A RELAÇÃO ORIENTANDO-ORIENTADOR E A MEDIAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO COM BASE NA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL Marlene Gonçalves Curty1, Sonia Mari Shima Barroco2 1 Mestre em Ciência da Informação (PUCCAMP), Pós Graduação em Psicologia - Teoria Histórico Cultural, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, 2 Pós-Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (USP), Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR RESUMO A pesquisa teve como objetivo identificar, e compreender aspectos da relação orientadororientando e suas influências no processo de produção do conhecimento e avaliar as contribuições do bibliotecário junto ao processo de produção do conhecimento em nível de pósgraduação no Mestrado de Educação. A coleta de dados foi feita por meio de questionários semi-estruturado, com perguntas abertas e fechadas. Os questionários foram aplicados em orientadores e orientandos de Pós-Graduação em Educação na Universidade Estadual de Maringá. A escolha dos orientadores foi norteada pelos critérios: ser integrante do Programa de Pós em Educação (PPE) e estar orientando dissertações na perspectiva da Teoria Histórica Cultural. Com relação à escolha dos alunos, os critérios foram: ser integrante do PPE e, que já concluíram os créditos, em fase de dissertação e desenvolvimento da pesquisa. Foram pesquisados quatro orientadores e treze orientandos. Para a apresentação dos resultados, foi utilizada uma estatística descritiva por meio de médias percentuais simples. Procurou-se, dentro das possibilidades, conforme a natureza das respostas, agrupá-las no mesmo eixo temático, para realizar uma análise comparativa entre orientadores e orientandos. Como o número de orientadores participantes era pequeno, nas perguntas (abertas) que permitiram descrever a resposta, optou-se pela descrição ipsis litteris das mesmas. Os resultados indicaram que a relação orientador-orientando no programa manifesta-se de forma bastante positiva. Os principais fatores sinalizados por parte dos orientandos para escolha do orientador foram a empatia e motivação do orientador (76,92%) e para os orientadores as condições e prérequisitos considerados cruciais para a seleção de um orientando são a empatia e interesse de pesquisa (75%). Os resultados destacaram ainda a importância do conhecimento específico na área de pesquisa e de metodologia científica para o processo de orientação, bem como que o conhecimento técnico científico e o domínio da teoria na área de pesquisa facilitam a relação 2 analisada. Verificou-se também que os bibliotecários precisam divulgar melhor os produtos e serviços oferecidos pela Biblioteca Central da Universidade Estadual de Maringá. Palavras-chave: Pós-graduação; Relação orientador-orientando; Trabalho acadêmico. ABSTRACT The research aimed to identify and understand some aspects of the relationship between advisors and advisees, its influences in the knowledge production and also to evaluate the contributions of the librarian for this process in postgraduate studies in Master of Education. The data collection was conducted with semi-structured questionnaires, composed by both closed and open questions, which were applied to the advisors and advisees of Graduate Studies in Education at the State University of Maringa. The guiding criteria adopted for the advisors’ selection were: the advisor should belong to the Postgraduate Program in Education (PPE) and supervise dissertations in the Historic Cultural Theory research subject. Regarding the choice of students who took part of the research, the selection criteria were: being a regular student of the Master Program have concluded the subjects and being in the dissertation research and development stage. In this sense, four advisors and thirteen advisees were selected. For the results analysis, it was adopted the descriptive statistic method by percentage. The collected data were clustered by theme, to conduct a comparative analysis between advisors and advisees responses. As the sampling of advisors was small, the open-questions responses were described literally. The results indicated that the relation advisor-advisee of the Master Program is very positive. The main factors that impacts in the advisee decision for choosing an advisor is basically guided by empathy and motivation aspects (76.92%) and the majority of the advisors (75%) affirmed that the conditions for a advisee acceptance is based on research interests and empathy. The results also indicate that the expertise in research and methodology are important factors for this process. It was also observed that the scientific and technical knowledge and the research methodology theories facilitate the supervision relationship. It was also verified that librarians need to better publicize the products and services offered by the Central Library at the State University of Maringá. Keywords: Graduate studies; Relationship advisor-advisee; Academic work. 1 INTRODUÇÃO O interesse por esta pesquisa é consequência de trajetórias pessoais e profissionais. Surgiu a partir de experiências vivenciadas como bibliotecária no setor de 3 pesquisa e orientação na normalização de trabalhos acadêmicos dos alunos que frequentam a Biblioteca Central da Universidade Estadual de Maringá. Após a conclusão do mestrado, a carreira foi iniciada como professora na área de Metodologia da Pesquisa, em diversos cursos de pós-graduação. Assim, houve a oportunidade de vivenciar e compartilhar novas experiências paralelas à formação profissional, às quais contribuíram sobremaneira para a continuidade de alguns projetos na área. Devido à atividade como bibliotecária e profissional ligada à área de pesquisa, há uma partilha com alunos e professores em relação a inúmeras inquietações relativas à dificuldade de coletar dados para o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos. Tal experiência tem suscitado o interesse em conhecer e compreender melhor, sobretudo, as dificuldades dos alunos, inseguros com a rotina que vão enfrentar, o que é uma reação natural, já que o ser humano teme o desconhecido. Esse trabalho diário no atendimento aos acadêmicos exige troca, diálogo e interação entre o bibliotecário que exerce a função de mediação da informação e o aluno como sujeito na instituição em que está inserido. Este, na orientação da pesquisa, é instigado a buscar, a ser ativo no processo de apropriação e objetivação do conhecimento. A interação entre bibliotecários, professores e alunos deve propiciar um ambiente de cooperação e estímulo às atividades de ensino, pesquisa e extensão. Nesse contexto, é importante enfatizar a necessidade de cooperação entre bibliotecários e docentes. A opção por uma pesquisa dessa natureza decorre da importância de se discutir a relação orientando-orientador e a mediação do bibliotecário, além de investigar aspectos que teriam ligação com a produção do conhecimento na área da Educação. O estudo também se justifica por procurar sinalizar a relevância do tema, podendo contribuir para o entendimento, minimização e solução dos problemas de relacionamento entre os sujeitos pesquisados. Justificam ainda este estudo a expansão dos cursos de pós-graduação e o consequente aumento da demanda de orientação, que agregam aos docentes a função de orientadores e aos bibliotecários a responsabilidade de copartícipes e interlocutores permanentes nas diversas fases do processo de desenvolvimento dos trabalhos acadêmicos. O trabalho busca uma aproximação com os pensamentos analíticoconceituais do pesquisador Lev Semyonovitch Vigotsky (1886-1934), que construiu 4 sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico. O autor põe em evidência a importância da investigação científica e do pensamento conceitual, objetivados nos escritos científicos. Ao defender o espírito científico dentro da educação, demonstra Vigotsky o quanto a produção, divulgação e apropriação da ciência não se constituem em atividades neutras e divorciadas da prática social, e, por isso, da própria constituição da consciência. Neste sentido, a escolarização, em seus diferentes níveis, contribui de modo inegável para o próprio desenvolvimento do homem naquilo que é propriamente humano: o pensamento. Considerando o interesse em obter melhor conhecimento da problemática da relação entre orientadores e orientandos nos programas de pós-graduação, dentro das delimitações julgadas adequadas, apresenta-se a questão de pesquisa que se pretende discutir, averiguar e responder por meio desse estudo. Na prática, tem-se observado que a relação entre orientandos e orientadores no trabalho acadêmico é o ponto crítico na realização das atividades de pesquisa científica. Devem-se, portanto, criar meios capazes de possibilitar que tal relação seja a mais proveitosa possível. Diante desse cenário, destaca-se a seguinte pergunta: Quais são os principais aspectos da relação orientador-orientando e da mediação do bibliotecário que influenciam o processo de produção do conhecimento nas dissertações no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá? Como os entrevistados percebem o trabalho de mediação do bibliotecário nesse processo? Tais indagações surgem da necessidade de se mais bem compreender que profissão é esta e qual a sua importância, para além dos limites da técnica. Por esse entendimento, esta pesquisa tem como objetivo geral avaliar as contribuições do bibliotecário junto ao processo de produção do conhecimento em nível de pós-graduação no Mestrado de Educação. Assim, compreender aspectos da relação orientador-orientando e suas influências no processo de produção do conhecimento. Acredita-se que todos os envolvidos nesse processo do conhecimento são provocados ao desenvolvimento, em especial os alunos, quando se encontram caminhos que os levem à produção do conhecimento científico, desenvolvendo suas atividades e habilidades com senso crítico, criatividade, autonomia, autoria, de forma prazerosa e 5 tranquila. Assim, partindo das questões elencadas, será dado destaque a alguns pontos que se acredita serem importantes para a compreensão da temática em questão. Com isso, espera-se contribuir com ações para análise e reflexão em busca do “bom ensino superior” – aquele que, como escreve Vigotski (2001), se adianta ao desenvolvimento – e para constituição do pensamento e da escrita científicos, fundamentais à pesquisa. A opção por estudar o Mestrado em Educação deveu-se à realização do curso de especialização em Teoria Histórico-Cultural e ao fato de ser uma área em que a produção histórica se concretiza numa realidade relacionada com fatores de natureza social, cultural e científica. Influenciou também na escolha o interesse pela busca do autoconhecimento como profissional bibliotecária. Em razão do acima exposto, esta pesquisa tem sua origem na necessidade de reflexão sobre o trabalho do orientador e na convicção de que o compartilhamento das experiências vivenciadas pelos orientandos e orientadores é condição sine qua non para o crescimento profissional do orientador, diante da demanda contínua por orientação (QUIXADÁ VIANA, 2008). 2 REVISÃO DE LITERATURA – DAS INVESTIGAÇÕES A RESPEITO DA RELAÇÃO ORIENTADOR-ORIENTANDO Visando à maior fundamentação do que se propõe apresentar neste trabalho, utilizando referenciais de outros estudos sobre o tema, procurou-se analisar a obra de autores representativos da abordagem centrada na relação orientador-orientando e o papel do bibliotecário nessa relação. As responsabilidades e impasses enfrentados pelo orientador ganharam maior visibilidade nos dias atuais, sobretudo a partir das modificações nas regras de avaliação e financiamento estabelecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior / Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CAPES/CNPq) na década de 1990. Dentre outras inovações, destacase a redução para 24 e 48 meses, respectivamente, dos prazos para conclusão do mestrado e doutorado, independentemente da área de conhecimento (MACHADO; LEHMKUHL, [2008?]). 6 Segundo Severino (2002), a orientação do pós-graduando deve ser impregnada integralmente de espírito investigativo e dedicada a uma prática efetiva de pesquisa. A preocupação com o aprofundamento dos estudos, aliada às condições de cumprimento dos prazos regimentais do Programa, ajudará o aluno na realização do seu trabalho. Dissertar sobre um tema reporta a aspectos complexos, a questões humanas fundamentais, e tem a função social de avançar o conhecimento. Nesse sentido, é necessário que o orientando pesquise e discuta com o seu orientador, sobretudo suas incertezas e limites. O relacionamento pessoal e profissional entre o orientador e o orientando inclui a seleção do tema de pesquisa, planejamento, identificação e análise do levantamento bibliográfico, enfim o acompanhamento do orientando até a apresentação do seu trabalho. Para Piccini (2003), tal processo requer ajustes constantes, sensibilidade e habilidades de relacionamento interpessoal. Loui (2004) pesquisou sobre as escolhas de orientadores de dissertações e teses, apontando como um dos mais comuns problemas da pós-graduação nas Ciências Humanas e Sociais o contato insuficiente entre orientadores e orientandos. Como afirma Machado (2002, p. 46), a atividade do orientador de dissertações e teses desempenha um papel decisivo na academia, no “processo subjetivo de tornar-se autor”. Para essa autora, o índice de pós-graduandos que fazem seus créditos, mas não conseguem escrever suas dissertações e teses, é considerável, e o motivo seria o fato de a dissertação ser a primeira obra de “fôlego” que produzem e também condição fundamental para obter a titulação. Isso resulta geralmente em grande frustração, além de trazer um gravame tanto para a instituição quanto para o orientador e o orientando. A autora lembra, a propósito, o que Vigotski (1998) escreve a respeito do processo criativo. A criação não vem de uma inspiração metafísica, mas das apropriações sociais daquilo que já foi produzido. Sobre esse acervo, o sujeito trava uma nova luta na tentativa de criar algo novo sobre o já existente. Não se trata, portanto, de tarefa simples; antes, exige grande envolvimento, como se fosse um parto. O exposto por Severino também nos faz lembrar a importância do Outro na teoria vigotskiana para a apropriação do saber. O Outro (professor, pai, colega etc.), tal como o orientador, é aquele que auxilia para que o conteúdo que ainda não está devidamente esclarecido ou amadurecido seja, após mediações adequadas, enfim, 7 apropriado. Ressalta-se ainda que, segundo a abordagem Histórico-Cultural, o conhecimento se constitui elemento fundamental no processo de formação e desenvolvimento dos sujeitos. Isto tem como pressuposto o plano das relações sociais no desenvolvimento humano. Diante do exposto, sem ser nosso objetivo questionar a atuação do orientador, mas tendo por base nossa experiência como bibliotecária que trabalha com o aluno desde a fase da pesquisa até o final do trabalho, entendemos que demonstrar a importância dessa relação para o êxito da elaboração de teses e dissertações é algo que se faz imprescindível. Quixadá Viana (2008, p. 21) assinala que: Orientador e orientando são pessoas que se encontram para compartilhar uma caminhada por opção ou por imposição: em alguns programas, o orientando tem a opção de escolher seu orientador em função da linha de pesquisa ou do eixo temático ao qual pertence o orientador; em outros, o orientador lhe é designado. Entretanto, é bom lembrar que ambos são seres humanos, dotados de sentimentos ambíguos que podem fazer a relação oscilar do amor ao ódio, da aceitação à rejeição, como todas as relações que fazem parte da convivência humana. Reconhecendo a importância de se estar em relação com o Outro para a apropriação daquilo que a humanidade vem produzindo, concluímos que a relação orientador-orientando vai muito além da produção de um texto de conclusão de curso. Conforme Saviani (2006), o ato educativo leva a gerar no sujeito singular aquilo que a humanidade elaborou, ou seja, a humanização que lhe é possível. Para finalizar esta apresentação sumária na mediação, destaca-se a importância do bibliotecário para o desenvolvimento de todos os aspectos vinculados à informação. Essa característica exige investimento na capacitação do profissional e a busca constante do aperfeiçoamento. Isso significa promover uma nova postura em relação à produção do conhecimento, ou seja, mediar às formas de transmitir e produzir esse conhecimento, envolvendo o professor, o bibliotecário e o aluno num processo permanente de trocas, um movimento dialógico na construção e reconstrução do conhecimento. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa foi registrada e aprovada pelo Comitê Permanente de Ética pelo Parecer nº. 131/2009, Pesquisa Envolvendo Seres Humanos Certificado de Apresentação para apreciação Ética (CAE) nº. 0061.0.093.000-09. O Protocolo foi 8 apreciado de acordo com a Resolução nº. 196/96 e complementares do CNS/MS na 171ª reunião do COPEP em 17/4/2009. Realizou-se com base em um questionário semi-estruturado, com perguntas abertas e fechadas. A escolha dos professores para a aplicação do questionário foi norteada pelos critérios: ser integrante do Programa de Pós em Educação (PPE) e que está orientando dissertações na perspectiva da Teoria Histórica Cultural. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a apresentação dos resultados foi utilizada uma estatística descritiva. Procurou-se, dentro das possibilidades, conforme a natureza das respostas, agrupálas em eixos temáticos, para realizar uma análise comparativa entre orientadores e orientandos. Quanto à descrição do primeiro contato com o orientador, 38,46% responderam que este se deu após a seleção, oportunidade em que se esclareceram diversas dúvidas que comumente ocorrem no início da orientação. Mais da metade (61,54%) indicou que a escolha tem como motivo o interesse pela mesma linha de pesquisa, o que demonstra que a interatividade com o tema é primordial no processo de aprendizagem. A relação professor-aluno desenvolve-se por meio de ações didático-pedagógicas necessárias à efetiva apropriação do conhecimento. Para Vigotski, esse processo ocorre na zona de desenvolvimento imediato. A orientação do professor torna-se então decisiva, pois os orientandos necessitam dos orientadores para auxiliá-los nos procedimentos necessários à elaboração da dissertação. Por sua vez, 38,46% dão mais importância à empatia e à afinidade pessoal, bem como à existência de interesse comum pelo assunto. A experiência do professor pesquisador ficou em terceiro lugar, com o percentual de 23,08%. Ao responderem a respeito do aceite do orientador, questão que permitia mais de uma resposta, os sujeitos colocaram a empatia e a motivação do orientador em primeiro lugar (76,92%). Para Vygotsky (2001), a motivação inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Assim sendo, é possível afirmar que o conhecimento de determinados fatores é indispensável na escolha do orientador. Por seu turno, o orientador coloca em primeiro plano como condições e pré-requisitos para o aceite do orientando a empatia e o interesse pela pesquisa (75%). Isso reforça o 9 entendimento de que a empatia e a afinidade pessoal são características fundamentais para o aceite da orientação na pós-graduação. Dessa forma, pode-se afirmar que as relações afetivas estabelecidas entre as duas partes não podem ser ignoradas, pois estão presentes no desenvolvimento, fazem parte do ser humano e podem influir, de forma negativa ou positiva, no relacionamento entre orientando e orientador. São considerados os principais fatores de facilitação do bom relacionamento entre orientador e orientando: para 76,92% dos orientandos, a acessibilidade, a disponibilidade e a atenção do orientador; para 69,23% deles, sua confiança no orientador; e para 46,15%, o conhecimento das características pessoais do orientando e a facilidade de comunicação entre as partes. É importante, aqui, lembrar Quixadá Viana (2008), ao sublinhar que entre as atitudes do orientando que facilitam sua relação com o orientador destacam-se a empatia, a relação de amizade ou proximidade construída ao longo do processo, a honestidade e responsabilidade ao expor suas idéias, além da capacidade de ouvir e dialogar. Tanto os orientandos quanto os orientadores destacam como o principal fator de dificuldade em relação aos fatores comportamentais a falta de comprometimento com as atividades da dissertação. Esse tipo de comportamento prejudica a produtividade, o nível de qualidade do trabalho e o relacionamento profissional, ocasionando uma série de problemas, entre os quais um baixo engajamento nas atividades de pesquisa, de modo que os orientandos executam apenas as funções requisitadas pelos orientadores. A falta de comprometimento, a inacessibilidade dos orientadores, a escassez de tempo, a inexistência de empatia e a falta de retorno (feedback) também foram destacadas nos resultados da pesquisa de Leite Filho (2004), ao ressaltar que tais problemas no relacionamento entre orientador e orientando influenciam de maneira negativa o processo de elaboração da dissertação. Os resultados obtidos indicam que, para a maioria dos mestrandos pesquisados (69,23%), a falta de aprofundamento teórico condizente com o tema contribui para dificultar a relação entre orientador e orientando. Para 75% dos orientadores, a falta de interesse e comprometimento do aluno é um fator complicador. Esses dados acentuam a tendência de se atribuir ao orientando a maior responsabilidade pela dissertação. A falta de conhecimento específico na área do trabalho e o desconhecimento sobre metodologia de pesquisa são fatores que dificultam a realização de uma boa dissertação. De acordo com Quixadá Viana 10 (2008), orientador e orientando têm direitos e deveres. É necessário que o orientando elabore o seu texto e cumpra os prazos com responsabilidade. Não obstante, a relação aluno-orientador vai além da questão acadêmica e o orientador faz mais do que corrigir trabalho. Ele deve levar o aluno a refletir sobre sua pesquisa e buscar soluções. Entende-se que, simultaneamente com o conhecimento técnico e científico da relação entre orientando e orientador, é necessário criar oportunidades para que as questões voltadas ao autoconhecimento, comunicação, relacionamento intra e interpessoal sejam discutidas e experienciadas durante o período do trabalho acadêmico. Na perspectiva de Vygotsky, construir conhecimentos implica uma ação partilhada de relações determinadas por um processo histórico-cultural. É preciso alertar que a forma de orientar depende de cada orientador e do seu grau de interação com o tema que está sendo desenvolvido, em face das diferenças presentes nas distintas pesquisas realizadas por diferentes orientandos. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos resultados obtidos é necessário pontuar que: na situação de pré-teste observou-se que os alunos mostraram-se mais abertos para expor e comentar sobre as aflições que vivenciaram durante o mestrado, envolvendo a relação de orientação. Os professores, no pré-teste forneceram informações semelhantes às da pesquisa. Todavia, eles revelaram conhecer mais os produtos e serviços oferecidos pela biblioteca, mais que os professores orientadores sobre a perspectiva Histórico-Cultural do PPE. Respondendo aos objetivos da pesquisa, observou-se que os aspectos de facilitação do bom relacionamento, para os orientandos, vinculam-se à acessibilidade, disponibilidade, atenção, ao conhecimento das características pessoais do orientador. Para o orientador, tais aspectos vinculam-se à facilidade de comunicação entre ambos e à empatia. Porém, para os orientadores, o interesse do aluno, a empatia e a motivação para pesquisa são fundamentais. A pesquisa revelou indícios de que o conhecimento técnico-científico e o domínio da teoria na área de pesquisa facilitam a relação. Dessa forma, o conhecimento facilita o relacionamento positivo e afetivo entre orientador e orientando. Isso se revela importante, pois se a natureza do vínculo estabelecido é de ordem profissionalacadêmica, a apropriação do conhecimento depende de condições favoráveis, uma vez 11 que razão e emoção não se apresentam de modo dissociado no ser humano, como sugerem os teóricos da perspectiva Histórico-Cultural. Em face dos resultados, é importante que os bibliotecários, diante de suas responsabilidades com a educação, consigam apreender a potencializar as habilidades inerentes da profissão. É de fundamental importância que este profissional reconheça o seu papel na produção de conhecimento, por meio da pesquisa e acesso a informação. Para tanto, os profissionais que atuam em bibliotecas na área educacional, em particular, as universitárias devem se qualificar permanentemente, bem como, manter o processo de buscar estratégias capazes de mediar à informação entre alunos e professores. Considerando as limitações da pesquisa, por utilizar amostragem probabilística somente numa determinada área da Educação, alerta-se que tais informações não podem ser generalizadas para os demais cursos na universidade, os resultados vão depender da interação professor/aluno e bibliotecário. Com esse estudo conclui-se, enfim, a necessidade de se continuar no trabalho técnico, porém, de se valorizar o trabalho do bibliotecário como um mediador que pode estar comprometido com a divulgação e a apropriação e a produção do conhecimento. Este se trata de um posicionamento político, posto que o conhecimento provoca o desenvolvimento. Segundo Vigotski (2001) o bom ensino é aquele que movimenta o desenvolvimento. Se o bibliotecário favorece o bom ensino, contribui para que uma instituição de ensino superior fomente a pesquisa, que forme novos quadros de pesquisadores ele se mostra comprometido com outra sociedade. Esta, não apenas deve socializar o conhecimento, fincando-se no ensino, nem expandir o saber adquirido para o povo em geral (extensão), mas deve duvidar daquilo que se apresenta à primeira vista, deve duvidar da aparência. Essa dúvida, é que movimenta a ciência, a pesquisa. Esperava-se que os professores orientadores que elegem a perspectiva Histórico-Cultural compreendessem a função do bibliotecário desse modo apontado. Ao contrário, atribuem-lhe características tecnicistas. Não contam com o bibliotecário como um mediador a mais para subsidiar o desvendamento dos fenômenos que estão sendo investigados. Pegar livros, localizar obras raras e formatar trabalhos às normas da ABNT são as atribuições reconhecidas. 12 Fica pois, o desafio de se trabalhar, no campo da Biblioteconomia e da Ciência da Informação um novo posicionamento. Neste sentido, a perspectiva Histórico-Cultural pode contribuir de modo substancial. REFERÊNCIAS LEITE FILHO, G. A. Relação orientador-orientando e suas influências na elaboração de teses e dissertações. 2004. 121 f. Dissertação (Mestrado)-Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. LOUI, Michael C. How to Choose a Thesis Advisor. 2004. Disponível em: <https://netfiles.uiuc.edu/loui/www/advisor.html>. Acesso em 22 mar. 2009. 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