciamos em Passo Fundo.
RESUMO
E m 1 8 9 3 fo i c r i a d o o G r a nd e O r i e n t e d o R io G r a nd e d o
S u l, o b e d i ê n c i a m a ç ô n i c a a u t ô n o ma e s o b e r a n a q u e s e
c o n s o l i d a e m s o lo g a ú c ho . E m m e a d o s d a d é c a d a d e 1 9 1 0 ,
s u r g e a r e v i s t a m e n s a l O D e l t a , u s a d a c o mo v o z d a
i n s t i t u i ç ã o e v e í c u l o d i f u s o r d a s i d é i a s p r o mo v i d a s p e l a
inst it u iç ão .
O
i n f o r m a t i vo
in fo r maçõ e s
r e l a c io n a d a s
ao
t raz ia
em
suas
r a c io n a l i s mo ,
p ág ina s
m i s t i c i s mo ,
f i lo s o f i a , c i ê n c i a , h i s t ó r ia e o c o m b a t e a o c l e r o c a t ó l i c o ,
de vido
ao
co nflit o
ent re
as
duas
i n s t it u i ç õ e s .
O
a nt ic l e r i c a l i s mo , a e d u c a ç ã o la i c a s e m v í n c u lo s c o m a
r e l i g i ã o , o r a c io n a l i s mo e o c i e n t i f i c i s mo s ã o o s t ó p ic o s
p r i n c i p a i s d a r e v i s t a , q u e c i r c u lo u d u r a nt e o nz e a no s . O
p r e s e nt e
estudo
bu s c a
mo s t r a r
o
id e á r io
ma çô nic o
r e p r o d u z i d o e t r a n s m it i d o p e l a r e v i s t a a o s m a ç o n s d o R i o
G r a nd e d o S u l.
P a l a vr a s – c h a v e : M a ç o n a r i a , R io G r a nd e d o S u l, I m p r e n s a , I g r e j a
Cat ó lic a.
A B ST R A C T
I n 1 8 9 3 it w a s c r e a t e d t he G r a nd e O r i e n t e d o R io G r a nd e
d o S u l, M a s o n i c o b e d i e n c e a u t o n o mo u s a nd s o v e r e i g n t h a t
c o n s o l i d a t e s i n g a u c ho s o i l . I n t he m i d d l e o f t h e d e c a d e o f
1 9 1 0 , a p p e a r s t h e mo nt h l y m a g a z i n e O D e l t a , u s e d a s t h e
vo i c e o f t h e i n s t it u t io n a n d w i d e s p r e a d v e h i c l e o f t h e
id ea s
p r o mo t e d
br o u g ht
in
it s
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t he
pages
i n s t i t u t io n .
i n fo r m a t io n s
T he
i n fo r m a t i v e
re lat ed
to
the
r a t io n a l i s m, m i s t i c i s m , p h i l o s o p h y, s c i e n c e , h i s t o r y a n d
t he c o m b a t a g a i n s t t h e C a t ho l i c c l e r g y, d u e t o a c o n f l i t
b e t w e e n t h e t w o i n s t it u t io n s . T h e a nt i c l e r i c a l i s m , t h e l a y
e d u c a t io n w it ho u t l i n k w it h t he r e l i g io n, t h e r a t io na l i s m
a nd t h e s c i e n t i f i c i s m a r e t he m a i n p o i nt s o f t he m a g a z i n e ,
w h i c h c ir c u l a t e d d u r i n g e l e v e n ye a r s . T he p r e s e n t s t u d y
a ims
to
s ho w
t he
Ma so n ic
id ea ls
reproduced
t r a ns m it e d b y t h e m a g a z i n e fo r t h e m a s o ns
and
o f t he R i o
G r a nd e d o S u l.
K e y- w o r d s : F r e e m a s o nr y , R io G r a n d e d o S u l, P r i nt i n g
p r e s s , C a t h o l i c C h u r c h.
L I ST A D E A B R E V I A T U R A S E S I G L A S
GORGS
G r a nd e O r i e nt e d o R io G r a n d e d o S u l
GOB
G r a nd e O r i e nt e d o B r a s i l
Ir∴
I r mã o
IIr∴
I r mã o s
Maç∴
Ma ço nar ia
PPot∴
Pot ênc ia s
OOf∴
O fic ina s
Lo j∴
Lo ja
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ______________________________________________ 12
1.
ESTUDANDO A IMPRENSA _____________________________ 18
2.
DA GÊNESE ATÉ O SOLO RIOGRANDENSE _______________ 28
2.1.
O Nas c i me nto na E ur o p a _____________________________ 28
2.2
2.3
Os Pedre iros - livr es c he g a m ao Br as il ___________________ 34
3.
Os neófitos ch egam no Rio G rande do Sul _______________38
MAÇONARIA, IGREJA E EDUCAÇÃO ____________________ 42
3.1
M a ç o n a r i a v e r s u s I g r e j a C a t ó l i c a _____________________________42
3.2
O D e l t a e o p r o g r a m a e d u c a c i o n a l M a ç ô n i c o _________________70
4.
CIENT IFICISMO E POLÍT ICA NAS PÁGINAS DA REVISTA
82
4.1
D i s c u r s o C i e n t i f i c i s t a __________________________________________82
4.2
O D e l t a e a e l e i ç ã o p r e s i d e n c i a l d e 1 9 2 2 _____________________89
5 . C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S ____________________________________ 97
6
B I B L I O G R A F I A _____________________________________________ 100
INTRODUÇÃO
A M a ç o n a r i a s e m p r e fo i u m a i n s t it u i ç ã o c e r c a d a d e d ú v i d a s ,
m i s t é r io s ,
le nda s
e
o rganiz a ção
e
me d ie va is,
p a s s a nd o
m it o s ,
atuação.
r e f l e xo
Seu
por
da
sua
a p a r e c i m e nt o
m u d a nç a s
em
pe cu lia r
r e mo nt a
sua
fo r m a
há
de
t e mpo s
estrutura
e
f u n c io n a m e nt o n o a l vo r e c e r d o s é c u lo X V I I I e m a n t e nd o o e s t a t u t o
at é o s no sso s d ia s.
A M a ç o na r i a c o nt i n u a c o mo u m t e m a q u a s e q u e a u s e n t e n a
h i s t o r io g r a f i a a c a d ê m i c a , p r i n c i p a l m e nt e d e v i d o a i n a c e s s i b i l i d a d e
d a s fo n t e s r e f e r e nt e s à o r d e m . É s e d u t o r a q u e m p e s q u i s a n a á r e a
t e r c o mo o b j e t o d e e s t u d o u m a i n s t it u i ç ã o q u e d e s d e a s u a c h e g a d a
a o p a í s e m 1 8 0 0 c r io u l a ç o s c o m a e l i t e a p o l ít i c a n a c io n a l ,
p a r t ic i p a n d o d e fo r m a d ir e t a o u i n d i r e t a e m v á r io s e p i s ó d i o s d a
h i s t ó r i a br a s i l e i r a .
Sua
p r e s e nç a
no
i m a g i n á r io
po pu lar,
freq üe nt e me nt e
r e l a c i o n a d a m i t o s d e s a t a n i s mo e p a g a n i s mo , o u a o p e r s i s t e nt e m it o
d e c o n s p i r a ç ã o m u it a s ve z e s r e p r o d u z i d o s e m f i l m e s o u l i v r o s
f i c c io n a i s , o n d e a M a ç o n a r i a t e r i a c o mo s e g r e d o u m p l a no d e
do mina ção
do
mu n d o
através
de
g o ve r n o s
libe ra is,
ou
a ind a
c o n s p i r a ç õ e s m i r a b o l a n t e s , c o mo s u g e r e “ O s P r o t o c o lo s d o s S á b i o s
13
d e S i ã o ” 1, l i v r o a m p l a m e nt e d i f u n d i d o a p a r t ir d a d é c a d a d e 1 9 4 0
o nd e d e n u n c i a u m p o s s í v e l c o mp l ô m a ç o m- j u d a i c o - c o m u n i s t a p a r a
a d o m i n a ç ã o d o mu n d o a t r a vé s d o s m e i o s d e c o mu n i c a ç ã o .
O m i s t é r io e n vo lt o na m a ç o na r i a a t é o s d i a s a t u a i s é t a m b é m
r e f l e xo d a a u s ê n c i a d e e s t u d o s a c a d ê m i c o s e s p e c í f i c o s s o b r e a
i n s t i t u i ç ã o , o c a s io n a d o s p e l o i m p e d i m e nt o a o a c e s s o d o s a r q u i v o s
da
ordem
por
hist o r iado res
não
vincu lado s
à
o rde m,
i m p o s s i b i l it a nd o t r a ba l ho s a c a d ê m i c o s s o br e o a s s u n t o .
A s s i m , a p e s q u i s a s o br e a h i s t ó r ia d a m a ç o n a r i a f i c a n a s m ã o s
so me nt e
de
hist o r iado re s
filiado s
à
m a ç o na r i a ,
ger a lme nt e
e s t u d io s o s s e m fo r m a ç ã o na á r e a , f a z e nd o s u a s o br a s e s b a r r a r e m
e m p r o b l e m a s d e c u n ho t e ó r i c o , me t o d o ló g i c o e d o c u m e n t a l, m e s mo
c o m a m p lo a c e s s o a o s a r q u i vo s .
O m a io r e n t r a v e d a l it e r a t u r a m a ç ô n i c a e s c r it a p o r ma ç o n s ,
q u e c h a m a mo s d e o br a s e n g a j a d a s d e v i d o s e u e n vo l v i m e nt o e
c o mp r o m i s s o c o m a i n s t it u i ç ã o , é a c o n s t a nt e m i s t u r a na h i s t ó r i a
d o s i m b o l i s mo m a ç ô n i c o a l i a d o a o a lt r u í s mo d o a u t o r p a r a a
i n s t i t u i ç ã o , c o n f u n d i n d o r e a l i d a d e e f i c ç ã o e r e p r o d u z i d o s c o mo
verdades.
E m o u t r o l a d o e nc o nt r a mo s a o br a s e n g a j a d a s p r o d u z i d a s
p e lo s i n i m i g o s d a i n s t it u i ç ã o , g e r a l m e n t e e s c r it a s p o r a u t o r e s
l i g a d o s à I g r e j a C a t ó l i c a , t r a z e nd o e m s u a s o b r a s a r g u m e n t o s p a r a
a d i f a m a ç ã o d o s p e d r e i r o s - l i vr e s 2, na g r a nd e m a io r i a d a s v e z e s n o
d i s c u r s o d a ve i c u l a ç ã o d a o r d e m c o m s a t a n i s mo e c o n s p i r a ç ã o .
Q u a nt o a o s e s c a s s o s t r a ba l h o s d e c u n h o a c a d ê m i c o , d e v e - s e
ju st a me nt e
ao
e n c l a u s u r a m e nt o
do c u me nt a l
dos
a r q u i vo s
das
o be d i ê n c i a s m a ç ô n i c a s , f a z e nd o c o m q u e a a ç ã o d a i n s t it u i ç ã o q u e
p a r t ic i p o u d e mo m e nt o s p o l ít i c o s d e c i s i vo s n a h i s t ó r i a b r a s i l e i r a
d o s é c u lo X I X f i c a s s e p r a t ic a m e nt e no a n o n i m a t o , p e r ma n e c e nd o
1
A origem e o autor deste texto é desconhecido, mas foi publicado e organizado no país por: BARROSO,
Gustavo. Os Protocolos dos Sábios de Sião. Porto Alegre: Editora Revisão, 5 reedição, 1991.
2
Pedreiro-livre pe a tradução para a palavra maçom , que vem do baixo latim “machio”, que significa
aquele que executa ou dirige o trabalho de alvenaria. TEMPSKI-SILKA, Valton Sergio von. Historial da
Franco Maçonaria. Curitiba: Juruá, 1999. pág 22.
14
a p e n a s n a h i s t o r io g r a f i a o s e p i s ó d io s d a I n d e p e n d ê n c i a d o B r a s i l e
d a Q u e s t ã o R e l i g io s a d e 1 8 7 2 . É s o m e n t e a p a r t ir d o s a n o s 9 0 q u e o
p a no r a m a m u d a , c o m h i s t o r i a d o r e s a c a d ê m i c o s p r e o c u p a d o s c o m a
p r o d u ç ã o e e s t u d o s e s p e c í f i c o s s o br e a M a ç o na r i a b r a s i l e i r a .
A s q u e r e l a s d o a fr o nt a m e n t o q u a s e q u e c o nt i n u o e nt r e I g r e j a
C a t ó l i c a e M a ç o n a r i a a i n d a nã o s e d e s f i z e r a m , m e s m o a p ó s d e
cerca
de
300
a no s
de
e mbat e
e
as
inú me ra s
t e nt a t i v a s
de
a p r o x i m a ç ã o e nt r e a s i n s t it u i ç õ e s , t a nt o p o r p a r t e d a s o r g a n i z a ç õ e s
m a ç ô n i c a s , q u a nt o a a l g u m a s t e nt a t i v a s i s o l a d a s d o c l e r o c a t ó l i c o ,
s e m a p e r m i s s ã o e x p r e s s a d o V a t ic a no .
O c o n f l it o c o nt i n u a d e m a n e i r a a r r a i g a d a a i n d a no s d i a s d e
h o j e , s e nd o a a p r o x i m a ç ã o d a s i n s t it u i ç õ e s b a r r a d a no p r ó p r io
C o n c í l io d o V a t i c a n o I I , e s t e p e r p e t u a d o p e l a g r a n d e a b e r t u r a d a
I g r e j a e m q u e s t õ e s l i g a d a s à f é , à p o l ít i c a e a mo d e r n i d a d e . O
ú lt i mo p a r e c e r d a I g r e j a s o b r e a M a ç o n a r i a é d o a n o d e 1 9 8 4 ,
a s s i n a d a p e lo P r e f e it o d a C o n g r e g a ç ã o d a D o u t r i n a d a F é , C a r d e a l
J o s e p h R a t z i n g e r , a t u a l P a p a B e nt o X V I . N o d o c u me n t o , d iz q u e
t o d o ma ç o m c o n t i n u a s o br e a p e n a d e e xc o m u n h ã o , e q u e o s p a d r e s
e b i s p o s n ã o e s t ã o a u t o r iz a d o s a d e c l a r a r n a d a s o b r e a i n s t it u i ç ã o .
A s s i m , a c r e d it a m o s q u e é n e c e s s á r io a d e s m i s t i f i c a ç ã o d a
a ç ã o d a m a ç o na r i a na s o c i e d a d e d e s d e o s e u p r i n c í p i o , p o r e s t a r
l i g a d a à s p r i n c i p a i s c e n a s p o l ít i c a s , t a nt o n a c io n a i s c o mo r e g i o na i s
d o s s é c u lo s X V I I I e X I X d o m u nd o o c id e nt a l , e p a r a t a l, é
nec es sár ia a urge nt e a bert ura do s ar q u ivo s da s o bed iê nc ia s par a o
uso aca dê mico .
O que mo ve a cur io s ida de d e qu e m pes qu is a a ma ço nar ia ?
P o d e r ia e l e n c a r vá r i o s f a t o r e s , ma s s e m d ú v i d a é o a r d e s e g r e d o e
m i s t é r io
que
e la
o s t e nt a ,
j u n t a m e nt e
co m
sua
fo r m a
de
f u n c io n a m e n t o q u e h á s é c u lo s a s s e g u r a s e u e s p a ç o p a r a ho m e n s
m a i s d i s t i nt o s p o s s í v e i s , a g l u t i n a n d o e m s e u q u a d r o f i l i a d o s d o s
m a i s d i v e r s o s c r e d o s , r a ç a s , i d e o lo g i a s , o f í c io s e i d a d e s , t o r n a nd o s e u m a i n s t it u i ç ã o c o s mo p o l it a p o r e x c e l ê n c i a .
15
O m e u i nt e r e s s e e a l i g a ç ã o c o m M a ç o n a r i a ve m à c e r c a d e 2 0
a no s, qua ndo e m u ma “co nver sa ao pé do o uvido ” meu pa i co nt o um e q u e t i n h a i n g r e s s a d o n a M a ç o n a r i a . S a be n d o a p e na s q u e e r a u m
s e g r e d o , n ã o s a b e n d o o q u e r e a l m e nt e e r a a i n s t it u i ç ã o o u o q u e o
m e u p a i d e s e m p e n h a v a n e l a , f i c o u n a l e m b r a n ç a d e s t e p e r ío d o ,
ape na s a ima ge m do s a braço s frat er na is e nt re e le e a lg u ns se nho re s
c o mo s e r e a l m e nt e fo s s e m i r m ã o s o u a m i g o s d e lo n g a d a t a .
A l i á s , a c r e d it o q u e e s s e s e j a o ú n i c o s e g r e d o d a M a ç o n a r i a .
N ã o c o n s e g u i e n t e n d e r o q u e e x i s t e e nt r e a s s u a s c o l u na s , p a r a
f a z e r s e u s f i l i a d o s t r a t a r e m- s e e r e s p e it a r e m - s e c o mo ir m ã o s . N ã o
e x i s t e o u t r a i n s t it u i ç ã o d e a l c a n c e m u nd i a l q u e f a ç a d e u m a
simp le s
i d e nt i f i c a ç ã o
a t r a vé s
do
aperto
de
mão
t r a n s fo r m a r
rap ida me nt e mero s de s co nhec ido s e m ve lho s a migo s.
P a r a q u e e s s a p e s q u i s a s e r e a l i z a s s e , e r a ne c e s s á r i a a e n t r a d a
n o a r q u i v o d o G r a nd e O r i e nt e R io G r a nd e d o S u l e , d i a n t e d a
p o s s i b i l i d a d e d e e f e t u a r a p e s q u i s a , c o m e c e i a f a z e r c o nt a t o co m a
d ir e t o r i a d o G O R G S , o b t e nd o a a u t o r i z a ç ã o d o G r ã o - M e s t r e J u r a c y
V i l e l a d e S o u z a e d o G r a n d e S e c r e t á r io S y l v i o B u s t a m a n t e p a r a a
a b e r t u r a t o t a l d o a r q u i v o d a i n s t it u i ç ã o p a r a a p e s q u i s a , e j u n t o o
p e d i d o q u e fo s s e d e i x a d o d e l a d o q u e s t õ e s r e l a t i v a s a o e m b a t e c o m
a I g r e j a C a t ó l i c a , d e v i d o a a t u a l a p r o x i m a ç ã o e nt r e o G O R G S e o
a r c e b i s p o me t r o p o l it a no d e P o r t o A l e g r e , D o m D a d e u s G r i n g s .
Ma s co m o deco rrer do traba lho de arqu ivo e a ná lis e do s
d o c u m e n t o s d a s l o j a s d o G O R G S e d o p r ó p r io O D e l t a , c h e g a mo s a
c o nc l u s ã o q u e é i m p o s s í v e l d e i x a r d e l a d o o e n t r a ve c o m a I g r e j a
Cat ó lic a.
T a m a n h a i m p o s s i b i l i d a d e é p r o p o r c io n a d a e x a t a m e n t e p o r s e r
o a n t i - c l e r i c a l i s mo e a l i b e r d a d e d e c o n s c i ê n c i a a s p r i n c i p a i s
b a nd e i r a s l e v a n t a d a s p e l a m a ç o n a r i a na q u e l e mo m e nt o , p e r ío d o
r e l a t i v o a o a u g e d o c o n f l it o e nt r e a s d u a s i n s t it u i ç õ e s . D e u m l a d o
u ma
Igre ja
conser vadora
e
r e a c io n á r i a
a lic er çad a
na
p o l ít i c a
u lt r a mo n t a n a e d e o u t r o , u m a M a ç o na r ia o nd e o r a c io n a l i s mo e a
liberdade
de
c o ns c i ê n c i a
t o r na m - s e
ba nd e ira s
o fic ia is
da
16
i n s t i t u i ç ã o . Ad i c i o n e a i n d a a bu s c a d e e s p a ç o , a t u a ç ã o e a g r e g a ç ã o
d a s i n s t it u i ç õ e s p a r a o p o vo .
N ã o a c r e d it a mo s q u e h a j a mo t i vo s p a r a n e g a r o u o m it i r o s
f r u t o s d e s s a r e l a ç ã o , p o i s o p a s s a d o n ã o d e ve s e r n e g a d o o u
o m it i d o . P o r c o n s e q ü ê n c i a d i s s o , é i m p o s s í v e l d e t r a b a l h a r c o m O
D e l t a o u q u a l q u e r o b j e t o d a M a ç o n a r i a r e f e r e nt e a e s t e mo m e nt o
s e m f a l a r d o c o n f l it o c o m a I g r e j a C a t ó l i c a .
A p e s q u i s a d i v i d i u - s e e m t r ê s p a r t e s : no p r i m e ir o mo m e nt o
e l a s e a t e v e à bu s c a d e fo nt e s p r i m á r i a s p a r a o e s t u d o , a c a r r e t a n d o
a p e s q u i s a d u r a nt e t o d o o a no d e 2 0 0 4 e n v o l v e n d o u m a s e m a n a p o r
m ê s d e nt r o d o a r q u i vo d o G O R G S . D e nt r o d a s c a i x a s s e p a r a d a s d e
a c o r d o c o m a s lo j a s , t i ve s u r p r e s a s u m t a nt o i nt r i g a n t e s , a o c o n s t a r
d o c u m e n t o s q u e s e r e f e r i a m a i n d a a o p e r ío d o a nt e r io r à a bo l i ç ã o d a
e s c r a v a t u r a , a o p e r ío d o d e g o ve r n o d o P R R , br i g a s lo c a i s e nt r e
m a ç o n s e p á r o c o s , o u c a r t a s a s s i n a d a s à p u n ho p o r p o l ít i c o s e
p e r s o n a l i d a d e s c o mo
Ka r l V o n Ko z e r it z e A n t ô n io B o r g e s d e
Med e iro s.
E n t r e a s c a i x a s c o m o s p a p é i s ve l h o s d a s lo j a s na m a io r i a
a d o r me c i d a s 3, e n c o nt r e i u m a c a i x a c o n t e n d o o s e xe m p l a r e s d a
re vist a O D elta, vo z da Ma ço nar ia g aú c ha dur a nt e qua se o nz e a no s.
E n t r e a s no t í c i a s v i n c u l a d a s a o jo r n a l , a d e f e s a d o r a c i o na l i s mo ,
l a i c i s mo e d o c i e n t i f i c i s mo , s e m p r e d ir e c io n a d o s a u m a c r ít i c a
f e r r e n ha à I g r e j a C a t ó l i c a .
N o s e g u n d o mo m e nt o d a p e s q u i s a , f i z e mo s a c a t a lo g a ç ã o d e
t o d a s a no t í c i a s d o s e xe m p l a r e s d e O D e l t a , u lt r a p a s s a n d o m a i s
3 . 0 0 0 p á g i n a s d e m a t e r i a l, g r a n d e p a r t e i né d it o . E m u m t r a b a l h o
p e no s o , t o d a s a s no t í c i a s , a r t i g o s e d i s c u r s o s fo r a m f i c h a d o s ,
p r o p o r c io n a n d o u m p a no r a m a g e r a l d a r e v i s t a e c o n s e q ü e nt e m e nt e
d o s a n s e io s d a i n s t i t u i ç ã o , t a m b é m f a c i l it a nd o a c o n s t r u ç ã o d o
t ext o .
3
Termo para designar as lojas que não existem mais. Também pode ser usado o termo “abater colunas”
17
A ú lt i m a p a r t e a t e ve - s e à bu s c a e l e i t u r a d e o br a s r e f e r e n t e s à
Ma ço nar ia
e
o
per ío do
em
que
o
p e r ió d i c o
se
e n c o nt r a va ,
j u n t a m e n t e c o m a c o n f e c ç ã o d a d i s s e r t a ç ã o . É c la r o q u e o s o nz e
a n o s d e e x i s t ê n c i a d a r e v i s t a i m p e d e q u e s e j a m d i s c u t id o s e
t r a ba l h a d o s t o d o s o s a s s u nt o s e xp r e s s o s n a s p á g i n a s d a r e v i s t a e m
a p e n a s u m t r a ba l ho , s e n d o e s c o l h i d a s p a r a t a l a s n o t íc i a s m a i s
r e l e v a nt e s p a r a o e nt e nd i m e nt o d o q u e s i g n i f i c o u O D e l t a .
A s s i m , p r o p o mo s n e s t e t r a b a l ho a n a l i s a r o q u e o p e r ió d i c o
v i n c u l o u e m s u a s p á g i n a s e m u m m o m e nt o ma r c a d o p e l a p e r d a d e
e s p a ç o d a M a ç o n a r i a f r e nt e a e s t r u t u r a ç ã o e a e x p a n s ã o d a I g r e j a
C a t ó l i c a , t e n d o c o mo c e n á r io o R io G r a n d e d o S u l. O l e it o r n ã o
e n c o n t r a r á n a s p r ó x i m a s p á g i n a s a r e ve l a ç ã o d e n e n h u m s e g r e d o
m a ç ô n i c o , m a s s i m u m t r a b a l ho s o br e o ve í c u lo q u e r e p r e s e n t a va a
v o z d a d i r e ç ã o d o G r a n d e O r i e nt e d o R io G r a n d e d o S u l p a r a s e u s
f i l i a d o s e s i m p a t iz a nt e s .
1 . E ST U D A N D O A I M P R E N S A
A I m p r e n s a é a vo z d e u m t e m p o . . .
Med ia nt e
a
um
v e í c u lo
in fo r mat ivo
em
ma ssa,
p o d e mo s
r e mo n t a r o p a s s a d o a t r a vé s d a a ná l i s e d o d i s c u r s o i n c l u s o s e j a e m
s u a s n o t íc i a s o u a r t ig o s . U m p e r ió d i c o g e r a l m e nt e r e t r a t a o p e r ío d o
a t r a v é s d a i n fo r m a ç ã o , m e s mo q u e n e l a n ã o e s t e j a r e p r o d u z i d o o
c o t id i a n o o u a e s t r u t u r a d a s o c i e d a d e q u e a r e t r a t a .
M a s p a r a u m h i s t o r i a d o r u s a r u m v e í c u lo d e c o mu n i c a ç ã o e m
m a s s a c o mo fo nt e d o c u m e nt a l p a r a a p e s q u i s a , d e v e a n t e s d e t u d o
ter
o
c o n h e c i m e nt o
c o mu n i c a ç ã o
se
p r é v io
refere,
do
co nt ext o
n e c e s s it a n d o
um
em
que
estudo
o
m e io
de
m i n u c io s o
da
s o c i e d a d e e m q u e o p e r i ó d i c o c i r c u l a p a r a u m a c o nt e x t u a l i z a ç ã o ,
s o b o p e r i g o d e n ã o o fa z e r d e c o n s t r u ir u m a o br a s o br e f r a c o s
p ilare s.
S o m e n t e a s s i m é q u e u m m e io d e c o mu n i c a ç ã o d e m a s s a
ganha
um
p le no
hist ó r ica
de
c o nt e ú d o
das
sig nific a do ,
e l e m e nt a r
fo l h a s
t r a ns f o r m a nd o - s e
i m p o r t â nc i a .
impre ssa s
é
o
em
u ma
Tão
i m p o r t a nt e
que
a c o nt e c e
fo n t e
q u a nt o
e nt o r no
o
do
p e r ió d i c o , o u s e j a , a s o c i e d a d e q u e d á p l e no va l o r a o q u e r e a l m e n t e
r e p r e s e nt a a p u b l i c a ç ã o .
S e n d o e s t e u m e s t u d o s o br e a i m p r e n s a m a ç ô n i c a d o c o m e ç o
d o s é c u lo
X X, ca be pr ime ira me nt e ao
hist o r iado r co nhec er o
19
e n t o r no d o jo r n a l , q u e no c a s o , é a s o c i e d a d e g a ú c h a . O p e r ío d o
e s t u d a d o c a r a c t e r i z a - s e p o r e l e m e nt o s c o n f l it a n t e s q u e p e r m e i a m a
s o c i e d a d e g a ú c h a , l e v a n d o e m c o nt a a p o p u l a ç ã o d í s p a r , a a d o ç ã o
de
pro jet o
g o v e r na m e nt a l
ú nico
no
pa ís
baseado
em
linha s
p o s it i v i s t a s e a u t o r it á r i a s , e c o m a I g r e j a C a t ó l i c a c r e s c e nd o d e
mo d o s u r p r e e nd e nt e , p r e o c u p a d a c o m a fo r m a ç ã o d e u m a s ó l i d a
e l it e i n t e l e c t u a l c a t ó l i c a .
A m a ç o n a r i a r io g r a nd e n s e ( G O R G S ) , t e v e c e r t a p e c u l i a r i d a d e
e m s u a fu n d a ç ã o , q u e e f e t i v o u - s e a t r a v é s d o r o mp i m e nt o d a s lo j a s
g a ú c h a s c o m a p r i n c i p a l p o t ê n c i a m a ç ô n i c a na c io n a l, o G O B ,
co nseg u indo
ag lut ina r
em
seu quadro
u ma
e l it e
int e le ct ua l
e
f i n a n c e i r a d e m a n e i r a s u r p r e e n d e nt e , a va n ç a n d o e p r o s p e r a nd o e m
todo
o
R io
Grande
do
Su l.
Desde
a
sua
f u nd a ç ã o ,
co m
a
p r e o c u p a ç ã o e m d a r vo z a s u a e l i t e i nt e l e c t u a l e d a s u a d i r e t o r ia , a
i m p r e n s a s e m p r e fo i u m m e io u t i l i z a d o p e l a i n s t it u i ç ã o e m d i v u l g a r
s e u i d e á r io e s u a s d i r e t r iz e s , c u l m i n a nd o e m 1 9 1 7 c o m a f u n d a ç ã o
d o jo r na l m e n s a l O D e l t a .
A c o nt e xt u a l i z a ç ã o
c o mo
ac ima
é
nec essár ia
(a ind a q ue
s u c i n t a , n o d e c o r r e r d o t r a ba l ho s e r á m e l h o r c o nt e x t u a l i z a d o ) p a r a
q u e o h i s t o r ia d o r t e n h a c o ns c i ê n c i a d a s it u a ç ã o d a s o c i e d a d e e m
q u e o p e r ió d i c o f a z p a r t e , t o r na n d o p o s s í v e l o u s o d e s t e c o mo fo nt e
h i s t ó r i c a . N o c a s o d a m a ç o na r i a g a ú c h a , f a t o r e s c o mo a b u s c a p o r
m a io r e s p a ç o n a s o c i e d a d e , o m a io r a l c a n c e d a s i n f l u ê n c i a s d a
i n s t i t u i ç ã o , o c o n fr o nt o d ir e t o e nt r e a I g r e j a C a t ó l i c a j u nt a m e nt e
co m
a
sit ua ção
p o l ít i c a ,
eco nô mica
e
so c ia l
da
so c ied ad e
r io g r a nd e n s e é q u e t o r na - s e p o s s í v e l a a ná l i s e d o d i s c u r s o e d o
i d e á r i o q u e p e r m e i a o jo r na l.
A m a ç o n a r i a , u m a i n s t it u i ç ã o q u e p r i m a p e lo s e u c a r á t e r
s i g i l o s o , o nd e o s e g r e d o é e lo p r i n c i p a l d e l i g a ç ã o e u n i ã o e n t r e
s e u s f i l i a d o s , f a z c o m q u e s e u p r ó p r io ve í c u lo d e c o mu n i c a ç ã o
carreg as s e u ma car ga de co mp le x ida des e inco er ê nc ia s. Me s mo
s e n d o u m v e í c u lo o f i c i a l , l e g ít i m o e d e s t i n a d o à m a ç o n s , o s e u
dest ino
era
não
s o me nt e
ao
p o vo
ma ç ô n i c o ,
ma s
t a mbé m
a
20
pro fa no s 4
que
se
i nt e r e s s a s s e m
p e lo
i d e á r io ,
t e ndo
a mp la
d ist r ibu iç ão no est ado .
A c o mp l e x i d a d e a u m e nt a a nt e s m e s mo d e u s a r o c o nt e ú d o d o
jo r n a l c o mo fo nt e p r o p r i a m e nt e d i t a , a o q u e s t io na r o p o r q u ê d o
m e io . Q u e m e s c r e ve e o p o r q u e e s c r e ve , q u a i s o s p r o p ó s it o s d a s
l i n h a s e s c r i t a s d e v e m s e r q u e s t io n a d a s c o m v i g o r e i n t e n s i d a d e p o r
aque le qu e o pesqu isa.
S e u m jo r n a l o p e r á r io é e s c r i t o p o r o p e r á r io s ( s e n ã o , é p o r
a l g u é m e ng a j a d o
no
mo v i m e n t o ) , d e s t i n a - s e a u m p ú b l i c o
de
o p e r á r io s , c o m i d e á r io a f a vo r d e o p e r á r io s e v i s a n d o s e m p r e
i n f o r m a r , mo v i m e n t a r o u m e s mo m a n i p u l a r o p e r á r i o s . O m e s mo i r á
a c o nt e c e r e m m e i o s d e i m p r e n s a m a ç ô n i c o s , c a t ó l i c o s , p r o t e s t a n t e s
o u s e j a q u a l fo r a i n s t it u i ç ã o q u e o v e í c u lo e s t e j a e n g a j a d o .
U m j o r na l n a d a m a i s é q u e a vo z d e s e u a mo , s e j a e l e c r e n t e
o u d e s c r e nt e , l i b e r a l o u c o m u n i s t a , d e d i r e it a o u d e e s q u e r d a . O
p a p e l d e u m jo r n a l , e a i n d a m a i s
fa l a n d o
e m u ma imp re nsa
e n g a j a d a d o i n í c io d o s é c u lo X X , é d e f e n d e r o i d e á r i o q u e s e u
p r o p r ie t á r io a n s e i a . At r a v é s d a i m p r e n s a , s e j a e l a e n g a j a d a o u n ã o
n u n c a c o n s e g u i r e mo s c o n h e c e r n a p l e n i t u d e a o p i n i ã o p ú b l i c a , j á
q u e e s t a mo s f a l a n d o d e p e s s o a s o u g r u p o s d e p e s s o a s q u e d e f e n d e m
i d é i a s a t r a v é s d o v e í c u lo .
P o d e mo s r e p r e s e nt a r o s me i o s d e c o m u n i c a ç ã o c o mo u m
s i s t e m a d e “ g u i a d e c o n s c i ê n c i a s ” 5, o nd e o p r o je t o f i n a l s e j a
“ c a t e q u i z a r ” s e u s l e it o r e s e m a l g u m d e t e r m i n a d o a s s u n t o . S e m
m a i s , n e m m e no s , u m g u i a d o u t r i na d o r .
A M a ç o na r i a b r a s i l e i r a m a nt e ve a o lo n g o d a s u a h i s t ó r ia no
Brasil
u ma
preocupação
per ma ne nt e
com
a
d ivu lg aç ão
de
i n f o r m a ç õ e s e d e i d é i a s , a t r a vé s d a i m p r e n s a . C o n t u d o , fo i a p a r t ir
4
É usual na maçonaria chamar de profano todo aquele não iniciado na ordem.
FERNÁNDEZ, Celso Almuiña. Prensa y opinión pública La Prensa como fuente histórica para el
estúdio de la masoneria. In: BENIMELI, José Antonio Ferrer(org.). Masoneria, Política y Sociedad I.
Zaragoza: Centro de estudios historicos de la Masoneria española, 1989 . p. 252.
5
21
d e 1 8 7 1 q u e e l a c o n s e g u i u m a t e r i a l i z a r u m a p r o p o s t a d e jo r na l q u e
p a s s o u a c i r c u l a r s i s t e m a t i c a m e nt e a p a r t ir d a q u e l e m o m e nt o .
O p r i m e i r o v e í c u lo d e c o mu n i c a ç ã o l i g a d o à m a ç o n a r i a no
p a í s f o i o d e no m i n a d o “B o l e t i m d o G r a n d e O r i e n t e d o B r a s i l ” ,
p u b l i c a d o no R io d e J a n e i r o , e r a d i s t r i b u í d o o s m a ç o n s d e t o d o o
p a í s . F o i a p a r t ir d e s t e mo d e lo d e i m p r e n s a q u e a s m a ç o n a r i a s
r e g io n a i s e m u n i c i p a i s e s t r u t u r a r a m s e u s p r ó p r io s v e í c u lo s d e
c o mu n i c a ç ã o .
N o c a s o d o R i o G r a nd e d o S u l , a s i n i c i a t i v a s m a ç ô n i c a s o u d e
m a ç o n s p a r a v i a b i l i z a r jo r na i s e r e v i s t a s p r ó p r ia s s e d e p a r o u c o m
i n ú m e r a s d i f i c u l d a d e s , s e nd o a s d e o r d e m f i n a n c e i r a s a s m a i s
f r e q ü e nt e s .
N o i n í c io d o s é c u lo X X , O D e l t a s e r á a vo z a t i v a d a e l it e
i n t e l e c t u a l d a m a ç o n a r i a g a ú c h a , e é i n s t ig a n t e q u e a g r a n d e
m a io r i a e s c r it o r e s c o l a bo r a d o r e s d a r e v i s t a e r a m l i g a d o s a lo j a s
m a ç ô n i c a s i n s t a l a d a s d e P o r t o A l e g r e . O s t e m a s , i d é i a s e o p i n iõ e s
e x p r e s s a s n o p e r i ó d i c o n ã o c o r r e s p o n d i a m m u it a s v e z e s a s i d é i a s
q u e a g r a n d e m a io r i a d o s n e ó f it o s a c r e d it a v a m . O r e c u r s o d e u s a r a
impr e nsa
c o mo
vo z
o fic ia l
da
i n s t it u i ç ã o
na s ce
quase
que
s i m u lt a n e a m e n t e j u nt o c o m a p r ó p r i a f u n d a ç ã o d o G r a n d e O r i e nt e
d o R io G r a nd e d o S u l.
A e sc asse z d e e st udo s e spe c ífico s
s o b r e a t r a j e t ó r ia d a
m a ç o n a r i a b r a s i l e ir a é u m a c o n s t a nt e . N a h i s t o r io g r a f i a t r a d i c io n a l ,
a m a ç o na r i a é t r a t a d a e s p a r s a m e nt e , s e m p r e e m p a s s a g e n s r á p i d a s e
m u it a s ve z e s q u e s t io ná v e i s . D e ve - s e i s s o à f a lt a d a a be r t u r a d o s
a r q u i v o s m a ç ô n i c o s , q u e d i f e r e nt e m e nt e d a m a ç o n a r i a e u r o p é i a ,
o nd e j á fo r a m a b e r t o s o s a r q u i vo s à c o m u n i d a d e a c a d ê m i c a , a
m a ç o n a r i a br a s i l e i r a a i n d a e n c o r t i na - s e à f e c h a r s e u s a r q u i v o s à
a c a d ê m i c a , d e i x a n d o u m va s t o ma t e r i a l h i s t ó r ic o n a i n é r c i a , q u e
c o m a s u a a b e r t u r a p r o p o r c io na r i a v á r ia s r e l e it u r a s d a s p a s s a g e n s
d a i n s t it u i ç ã o na h i s t ó r i a br a s i l e i r a , r e f l e x o d o e n c l a u s u r a m e n t o
d o c u m e n t a l q u e a s o be d i ê n c i a s i n s i s t e m e m m a nt e r .
22
A
ba r r e i r a
t a ma n h a ,
l e v a nt a d a
sendo
ir r i s ó r i a
pe la
a
academia
q u a nt i a
s o br e
de
teses
o
e
a s s u nt o
é
d issert açõ es
p r o d u z i d a s e s p e c i f i c a m e nt e s o br e a m a ç o na r i a , f a z e nd o d e u m a
inst it u iç ão
que
mo m e nt o s
t a nt o
p er meo u
a
c o r r i q u e ir o s
po lít ic a
q u a nt o
na c io n a l
em
i m p o r t a nt e s
c o ns t a nt e s
do
passado,
f i c a s s e e m t o t a l e s c u r i d ã o , e s q u e c i m e n t o e m i s t é r io .
A
po ssib ilid ad e
deste
t r a ba l h o
ser
rea liz ado
d e ve - s e
a
a b e r t u r a , a i n d a q u e e x c e p c i o na l p a r a a p e s q u i s a no a r q u i vo d o
G r a nd e O r i e n t e d o R io G r a n d e d o S u l . N o s u b s o lo d o p r é d io d o
p o d e r c e nt r a l d a i n s t it u i ç ã o , e n c o nt r a m- s e c e nt e na s d e c a i x a s d e
a r q u i v o - m o r t o co m d o c u m e nt a ç õ e s a i nd a a nt e r io r e s a f u n d a ç ã o d a
o be d i ê n c i a , e m 1 8 9 3 .
M a s s e fo nt e p a r a h i s t ó r ia p o d e s e r t o d o o ma t e r i a l q u e
po ssib ilit a a r eco nst rução do pa ssad o , é nece ssár io le mbrar qu e
u m a fo n t e d e v e c a r r e g a r u m a s é r i e d e q u a l i d a d e s , c o m e ç a nd o p e l a
p r o c e d ê n c i a d o d o c u m e nt o , p a s s a n d o p e lo c o n h e c i m e nt o p r é v io d o
h i s t o r i a d o r s o b r e o a s s u n t o , e p o r f i m a a ná l i s e d o c o nt e ú d o , q u e
mo s t r a r á ve r a c i d a d e o u a fa l s i d a d e d o q u e l h e é t r a n s m it i d o .
Aliá s,
u ma
i n fo r m a ç ã o
fa lsa
em
um
per ió d ico
q u a nd o
d e s c o b e r t a p e lo h i s t o r ia d o r , p o d e r á a i n d a s e r m a i s r e l e v a nt e a o
t r a ba l h o
que
i n d e p e nd e nt e
u ma
do
“verdade
t ipo
de
abso luta”.
fo n t e
Quere mo s
hist ó rica,
se mpr e
d iz er
que
t e mo s
que
s u b m e t ê - l a a u m a r í g i d a c r ít i c a , t e n d o e m m e nt e o h i s t o r ia d o r d o
t i p o d e d o c u m e nt a ç ã o q u e e s t á i nt e r r o g a n d o e o q u e bu s c a .
Q u a n d o r e c o n s t r u í mo s o p a s s a d o , a u t i l i z a ç ã o d o p e r ió d i c o
c o mo fo nt e d e v e s e r v i s t o n ã o c o mo u m a fo nt e q u a l q u e r , p o i s a
s u a s p a r t i c u l a r i d a d e s e p o s s i b i l i d a d e s d i f e r e m - s e d o s o u t r o s t ip o s
d e d o c u m e nt a ç õ e s .
C e l s o A l m u i ñ a F e r ná n d e z 6 e m s e u e s t u d o s o br e i m p r e n s a
m a ç ô n i c a e s p a n ho l a , a l e r t a s o br e o v a lo r p o l i s s ê m i c o d o e s t u d o
FERNÁNDEZ, Celso Almuiña. Prensa y opinión pública La Prensa como fuente histórica para el
estúdio de la masoneria. In: BENIMELI, José Antonio Ferrer(org.). Masoneria, Política y Sociedad I.
Zaragoza: Centro de estudios historicos de la Masoneria española, 1989. p. 248.
23
s o br e a i m p r e n s a . A i n f i n i t a s p o s s i b i l i d a d e s d e i nt e r r o g a r s o br e a s
q u e s t õ e s m a i s d i s t i nt a s q u e u m p e r ió d i c o l e v a c o n s i g o . S o ma n d o a
m u d a n ç a d e d i s c u r s o , o s a l vo s e p ú b l i c o d u r a nt e a s u a e x i s t ê n c i a ,
f a z d o j o r na l u m a fo nt e p o l i s s ê m i c a p o r e x c e l ê n c i a r i c a , p o r é m n ã o
u n i v e r s a l . T o d o p e r ió d i c o t e m e m s u a e s s ê n c i a u m a d e t e r m i n a d a
t i p o lo g i a d e l e it o r e s e s p e c í f i c o s . As s i m , n o t r a n s c o r r e r d o t e mp o , a
s o c i e d a d e o r g a n i z o u o s m a i s v a r i a d o s t ip o s d e jo r n a i s , d e s t i n a d o s
s e m p r e a a l g u m t ip o d e l e it o r e m e s p e c i a l . P o d e mo s e n c o n t r a r
p e r ió d i c o s i m p r e s s o s vo lt a d o s p a r a s it u a ç ã o , p a r a o p o s i ç ã o , p a r a
f i é i s , p a r a o s a s s e c l a s d e a l g u m a i n s t i t u iç ã o q u a l q u e r . U m m e i o d e
c o mu n i c a ç ã o e m m a s s a é u m a fo r t e a r m a d e p r o p a g a ç ã o d e i d é i a s ,
q u e d e s d e s u a p r ó p r i a g ê n e s e c r e s c e u d e fo r m a v e r t i g i no s a .
P o d e mo s a f i r m a r é o q u e t o do o p e r ió d i c o o fe r e c e s ã o p o n t o s
d e v i s t a . É i m p o r t a nt e t e r s e m p r e e m m e n t e , o q u ê o p e r i ó d i c o
a n a l i s a d o b u s c a e o q u e e l e d e f e n d e . E é e s s a bu s c a / d e f e s a d e
i d é i a s q u e d e v e s e t r a ns f o r m a r na s q u e s t õ e s c e nt r a i s q u e p o s s a m
s e r i n t e r r o g a d a s . É e s s e o p o nt o f u nd a m e nt a l d o e s t u d o d e m e io s d e
c o mu n i c a ç ã o e m m a s s a d e v e a p r e s e n t a r . O q u e o s ho m e n s q u e o
e s c r e v e m q u e r e m o u p r e t e n d e m a l c a n ç a r a t r a v é s d o m e io .
D e v i d o a s m a i s d i f e r e nt e s p e c u l i a r i d a d e s q u e u m p e r ió d i c o
o f e r e ç a , c a d a u m d e v e s e r s e m p r e a n a l i s a d o d e fo r m a e s p e c í f i c a .
U m jo r n a l m a ç ô n i c o g a ú c ho t e r á p o nt o s d e e nc o nt r o c o m q u a l q u e r
o u t r o jo r n a l m a ç ô n i c o , s e j a e l e b r a s i l e ir o o u e s t r a ng e i r o . M a s n e m
p o r i s s o d e v e m s e r a n a l i s a d o s d a m e s m a fo r m a , p o i s a é p o c a , o
l u g a r , o i d e á r io e o c o t id i a no r e f l e t e m d i r e t a m e n t e n o m e io d e
in fo r maç ão .
E s t a s p e c u l i a r i d a d e s e s t ã o d ir e t a m e n t e l i g a d a s a d i m e n s ã o
s o c i a l q u e o m e io e s t a be l e c e . A t i p o lo g i a d o s l e i t o r e s e o d i s c u r s o
s ã o fu n d a m e nt a i s p a r a o c o n h e c i m e n t o d o a l c a n c e d a d i m e n s ã o
s o c i a l q u e a p u b l i c a ç ã o o fe r e c e .
Re fle xo d iret o de qua lquer ve ícu lo de impr e nsa é o a lca nce e
a p o s s i b i l i d a d e d a m u d a n ç a o u d a r e it e r a ç ã o d a o p i n i ã o p ú b l i c a
d a q u e l e s q u e t e m o a c e s s o i n fo r m a t i vo . I n d i f e r e n t e d e t e m p o e
24
lo c a l , a o p i n i ã o p ú b l i c a nu n c a s e r á e s t á t ic a , s e m p r e o s c i l a p r o s
m a i s d i f e r e nt e s l a d o s , o q u e i n d i c a s u a c o n s t a n t e m u d a n ç a e
c o mp l e x i d a d e .
B a s e a d o n i s s o , o h i s t o r ia d o r d e ve r á s e m p r e q u e s t io n a r a
v a l i d a d e e a no v i d a d e e m q u e u m d e t e r m i n a d o a r t ig o p u b l i c a d o , s e
vai
de
e nco nt ro
ou
há
um
c o n s e n t i m e nt o
à
estrutura
m e nt a l
c o le t i v a , c o mo no n o s s o c a s o , o d i s c u r s o ne m s e m p r e e nc a i x a e é
c o n s e n t i d o p e lo s l e it o r e s .
O p e r ió d i c o , p o r s u a e s s ê n c i a , é o p r o d u t o do me io q u e o
p r o d u z . S e n d o e l e e n g a j a d o p o r u m a i n s t it u i ç ã o q u a l q u e r , o u a i n d a
d e u m a i m p r e n s a v o lt a d a a i n fo r m a ç ã o g e r a l d a p o p u l a ç ã o , e l a
s e m p r e s e r á f r u t o d o me io e m q u e e x i s t e . D a í a i m p o r t â n c i a d o
c o n h e c i m e nt o
pré vio
do
pe squ isa do r
do
c o nt e xt o
em
que
o
p e r ió d i c o fo r a e s c r it o . C a s o c o n t r á r io , e s t a r e m o s f a d a d o s a u t i l i z a r
e r r o ne a m e n t e e s s a fo nt e .
Q u e r e mo s
impr e nsa,
p e lo
r e it e r a r
v a lo r
a
que
nec essid ad e
carrega
l a t e nt e
e m a n u nc i a r
do
à
estudo
da
det er mina d a
s o c i e d a d e i d é i a s e o p i n iõ e s . A c r e d it a mo s q u e s e j a i m p o s s í v e l p a r a
o e n t e nd i m e n t o p l e n o d a s o c i e d a d e e d a p r ó p r i a r e c o ns t r u ç ã o d a
h i s t ó r i a , e x c l u i n d o a i m p r e n s a c o mo fo nt e .
P o r t a n t o , n ã o h á c o mo e nt e n d e r a s o c i e d a d e c o nt e m p o r â ne a
s e m c o n he c e r a s i n s t it u i ç õ e s q u e o c u p a r a m l u g a r d e d e s t a q u e no
Bra sil,
e
que
inst it u içõ e s
ut iliz ara m
r e l i g io s a s ,
o
c o mo
vo z
e xé r c it o ,
o
os
uso
de
p a r t id o s
p e r ió d i c o s :
as
p o l ít i c o s ,
os
s i n d i c a t o s , c l u be s l it e r á r io s e t c .
O p e r ió d i c o p r o p o s t o p a r a e s t e e s t u d o na s c e u e m 1 9 1 6 , t e nd o
c o mo p r o p o st a n ã o t e r ne n h u m a l i g a ç ã o s e c t á r i a , q u e r s e j a d e
o r d e m c i e n t í f i c a , f i lo s ó f i c a o u r e l i g i o s a , n ã o a s s i m o p r o c e d e nd o ,
v i s t o a s p o s i ç õ e s t o ma d a s p e lo O D e l t a .
D u r a n t e q u a s e t o d o o s e u p e r ío d o d e e x i s t ê nc i a , a s u a d i r e ç ã o
fico u
a
cargo
do
jo r na l i s t a
e
ma ço m
P a u l i no
D ia mico ,
um
25
a n t ic l e r i c a l c o n v i c t o q u e p r e o c u p o u - s e e m d i r e c io n a r o jo r na l a o
a t a q u e e a o c o m b a t e a o u lt r a mo n t a n i s mo 7 c a t ó l i c o .
O D e l t a s e a p r e s e nt a va c o mo u m a r e v i s t a m a ç ô n i c a , m a s
t a m b é m e r a e x p o s t o e m s u a s p á g i n a s c o mo u m jo r na l , p o r i s s o , no
d e c o r r e r d e s t e t r a b a l ho i r e mo s no s r e f e r i r a o p e r ió d i c o d a s d u a s
fo r m a s .
D u r a n t e t o d a a s u a e x i s t ê nc i a , e r a m c o m u n s c o lu n a s f i x a s
s o br e d e t e r m i n a d o s a s s u nt o s , c o mo c i ê n c i a , h i s t ó r i a , f i lo s o f i a e
s i m b o l i s mo m a ç ô n i c o , a l é m d a p a r t e d e s t i n a d a a o e x p e d i e nt e d o
p r ó p r io G r a n d e O r i e nt e d o R io G r a n d e d o S u l.
E n t r e o s d i v e r s o s a s s u n t o s p r o p o st o s n o jo r n a l , e n c o nt r a mo s
n o t íc i a s e a r t i g o s s o br e a s o br a s f i l a n t r ó p i c a s d a i n s t it u i ç ã o , a
d e f e s a d a a u t o no m i a d o s e xo f e m i n i no , a n e c e s s i d a d e d a i n s t it u i ç ã o
d o d i v ó r c io e a i n d a a p r e s e nt a ç ã o d e no va s c o r r e n t e s i d e o ló g i c a s ,
e n t r e e l a s o m a r x i s mo . E r a t a m b é m u s u a l a r e p r o d u ç ã o d e a r t ig o s e
reportagens
de
o ut ro s
p e r ió d i c o s ,
ass im
c o mo
de
d iscurso s
pro fer ido s e m se ssõ es ma çô nic a s.
H o me n a g e ns
pó st u ma s
à
ma ço ns
ilu st res,
gera lme nt e
a c o m p a n h a d a c o m a b io g r a f i a , o c o n f l it o e nt r e o G O R G S e o G O B
e
a
t ent at iva
da
u nião ,
p r o p a g a nd a s
de
c u lt o s
de
r e l i g iõ e s
d ife re nt e s à cat ó lic a t a mbé m era c o mu m ap arec ere m e m sua s
pág ina s.
A s u a d i s t r i b u i ç ã o e r a s o m e nt e a t r a v é s d e a s s i n a t u r a s , e s e u
dest ino
e a l c a n c e i a a l é m d o s f i l i a d o s d a o r d e m,
não
se ndo
d e s t i n a d o s o me n t e a o s m a ç o ns , m a s t a m b é m a o s s i m p a t i z a n t e s d a
Orde m. Ha v ia a preo cup aç ão de le var a Maço nar ia gaú c ha p ara o s
7
Ul t r a m on t an i sm o desi gn a um a or i en t a çã o/ pol í t i ca da Igr e ja Ca t ól i ca on de
er a a fa vor de uma maior con cen tração d o poder ecl esiásti co n as mãos d o
papado, mas também con tra uma sér ie de coisas qu e er am con sider adas
er r adas e per igosas par a a Igr eja. Entr e est es “p er igos” esta vam o
galican ismo, o jan sen ismo, t od os os tip os d e li ber alismo, o pr otestan tismo, a
maçon ar ia, o deísm o, o r aci on alismo, o s ocialismo e cer tas medidas liber ais
pr opostas p el o estado ci vil, tais como a li ber dade de r eligião, o casamen to
ci vil, a liber dade de impr en sa e outr as mais. Cf. VIEIRA, David Gu eir os. O
protestantismo, a maçonaria e a “questão religiosa” no Brasil. 2ª. Edição,
Br a sí l i a : Un B, 1981, p. 33.
26
o u t r o s p a í s e s e e s t a d o s br a s i l e ir o s , s e n d o me n s a l m e nt e r e l a t a d o
p a r a q u a i s o b e d i ê n c i a s m a ç ô n i c a s fo r a m e n v i a d o s o s e xe m p l a r e s .
T a m b é m a c r e d i t a mo s q u e e r a c o m u m o e n v io d e e xe m p l a r e s
d e O D e l t a p a r a p r o fa no s , c o mo d e n u n c i a u m a c a r t a e s c r i t a p o r u m
p a s t o r me t o d i s t a d a c i d a d e d e R io
P a r d o , o nd e r e q u i s it a v a a
d ir e ç ã o d o G o r g s a l g u n s vo l u m e s d o O D e l t a e j u nt a m e n t e p e d i a
i n s t r u ç õ e s d e c o mo fu n d a r u m a lo j a m a ç ô n i c a e m s u a c i d a d e 8.
P o r t a nt o , O D e l t a a p a r t ir d e 1 9 1 6 , a l é m d e vo z d a d i r e t o r i a
do GORGS, o cupar á lug ar de d e st aque na imp le me nt aç ão de no va s
i d é i a s à s o c i e d a d e g a ú c ha , t r a z e n d o a o s s e u s l e it o r e s i n fo r m a ç õ e s a
r e s p e it o a o i d e á r io l i b e r a l e l a i c o a i n d a n ã o f i r m a d o s n o i n í c io d o
s é c u lo X X .
8
Arquivo Luiz Eugênio Véscio, Loja Fraternidade (45-13)
27
Capa do periódico maçônico O Delta.
2 . D A G Ê N E SE A T É O S O L O R I O G R A N D E N SE
2.1.
O N a s c i m e n t o n a E u ro p a
A p a l a v r a m a ç o na r i a s e m p r e e s t e ve e n v o lt a e m m i s t é r io . Ao
d e c o r r e r d e s u a e x i s t ê n c i a , e s s e s m i s t é r io s a u m e nt a v a m, m u d a v a m
co nst ant e me nt e.
C o ns p i r a ç õ e s
p o l ít i c a s ,
s a t a n i s mo ,
benesses
o f e r e c i d a s a o s s e u s f i l i a d o s o u a t é m e s m o à s u a c r i a ç ã o fo r a m
mo t i vo s d e d i s c u s s ã o e c o nt r o vé r s i a , fo r m a nd o r e c e io s q u e s e
e s t e nd e m a t é o s d i a s d e ho j e .
Ao e s t u d a r m a ç o na r i a a t r a vé s d a p r o d u ç ã o h i s t ó r i c a n ã o
l i g a d a a a c a d e m i a , g e r a l m e nt e p r o d u z i d a p e l o s f i l i a d o s d a o r d e m
o u me s mo s e u s a d ve r s á r i o s , e nc o nt r a mo s a s e xp l i c a ç õ e s d a s u a
f u n d a ç ã o q u e va i d a s m a i s p l a u s í v e i s a t é a s m a i s i m p o s s í v e i s e
i n c o e r e n t e s , c o mo a s q u e r e m e t e m a f u nd a ç ã o d a ma ç o n a r i a a o
p e r ío d o d a s c o n s t r u ç õ e s d a s p i r â m i d e s d o E g it o . O u a i nd a o u t r o s
e s c r it o r e s q u e c o m a s s u a s m a i s f a n t á s t ic a s e i m p r o v á ve i s t e o r i a s ,
a f i r m a m q u e a m a ç o n a r i a s e r i a d e s c e nd e nt e d a s e it a s e c r e t a d o s
e s s ê n io s , a q u a l o p r ó p r io J e s u s C r i s t o t e r i a p e r t e nc i d o .
N e s t e t i p o d e l it e r a t u r a , m it o s e l e n d a s q u e fo r a m a b s o r v i d a s
c o mo s í m b o lo s p e l a i n s t i t u i ç ã o , s ã o r e p r o d u z i d o s p o r e s s e s l i v r o s e
le va do s
c o mo
verdades
h i s t ó r ic a s ,
porém
i s e nt a s
d o c u m e n t a i s e h i s t ó r ic a s p a r a a s u a c o m p r o va ç ã o .
de
provas
29
O u t r a t e o r i a c o m u m e nt e e n c o nt r a d a é a d e s c e nd ê n c i a d a
ma ço nar ia
da
Ordem
dos
Ca va lhe iro s
Te mp lár io s,
o nd e
os
s o br e v i v e nt e s d a fo g u e i r a i n q u i s it o r i a l d u r a nt e a I d a d e M é d i a ,
t e r ia m
f u nd a d o
vincu la ç ão
da
a
ma ç o n a r i a
po ss íve l
ret rat ada e m filme s
9
em
um
mo m e nt o
descendência
t e mp lár ia
o u n a l i t e r a t u r a f i c c io n a l .
10
p o s t e r io r .
é
A
c o mu m e nt e
N ã o a c r e d it a mo s
q u e h a j a l i g a ç ã o d i r e t a e n t r e a o r d e m d o s t e mp l á r io s e a m a ç o n a r i a ,
v i s t o a d i s t â n c i a c r o n o ló g i c a q u e s e p a r a m a s d u a s i n s t it u i ç õ e s e a
a u s ê n c i a d e p r o v a s d o c u m e nt a i s q u e a s u p o s t a d e s c e nd ê nc i a .
O m a i s p l a u s í v e l é q u e a m a ç o na r i a no d e c o r r e r d e s u a
ca min had a
c o mo
i n s t it u i ç ã o
esp ecu lat iva,
inco rpo ro u
em
seu
a r c a b o u ç o s i m b ó l i c o m it o s e s í m bo l o s r e f e r e nt e s o u u t i l i z a d o s
p e lo s a n t ig o s c a va l h e i r o s t e m p l á r i o s . P o r s e r u m a i n s t it u i ç ã o q u e
d e t é m u m s i m b o l i s m o m u it o p r ó p r io e a t íp i c o , a o d e c o r r e r d o
t e mp o
fo r a m i n c o r p o r a d o s e l e m e nt o s d i v e r s o s , d e s d e s í m bo lo s
g r e g o s , e g í p c i o s , c r i s t ã o s , p a g ã o s , o u a i n d a r e f e r e nt e s à a s t r o lo g i a ,
n u m e r o lo g i a , s i g no s d o z o d í a c o e nt r e o u t r o s t a nt o s .
V o lt a n d o à s u a g ê n e s e , a t e o r ia q u e a c e it a m o s é a m e s m a
co nsider ada
por
gra nd e
parte
dos
m a ç o nó lo g o s
ac ad ê mico s
e u r o p e u s , o n d e a p e s q u i s a s o br e a M a ç o n a r i a , a o c o nt r á r io d o
B r a s i l , o c o r r e c o m d e s e n vo lt u r a . O n a s c i m e n t o d a M a ç o na r i a t e r i a
s i d o d e nt r o d e u ma c o r p o r a ç ã o d e o f í c i o d u r a nt e a I d a d e M é d i a .
D e s c e n d e nt e d a c o r p o r a ç ã o d o s p e d r e ir o s - l i v r e s m e d i e v a i s
( d a í o t e r mo fr a n c - m a s o n o u fr e e - m a s o n) , e l a t o mo u a s u a f e i ç ã o
a t u a l d e f u n c io n a m e n t o n a t r a ns i ç ã o d o s s é c u lo X V I I p a r a o X V I I I ,
qua ndo
de ixo u
inst it u iç ão
de
ser
e spe cu lat iva.
u ma
corporação
D u r a nt e
sua
o p e r a t i va
atuação
para
c o mo
uma
fo r m a
o p e r a t i v a , a i n s t it u i ç ã o fu n c io n a v a c o mo u m a e s p é c i e d e s i n d i c a t o e s c o la , o nd e a p r e o c u p a ç ã o ma io r e r a m a nt e r o s s e g r e d o s d o o f í c i o
d e p e d r e i r o e a r q u it e t o e a s s e g u r a r a d e m a n d a d o m e r c a d o . É ne s t e
p e r ío d o q u e a h i e r a r q u i a d i v i d i d a e n t r e a p r e nd i z , c o m p a n h e ir o e
9
Filme A lenda do tesouro perdido. Disney Vídeo, 2005.
BROWN, Dan. O Código da Vinci. São Paulo: Sextante, 2004.
10
30
m e s t r e f a z i a m a d i s t i n ç ã o e nt r e o s p a r e s d e a c o r d o c o m o g r a u d e
c o n h e c i m e nt o t é c n i c o .
Mas
a
esp ec u lat iva
t ra ns ição
e nt r e
c o n s u mo u - s e
a
m a ç o na r i a
o p e r a t i va
p a r t ir
perda
da
e
de
m a ç o na r i a
espaço
das
c o r p o r a ç õ e s d e o f í c i o p a r a o s p r o f i s s io n a i s fo r m a d o s p e l a s no va s
u n i v e r s i d a d e s q u e a l a s t r a va m - s e p e l a a E u r o p a . N e s t e mo m e n t o , a s
lo j a s m a ç ô n i c a s q u e a i n d a a t u a m c o m f o r m a o p e r a t i v a c o me ç a m a o s
p o u c o s a a b r i r s e u e s p a ç o a p r o fa n o s 11 q u e a n s e i a m e s t u d a r e
i n t e l e c t u a l i z a r - s e no s s e g r e d o s d a a r q u it e t u r a .
A m a ç o n a r i a t o ma no va s f e i ç õ e s , n ã o há m a i s a ne c e s s i d a d e
d e a s s e g u r a r a p r o f i s s ã o , a p r e o c u p a ç ã o ne s t e mo m e n t o é d e
co nseg u ir le var u ma t rad ição sec u lar de e st udo s e d a p erpet uaç ão
d a fr a t e r n i d a d e . E m a i s , a br e m s e u e s p a ç o p a r a a d i s c u s s ã o d e
o u t r a s c i ê n c i a s e o u t r o s a s s u nt o s e m v o g a no c e n á r i o e u r o p e u ,
c h a m a n d o a a t e n ç ã o d e no b r e s e n o vo s b u r g u e s e s q u e t i n h a m
c o nd i ç õ e s f i n a n c e i r a s p a r a e n t r a r n a i n s t it u i ç ã o .
A t r a ns i ç ã o d a fo r m a o p e r a t i v a - e s p e c u l a t i v a d e s e n c a d e o u e m
d o is mo m e nt o s - c ha v e : o p r i m e i r o n o a no d e 1 7 1 7 , c o m a f u n d a ç ã o
d a p r i m e i r a o b e d i ê n c i a 12 m a ç ô n i c a no mu n d o , a G r a n d e L o j a d a
I ng l a t e r r a
fo r m a d a
por
quatro
lo j a s
ma çô nic a s
lo n d r i n a s .
O
s e g u n d o mo m e nt o p a r a a c o n f i g u r a ç ã o d e s s a n o v a M a ç o na r i a é e m
1 7 2 3 , c o m a fo r m u l a ç ã o , a d o ç ã o e p u b l i c a ç ã o d a C o ns t it u i ç ã o d e
A n d e r s o n. D e s e n v o l v i d a p o r d o is p a s t o r e s p r o t e s t a n t e s e m a ç o n s ,
J a m e s A n d e r s o n e J o h n T hé o p h i l e D é s a g u l i e r s , e s s a c o ns t it u i ç ã o é
d iv id id a
em
três
partes:
a
pr ime ira,
s e g u nd o
o
ma ç o n ó lo g o
e s p a n h o l B e n i m e l i , é u m a “ a b i g a r r a d a na r r a c io n p s e u d o h i s t ó r i c a
d e l a Ar q u it e c t u r a , s i n g r a n v a lo r n i i n t e r e s ” 13.
11
Termo utilizado pela maçonaria para designar todos aqueles que não foram iniciados na instituição.
Aquele que foi iniciado é chamado de Neófito.
12
Entende-se por Obediência ou Potencia Maçônica o poder central que as lojas devem ser filiadas. Uma
loja maçônica para ser considerada regular, deve estar ligada à uma obediência. Para a fundação de uma
nova obediência, entre outras coisas é necessário no mínimo a adesão três lojas.
13
BENIMELI, José Antônio Ferrer. Masoneria y Iglesia e ilustración. 4 vol, Madrid: Fundación
Universitaria Española, 1976. Tomo 1. p. 54.
31
A s e g u nd a p a r t e e n c o nt r a - s e a e s s ê n c i a d a C o ns t it u i ç ã o , e o
s e u c o n t e ú d o é d e e x t r e m a i m p o r t â n c i a p a r a a m a ç o na r i a a t é o s d i a s
d e h o j e . É n e s t a p a r t e q u e s e e n c o n t r a m o c ó d i g o mo r a l , a s
d ir e t r iz e s p a r a o s e u f u n c io n a m e nt o e o d ir e it o d i s c i p l i n a r d a s
o f i c i n a s ; a ú lt i m a p a r t e r e f e r e - s e à r e f l e xõ e s f i lo s ó f i c a s .
É na s e g u n d a p a r t e o nd e e n c o n t r a mo s a d e f i n i ç ã o d e q u e t o d o
o ma ç o m d e v e s e r d o s e x o ma s c u l i n o , s e r l i vr e , i n d e p e nd e nt e d a
r e l i g i ã o q u e p r o fe s s e , d a r a ç a o u n a c io n a l i d a d e . A i n d a t r a z a s
d ir e t r iz e s p a r a a f u n d a ç ã o d a s lo j a s e d a s o be d i ê n c i a s , e no s e u
a u g e , e x p r e s s a o art igo fundament al:
T odo mas ón está obliga do, em vir tud de su título, a
ob edecer a ley mor a l; y s i compr ende b ien el Ar t e, n o
s er á ja más u m estúp ido at eo ni u m ir r eligioso lib er t ino.
As í como, en los tiemp os pasa dos, los mas ones estaba n
ob liga dos, em ca da país, a pr of esar la r eligion de s u
pátr ia ou nación, cualqu ier a qu e ésta f u er a, em el
pr es ent e no há par ecido más a pr op ós it o el no ob ligar
más qu e aqu ella R eligión em la qu e t odos los hombr es
están de acu er do, deja ndo a cada u no su op inió n
par ticular . Esta cons ist e em s er hombr es buenos y
ver da der os, hombr es de honor y pr ob ida d, cu alquier a qu e
s e ala denominación o cr eencias com qu e pu edan s er
dist ingu idos. D e donde s e s igu e qu e la ma soner ía es el
Centr o de Unión, y el médio de conciliar uma ver dader a
amista d entr e p er s onas qu e [s in ella] p er ma necer ía n em
una p er p etua distancia. 14
O
a r t ig o
n e c e s s it a v a m
a c ima
de ixa
pro fessar
e xp l í c it o
n e n hu m a
que
re lig ião
os
ou
i nt e g r a nt e s
a lg u m a
não
fo r m a
e s p e c í f i c a d e c o r r e nt e d e p e n s a m e nt o , t r a ns f o r m a n d o a m a ç o n a r i a
e m u m a i n s t it u i ç ã o à fr e nt e d e s e u t e mp o , p o i s f i c a a c i m a d a s
d i v i s õ e s p o l ít i c a s e r e l i g io s a s d a é p o c a . C o m a a u t o no m i a d e
p e n s a m e nt o e f é p e r m it i d a a o s s e u s i n t e g r a nt e s t o r no u - s e fo nt e d e
preo cupa ção , e e m se gu id a, de per se g u ição da Igre ja Cat ó lic a ao s
pedre iro s- livre s euro peu s.
14
BENIMELI, José Antônio Ferrer. Masoneria y Iglesia e ilustración. 4 vol, Madrid: Fundación
Universitaria Española, 1976. Tomo 1, p. 55.
32
É impo rt ant e le mbrar qu e na épo ca e m que a ma ço nar ia
a t u a v a c o mo c o r p o r a ç ã o d e o f í c i o , o s me m br o s e r a m o br i g a d o s a
pro fessar
a
Prot est ant e,
re lig ião
eram
o fic ia l d e
c at ó lico s.
Os
seu
pa ís,
ma ço ns
que
até
e s t a va m
a
R e fo r m a
o br i g a d o s
a
c o n f i s s ã o e a c o mu n h ã o p e lo m e no s u m a v e z p o r a no . N o s r it u a i s
m a ç ô n i c o s d o p e r í o d o o p e r a t i vo , e r a m i n v o c a d o s a S a nt í s s i m a
T r i n d a d e , a V i r g e m M a r i a , o s Q u a t r o S a nt o s C o r o a d o s e o a i n d a
a t u a l p a t r o n o d a i n s t it u i ç ã o , S ã o J o ão B a t i s t a . 15
C o m a a d o ç ã o d a C o n s t it u i ç ã o d e A n d e r s o n a r it u a l í s t i c a
c a t ó l i c a d e i x o u d e s e r a d o t a d a , p e r ma n e c e n d o
s o me nt e o s e u
p a t r o no , S ã o J o ã o . E s s a m u d a n ç a fo i v i s t a c o m d e s c o n f i a n ç a p e l a
I g r e j a C a t ó l i c a , q u e p e r d e nd o a c o n d i ç ã o d e r e l i g i ã o o f i c i a l d a
c o r p o r a ç ã o , c e s s a o c o n t r o le s o br e e l a , d e s e nc a d e a nd o e m 1 7 3 8 a
p r i m e i r a c o n d e na ç ã o p a p a l. 16
E s s a r u p t u r a c o m a e nt r e I g r e j a
C a t ó l i c a e M a ç o n a r i a f a z o s p e d r e i r o s l i v r e s t o m e m d e s t a q u e no
c e n á r io e u r o p e u , c o o p t a n d o a e l it e i nt e l e c t u a l e u r o p é i a e u lt r a p a s s a
o s l i m it e s d o ve l ho c o nt i n e nt e , a l a s t r a nd o a s s u a s lo j a s e s e u
i d e á r i o c o m m u i t a fo r ç a n o no vo m u nd o .
E s s a no va m a ç o n a r i a n ã o c o ns t r ó i m a i s o br a s a r q u it e t ô n i c a s ,
seq uer a ssegur a ma is o mer cado d a s co nst ruçõ es; seu s est udo s
a r q u it e t ô n i c o s t o r n a m- s e e s p e c u l a t i vo s e a o s p o u c o s s e c u nd á r io s ,
t r a ns f o r m a n d o - s e n o p r i m e i r o mo m e n t o e m e s c o la , o nd e ho me n s
co m
c o nd i ç õ e s
fina nc e ira s
su fic ie n t es
para
a
sua
ad missão ,
i n g r e s s a m p a r a i n t e l e c t u a l i z a r - s e , e nu m s e g u nd o mo m e nt o , a br e
s e u s t e m p lo s p a r a a d i s c u s s ã o a v a n t g a r d q u e f e r v i l h a v a no c o nt e xt o
e u r o p e u : o i l u m i n i s mo .
A m a ç o n a r i a t o r na - s e a i n s t it u i ç ã o a be r t a e a o s p o u c o s a d e p t a
a o mo v i m e nt o i n t e l e c t u a l ( e s ó d e p o i s r e vo l u c io n á r io ) i l u m i n i s t a ,
p r i n c i p a l m e nt e n a F r a n ç a ( a m a ç o n a r ia i n g l e s a m a nt e v e - s e m a i s
c o n s e r v a d o r a e a u t o c r á t ic a ) , o n d e o s p e n s a d o r e s e a d e p t o s a o
15
BENIMELI, José Antônio Ferrer. Masoneria y Iglesia e ilustración. 4 vol, Madrid: Fundación
Universitaria Española, 1976. Tomo 1, p. 40
16
A primeira condenação oficial é através da carta apostólica In eminenti, assinada pelo Papa Clemente
XII em 28 de setembro de 1738. Disponível em: www.vatican.va acesso em 25/01/2006
33
i l u m i n i s mo e n c o nt r a r a m d e nt r o d o s t e m p lo s m a ç ô n i c o s u m l u g a r
p r o p íc i o p a r a a d i s c u s s ã o d a s i d é i a s d a s l u z e s . 17
F o i a s s i m q u e a m a ç o na r i a i n c o r p o r o u o d is c u r s o e o i d e á r io
l i b e r a l , l a i c o e c i e n t i f i c i s t a , t e nd o c o mo l e m a o me s mo q u e no r t e o u
a
R e vo l u ç ã o
F r a nc e s a
“Liberté,
Igualité
e
Fraternit é”
que
p e r m a n e c e u na i n s t it u i ç ã o a t é o s d ia s a t u a i s .
17
BENIMELI, José Antônio Ferrer. Masoneria y Iglesia e ilustración. 4 vol. Madrid: Fundación
Universitaria Española, 1976.
34
2.2
O s P e d re i ro s - l i v r e s c h e g a m a o B ra s i l
A
int ro duç ão
d iscussão
ent re
da
os
ma ço nar ia
e s c r it o r e s
no
Br asil
vinc u lado s
já
á
fo i
m o t i vo
i n s t it u i ç ã o ,
de
pois
p o d e mo s e n c o n t r a r n a l it e r a t u r a m a ç ô n i c a p o s s í v e i s a ç õ e s d o s
p e d r e i r o s - l i v r e s no p a í s a i n d a no s é c u l o X V I I I .
P a r a a l g u n s o s h i s t o r ia d o r e s m a ç o n s a p r i m e i r a l o j a m a ç ô n i c a
fo i o Ar e ó p a g o d e I t a m b é f u n d a d o e m 1 7 9 6 e m P e r n a m b u c o n a
d i v i s a c o m a P a r a í b a , f u nd a d a p e lo m é d i c o e b o t â n i c o p o r t u g u ê s ,
M a n u e l A r r u d a C â m a r a 18 m a s , p o r m a i s q u e s e j a c o n s i d e r a d a u m a
lo j a m a ç ô n i c a , e l a n ã o e r a c o n s i d e r a d a c o mo r e g u l a r .
T a m b é m e n c o n t r a mo s n a l it e r a t u r a m a ç ô n i c a u m p o s s í v e l
e n vo l v i m e n t o
de
ma ç o n s
d u r a nt e
a
Inco nfid ê nc ia
M i n e i r a 19,
p o s s i v e l m e nt e i n i c i a d o s n a E u r o p a e q u e t r a z e m à r e vo l u ç ã o i d e a i s
l i g a d o s a o i d e á r io m a ç ô n i c o . N ã o p o d e mo s d i z e r q u e a m a ç o n a r i a
p a r t ic i p o u d i r e t a m e n t e d o e p i s ó d io , m a s é p o s s í v e l q u e m a ç o n s
t e n h a m p a r t i c i p a d o d e fo r m a i s o l a d a e a u t ô no ma . At é m e s m o
T ir a d e nt e s , m á r t ir d a I n c o n f i d ê nc i a é r e f e r i d o e m a l g u m a s o br a s
c o mo
um
neó fit o ,
mas
d e vido
a
f a lt a
de
d o c u m e nt a ç ã o ,
não
p o d e mo s a f i r m a r t a l r e l a ç ã o .
Ale xa ndre Ma nsur B arat a, e m su a t ese de do ut orado t ambé m
re lat a
a
po ss ib ilid ad e
do
a p o io
ma çô nico
a
dura nt e
aquela
I n c o n f i d ê nc i a d e 1 7 8 9 , e a p o s s i b i l i d a d e d a i n i c i a ç ã o d e J o a q u i m
J o s é d a S i l v a X a v i e r , o T ir a d e nt e s , t e r a c o n t e c i d o e m u m a lo j a
m a ç ô n i c a d o R io d e J a ne i r o . 20
Ma s é be m po ss íve l que a Maço nar ia at é o co meço do sé cu lo
X I X t e n h a f u n c io n a d o no B r a s i l , n ã o d e m a n e i r a r e g u l a r c o mo n o s
mo l d e s
18
propostos
pe la
sua
c o n s t it u i ç ã o .
A
pr ime ira
lo j a
CASTELLANI, José. Os maçons que fizeram parte do Brasil. São Paulo: A Gazeta Maçônica, s/d.
pág. 13.
19
CASTELLANI, José. Os maçons que fizeram parte do Brasil. São Paulo: A Gazeta Maçônica, s/d.
pág. 57.
20
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência(Brasil, 17901822). Campinas: Unicamp, 2002. pág. 49.
35
c o n s i d e r a d a c o mo r e g u l a r e m s o lo b r a s i l e i r o é a L o j a R e u n i ã o ,
f u n d a d a e m N it e r ó i no R i o d e J a n e i r o , f i l i a d a a o G r a n d e O r i e nt e d a
I le d e F r a n c e , i n s t a l a d o a I l h a M a u r i c e . 21
A f u n d a ç ã o d a p r i m e i r a o b e d i ê n c i a m a ç ô n i c a s e r á no a no d e
1813,
a t r a vé s
de
três
o fic ina s
ba ia nas,
V irt ude
e
Razão,
H u m a n i d a d e e U n i ã o 22, t e n d o c o mo G r ã o - me s t r e A nt ô n io C a r lo s
R i b e ir o e A n d r a d a e d e no m i n a d o G r a n d e O r i e nt e B r a s i l e ir o . M a s
d e v i d o a s m a z e l a s d a R e v o l u ç ã o P e r na m b u c a n a d e 1 8 1 7 , e s t a
o be d i ê n c i a f i n d a s u a a t i v i d a d e n o m e s mo a n o . 23
A s u a r e o r g a n i z a ç ã o no B r a s i l s e r á e m m e a d o s d e 1 8 2 2 , no
R io d e J a n e i r o a t r a vé s d a a r t i c u l a ç ã o d e J o a q u i m G o n ç a l v e s L e d o e
a fu n d a ç ã o d o G r a nd e O r i e nt e d o B r a s i l a t r a v é s d a d i v i s ã o d a L o j a
C o mé r c io e Ar t e s e m o u t r a s t r ê s : C o m é r c i o e Ar t e n a I d a d e d e
Ouro,
U nião
e
T r a nq ü i l i d a d e
e
Esperança
de
N it e r ó i,
s e nd o
a c l a m a d o c o mo G r ã o - me s t r e J o s é B o n i f á c io d e A nd r a d a e S i l v a .
F o i e s s e G r a nd e O r i e nt e q u e p o s s i b i l i t o u a t r a v é s d a a b e r t u r a
de se u es pa ço para a d is cu ss ão e a orga niz aç ão da Ind epe ndê nc ia
br as ile ira,
a ind a
que
não
fo s s e
u ma
u na n imid ade
e nt r e
seus
m e m b r o s , c o mo a f ir m a B a r a t a :
N o s p r i m e i r o s m e s e s d e 1 8 2 2 , a p r ep o n d er â n c i a d o
gr up o ma ç ônic o de J oa qu im G onça lves L edo s e fa z ia
p er c e b er n o s d e b a t es e m t o r n o d a n e c es s i d a d e d a
c onvoca çã o de u ma a ss emb léia C onstitu int e ou
a t r a v é s d a a p r o x i m a ç ã o c o m o p r í n c i p e r e g e n t e, a o
c o n c e d er - l h e o t í t u l o d e D e f e n s o r P er p é t u o d o B r a s i l ,
a p r o v a d o p e l o S e n a d o d a C â ma r a d o R i o d e J a n e i r o .
E m c er t a m e d i d a , e s s a s u p r e m a c i a s i g n i f i c a v a o
a pr ofu nda me nt o dos a nta gonis mos c om o gr up o d e
Jos é Bonifá c io qu e, na condiçã o de minis tr o do R ein o
e d o s E s t r a n g e i r o s , i n i c i o u u m a v i o l e n t a r ep r es s ã o
a o s q u e s e o p u n h a m a s eu p r o j e t o p o l í t i c o d e
21
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência(Brasil, 17901822). Campinas: Unicamp, 2002. Pág. 78.
22
A Constituição de Anderson exige, para a formação de uma nova obediência maçônica, um mínimo de
3 lojas regulares.
23
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a ação da Maçonaria brasileira (1870-1910).
Campinas: Editora da Unicamp, 1999. Pág. 62
36
c onstr uçã o do Esta do br a sileir o, ba s ea do e m u ma
M o n a r q u i a ex t r e m a m e n t e c e n t r a l i z a d a , c o m b a i x o
n í v e l d e r ep r es e n t a t i v i d a d e e q u e v i s a v a g a r a n t i r o s
i n t er e s s e s
da
class e
s enhor ia l,
s o b r et u d o
da s
pr ovínc ia s do Rio de Ja neir o, Sã o Pa ulo e M ina s
24
G er a i s .
P a r a a c o n s o l i d a ç ã o d e s e u p r o j e t o p o l ít i c o , J o s é B o n i f á c io ,
m e s m o s e n d o G r ã o - M e s t r e d a m a ç o n a r i a br a s i l e i r a , fu n d a e m 1 8 2 2
o Ap o s t o l a d o d a N o b r e O r d e m d o s C a v a l h e i r o s d a S a nt a C r u z , u m a
s o c i e d a d e p o l í t i c a s e c r e t a , e c o m r it u a i s p a r e c i d o s c o m o d a
m a ç o n a r i a , m a s o r g a n i z a d a s o br e o i n t u it o d e d e fe n d e r a fo r m a d e
g o v e r n o mo n á r q u i c o e i m p e d i r a e x p a n s ã o d e i d é i a s r e p u b l i c a na s . 25
E m o u t u br o d e 1 8 2 2 , a i n d a f i l i a d o à m a ç o na r i a e r e i n t e g r a d o
a o m i n i s t é r io , e c o m v it ó r ia s o b r e o g r u p o d e L e d o , c o me ç a u m a
a mp la
per se gu iç ão
aos
s u s p e it o s d e
co nsp ir ação
ao
p o nt o
da
s u p r e s s ã o d o s t r a b a l h o s m a ç ô n i c o s e o e x í l io d e s u a s p r i n c i p a i s
lid era nça s.
O c e r c e a m e nt o d o s t r a ba l ho s m a ç ô n i c o s s e r á a t é o a n o d e
1 8 3 1 , c o m a r e i n s t a l a ç ã o d o G r a n d e O r i e nt e d o B r a s i l n o v a m e nt e
s o b r e a t u t e la d e J o s é B o n i f á c i o , e a f u nd a ç ã o p o r u m g r u p o d e
m a ç o n s a d v e r s á r io s d e u m a no va o b e d i ê n c i a : o G r a nd e O r i e nt e
N a c i o na l B r a s i l e i r o , c o n h e c i d o m a i s t a r d e c o mo G r a n d e O r i e n t e d a
R u a d o P a s s e io , q u e t i n h a c o mo p r i n c i p a l l i d e r a n ç a o s e n a d o r
N i c o l a u V e r g u e ir o . A r e l a ç ã o c o n f l it u o s a e nt r e a s d u a s i n s t it u i ç õ e s
s e r á d u r a d o u r a , e s ó a m e n i z a n o e p i s ó d io d a Q u e s t ã o R e l i g io s a d e
1 8 7 2 . 26
24
BA RATA, Alexan dr e Man sur . Luzes e S ombras : a ação da Maçonaria
brasi l e i ra (1870-1910 ). Ca m pi n a s: E dit or a da Un i ca m p, 1999. Pá g 64.
25
Para saber mais sobre a estrutura de funcionamento ver: Maçonaria, sociabilidade ilustrada e
independência(Brasil, 1790-1822). Campinas: Unicamp, tese de doutorado, 2002.
26
Para saber mais sob a organização das maçonarias brasileiras até o período de 1872 ver: C O L U S S I ,
Elian e Lúcia. A maçonaria gaúcha no século XIX. Passo Fun do: Ediup f, 1998.
pág. 79 à 158.
37
D e v i d o a e xp u l s ã o e e x c o mu n h ã o l a n ç a d a s a o s m a ç o n s d o
P a r á e d e P e r na m b u c o q u e p e r t e n c i a m a c o n f r a r i a s r e l i g io s a s
c a t ó l i c a s , a Q u e s t ã o R e l i g i o s a d e 1 8 7 2 d e f i n i u a r u p t u r a t o t a l e nt r e
a I g r e j a C a t ó l i c a e a M a ç o n a r i a B r a s i l e ir a , q u e a t é o mo m e nt o
m a t i n h a e m s e u s q u a d r o s t a nt o p a d r e s e b i s p o s , a s s i m c o mo e r a
no r ma l a fre qüê nc ia d e ma ço ns à Igre ja e à co nfr ar ia s c at ó lic a s.
O s b i s p o s q u e l a n ç a r a m a c o nd e n a ç ã o , D o m V it a l M a r i a
G o n ç a l v e s d e O l i v e ir a e D o m A nt ô n i o d e M a c e d o e C o s t a , e r a m
jo v e n s e m o v i d o s p e l a d i r e t r i z u lt r a mo n t a na l o g o , d e f e r i r a m o
a t a q u e a o s p e d r e i r o s l i v r e s , d e v i d o a bu l a p a p a l l a n ç a d a e m R o m a
e m q u e e x c o m u ng a va o s p e d r e i r o s - l i v r e s .
M a s o i m p a s s e e f e t i vo u - s e d e v i d o a o I mp é r io d o B r a s i l e s t a r
lig ado à Igre ja C at ó lica at ravés do padro ado , que dá ao rege nt e
b r a s i l e i r o p o d e r e s p a r a c o br a r , p a g a r , no m e a r e t a m b é m p l a c it a r a s
b u l a s p a p a i s , e d e v i d o a bu l a q u e c o n d e n a va a M a ç o n a r i a n ã o t e r
sido
p l a c it a d a
p e lo
imper ado r
Do m Pedro
II,
t r a n s fo r m o u
as
c o nd e n a ç õ e s l a n ç a d a s a o s m a ç o n s p e lo s b i s p o s s e t o r n a s s e u m a
questão de Estado.
N a t e n t a t i v a d e r e s o l v e r o c o n f l i t o , u m a c o m i s s ã o fo i fo r m a d a
e e n v i a d a R o ma , c o n h e c i d a c o mo m i s s ã o P e n e d o , q u e e n t r o u e m
a c o r d o c o m o p a p a P io I X q u e a M a ç o n a r i a b r a s i l e i r a n ã o e r a
a n t ic l e r i c a l c o mo a e u r o p é i a , p o r t a nt o nã o d e ve r i a e s t a r d e n t r o d a
c o nd e n a ç ã o . M a s q u a nd o a m i s s ã o r e t o r no u a o p a í s j á e r a m u it o
t a r d e , p o i s o s b i s p o s j á t i n h a m s i d o c o nd e na d o s à p r i s ã o c o m
t r a ba l h o s fo r ç a d o s . 27
S e m d ú v i d a a Q u e s t ã o R e l i g io s a q u e e n v o l v e u a M a ç o na r i a , a
I g r e j a e o E s t a d o , q u e p r o po r c io no u o i n í c io d o r o m p i m e n t o e n t r e o
E s t a d o e o C a t o l i c i s m o , e o a c ir r a m e nt o do e m b a t e e nt r e M a ç o n a r i a
e I g r e j a . É a p a r t ir d e s t e mo m e n t o q u e a m a ç o na r i a b r a s i l e i r a
c o me ç a a t o ma r u m a d i n â m i c a c a d a v e z m a i s a n t i c l e r i c a l , p o s t u r a
q u e i r á p e r m a n e c e r e a c i r r a r n o i n í c io d o s é c u lo X X .
27
VIEIRA, David Gueiros. O protestantismo, a maçonaria e a questão religiosa no Brasil. Brasília,
Editora Universidade de Brasília, 2ª edição, 409p.
38
2 . 3 Os neó fitos ch egam no Rio G rande do S ul
A int ro dução da Maço nar ia em so lo gaúcho o correrá soment e a
part ir da década de 1830, ou seja, cerca de t rês décad as após a fundação
da pr ime ir a lo ja regu lar no país.
Segu ndo Co lussi, o at raso da inser ção do moviment o maçô nico no
est ado deve- se dent re out ros fat ores, às caract er íst icas do espaço
geográfico ligado ao milit ar is mo, o iso lament o dos cent ro s decisór ios e a
sua incorpo ração t ardia ao t errit ório nacio nal, mas “sobret udo o at raso
cult ural que det er mino u a chegada t ard ia d a maço nar ia em t erras
gaúchas.” 28
Segundo a hist o r iadora, a pr ime ir a lo ja maçônica regu lar fund ada
no Rio Grande do Sul fo i a Lo ja Filant ropia e Liberd ade, na capit a l no
ano de 1831, filiada pr imeir ament e em su a fund ação pelo Grande Or ient e
do Passeio mas lo go em seg uida so bre o s auspíc io s do Grande Or ient e do
Brasil. 29
Durant e a Revo lução Farroupilha, conflit o ent re o s produt ores de
charque gaúcho e o Impér io o casio nado pelo baixo preço do produto
import ado , toma feições repu blicanas e revo lucio nár ias, fazendo co m que
a maçonar ia abr isse os seu s t emplos para a discussão das idéias em voga
na época e a grande admissão de chefes revo lucio nár io s ao quadros
maçônicos 30.
Mas ainda nebu lo sa a ação da maçonar ia d urant e est e per íodo,
vist o ser um mo ment o de co nflit o de ar mas ocasio nando a ausencia de
document o s
maçô n ico s
do
mo ment o,
mas
a
sua
part icipação
é
represent ada por out ros indíc ios, co mo salient a Co lussi:
28
COLUSSI, Eliane Lucia. A maçonaria gaúcha no século XIX. Passo Fundo: Ediupf, pág 186.
COLUSSI, Eliane Lucia. A maçonaria gaúcha no século XIX. Passo Fundo: Ediupf, pág 188.
30
Entre os chefes revolucionários estão Bento Gonçalves, David Canabarro, Bento Manuel Ribeiro,
Giuseppe Garibaldi entre outros.
29
39
Aliás, a ausência de compr ova ção de ativida des
ma çônicas no estado dur ant e a fas e far r oupilha suscit ou,
por par te da hist or iogr afia qu e tr atou da qu estão, outr os
indícios compr obatór ios qu e p oder ia m r elacionar a
ma çonar ia à r evolu ção gaúcha. A linguagem dos
decr et os, as expr ess ões maçônicas utiliza das nos
docu ment os, a inclusão de s ímb olos ma çônicos no br asão
de ar mas far r oupilhas ser ia m element os inq u estioná veis
dest e víncu lo. 31
Também sabe- se qu e a iniciação da maio ria do s revo lucio nár io s
farro up ilhas deu- se dur ant e a própr ia revo lução, o que ind ica q ue no
per ío do do co nflit o que a inst it uição cresceu e d ifund iu seu ideár io no
seio do s chefes farrapos.
Mas essa maçonar ia ainda inc ipient e 32 na durant e o conflit o , to ma
for ma e força no final do sécu lo XIX, mais precisament e em 1893, co m a
fu nd ação do Grande Or ient e do Rio Grande do Sul, t endo a Lo ja
Pro gresso da Hu manidade t omado frent e à cisão ao Grand e Or ient e do
Brasil, junt ament e co m as Lo jas Lu z e Ordem e Luz e Pro gresso . A
for ma de co mo se desencad eou a sua fundação não é co nsenso ent re os
do is pr incip ais maçonó logo s acadêmicos gaúchos, Luiz Eugênio Véscio e
E liane Co lu ss i.
Segu ndo Véscio , a fundação do GORGS é reflexo do jo go polít ico
do PRR – P art ido Repu blicano Rio grandense, para ampliar seu espaço na
sociedad e t ransfo r mando a inst it u ição em braço polít ico e client elíst ico
ent re os seus filiado s e o gover no .
O projet o cast ilh ist a/ bo rgist a baseado em diret r izes posit iv ist as d e
Au gust e Co mt e, t inha em seu pro jet o governament al, co mo pr incipal o
desenvo lviment o urbano, não alcançando ampla aceit ação pr incip alment e
31
COLUSSI, Eliane Lucia. A maçonaria gaúcha no século XIX. Passo Fundo: Ediupf, pág 196.
Nos referimos como incipiente devido ao seu funcionamento e organização neste período não
obedecessem as normas impostas pelas Constituições de Anderson, que só acontecerá com o
reestabelecimento da paz.
32
40
em reg iões lig adas econo micament e ao campo, lo calizad as na região su l
e da campanha, lo cais onde a maço nar ia t inha se co nso lidado sobre os
ausp íc io s do Grande Or ient e do Brasil.
Assim, a fundação do GORGS no ano de 1893, em me io a
Revo lução Federalist a(1893-1895), é explicada po r Véscio da segu int e
for ma:
A cr iação de u ma pot ência maçônica autônoma no Ri o
Gr ande do Sul p ode ta mb ém s e exp lica da pela háb il
ma nobr a empr eendida p or Jú lio de Castilhos , qu e tr atou
de pr evenir -s e contr a u ma ar ticulaçã o de Silveir a
Mar tins e dos lib er ais, atr avés do Gr ande Or ient e do
Br asil, u ma vez qu e o s ena dor t inha laços f or t es na
Maçonar ia do R io de Janeir o, t endo s ido, inclus ive,
Gr ão-M estr e do Gr ande Or ient e Br asileir o em 1883. 33
Véscio t ambém salient a a co mposição
da d iret oria da nova
pot ência eram de grande maior ia filiados ao PRR, sendo o sucessor de
Júlio Cast ilho s, o polít ico Ant ônio Borges de Medeiros t ambém iniciado
à o rdem. At ravés de u ma vast a pesquisa do cu ment al, Véscio apo nt a que
apó s o mo ment o do conflit o, o GORGS t ornou-se u m do s pr incipais
sust ent ácu lo s do gover no do PRR, ocupando o papel dos ant igos co ronéis
do Impér io, assist indo seus filiados at ravés de favores assist enc iais
client elist as.
Co lussi não descart a uma possíve l relação co m o PRR, mas at r ibu i
a fu ndação do Grande Or ient e do Rio Grande do Sul ao mo viment o
fed eralist a maçô nico que t omava força em todo o país, imp ulsio nado pelo
ad vent o da República de 1889. O mo vime nt o federalist a t eve co mo po nt o
in ic ial, a fu ndação do Grande Or ient e de São Paulo como a pr imeir a
33
VÉSCIO, Luiz Eug ên io. O c rime do p a dre Sório: Maçon ar ia e Igr eja
Ca t ól i ca n o Ri o Gr a n de do Sul 189 3-1928. Sa n t a Mar i a: E di t or a UFSM; P or t o
Al egr e: E d. da UF RGS, 2001. pá g, 123.
41
o bed iência est adual aut ôno ma, sendo segu ido apó s pelo s est ados de
Minas Gerais e Rio Grande do Sul.. 34
A hist oriadora dest aca que a rupt ura das lo jas r iogr andenses co m o
po der cent ral brasileiro deu- se p ela ind iferença do GOB pelo s maço ns
gaúcho s que at ravessavam as mazelas da Revo lu ção Fed eralist a, a guerra
civ il ma is sangr ent a do país e que fo ra mar cad a pela cru eldad e das
dego las.
O d iscurso da indiferença quant o a sit uação da guerra e a
necess idad e da fundação do Orient e aut ôno mo gaúcho t ambém po de ser
vist o nas pág inas de O Delta, em mat ér ia relat iva as ho menagens ao s 25
ano s da I nst it uição, aproveit ando para t razer em anexo as at as d e
fu nd ação e manifest o s do Grande Or ient e do Rio Grande do Su l 35.
É certo que a part ir da fundação do Grande Or ient e do Rio Grand e
do Su l, a maço nar ia gaúcha t o ma imp ulso e feiçõ es própr ias, ainda que
co nsid erad a co mo espúr ia pelo Grande Or ient e do Brasil, to ma força a
po nt o de em 18 98 t er 56 lo jas filiadas 36 e em 190 2 ser reco nhecida co mo
regu lar por quase t odas as pot ências do orbe 37, t ransfor mando na maior
o bed iência do Rio Grande do Su l at é os dias de ho je.
34
COLUSSI, Eliane Lucia. A maçonaria gaúcha no século XIX. Passo Fundo: Ediupf, pág 242.
O Delta, Ano II, Junho/1918. Nº 12, p. 273.
36
COLUSSI, Eliane Lucia. A maçonaria gaúcha no século XIX. Passo Fundo: Ediupf, pág 260.
37
COLUSSI, Eliane Lucia. A maçonaria gaúcha no século XIX. Passo Fundo: Ediupf, pág. 253
35
3. MAÇONARIA, IGREJA E EDUCAÇÃO
3.1
M a ç o n a ri a v e r s u s I g r e j a C a t ó l i c a
A Maçonar ia nã o ateou a fogu eir a qu e
car bonis ou Joã o Huss, nem as qu e qu ei mar a m
Migu el S er vet, G ior da no Br uno e milhar es d e
outr os innocent es; nã o atir ou Ga lileu par a o
fu ndo de u m calab ouço; nã o estr angu lou
Est evão D odet, nem ar r ancou as entr anhas d e
Pedr o Ra mus, ar rastando-as p elas r uas; não
arr ancou a língua a Vanini, nem incendiou o
mu ndo com as f ogu eir as ma ldictas da
I nqu isiçã o. Iss o tu do f oi obr a do cat holicis mo
e contr a tu do iss o r evoltar am-s e e bat er a m- s e
os f ilhos de H ir a m. 38
D’O Delta, Maio de 1919 da EV.
No
c a p ít u lo
a nt e r i o r
f a l a mo s
rap id a me nt e
dos
pr ime iro s
e nt rave s e nt re a I gre ja C at ó lic a e a Ma ço nar ia a ind a no sé cu lo
X V I I I . O g e r m e d o c o n f l i t o n a s c e a p a r t ir d a p e r d a d e e s p a ç o d a
I g r e j a C a t ó l i c a e m c o ns e q ü ê n c i a d a C o ns t it u i ç ã o d e A n d e r s o n . E m
u m p e r ío d o o nd e a mo r a l, o s c o s t u m e s e a s i n s t it u i ç õ e s e r a m
c o nt r o l a d a s
p e lo
V a t i c a no ,
a perda
de
seu
espaço
de nt ro
da
m a ç o n a r i a fo r a v i s t a c o m p r e o c u p a ç ã o , já q u e é n e s t e mo m e n t o q u e
a m a ç o na r i a p e r d e s e u c a r á t e r d e C o r p o r a ç ã o d e O f í c i o p a r a t o r na r 38
O Delta, Ano III, Maio/1919. Nº 11, p. 222.
43
se
um
espaço
dest ina do
à
d isc ussão ,
so c ia liz aç ão
e
de
int e le ct ua liz aç ão de se us me mbro s.
A f e i ç ã o t o m a d a p e l a m a ç o na r i a a p a r t ir d e s u a c h e g a d a n a
Amé r ic a
Lat ina,
sob
o
peso
da
v e r t e nt e
euro pé ia
libe ra l,
r e v o lu c io n á r i a e i l u m i n i s t a , t r a z e m s e u i d e á r io e d i s c u r s o o p e s o
de
c o n c e it o s
c o mo
rac io na lis mo ,
l a i c i s mo ,
c i e n t i f i c i s mo
e nt re
o u t r o s l i g a d o s a d o u t r i n a d a s l u z e s . T o d o s e s s e s c o n c e it o s e nt r a m
d ir e t a m e n t e n o e m b a t e e nt r e a i n s t i t u iç ã o e a I g r e j a C a t ó l i c a ,
t r a ns f o r m a n d o o p e r ió d i c o m a ç ô n i c o g a ú c h o c o mo vo z p r i n c i p a l
d ifu so ra de sua s id é ia s.
N e s t e p e r í o d o , o c h e f e d a I g r e j a no e s t a d o e r a D o m J o ã o
Becker,
co nhec ido
por
sua
postura
c o ns e r v a d o r a
ba s ead a
em
d ir e t r iz e s u lt r a m o nt a na s , e p o r c o n s e g u ir o r g a n i z a r e c o ns o l i d a r o
c a t o l i c i s mo no R io G r a nd e d o S u l . A l é m d i s s o , c o m o s e u p r o je t o
e d u c a c i o n a l a I g r e j a t o m a va fo r ç a e e xp r e s s ã o no i n t e r io r d o
e s t a d o , a s s i m c o mo p r e s t íg i o p o r p a r t e d o s g o v e r n a nt e s d o e s t a d o . 39
O D e l t a d u r a n t e a s u a e x i s t ê nc i a t r o ux e e m p r a t ic a m e n t e e m
todas
as
e d içõ e s
n o t íc i a s
re lat iva s
à
re lig ião ,
c o ns i d e r a d o
o
c l e r i c a l i s mo c o mo r e a c i o ná r i o e r e t r ó g r a d o . C o me ç a n d o l e nt a m e nt e
a s c r ít i c a s br a n d a s no p r i m e i r o mo m e n t o , lo g o e xa c e r b a nd o d e
m a n e i r a o fe n s i v a e a t i v a , a t a c a n d o n ã o s o m e nt e a o c l e r o , ma s o s
d o g ma s c a t ó l i c o s t a m b é m , c o n t i n u a m e n t e s a l i e n t a n d o a d i s s o n â n c i a
e n t r e a fé c a t ó l i c a e o mu nd o a t u a l .
A p r i m e i r a n o t í c i a r e l a t i v a à r e l i g i ã o a p a r e c e na s e g u n d a
ed iç ão da re vist a a ind a e m 19 16, o nde re pro duz u m d is cur so
r e a l i z a d o na L o j a O r i e nt a ç ã o d e P o r t o A l e g r e , o n d e o o r a d o r
p r o c u r a e xp r e s s a r s u a c o n c e p ç ã o d e r e l i g i ã o e s u a f i n a l i d a d e c o mo
t a l:
39
ISAÍA, Artur Cesar. Catolicismo e Autoritarismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edipucs, 1998.
44
A maçonar ia sab e qu e as dif er ent es r eligiões ex ist ent es
no mu ndo sã o necess ida des s ociais; necessida des do
espír it o hu ma no, qu e busca u m meio de ma nif estar o s eu
tr ibuto de gr atidão par a com o aut or de t odas as cousas e
o faz p or est es diver s os meios, s egu ndo o gr au evolutivo
ou a capacidade menta l de ca da individu o, de ca da povo,
de cada r aça. 40
N ã o a t a c a n d o d i r e t a m e nt e o c a t o l i c i s mo c o mo f é , a t r i b u i n d o
á s d i f e r e nt e s r e l i g i õ e s fo r m a s a d ve r s a s d e e nt e n d e r D e u s , d i z q u e a
Ma ço nar ia não t e m nad a co nt ra à qu a lqu er re lig ião , ape nas t e m
c o mo i n t u it o e o d e v e r d e c o m b a t e r a h i p o c r i s i a d o f a l s o s a c e r d o t e ,
a v e n d a d e g r a ç a s e s p i r it u a i s , a p r e c e p a g a , a a t r i b u i ç ã o d e p e r d o a r
p e c a d o s , o f a n a t i s mo q u e be a t i f i c a a c o ns c i ê n c i a e o a bu s o d e t o d a
e qua lq uer re lig ião .
S e m c it a r a r e l i g i ã o c a t ó l i c a , o d i s c u r s o na s e nt r e l i n h a s é
v o lt a d o d i r e t a m e n t e p a r a R o m a , p o i s e r a m p r á t i c a s c o m u n s d o c l e r o
cat ó lico
as
at r ibu içõ e s
e xp r e s s a s
no
t e xt o .
No
discurso
r e p r o d u z i d o , t a m bé m m o s t r a a a d m i r a ç ã o q u e a M a ç o n a r i a t e m
aque le
que
verdad e iro
sacerdote,
que
prega
a
d o u t r i na
do
c r u c i f i c a d o , c o m j u s t iç a e ve r d a d e .
O p r i m e i r o a t a q u e f r o nt a l à I g r e j a C a t ó l i c a no O D e l t a
a p a r e c e na q u a r t a e d i ç ã o d a r e v i s t a , e m u m a r t i g o i n t it u l a d o
M a ç o n a r i a 41, i n i c i a n d o c o m a e x a lt a ç ã o d a s q u a l i d a d e s d a m e s m a e
lo g o i n v e s t i n d o c r ít i c a s a o c l e r o , d e s m e n t i d o o s u p o s t o at e í s mo
ma çô nico
g e r a l m e nt e
d ivu lg ado
p e lo s
sacerdotes
c at ó lico s.
D e s m e r e c e n d o o o f í c io d o c l e r o , d i z q u e q u a l q u e r s a c r a m e nt o , f e it o
p o r u m h o m e m d e f é t e m t a nt o v a lo r q u a nt o d e u m p a d r e , p o i s
t o d o s o s ho m e n s , n a i g u a l d a d e p e r a nt e D e u s , d e t é m o p o d e r d e
co nc eder o s sacr a me nt o s.
Ta mbé m
e n c o nt r a mo s
m u it a s
no t í c i a s
so bre
a t it u d e s
i r r e g u l a r e s t o ma d a s p e l a I g r e j a , c o mo o c a s o d a p e r m i s s ã o d a u n i ã o
m a t r i mo n i a l
40
41
e nt r e
p are nt e s
O Delta, Ano I, Agosto/1916. Nº 02, p. 18.
O Delta, Ano I, Outubro/1916. Nº 04, p. 49
re so lv id a
por
t a xa s ,
co nc ed ia m
a
45
aut o rizaç ão , que na vis ão d a r e vist a e ra ma is u ma d as hipo cr is ia s
a s s e g u r a d a s d a I g r e j a . T e r m i n a o a r t i g o , s a l i e nt a n d o o p r e c o n c e it o
c a t ó l i c o d i a nt e d a s d i f e r e nç a s r e l i g io s a s :
A Maçonar ia não t em r ancor es, a Maçona r ia
castigos par a os qu e mor r em, a Maçonar ia
dif f er ença entr e os qu e mor r em de mor t e natur al
pr ocur a m p or suas mã os, a Maçonar ia emf im
código cr imina l par a desp ojos mor ta es. 42
não
não
e os
nã o
t em
faz
qu e
t em
É u s u a l n o d e c o r r e r d o s a r t ig o s à i n v e s t id a à I g r e j a , a
e x a lt a ç ã o
através
d a M a ç o na r i a
d e la
p r e c o n c e it o ,
os
da
c o mo
ho m e n s
i g no r â n c i a
liber t ado ra da co nsc iê nc ia, q u e
poderão
e
do
libert ar-se
o b s c u r a nt i s m o
das
garras
impo st o
do
p e lo
c a t o l i c i s mo r o m a n o . S e g u nd o o jo r n a l, a t r a v é s d a m a ç o n a r i a é
p o s s í v e l a l c a nç a r a p l e n a l i b e r d a d e d e c o n s c i ê n c i a , j á q u e o s
p r ó p r io s m a ç o n s c o n s i d e r a m a i n s t it u i ç ã o c o mo “U n i v e r s i d a d e d e
Ar t e R e a l e d e S c i e n c i a s P h ys i c a s e e t h i c a s ” . 43
R e t r a t a n d o s e m p r e o c l e r o c o mo a r d i lo s o e s o r r a t e ir o , f a l a
que a aç ão do papado so bre a so c iedad e é t a ma nha que faz- s e
du vid ar de
“t u d o q u e nã o l h e e s t e j a c h e i r a n d o a i n c e n s o ” 44. D i z
q u e a s a r t i m a n h a s p r o fe s s a d a s p e lo s s e n ho r e s d e b a t i n a c o n h e c i d a s
p e lo s e s p í r it o s a d i a nt a d o s d e v e s e r r e p e l i d a a o b e m d o s f r a c o s . É a í
q u e e n c o n t r a mo s o e s t a nd a r t e d o d i s c u r s o m a ç ô n i c o , a s s u m i n d o o
p a p e l d e p o r t a - vo z d a v e r d a d e e r e p r e s e n t a nt e d e u m a p a r c e l a
e l it i s t a d a s o c i e d a d e , s e nd o d e v e r d o ma ç o m a j u d a r , a m p a r a r e
t r a z e r lu z a o s m a i s fr a c o s , d i a nt e d o o bs c u r a n t i s m o i m p o s t o p e la
Igre ja.
U m a c o lu n a s o b o t it u lo “ C a r t a s C o n f i d e nc i a e s ” p u b l i c a d a e m
d iver so s
42
nú mero s
da
re vist a,
O Delta, Ano I, Outubro/1916. Nº 04, p. 50.
O Delta, Ano I, Novembro/1916. N Y 5, p. 53.
44
O Delta, Ano I, Janeiro/1917. Nº 07, p. 102.
43
atacava
d ir e t a m e nt e
a lgu ma s
46
p e r s o n a l i d a d e s p e r t e nc e nt e s a o c l e r o c a t ó l i c o g a ú c h o . A p r i m e i r a ,
d ir i g i d a a o p á r o c o d o R o s á r i o , f a l a q u e o v i g á r i o p a s s o u a c h e f e d a
Igre ja
C at ó lic a
do
R io
Grande
do
Su l,
d es e mp e nha ndo
acu mu lat iva me nt e as fu nçõ es de pro cu rado r gera l d a Co mpa nh ia d e
J e s u s . O r e f e r i d o no vo c h e f e d a I g r e j a é D . J o ã o B e c k e r , f e r v o r o s o
a d e p t o a o u lt r a mo nt a n i s mo e q u e s e r á a l vo d e a t a q u e s p e r m a n e nt e s
à s u a p e s s o a p e lo O D e l t a , d e v i d o a o s e u r e p ú d io d e c l a r a d o à
M a ç o n a r i a . 45
E m “U m p l á g i o d o s r . D . J o ã o B e c k e r ” 46,
u m pa nflet o
d i s t r i b u í d o e m P o r t o A l e g r e e r e p r o d u z i d o na r e v i s t a , r e f e r e - s e à
n o na c a r t a p a s t o r a l e m c o m e mo r a ç ã o a o ju b i l e u s a c e r d o t a l d o
a r c e b i s p o m e t r o po l it a no , o nd e r e l a t a - s e q u e d o s 2 4 c a p ít u l o s d a
c a r t a p a s t o r a l, d e d i c a 1 6 d e l e s à a r q u i t e t u r a e a p e n a s o it o “a c o i s a s
m a i s o u m e no s e s p i r i t u a e s , d e m a n e i r a q u e a g e n t e t e m i m p r e s s ã o
d e e s t a r a n t e s a t r a t a r c o m u m c o ns t r u c t o r d o q u e c o m u m
a r c e b i s p o . ” 47 A r e v i s t a a l e r t a q u e t a l i n t e r e s s e s o br e a r q u it e t u r a
v e m p a r a a p r e p a r a ç ã o d o s f i é i s p a r a a c o n s t r u ç ã o d a no v a c a t e d r a l
m e t r o p o l it a n a d e P o r t o A l e g r e .
M a s a r e v i s t a s a l i e nt a q u e , a l é m d i s s o , o b i s p o p l a g io u p a r a a
s u a c a r t a p a s t o r a l t r e c ho s d a o br a d e L a m a r t i n e 48, t r a z e n d o n a s
p á g i n a s d e O D e l t a p a r á g r a f o s e fr a s e s t r a n s c r it a s d a c a r t a e a o
l a d o , t r e c h o s d e L a m a r t i n e e m l í n g u a fr a n c e s a , d e n u n c i a n d o e
d e mo n s t r a n d o a o s l e it o r e s o p l á g io d o b i s p o .
E x a lt a n d o o s va lo r e s e n s i n a d o s p o r C r i s t o c o mo o a mo r , o
p e r d ã o , a c a r i d a d e e a c o m p a i x ã o , d i z q u e a I g r e j a na d a d i s s o o fa z ,
m a s e x e r c e o o po s t o d a d o u t r i na c r i s t ã :
E mf im, em face do int er ess e mat er ial da igr eja despr ezas e tudo qua nt o ens ina o E vangelho e pr ega-s e o qu e
inst itu iu o s yllabus, qu e é a mentir a, a cor r upção e o
45
O Delta, Ano I, Janeiro/1917. Nº 07, p. 105.
O Delta, Ano VI, Outubro/1921. Nº 04, p. 103
47
O Delta, Ano VI, Outubro/1921. Nº 04, p. 103
48
Escritor francês (1790-1869)
46
47
ma ior u ltr age a os pur os ens ina ment os pr ega dos p el o
gr ande iniciado qu e f oi J esus Chr isto”. 49
A l é m d e mo s t r a r a I g r e j a c o mo a l h e i a a o s ve r d a d e ir o s va l o r e s
c r i s t ã o s , a r r e b a t a o S y l l a b u s 50 e m s u a c r ít i c a , t e r m i n a n d o p o r
e x a lt a r C r i s t o c o mo u m g r a n d e e v e r d a d e ir o n e ó f it o , t r a z e nd o a o
l e it o r a i m a g e m d e u m a m a ç o na r i a c o m p r o m e t i d a c o m o s p r i n c í p io s
de verd ade e just iç a.
At é
m e s mo
a
s e r ve nt i a
do
c lero
para
a
e xe cuç ão
de
s a c r a m e nt o s é d i s c u t i d a no p e r ió d i c o , c o mo e m u m a r t ig o r e f e r e nt e
à
e n c o me n d a ç ã o
in flu e nt e
ma ço m
maçô nic a
em
c o ns e q ü ê n c i a
po rt o -alegre nse,
José
da
mo r t e
d ’O live ir a
de
um
Marques.
A l e g a n d o a i g u a l d a d e e x i s t e n t e e nt r e t o do s o s ho m e n s p e r a nt e
D e u s , o a r t ig o fa l a q u e c o mo q u a l q u e r o u t r a p r o f i s s ã o , n ã o é
prec iso
fo r m a ç ã o
t e o ló g i c a p a r a
a
s a c r a m e nt a ç ã o
de qua lq uer
pesso a, po is:
...qualqu er homem p oder fazer a encommen daçã o de u m
cor po, com o mes mo va lor , com ma is pr oveit o, com ma is
sincer ida de qu e o faz a egr eja, p or qu e iss o nã o é u m
pr ivilégio, é u m act o de comp et ência. 51
Se ndo
u ma
p r á t ic a
co mu m
neste
p e r ío d o
a
ne gaç ão
de
s e p u lt a m e nt o o u d e s a c r a m e nt o s p e lo c l e r o c a t ó l i c o a o s i n i c i a d o s
n a M a ç o n a r i a , o jo r n a l i g u a l a e d e s m e r e c e o o f í c io d o s p a d r e s . O
a s s u n t o ve m à t o n a i m p u l s io n a d o a i n d a p e l a e d i ç ã o a nt e r io r a e s t a ,
o nde r e lat a co m ind ig naç ão a nega ç ão de u m padr e d a c id ad e
T a q u a r i d e r e a l i z a r o r it u a l d e e n c o m e n d a ç ã o d e u m a m u l h e r a o
s a b e r nã o e r a c a s a d a n a r e l i g i ã o r o m a n a . 52
49
O Delta, Ano I, Janeiro/1917. Nº 07, p. 105.
Documento papal que estabelece os ideais espirituais da Igreja.
51
O Delta, Ano I, Fevereiro/1917. Nº 08, p. 117.
52
O Delta, Ano I, Janeiro/1917. Nº 07, p. 112.
50
48
A c o l u n a “C a r t a s C o n f i d e n c i a e s ” d e f e v e r e i r o d e 1 9 1 7 , t r a z a
c r ít i c a
so bre
u ma
no t íc i a
v inc u la da
no
jo r n a l
cat ó lico
“ A c t u a l i d a d e ” , q u e no t ic io u e c o nd e no u o s u i c í d i o d e u m jo v e m
q u e a r r e m e t e u - s e d o i s t ir o s n a c a b e ç a . D i z e n d o q u e o s e s c r it o r e s d o
jo r n a l a o c o n d e n a r e d e s r e s p e it a r a m e mó r i a d o a t o r me nt a d o mo ç o ,
e s t ã o e s q u e c e n d o e r e p u d i a n d o o s s u b l i m e s e n s i n a m e nt o s d e C r i s t o ,
e q u e u m s u i c i d a s e m p r e é u m d o e nt e o u o bs e d a d o . Ap r o v e it a O
D e l t a e r e p r o d u z a n o t í c i a d o jo r n a l A N o it e , d e A l a g o a s , o nd e
d i s c o r r e s o br e a t e nt a t i v a d e s u i c í d io d e u m p a d r e c o m t r ê s
p u n h a l a d a s n o p e it o d ir e i t o , f i c a n d o e m e s t a d o g r a v e . N o f i n a l d o
a r t ig o , p e r g u nt a - s e a o a r c e b i s p o p o r t o a le g r e n s e c o mo f i c a r á e s s e
s a c e r d o t e p e r a n t e a s u a I g r e j a . 53
A l é m d e t e x t o s e a r t ig o s c r it i c a nd o d ir e t a m e n t e a a ç ã o d o
c l e r o c a t ó l i c o , e n c o nt r a mo s na s p á g i n a s d o p e r ió d i c o p a s s a t e m p o s e
po e mas
d i r e c io n a d o s
à
Igre ja
Ro ma na
e
suas
i n s t it u i ç õ e s ,
g e r a l m e n t e c o m h u mo r t o c a d o p e l a i r o n i a e c i n i s mo , c o mo p o d e s e r
v i s t o e m u m r e l a t i vo
à c o ns t r u ç ã o d a C a t e d r a l M e t r o p o l it a n a
i n t it u l a d o “ R u m o a o fu t u r o ” :
- Mamã e, o qu e é o abr igo noctur no?
- É u m casar ão qu e estã o constr uindo ju nt o ao palácio do
gover no meu f ilho.
- Aqu illo nã o é a Cathedr al?
- Não, meu filho, a Cathedr al va e s er f eita p ela
I nt endência qua ndo s obr ar dinheir o par a as cousas do
céu; aqu illo é do p ovo.
- Não lhe ent endo!...
- Ent ender - me-as d’aqu i a dez anos qua ndo a Cathedr al
estiver pr ompta. 54
T a m b é m v á r io s p o e m a s o n d e o a l vo e r a a C o m p a n h i a d e
J e s u s , c o mo p o d e mo s v e r no p o e m a i nt it u l a d o “C a l e m bo u r ” d e
aut o ria de Gu erra J u nqu e iro :
53
54
O Delta, Ano I, Fevereiro/1917. Nº 08, p. 121.
O Delta, Ano IX, Agosto e Setembro/1925. Nº 05 e 06, p. 48
49
Ó Jesu ítas, vós s ois d’u m far o tão astuto,
T endes tal cor r upçã o e tal velhar ia,
Qu e é tal cor r upção e tal velhacar ia,
Qu e é incr ível até qu e o f ilho de Mar ia
Não s eja inda velha co e não s eja cor r upto,
Anda ndo há tanto t emp o em tão má companhia. 55
S e nd o
co nsider ada
c o mo
arqu iin im ig a
da
m a ç o na r i a ,
a
C o mp a n h i a d e J e s u s s e m p r e fo r a v i s t a c o mo a c o n g r e g a ç ã o m a i s
p e r i g o s a d a I g r e j a C a t ó l i c a , d e v i d o a s u a p a r t i c i p a ç ã o i n f l u e nt e e m
g o v e r n o s e na fo r m a ç ã o e d u c a c i o n a l , m u it a s ve z e s s e nd o u s u a l o
t e r mo je s u ít a p a r a s e r e f e r i r a o c l e r o c a t ó l i c o e m g e r a l .
A i n d a n a m e s m a e d i ç ã o , a c o l u na “ C a r t a s C o n f i d e n c i a e s ” , a o
f a l a r s o br e o l a n ç a m e nt o d e u m l i v r o e s c r it o p o r u m m a ç o m s o b o
t ít u lo
“ C r o n o lo g i a
da
H i s t ó r ia
R io g r a nd e ns e ” ,
faz
propaganda
r e s s a lt a n d o d a i m p o r t â nc i a d a a d o ç ã o d e s t e l i v r o e m c o n t r a p o nt o a
mo n o p o l i z a ç ã o
do
e n s i no
p e lo
j e s u it i s m o ,
j u nt a m e nt e
co m
o
desca so do po der público à sit ua ção . D iz qu e a co ngreg aç ão que já
fo r a e x p u l s a d e v á r io s p a í s e s m a i s c i v i l i z a d o s , a i n d a p e r m a n e c e e m
n o s s o p a í s , e o s a s s e c l a s d e L o yo l a a g e m “ a s o m b r a d a no s s a
e x c e s s i v a t o l e r â n c i a ” 56. N o a r t ig o
“Já é t e mpo ”, de st ac a-se a
r e fo r m a p o m b a l i n a q u e e x p u l s o u o s j e s u ít a s d e P o r t u g a l, q u e e r a m
d o n o s d a e d u c a ç ã o e t i n h a m e n t r a d a l i vr e no g o ve r n o p o r t u g u ê s ,
ma s
fo r a m
ba nido s
do
pa ís
de vido
ao
atraso
por
e le s
p r o p o r c io na d o s , r e it e r a n d o a n e c e s s i d a d e d e t ir a r a e d u c a ç ã o d a s
m ã o s d o s j e s u ít a s . 57
Depo is
do
vigár io
da
S a nt a
Casa
atacar
e
co nd e nar
a
M a ç o n a r i a c o mo p e r i g o s a e i n d i g n a e m u m s e r m ã o , a c o lu n a
“ C a r t a s C o n f i d e n c i a e s ” d o mê s d e m a i o d e 1 9 1 7 e x a lt a a f i g u r a d e
D . S e b a s t iã o L a r a ng e i r a , d i z e n d o q u e e l e n ã o s e n d o je s u ít a , ne m
55
O Delta, Ano I, Março/1917. Nº 09, p. 142.
O Delta, Ano I, Fevereiro/1917. Nº 08, p. 144.
57
O Delta, Ano I, Junho/1917. Nº 12, p. 181.
56
50
m e s m o e s t r a n g e i r o , t i n h a v a lo r mo r a l p e l a s v i r t u d e s e t a l e n t o s . U m
d i a m a l a c o ns e l h a d o , d i z q u e o b i s p o la n ç o u - s e n a l u t a c o n t r a a
Ma ço nar ia,
ma s
se
viu
o br i g a d o
a
recuar
para
ja ma is
fazer
re fere nc ia à Orde m Ma çô nic a.
D u v i d a n d o d a na c io n a l i d a d e d e D . J o ã o B e c k e r , d i z q u e o
arce b ispo
ju n t a m e nt e
co m
seus
p r o s é l it o s
e st range iro s
são
p e r n i c io s o s , e q u e e l e f e z d a S a nt a C a s a u m a d e p e n d ê n c i a d o
a r c e b i s p a d o , i nt e r c e d e nd o n o s d e s t i no s d a i n s t it u i ç ã o , d e s v i r t u a n d o
a a ç ã o b e n e f i c e n t e d a i n s t it u i ç ã o q u e é a p o i a d a p e l a m a ç o n a r i a e
p o r v á r io s m a ç o n s p o r c o nt a p r ó p r ia . 58
A r e l a ç ã o d a S a nt a C a s a c o m a I g r e j a a p a r e c e r i a d o i s a n o s
d e p o i s n o v a m e nt e , e m o “H o s p it a l R e l i g io s o ” o n d e i n d i g n a d a m e n t e
f a l a - s e s o b r e o p a r e c e r d o jo r n a l O C o r r e io d o P o v o q u e d e c l a r o u
q u e o ho s p it a l e r a u m a i n s t it u i ç ã o r e l i g io s a . D e n u nc i a n d o q u e o s
p a c i e n t e s q u e n ã o c o mu n g a v a m e r a m m a l t r a t a d o s , O D e l t a c l a m a
q u e t a l h o s p it a l fo i c o ns t r u í d o e m a nt i d o p e lo E s t a d o c o m d i n h e i r o
p ú b l i c o , p o r t a nt o d e v e r i a s e r l e i g o . D i z a i n d a q u e P o r t o A l e g r e ,
p o r a br i g a r t a nt a s p e s s o a s d o s m a i s d i f e r e nt e s c r e d o s o u m e s mo
i r r e l i g io s o s ,
to t alme nt e
acena
le igo ,
u ma
“d o
u r g e nt e
qual
nece ssid ade
e st ive sse m
de
ba nid a s
um
as
ho s p it a l
ma lfad ada s
i n f l u ê n c i a s e p r e f e r ê n c i a s e c t á r i a s . ” 59
M u it o b e m v i n d a fo i a no t íc i a d a a bo l i ç ã o n o M é x i c o e m
1 9 1 7 , d o c u lt o e xt e r no d o c a t o l i c i s mo r o m a n o . E n t r e a d e s t it u i ç ã o
d o c le r o c a t ó l i c o c o mo f u nc i o ná r i o s p ú b l i c o s , e s t e mo m e nt o v i s t o
c o mo g lo r io s o p e l a m a ç o n a r i a , i m p l i c a v a a o s p a d r e s a p r o i b i ç ã o d o
u s o d e b a t i n a s no d i a - a - d i a , a p r o i b i ç ã o d e r e c e b e r v a lo r e s p o r s e u s
s e r v i ç o s r e l i g io s o s e a e xt i n ç ã o d a c o n f i s s ã o s o b a p e n a d e mo r t e
p a r a o p a d r e q u e e x e c u t a s s e t a l s a c r a m e n t o . 60
E m 1 9 2 6 vo lt a o a s s u nt o s o b r e a r e fo r m a d a I g r e j a n o
M é x i c o , o n d e a l é m d e s u p r i m i r o c e l i b a t o , i n s t it u i u o c u lt o e m
58
O Delta, Ano I, Maio/1917. Nº 11, p. 171.
O Delta, Ano IV, Agosto/1919. Nº 02, p. 42.
60
O Delta, Ano II, Julho/1917. Nº 01, p. 20.
59
51
l í n g u a e s p a n ho l a e a d m i n i s t r a ç ã o d e s a c r a m e n t o s g r a t u it a m e n t e ,
c r i a nd o a s it u a ç ã o d e o s p a d r e s e s t r a n g e i r o s q u e n ã o s e s u j e it a s s e m
à s n o va s d i r e t r iz e s , s e r e m e x p u l s o s d o t e r r it ó r io m e x i c a n o . D i z q u e
t a l a t it u d e d o g o v e r no é g lo r io s a p a r a o s e u p o v o e p a r a a l i v r e c o n s c i ê n c i a . 61 A d i r e t o r ia d o G r a n d e O r i e n t e d o R i o G r a nd e d o S u l ,
m a n d o u u m t e l e g r a m a a o M i n i s t r o p l e n i p o t e nc i á r io d o M é x i c o
p a r a b e n i z a nd o
e
se
s o l i d a r i z a nd o
co m
a
ação
de
libertar
a
c o n s c i ê n c i a d a “ p e r n i c i o s a o p p r e s s ã o c l e r i c a l ” , p r i n c i p a l e nt r a v e
d o p r o g r e s s o d o s p o vo s c o n t e m p o r â ne o s .
A r i x a e nt r e a s d u a s i n s t it u i ç õ e s c h e g a va a o p o n t o d i s c u t ir a
f é a t é m e s mo d o s c o n s i d e r a d o s he r ó i s f a r r o u p i l h a s . É o c a s o d a
p u b l i c a ç ã o d e u m l i v r o q u e f a l a v a q u e o G e ne r a l O s ó r io , m a ç o m e
farr apo ,
que
t e r ia
no s
ú lt i m o s
d ia s
de
sua
vid a
a bju rado
a
m a ç o n a r i a , mo r r e n d o a br a ç a d o n o c a t o l i c i s mo . O a r t i g o , n e g a n d o
t a l a c o n v e r s ã o , d iz q u e é g o l p e b a i xo p o r p a r t e d a i g r e j a s e
u t i l i z a r d e u m a f i g u r a t ã o g lo r io s a p a r a s e b e n e f i c i a r , e a p r o v e it a
p a r a s u a a d e f e s a a s p a l a v r a s d o f i l h o d o G e n. O s ó r io , o D r .
F e r n a n d o O s ó r io t a m b é m f i l i a d o à m a ç o n a r i a e q u e d e c l a r a q u e s e u
p a i n u nc a a b j u r o u a O r d e m , s e n d o c a l u n io s a a s u a c o n v e r s ã o
n o t ic i a d a . 62
O c o n f l it o d a d u a l i d a d e e m s e r m a ç o m e c a t ó l i c o t a m b é m é
re ve la do
pe la
negação
de
r e vist a,
pr inc ipa lme n t e
s a c r a m e nt o s
e
em
e nco me ndaçõ e s
n o t íc i a s
por
re lat iva s
padres
à
q u a nd o
d e s c o b r i a m q u e o f i e l e r a m a ç o m. P o r ma i s q u e a m a ç o n a r i a
c o m b a t e s s e a a ç ã o c l e r i c a l n a s o c i e d a d e , d i f i c i l m e nt e a t a c a v a f é
c a t ó l i c a , m a s s i m a I g r e j a s o b o a s p e c t o p o l ít i c o e c o m e r c i a l , c o mo
f a l a mo s a n t e r io r m e n t e .
N a p á g i n a d e s t i n a d a à r e g i s t r o s , e n c o nt r a mo s a n e g a ç ã o p a r a
a f a m í l i a d e u m a m i s s a d e f a l e c i m e n t o a o I r ∴ M a jo r C l e m e nt i n o
d o s S a n t o s C r o á . O a r t ig o a l e r t a q u e t o do o m a ç o m d e v e s e r
c o n s c i e n t e d a p e n a d e e x c o m u n h ã o d ir i g i d a p e lo p a p a à t o do s
61
62
O Delta, Ano X, Junho/1926. Nº 04, p. 82.
O Delta, Ano II, Setembro/1917. Nº 03, p. 57.
52
pert ence nt e s à Ord e m, e a lert a m ao s fa miliar e s do s ma ço ns qu e
t enha m c u ida do ao ped ir qua lquer ser viço da I gre ja par a não
p a s s a r e m p o r u m a s it u a ç ã o c o ns t r a n g e d o r a . M e s mo s e n d o p í f i a a
e x c o m u n h ã o la n ç a d a p e lo p a p a a o s m a ç o n s , o a r t ig o fa l a q u e :
Os padr es, r ecusando-s e a r ezar a missa, for am
coher ent es com o r oma nis mo, s i b em nã o pr ocedess em
chr istã ment e; a incoher encia est eve no la do da fa mília
do noss o ir mã o e, r ef lexa ment e, do lado delle, o qu e
mu it o la menta mos. 63
A r e s p o n s a b i l i d a d e d o o c o r r i d o n ã o f i c a s o m e n t e na s c o s t a s
do
c le r o ,
mas
t a mbé m
na
fa mília
do
maço m
fa le c ido .
Na
c o nt i n u i d a d e , d i s c o r r e s o b a e x i s t ê n c i a d e u m r it u a l m a ç ô n i c o ,
d e no m i n a d o P o m p a F ú n e br e r e a l i z a d o p a r a a h o m e n a g e m d e i r m ã o s
fa le c ido s,
não
n e c e s s it a nd o
fic ar
na s
mão s
do
c lero
para
h o m e n a g e n s p ó s t u ma s . M u it a s v e z e s o s e io d a f a m í l i a d o ma ç o m
e nt rava
em
c o n f l it o ,
p o is
a
ma io ria
das
fa mília s
liga da s
à
m a ç o n a r i a e r a m c a t ó l i c a s , f i c a nd o p r i n c i p a l m e nt e a e s p o s a m a i s
s u s c e t í ve l a o d i s c u r s o c a t ó l i c o e m r e l a ç ã o à m a ç o n a r i a .
E m u m o u t r o c a s o , u m a f a m í l i a a o p r e s t a r a s ho m e n a g e n s d e
u m fa miliar ma ço m na Igre ja, imp ed iu que o s IIr∴ fiz esse m seu s
r it u a i s e m h o m e n a g e m a o fa l e c i d o , s e nd o d u r a m e nt e c r it i c a d o p e l a
re vist a, ped indo caut e la ao s ma ço ns de co nsc iê nc ia s livre s, par a
q u e d e i x e m a s s u a s f a m í l i a s s o br e - a v i s o d e c a s o d e mo r t e , d e n ã o
f a z e r a s ho m e n a g e n s p ó s t u m a s d e nt r o d a I g r e j a . A p r o v e it a p a r a
v o lt a r a f a l a r d a s i n c o e r ê n c i a s d a I g r e j a , d e v i d o a o i m p e d i m e nt o d a
e n c o m e n d a ç ã o d e u m c a t ó l i c o p e lo t e n s e p o r e s t a r e x c o mu n g a d o
p e lo b i s p o . A r e v i s t a q u e s t io na c o mo s e p o d e f a z e r a e n c o m e n d a ç ã o
d e u m m a ç o m, s o br e o q u a l p e s a a e xc o m u n h ã o d e u m p a p a .
Ta mbé m
e n c o nt r a mo s
no t íc ia s
de
s it u a ç õ e s
p it o r e s c a s
r e l a t a d a s na s p á g i n a s d o O D e l t a e n v o l v e n d o o c le r o e o s s e u s f i é i s
63
O Delta, Ano II, Novembro/1917. Nº 05, p. 20.
53
n o i nt e r i o r d o R io G r a nd e d o S u l e n o B r a s i l . C o mo n a e d i ç ã o d e
F e v e r e i r o d e 1 9 1 8 , n a c i d a d e d e T a q u a r i, u m p a d r e a o b a t i z a r u m a
c r i a n ç a f r u t o d e u m a u n i ã o a p e na s f e it a n a p a r t e c i v i l , p r e s s i o n a o s
cô nju ge s
a
a p r o v e it a r e m
o
mo m e n t o
e
t a m bé m
casar em
no
r e l i g io s o . S e n d o r e j e i t a d o p e l o s p a i s d a c r i a n ç a , v i s t o q u e o s d o i s
e s t a va m l e g it i m a m e nt e
m a t r i mo n i a d o s c o n f o r m e d e t e r m i n a m a s
l e i s , e q u e e r a m f e l i z e s e a m a v a m - s e mu t u a m e n t e , d i s s e r a m a o
p a d r e q u e e r a d e s ne c e s s á r i a q u a l q u e r o u t r a fo r m a l i d a d e .
S o b a i n s i s t ê n c i a p l e n a d o s a c e r d o t e , o c a s a l a c a b a c e d e nd o
à s j u s t i f i c a t i v a s e a c e it a o c a s a m e nt o r e l i g io s o , m a s n a c o n d i ç ã o
q u e n ã o p a g a r i a m n e m s e q u e r u m t o s t ão p a r a a c e l e b r a ç ã o . O p a d r e
n ã o a c e it o u a p r o p o s t a d e n ã o r e c e b e r , c a u s a nd o i n d i g n a ç ã o d o s
pres e nt es ao bat izado , cr ia ndo furo r ao pas so de o s fié is quer ere m
d a r u m a t u n d a n o p a d r e , i m p e d i d o s p e lo p r ó p r io p a i d a c r i a n ç a a
s e r b a t i z a d a . 64
A b u s c a d a d e s m o r a l i z a ç ã o d o c le r o e r a c o n s t a nt e m e nt e n a
r e v i s t a , c o mo p o d e mo s p r e s e n c i a r p e l a n o t íc i a i nt it u l a d a “U m p a d r e
a l e g r e ” 65 o n d e
fa la d e u m p adre d e
Pasos de
lo s L i b r e s
na
Ar g e n t i n a , q u e n o i n s u c e s s o d a f u nd a ç ã o d e u m a e s c o l a na q u e l a
lo c a l i d a d e , o p t o u p o r s e e m p r e g a r e m u m c a b a r e t r e c é m i n s t a l a d o
e m U r u g u a i a n a c o mo d ir e t o r d a o r q u e s t r a e p i a n i s t a , f a z e n d o
p r e s u m i r q u e o p a d r e , u t i l i z a v a s e u t e m p o d e ó c io d a I g r e j a p a r a
e ns a iar
tangos
c r i o u lo s
e
“t w o - s t e p s ”
em
a lgu m
p ia no
da
viz inha nç a da Igr e ja.
C ha ma ndo
de
e mbu st ar ia
pap ist a,
d ia nt e
as
pr et e nsõ e s
i n f a l í v e i s d a I g r e j a , a be n ç ã o d e u m t i m e j u v e n i l d a c i d a d e d e
C a x i a s é l e v a d o c o m h u mo r a o s a b e r q u e o t i m e p e r d e u o jo g o .
P e r g u n t a a r e v i s t a d e q u e v a l e a bê n ç ã o s p r o f e r i d a s p e lo c l e r o ,
s e n d o q u e d e n a d a a d i a nt a m , s o b a p o s s i b i l i d a d e a i n d a d e a c a r r e t a r
i n f o r t ú n io s a o s a b e n ç o a d o s , e x e m p l i f i c a d o s p e l a lo u c u r a d e C a r l o t a
64
65
O Delta, Ano II Fevereiro/1918. Nº 08, p. 175.
O Delta, Ano II, Fevereiro/1918. Nº 08, p. 190.
54
Jo aqu ina
e
de
outros
personagens
na
h i s t ó r ia
que
t ivera m
i n f o r t ú n io s c o m s u a s bê n ç ã o s . 66
T o d a e q u a l q u e r no t í c i a s o b o e n v o l v i m e n t o d e p a d r e s e m
casos
pe cu lia re s
t a mbé m
p r i n c i p a l m e nt e q u a nd o
era
r epro duz ido
pe la
re vist a,
s e r e f e r i a a q u e s t õ e s mo r a i s . E m u m a
v i a g e m d e t r e m , u m p a s s a g e i r o s e d e u c o nt a d a f a lt a d e u m v a l i s e
c o nt e n d o v i n t e c o n t o s d e r é i s , q u e a o d a r - s e c o n t a d o f u r t o , a v i s o u
a o a g e n t e d e I t a b i r a q u e o r o u bo t e r i a s i d o p r a t i c a d o p e lo p a d r e
c o mp a n he ir o d e v i a g e m q u e , a o s e r d e t i d o p e l a p o l í c i a d e M a r i a n a ,
fo i e n c o n t r a d o c o ns i g o a va l i s e , p o r é m c o m a p e n a s q u i n z e c o nt o s e
c inqü e nt a mil r é is.
Bu sca va- se co m assid u id ade a le rt ar ao s pa is e mar ido s do
d e s r e s p e it o e d a i mo r a l i d a d e d o q u a d r o c a t ó l i c o e m r e l a ç ã o à s
m u l h e r e s e c r i a n ç a s , r e l a t a n d o p r i n c i p a l m e nt e a s s é d i o s e m a u s
t r a t o s . C o mo o d e u m a m e n i n a p e r t e nc e nt e à c l a s s e d e u m c o n v e nt o
e s p a n h o l, q u e v i u p e l a f e c ha d u r a d e u m a p o r t a u m p a d r e e u m a
i r m ã “ e m t r a g e s m a i s q u e l i g e i r o s ” 67. A m e n i n a c o n t o u a s c o l e g a s e
i n f o r mo u a o fa t o à s u p e r io r a . A s it u a ç ã o c o n s t r a n g e d o r a c h e g o u
a o s o u v i d o s d o s e u p a i , q u e a o p r o c u r á - l a n a e s c o l a e n c o nt r o u - a
c o m a bo c a s a n g r a n d o , o c a s io n a d o p o r u m c o r t e na l í n g u a .
Ar t i g o s
c o nc e it u a i s
Reproduzindo
e n vo l v e n d o
t a mbé m
um
questões
t ive ra m
d iscur so
r e l i g io s a s ,
espaço
f e it o
em
reser vado
sessão
p e lo
d o g m á t ic a s
e
na
re vist a.
Ir∴
Paulino
D i a m i c o , i nt i t u l a d o “ R e l i g i ã o o u C l e r i c a l i s mo ” 68 c o mp a r a a r e l a ç ã o
e n t r e o s d o i s c o n c e i t o s . A l e g a n d o q u e o c le r o c o n s e g u i u f u nd i r a
i d é i a d e r e p r e s e n t a nt e s d i r e t o s d a R e l i g i ã o , f a z e n d o q u e a s p a l a v r a s
I g r e j a e D e u s v i r a s s e m s i nô n i m o s . D i z q u e é e r r ô n e o a c r e d it a r q u e
a m a ç o n a r i a é c o nt r a a r e l i g i ã o e m s i , p o is e l a l u t a é c o nt r a a a ç ã o
s o r r a t e ir a d o c l e r i c a l i s mo q u e a b u s a d e s u a c o n d i ç ã o p r i v i l e g i a d a
n a s o c i e d a d e . S e n d o c o ns i d e r a d o u m d o s p r i nc í p io s d a m a ç o n a r i a a
66
O Delta, Ano III, Abril/1919. Nº 10, p. 201.
O Delta, Ano IX, Novembro/1925. No.08, pág. 100
68
O Delta, Ano II, Junho/1918. No.12, pág. 265..
67
55
l u t a c o nt r a a h i p o c r i s i a , o a u t o r r e it e r a q u e o s p e d r e i r o s - l i v r e s s ã o
sim in imigo s do c lero .
Dahi, compr ehend e-s e o ma nejo. Cada membr o do cler o,
adivinha em cada maçon u m inimigo e, p ara livr ar -s e
delle a os olhos dos f ieis da sua egr eja, convence a ess es
da sua igr eja; de qu e devem fu gir de ma çons e d e
Maçonar ia, qu e sã o, elles, her ejes e at heus e ella, obr a d o
D emo. 69
E ma i s a d i a n t e d e f e n d e a M a ç o n a r i a e i m p i e d o s a m e nt e a g r i d e
o c le r o d i z e n d o q u e :
Quando vos diss er em qu e os ma çons são inimigos da
r eligião, dizei- lhes : ‘ Não! É fals o! Nã o são inimigos da
r eligião: sã o inimigos do conf ess ionár io, onde p ollu ís e
infa ma es a vir gindade, onde tr ans via es a as matr onas,
onde p er ver t eis a infâ ncia. Os maçons r esp eita m e
acatam todas as r eligiões, mas fazem pr ofu nda e r adical
dist incção entr e RELIG I ÃO e CLERO; entr e o cu lt o
r eligios o e ao exp lor ação cler ical; entr e a aspir ação
sincer a par a Deus e a venda, p or dinheir o, de u m
sacr ament o qua lqu er , cr iminosa ment e f eita. 70
É n ít i d o n e s t e s d o i s p e q u e no s t r e c ho s , q u e a c r ít i c a e s t e n d i a s e n ã o s o m e n t e à c o br a n ç a d e s a c r a m e nt o s , m a s t a m b é m a q u e s t õ e s
mo r a i s e xe r c i d a s p e lo s p a d r e s e a o c o n f e s s i o n á r i o v i s t o c o mo u m
c o nt r o l e à s m a s s a s . T a m b é m d e n ú n c i a a d e m o n i z a ç ã o à M a ç o na r i a
p e lo c l e r o , c o mu m no s jo r n a i s c a t ó l i c o s e n a s p r e g a ç õ e s no s
p ú l p it o s .
E m o u t r o a r t ig o 71, O D e l t a c o lo c a e m d ú v i d a a ve r a c i d a d e d o
N o v o T e s t a m e n t o , q u e s e m p r e e s t e v e n a s m ã o s d a I g r e j a e p o r t a nt o
s u s c e t í ve l a m u d a n ç a s o p o r t u n i s t a s , j á q u e a v e r a c i d a d e d o V e l h o
69
O Delta, Ano II, Maio/1918. No.11, pág. 243.
O Delta, Ano II, Maio/1918. No.11, pág. 244.
71
O Delta, Ano V, Setembro/1920. Nº 03, p. 63
70
56
T e s t a m e nt o é a s s e g u r a d o p e lo p o vo j u d e u . T a m b é m r e p a r a a c r i a ç ã o
e a a c e it a ç ã o d e s a nt o s e m á r t i r e s , a s l e n d a s d o s b r e v i á r io s e a
e x i s t ê n c i a d e r e l í q u i a s , r e f e r i n d o c o m h u mo r q u e e m P o r t u g a l, fo r a
a c h a d a t r ê s l í n g u a s d e S a nt o A nt ô n io , e t o d a s fo r a m c o n s i d e r a d a s
r e l í q u i a s l e g it i m a s .
O c e l i b a t o i m p o s t o a o c le r o e r a a l v o d e r e p r o va ç ã o p e l o s
m a ç o n s , s e nd o c o n s i d e r a d o u m c r i m e c o nt r a o s s e nt i m e nt o s m a i s
p u r o s e hu m a no s e , a p r o v e it a n d o o s d e s l i z e s “ l i b e r t i n o s ” d o s
padres
para
d e mo n s t r a r
a
repu lsa
p e lo
c e r c e a m e nt o
se xua l.
T r a z e n d o a no t íc i a q u e o e x- p a d r e J o s é D e m e t r io d e M i r a n d a , q u e
ao
se
a p a i xo n a r
pe la
e nt ã o
fu t u r a
esposa,
largo u
a
bat in a
t r a ns f o r m a n d o o e p i s ó d io e m c a s o d e p o l í c i a , a p e d i d o d o a r c e b i s p o
q u e n ã o a c e i t o u a a t it u d e d o p a d r e . O D e l t a p e d e p a r q u e o s p a d r e s
q u e a i n d a n ã o e s t e j a m “ a f f e c t i v a m e n t e e s t e r e l i z a d o s ” 72 s i g a m e s t e
e x e m p lo .
O a r t i g o i n t it u l a d o “P o r q u e a ba n d o n o o C l e r o ” , d e a u t o r i a d o
e x - p a d r e J o s é A n u s z , a nt i g o v i g á r io d e Ar a u c á r i a / P R , r e f l e t e s o b r e
o ce libat o e o ut ras quest õ es q ue fiz era m sa ir do sa cerdó c io :
“ D e p o i s d e m u it o p e n s a r e r e f l e c t ir , r e s o l v i t o r na r - m e ho m e m
c o mp l e t o , c id a d ã o q u e c u m p r e t o d o s o s s e u s d e v e r e s : - C a s e i - m e . ” 73
E x p l i c a n d o q u e o c e l i b a t o é u m c r i m e ho r r í v e l i m p o s t o p e l a
Igre ja ao s s eu s s ac erdo t es, d iz q ue e s sa mut ila ção s er ve para qu e
R o ma m a n t e n h a u m m a io r d o m í n i o s o b r e s e u s a s s e c l a s , t o r n a n d o - o s
s e r v o s e xc l u s i vo s e s e p a r a d o s d o p o vo . V a i m a i s lo n g e a o d i z e r q u e
o c a t o l i c i s mo n ã o é r e l i g i ã o , m a s s i m u m s i s t e m a i m p e r i a l i s t a q u e
t e m p o r f i m d e d o m i n a r o mu n d o .
E m o u t r a e d i ç ã o , r e p r o d u z i n d o u m a c a r t a d e u m e x- p a d r e
p o r t e nh o , F r e i E l i a s S u g i s m u n d o , r e l a t a - s e o p o r q u ê s a i u d o c l e r o .
D i z e n d o q u e a m o r a l e c l e s i á s t i c a é h i p ó c r it a e q u e a l it u r g i a é u m a
i n f a m e c o m é d i a , o e x- p a d r e a t a c a f r o nt a l m e n t e o S y l l a b u s q u e
s e g u n d o e l e , é a ne g a ç ã o d a l i b e r d a d e i n d i v i d u a l, a t r a v é s d a
72
73
O Delta, Ano II, Abril/1918. Nº 10, p. 233.
O Delta, Ano III, Outubro/1918. Nº 04, p. 75.
57
c o n f i s s ã o q u e t o r n a o p a d r e d e p o s it á r io d a s ho n r a s d a s f a m í l i a s ,
p o r t a nt o u m m e c a n i s mo d e d o m i n a ç ã o . A l é m d a a v a r e z a , c r it i c a o
l u x o e a i mo r a l i d a d e d o s c o n v e nt o s , u m a i n d e c ê n c i a q u e s e g u n d o o
e x - fr e i d e v e s e r b a n i d a . T e r m i n a a c a r t a d i z e n d o :
E m vista do exp ost o, r enu ncio a o meu mini stér io e, ao
abjur ar os meus er r os, qu er o dedicar - me ao tr abalho
honr ado e r ecup er ar , p elo ex emp lo, o t emp o qu e p er di
occupa ndo- me de u ma r eligião qu e é a nega ção ma is
audaz e fu nesta da lib er dade hu ma na. 74
A re vist a, at re la va o c e libat o impo st o a u m cr ime co nt ra a
nat ureza hu ma na, pa s sa ndo da ima g e m do s pa dre s a dept o s do
c e l i b a t o fo r ç a d o c o mo ho me n s l i b e r t i n o s e p e r i g o s o s , f r u t o d a s u a
c o nd i ç ã o i m p o s t a p e l a s l e i s d a I g r e j a . A l e r t a p a r a q u e o s m a ç o n s
n u n c a d e i x e m s u a s m u l h e r e s e s u a s f i l h a s s o z i n h a s j u nt o a o s
c o n f e s s io n á r io s . A t e nt a t i v a d e p a s s a r a i m a g e m d e i mo r a l i d a d e
o c a s io n a d a p e lo c e l i b a t o p o d e s e r v i s t o e m n o t í c i a s r e f e r e n t e s a
a bu so s se xua is co met ido s pe lo c lero .
C o mo o c a s o d o p a d r e T h e o d o r R o c ha , v i g á r io d e P e t r ó p o l i s ,
q u e s e d u z i u e d e s o nr o u u m a m e no r , f i l h a d o d r . M a i a M o nt e ir o ,
d ir e t o r d o p r o t o co lo d o M i n i s t é r io d o E x t e r io r . O i r m ã o d a v ít i m a ,
a o e n c o nt r a r o p a d r e , d e s f e c ho u - l h e c i n c o t ir o s d e r e vo l v e r e r r a n d o
o a l v o e p e r m it i n d o a f u g a d o v i g á r io . Ao s l e i t o r e s d e O D e l t a f i c a
o a v i s o p a r a nã o d e i x a r s u a s f i l h a s e e s p o s a s s o z i n h a s j u n t o a o
c o n f e s s io n á r io . 75
At é m e s mo s i t u a ç õ e s s e m e l h a nt e s s u c e d i d a s fo r a d o p a í s e r a m
e d it a d o s na r e v i s t a c o mo na I t á l i a , o n d e fo r a d e s m a s c a r a d o u m
p a d r e , m a i s c o n he c i d o c o mo o R a s p u t i n it a l i a n o , p o r t e r s e d u z i d o
v á r i a s m u l h e r e s d a a r i s t o c r a c i a l o c a l. A c u s a d o d e ho m i c í d io d e u m
s u p e r io r , o p a d r e s e d u t o r fo i p r e s o e n a s u a c e l a n o mo s t e i r o fo r a
74
75
O Delta, Ano IV, Abril/1920. Nº 10, p. 221
O Delta, Ano V, Janeiro/1921. Nº 07, p. 157.
58
e n c o n t r a d a m a ç o s d e c a r t a s d e s e n ho r a s d a a r i s t o c r a c i a e c h a v e s d e
a l g u m a s c a s a s c o n h e c i d a s d e R o m a . 76
T a m b é m d i z i a o a r t ig o q u e o s mo s t e i r o s s ã o d e s d e o s t e mp o s
m a i s r e mo t o s v e r d a d e i r o s a nt r o d e b a nd i d o s , a o i n v é s d e s e r u m
m a n a n c i a l d e p a z e a mo r a D e u s .
E o c e l i b a t o fo r ç a - o s a t e r e m o s
i n s t i n t o s m a i s fo r t e s , c o m e t e nd o c r i m e s c o nt r a a f a m í l i a e a
so c ied ade,
t o rna ndo
urge nt e a
nec e ss idad e de
e xt er minar
“t a l
e s p é c i e d e f e r a s ” 77 s o br e a t e r r a .
A C o n s t it u i ç ã o d a R e p ú b l i c a d e 1 8 8 9 t o r no u o B r a s i l u m
Est ado le igo , se m u ma re lig ião o fic ia l, co rt ando o s vínc u lo s le ga is
c o m a I g r e j a C a t ó l i c a m a nt i d o s p e lo p a d r o a d o . M a s a i n d a n a d é c a d a
d e 1 9 2 0 , p o d e mo s e n c o nt r a r r it u a i s c a t ó l i c o s d e nt r o d e e s p a ç o s s o b
t u t e l a d o E s t a d o q u e d e ve r i a m s e r l e i g o s , d e n u nc i a d o s a t r a v é s d o O
D e l t a c o mo i l e g a i s e a f r o nt a d o r e s d a C o n s t it u i ç ã o br a s i l e i r a .
E m u m s e r m ã o r e a l i z a d o na i g r e j a d a C r u z d o s M i l it a r e s , no
R io d e J a n e i r o , u m p a d r e d e f e n d e q u e o p o d e r m i l it a r e s t á a c i m a d a
p r ó p r ia c o n s t it u i ç ã o a f i r m a n d o q u e :
. . . a P á t r i a n ã o er a s ó o t er r i t ó r i o q u e h a b i t a m o s : er a
a t r a d i ç ã o , er a a l í n g u a , er a a r e l i g i ã o ; e q u e , p o r
i s s o , o s o l d a d o d e v i a d e f e n d er a r e l i g i ã o e m
p u n h o . 78
D i z e n d o s e r u m a p r á t ic a c o mu m d o c l e r o p a r a i n s u f l a r e
m a nt e r o p o d e r d e m a n d o , o p e r ió d i c o c o n s i d e r a a bu s i v o e s s e t ip o
d e c o m p o r t a me n t o v i n d o d e u m a i n s t it u i ç ã o r e l i g i o s a . É i m p o r t a nt e
l e m b r a r q u e o s m i l i t a r e s a i n d a e r a m u m a g r a n d e fo r ç a p o l ít i c a n o
p e r ío d o , e n a d i n â m i c a d o d i s c u r s o d e q u e o s m i l i t a r e s e s t a r i a m
a c i m a d a c o n s t it u i ç ã o , f a z c r e r no c o n s e nt i m e n t o e a p o io c l e r i c a l à
u m a e v e n t u a l r e vo l u ç ã o / g o l p e p o r p a r t e d o s m i l i t a r e s .
76
O Delta, Ano V, Março/1921. Nº 09, p. 213.
O Delta, Ano V, Março/1921. Nº 09, p. 214.
78
O Delta, Ano II, Maio/1918. Nº 11, p. 254.
77
59
C o n t i n u a m e n t e a r e v i s t a p a s s a v a a i m a g e m a o l e it o r d o s
a b u s o s c o me t i d o s c o mo d e s e s p e r a d o r e s e p e r i g o s o s , p o i s o c l e r o
at ua va ac ima da s le is do Est ado . A s e paraç ão e nt re E st ado e Igre ja
n ã o t e v e i n f l u ê n c i a na r e l a ç ã o e n t r e a s d u a s , n a v i s ã o d a r e v i s t a ,
p o is o r o m a n i s mo c o nt i n u a v a b e n e f i c i a nd o - s e a s c u s t a s d o e s t a d o
a l é m d a a f r o n t a c o nt r a a c o ns t it u i ç ã o v i g e nt e .
C o mo no s mo s t r a a no t íc i a q u e l e v a a ir o n i a d o t ít u lo “ M a i s
v a l e t a r d e d o q u e nu n c a ” 79 o n d e a p o nt a q u e s ó a p ó s c e r c a d e t r i nt a
a n o s d e r e g i m e r e p u b l i c a no é q u e o s p a d r e s d e l i b e r a m nã o c a s a r
p e lo r e l i g i o s o s e m e x i b i ç ã o d o a t e s t a d o d e c a s a m e nt o c i v i l . T e n d o
e m v i s t a q u e i s s o d e ve r i a s e r u s u a l d e s d e o
d i a s e g u i nt e à
P r o c la m a ç ã o d a R e p ú b l i c a , mo s t r a m q u e e s s a a t it u d e d e n ã o a c a t a r
a s l e i s r e f l e t e o e s p í r it o d a I g r e j a e m p o r t a r - s e a c i m a d o E s t a d o .
É o pr odu ct o das r elações illicitas de u ma Repúb lica
par a a qual nã o ex ist em as r eligiões, com u ma egr eja qu e
nã o r econhece o dir eit o de ex ist ência dessa Repub lica;
de u ma ps eu do- democr acia ema ncipada de pr econceit os
r eligios os e qu e ma nt ém u m r epr es entante s eu, u m
ministr o, ju nt o á Santa Sé, ao Sant o Padr e, com u ma
r eligião qu e, p elo s eu cr edo, p ela sua estr uct ur a int er na,
r eputa
illega l,
clandest ina,
a
exist ência
dessa
democr acia; de u ma r epúb lica qu e r estr inge à
consciência o ca mp o da r eligião e da cr ença, com u ma
r eligião qu e alimenta como aspir ação má xima enf eixar
em s uas gar r as adunca o p oder t emp or al e o p oder
espir itual! 80
Na s eqü ê nc ia d a re vist a, a pró xima ma nc het e t a mbé m c la ma
s o br e a a ç ã o c l e r i c a l d e nt r o do E st a d o , e m u m a c e r i mô n i a d e
b e nç ã o
à
Ba nde ir a
N a c io n a l
no
mo m e n t o
de
e nt reg á- la
ao
e s t a nd a r t e a o s c o r p o s d e t r o p a r e c e nt e m e n t e c r i a d o s . S e nd o a
B a n d e i r a a r e p r e s e nt a ç ã o d a P á t r i a e e x p r e s s ã o m á x i m a d e s e u
po vo ,
79
80
ningu é m,
nem
me smo
o
p r e s i d e nt e
O Delta, Ano III, Agosto e Setembro/1918. Nº 02 e 03, p. 52.
O Delta, Ano III, Agosto e Setembro/1918. Nº 02 e 03, p. 53.
da
rep ú blic a
pode
60
su bmet ê- la
a
cer imô nia s
r e l i g io s a s ,
s e nd o
um
d e s r e s p e it o
à
C o n s t it u i ç ã o d a R e p ú b l i c a . 81
N a e d i ç ã o d e o u t u br o d e 1 9 1 8 , u m a c e r i mô n i a d e u m b a t i s m o
d e u m b a t a l h ã o p e lo t e n s e c o m o be n e p l á c it o d o p r ó p r io c o m a n d a nt e
é no t ic i a d o c o m r e v o lt a c o mo mo s t r a o t r e c h o a b a i x o :
Um batalhã o é constitu ído de cida dãos br asileir os, os
qua es não f ica m obr iga dos a pr of essar nenhu ma r eligião
p elo fact o de estar em a o s er viço da pátr ia, tant o ma is
qu e a Const itu içã o gar ant e a mais a mpla lib er da de com
r elação a mat ér ia de f é r eligiosa 82
Co nt inua
o
t e xt o
fa l a n d o
que
é
i l í c it a
a
per missão
do
c o ma n d a n t e e m p o s s i b i l i t a r a c e r i m ô n i a , p o i s f e r e a C o n s t it u i ç ã o
q u e d e v e s e r o be d e c i d a p o r t o d o s e , p r i n c i p a l m e n t e e l e c o mo u m
defenso r
da
p á t r ia .
Pede
que
os
poderes
pú blico s
t o me m
p r o v i d ê n c i a s e n é r g i c a s c o nt r a e s t e t i p o d e a b u s o no s a t o s o f i c i a i s .
N o t íc i a s r e f e r e nt e s à a ç ã o c l e r i c a l a t r a v é s d e c e r i m ô n i a s c o mo a d e
b ê nç ã o s d e e s p a d a s s e r á c o mu m e nt e v i n c u l a d a s à r e v i s t a a t é o f i n a l
d e s u a e x i s t ê nc i a .
Um
p r o je t o
que
t r a m it a v a
no
senado
que
reg u lar iz a v a
c a s a m e nt o e nt r e c o l a t e r a i s a t é o t e r c e i r o g r a u é r e v e l a d o c o mo u m
p l a n o p r a fa c i l it a r o c a s a m e nt o d e u m f i l h o d e u m d e p u t a d o
p a u l i s t a , s r . E r a s mo A s s u m p ç ã o . S e nd o e s t e mu it o r ic o e s u a
s o br i n h a t a m b é m , a u n i ã o s e r i a u m a r e l a ç ã o d e m i l h õ e s i m p e d i d a s
p e lo C ó d ig o C i v i l , m a s a f u t u r a a p r o v a ç ã o s e r i a u m a d e m o n s t r a ç ã o
d e c o mo
“a m a l e á ve l c e r a d o
n o s s o C ó d i g o C i v i l s e a mo l g a
d o c e m e n t e s o b a p r e s s ã o d o s h a b i l í s s i mo s d e d o s d a e g r e j a . ” 83 C o m
i s s o t e nt a - s e mo s t r a r a a ç ã o d e p o l ít i c o s a fa vo r d a I g r e j a q u a n d o
nec essár io .
81
O Delta, Ano III, Agosto e Setembro/1918. Nº 02 e 03, p. 53.
O Delta, Ano III, Outubro/1918. Nº 04, p. 69.
83
O Delta, Ano IV, Julho/1919. Nº 01, p. 16.
82
61
T a m b é m fo i v i s t a c o m r e p ú d io a i n s t it u i ç ã o c o mo f e r i a d o
n a c i o n a l o d ia 2 5 d e d e z e m b r o , c h a m a d o na é p o c a d e d i a d e G r a ç a s
a D e u s , c o mo mo s t r a o t r e c ho a b a i xo :
A attitu de assu mida p elos r epr es entant es r io- gr andens es
na Câmar a Alta da Repub lica em face do pr oject o ant ir epub lica no e ant i- const ituciona l qu e estatue f er iado o
dia 25 de D ezembr o, dest ina do a r ender gr aças a Deus,
p elos b enef ícios f eit os a o Br asil, t em t odo noss o ap oio e
a nossa fr anca s olidar ieda de.
Não s e compr ehend e qu e em fr anco r egimen democr át ic o
e r epub licano, como adopta do em nossa Pátr ia, onde a
I gr eja nada t e qu e vêr com o Estado, pr et enda -s e tão
extr aor dinár io absur do 84
N o t e xt o s ã o i n vo c a d o s t o d o s o s v a lo r e s r e p u b l i c a no s e
c o n s t it u c io n a i s ,
c ha m a nd o
p e r m it i r a m q u e o
d ia
de
fo s s e
i n c o e r e nt e s
i n s t it u í d o .
os
No
p o l ít i c o s
Estado
que
le i g o ,
não
so me nt e de ixa d e e xist ir u ma re lig ião o fic ia l, ma s co ns id era t o das
r e l i g iõ e s e t o d o s o s c u lt o s f e nô m e no s q u e l h e s ã o e s t r a n h o s , d e s d e
q u e nã o p e r t u r b e m a o r d e m p ú b l i c a . A i n d a d i z q u e é c o e r e nt e a o s
c a t ó l i c o s t e r o d i a d o na s c i m e nt o d e C r i s t o r e s e r va d o p a r a o s e u
c u lt o , ma s é i n j u s t o e s t e nd e r a t o do s o s b r a s i l e i r o s d e o u t r a s
r e l i g iõ e s u m f e r i a d o a q u é m d e s u a s c r e n ç a s . N a m e s m a e d i ç ã o u m
a r t ig o
i nt it u l a d o
“ A l e r t a ! ” 85
c o nt i n u a
a
d iscu ssão
s o br e
a
i n s t i t u i ç ã o d o fe r i a d o , d i z e n d o q u e o s “ j e s u ít a s d e c a s a c a ” s e
i n f i l t r a r a m n a a d m i n i s t r a ç ã o br a s i l e i r a , a d v e r t i n d o à t o do s q u e
f i q u e m a l e r t a à s m a n o br a s c l e r i c a i s q u e e s t ã o s e e f e t u a n d o d e nt r o
da so c ie dad e bra s ile ira.
E m f e v e r e i r o d e 1 9 2 1 O D e l t a t r a z a p r i m e i r a n o t íc i a r e l a t i v a
a c o n s t r u ç ã o d o C r i s t o R e d e n t o r no R i o d e J a n e i r o . E m h o m e n a g e m
a o c e nt e n á r io d a I n d e p e nd ê nc i a d o p a í s , s u r g i u a i d é i a d e e r i g i r
u ma
ima ge m
de
Cr ist o
no
a lt o
do
Pão
de
Açúcar.
Se
é
a
i n d e p e n d ê n c i a p o l í t i c a q u e s e r á c o m e m o r a d a , o p e r ió d i c o a l e r t a q u e
84
85
O Delta, Ano V, Agosto/1920. Nº 02, p. 48.
O Delta, Ano V, Agosto/1920. Nº 02, p. 50.
62
a “ l i b e r d a d e r e l i g io s a e o E s t a d o l e i g o s ã o d a s m a i s b e l l a s e
s a g r a d a s c o n q u i s t a s d a mo d e r na e d u c a ç ã o p o l í t i c a d o m u n d o ” 86 ,
n ã o t e n d o C r i s t o n a d a a ve r c o m a i n d e p e nd ê n c i a br a s i l e i r a .
O Delt a e m 19 21 já a lert a, ma s é e m d eze mbro de 1923 ve m a
e s t r o n d o s a n o t íc i a s o br e a vo t a ç ã o d a l i b e r a ç ã o d a v e r b a p a r a a
c o n s t r u ç ã o d o C r i s t o R e d e nt o r . I n ic i a nd o o a r t ig o d i z e n d o q u e a
B í b l i a d a R e p ú b l i c a d o s E s t a d o s U n i d o s d o B r a s i l é a C o n s t it u i ç ã o
d e 2 4 d e f e v e r e i r o d e 1 8 9 1 , p e d e a o s s e na d o r e s p a r a q u e n ã o vo t e m
n a l i b e r a ç ã o d e 2 0 0 : 0 0 0 $ r é i s p a r a a u x i l i a r a e d i f i c a ç ã o d o í d o lo d e
b r o n z e no C o r c o va d o , p o i s t a l o br a é i n c o n s t it u c io n a l 87.
A e x p r e s s ã o “p r e f e r i mo s no g o v e r no u m ‘ c a t ho l i c o ’ c r it e r io s o
a
um
‘livre-pensador’
ind ig naç ão
da
mar io lat ra
M a ç o na r i a
qu a nt o
e
p a d r e s c o ” 88
aos
de lit o s
d e mo n s t r a
a
c o n s t it u c i o na i s
c o me t i d o s p e l o s g o ve r n a nt e s a f a v o r d a I g r e j a C a t ó l i c a . D i z q u e d e
n a d a b a s t a u m l i v r e p e n s a d o r no p o d e r q u e c e d e a o s a n s e io s
c a t ó l i c o s , s e n d o p r e f e r í v e l e s t a r no p o d e r u m c a t ó l i c o q u e s e j a
c r it e r io s o e m r e l a ç ã o a s l e i s . E a i n d a q u e s t io na o g a s t o v i s t o a
dec ade nt e
s it u a ç ã o
fina nc e ira
que
passa
o
Estado
e
o
po vo
br as ile iro , d ize ndo :
Aos noss os patr ícios, em mu lt idões, qu e p edem pã o, o
pão da ver da de, o pã o da instr ucção, o pã o da ver dade, o
pão da instr ucçã o, o pão do livr o, é u m sar cas mo
off er ecer - lhes as pedr as e o br onze de u m cust os o
monu ment o. R eligiã o s em lu z, s em in str ucção, é
sup er stiçã o, é fanat is mo, é deca dência. 89
P o r f i m , p e r g u nt a - s e s e o B r a s i l n e c e s s i t a d e u m a b e n ç ã o
p a p a l q u e s e r á p r o mo v i d a j u n t o à c o n s t r u ç ã o d o C r i s t o , po i s a s
b ê nç ã o s m u it a s v e z e s s e t r a n s fo r m a r a m e m m a l d i ç õ e s , e c o mo
e x e m p lo mo s t r a d i v e r s o s d e b ê n ç ã o s q u e n ã o fu n c i o n a r a m, c o mo a
86
O Delta, Ano V, fevereiro/1921. Nº 08, p. 188.
A construção do Cristo Redentor iniciou em 1926, e foi inaugurado em outubro de 1931.
88
O Delta, Ano VIII, Novembro e Dezembro/1923. Nº 05 e 06, p. 82.
89
O Delta, Ano VIII, Fevereiro/1923. Nº 08, p. 136.
87
63
d o e x - p r e s i d e n t e C a m p o s S a l e s , q u e q u a n d o a be n ç o a d o a t é a s u a
t e r c e ir a g e r a ç ã o , o s e u ir m ã o fo i a s s i n a d o e e l e va i a d o e p e r s e g u i d o
a t é d e i x a r a p r e s i d ê n c i a ” 90.
T a m b é m fo i r e p r o d u z i d a d u r a n t e c i n c o e d i ç õ e s d a r e v i s t a o
d is curso do maço m e est ad ist a Ru y Bar bo sa, rea liz a do e m u ma
c o n f e r ê nc i a no G r a n d e O r i e nt e U n i d o d o B r a s i l e m J u l ho d e 1 8 7 6
i n t it u l a d o “ A I g r e j a e o E s t a d o ” . 91
O p o l ít i c o , a b e r t a m e nt e r e c o n he c i d o p e l a s s u a s q u a l i d a d e s d e
m a ç o m e a nt i c l e r i c a l i s t a , fo i no t a d o d e nt r o d a m a ç o n a r i a p e l a s
c a m p a n h a s d e a b o l i ç ã o e n a c r i a ç ã o d e t r o nc o s d e b e n e f i c ê n c i a ,
a t a c a a o lo n g o d e s e u d i s c u r s o o s d o g ma s d a i n f a l i b i l i d a d e , d a
c o nd e n a ç ã o p o n t i f i c i a l a o s m a ç o ns , a q u e s t ã o r e l i g i o s a e a u n i ã o
e n t r e e s t a d o e ig r e j a a i n d a e x i s t e nt e e m 1 8 7 6 .
O dogma da infallib ida de p ont ifícia nã o é s enã o a
supr ema cia p er enne, incontr over t ível, omn ip ot ent e do
papa sobr e a autor idade t emp or al. Nã o é u ma cr ença
r eligiosa, é u m estr atagema p olít ico. 92
O r e s t a n t e d o d i s c u r s o d u r a nt e a s c i n c o e d i ç õ e s , f i c a e m vo lt a
d a d i s c u s s ã o d a r e l a ç ã o e nt r e o E s t a d o br a s i l e i r o e o V a t i c a n o , q u e
s e g u n d o R u y B a r bo s a , d e v e s e r s e p a r a d o s e o E s t a d o t o ma r c a r á t e r
l e i g o . M o s t r a q u e o s d o g ma s d a I g r e j a n ã o t e m n a d a a ve r c o m
c r i s t i a n i s mo o u r e l i g i ã o , ma s d e u m p l a n o p o l ít i c o p a r a d o m i n a r ,
c o mo e x p r e s s o n o t r e c ho a c i m a .
T a m b é m v e m a t o na n a s p á g i n a s d a r e v i s t a o e m b a t e e nt r e o
m a ç o m A nt o n i no X a v i e r O l i v e i r a , m a ç o m e p r e s i d e n t e d o H o s p it a l
d e C a r i d a d e d e P a s s o F u n d o . O e n t r a ve d e u - s e p o r c o n t a d a s u a
c a n d i d a t u r a a o c a r g o d e i n t e nd e nt e d a q u e l a c i d a d e , l o g o r e p e l i d a
p e lo c l e r o lo c a l e m v i r t u d e d o c a n d i d a t o s e r ma ç o m “ e p r o fe s s a r
90
O Delta, Ano VIII, Novembro e Dezembro/1923. Nº 05 e 06, p. 84.
O Delta, Ano VIII, Setembro e Outubro/1923. Nº 03 e 04, p. 60.
92
O Delta, Ano VIII, Setembro e Outubro/1923. Nº 03 e 04, p. 65.
91
64
i d é a s r e p u t a d a s h o s t i s a o s p r i n c í p io s d a e g r e j a r o ma n a ” e t e r
r o m p i d o c o mo p r e s i d e nt e d o ho s p it a l c o mo o v i g á r i o d a p a r ó q u i a .
A p r e s s ã o d a ma ç o n a r i a e m t o r no d o d e s l i g a m e nt o d o E s t a d o
a o V a t i c a no p o d e s e r v i s u a l i z a d o n a r e p o r t a g e m “ O d e c l í n io d o
V a t i c a n o ” 93, o n d e no t i c i a q u e a l é m d a e xt i n ç ã o p r i m e i r a m e n t e d a
e m b a i x a d a f r a n c e s a 94 j u nt o a o e s t a d o p a p a l, fo i a v e z d a v i z i n h a
Ar g e n t i n a
aprovar
o r ç a m e nt á r i a
na
m a n d a nd o
C â mar a
do s
su ppr imir
a
deputados
u ma
repre s e nt ação
e me nda
ju nt o
ao
V a t i c a n o . N o B r a s i l , e m m o m e nt o s q u e a c â m a r a s e e m p e n h a e m
r e d u z i r o s g a s t o s , d i z q u e é m a i s q u e ju s t i f i c á v e l a s u p r e s s ã o d a
e m b a i x a d a j u nt o a o V a t ic a n o , ma s s a b e q u e o s p o l ít i c o s br a s i l e i r o s
n ã o o c e d e r ã o , p o i s e m é p o c a s d e e l e i ç õ e s , n e n hu m p o l ít i c o q u e r
p e r d e r o s vo t o s d o c le r o .
S e g u i d a m e n t e no s m a i s d i v e r s o s a r t i g o s e nc o nt r a mo s c r í t i c a s
ao
s a c r a m e nt o
da
co nfissão ,
c o ns i d e r a d o
um
a r t i f í c io
para
o
c o nt r o l e p a p a l p a r a o s s e u s f i é i s , a br i n d o a v i d a e a s q u e s t õ e s
pesso a is ao co nfe sso r, aque le qu e co nfessa fica a merc ê p esso a l do
p a d r e . O s a c r a m e n t o d a c o n f i s s ã o t a m b é m fo i a r d u a m e nt e c r i t i c a d o
p e l a r e v i s t a , c o mo a ba i xo ,
O conf iss ionár io nã o é o tr ibu na l da p enit ência, mas a
r olha das delações qu e s e ar chiva m para occasiões
pr op ícias; e, enf im, o centr o de violação de t odas as
gar antias individuais. 95
O c o m b a t e p e lo c l e r o e r a no r m a l m e n t e j u s t i f i c a d o p e l a l u t a
c o nt r a o fa n a t i s mo e a e xp lo r a ç ã o r e l i g io s a , d e v i d a m e nt e a g a r r a d o
n o d i s c u r s o d e q u e nã o é c o nt r a r e l i g i ã o s e q u e r , p o i s a m a ç o na r i a
t e m e m s e u s q u a d r o s a g r a n d e m a io r i a a d e p t a à r e l i g i ã o p a p a l .
93
O Delta, Ano IX, Julho/1925. Nº 02, 03 e 04, p. 21
Em junho de 1921, O Delta noticia juntamente com a santificação de Joana d’Arc, a criação da
embaixada francesa junto ao Vaticano, visto como vergonhoso a República das Luzes ceder aos caprichos
papais. O Delta, Ano V, Junho/1921. Nº 12, p. 282.
95
O Delta, Ano III, Outubro/1918. Nº 04, p. 84.
94
65
E m 1 914 ao ec lo d ir a Gra nde Gu erra euro pé ia que pe no u o s
p o v o s h o s t i s n o c o n f l i t o , a r e v i s t a a p r o ve it a o mo m e n t o p a r a a t a c a r
o u lt r a mo n t a n i s mo , t r a z e nd o a r t ig o e m q u e d e n u n c i a a o m i s s ã o e a
n e u t r a l i d a d e d a I g r e j a C a t ó l i c a q u a nt o a p a c i f i c a ç ã o . 96 V a i a l é m a o
f a l a r d a n e u t r a l i d a d e , d i z e n d o q u e o p a p a d o e s t a v a a p r o v e i t a nd o - s e
da
p e no s a
s it u a ç ã o ,
po is
os
padres
co nt inua va m
a t u a nd o
f i r m e m e nt e n o s p a i s e s b e l i g e r a nt e s . C o m a fo m e e a m i s é r i a ,
f a c i l m e n t e p o d e - s e m a n t e r o p o d e r s o br e a s m a s s a s p o p u l a r e s , e n a
c o nd i ç ã o d e e s t a r p r e s e n t e e m t o d o s o s p a í s e s , a c r e d it a q u e a I g r e j a
l u c r a r á c o m a s it u a ç ã o i n d e p e n d e n t e d o r e s u lt a d o d a v it ó r i a .
É
i n t e r e s s a nt e
no t ar
a
part icu la r idade
da
re vist a
em
a p r o v e it a r n a s s u a s p á g i n a s no t í c i a s d a s m a i s d i v e r s a s q u e c o r r e m
p e lo m u nd o r e t ir a d a s d e o u t r o s jo r n a i s , m a s s e m p r e l i g a n d o e m
q u e s t õ e s r e l a t i v a s à O r d e m o u a o i d e á r io m a ç ô n i c o , e m e s p e c i a l o
co mbat e à Igre ja.
O c o n s e r v a d o r i s m o d a I g r e j a q u a nt o a o n o vo t a m b é m e r a
c o n s t a n t e m e n t e r e l a t a d o na r e v i s t a . T e nd o e m v i s t a a s d e s c o b e r t a s
c i e n t i f i c a s d a é p o c a , d i z q u e o c a t o l i c i s mo s e m p r e c o n d e n o u o n o vo
sob
o
medo
de
perder
seu
espaço.
Co nde na ndo
c i e nt i s t a s
e
d e s c o b r i d o r e s à s é c u lo s , d i z q u e a r e l i g i ã o c o mo o u t r a s c o i s a s d e v e
se a dapt ar ao seu t e mpo e
a s n o va s t e o r ia s , p o s s i b i l it a nd o c h e g a r
cad a d ia ma is p ert o de Deus.
É i nt e r e s s a nt e n o t a r a a b e r t u r a r e l i g i o s a e x i s t e n t e d e nt r o d a
m a ç o n a r i a . M e s mo c o m b a t e n d o a a ç ã o d o c le r o c a t ó l i c o , a g r a nd e
m a io r i a d o s m a ç o n s b r a s i l e i r o s p r o fe s s a v a m a f é r o m a n a . C o mo
u m a s o c i e d a d e q u e c a r r e g a u m c o s mo p o l it i s mo p e c u l i a r , o n d e r a ç a ,
r e l i g i ã o e p o l ít i c a s ã o c o nc e it o s c o n s i d e r a d o s d e fo r o í n t i m o e
p e s s o a l , p o s s i b i l it a a p r e s e n ç a d a s m a i s d i v e r s a s r e l i g iõ e s d e n t r o
d a s lo j a s m a ç ô n i c a s , f a z e nd o q u e o jo r n a l t a m b é m a br i s s e c r ít i c a s
a o u t r a s r e l i g iõ e s a l é m d a c a t ó l i c a :
96
O Delta, Ano III, Abril/1919. Nº 10, p. 201.
66
Objecta m os inimigos das r eligiões, bas eando-s e na
f ór ma ext er ior de cu lt o ou na int er pr etação lit er a l das
escr iptur as e dos s ymb olos. N o O ccident e, entã o, os
s ectár ios
de
u ma
das
duas
r amif icações
do
Chr ist ia nis mo, (Pr ot estant is mo e Catholicis mo), faze m
cr it icas s ever as das r eligiões or ienta es, es q u ecendo qu e
a r eligiã o qu e qua lqu er p ovo pr of essa é s empr e a
adaptação dos mes mos pr incíp ios qu e ta mb ém são os
pr incíp ios do chr istia nis mo à índole da collect ividad e
em qu e f or am pr eju dicados. 97
C o mo p o d e mo s v e r ne s t e t r e c ho , a d e f e s a p e l a l i b e r d a d e d e
r e l i g i ã o e d e c u lt o mo s t r a v a o r e s p e it o à d i v e r s i d a d e r e l i g io s a
m a n t i d a p e l a m a ç o na r i a , a o d e c l a r a r q u e q u a l q u e r o u t r a r e l i g i ã o
o r i e n t a l é t ã o v e r d a d e i r a q u a n t o a s o c id e nt a i s , v i s t o q u e u m a
r e l i g i ã o é u m a c o n s t r u ç ã o e a d a p t a ç ã o d e p r i n c í p io s .
O u t r o f e n ô m e n o i nt e r e s s a nt e é o a p o io d a m a ç o n a r i a à o u t r a s
r e l i g iõ e s a i n d a i n c i p i e n t e s d e nt r o do R io G r a n d e d o S u l. P o d e mo s
p r e s e n c i a r a i n d a n o f i n a l d o s é c u lo X I X , a t e nt a t i v a d o G O R G S
c r i a r e lo s p r ó x i mo s c o m o s l u t e r a no s n a r e g i ã o d o R io d o s S i n o s , e
n o c o m e ç o d o s é c u lo X X a p o io a o s m e t o d i s t a s e p r i n c i p a l m e nt e a o
mo v i m e nt o
e s p í r it a - k a r d e c i s t a q u e
fora
mu it o
be m
a c e it o
ao s
pedre iro s- livre s gaú c ho s.
O c o m e ç o d o a no d e 1 9 2 0 fo i br i n d a d o c o m s o b t ít u lo d e
“P a r a t r á s , r é p r o bo s ! ” , a t r a n s c r i ç ã o d e u m fo l h e t o p u b l i c a d o e
d i s t r i b u í d o e m P e lo t a s . T r a z i a p r i m e i r a m e nt e u m a no t í c i a p u b l i c a d a
n a r e v i s t a V e r i t a s , ó r g ã o d a I g r e j a C a t ó l i c a p a r a n a e ns e , o nd e
a lert a va- se ao fié is do per igo d a le it ura de ro ma nce s
europeus,
a c u s a n d o a m a ç o n a r i a d e d i f u n d i r o s m e s m o s no B r a s i l .
...o r oma nce cor r omp e a int elligencia e o esp ír it o,
por qu e ens ina a ment ir a em lu gar da r ealida de, s obr e os
factos e as doutr inas; inventa a hist or ia, sobr etu do a
97
O Delta, Ano IV, Dezembro/1919. Nº 06, p. 125.
67
hist or ia da E gr eja, não s egu ndo os docu ment os, mas
conf or me a ima ginaçã o do r oma ncista. 98
Segue o t ext o co m o parec er de O Delta, t raze ndo a lgu n s
a r t ig o s d a C o ns t it u i ç ã o M a ç ô n i c a r e f e r e nt e s à c r e n ç a e m D e u s , a
l i b e r d a d e d e c o n s c i ê n c i a e a d e vo ç ã o a p á t r i a , j á no i n t u it o d e
d e s m e n t ir s u a r e l a ç ã o d e s u b v e r s i v i d a d e à o r d e m p u b l i c a c o mo
e x p r e s s o n o jo r n a l c a t ó l i c o . C o mo r e s p o s t a , t e x t o e s c r it o c o nt i n u a
a t r a v é s d a s p a l a v r a s d e u m m a ç o m s o b o p s e u d ô n i m o d e H ir a m :
T odas as vossas pr oducções são dest ina das á per ver sã o
desta hu ma nidade, já tão s obr ecar r ega da de vícios e
des mor alização! Par ae ness e afan de destr u ição, p or qu e
os padr es pr ecisa m de mu lher es vir tu osas !
Escr evei s oment e obr as qu e s e r efir am á egr eja
catholica, acons elha ndo a conf issã o e a es mola a os
sant os ! Ar r ep end ei- vos, enqua nt o é t emp o, da vossa
ma lda de e ide ajoelhar - vos a os p és dos cast os
sacer dot es, r oga ndo a sua absolvição qu e vos s er á dada
media nt e módica contr ibu ição! 99
U m a n o t íc i a d o jo r n a l u lt r a mo n t a no A U n i ã o 100, d o R io d e
J a n e i r o , a c u s a o G r a n d e O r i e n t e d o R io G r a n d e d o S u l d e s e a l i a r
j u n t o a o s e s p í r it a s e p r o t e s t a nt e s p a r a a t a c a r a I g r e j a C a t ó l i c a .
D ize ndo
que
o
t r iu n v i r a t o
age
o c u lt a m e nt e ,
através
das
o r g a n i z a ç õ e s d e a p o io à l i v r e c o ns c i ê n c i a , à m u l h e r e a o d i vó r c i o ,
a lé m
de
se
apoderar
de
o bra s
c at ó lica s,
c o mo
a
a bo l i ç ã o
à
e s c r a v a t u r a . E m r e s p o s t a , d i z q u e a m a ç o n a r i a g a ú c ha n ã o e s t á
a l i a d a a o s p r o t e s t a nt e s e e s p í r it a s , e d e f e n d e a l e g a l i z a ç ã o d o
d i v ó r c i o p o r s e r u m d i r e it o q u e t o d o s d e ve m t e r , na d a t e nd o i s s o d e
i m o r a l . S o b a a bo l i ç ã o , d i z q u e e s t a é o br a s i m d a m a ç o n a r i a , q u e
a t r a v é s d e s e u s t r o nc o s d e be n e f i c ê n c i a e s u a a ç ã o na p o l ít i c a
a t r a v é s d e m a ç o n s i l u s t r e s c o mo G a s p a r d a S i l v e i r a M a r t i n s .
98
O Delta, Ano IV, Fevereiro/1920. Nº 08, p. 166.
O Delta, Ano IV, Fevereiro/1920. Nº 08, p. 166.
100
O Delta, Ano V, Agosto/1920. Nº 02, p. 48.
99
68
N a bu s c a d e u m a l e g it i m a ç ã o h i s t ó r i c a , a l u t a p o r e s p a ç o
m u it a s
vezes
inst it u içõ e s,
c a ía
t ant o
na
a
c o ns t r u ç ã o
Igre ja
qua nt o
de
a
m it o s
p e la s
M aço nar ia
as
duas
bu s c a r a m
se
i d e n t i f i c a r c o mo p r o p u l s o r e s d e e p i s ó d io s h i s t ó r ic o s b r a s i l e i r o s .
A l é m d a a b o l i ç ã o , e n c o nt r a mo s no t íc i a s r e l a t i v a s à I n d e p e n d ê n c i a ,
q u a nd o u m jo r n a l c a t ó l i c o 101 d i z q u e t a l o br a fo i f r u t o e x c l u s i v o d a
I g r e j a , p o i s q u e fo r a o c l e r o q u e a i n s p i r o u .
O D e l t a r e s p o n d e e m s u a s p á g i n a s q u e a h i s t ó r ia n ã o m e n t e e
p o r is s o t o d o s s a b e m d o va lo r e d a i m p o r t â nc i a v it a l d a M a ç o n a r i a
dura nt e
a
I n d e p e nd ê n c i a ,
s e g u nd o
a
re v ist a
podendo
ser
c o mp r o v a d o s p e l o s m a i s s é r io s h i s t o r i a d o r e s d o p a í s , c o mo O s ó r io
D u q u e d e E s t r a d a 102, q u e a f i r m a q u e o a t o fo r a fr u t o d a a ç ã o d a
Ma ço nar ia.
No
ilu st res
me s mo
a
po nt o
a r t ig o ,
de
segue
insp ir ar
d ize ndo
que
veneração
e
v á r io s
sacerdotes,
r e s p e it o ,
t ambé m
p a r t ic i p a r a m d o p r o c e s s o d a I nd e p e n d ê nc i a , m a s n u m mo m e n t o e m
q u e “o c l e r o n ã o s e s u b m e t t ia à i nt o l e r â n c i a d o r o m a n i s mo ” 103 e q u e
n ã o e n x e r g a va i n c o m p a t i b i l i d a d e s c o m a m a ç o n a r i a .
R e l a t i vo a i s s o t a m b é m e r a a p u b l i c a ç ã o u s u a l d e fr a s e s e
d it o s d e p a d r e s e b i s p o s , f i l i a d o s o u s i m p a t i z a nt e s q u e e x a lt a va m a
M a ç o n a r i a c o mo a f r a s e d o b i s p o S e b a s t iã o P i n ho d o R e g o :
J esus C hr ist o inst itu i a Car ida de. A Maçonar ia
apoder ou-s e della e const itu i-a sua mestr a. É sob s eus
auspícios qu e nã o mor r e a sua es p er ança e s e r obust ece a
sua fé. Bemdicta seja esta ir mã da igr eja na vir tude 104
D u r a nt e a e x i s t ê n c i a d a r e v i s t a e n c o n t r a mo s v á r i a s f r a s e s e
p a r e c e r e s d e p a d r e s , na m a i o r i a i n i c i a d o s n o s s e g r e d o s d a A r t e
101
O Exemplo, Outubro de 1922. falta fonte mais completa ......
Imortal da Academia Brasileira de Letras e autor do Hino Nacional do Brasil.
103
O Delta, Ano VII, Outubro e Novembro/1922. Nº 04 e 05, p. 142
104
O Delta, Ano VI, Dezembro/1922 e Janeiro/1923. Nº 06 e 07, p. 167.
102
69
Rea l
e
que
e x a lt a v a m
a
m a ç o na r i a ,
ma s
gera lme nt e
figura s
a n t e r io r e s a o e p i s ó d io d a Q u e s t ã o R e l i g io s a .
A p r e o c u p a ç ã o c o m a a ç ã o d o c le r o no p a í s fo i p a u t a e m
v á r io s C o ng r e s s o s d e V e ne r á ve i s
das
lo j a s
so b
jur isd iç ão
do
G r a nd e O r i e n t e d o R io G r a nd e d o S u l . O D e l t a o b s e r v a q u e s e r á
d i s c u t id o no s e g u n d o c o ng r e s s o a a ç ã o c le r i c a l no e s t a d o e c o mo
f a z e r p a r a f r e i a - l a , s o b o p e r i g o d a p e r d a d a s c o nq u i s t a s l i b e r a i s
r e a l i z a d a s e m 1 8 8 9 c o m o a d ve nt o d a R e p ú b l i c a . 105
O
m e s mo
rea liz ado
1922,
a s s u nt o
onde
será
a lé m
de
pautado
no
deliberar
a
t erce iro
c o ng r e s s o
p u blic aç ão
para
a
d i s t r i b u i ç ã o g r a t u it a d e o br a a nt i c l e r i c a l , e d o a m p lo a p o io p a r a o
d e s e n v o l v i m e nt o d o e n s i n o l e i g o no E s t a d o , a i n d a a n s e i a q u e s e j a
rea liz ado :
Campa nha de r eacção não s ó contr a o ‘ cler ica lis mo’,
como ta mb ém contr a toda impr ensa qu e lhe s eja
sympatica e fa vor ável, nega ndo- lhes os maçons qua lqu er
apoio, mat er ial ou mor al. 106
A s s i m , d e v i d o a p e r d a d e e s p a ç o c r e s c e nt e q u e a G r a n d e
O r i e n t e d o R io G r a nd e d o S u l e n f r e nt a v a f r e n t e à s o c i e d a d e g a ú c h a
p a r a a I g r e j a C a t ó l i c a , O D e l t a s e r v i u c o mo p o r t a v o z d o f e r r e n h o e
c a d a v e z m a i s c r e s c e nt e a n t ic l e r i c a l i s mo a d o t a d o p e l a m a ç o n a r i a
gaúcha,
v inc u la ndo
e x a lt a v a m
o
id e á r i o
em
suas
Ma çô nico
pá g in as
no t í c i a s
at re lado
se mp re
e
a r t ig o s
a
c r ít i c a
que
ao
r o m a n i s mo , p r i n c i p a l m e nt e no q u e d i z a s u a p o s t u r a n a s o c i e d a d e ,
d e s mo r a l i z a n d o o c l e r o e m a s s u nt o s r e l a t i vo s a o fo r o p e s s o a l ,
j u r í d i c o e a t é m e s mo d o g m á t i c o .
105
106
O Delta, Ano V, Maio/1921. No.11, p. 253.
O Delta, Ano VI, Maio/1922. No.11, p. 269.
70
3.2
O D e l t a e o p ro g ra m a e d u c a c i o n a l M a ç ô n i c o
Nada ma is tr ist e e des olador do qu e o
analp hab et is mo.
A naçã o em cujo meio elle imp er a é
r etr ógr ada, s em vida, s em esp er anças e s em
futur o.
O analp hab et is mo tu do nega, tudo cor r omp e,
tudo degr ada, tudo aniqu ila, por qu e qu er as
tr evas onde vive envolt o no s eu ma nt o negr o
de u m obscur ant is mo t or p e e r evolta nt e. 107
D’O Delta, Ju nho de 1919 da EV.
Dura nt e a per ma nê nc ia do PR R fre nt e à ad min ist ra ção do R io
G r a nd e d o
Su l, o
p r o je t o g o ve r na m e nt a l a d o t a d o ba s e a d o
em
d ir e t r iz e s p o s it i v i s t a s d e A u g u s t e C o mt e , o r ie nt a v a q u e a s e s c o la s
t ive sse m
caráter
ne ut ro
no
ensino
p r i m á r io
e
i d e o ló g i c o
no
s e g u n d o . O e n s i n o p r i m á r io d e ve r i a s e r o fe r e c i d o a t o d o s a t r a vé s
d o p r ó p r io e s t a d o , f i c a n d o o s e c u n d á r i o e m a b e r t o p a r a i n s t it u i ç õ e s
q u e o q u i s e s s e m g e r i r . L o g o , a I g r e j a C a t ó l i c a s o u b e s e be n e f i c i a r
d a s it u a ç ã o c o n s t r u i n d o u m a e s t r u t u r a d a r e d e d e e n s i no na c a p it a l e
n o i n t e r io r d o R io G r a nd e d o S u l.
J a i m e G io lo e m s u a t e s e d e d o u t o r a d o fa l a d a e xp a n s ã o
c a t ó l i c a na e d u c a ç ã o no R io G r a n d e d o S u l, m e s mo t e nd o c o mo
m a io r c o n c o r r e nt e o p r ó p r io E s t a d o :
No ca mp o do ens ino, os conf lit os ex emp lar es der a m-s e
nas disp utas pelo domínio de sua client ela. E m r elaçã o
ao ens ino s ecu ndár io e sup er ior , o pr incip al obstácu lo
par a as pr et ens ões da I gr eja Católica er am as iniciativas
par ticular es, mas em r elação as pr imeir as letr as o
concor r ent e nu mer o u m er a a escola púb lica. Fr ent e às
escolas pr imár ias par ticular es, a Igr eja Católica, mu it o
107
O Delta, Ano III, junho/1919. Nº 12, p. 14.
71
cedo, abr iu u ma gr ande va nta gem e nã o f oi, daí p or
dia nt e, dif ícil ma nt er e a mp liar o ca mp o conquistado. 108
O
GORGS
que
assist ia
co m
preocupação
o
d inâ mic o
c r e s c i m e nt o d a r e d e d e e s c o l a s c a t ó l i c a s no e s t a d o , s e c o nt r a p ô s
p r i n c i p a l m e nt e a t r a vé s d e c a m p a n h a s p a r a a f u n d a ç ã o d e e s c o l a s
l a i c a s e , a t r a v é s d e s u a i m p r e n s a a b r e fo g o c o nt r a a i n i c i a t i v a
cat ó lica
na
fu ndação
de
n o va s
e s c o la s ,
a t u a nd o
a t r a vé s
da
d e s mo r a l i z a ç ã o d o e n s i no u lt r a mo nt a n o e c l a m a n d o a o s g o v e r n a nt e s
a e x e c u ç ã o d a l e i q u e e x i g i a q u e o e n s i no fo s s e l e i g o .
D e s d e o p r i m e i r o n ú m e r o d o p e r ió d i c o , e nc o nt r a mo s no t í c i a s
e i n fo r m e s r e f e r e nt e s a s it u a ç ã o e d u c a c io n a l no B r a s i l e s o br e a s
e s c o la s
f u nd a d a s
p e la
i n s t it u i ç ã o .
Fo ra m
poucas
as
e sco la s
m a n t i d a s p e l a m a ç o na r i a q u e c o n s e g u i r a m p e r p e t u a r p o r u m t e mp o
det er minado , po is a bo a part e d e ss as in ic iat iva s era m de car át er
f i l a n t r ó p i c o , vo lt a d a s a o e n s i no a d u l t o o u o p e r á r io e a c a b a v a m
f e c h a n d o n a m a io r i a d a s ve z e s p o r d i f i c u l d a d e s f i n a n c e i r a s .
D e v i d o a o i n s u c e s s o na p e r p e t u a ç ã o d a s e s c o l a s l i g a d a s à
inst it u iç ão ,
a atuação
ma ç ô n i c a e m
re lação
à educação
fico u
p r i n c i p a l m e nt e no c a m p o d a s i d é i a s e d o d i s c u r s o , mu i t o be m
r e p r e s e n t a d o p e l a s f o l h a s d e O D e l t a , o nd e a d e f e s a d o e n s i n o l a i c o
e r a c io n a l i s t a e r a h a b it u a l m e nt e r e t r a t a d a .
P e l a a u s ê n c i a d e u m a r e d e d e e n s i no m a ç ô n i c a o u l a i c a , a s
p á g i n a s d a r e v i s t a no r m a l m e nt e a c o n s e l h a v a a o s l e it o r e s p a r a nã o
m a t r i c u l a r e m s e u s f i l h o s e m e s c o l a s c a t ó l i c a s , a p r o v e it a n d o o
mo m e nt o p a r a a t a c a r o c l e r o r o ma no c o m p a l a v r a s e t e xt o s á c i d o s ,
a l e g a n d o q u e o c l e r o e r a r e t r ó g r a d o e i m o r a l , nã o d e v e n d o e s t a r à
f r e n t e d e u m q u a d r o n e g r o e n s i n a n d o a s c r i a n ç a s br a s i l e i r a s .
108
GIOLO, Jaime. Estado, Igreja e Educação no RS da Primeira República. São Paulo: Tese de
doutorado - USP, 1997.
72
T odo o mu ndo sab e qu e os padr es fazem os ma ior es
esf or ços par a se ap ossar em da instr ucção da infâ ncia,
nã o com o lou vá vel ob ject ivo de illu minar a int elligencia
da cr ea nças, mas s im de incut ir -lhes a cr ença no dogma,
o t emor do inf er no, a sub missã o a o papa; detur pa-lhes a
alma, fina lment e. 109
O p r o j e t o e d u c a c io n a l m a nt i d o e a d m i n i s t r a d o p e l a m a ç o n a r i a
q u e a l c a n ç o u m a io r p r o je ç ã o fo i o G y m n a s io P e lo t e n s e , n a c i d a d e
d e P e l o t a s , f u nd a d o e m 1 9 0 2 p o r t r ê s lo j a s lo c a i s : a R io B r a n c o ,
A n t u n e s R i b a s e a L e a l d a d e . N o g i n á s i o o nd e e r a m i n i s t r a d o o
e ns ino
e l e m e nt a r ,
méd io
e
s e c u n d á r io ,
t a mbé m
f u n c io n a v a
a
f a c u l d a d e d e F a r m á c i a e d e O d o nt o l o g ia , q u e s e g u n d o a r e v i s t a
“d ispõ e m
de
um
corpo
d o c e nt e
dos
ma is
c o mp e t e n t e s
e
de
e x c e l l e n t e s l a bo r a t ó r io s , s a l a s d e c h i m i c a , e t c ” . 110
O G i n á s io f u nc i o n o u d i r e t a m e nt e l i g a d o à m a ç o n a r i a lo c a l a t é
1 9 1 7 , q u a n d o O D e l t a i n fo r m a e m s u a s p á g i n a s q u e a e s c o la s e r i a
e n t r e g u e á p r e f e it u r a d e P e l o t a s p o r mo t i v o s d e o r d e m m a io r , m a s
que:
E m vir tu de do acor do r ef er ido, o G yma nas io P elot ens e
s er á equ ipar ado ao C ollegio P edr o II, obr iga ndo-s e o
mu nicíp io a pr omover s eu r econheciment o p elo G over no
Feder a l. O G ymnas io P elot ens e cont inuar á como
ent ida de jur ídica, f ica ndo t odos os s eus b ens e
patr imônio p er f eita ment e gar ant idos, de conf or midade
com s eus estatutos. 111
S e g u n d o C o lu s s i , o G i n á s io m e s mo c o m s e u s b e n s e a d i r e ç ã o
e n t r e g u e s a o m u n i c í p i o , e nã o e s t a n d o e xp l i c it a m e n t e l i g a d a “ a
m a ç o n a r i a p e lo t e n s e c o n t i n u o u m a n t e nd o o p o d e r s o br e a d i r e ç ã o
109
O Delta, Ano I, fevereiro/1917. Nº 08, p. 122.
O Delta, Ano I, Setembro/1916. Nº 03, p. 45
111
O Delta, Ano II, Agosto/1917. Nº 02, p. 32
110
73
d a e s c o l a , d o q u e é e x e m p lo s e u d i r e t o r , e m 1 9 2 2 , M a n u e l L u i s
O s ó r io , o r i u nd o d e u m a t r a d i c io na l f a m í l i a l i g a d a à m a ç o n a r i a ” . 112
A r e l a ç ã o e nt r e o g i n á s i o e a m a ç o n a r i a t a m b é m p o d e s e r
v i s t a n a o c a s i ã o d o fa l e c i m e nt o d o d e s e m b a r g a d o r J a m e s O l i v e ir a
F r a n c o , G r ã o M e s t r e d o G r a nd e O r i e nt e d o R io G r a nd e d o S u l ,
s e n d o c e l e br a d a p e lo s a l u no s d o g i n á s i o u m a h o me n a g e m a o m a ç o m
f a l e c i d o . 113
Um
aud ac io so
p r o je t o
proposto
por
um
grupo
de
livr e
p e n s a d o r e s p o r t o - a l e g r e n s e s e a m p l a m e n t e a p o ia d o p e l a d ir e ç ã o d o
G r a nd e O r i e n t e d o R io G r a nd e d o S u l fo i a c r i a ç ã o d a E s c o l a
M o d e r n a , n a c a p i t a l g a ú c h a e m 1 9 1 6 . A e s c o la a d o t a v a o m é t o d o
r a c io n a l i s t a , c u jo m e nt o r fo r a o a n a r q u i s t a e m a ç o m e s p a n h o l
Fra nc isco Ferrer.
A f u n d a ç ã o d a e s c o l a fo i no t ic i a d a no p r i m e i r o n ú m e r o d a
re vist a
em
ráp id a
pa ssag e m,
t r a t a nd o
do
mét o do
ut i l i z a d o
e
a c o n s e l h a n d o o s i r m ã o s p a r a q u e m a t r ic u l a s s e m s e u s f i l h o s n a
e s c o la . A e s c o l a q u e e r a a b e r t a p a r a a f r e q ü ê n c i a d e a m b o s o s
s e x o s , t i n h a a l é m d a s d i s c i p l i n a s n o r m a i s d e u m c o l é g io , a u l a s d e
b o r d a d o s e d e f lo r e s a r t i f i c i a i s p a r a a s a l u na s e a u l a s d e d e s e n h o s
p a r a o s a l u no s .
A s no t íc i a s d a e s c o l a M o d e r na e r a m g e r a l m e nt e c u r t a s , n a
m a io r i a d a s v e z e s lo c a l i z a d a s na c o l u n a f i n a l d a r e v i s t a , o nd e e r a
r e g i s t r a d o e ve n t o s e a ç õ e s d a m a ç o n a r i a d o e s t a d o . R a p i d a m e nt e
r e l a t a v a - s e a s a t i v i d a d e s d a e s c o l a c o mo o e n c e r r a m e nt o d o a n o
l e t i vo , e x p o s i ç õ e s , f e s t i v a i s p r o mo v i d o s p e lo s a l u no s e a s f e s t a s
p r o mo v i d a s p e l a e s c o l a . 114 A i n d a f a z i a - s e p r o p a g a nd a d a e s c o l a
A ‘Es cola Moder na’ é u m inst itut o de ens ino qu e mer ece
o apoio fr anco e decidido de t odos qu e des ejam ver a luz
do conheciment o diff u ndida pelas class es menos
112
COLUSSI, Eliane Lucia. A maçonaria gaúcha no século XIX. Passo Fundo: Ediupf, pág. 449.
O Delta, Ano III, Julho/1918. Nº 01, p. 21.
114
O Delta, Ano I, janeiro/1917. Nº 07, p. 112
113
74
favor ecidas da f or tuna e lib er tada a I nstr ucção das p êas
do fa natis mo e s ectar is mo r eligios os. 115
Cur ioso é o i n fo r m e d a e d i ç ã o d e no ve m b r o , o n d e t r a z à t o n a
u m a f e s t a r e a l i z a d a n a e s c o la e m c o me m o r a ç ã o d o r e t r a t o do
p r o f e s s o r a n a r q u i s t a , f u nd a d o r d a p r i m e i r a E s c o l a M o d e r n a d e
B a r c e lo n a 116.
As
n o t íc i a s
g e r a l m e nt e
se
red uz ia m
à
ráp ido s
i n f o r m e s , c o mo n a e d i ç ã o d e ja n e i r o d e 1 9 1 8 , q u e j u nt a m e nt e c o m
o s i n fo r m e s d e p r a x e c o mo o d o e n c e r r a m e nt o d o a n o l e t i vo , f a z i a
p r o p a g a nd a d a v a nt a g e n s d o s mo l d e s a d o t a d o p e l a e s c o l a , lo ng e d e
“ p r e j u í z o s ” r e l i g io s o s e g e n u i n a m e nt e r a c io n a l , c o mo o m é t o d o
p r o p o s t o p e lo p r o f. F r a nc i s c o F e r r e r . 117
A s l o j a s d o i n t e r io r d o e s t a d o t a m b é m s e g u i r a m a o r ie nt a ç ã o
d e fu n d a r n o v a s e s c o l a s , c o mo e m S a n t a M a r i a , o nd e a p r o fe s s o r a
M a r g a r i d a L o p e s e o I r ∴ C íc e r o B a r r e t o 118, d ir e t o r a e p r o fe s s o r d o
C o l l e g io E l e m e nt a r , a br ir a m u m a e s c o l a n o t u r n a g r a t u it a d e s t i n a d a
à o p e r á r io s a d u l t o s o u a q u e l e s q u e q u e i r a m e s t u d a r m a s nã o o
p o d e m d u r a n t e o d ia . H o u ve a m a t r í c u l a d e m a i s d e c e m a l u no s ,
d e n u n c i a n d o a ne c e s s i d a d e d a a b e r t u r a d e e s c o la s v o lt a d a s à e s t e
p ú b l i c o . 119
E m j u n ho d e 1 9 1 9 , no t i c i a - s e a f u n d a ç ã o d a E s c o la L u z e
O r d e m , e r i g i d a e m a nt i d a p o r u m a l o j a m a ç ô n i c a c o m o m e s m o
n o m e , n a c i d a d e d e C a c i m b i n h a s . 120 A e s c o l a s e r á a g r a nd e ve d e t e
d o O D e l t a a p a r t i r d a q u e l e mo m e n t o , q u e q u a s e m e n s a l m e nt e
v e i c u l a r á n o t íc i a s s o b a e s c o l a e s t a m p a d a e m s u a s p á g i n a s .
N o mê s s e g u i nt e 121 é t r a n s c r it a a no t í c i a d o jo r na l 2 0 d e
S e t e m b r o , d e P ir a t i n i , o n d e s e r e l a t a a i n a u g u r a ç ã o d a no v a e s c o l a
115
O Delta, Ano I, fevereiro/1917. Nº 08, p. 125.
O Delta, Ano I, novembro/1916. Nº 05, p. 77
117
O Delta, Ano II, Janeiro/1918. Nº 05, p. 166.
118
Filiado na Loja Luz e Trabalho , era um maçom influente tanto na cidade de Santa Maria como junto
ao Gorgs.
119
O Delta, Ano II, Outubro/1917. Nº 04, p. 92
120
Atualmente a cidade de Piratini.
121
O Delta, Ano III, Junho/1919. Nº 12, p. 212
116
75
n a v i l a v i z i n h a , n o p r é d io q u e a p r ó p r ia m a ç o n a r i a c o n s t r u iu . D i z
q u e n o v a e s c o l a q u e n a s c e u no d i a t r i n t a d e j u n ho e r a m i s t a , s e u s
pro fesso res
pro vindo s
da
c a p it a l
e
que
não
se gu ia
n e n hu m a
o rie nt ação re lig io s a.
At u a n d o
no
c a mpo
das
idé ia s,
as
páginas
do
p e r ió d i c o
mo s t r a v a m c o m i n s i s t ê n c i a e p r e o c u p a ç ã o a n e c e s s i d a d e d o e n s i no
l e i g o e r a c io n a l s e r e m m i n i s t r a d o s n a s e s c o l a s , e j u nt o d e s e n v o l v i a
a i d é i a d e q u e o e n s i no a t r e l a d o à I g r e j a e r a a t r a s a d o ,
aspecto
c o mu m e m t o d a a e x i s t ê n c i a d a r e v i s t a . V a r i a d o s a r t ig o s a l e r t a va m
a o s l e it o r e s n ã o s ó o o bs o l e t o p r o g r a m a e d u c a c io n a l c a t ó l i c o , c o mo
t a m b é m e s c â nd a lo s p r a t i c a d o s p o r p a d r e s e f r e i r a s p r o fe s s o r e s , n e m
s e m p r e o c o r r id o s e m s o lo g a ú c h o , m a s t a m b é m e m o u t r o s e s t a d o s
o u a t é me s mo o u t r o s p a í s e s , c o mo f o r m a d e a l e r t a d a s n u a n c e s
o bs c u r a s d o e n s i no c a t ó l i c o .
Ped ia- se
que
os
ma ço ns
le vasse m
co m
preocupação
a
as ce nde nt e a bert ura d e es co las vinc u la das ao s ma is d iver so s credo s
n o E s t a d o , c o mo a l e r t a o a r t i g o c h a m a d o “I n s t r u c ç ã o ” 122, o nd e
a l e r t a n ã o s ó o c r e s c e nt e nú m e r o d e e s c o l a s c a t ó l i c a s q u e s e
e s p r a i a m p e lo e s t a d o , ma s t a m b é m o e n s i n o p r o t e s t a nt e :
Or a, si os padr es catholicos cer ceia m o livr e exa me e
anu lla m a lib er dade de p ensar , os pr ot esta nt es la nça m
nas t enr as almas qu e lhes sã o conf iadas ta l e tão int ensa
dos e de int oler ancia, qu e nã o sab emos de qual ma is
depr essa fugir . 123
C o n c l u i r e it e r a nd o a ne c e s s i d a d e d o e n s i n o t o t a l m e nt e l e i g o e
r a c io n a l , l i v r e d e t e nt á c u l o s r e l i g io s o s q u a i s q u e r , f a z e n d o c o m q u e
a s c r i a n ç a s c o n s i g a m c r e s c e r c o m s e u s e s p í r it o s l i v r e s e c o m a
c o mp r e e n s ã o c l a r a e p u r a d o s f e nô m e no s d a na t u r e z a , lo ng e d o s
m it o s r e l i g io s o s .
122
123
O Delta, Ano I, junho/1917. Nº 12, p. 190.
O Delta, Ano I, junho/1917. Nº 12, p. 190.
76
É
no
me s mo
a r t ig o
o nde
aparece
pe la
pr ime ira
vez
a
p r e o c u p a ç ã o n a i n s t it u i ç ã o d o e n s i n o p r i m á r io o br i g a t ó r io no p a í s ,
c o n s e q ü e n t e m e n t e l e i g o . C h a m a d e lo u vá v e l a a t it u d e d e t r ê s
c â m a r a s m u n i c i p a i s p a u l i s t a s 124 q u e d e c r e t a r a m a o br i g a t o r i e d a d e
d o e n s i n o p r i m á r i o , c o n f i a n d o q u e a t it u d e s c o mo e s s a r e d u z i r i a m
a o s p o u c o s a m a z e l a d o a n a l f a b e t i s mo .
N o a r t ig o i n t it u l a d o “I n s t r u c ç ã o P u b l i c a ” 125 q u e s t io n a u m
p r o je t o a p r e s e nt a d o no C o ng r e s s o N a c io n a l p e lo d e p u t a d o F a u s t o
F e r r a z q u e p r o p u n ha t o r na r o t r a b a l h o o br ig a t ó r io , d e v e nd o a nt e s
s e r o b r i g a t ó r ia a i n s t r u ç ã o e s c o l a r . S e p o d e c o m p e l i r o c i d a d ã o a o
t r a ba l h o , o E st a d o d e v e t e r a o br ig a ç ã o d e p r o p o r c io n a r - l h e a
i n s t r u ç ã o e i m p ô - l a q u a n d o r e c u s a d a . A i n d a a c r e d it a q u e “ s ó a
posse
de
certo
gráo
de
inst ruc ção
póde
co nverter
o
ho m e m
t r a ba l h a d o r e f i c i e nt e e p r o d u c t i vo , e , s i e s s e d e v e r t e m e p a r a c o m
o c id a d ã o , mu it o m a i s t e m c o m a i n f â n c i a ” . 126
A f i r m a q u e s ó a e d u c a ç ã o s e r á c a p a z d e m u d a r a s it u a ç ã o d o
p a í s n o f u t u r o e q u e o p r o le t á r io , s e m c h a nc e d e a p r e n d e r a l e r e a
e s c r e v e r , s e r á e t e r na m e nt e e s c r a vo d a s it u a ç ã o e m q u e s e e nc o nt r a ,
co m t ra ba lho s pe sa do s e ma l r e mu ner ado s, s e m e sp era nça para u m
f u t u r o me l h o r .
A
i n s t it u i ç ã o
da
educação
o br i g a t ó r i a
visa r ia
v ia b iliz ar
t a m b é m a q u e l e s q u e n ã o t e r ia m c o n d i ç õ e s f i n a n c e i r a s p a r a v e s t ir e
c a l ç a r s e u s f i l h o s , o u a i n d a a l i m e nt á - l o s . O u a i nd a p a r a r e p e l i r o s
p a i s g a n a n c io s o s q u e u s a m o s br a ç o s d e s e u s f i l ho s p a r a g a n h a r
ma is.
O d i s c u r s o d a r e v i s t a d e q u e s o m e n t e o a c e s s o e d u c a c io n a l
para
todos
fará
que
a
p á t r ia
tenha
ho m e n s
de
v a lo r e s
e
t r a ba l h a d o r e s é u t ó p i c o e r a s o , p o i s n ã o e xp l i c a e n e m p r o p õ e m
u m a m a n e i r a d e i n s t it u ir o e ns i no o br i g a t ó r io , n e m d e q u e m a n e ir a
p o d e r i a - s e c o m b a t e r o a n a l f a b e t i s mo .
124
Procurar quais.
O Delta, Ano II, Setembro/1917. Nº 03, p. 55.
126
O Delta, Ano II, Setembro/1917. Nº 03, p. 55.
125
77
A p a r t ir d a e d i ç ã o d e o u t u br o d e 1 9 1 7 , é p u b l i c a d a u m a s é r i e
d e r e p o r t a g e n s s o b o t it u lo d e “ I n s t r u c ç ã o P r i m á r i a ” o nd e m o s t r a
e x e m p lo s
e
a
i m p o r t â nc i a
do
e s t a be l e c i m e nt o
da
educação
o br i g a t ó r ia no p a í s . N a p r i m e i r a r e p o r t a g e m d a s é r i e , é a p r e s e nt a d o
u m p r o j e t o n o R io d e J a n e i r o q u e d e c r e t a v a o e n s i n o p r i m á r i o
o br i g a t ó r io p a r a c r i a n ç a s d e 7 à 1 4 a no s . O s p a i s o u t ut o r e s q u e
n ã o c u m p r i s s e m a l e i s e r i a m m u lt a d o s n o v a lo r d e 5 $ 0 0 0 d i á r io s ,
e nqu a nt o
nã o
construção
o
de
c u m p r i s s e m.
285
e s c o la s
O
pro jet o
det ermina va
p r i m á r ia s ,
co m
a ind a
a u t o r iz a ç ã o
a
de
a s s i s t ê n c i a m é d i c a e o fo r ne c i m e nt o d e r o u p a s a o s a l u no s s e m
c o nd i ç õ e s . 127 A l e r t a a o s m a ç o n s g a ú c ho s q u e :
E mb or a aqu i no Rio Gr ande do Su l não sur ja iniciativa
algu ma par a dar mais a mp la diffusã o á instr ucçã o
pr imar ia qu e os p oder es p úb licos mi nistr a m, é
encor aja dor ver como noutr os Esta dos a mes ma idea s e,
concr et iza em fact os e mar cha vict or iosa ment e par a a
lib er tação
da
infância
das
gar r as adu ncas
do
analp hab et is mo. 128
E m o u t r a e d i ç ã o , p e d e q u e o s m a ç o ns d o R io G r a n d e d o S u l
mir e m-se
no
e s p e l ho
das
a t it u d e s
t o ma d a s
pe la s
c id ad es
que
i n s t i t u í r a m o e n s i n o o br i g a t ó r io e q u e s e e m p e n h e m p a r a a d i f u s ã o
d a i n s t r u ç ã o p r i m á r i a . P e d e q u e s e u s o b r e i r o s d i s c u t a m a m p l a m e nt e
n a s lo j a s , f a z e n d o e s t u d o s s o b r e a r e s o lu ç ã o d o p r o b l e m a , e q u e
dest a ma ne ira est arão
e n g r a nd e c e nd o
o
pa ís a lé m d e est are m
r e a l i z a n d o o be m s o c i a l , u m d o s f i n s p r o p o st o s d a M a ç o na r i a . 129
E m n o v e m b r o d e 1 9 1 7 é no t ic i a d a a c r i a ç ã o d e u m a C o m i s s ã o
p r ó - e n s i no 130, q u e v i s a v a a l é m d a d e f e s a d e u m e n s i no r a c io n a l , a
l u t a c o n t r a o a n a l f a b e t i s mo e a r e s i s t ê nc i a à e s c o l a s l i g a d a s à
inst it u içõ e s re lig io sa s.
127
O Delta, Ano II, Outubro/1917. Nº 04, p. 77.
O Delta, Ano II, Novembro/1917. Nº 05, p. 116.
129
O Delta, Ano II, Novembro/1917. Nº 05, p. 117.
130
O Delta, Ano III, Outubro/1918. Nº 05, p. 94.
128
78
Fa z ia
um
c o n s t r a ng e d o r
pe d ido
para
que
as
lo j a s
s u bo r d i n a d a s a o G o r g s ma n d a s s e m r e c u r s o s f i n a n c e i r o s p a r a q u e
c o br i s s e o a lt o c u s t o q u e a c o m i s s ã o d e m a n d a v a , d a s v i a g e n s e d o s
impr e sso s q ue ir ia m ser pro duz ido s e d ist r ibu ído s p e la co missão ,
p o is n ã o d i s p u n h a d e r e nd a p r ó p r i a .
Ser ia contr istador em extr emo qu e as Lojas da
jur is dicçã o deixass em cahir no aba ndono e fr acassar u ma
tão pr omiss or a iniciat iva, qu er sobr e o p ont o de vista do
pr ogr ess o nacional, qu er s ob o p ont o de vista da
r ealização dos ma is genu ínos pr incíp ios maçônicos. 131
N a s e q ü ê nc i a d o a r t ig o , O D e l t a d i z q u e e s t á c o n f i a nt e no
a p o io q u e a s lo j a s ir ã o o fe r e c e r à c o m i s s ã o , v i s t o o t r a ba l h o
g lo r io s o q u e a m e s m a i r á e f e t u a r á p a r a a p o p u l a ç ã o . A i n d a , d e i x a
c l a r o q u e s e n ã o h o u v e r t a l a p o io , n ã o s e r á p o s s í v e l q u e a c o m i s s ã o
t r a ba l h e .
T a l p e d i d o d e a j u d a f i n a n c e i r a nã o s u r t iu e f e i t o no me i o
m a ç ô n i c o , nã o s ó d e v i d o à s d i f i c u l d a d e s f i n a n c e i r a s q u e a s lo j a s
a t r a v e s s a v a m , m a s t a m b é m p o r q u e a s lo j a s e s t a va m i n d i f e r e nt e s
q u a n t o a C o m i s s ã o p r ó - e ns i n o , j á p e r f e it a m e nt e o r g a n i z a d a e a fo it a
para
o
t r a ba l ho .
De
fo r m a
m u it o
c lar a,
expressa
o
d e s c o n t e nt a m e nt o d iz e n d o :
É extr ema ment e dep lor ável qu e as L ojas deix em cahir
assim no es qu eciment o e no abandon o as ma is
pr omiss or as iniciativas e qu e mu it o contr ibu ír a m par a o
r obust eciment o de sua vida, par a engr andeciment o da
Or dem e par a justif icar a r ealizaçã o fr eqü ente de nossas
r eu niões, qu e ta nta vez, inf elizment e, r esu mem- s e a
assumpt os de s ecu ndár ia imp or tância . 132
131
132
O Delta, Ano III, Outubro/1918. Nº 05, p. 95.
O Delta, Ano III, Fevereiro/1919. Nº 08, p. 169
79
Pe la
f a lt a
de
recursos,
a
co missã o
p r ó - e ns i n o
ca iu
no
o s t r a c i s mo e e s q u e c i m e nt o , n ã o a p a r e c e n d o m a i s no t í c i a a l g u m a
s o br e a i n i c i a t i v a p r o p o s t a p e lo G r a n d e O r i e nt e d o R i o G r a nd e d o
S u l.
O D e l t a t a m b é m a g r a c i a o g o ve r no e s t a d u a l n a c r i a ç ã o d e 1 6 7
e s c o la s e m z o n a s h a b i t a d a s p o r p o p u l a ç ã o i m i g r a t ó r ia . A s e s c o l a s
s e r i a m d e s t i n a d a s a o e n s i no d e l í n g u a p o r t u g u e s a , a e d u c a ç ã o
c ív ic a e ao e ns ino d e hist ó r ia e g eo grafia do Bra s il. Co m e ss a a ção ,
d iz qu e o
g o ve r no
n a c i o n a l e , c o mo
e s t á p r e p a r a nd o
v e r d a d e i r a m e nt e a d e f e s a
d e p r a x e , d i s c o r r e e m s u a s l i n h a s s o br e a
i m p o r t â n c i a d o e n s i n o l e i g o . 133
E r a m r o t i n e i r a s a s c r ít i c a s a o mo d e lo c a t ó l i c o d e e n s i no ,
a br indo
t e r r it ó r io
fo g o à c r e s c e nt e r e d e c a t ó l i c a q u e s e a l a s t r a va p e l o
g a ú c ho .
As
fo l h a s
do
j o r na l
v inha m
r e c he a d a s
de
a c u s a ç õ e s m a i s d i f e r e nt e s e p e c u l i a r e s p o s s í v e i s , d e a t o s a mo r a i s
c o me t i d o s p e lo s p a d r e s d e nt r o d e s a l a s d e a u l a s e r e fo r m a t ó r io s ,
p a s s a n d o p e l a r e t r ó g r a d a fo r m a d o p e ns a r c a t ó l i c o o u a t é m e s m o
e m p o e m a s 134 q u e e xp r e s s a v a m r e p ú d i o a o e n s i no r e l i g io s o o u
e x a lt a m o la i c i s mo e s c o l a r .
C o mo e xp r e s s o n o a r t i g o i nt it u l a d o “ A E g r e j a R o m a na e o
A n a l p h a b e t i s mo ” , o nd e a l é m d a e x p o s i ç ã o d a n e c e s s i d a d e g r it a nt e
d o e n s i n o l a i c o , t r a z u m a t a b e l a c o m p a r a t i v a o nd e d e m o n s t r a o
d isp arat e do
a n a l f a b e t i s mo g r it a nt e e m p a í s e s c o m a m a io r i a
c a t ó l i c a e m c o m p a r a ç ã o a o s p a í s e s o n d e a m a io r i a é p r o t e s t a nt e . O
q u e o a u t o r n ã o l e va e m c o nt a e m s u a a ná l i s e é q u e a d i f e r e n ç a n a
t a x a d o a n a l f a b e t i s mo t a m b é m é o r e f l e xo d a c o nd i ç ã o s o c i a l e d a
t r a je t ó r i a h i s t ó r i c a q u e c a d a p a í s c o m p a r a d o s e e n c o nt r a v a . 135
Afir ma que é impo ssíve l que a inda se d e fe nda o e nsino
r e l i g io s o e s c o l a r , d e v i d o a o s é c u lo e m q u e a c i ê n c i a e r a z ã o
d e r r u b a m c a d a v e z m a i s a s l e n d a s e m it o s , e a v e r d a d e p r e v a l e c e
133
O Delta, Ano III, Julho/1918. Nº 01, p. 21.
O Delta, Ano III, Fevereiro/1919. Nº 08, p. 167
135
O Delta, Ano III, Novembro/1918. Nº 05, p. 97
134
80
s o br e o s d o g ma s . “C o n s e r v a r D e u s n a e s c o l a – P a r a q u e ? ! ” 136
q u e s t io n a o p r ó p r io t ít u lo d o a r t ig o , o nd e e x p l i c a a e x i s t ê n c i a d a s
m a i s d i v e r s a s m a n e i r a s d e v e r e ve n e r a r u m s e r s u p r e mo , s e nd o q u e
c a d a p o v o i n v e nt o u s u a d e i d a d e à m e d i d a d e s u a s t e n d ê nc i a s ,
nec essid ade s e d e seu s co st u mes.
A e d i ç ã o d e J u l ho d e 1 9 1 9 r e ve l a a a ç ã o d o c l e r o c a t ó l i c o
d e nt r o d a p o l ít i c a c i v i l , a t r a vé s d a a p r e s e nt a ç ã o d o I n t e n d e nt e d o
R io d e J a ne i r o , A nt ô n io P e n i d o , q u e p e r m it i u q u e n a s e s c o l a s
pú blic a s
fo s s e
min ist r ado
o ens ino
r e l i g io s o ,
“q u e
será dado
i n d e p e n d e n t e m e n t e d e q u a l q u e r r e m u n e r a ç ã o , p e lo s r e p r e s e n t a nt e s
d e c a d a c u l t o , no e d i f í c io e s c o l a r , s i o r e q u e r e r e m, a o s a l u m n o s
c u jo s p a i s o d e s e j e m ( . . . ) ” . 137
C o m b a t e n d o a s u r d i n a a ç ã o c l e r i c a l no m e io p o l ít i c o , p e d e
a lert a
p o is
todos
dever ia m
saber
que
a
ú nic a
fé
que
ser á
b e ne f i c i a d a s e r á a c a t ó l i c a , s e n d o i n e x e q ü í v e l , m e r e c e nd o r e p ú d i o
d a s c o ns c i ê n c i a s l i v r e s e d a s a l m a s s ã s . N o m ê s s e g u i nt e 138 a
r e v i s t a a c u s a no v a m e nt e o i n t e nd e nt e d o R io d e J a n e i r o d e s ó
q u e r e r b e n e f i c i a r a r e l i g i ã o r o m a n a , p o i s o u t r a s r e l i g iõ e s t e n t a v a m
p e r m i s s ã o p a r a d a r a u l a s e nã o e r a m b e n e f i c i a d a s .
R e p r o d u z i n d o u m a no t íc i a r e t ir a d a d e u m j o r n a l c a r io c a q u e
d e f e n d e o s i nt e r e s s e s u lt r a m o nt a n o s , o nd e f a l a v a d a s it u a ç ã o d o
e n s i n o r e l i g io s o n a s e s c o l a s , r e l a t a c o m h u mo r a t e nt a t i v a d e o u t r a s
r e l i g iõ e s n a o bt e n ç ã o d e a u t o r iz a ç ã o p a r a m i n i s t r a r a u l a s n a s
e s c o la s , s e m p r e ne g a d a s . E n t r e o s p e d i d o s d e e s p í r it a s o u d e
r e l i g iõ e s p r o t e s t a n t e s , d i z q u e a t é m e s mo u m ho m e m d e c l a r a d o - s e
b u d i s t a r e q u e r i a a u t o r iz a ç ã o p a r a d i f u nd i r o s e n s i n a m e n t o s d e B u d a
nas E sco la s.
O De lta, re fe r indo -s e à no t ic ia co mo vergo nho s a, c la ma a
t o d o s a g r a nd e n e c e s s i d a d e d a s e s c o l a s t e r e m c a r á t e r l e i g o , l i v r e d e
136
O Delta, Ano III, Maio/1919. Nº 11, p. 241
O Delta, Ano IV, Julho/1919. Nº 01, p. 18.
138
O Delta, Ano IV, Agosto/1919. Nº 02, p. 44.
137
81
q u a l q u e r c r e d o . A v i s a q u e a a t it u d e d o i n t e nd e nt e P e n i d o fo r a
e x t r a v a g a nt e o c a s io n a nd o r e s u lt a d o s p i t o r e s c o s .
At r a v é s d a h e r a nç a i l u m i n i s t a q u e l e v a e m s e u i d e á r io , a
Ma ço nar ia t raz no s eu d is cur so a nec es s id ade da ed uc ação p ara o
f u t u r o e o be m d a na ç ã o . M a i s i m p o r t a n t e q u e i s s o é a ne c e s s i d a d e
d e s e c o nt r a p o r a c r e s c e nt e r e d e d e e s c o l a s c a t ó l i c a s q u e n e s t e
p e r ío d o s e a l a s t r a c o m d e s e n v o lt u r a p e lo e s t a d o . N ã o p o d e n d o
i n s t i t u i r e s c o la s no m e s m o n í v e l e s u s t e nt á - l a s d a m e s m a f o r m a q u e
a
Igre ja
C at ó lic a,
a
atuação
ma çô nic a
será
e xe c u t a d a
p r i n c i p a l m e nt e a t r a v é s d o O D e l t a , u s a n d o s u a s p á g i n a s c o mo u m a
vo z que c la ma p ara que o Est ado par a que cu mpr a o seu d e ver co m
o s c i d a d ã o s e a l e r t a a o s s e u s l e it o r e s d o p e r i g o c a t ó l i c o d e nt r o d a s
sa la s d e au la .
4 . C I E N T I F I C I SM O E P O L Í T I C A N A S P Á G I N A S D A
R E V I ST A
4.1
Discu rso Ci enti fici sta
A mor al e a sciencia t êm s eus domíni os
pr ópr ios qu e s e t oca m mas não s e p enetr am.
Uma nos mostr a qual o f im qu e devemos vis ar ,
a outr a, dado o f im, nos faz conhecer o meio
de attingil- o. Ellas nã o s e p odem contr ar iar por
qu e nã o s e p odem encontr ar . Não póde ha ver
sciencia immor al, do mes mo modo qu e não
póde ha ver mor al scient if ica. 139
D’O Delta, Outubr o de 191 8 da E V
A m a ç o n a r i a d e s d e o p r i n c í p io d e s u a a t u a ç ã o c o mo u m a
i n s t i t u i ç ã o e s p e c u l a t i v a , a b r i u e s p a ç o e m s e u s t e m p lo s p a r a a
d i s c u s s ã o d e no v a s i d é i a s q u e f l o r e s c i a m no c o nt e xt o e u r o p e u .
D u r a nt e f i n a l d o s é c u lo X V I I I , o d i s c u r s o i l u m i n i s t a e l i b e r a l fo r a
a d o t a d o p e l a s lo j a s e u r o p é i a s , e m e s p e c i a l n a F r a n ç a , q u e a t r a v é s
d a R e vo l u ç ã o F r a n c e s a f u nd i u s e u no vo id e á r io a o mo v i m e nt o
m a ç ô n i c o , i n c u t i n d o t r a ç o s i l u m i n i s t a s e l i b e r a i s à i n s t it u i ç ã o . E s t e
139
O Delta, Ano III, Outubro/1918. Nº 04, p. 83.
83
i d e á r i o p e r m a n e c e u na s m a ç o na r i a s q u e f lo r e s c i a m p o r t o d a a
Amé r ic a,
fr u t o
d a s v e r t e nt e s e u r o p é i a s q u e e nt r e s e u s t r a ç o s
r e v o lu c io n á r io s , d e f e n d i a o a r c a bo u ç o i l u m i n i s t a s e n d o a d o t a d a a
c iê nc ia
e
o
r a c io n a l i s mo
c o mo
fo nt e s
para
a
e xp l i c a ç ã o
e
e n t e n d i m e nt o d e m u nd o .
O n o s s o e s t u d o q u e c o mp r e e nd e o i n í c io d o s é c u lo X X ,
e nco nt ra
o
c ie nt i f i c i s mo
c o mo
um
dos
g r a nd e s
p ilar es
da
i n s t i t u i ç ã o , s e n d o a d o t a d o c o mo b a n d e i r a p o r t o d a a M a ç o na r i a
n a c i o n a l , s o b o d is c u r s o d e t r a z e r a l u z p a r a a s o c i e d a d e b r a s i l e ir a
d i a n t e d o o bs c u r a nt i s m o i nt e l e c t u a l r e s u l t a d o d a a ç ã o d a I g r e j a
C a t ó l i c a . N o O D e l t a , m a nt e v e - s e p o r vá r io s a n o s u m a c o l u n a
m e n s a l c h a m a d a “ O C a n h e n ho d a S c i e n c i a ” , o n d e a r t ig o s e x t r a í d o s
d e jo r n a i s e u r o p e u s e no r t e - a me r i c a no s m e n c io n a v a m a s no v a s
descobertas
que
o
u n iver so
a c a d ê m i c o / c i e nt í f i c o
estava
c o nq u i s t a nd o no mo m e nt o .
N a r e v i s t a , d e i x a - s e c l a r o a i m p o r t â nc i a d o p o d e r d a c i ê n c i a
p a r a e nt e n d e r o mu n d o , e q u e s o m e nt e a t r a vé s d e l a é q u e s e r i a
p o s s í v e l o ho me m l i b e r t a r - s e d a i g no r â n c i a e d a s e x p l i c a ç õ e s
m í s t i c a s / r e l i g io s a s p a r a o mu nd o .
As mat ér ia s p u blic ad as na re vist a so bre c iê nc ia ia m d a ma is
p lau síve l
t eo r ia
s u r p r e e nd e nt e s
e
e
a v a nç o
t e c no ló g i c o ,
impo ssíve is,
que
passando
faz ia m
parte
pe las
do
ma is
c o n t e xt o
c i e n t í f i c o d o c o m e ç o d o s é c u l o X X , c o mo a s e x p e d i ç õ e s d e p r o c u r a
à c o n t i n e nt e s p e r d i d o s c o mo At l â nt i d a o u L e m ú r i a .
Mat ér ia s so bre a s no vas in ve nçõ es
m i r a b o l a nt e s c o mo o
t a l i s s i o s c ó p io 140, u m t u bo d e v i s ã o a c o p l a d o no c a s c o d e u m b a r c o ,
para
f a c i l it a r
a p a r e l ho
que
o
estudo
de ixa
o
da vid a
ca mpo
de
mar inha o u o
visão
livr e
mo t o r s c ó p io 141,
em
lo c o mo t i v a s
i n f o r m a v a m a o s l e it o r e s o q u e e x i s t i a d e n o v o e m t e r m o s d e
e v o lu ç ã o t e c no ló g i c a p a r a a j u d a r a c i ê n c i a .
140
141
O Delta, Ano I, Nº 03, p. 43
O Delta, Ano I, Nº 08, p. 118
84
A preo cup ação da o rde m par a a c iê nc ia e m r e la ção à Igre ja
C a t ó l i c a p o d e s e r v i s t o no p r i m e i r o nú m e r o d a r e v i s t a , e m u m
a r t ig o i n t it u l a d o E p o r s i , m u o ve ! 142 o nd e f a l a d a o br i g a ç ã o d e
G a l i l e u G a l i l e i d e r e t r a t a r - s e c o m a I g r e j a e m c o nt a d e s u a s
descobertas
ser em
c o n d e na d a s
co mo
fa lsa s.
J u nt o
fa l a
da
i m p o r t â n c i a d a c i ê n c i a e d o r a c io n a l i s mo , e a i n d a a ne c e s s i d a d e d e
desp ir-se de pre co nce it o s.
P e s q u i s a s f e it a s c o m f e c u nd a ç õ e s a r t i f i c i a i s , fo i no t ic i a d a
c o mo u m g r a n d e a v a n ç o , a i n d a q u e f o s s e m c o m o u r i ç o s m a r i n ho s
ou
com
o vo s
de
g a lin ha,
é
mo s t r a d o
co m
grande
ên fase
e
i m p o r t â n c i a e p e l a r e v i s t a , p o i s n e s t e c a m i n ho s e r i a p o s s í v e l
“ e s c l a r e c e r o ma i s p r o fu n d o d o s m ys t e r io s d a na t u r e z a v i v a , o d a
f e c u n d a ç ã o ” 143,
que
até
o
mo m e nt o
não
ha v i a
a ind a
sido
c o mp l e t a m e nt e c o mp r e e n d i d o .
O d i s c u r s o c i e n t í f i c o a d o t a d o p e la r e v i s t a n ã o p r o p u n h a na d a
d e n o vo p o r s e u s e s c r it o r e s , a p e na s r e p r o d u z i a a s no t í c i a s n a
m a io r i a d a s v e z e s v i n d a s d o e xt e r io r , i n fo r m a n d o a o s l e it o r e s o s
n o vo s c o n c e it o s c i e nt í f i c o s q u e a f l o r a v a m . A i n d a e r a m c o m u n s a s
c o lu n a s c o m d e t e r m i n a d o s a s s u nt o s q u e p e r d u r a v a m d u r a nt e vá r i a s
ed içõ e s.
É
o
caso
do
a r t ig o
i n t it u l a d o
“O s
T e mp e r a m e nt o s
e
o
D i a g nó s t i c o e s u a r e l a ç ã o c o m a C r o mo t e r a p i a ” , q u e e s t e n d e u - s e
p o r ma i s d e c i n c o e d i ç õ e s a o d e c o r r e r d e 1 9 1 7 . N e l e , a p o nt a - s e a
i m p o r t â n c i a d e u m bo m d i a g nó s t i c o m é d i c o a p o ia d o e m c i ê n c i a s
a f i n s p o s s i b i l i t a d a s p e l a s e m io l o g i a .
F a z - s e q u e s t ã o d e f r i s a r q u e a mo d e r n a c i ê n c i a s e a p ó i a e m
a n t ig o s e n s i n a m e nt o s , q u e m e s mo q u e e s q u e c i d o s , n ã o v i r a r a m
o bs o l e t o s . O s a nt i g o s e n s i n a m e nt o s p a g ã o s d a E u r o p a o u m e s m o a
m e d i c i n a u t i l i z a d a p e lo s í n d io s a m e r i c a n o s a t r a vé s d e e r va s , s ã o
a g o r a u t i l i z a d o s p e l a m e d i c i n a d e fo r m a r a c io n a l , c o mo o c a s o d o
u s o d o p r i nc í p io a t i v o d a fo l h a d e c o c a u s a d a p e l o s i n c a s . A i n d a
142
143
O Delta, Ano I, Julho/1916. Nº 01, p. 12
O Delta, Ano I, Nº 02, p. 29
85
p e r g u n t a - s e c o mo o s e n s i n a m e nt o s í nd io s d e v e m s e r c h a m a d o s ,
v i s t o q u e n ã o s ã o c o ns i d e r a d o s c i e nt í f i c o s n a v i s ã o o c id e n t a l.
O p e r ió d i c o t a m b é m m o s t r a va - s e a b e r t o à n ã o i nt r a n s i g ê n c i a
c o m a s c i ê n c i a s e m g e r a l , o u t r a fa c e t a e nc o nt r a d a n a s p á g i n a s d o O
D e l t a , c o mo mo s t r a mo s a b a i x o :
Cada sciencia t em s eus met hodos pr ópr ios, e ningu ém
está autor iza do a for mular leis e conclus ões ger a es par a
todos os met hodos. As es colas off icia es s ó r econhecem
scient if icos os met hodos de invest igação por ellas
pr econiza dos; entr etant o, du vido mu it o qu e o clinico
moder no s eja capaz de, á ma neir a de Galen o, tact ear o
puls o do imp er ador Mar co Aur élio e Aff ir mar qu e a
s ede da doença er a o est oma go; pr edizer a u m s ena dor
qu e ia t er uma ep istaxis e r econhecer p elo exa me do
puls o de u m doent e qu e est e s e pur gár a pela ma nhã; é
assombr os o, e tu do ist o nã o er a s inã o o r esulta do da
pr atica e da obs er vaçã o accur ada qu e sabia disp ensar o
ar senal s emilogico mod er no; com os mei os actua es,
ningu ém t er ia chega do a ess e r esu lta do. 144
N e s t e a r t ig o , r e l a t a o no vo m é t o do d e d i a g n ó s t i c o a t r a vé s d a
f i s io n o m i a d e s e n vo l v i d o p o r L u i z K u h n e . S e g u nd o o e s t u d o , a
a n á l i s e d a e xp r e s s ã o fa c i a l d a r i a s u b s í d io s p a r a o d i a g nó s t i c o d e
d o e n ç a s . A i n d a n o m e s mo a r t ig o , mo s t r a e s t u d o s f e it o s p e lo D r .
P i c z e l i s o br e o d i a g nó s t ic o a t r a vé s d a ír i s , a i n d a e m u s o n o s d i a s
d e h o je p o r t e r a p e u t a s ho l í s t i c o s . D i z o a r t ig o , q u e s e e s t e t ip o d e
d i a g n ó s t i c o n ã o fo r i n f a l í v e l , é p e lo m e n o s t ã o r e s p e it á v e l q u a nt o
o s o ut ro s.
A p o nt a t a m b é m q u e o t e m p e r a m e n t o hu m a no é i n f l u e n c i a d o
p e l a a s t r o n o m i a , c o mo d i z i a m a n t i g a s c i v i l i z a ç õ e s . U m s e r hu m a n o
e q u i l i b r a d o a p r e s e nt a t r a ç o s d e i n f l u ê nc i a s d e u m d e t e r m i n a d o
grupo
de
p la net a s
que
o
in flue nc ia
d i r e t a m e nt e
no
seu
t e mp e r a m e nt o . A m i s t u r a d e c i ê n c i a e m i s t i c i s mo f a z d e s s a c o l u n a
u m t a nt o p e c u l i a r , p o i s d e mo n s t r a u m a r e l a ç ã o d o f u t u r o q u e a o v e r
144
O Delta, Ano I, Fev/1917. Nº 08, p. 115.
86
d a m a ç o na r i a é a c i ê n c i a j u n t o a o r e s p e it o à t r a d i ç õ e s a r c a i c a s q u e
d e n a d a t i n h a d e c i e nt í f i c o , m a s s i m m í s t i c o , c o m u m n o s r i t u a i s e
n a s i m bo lo g i a m a ç ô n i c a .
Neste
art igo
est end ido ,
é
pouco
retratado
o
uso
da
c r o mo t e r a p i a e m r e l a ç ã o a o t e mp e r a m e nt o , q u e a o v e r d a r e v i s t a
d e ve s e r v i s t o c o m m a i o r a t e nç ã o , “ p o u c o i m p o r t a nd o - no s q u e
o u t r o s n ã o t e n ha m v i s t o e s s a r e l a ç ã o ” 145, a o p o nt o q u e n o a no
s e g u i n t e é p u b l i c a d o n a r e v i s t a u m s é r i e d e r e p o r t a g e ns e s p e c í f i c a s
s o br e o a s s u nt o , s o b o t ít u lo d e “ O s T yp o s P h y s i o g n o m i c o s , o s
t e mp e r a m e nt o s , a s a s s i g n a t u r a s p l a n e t á r ia s e Z o o d ic i a i s ” .
N e s t e a r t i g o , q u e s e e s t e nd e u p o r c i n c o e d iç õ e s d u r a n t e o a no
d e 1 9 1 7 , m o s t r a a f i s io no m i a h u m a n a e m r e l a ç ã o a o t e m p e r a m e n t o ,
u m e s t u d o q u e d e c e r t a m a n e i r a e r a no vo e n a mo d a n o c o nt e x t o
e u r o p e u . C it a nd o e s t u d io s o s e u r o p e u s no a s s u nt o d i z q u e :
O estu do dos t emp er a ment os nos p er mitt e avaliar as
inclinações, os gost os, os costu mes, as aptidões, as
paix ões, as pr edisp os ições mór b idas do indivídu o e
por tant o a cor ou as cor es astr aes qu e elle ma is p õe e m
jogo e qual ou qua es os ór gã os ma is facilment e su jeit os
ás aff ecções. Os t emp er a ment os são cinco, o b ilios o, o
sangu ineo, o lymp hatico, o mela ncholico e o ner vos o . 146
O
art igo
segue
de fin indo
cada
um
dos
t ip o s
de
t e mp e r a m e nt o s , a s s u a s c a r a c t e r í s t i c a s e a fo r m a d e t r a t a m e n t o . E m
1 9 1 9 h á o r e t o r no d e r e p o r t a g e n s s o b r e o me s mo a s s u n t o , e m u m
e n s a io e s t e nd i d o p o r 3 e d i ç õ e s c h a m a d o “D o e m p r e g o d a l u z
c o lo r id a
na
t e r a p ê u t ic a ” ,
vo lt a n d o
a
d isc ussão
da
ação
da
c r o mo t e r a p i a c o mo c i ê n c i a e d a s e r v e nt i a d e c a d a c o r n o u s o
m é d i c o - t e r a p ê u t i c o e s u a s i m p l i c a ç õ e s t e mp e r a m e n t a i s .
M a s o m a i s m a r c a nt e s e m d ú v i d a s ã o o s a r t i g o s q u e p r o je t a m
o fu t u r o d a c i ê n c i a e o s q u e d i s c u t e m c o n c e it o s q u e p e r p a s s a m p e l a
145
146
O Delta, Ano I, Mai/1917. No.11, p. 166.
O Delta, Ano II, Julho/1917. No.1, p. 06.
87
mo r a l , p e l a c i ê n c i a e p e l a r e l i g i ã o . C o mo e x p r e s s a o a r t ig o “D a
Sc ie nc ia e da Ver dad e”:
A mor a l e a sciencia t êm s eus domínios pr ópr ios qu e s e
toca m mas nã o s e p enetr a m. Uma nos mostr a qual o f im
qu e devemos visar , a outr a, da do o f im, nos f az conhecer
o meio de attingil- o. Ellas nã o s e p odem contr ar iar por
qu e nã o s e p odem encontr ar . Não póde ha ver s ciencia
immor al, do mes mo modo qu e não p óde ha ver mor a l
scient if ica. 147
O u a i n d a n o t e xt o d i v i d o e m t r ê s e d i ç õ e s d a r e v i s t a i nt it u l a d o
“ O D e u s d e a m a n h ã ” , o nd e o a u t o r t e nt a p r o j e t a r o D e u s d o s é c u lo
X X I , q u e a o s e u v e r , s e r á a c i ê n c i a , o n d e o s ho m e n s t r o c a r i a m s e u s
o r a t ó r io s p e lo s l a bo r a t ó r io s :
Nós passa mos já o t emp o das myt hologias e das
r eligiões. Há mu it o já qu e pass ou a hor a de t odas as
divinda des com f igur as mat er ia es, qu er t enham car r ancas
de a nima es, sor r is os enigmáticos ou vontades hu ma nas,
capr ichosas e var ia das. Já não é D eus qu e a r r emessa os
tr ovões, nem J eova h qu e decr eta o nasciment o e a mor t e.
Já nã o é J esus C hr ist o qu e insp ir a as b oas r esolu ções ou
Satan qu e pr ovoca as tentações ma ldosas. 148
Nos d o i s t r e c ho s a c i m a , é n ít i d a a c r ít i c a à s i n s t it u i ç õ e s
r e l i g io s a s , p o i s a bu s c a p a r a o e n t e nd i m e nt o d a n a t u r e z a n ã o é m a i s
b a s e a d a e m e n s i n a m e nt o s c o n t id o s e m l i v r o s s a g r a d o s , m a s s i m n a
n o va c i ê n c i a q u e c o m e ç a a s e e s t a b e l e c e r e a c r e s c e r d e fo r m a
d i n â m i c a n o c o n t e x t o mu n d i a l . J u nt o , a c r it i c a à I g r e j a C a t ó l i c a
q u e a i n d a r e s i s t e n a a c e it a ç ã o d a s no v a s d e s c o b e r t a s .
O D e u s d o a m a n h ã , nã o t e r á f u n ç ã o d e e xp l i c a r a n a t u r e z a o u
o mu n d o , p o i s i s t o s e r á f e i t o à c a r g o d a c i ê n c i a . O D e u s d o fu t u r o é
147
148
O Delta, Ano III, outubro/1918. No.4, p. 84.
O Delta, Ano V, janeiro/1921. Nº 07, p. 166
88
a p r ó p r ia e x i s t ê n c i a c ó s m i c a , o i n f i n i t o , s e r á s e m p r e a q u i lo q u e o
h o m e m n ã o p o d e r á e x p l i c a r a t r a v é s d a c i ê n c i a . D i z q u e o ho m e m n o
f u t u r o n ã o p r e c i s a r á s e s u b m e t e r a i d o l a t r a r í d o lo s e i m a g e n s ,
m u it o me no s f a z e r s a c r i f í c io s d e s p r o v i d o s d e s e n t id o .
A p ó s r e t r a t a r c o mo s e r á o D e u s d o f u t u r o , a ú lt i m a p a r t e d o
a r t ig o
não
poupa-se
p a l a vr a s
para
atacar
o
c le r o
cat ó lico .
A c u s a n d o - o s d e h i p ó c r it a s , d i z q u e o s mo s t e i r o s n ã o p a s s a m d e u m
a n t r o lo t a d o d e b a n d i d o s , q u e na c a l a d a d a no it e a t e n t a m c o nt r a a
h o nr a a l h e i a , r e s u lt a d o d e u m c e l i b a t o i r r a c io n a l .
P o d e mo s d i z e r q u e o d i s c u r s o c i e nt i f i c i s t a d o jo r n a l p o d e s e r
d iv ido e m du as fa c es: a pr ime ira, a preo cupa ção de t razer ao s
l e it o r e s i n fo r m a ç õ e s d o m u n d o c i e nt i f i c o , m e s m o s e n d o n o t í c i a s
q u e mo s t r a m- s e a b s u r d a s a o s d i a s d e h o j e , e l a s r e t r a t a m o c o n t e xt o
d a s no va s d e s c o b e r t a s e a s p i r a ç õ e s d o ho me m. A o u t r a é q u e
d i s c u t e c o n c e it o s q u e e n vo l v a m f é e r a c io n a l i s mo , a c r e d it a n d o q u e
so me nt e a c iê nc ia ser á a libe rt ado ra dos ho me ns.
N a s e nt r e l i n h a s d o e s t a nd a r t e c i e nt í f i c o d a m a ç o na r i a , e s t á a
f e r r e n ha c r ít i c a à I g r e j a C a t ó l i c a , o n d e o at a q u e n ã o s e d i r i g e p a r a
o c a t o l i c i s mo e m s i , m a s a o c l e r o c a t ó l i c o , q u e na v i s ã o m a ç ô n i c a é
retrógrado
e s e m p r e c o nt r a o
n o vo , c o n s i d e r a n d o
cu lp ado do atraso da so c ied ade e do s ho me ns.
o
pr inc ipa l
89
4.2
O Delta e a e lei ção p re siden cia l d e 19 22
A Maçonar ia, pois, qua ndo r es olve t omar par te
activa em u ma acçã o p olít ica qualqu er , nã o o
faz absoluta ment e com u m car acter par tidar io,
mas u nica ment e p or ju lgar qu e assim é
necessár io par a o pr ogr ess o social em jogo. 149
D’O Delta, Agost o de 1921 da EV
A e l e i ç ã o p r e s i d e n c i a l p a r a a e s c o l h a d o s u c e s s o r d e E p it á c i o
P e s s o a fo i m a r c a d a p e l a t e nt a t i v a d a r u p t u r a d a c ha m a d a p o l ít i c a
c a f é - c o m- l e it e . N o i n í c io d e 1 9 2 1 , o s e s t a d o s d e S ã o P a u lo e d e
Mina s G era is
l a n ç a r a m c o mo
c a nd i d a t o
o
go vernado r
mine iro
Ar t h u r B e r n a r d e s .
D e nu n c i a n d o o c o nc ha vo e n t r e S ã o P a u lo e M i n a s G e r a i s , o
R io G r a nd e d o S u l a t r a v é s d o g o ve r n a d o r B o r g e s d e M e d e ir o s
a p r e s e n t o u a p r á t ic a d o s d o i s e s t a d o s p a r a a s s e g u r a r v a lo r d o c a f é
e n q u a n t o o p a í s a n s i a v a p o r e q u i l í b r io n a s f i n a n ç a s . Ao R io G r a n d e
do
S u l,
a lia ra m- se
os
Estados
da
Ba h ia,
R io
de
J a ne iro ,
P e r n a m b u c o e B a h i a , fo r m a n d o a R e a ç ã o R e p u b l i c a na e l a n ç a nd o
c o mo c a nd i d a t o o m a ç o m N i lo P e ç a n h a .
Ar t hu r
B e r na r d e s
era
a bert a me nt e
a p o ia d o
pe la
Igreja
C a t ó l i c a , q u e a t r a v é s d a i m p r e n s a e d e s e u s p ú l p it o s , p r e s t a v a fo r t e
a p o io
ao
c a nd i d a t o
nã o
so me nt e
co m
pro pa ga nd a,
ma s
no s
c o n s e l h o s a o s f i é i s e l a n ç a nd o a t a q u e s a o o p o s it o r N i lo P e ç a n h a ,
v i s t o q u e e s t e e r a m a ç o m e c o n s i d e r a d o u m a nt i c l e r i c a l .
A m a ç o na r i a s e m p r e d e c l a r o u - s e a p o l ít i c a , n ã o e x i g i n d o d e
seus
me mbro s
ser em
lig ado s
à
a lg u m
part ido
ou
co r r e nt e
i d e o ló g i c a . M e s mo a s s i m , nã o a c r e d it a mo s na a p o l it i c i d a d e d a
i n s t i t u i ç ã o , p o i s a s m a ç o n a r i a s l a t i no - a m e r i c a n a s t o ma r a m f e i ç õ e s
149
O Delta, Ano IV, Agosto e Setembro/1921. Nº 02 e 03, p. 82.
90
p o l ít i c a s e r e v o l u c i o ná r i a s , s e nd o c o n he c i d a a s u a a t u a ç ã o e m
mo m e n t o s p o l ít i c o s i m p o r t a nt e s no p a í s , c o mo a I nd e p e n d ê n c i a d o
B r a s i l , a Q u e s t ã o R e l i g io s a d e 1 8 7 3 o u a i n d a a a bo l i ç ã o d a
escravatura em 1888.
O p r ó p r io G r a nd e O r i e n t e d o R io G r a nd e d o S u l d e n u n c i a a
l i g a ç ã o e a p r e o c u p a ç ã o c o m a p o l ít i c a p e l a i n s t it u i ç ã o , j á q u e a
s u a f u n d a ç ã o e s t á l i g a d a e m u m mo m e nt o p o l ít i c o t u r b u l e n t o n a
h i s t ó r i a g a ú c h a , a R e vo l u ç ã o F e d e r a l i s t a .
M a s a a ç ã o ma ç ô n i c a na p o l ít i c a br a s i l e ir a é c o n h e c i d a n a
hist ó r ia pe la s ua d is cr iç ão na at uaç ão e pe la t e nt at iva de u ma aç ão
apart idár ia.
A
ju st ific at iva d ada
pe la
i n s t it u i ç ã o
so bre
a
sua
a t u a ç ã o p o l ít i c a é v i s a n d o o b e m d o p o v o e d a n a ç ã o , nã o t e n d o
c o mo i nt e r e s s e i d e o lo g i a s p a r t i d á r i a s s e c t á r i a s .
A s s i m , a c a m p a n h a i n i c i a d a e m 1 9 2 1 c a u s o u fu r o r d e n t r o d o s
t e mp lo s m a ç ô n i c o s n ã o s ó e m s o lo g a ú c h o , m a s n a g r a n d e m a io r i a
d a s p o t ê nc i a s n a c io na i s . O c o m b a t e a o c l e r o e a d e f e s a d e u m
e s t a d o l e i g o , i n s t it u í d o p e lo a d v e nt o d a r e p ú b l i c a q u e n a p r á t i c a
a ind a
estava
preso
à
Igre ja
C at ó lica,
fiz er a m
as
M aço nar ia s
a p o i a r e m a b e r t a m e nt e o c a nd i d a t o N i l o P e ç a n h a .
E m j u n ho d e 1 9 2 1 , O D e l t a p u b l i c a u m a p á g i n a c o m u m a fo t o
d o I r ∴ N i lo P e ç a n h a e u m a b r e v e b i o g r a f i a s a l i e n t a n d o a s u a
educação
repu blic a na
e
libe ra l
e
suas
q ua lid ad e s
c o mo
a d m i n i s t r a d o r . Ap r o ve i t a o mo m e nt o a i n d a p a r a j u s t i f i c a r o a p o i o
a o c a n d i d a t o fa c e à i n s t it u i ç ã o s e r a p o l ít i c a :
A Maçonar ia, emb or a nã o s e envolva em lutas d e
car acter par tidár io e indif f er ent e ao cr edo p olit ico d e
cada u m de s eus membr os, é u ma institu ição qu e ex ige
de t odos os qu e p enetr a m em s eu s eio o mais pur o
patr iot is mo. 150
150
O Delta, Ano V, junho/1921. Nº 12, p. 274
91
A s s i m , s e m s e a f a s t a r d a o r i e nt a ç ã o q u e s e m p r e a d o p t o u
a t r a v é s d e t o d o o s e u g lo r io s o p a s s a d o e i n s p ir a d a u n i c a m e nt e no
d e s e jo d e be m s e r v i r á P á t r ia , t e n d o e m c o n s i d e r a ç ã o o s mé r i t o s e o
g r a n d e va l o r d o i l l u s t r e c a n d i d a t o D r . N i lo P e ç a n h a , c o ng r a t u l a - s e
c o m a N a ç ã o p o r t ão a c e r t a d a e s c o l h a .
N e s t e a r t i g o , u ma e s p é c i e d e l a n ç a m e n t o d o no me d e P e ç a n h a
à p r e s i d ê n c i a , n ã o é j u s t i f i c a d o o p o r q u ê d o a p o io d o c a n d i d a t o e
n e m m e s mo é c it a d o a s u a c o nd i ç ã o d e m a ç o m. N a s p á g i n a s
s e g u i nt e s
do
rea liz ad a
p e lo
mesmo
p e r ió d i c o ,
j o r na l
cat ó lico
é
repro duz ida
A
U nião
u ma
e nt r e v i s t a
co nced id a
p e lo s
c a n d i d a t o s à p r e s i d ê n c i a s o b o t ít u lo d e “O s d o i s c a n d i d a t o s ” .
do is
151
C o me ç a n d o p e lo c a n d i d a t o Ar t hu r B e r n a r d e s , e l e d e i x a c l a r o
q u e fo r a e d u c a d o na r e l i g i ã o c a t ó l i c a e q u e , c o mo ho m e m d e
g o v e r n o , c o n h e c e a i n f l u ê n c i a b e n é f i c a d a I g r e j a , e a i m p o r t â nc i a
d a fo r m a ç ã o mo r a l d o p o vo e d a e d u c a ç ã o d a i n f â n c i a b r a s i l e ir a ,
a t r a v é s d o c l e r o . Q u a nd o q u e s t io n a d o s o b r e o e ns i no r e l i g io s o na s
e s c o la s
p ú blic a s,
mo s t r a - s e
à
fav o r
p o is
não
há
nada
de
i n c o n s t it u c io n a l d e s d e q u e e x i g i d a p e lo s p a i s e m i n i s t r a d a s na s
h o r a s nã o d e s t i n a d a s a o e n s i no e s c o l a r .
D e f e n d e q u e a I g r e j a t e m s i d o u m a g r a nd e c o l a bo r a d o r a d o s
g o v e r n o s e q u e o E s t a d o e m bo r a e m r e g i m e d e s e p a r a ç ã o nã o
d e s c o n h e c e a I g r e j a c o mo i n s t it u i ç ã o e c o mo u ma g r a nd e p o t ê n c i a
mo r a l . Q u e s t io n a d o s e p a r a a q u e s t ã o s o c i a l e l e p r e f e r i a a s o l u ç ã o
a n a r q u i s t a e s o c i a l i s t a o u a s o lu ç ã o c r i s t ã r e s p o nd e : “ – O h ! N ã o h á
m e no r d u v i d a : a c h r i s t ã . ” 152
Ber nardes
mo v i m e nt o
c o lo c a ç ã o
ainda
cat ó lico
no
d iz
que
pa ís,
e
aco mpa nha
é
agrac iado
co m
s impat ia
p e lo
jo r n a l
o
pela
d e c r u c i f i xo s n a s e s c o l a s m i n e i r a s , q u e s e g u n d o o
c a n d i d a t o é u ma ho m e n a g e m a o s d e vo t o s c a t ó l i c o s q u e s ã o m a io r i a
151
152
O Delta, Ano V, junho/1921. Nº 12, p. 279
O Delta, Ano V, junho/1921. Nº 12, p. 280.
92
naqu e la s e sco la s.
E
se o
c a nd i d a t o
era
filia do
à M aço nar ia ,
r e s p o n d e : “ – N ã o s o u m a ç o n ; nu n c a m e f i l i e i á m a ç o n a r i a ” . 153
A e n t r e v i s t a f e it a à N i lo P e ç a n h a c o m e ç a q u e s t io n a n d o a
p o s i ç ã o q u a nt o a i m i g r a ç ã o d e j a p o n e s e s e c h i n e s e s p e l o l a d o
ét nico ,
r e l i g io s o
e
s o c i a l,
d e c l a r a nd o
que
o
pa ís
n e c e s s it a
u r g e n t e m e nt e d e h o m e n s t r a b a l h a d o r e s , d e v i d o a o i nt e r i o r d o B r a s i l
s e r u m g r a nd e d e s e r t o , ma s q u e vê a i m i g r a ç ã o d o s p o vo s a m a r e lo s
co m cert a s rest r içõ es.
Q u a n d o q u e s t io n a d o s o br e o e s p i r it i s mo , d i z q u e o g o ve r no
n ã o p o d e p e r s e g u i r c r e n ç a s f i lo s ó f i c a s o u r e l i g io s a s , s e n d o a
l i b e r d a d e d e c u lt o i n s t it u í d a p o r l e i . Q u a n t o o e n s i n o r e l i g io s o na s
e s c o la s , r e s p o n d e :
Sou u m lib er al, qu e nã o t em medo da lib er da de. A minha
polít ica é a da C onstitu ição. Ella nã o é ór gã o de
nenhu ma cr ença r evela da, mas não imp ede q u e a r eligiã o
s eja u ma necessida de fu nda mental da consciência
hu ma na. Qu er o qu e a lib er da de illu mine a todos os
espír it os e p or iss o nada de p eias ou const r angiment os
dentr o da Const ituiçã o da R epúb lica. 154
A p o s i ç ã o d e u m p o l í t i c o l i b e r a l é d e mo n s t r a d a n a m e s m a
p e r g u n t a f e it o a o o po s it o r , s e p r e f e r i a a s o l u ç ã o s o c i a l i s t a o u a
s o lu ç ã o c hr i s t ã , r e s p o nd e : “ S ó s e d a r á a p a z n o m u n d o q u a n d o na s
n o s s a s c o ns c i ê n c i a s , n a s no s s a s f a b r i c a s , n a s n o s s a s u s i n a s , n o s
n o s s o s c a m p o s , f i z e r mo s h a r mo n i a d o c a p it a l e d o t r a b a l h o . 155
N i lo P e ç a n h a a i n d a d e i x a c l a r o
qu e é cat ó lico , qu e na
s e p a r a ç ã o e nt r e I g r e j a e E s t a d o o c a t o l i c i s mo n a d a p e r d e u , m a s
c o mo p r e s i d e n t e , t e r á q u e r e s p e i t a r a C o ns t it u i ç ã o , d a n d o a m p l a
t o le r â n c i a e l i b e r d a d e a t o d a s r e l i g iõ e s e s e it a s .
153
O Delta, Ano V, junho/1921. Nº 12, p. 280.
O Delta, Ano V, junho/1921. Nº 12, p. 281.
155
O Delta, Ano V, junho/1921. Nº 12, p. 282.
154
93
N a e d i ç ã o b i m e s t r a l r e f e r e nt e a a g o s t o e s e t e m b r o , o a r t ig o
“ C a n d i d a t u r a s P r e s i d e n c i a e s ” r e p r o d u z a s c r ít i c a s d o p e n s a d o r
c a t ó l i c o J a c k s o n d e F i g u e ir e d o a o c a n d i d a t o N i lo P e ç a n h a s o br e a
e n t r e v i s t a c o n c e d i d a a o J o r na l “ A U n i ã o ” . F a l a q u e o c a nd i d a t o nã o
c o n s e g u i u d i s f a r ç a r o s e u s e c t a r i s m o a nt i- c a t ó l i c o a t r a v é s d e s u a s
“ p hr a s e s d ú b i a s e i n s i n c e r a s , c o m q u e o c a nd i d a t o d is s i d e nt e q u i s
a c e n d e r u m a v e l a a D e u s e o u t r a a o d ia b o ” . 156
Fa z a inda
u ma a mp la
at ravés d e su as co nvic çõ es
defesa
de
cat ó lic a s,
Art hur
Ber nardes,
po is
é u m d e mo c r a t a q u e é
s i m p á t ic o à l i b e r d a d e r e l i g io s a , p o i s i n t e r e s s a a o s “ c a t ho l i c o s q u e
na pr es idê nc ia d a Repu b lic a est e ja
q u e m r e s p e it e o s d i r e it o s
r e l i g io s o s e s a i b a p r e s t a r à I g r e j a o p r e s t íg io a q u e e l l a t e m
d ir e it o . ” E vo lt a a c r it i c a r N i lo P e ç a n h a , d i z e n d o q u e o c a nd i d a t o é
s e c t á r io p o is é “ l i g a d o p o r c o mp r o m i s s o q u e o o br i g a m a ho s t i l i z a r
s e m p r e q u e l h e f o r p o s s í v e l o c a t ho l i c i s mo , o c a nd i d a t o d i s s i d e nt e
é , e n ã o p o d e d e i x a r d e s e r , u m i n i m i g o d a r e l i g i ã o na c io n a l . ” 157,
d a nd o a e nt e n d e r a l i g a ç ã o d o c a nd i d a t o c o m a o r d e m m a ç ô n i c a .
O D e l t a , p e d e a t o d o s o s ma ç o n s q u e m a nt e n h a m - s e a l e r t a s
s o br e a s u c e s s ã o p r e s i d e nc i a l p o i s o r o m a n i s mo e s t a v a d e t o d a s a s
fo r m a s h o s t i l i z a nd o N i l o P e ç a n h a , e p e d e a p o io e s o l i d a r i e d a d e a o
c a n d i d a t o , v ít i m a d e a c u s a ç õ e s n e f a s t a s e i r r e a i s . D i z , q u e nã o é
u m a q u e s t ã o d e p a r t i d a r i s mo , m a s s e o c a nd i d a t o Ar t hu r B e r n a r d e s
a s s u m i r a p r e s i d ê n c i a o j e s u it i s m o t r iu n f a r á e s t e nd e nd o “s o br e
n o s s a P á t r ia o ma n t o ne g r o d e t o d a s a s p e r f í d i a s ” . 158 A l e r t a q u e s e
n a R e p ú b l i c a t o d a s a s r e l i g iõ e s e s e it a s s e i g u a l a r a m e , s e o
c a n d i d a t o c a t ó l i c o v e nc e r , a s s a c r i s t i a s e c o n f e s s io n á r io s i r ã o
e s m a g a r a l i b e r d a d e d e p e n s a m e nt o .
Mas
é
Rep u blic a na
na
é
ed iç ão
s e g u i nt e
id e nt ific ado
c o mo
que
o
m a ç o m,
ca nd id at o
em
um
da
Reação
a r t ig o
que
d e nu n c i a a l u t a a b e r t a d o c l e r o c a t ó l i c o a o c a nd i d a t o m a ç o m. T r a z
156
O Delta, Ano VI, agosto e setembro/1921. Nº 02 e 03, p. 79
O Delta, Ano VI, agosto e setembro/1921. Nº 02 e 03, p. 79
158
O Delta, Ano VI, agosto e setembro/1921. Nº 02 e 03, p. 80
157
94
t r e c ho s d e n o t í c i a s s o br e o s a t a q u e s a o c a n d i d a t o r e c o l h i d o s e m
jo r n a i s d e t o d o o p a í s , c o mo d o jo r n a l O D i a d o R J , q u e r e v e l a o
a p o io d o Ar c e b i s p o d a B a h i a a o c a n d i d a t o Ar t h u r B e r na r d e s e o
p e d i d o q u e s u f r a g u e m n a s u r n a s o no m e d e N i lo P e ç a n h a . 159
Ainda
re lat a
que
em
sessão
c o me mo r a t i v a a o
d ia
7
de
S e t e m br o , a L o j a R io B r a n c o 3 ª f e z u m a h o m e n a g e m a o c a nd i d a t o
N i lo P e ç a n h a , d e m o n s t r a n d o fr a n c o a p o io a s u a c a n d i d a t u r a e
r e p u l s a à p e r s e g u i ç ã o p r o fe r i d a p e l o c l e r o c a t ó l i c o .
O a n o d e 1 9 2 2 c o m e ç a c o m u m a m u d a n ç a n ít i d a n a p o s t u r a d a
r e v i s t a q u a n t o à s e l e i ç õ e s . N o s a r t ig o s a nt e r io r e s , a p r e o c u p a ç ã o
e r a d e d e f e n d e r o I r ∴ N i lo P e ç a n h a d o a t a q u e c a t ó l i c o e d e n u n c i a r
o a p o io d a d o p e l o c l e r o a o c a n d i d a t o o p o s ic io n i s t a . O D e l t a a g o r a
p r e o c u p a - s e e m a t a c a r f r o nt a l m e nt e o c a n d i d a t o o po s it o r :
O snr . Ber nar des ju lga qu e s e agar r ando ás batinas dos
clér igos e s e ajoelha ndo hyp ocr ita ment e atr az das
sacr istias ga lgar á as esca das do Cattet e. 160
T e r m i n a o a r t ig o i n c it a n d o q u e o s m a ç o n s d ê e m a m p lo a p o io
à N i lo P e ç a n h a , c a nd i d a t o d e g r a n d e v a lo r mo r a l e d e e s p ír it o c u lt o
e l i b e r a l, a o c o nt r á r io d o r e t r ó g r a d o e c l e r i c a l a d v e r s á r io . N a s
p á g i n a s s e g u i n t e s , é t r a ns c r it o u m d i s c u r s o p r o fe r i d o e m L o j a 161,
o nd e o o r a d o r d i s c o r r e s o br e a s i t u a ç ã o d o p a í s e a n e c e s s i d a d e d o
a p o io a P e ç a n h a p a r a a i nt e g r i d a d e d a n a ç ã o b r a s i l e i r a . C o m
p a l a v r a s á c i d a s e ir ô n i c a s , d i z q u e o c a n d i d a t o B e r na r d e s “t e m e m
s e u d e r r e d o r t u d o q u a nt o há d e p e q u e n o , d e v i l , d e i n t e r e s s e i r o e m
n o s s a c o l l e c t i v i d a d e ” , e q u e s e e nt r e g o u d e p é s e m ã o s a t a d a s a o
159
O Delta, Ano VI, outubro/1921. Nº 04, p. 100
O Delta, Ano VI, janeiro/1922. Nº 07, p. 159.
161
O Delta, Ano VI, janeiro/1922. Nº 07, p. 167 – Discurso Pronunciado pelo Ir∴ João Nunes Ferreira na
Aug∴ Loj∴ Philantropia e Progresso Itaquiense, em sessão de 16 de Dezembro de 1921 e mandado
publicar pela referida Loja.
160
95
c l e r i c a l i s mo , e a s u a v it ó r i a s e r i a a mo r t e d o br io e d a h o nr a
br as ile ira, e a lert a ao s ir mão s p ara não ceder e m d iz e ndo :
Qu em votar em N ilo P eça nha incor r e em excomu nhã o
ma ior , p elo s imp les fat o do illustr e var ão s er maçon.
Muit os individu os já s ent em fr aqu ejar suas convicções
polít icas, s eus des ejos p ess oa es, par a qu e s o int er ess es
da egr eja catholica s eja m ass egur ados 162.
Na
sessão
de st inada
ao
reg ist ro
de
a c o n t e c i m e nt o s
do
G O R G S , é o f e r e c i d o u m br i n d e e m ho m e n a g e m à N i l o P e ç a n h a e m
u m b a n q u e t e p r o mo v i d o p e l a L o j a F i d e l i d a d e e F i r m e z a . A i n d a
j u s t i f i c a q u e o d a n d o a p o io a o c a n d i d a t o nã o s e e s t á fa z e n d o
p o l ít i c a ,
u nic a me nt e
está
cu mpr indo
o
seu
dever
c o mo
c a nd i d a t o
Ar t h u r
i n s t i t u i ç ã o . 163
No
p le i t o
que
ocorrera
em
Mar ço,
o
B e r n a r d e s s a i u v it o r io s o , a l c a n ç a n d o 4 6 6 m i l vo t o s c o nt r a o s 3 7 7
mil
f e it o s
por
N i lo
Peçanha,
para
a
decepção
da
M a ç o na r i a
b r a s i l e i r a . O D e l t a na d a d e c l a r a s o br e a v it ó r i a d e B e r na r d e s ,
s o m e n t e p u b l i c a e m a br i l a r e p r o d u ç ã o d e u m a c a r t a i n t it u l a d a
“P a l a v r a s d i r i g i d a s a o p o vo d o E s t a d o d e S ã o P a u lo p e lo e m i n e n t e
e s t a d i s t a P o d ∴ I r ∴ D r . N i l o P e ç a n h a ” , q u e t e m c o mo p r i m e i r a
f r a s e : “ – A g u e r r a nã o f i c o u no u lt i mo t ir o d e c a n h ã o ” . 164
C o mo u m ú lt i mo s u s p i r o d o c a nd i d a t o d e r r o t a d o , d e c l a r a - s e
u m i n t r a n s i g e n t e a m i g o d o d i r e it o e d a p r o p r i e d a d e , e d e c l a r a - s e
s o l i d á r io e p r e o c u p a d o c o m a c l a s s e o p e r á r i a br a s i l e i r a . C o m u m
t e x t o m a r c a d o d e a l e g o r ia s , n ã o p r o p õ e m n a d a c o n c r e t a m e n t e ,
ape na s fa z u ma r e fle xão su per fic ia l d a nece ssid ade de a mp arar o s
fraco s.
162
O Delta, Ano VI, janeiro/1922. Nº 07, p. 167
O Delta, Ano VI, janeiro/1922. Nº 07, p. 176.
164
O Delta, Ano VI, abril/1922. Nº 10, p. 242.
163
96
O a p o io d a d o à P e ç a n h a p e l a s m a ç o na r i a s b r a s i l e ir a s é o
r e f l e xo
do
e fet iva me nt e
c o n f l it o
c le r ic a l q ue
ac irra do .
Pe la
na
busca
década
de
de
espaço
1920
de
a ind a
atuação
é
na
s o c i e d a d e br a s i l e i r a , o a p o io ma ç ô n i c o a o c a nd i d a t o N i lo P e ç a n h a é
r e f l e xo d o m e d o d e u m a p o s s í v e l h e g e mo n i a c a t ó l i c a no g o ve r no
f e d e r a l , j á q u e n o R io G r a n d e d o S u l, e s s e p e r ío d o é m a r c a d o p e l a
l e n t a d e c a d ê n c i a d a i n f l u ê n c i a d o G r a n d e O r i e nt e d o R io G r a nd e d o
S u l n o e s t a d o e d a c r e s c e nt e a s c e n d e nc i a c a t ó l i c a no g o ve r no
Bo rges d e Me de iro s at ra vé s d e D. Jo ão Beck er.
C o mo
um
ep isó d io
e squ ec ido ,
o
Delta
nad a re flet e
aos
l e it o r e s s o b r e a p e r d a d a s e l e i ç õ e s d o c a n d i d a t o a p o i a d o , o no me d e
N i lo P e ç a n h a s o m e nt e i r á a p a r e c e r e m s u a s p á g i n a s n a ho me n a g e m
e m c o n s e q ü ê n c i a d e s u a m o r t e e m 1 9 2 4 165, c o m u m a va s t a b i o g r a f i a
t raça ndo a v ida int e le ct ua l, po lít ic a e ma çô nic a do est ad ist a,
r e l a t a n d o q u e n a e l e i ç ã o d e 1 9 2 2 s o f r e r a u m a t e r r í v e l e v ir u l e nt a
o p o s iç ã o p e l o c l e r o c a t ó l i c o .
165
O Delta, Ano VIII, abril/1924. Nº 10, pág. 189.
5 . C O N SI D E R A Ç Õ E S F I N A I S
C o mo
f a l a mo s
no
i n í c io
deste
t r a b a l ho ,
um
v e í c u lo
de
i m p r e n s a é a v o z d e u m t e m p o e d e s e u a mo . E s t a fr a s e c a b e m u it o
b e m p a r a r e p r e s e n t a r o q u e O D e l t a d e s e m p e n h o u c o mo ó r g ã o
o f i c i a l d o G r a n d e O r i e n t e d o R io G r a nd e d o S u l. At r a v é s d e s u a s
p á g i n a s , p o d e mo s v i v e n c i a r nã o s o m e n t e o id e á r io m a ç ô n i c o e m s i ,
m a s a t a m b é m v i s ã o d a M a ç o na r i a g a ú c h a s o br e o m u n d o e s u a s
t r a ns f o r m a ç õ e s .
S u a a t u a ç ã o n ã o fo i s o m e nt e c o mo ó r g ã o i n fo r m a t i v o , m a s
p r i n c i p a l m e nt e c o mo vo z d a i n s t it u i ç ã o , t e n d o c o mo a l v o l e it o r e s
n ã o s o me nt e v i n c u l a d o s à m a ç o na r i a g a ú c h a , m a s t a m b é m p r o f a no s ,
c ir c u l a n d o p e lo p a í s e p e l o e xt e r io r , p r e o c u p a ç ã o v i s í v e l d a d i r e ç ã o
e m e s p a l h a r o i n fo r m a t i vo p e lo m u n d o .
A r e v i s t a m e n s a l t r o u x e e s t a m p a d a e m s u a s p á g i n a s d u r a nt e
o s o nz e a no s d e s u a e x i s t ê n c i a n ã o s o m e nt e a s d e l i b e r a ç õ e s d a
d ir e t o r i a d o G O R G S q u a nt o à s q u e s t õ e s i nt e r n a s d a o r d e m , m a s
t a m bé m s u a r e l a ç ã o e o a p o io a o u t r a o be d i ê n c i a s n a c io n a i s e
i n t e r n a c io n a i s .
E m c o l u na s s o br e a h i s t ó r i a d a i n s t it u i ç ã o , e n c o nt r a mo s
s e m p r e u m d i s c u r s o a lt r u í s t a , o nd e é e x a lt a d o o va lo r d a o r d e m
p a r a a s o c i e d a d e , s e u s f e i t o s e s u a v e r d a d e , na t e nt a t i v a d e
98
p e r p e t u a r e c o n s o l i d a r s u a e x i s t ê nc i a , a g r a nd e p a r t e d a s m a t é r i a s
e r a m e q u i vo c a d a s e f a nt a s io s a s , a o r e l a c io n a r a s u a t r a j e t ó r ia c o m
l e n d a s d e e s s ê n io s , At l â nt i d a o u m e s mo J e s u s C r i s t o . A s p o u c a s
mat ér ia s
r e lat iva s
a
sua
atuação
no
Brasil,
eram
g e r a l m e nt e
r e l a c i o n a d a s à i n d e p e nd ê nc i a e à a bo l i ç ã o d a e s c r a v a t u r a , m u it a s
vezes
r e p e t id a s
sob
a
t e nt a t i v a
de
fazer
de
sua
ima ge m
a
l i b e r t a d o r a d o p o vo .
A s no t íc i a s d a c a m p a n h a p r e s i d e nc i a l d e 1 9 2 2 , c o n s e g u i mo s
d e mo n s t r a r q u e a a p o l it i c i d a d e d a i n s t it u i ç ã o f i c a s o m e n t e no s e u
d i s c u r s o , v i s t o o a mp lo a p o io d o G r a n d e O r i e n t e d o R io G r a nd e d o
S u l a o c a n d i d a t o N i l o P e ç a n h a , s o b a a l e g a ç ã o d e o o p o s it o r
m i n e i r o Ar t h u r B e r na r d e s e s t a r r e c e b e n d o a m p lo a p o io d a I g r e j a
C a t ó l i c a . A s s i m , a m a ç o n a r i a g a ú c h a , n ã o é d i f e r e nt e d o f e nô m e no
d a s m a ç o n a r i a s l a t i n a s , o n d e a s u a a p o l it i c i d a d e v a i a t é o nd e fo r
co nsider ada nec essár ia.
O d e b a t e e d u c a c i o na l t e v e a m p l o e s p a ç o n a s p á g i n a s d a
r e v i s t a , a p r e s e nt a n d o - s e d e m a n e i r a s d i v e r s a s , d e s d e d i s c u s s õ e s
s o br e a u r g ê n c i a d o e n s i no l e i g o , a f a l h a t e n t a t i v a n a o r g a n i z a ç ã o
de u ma co missão
p r ó - e ns i no
la ico ,
e n e c e s s i d a d e g r it a n t e d a
i n s t i t u i ç ã o d a e d u c a ç ã o o br i g a t ó r i a .
Fo i
po ssíve l
a c o mp a n ha r
pe lo
p e r i ó d ic o
o
insu ce sso
na
t r a je t ó r i a d a s e s c o l a s f u nd a d a s p o r lo j a s m a ç ô n i c a s e p e lo G r a n d e
O r i e n t e d o R io G r a n d e d o S u l, e m c o n t r a p o nt o à i n v e s t i d a c a t ó l i c a
n a e d u c a ç ã o d o R io G r a n d e d o S u l , q u e c o n s e g u i u s e c o n s o l i d a r e
p e r p e t u a r . As e s c o la s m a ç ô n i c a s e x a lt a d a s n a s p á g i n a s d o O D e l t a ,
f i n d a v a m s u a e x i s t ê nc i a g e r a l m e n t e p o r q u e s t õ e s f i n a n c e ir a s , s e n d o
p o u c a s q u e t i v e r a m s u c e s s o e lo ng o t e m p o d e v i d a .
O d e b a t e s o br e o r a c io na l i s mo e a c i ê n c i a t a m b é m f o r a m
h o nr a d o s e m v á r i a s e d i ç õ e s d a r e v i s t a . A c i ê n c i a e r a v i s t a c o mo o
D e u s d o fu t u r o , e q u e a t r a v é s d o d e s e n v o l v i m e nt o d e l a é q u e o
h o m e m e x p l i c a r á o mu n d o à s u a v o lt a , r o m p e n d o c o m m i t o s e
c o nc e p ç õ e s
r e l i g io s a s .
As
N o t íc i a s
re lat iva s
à
c iê nc ia
era m
99
gera lme nt e
aco mpa nha s
co m
alfinetadas
à
Igr e ja
C at ó lic a,
mo s t r a n d o e s t a c o mo i n i m i g a d a c i ê n c i a e d o p r o g r e s s o .
C o m a p e r d a d o e s p a ç o p a r a a I g r e j a C a t ó l i c a n o i n i c io d o
s é c u lo X X , O D e l t a t o r no u - s e a o m e s mo t e m p o p o r t a - v o z e a r m a
para o
ataque
ao
u lt r a mo nt a n i s mo .
Nas
pr ime ir as
e d içõ e s d a
r e v i s t a , a c r ít i c a a p a r e c e s i n g e l a m e nt e n a s e nt r e l i n h a s , m a s c o m o
p a s s a r d o s a n o s e l a t o r na - s e p e s a d a , a g r e s s i v a e c o nt í n u a , c h e g a nd o
a s u lt i m a s e d i ç õ e s t e r e m q u a s e na t o t a l i d a d e d e s u a s p a g i n a s
c r it i c a s a o c l e r o c a t ó l i c o .
A c r e d it a mo s q u e O D e l t a t r o u x e va lo r e s a f r e nt e d e s e u
t e mp o ,
p r o p ic i a d o
nã o
só
pe la
id e o lo g i a
maçô nic a,
ma s
p r i n c i p a l m e nt e p e lo e nt r a ve e nt r e a M a ç o n a r i a e a I g r e j a C a t ó l i c a ,
t raze ndo e m s ua s pág ina s re iv ind ic aç õ es para a so c ie dad e gaú c ha
c o mo l i b e r d a d e r e l i g io s a , a b u s c a d o e nt e n d i m e n t o d o mu n d o
a t r a v é s d a c i ê n c i a e d o r a c io n a l i s m o , e a p r e o c u p a ç ã o c o m a
ig ua ld ad e
proposta
pe la
C o ns t it u i ç ã o ,
a n s e io
a ind a
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