# 14 informativo sbm • ano 4 / 2011 A revista do Microbiologista. ISSN 1982-1301 www.sbmicrobiologia.org.br 26º congresso BrAsileiro De MicroBiologiA DAtA: 02/10/2011 À 06/10/2011. locAl: rAfAin pAlAce Hotel e convention center foz Do iguAçu, pr – BrAsil. 1º Prêmio Jovem Microbiologista 2011 A Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM) e a OXOID e Remel convidam os microbiologistas, com título de doutor obtido nos últimos três anos anteriores à data de início do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia (02/10/2011), a participarem do Prêmio Jovem Microbiologista 2011, uma oportunidade ímpar de se destacar e deixar sua marca no meio científico. Visando a maior integração entre os países latino-americanos, a SBM abre as inscrições para jovens microbiologistas dos países membros da ALAM (Associação Latino Americana de Microbiologia). Ao primeiro colocado será concedido um prêmio em dinheiro em valor a ser definido. O prêmio será entregue durante a sessão de encerramento do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia. Os demais classificados receberão um certificado de participação. pAtrocinADor oficiAl 1 - inscrições da revista Brazilian Journal of Microbiology . Os trabalhos que não estiverem de acor- A inscrição ao Prêmio Jovem Microbiologista 2011 é isenta de taxa e pode ser realizada do com essas especificações serão automaticamente desconsiderados sem qualquer até 01/07/2011. Poderão inscrever-se recém-doutores que tenham defendido a tese nos comunicado ao participante. últimos três anos anteriores à data de início do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia. O candidato deverá estar inscrito no 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia e 3 - ApresentAção e seleção deverá submeter apenas um trabalho. O comprovante de inscrição no 26º CBM deverá A Comissão Científica, designada pela Diretoria da SBM, selecionará cinco trabalhos. ser enviado para a Secretaria da SBM ao endereço Av. Prof. Lineu Prestes, 2415, Bu- Os trabalhos selecionados deverão ficar expostos, na forma de painéis, durante o 26º tantã. CEP 05508-000, São Paulo, SP, juntamente com o trabalho, Currículo Lattes e Congresso Brasileiro de Microbiologia, em local a ser designado pela Comissão Organi- documento da comissão de pós-graduação da instituição, declarando a data da defesa zadora. Os autores serão convidados para apresentação pública desses trabalhos, em da tese e o título recebido. A documentação submetida não será devolvida. sessão do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia. O tempo de apresentação oral será de 20 minutos, perante Comissão Julgadora, composta por três membros, indicada 2 - trABAlHo pela Diretoria da SBM. Não serão aceitos recursos quanto ao mérito das decisões das O trabalho, de responsabilidade do recém-doutor, deverá ser encaminhado na forma comissões de seleção e julgadora. de paper, tendo como modelo o periódico Brazilian Journal of Microbiology, em três vias, acompanhado do respectivo arquivo gravado em CD-Rom. O texto deverá ser 4 - prescrição Do Direito Ao prÊMio redigido em inglês e ter, no máximo, 10 páginas (incluindo tabelas e figuras) for- Caso o prêmio não seja solicitado no prazo de 1 ano contado a partir da data da pre- matadas em fonte Arial, tamanho 12, espaçamento de 1,5 entrelinhas, formato A4, miação que acontecerá durante o 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia o mesmo margens 2 cm (esquerda, direita, superior e inferior) em editor de texto Microsoft perderá o direito de recebê-lo. A comissão avaliadora terá poderes para decidir as situ- Word. As citações bibliográficas deverão ser apresentadas de acordo com as normas ações em que nenhum trabalho merece receber o prêmio. 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia 2 a 6 de Outubro de 2011 Rafain Palace Hotel e Convention Center Foz do Iguaçu - Paraná EDITAL DO CONCURSO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE ESPECIALISTA EM MICROBIOLOGIA TEMICRO 2011. 1. Apresentação O Presidente da Sociedade Brasileira de Microbiologia, Adalberto Pessoa Junior, e o Secretário Geral, Carla Taddei de Castro Neves, no uso de suas atribuições legais, farão realizar Concurso para Obtenção do Título de Especialista em Microbiologia-TEMICRO, no dia 03 de outubro de 2011, regulamentado pelo presente Edital. O Título de Especialista em Microbiologia terá validade por 5 (cinco) anos, devendo ser renovado de acordo com as normas estabelecidas pela Comissão Nacional de Titulação SBM. 2. Das inscrições 2.1. A inscrição do candidato implicará o conhecimento e a tácita aceitação das normas e condições estabelecidas neste Edital, em relação às quais não poderá alegar desconhecimento. 2.2. As inscrições serão recebidas no período de 02 de fevereiro a 29 de julho de 2011, por via eletrônica www.sbmicrobiologia.org.br/26cbm. 2.3. O candidato deverá efetuar o pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 390,00 além da inscrição no 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia. As Especialidades É importante esclarecer que as especialidades regulamentadas são profissionais, isto é, são especialidades no campo do exercício profissional do microbiologista. Foram regulamentadas algumas que se configuraram como mais definidas e consensuais. A Saber: Microbiologia Ambiental Microbiologia de Alimentos Microbiologia Industrial Microbiologia Clínica Deve ser destacado que o título de especialista em microbiologia é uma referência sobre a qualificação do profissional, não se constituindo condição obrigatória para o exercício da profissão. Podem solicitar o título de Especialista os Biólogos, Biomédicos, Farmacêuticos, Médicos, Médicos Veterinários e outros profissionais que tenham atuação em uma das áreas da Microbiologia, desde que preencham alguns dos pré-requisitos abaixo relacionados: I – Das Inscrições: 1. O candidato deverá ser associado da Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM) tendo quitado o ano vigente; 2. O candidato deverá ter nível superior e cinco anos de experiência profissional comprovada na área após a graduação OU carga horária mínima de 1.200 horas de estágio em microbiologia comprovadas depois de formado; 3. Estar inscrito no 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia 4. Pagar a taxa estabelecida pela SBM; 5. O candidato deverá ter uma carta de apresentação e três indicações de associados da SBM; 6. O certificado terá validade por cinco anos. II – Documentos necessários para Inscrição: 1. Preencher a ficha de inscrição do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia; 2. Durante o processo de inscrição no 26º CBM efetuar a matrícula no CONCURSO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE ESPECIALISTA EM MICROBIOLOGIA Enviar para a SBM via correio curriculum vitae documentado, que deverá ser confeccionado de acordo com a “Plataforma Lattes” , histórico escolar e carteira ou comprovante de trabalho e uma fotografia recente 3x4; Sociedade Brasileira de Microbiologia ICB III - SBM - Dep. de Microbiologia Av. Prof. Lineu Prestes, 2415 Cidade Universitária 05508-000 São Paulo, SP - Brasil Tel: (+5511) 3813-9647/3037-7095 III – Pontuação dos Títulos e Atividades: 1. Para obtenção do título o candidato deverá atingir média final = 7,0; Provas – 90% Títulos – 10% IIIa – Provas Prova escrita: será composta de questões de múltipla escolha e dissertativas sendo que 60% do conteúdo deverá versar sobre Microbiologia Geral e 40% sobre Microbiologia Específica da área de especialização escolhida. Prova Prática: Versará sobre temas específicos da área de especialização escolhida Critérios a serem utilizados na avaliação do CV para OBTENÇÃO do Título de Especialista OBS: Os documentos referentes às atividades pontuadas deverão ser enviados organizadamente, agrupados por atividade. Caberá à SBM, através da Comissão de Titulação, proceder a pontuação estabelecida nos itens acima discriminados, para cada candidato, ação essa que será executada antes da realização da prova. Outrossim, a comprovação de títulos e atividades constantes do currículo devem somar no mínimo 10 pontos nos últimos 5 anos para a aprovação da inscrição no concurso. TÍTULOS Exigências Doutor na área escolhida, Programa regular credenciado pela CAPES Pontuação 5 Mestre na área escolhida Programa regular credenciado pela CAPES 3 Especialização na área escolhida Deverão ter carga horária mínima de 720 horas, considerando-se as horasaulas e os trabalhos de campo, experimental, de estudo e monografia, bem como deverão atender às exigências do Conselho Federal de Educação e deverão ser reconhecidos pela SBM Liderança técnica Liderança técnica em Laboratórios de Microbiologia nos últimos 10 anos 1,5 1 ponto a cada 2 anos de atividade (máximo 5 pontos) Atividade Docente Atividade Docente em Microbiologia nos últimos 10 anos 1 ponto a cada 2 anos de atividade (máximo 5 pontos) Artigos científicos Artigo científico em Microbiologia na área escolhida, publicados em revistas indexadas no ISI e/ou PubMed, como autor ou co-autor nos últimos 5 anos 1 ponto por artigo (máximo 5 pontos) Apresentação em Congresso Trabalhos científicos em Microbiologia, apresentados em Congressos reconhecidos pela SBM, como autor ou co-autor Cursos de aperfeiçoamento Em microbiologia nos últimos 5 anos, carga horária mínima de 180 horas, reconhecido pela SBM Cursos de atualização Em microbiologia nos últimos 5 anos, , reconhecido pela SBM. Abaixo de 36 horas de atualização nos últimos cinco anos não será pontuado Estágio em microbiologia Período mínimo de 480 h consecutivas, nos últimos cinco anos Máximo de 1 ponto Eventos Participação em Congresso de Microbiologia e afins nos últimos 5 anos. Somente eventos reconhecidos pela SBM serão pontuados (veja anexo). Eventos não reconhecidos serão julgados pela comissão 0,2 por evento (Máximo de 1 ponto) Eventos Participação ativa como palestrante em Congressos de Microbiologia nos últimos 5 anos 0,2 por evento (Máximo de 1 ponto) 0,2 por apresentado (máximo 1 pontos) 1 ponto 36 - 72 h 0,5; 73 - 109 h 1.0; >110 h 1,5 (máximo 1,5 ponto) O título terá validade por cinco anos. Para revalidação, o solicitante deverá encaminhar CV circunstanciado à SBM. A avaliação será feita pela Comissão de Titulação pela análise e pontuação do CV. Pontuação mínima exigida será de 10 pontos. Editorial Índice Prezado Microbiologista, Ciência in Foco É com grande satisfação que encaminhamos a décima quarta edição da Revista Microbiologia in Foco. Continuamos com os objetivos iniciais selecionando temas abrangentes e de interesse na divulgação da Microbiologia. No período, foram publicados 71 artigos, incluindo esse volume, abrangendo diversos temas relacionados à microbiologia, além de notícias e outros informes de interesse dos leitores. Voltamos a enfatizar que esperamos e contamos com a colaboração ativa dos leitores sugerindo temas e encaminhando artigos para publicação. Infelizmente, não temos recebido muitas sugestões por parte da comunidade científica e gostaríamos de deixar claro que os editores estão ansiosos por uma participação mais ativa dos colegas. Esperamos que comunidade de microbiologistas continue a colaborar ativamente para que essa iniciativa possa alcançar o objetivo de divulgar a microbiologia nos mais diversos setores da comunidade brasileira. Lembramos que a revista é de informação e divulgação e é composta de várias seções: Seção 1: Ciência in foco: artigos de informação sobre temas relevantes Seção 2: Resenhas: comentários sobre livros Seção 3: Resumos comentados de trabalhos científicos relevantes Seção 4: Homenagem a profissionais com destaque na fundação da SBM e no desenvolvimento da Microbiologia Seção 5: Ensino em Microbiologia Seção 6: Departamento in Foco: Departamentos em destaque: Noticias de interesse da Microbiologia Seção 7: Leitor in Foco: espaço aberto ao leitor Seção 8: Empresas in Foco - Informes publicitários: espaço destinado a empresas Agradecemos a todos que colaboraram com a edição número 14 da revista Microbiologia in Foco e contamos com a colaboração dos colegas para futuros artigos. Biomonitoramento: Bioindicadores microbianos da presença de óleo em manguezais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 PRODUÇÃO DE CELULOSE BACTERIANA: UMA NOVA TENDÊNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Microbiota Fecal Humana. . . . . 18 Atividade biológica de polissacarídeos: lições ensinadas por microrganismos patogênicos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Potencial biotecnológico de fungos marinhos para produção de enzimas ligninolíticas e degradação de poluentes ambientais . . . . . 29 SBM In Foco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Agenda In Foco . . . . . . . . . . . . . . . 40 Adalberto Pessoa Junior Presidente Marina B. Martinez Editora Carlos P. Taborda Editor Expediente SBM in Foco Revista da Sociedade Brasileira de Microbiologia Ano 4, nº 14 São Paulo: SBM, 2011 Periodicidade Trimestral Editores: Carlos P. Taborda e Marina B. Martinez Tiragem: 2000 exemplares - Circulação Nacional Distribuição gratuita para sócios SBM Impressão: Vox Editora Ltda. (11) 3871-7300 Curso de Especialização e Aperfeiçoamento em Microbiologia . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Fique sócio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Diagramação: Hermano Design Editorial [email protected] Responsabilidade autoral: Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos respectivos autores Responsabilidade editorial: Tífani Luri N. Hanashiro 7 Ciência in Foco BIOMONITORAMENTO: BIOINDICADORES MICROBIANOS DA PRESENÇA DE ÓLEO EM MANGUEZAIS Peixoto, RS Professora Adjunta - Laboratório de Ecologia Microbiana Molecular, Departamento de Microbiologia Geral, Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Universidade Federal do Rio de Janeiro - [email protected] Carmo, FL Doutoranda Programa de Biotecnologia Vegetal da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Laboratório de Ecologia Microbiana Molecular, Departamento de Microbiologia Geral, IMPPG Santos, HF Doutorando Instituto de Microbiologia Paulo de Góes - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Laboratório de Ecologia Microbiana Molecular, Departamento de Microbiologia Geral, IMPPG Andrade, LL Doutoranda Instituto de Microbiologia Paulo de Góes - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Laboratório de Ecologia Microbiana Molecular, Departamento de Microbiologia Geral, IMPPG Paes, JE Doutorando Programa de Biotecnologia Vegetal da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Laboratório de Ecologia Microbiana Molecular, Departamento de Microbiologia Geral, IMPPG e Biólogo CEnPES/Petrobras Cury, JC Pós-doutorando (PnPD) - Laboratório de Ecologia Microbiana Molecular, Departamento de Microbiologia Geral, Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Universidade Federal do Rio de Janeiro Rosado, AS Professor Associado e Diretor do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Laboratório de Ecologia Microbiana Molecular, Universidade Federal do Rio de Janeiro - [email protected] introDução A população humana da Terra vem se expandindo e se desenvolvendo significativamente e os efeitos colaterais impostos por este desenvolvimento vêm sendo cada vez mais notados. Tais efeitos são resultados da intensa e descontrola- 8 da atividade antropogênica, impactando diversos ecossistemas. Por outro lado, a crescente preocupação com a sustentabilidade ambiental tem motivado a busca pela solução e/ou minimização desses problemas. Alguns ecossistemas são cruciais para a manutenção de outros ecossistemas associados, sendo fundamental a sua preservação não apenas do ponto de vista pontual quanto global. Por exemplo, diversos ecossistemas marinhos dependem da manutenção dos manguezais para sua própria manutenção. Apesar desse fato, os manguezais apresentam características e situações que os coloca entre os ecossistemas mais ameaçados do mundo, tendo sido especulada a sua possível extinção (Duke et al 2007). Este fato não apenas assusta como nos indica a real necessidade de conhecer e preservar esses locais. Por serem ambientes heterogêneos e, algumas vezes, de difícil acesso, além de conhecer e propor alternativas para a recuperação e/ou preservação de manguezais, é importante saber como monitorar esses ambientes e os graus de impacto presentes em diferentes localidades e condições. Dentro desse contexto, os microrganismos podem ser alvos eficientes para o biomonitoramento de manguezais, uma vez que apresentam respostas rápidas às alterações ambientais. Manguezais Manguezais são ecossistemas costeiros característicos de regiões tropicais e sub-tropicais que se situam em áreas de transição entre ambientes terrestres e marinhos. Muitas funções naturais de grande importância ecológica e econômica são desempenhadas por esses ecossistemas, o que reforça a necessidade de preservar esses ambientes. Entre as funções associadas a esse ecossistema podemos destacar, a retenção dos sedimentos carreados pelos rios, a ação depuradora desse ecossistema (que funciona como um filtro biológico em que bactérias aeróbicas e anaeróbicas reciclam a matéria orgânica e o sedimento pode promover a fixação e a inertização de partículas contaminantes) e a renovação da biomassa da região litoranea, já que os manguezais funcionam como área de alimentação, abrigo, nidificação e repouso de aves. Além dessas funções, podemos ainda destacar a proteção da linha da costa contra a ação erosiva das ondas e marés, o que torna esses ambientes extremamente importantes na atenuação de ondas e a conseqüente proteção contra tempestades tropicais, enchentes, ciclones, erosão costeira e tsunâmis (Walthers et al., 2008; Koch et al. 2009). Esse ecossistema alberga uma grande riqueza e diversidade de microrganismos, os quais são responsáveis por importantes papéis na produtividade, conservação e reabilitação deste ecossistema. Os microrganismos estão diretamente envolvidos na transformação de nutrientes, fotossíntese, fixação de nitrogênio, metanogênese, solubilização de fosfato, redução de sulfato e produção de antibióticos e enzimas (Holguin, Vasquez & Bashan, 2001; Das et al., 2006). Por serem ecossistemas costeiros, os manguezais estão entre os principais locais para onde os derramamentos de óleo convergem, e segundo Duke e colaboradores (2007), por causa desse e de outros impactos antropogênicos, esses ambientes estão ameaçados de “extinção”. Ao contrário dos costões rochosos, onde a própria ação das marés ajuda na lavagem, os manguezais funcionam como um verdadeiro depósito de óleo, uma vez que a circulação das marés dentro deste ecossistema acaba favorecendo a deposição deste material no sistema de raízes aéreas e no sedimento (Li et al., 2007). Óleo em ambientes costeiros O óleo corresponde a uma mistura de diversos compostos como hidrocarbonetos alicíclicos, alifáticos e aromáticos; compostos sulfurosos (ex: sulfetos, polissulfetos, benzotiofenos); compostos nitrogenados (ex: piridinas, quinolinas, indóis); compostos oxigenados (ex: ácidos carboxílicos, fenóis, ésteres); resinas e asfaltenos (Atlas & Barta, 1993; Huang et al., 2004). Existem evidências suficientes de que a poluição por hidrocarbonetos provoque sérios efeitos adversos sobre o ecossistema aquático, tanto em organismos produtores como nos consumidores primários, secundários, terciários até os níveis mais elevados. Como o aporte anual de hidrocarbonetos do óleo para os oceanos é de aproximadamente 2,35 x 106 toneladas (Gesamp et al.,1993) e considerando-se que a maior parte desta contaminação se dá no ambiente costeiro, pode-se avaliar o sério problema ambiental que isto pode representar para os manguezais. Derramamentos de óleo e seus derivados em florestas de mangue podem causar tanto efeitos agudos, que se manifestam em curto prazo, quanto crônicos, que irão provocar impactos detectáveis em períodos de tempo mais longos. Muitos manguezais que sofrem derramamento de óleo por um curto período de tempo conseguem resistir e se recuperar. Porém, quando os derrames ocorrem a médio e longo prazo, ou seja, quando a contaminação ocorre continuamente, este tipo de ecossistema pode ser substituído por sistemas menos complexos com menor diversidade (SEMADS, 2001). Para tentar minimizar esses problemas, é de extrema importância o conhecimento da diversidade microbiológica dos manguezais, pois os microrganismos possuem uma grande versatilidade metabólica que pode ser otimizada e/ou aplicada para a transformação dos contaminantes em produtos finais menos tóxicos, os quais são integrados nos ciclos biogeoquímicos naturais (biorremediação) (Alexander, 1994). Além disso, os microrganismos podem ainda ser utilizados como ferramentas para o biomonitoramento de impactos nesses ambientes. O biomonitoramento permite não apenas avaliar o estado de contaminação do ecossistema como ainda acompanhar o efeito de tratamentos aplicados de forma eficiente. Biomonitoramento Biomonitoramento pode ser definido como “o uso sistemático das respostas de organismos vivos (bioindicadores) para avaliar as mudanças ocorridas no ambiente, geralmente causadas por ações antropogênicas” (Buss et al., 2003). Os bioindicadores são “espécies, grupos de espécies ou comunidades biológicas cuja presença, abundância e condições são indicativos biológicos de uma determinada condição ambiental” (Hyne & Maher, 2000). Os organismos indicadores mais utilizados são os capazes de distinguir variações naturais dos impactos de origem antrópica (Hakanson & Blenckner, 2008). Segundo Torres e colaboradores (2008), organismos indicadores têm sido amplamente utilizados, pois fornecem sinais rápidos sobre problemas ambientais mesmo antes de o homem perceber sua ocorrência e amplitude, permitindo a identificação das causas e efeitos entre os agentes de estresse e as respostas biológicas e, ainda, possibilitando a avaliação da efetividade das ações tomadas para contornar os problemas causados por ações antropogênicas. Kolkwitz & Marsson (2007) realizaram a primeira abordagem científica buscando 9 a identificação de indicadores biológicos da qualidade das águas, avaliando bactérias, fungos e protozoários na Alemanha por Kolkwitz & Marsson (2007). A partir desse estudo pioneiro metodologias de avaliação para macrófitas aquáticas, peixes e macroinvertebrados também foram descritas (Cairns & Van Der Schalie, 1982; Reynaud & Deschaux, 2005). Diversos organismos de diferentes níveis tróficos também são utilizados com o objetivo de monitorar contaminantes distintos, como metais pesados, pesticidas e hidrocarbonetos (Torres et al., 2008). Bioindicadores da presença de Óleo A poluição marinha por óleo tem recebido cada vez mais atenção desde meados do século XIX, pois a imensa intensificação no uso deste produto levou a um aumento nos acidentes com petroleiros (Owen, 1999), a liberação de poluentes por refinarias costeiras (Tolosa et al., 2005; Wake, 2005) e ao contínuo derrame de óleo por navios (Carpenter & Macgill, 2001), como ocorrido recentemente no Golfo do México. Podemos citar como outro exemplo de acidente em ambientes marinhos, o petroleiro Amoco Cadiz de propriedade da Amoco que após um acidente ocorrido em 16 de março de 1978 a 5 Km da costa da Bretanha, França, partiu-se em dois e gerou um dos maiores desastres ambientais da história. O petroleiro Aegean Sea da Repsol, que sofreu um acidente na costa da Espanha, é mais um exemplo, derramando mais de 70.000 toneladas de óleo no oceano (Gomez & Dauvina, 2000). Os efeitos dos derrames, em ambas as áreas, levaram ao desaparecimento dos anfípodos (pequenos crustáceos, predominantemente de ambientes marinhos), especialmente os pertencentes ao gênero Ampelisca, gerando uma colonização muito baixa dessas espécies nos quatro anos subseqüentes ao derrame de óleo. Por outro lado poliquetas, por exemplo, mantiveram-se dominantes antes e após o derrame, levando Gesteira (2000) a propor a utilização desses anfípodos como bioindicadores do impacto da poluição por hidrocarbonetos naquela região. Outros trabalhos vêm elucidando a importância do uso de indicadores bioló- 10 gicos da presença de óleo. Armynot Du Chatelet e colaboradores (2003) demonstraram, a partir de estudos em 5 portos da França, que a densidade e riqueza de espécies de foraminíferos bentônicos diminuíram com o aumento da concentração de metais pesados e HPAs e, portanto, podem ser utilizados como indicadores de poluição. Além disso, as zonas mais poluídas são dominadas pelas espécies pioneiras tolerantes, como a Haynesina germanica, que pode ser utilizada como bioindicador, principalmente nas áreas mais críticas. Com o mesmo objetivo de monitoramento de áreas contaminadas por óleo, outros organismos também são utilizados com sucesso em vários países, como peixes na Ásia e América (Ueno et al., 2005; Carrasco-Letelier et al., 2006), algas na Polônia, França e China (Aksmann & Tukaj, 2004; Lei et al., 2007) e mexilhões em manguezais no Sul do Brasil (Torres et al., 2002). Bioindicadores em manguezais Existem poucos trabalhos sugerindo o uso de bioindicadores de contaminação por hidrocarbonetos ou outro contaminante em manguezais. Um exemplo foi o estudo realizado por um grupo de pesquisadores do Rio de Janeiro, que verificou a eficiência do Ucides cordatos, um caranguejo, como indicador da contaminação por óleo em sedimento de manguezal da Baía de Guanabara. O estudo demonstrou que os caranguejos coletados nas áreas de Suruí e Canal da Peteca possuíam elevadas concentrações de HPAs em seus tecidos, o que também foi constatado na análise dos sedimentos dessas regiões. Estes resultados sugerem o U. cordatus como um bom bioindicador da presença de óleo nesses locais (Nudi et al., 2007). Ainda no Brasil, mais especificamente em Pernambuco, ostras da espécie Crassostrea rhizophorae são utilizadas para monitorar a presença de mercúrio em manguezais do Canal de Santa Cruz, localizado a 40 km de Recife (Meyer, Hagen & Medeiros 1998). Na Espanha, caranguejos da espécie Carcinus maenas e mexilhões da espécie Ruditapes philippinarum, são utilizados como bioindicadores da presença de óleo de uma forma bastante interessante. Eles são colocados em gaiolas, divididas em dois compartimentos diferentes, um para os caranguejos (n = 20) e um para os mexilhões (n = 40). As gaiolas são, então, colocadas no sedimento durante a maré baixa e após alguns dias, esses animais são levados ao laboratório para análises químicas e histopatológicas, com o objetivo de detectar os níveis de poluentes e avaliar assim as condições ambientais da área estudada (Morales-Caselles et al., 2008). Não apenas caranguejos e moluscos são utilizados como bioindicadores da presença de xenobiontes em manguezais. A planta da espécie Avicennia marina é um alvo para diagnosticar a presença de Cu, Pb e Zn nestes ecossistemas a partir da quantificação desses poluentes em seus tecidos (Macfarlane & Burchett et al., 2001). Na China, um grupo de pesquisadores avalia a utilização de ciliados, para acompanhar um interessante sistema de tratamento de esgoto que utiliza plantas e sedimento de manguezal (Chen et al., 2008; Yang et al., 2008), porém não existem trabalhos sugerindo a utilização de algum bioindicador microbiano para detectar especificamente a contaminação de manguezais por hidrocarbonetos de óleo. A utilização de microrganismos para o biomonitoramento da presença de óleo no ambiente é uma excelente ferramenta para auxiliar a prevenção e a remediação de desastres ecológicos. Entre os microrganismos utilizados como bioindicadores de outros, podemos destacar a utilização dos microeucariotos como um grupo potencialmente eficiente para demonstrar a presença de contaminantes no ambiente, já que estes apresentam as principais características necessárias para compor um bom bioindicador, destacando-se, dentre elas, sua abundância, diversidade genética e o tempo reduzido de geração, o que possibilita uma resposta rápida às mudanças ambientais (Griebler et al., 2002). Para o estudo e monitoramento da diversidade desses microrganismos e do impacto de um determinado xenobionte sobre essas populações e/ou comunidades é essencial o uso de técnicas moleculares. Em manguezais é possível verificar que a comunidade bacteriana reflete os gradientes de nutrientes e de poluição existentes em diferentes porções do se- dimento (Santos et al., 2010a). Peixoto e colaboradores (2011) demonstraram que diferenças na distribuição do perfil de diferentes grupos bacterianos pode ser correlacionada à variação na distribuição de nutrientes e de contaminantes (hidrocarbonetos de óleo) em sedimento de manguezal. Com base nessas respostas, obtidas através do monitoramento de comunidades microbianas às variações ambientais, nosso grupo de pesquisa avaliou recentemente a utilização das técnicas moleculares para detectar microrganismos alvos no biomonitoramento de óleo em manguezais. Para detectar microeucariotos sensíveis e resistentes à presença de óleo, bibliotecas de clones foram construídas a partir de amostras de microcosmos (Figura 1) contendo sedimento de manguezal sem histórico de contaminação com óleo e as mesmas amostras após contaminação com 2% óleo (Santos et al., 2010b). Verificamos a prevalência e a dinâmica das sequências de subunidades 18S do RNA ribossomal de microeucariotos 23 e 66 dias após a contaminação. Os dados obtidos demonstraram diminuição na diversidade e abundância de espécies de microeucariotos após a contaminação, sendo Nematoda o grupo filogenético que apresentou maior sensibilidade à presença de óleo. Por outro lado, os grupos Bacillariophyta (diatomáceas) e Biosoecida apresentaram aumento expressivo em sua abundância. As amostras contaminadas apresentaram-se quase que inteiramente dominadas por Bacillariophyta sp e Cafeteria mínima, importantes grupos a serem considerados em estudos de biomonitoramento (Tabela 1). Em outro estudo, nosso grupo avaliou a dinâmica dos grupos bacterianos nas mesmas amostras de microcosmos (Santos et al., 2011) através da técnica de pirosequenciamento. Uma extensa diversidade bacteriana foi observada no sedimento de manguezal não contaminado e mesmo após a contaminação do óleo. Ao contrário do observado com microeucariotos, a riqueza de espécies aumentou após a exposição ao óleo. O número de diferentes UTOs detectadas apenas em amostras contaminadas foi significativamente maior que o número de UTOs detectadas apenas em amostras não contaminadas. O filo Proteobacteria, em especial as clas- Tabela 1. Bioindicadores microbianos propostos na literatura para o monitoramento de óleo em manguezais Sensíveis à presença de óleo Estimulados pela presença de óleo Bactérias Microeucariotos Gênero Haliea (Santos et al., 2011) Ordem Chormatiales (Santos et al., 2011) Gênero Chromatium (Essien & Antai, 2009) Nematoda (Santos et al., 2010) Gênero Marinobacterium (Santos et al., 2011) Gênero Marinobacter (Santos et al., 2011) Gênero Cycloclasticus (Santos et al., 2011) Bacillariophyta sp (Santos et al., 2010) Cafeteria mínima (Santos et al., 2010) Figura 1: Montagem dos microcosmos contendo sedimento de manguezal da Restinga da Marambaia, Rio de Janeiro, com aplicação de óleo, nos estudos conduzidos por Santos e colaboradores 2010b e 2011. ses Gammaproteobacteria e Deltaproteobacteria, predominaram antes e depois do derramamento de óleo simulado. Por outro lado, a ordem Chromatiales e o gênero Haliea diminuiram após a exposição a 2 e 5% de óleo, sendo propostos como 11 ATLAS, M. R., BARTHA, D. M. Microbial Ecology. Fundamentals And Applications. 3rd Ed. The Benjamin/Cummings Pub. Comp., Inc. Redwood City, Cal. 563,1993. BUSS, D.F.; BAPTISTA, D.F. & NESSIMIAN J.L. Conceptual basis for the application of biomonitoring on stream water quality programs. Cad. Saúde Pública. 19(2), 465-473, 2003. CAIRNS JR. & VAN DER SCHALIE Biological Monitoring in Water Pollution. Pergamon Press, 955, 1982. CARPENTER, A., MACGILL, S. Charging for port recption facilities in North Sea Ports: putting theory into practice. Mar. Pollut. Bull. 42, 257–266, 2005. Figura 2: Restinga da Marambaia, Rio de Janeiro, RJ. indicadores sensíveis da contaminação do óleo. Três outros gêneros, Marinobacterium, Marinobacter e Cycloclasticus apresentaram aumento de sua prevalência, quando expostos ao óleo (Tabela 1). Estes grupos são possíveis alvos para o biomonitoramento do impacto do óleo em ambientes de manguezal. Alguns dos trabalhos citados foram realizados utilizando-se amostras de sedimento coletadas no manguezal da Restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro (Figura 2). Este manguezal não apresenta histórico de contaminação por óleo. Estudos sobre a utilização de bioindicadores microbianos da presença de óleo nesse ecossistema são de extrema importância, pois a Restinga da Marambiaia está localizada na Baía de Sepetiba, onde se encontra também o Porto de Itaguaí. Este porto está em expansão visando a sua adequação para o recebimento, por exemplo, de navios petroleiros de grande porte (FEEMA, 2010), o que torna esse ambiente suscetível a um desastre ecológico provocado por derramamento de óleo. Como estratégias para o biomonitoramento, de acordo com esses resultados, propusemos o desenvolvimento e aplicação de análises de quantificação dos organismos selecionados em estudos de monitoramento de manguezais in situ. Nesse caso, os ácidos nucléicos 12 extraídos das amostras ambientais (DNA e RNA) poderiam ser submetidos a protocolos de PCR em Tempo Real utilizando os marcadores específicos para os alvos propostos. Tal metodologia pode fornecer importantes informações relacionadas à presença e à abundância desses grupos durante o monitoramento de manguezais, podendo ser esses dados correlacionados a dados fisico-químicos para comprovar a eficiência do biomonitoramento. Essas ferramentas se configuram como alternativas importantes e complementares no estudo e monitoramento de manguezais, direcionando as ações relacionadas a sua recuperação e/ou preservação. Referências Bibliográficas AKSMANN, A., TUKAJ, Z. The effect of anthracene and phenanthrene on growth, photosynthesis, and SOD activity of the green algae (Scenedesmus armatus) depends on the PAR irradiance and CO2 level. Arch. Environ. Contam. Toxicol. 47, 177–184, 2004. CARRASCO-LETELIER, L., EGUREN, G., MELLO, F.T., GROVES, P. Preliminary field study of hepatic porphyrin profiles of (Astynax fasciatus) (Teleostei, Characiformes) do define anthropogenic pollution. Chemistry 62, 1245– 1252, 2006. CHEN, Q.U.; XU, R.L.; TAM,N.F.Y.; CHEUNG, S.G.; SHIN, P.K.S. Use of ciliates (Protozoa: Ciliophora) as bioindicator to assess sediment quality of two constructed mangrove sewage treatment belts in Southern China. Mar. Pollut. Bull. 57, 689–694, 2008. DAS, S., LYLA, P. S.; AJMAL KHAN, S. Marine microbial diversity and ecology: importance and future perspectives. Current Science 90, 1325-1335, 2006. DUKE, N. C., J.-O. MEYNECKE, S. DITTMANN, A. M. ELLISON, K. ANGER, U. BERGER, S. CANNICCI, K. DIELE, K. C. EWEL, C. D. FIELD, N. KOEDAM, S. Y. LEE, C. MARCHAND, I. NORDHAUS, AND F. DAHDOUHGUEBAS. A World Without Mangroves? Science 317, 41-42, 2007. ESSIEN, J.P., ANTAI, S.P. Chromatium species: an emerging bioindicator of crude oil pollution of tidal mud flats in the Niger Delta mangrove ecosystem, Nigeria. Environ. Monitor. Assess. 153 (1-4), 95-102, 2009. FEEMA. Disponível em: http://www.feema. rj.gov.br/baia-sepetiba.aspcat=75. Acessado em 14 de Janeiro de 2011. ALEXANDER, M. Biodegradation and Bioremediation. J. of Contr. Rel. 67: 418-453, 1994. GESAMP. Impact of oil and related chemicals on the marine environment. Rep. Stud. 50: 180, 1993. ARMYNOT DU CHATELET, E.; DEBENAY, J.P.; SOULARD, D.R. Foraminiferal proxies for pollution monitoring in moderately polluted harbours, Environ. Poll. 127, 27–40, 2003. GESTEIRA, J. L., DAUVIN J. C. Amphipods are good bioindicators of the impact of oil spills on soft-bottom macrobenthic communities. Mar. Pollut. Bull. 40, 1017-1027, 2000. GOMEZ J.L.G. & DAUVINA J.C. Amphipods are Good Bioindicators of the Impact of Oil Spills on Soft-Bottom Macrobenthic. Communities Mar. Pollut. Bull. 40, 1017-1027, 2000. GRIEBLER, C.; SONNTAG, B.; MINDL, B; POSCH, T.; KLAMMER, S.; PSENNER, R. Assessment of the Ecological Integrity of Traunsee (Austria) Via Analysis of Sediments and Benthic Microbial Communities. Water, Air Soil Poll.2, 33-62, 2002. HAKANSON L.; BLENCKNER T. A review on operational bioindicators for sustainable coastal management. Criteria, motives and relationships Ocean Coast. Manag. 51, 43–72, 2008. HOLGUIN, G.; VAZQUEZ P., BASHAN, Y. The role of sediment microorganisms in the productivity, conservation, and rehabilitation of mangrove ecosystems: an overview. Biol. Fert. Soils., 33, 265–278, 2001. HUANG , H., LARTER, S.R., BOWLER, B.F. J. AND OLDENBURG, T.B.P A dynamic biodegradation model suggested by petroleum compositional gradients within reservoir columns. Org. Geochem. 35, 299-316, 2004. HYNE R.V., MAHER W.A. Macroinvertebrate Biomarkers: Links to Toxicosis and Changes in Population or Communities. Technical Report, 2000. KOCH, E.W., BARBIER, E.B., SILLIMAN, B.R., REED, D.J., GERARDO ME PERILLO, SALLY D HACKER, GRANEK, E.F., PRIMAVERA, J.H., MUTHIGA, N., POLASKY, S., HALPERN, B.S., KENNEDY, C.J., KAPPEL,C.V., WOLANSKI E. Non-linearity in ecosystem services: temporal and spatial variability in coastal protection Front. Ecol. Environ. 7(1), 29–37, doi:10.1890/080126, 2009. KOLKWITZ R, MARSSON M. Oekologie der tierischen Saprobien. Internationale Revue der gesamten. Hydrobiologie und Hydrographie. 2:126-152, 2007. LEI, A-P., HU, Z-L.,WONG, Y-S., TAM, N.F-Y. Removal of fuoranthene and pyrene by different microalgal species. Bioresour. Technol. 98, 273–280, 2007. LI, H.; ZHAO, Q.; BOUDFADEL, M.C.; VENOSA, A. A universal nutrient application strategymfor the bioremediation of oil-polluted beaches. Mar. Pollut. Bull. 54, 1146-1161, 2007. MACFARLANE G.R.; BURCHETT M.D. Photosynthetic Pigments and Peroxidase Activity as Indicators of Heavy Metal Stress in the Grey Mangrove, Avicennia marina (Forsk.) Vierh. Mar. Pollut. Bull. 42, 3, 233-240, 2001. MEYER, U.; HAGEN, W.; MEDEIROS, C. Mercury in a northeastern Brazilian mangrove area, a case study: potential of the mangrove oyster Crassostrea rhizophorae as bioindicator for mercury. Mar. Biol. 131, 113-121, 1998. MORALES-CASELLES, C.; MARTÍN-DÍAZ, M.L.; RIBA, I.; SARASQUETE, C.; DELVALLS, T.A. Sublethal responses in caged organisms exposed to sediments affected by oil spills Chemosphere 72, 819–825, 2008. NUDI, A.H.; WAGENER, A.L.R.; FRANCIONI, E.; SCOFIELD, A.L.; SETTE C.B.; VEIGA, A. Validation of Ucides cordatus as a bioindicator of oil contamination and bioavailability in mangroves by evaluating sediment and crab HPA records. Environ. Internat.33, 315–327, 2007. OWEN, J. The environmental management of oil tanker routes in UK waters. Mar. Policy 23, 289–306, 1999. PEIXOTO R., CHAER G.M., CARMO F.L., ARAÚJO F.V., PAES J.E., VOLPON A., SANTIAGO G.A., ROSADO A.S. Bacterial Communities Reflect the Spatial Variation in Pollutant Levels in Brazilian Mangrove Sediment. Antonie van Leeuwenhoek, 99, 341-354, 2011. REYNAUD, S.; DESCHAUX, P. The effects of 3-methylcholanthrene on lymphocyte proliferation in the common carp (Cyprinus carpio L.) Toxicology 211, 156–164, 2005. SANTOS H.F., CARMO F.L., PAES J.E.S., ROSADO A.S., PEIXOTO R.S. Bioremediation of Mangroves Impacted by Petroleum. Water Air Soil Poll. DOI: 10.1007/s11270-010-0536-4, 2010a. SANTOS H.F., CARMO F.L., CURY J., ROSADO A.S., PEIXOTO R.S. 18S rDNA sequences from microeukaryotes reveal oil indicators in mangrove sediment. Plos One 5(8): e12437, 2010b. SANTOS H.F., CARMO F.L., CURY J., LOPES, A.L., TIEDJE, J., van ELSAS, J.F., ROSADO A.S., PEIXOTO R.S. Mangrove bacterial diversity and the impact of oil contamination revealed by pyrosequencing: Bacterial proxies for oil pollution. Plos One PONE-D-11-00505 10.1371/journal.pone.0016943, 2011. SEMADS. Manguezais educar para proteger. Proj. Planágua FEMAR. 95, 2001. TOLOSA, I., MORA, S.J., FOWLER, S.W., VILLENEUVE, J-P., BARTOCCI, J., CATTINI, C. Alipahtic and aromatic hydrocarbons in marine biota and coastal sediments from the Gulf and the Gulf of Oman. Mar. Pollut. Bull. 50, 1619–1633, 2005. TORRES, M.A., TESTA, C.P., GASPARI, C.G., MASUTTI, M.B., PANITZ, C.M.N., CURIPEDROZA, R., ALMEIDA, E.A., DI MASCIO, P., WILHELM FILHO, D. Oxidative stress in the mussel (Mytella guyanensis) from polluted mangroves on Santa Catarina Island, Brazil. Mar. Pollut. Bull. 44, 923–932, 2002. TORRES A.M., BARROS M.P., CAMPOS S.C.G., PINTO E., RAJAMANI S., SAYRE R.T., COLEPICOLO P. Biochemical biomarkers in algae and marine pollution: A review. Ecotoxicol. Environment. Saf., (71) 1– 15, 2008 UENO, D., WATANABE, M., SUBRAMANIAN, A., TANAKA, H., FILLMANN, G., LAM, P.K.S., ZHENG, G.J., MUCHTAR, M., RAZAK, H., PRUDENTE, M., CHUNG, K.H., TANABE, S. Global pollution monitoring of polychlorinated dibenzo-p-dioxins (PCDDs) furans (PCDFs) and coplanar polychlorinated biphenyls (coplanar PCBs) using skipjack tuna as bioindicator. Environ. Pollut. 136, 303–313, 2005. WAKE, H. Oil refineries: a review of their ecological impacts on the aquatic environment. Estuar. Coast. Shelf Sci. 62, 131–140, 2005. YANG, Q., TAM, N.F.Y., WONG, Y.S., LUAN, T.G., WU, W.S., LAN, C.Y., SHIN, P.K.S., CHEUNG, S.G. Potential use of mangroves as constructed wetland for municipalsewage treatment in Futian, Shenzhen, China. Mar. Pollut. Bull., 57, 735–743, 2008. 13 Ciência in Foco PRODUÇÃO DE CELULOSE BACTERIANA: UMA NOvA TENDÊNCIA Angela Faustino Jozala, André Moreni Lopes, Leticia Célia de Lencastre novaes, Adalberto Pessoa Junior Universidade de São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica. introDução A necessidade de desenvolvimento de novos materiais e da adaptação dos já existentes, para uso biotecnológico, levaram ao surgimento de uma nova área de pesquisa: os biomateriais. Uma das definições correntes diz que biomateriais são “materiais (sintéticos ou naturais; sólidos ou, às vezes, líquidos) utilizados em dispositivos médicos ou em contato com sistemas biológicos” (Ratner, 2004). Outra definição encontrada na literatura é “parte de um sistema que trata, aumenta ou substitua qualquer tecido, órgão ou função do corpo” (Helmuse e Tweden, 1995). O desenvolvimento de novos materiais ou dispositivos capazes de interações específicas com os tecidos biológicos (Croce et al.,2004), busca a utilização de materiais biocompatíveis que devem servir como suporte e arquitetura para o crescimento de células in vitro, organizando e desenvolvendo o tecido que posteriormente será implantado no paciente. A expansão das pesquisas tem acentuado a busca de novas classes de polímeros biodegradáveis e biocompatíveis com bioatividade específica e controlável (Madihally e Matthew, 1999), para serem usados como suportes para culturas celulares (scaffolds) (Nehrer et 14 al., 1997), na tentativa de reconstruir tecidos in vitro. Nos últimos anos, uma grande variedade de biomateriais vem sendo desenvolvida com diferentes propriedades físico-químicas e mecânicas, dependendo da aplicação biomédica prevista, incluindo regeneração tecidual, sistemas de liberação de medicamentos, novos enxertos vasculares, ou suportes para engenharia de tecidos in vitro e in vivo (Czaja et al., 2007; Serrano et al., 2004). Assim, para que um biomaterial possa ser vinculado ao corpo humano ele deve satisfazer a uma série de exigências. Além de biocompatível e biofuncional, deve ser atóxico, fácil de esterilizar e apresentar propriedades mecânicas adequadas, dependendo do propósito da aplicação (Vert et al., 1992). De um modo geral um material biocompatível não deve provocar reação inflamatória crônica ou aguda do tecido e não deve apresentar diferenças significativas entre o material implantado e o material circunvizinho. O biomaterial deve garantir não só a restauração do tecido, mas também deve garantir que não exerça, a longo ou médio prazo, qualquer distúrbio ao corpo do paciente. Portanto, a escolha do material é crítica. Obter a biocompatibilidade representa uma tarefa interdisciplinar, que envolve pes- quisadores de varias áreas (Schaldach, 2000). Dessa maneira, a interação das células com as superfícies dos materiais é de extrema importância na efetividade de implantes médicos (Craighead et al., 2001), podendo definir o seu grau de rejeição. O conhecimento dos mecanismos básicos de interação célula-material e um melhor entendimento dos processos em nível celular durante a adesão podem colaborar para o desenvolvimento de novos biomateriais e para o desenvolvimento de novos produtos biomédicos (Kumari et al., 2002). Um dos desafios, nesta área de pesquisa, envolve abordagens interdisciplinares e tecnologias que vão da biologia à engenharia. Avanços recentes no campo de biomateriais e suas aplicações médicas indicam a importância e o potencial de vários polissacarídeos de origem microbiológica no desenvolvimento de novas classes de materiais biomédicos (Czaja et al., 2006). Dentre estes materiais encontra-se a celulose bacteriana. celulose BActeriAnA A celulose bacteriana possui uma nanoestrutura fibrilar única que determina propriedades físicas e mecânicas características, que lhe conferem papel bastante promissor na medicina moderna e nas pesquisas biomédicas (Czaja et al., 2007). Algumas questões a respeito deste biomaterial necessitam maior investigação. Ainda não há indicações claras do seu mecanismo de ação, mas acredita-se que seja promovido pela sua nanoestrutura característica, que proporciona condições favoráveis para a cura de feridas e regeneração tecidual (Hoenich, 2006). A celulose bacteriana é um polímero linear de glicose, altamente cristalino, sintetizado extracelularmente pela bactéria Gluconacetobacter xylinus na forma de nanofibras. Diferentemente da celulose vegetal, a celulose bacteriana é produzida de forma pura, livre de outros polímeros (como hemicelulose e lignina) e também não contém componentes de origem animal. Deste modo, a celulose bacteriana pode ser considerada um material biocompatível (Sanchavanakit et al., 2006). É altamente hidrofílica e tem a possibilidade de ser moldada em estruturas tridimensionais durante sua síntese (Helenius et al., 2006). Sua estrutura nanofibrilar, além de suas propriedades já citadas, a torna uma matriz ideal para ser utilizada em dispositivos médicos, seja como auxiliar na cura de lesões dérmicas (Czaja et al., 2007) ou na engenharia de tecidos, auxiliando a regeneração celular (Fontana et al., 1990; Sanchavanakit et al., 2006).(Figuras 1 e 2). A celulose bacteriana é um biomaterial promissor visto que possui alta resistência no estado úmido, moldabilidade in situ, biocompatibilidade, relativa simplicidade e baixo custo de produção (Svensson et al., 2005). Um substituto dérmico ideal deve ser capaz de funcionar como guia para que as células sintetizem componentes da matriz extracelular na reparação de áreas teciduais (Croce et al., 2004). Neste contexto, a celulose bacteriana vem sendo utilizada em diversas aplicações médicas, como por exemplo, em enxertos e substitutos temporários de pele e como curativos no tratamento de lesões, queimaduras e úlceras; visto que auxilia no alívio das dores causadas pelas feridas, protege contra infecções e acelera o processo de cicatrização (Fontana et al., 1990; Mayall et al., 1980; Sanchavanakit et al., 2006). (Figura 3). OH OH OH HO ... O O HO O O ... HO O O OH OH Figura 1. Estrutura química da celulose bacteriana (Fonte: Klemm et al., 2001). Figura 2. Microscopia eletrônica de Varredura (MEV) da rede de celulose bacteriana, mostrando as bactérias excretando as nanofibras celulósicas (Fonte: Iguchi and Yamanaka, 1997). PRODUÇÃO MICROBIANA DA CELULOSE Apesar das promissoras expectativas em torno desse biomaterial em dispositivos biomédicos, o processo de obtenção dessas membranas em larga escala necessita de estudos mais detalhados, objetivando a compreensão e melhoria do cultivo da G. xylinus (Czaja, et al., 2007) e a caracterização das diferentes propriedades estruturais nas membranas de celulose produzidas, bem como modificações deste biomaterial visando a um melhoramento nas interações células-material. Os processos de obtenção da celulose bacteriana podem levar até 120 horas de cultivo e ainda a variação dos componentes nutricionais pode levar a diferentes formações estruturais da celulose. Alguns trabalhos descritos na literatura desenvolveram diferentes meios de cultura com o objetivo de aumentar o rendimento de produção da celulose bacteriana, bem como obter sua melhor definição estrutural. O meio de cultura apresentado como padrão na produção da celulose bacteriana foi definido por Hestrin&Schramm (1954). Este meio de cultura é comumente utilizado como base de estudo para melhoria de produção da celulose bacteriana, pois há interesse em utilizar fontes com menor custo e alto rendimento de produção (Mikkelsen et al., 2009; Nguyen et al.; 2008, Kurosumi et al., 2009). Mikkelsen e colaboradores (2009) estudaram a influência de diferentes fontes de carbono, principal elemento na formação da celu- 15 Figura 3. Algumas aplicações médicas da celulose bacteriana. a) tubos de celulose bacteriana para implantes em vasos sanguíneos, b) d) e e) Celulose bacteriana aplicada em queimaduras e c) membrana de celulose bacteriana (Adaptação das Fontes: Klemm et al., 2001; Czaja et al., 2006). lose bacteriana e obtiveram rendimentos de 2.5g.L-1 de celulose. Com base neste principal elemento de formação da celulose, Kurosumi e colaboradores (2009) produziram celulose bacteriana através do cultivo da G. xylinus em meios de cultura contendo suco de abacaxi, laranja, maça e uva (separadamente) com a suplementação de fontes nitrogênio, contidas no meio de cultivo padrão, sugeridas por Hestrin&Schramm. Atualmente os problemas que envolvem o meio ambiente estão sendo abordados com maior evidência, pois há preocupação com a transformação de processos ambientalmente inviáveis em sistemas sustentáveis que beneficiem a sociedade. Sendo assim, trabalhos que utilizem resíduos, como por exemplo, em meios de cultivo, promovem a redução dos custos de produção e de poluição ambiental, tornando-se cada vez mais relevantes (Arauz et al., 2009). Baseados no incentivo de processos que gerem a inovação de produtos aplicáveis à saúde associados à sustentabilidade e trazendo melhorias significativas em produtos e processos (Manual de Oslo 2006), são importantes os estudos que objetivem a obtenção de biomaterial através da utilização de resíduos como meio de cultivo. Neste sentido, o desenvolvimento de processo que utilize meios de cultura oriundos de resíduos da indústria de alimentos (suco de frutas e lacticínios) e que são propícios ao desenvolvimento de celulose bacteriana pelas células de G. xylinus sem adição de fontes nutricionais extras vem sendo conduzidos (Figura 4). Estudos com estes objetivos estão em desenvolvimento no Laboratório de Biotecnologia Farmacêutica da FCF/USP. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RATNER, B.D. Biomaterials Science: An Introduction to Materials in Medicine, 840p., 2004. HELMUSE, M.N.; TWEDEN, K. Materials Selection. In: Encyclopedic Handbook of Biomaterials and Bioengineering, Part A, v.1, p.27-59, 1995. Figura 4. Celulose bacteriana produzida nos seguintes meios de cultura: (A) Suco de Frutas e Soro de Leite; (B) padrão Hestrin&Schramm; e (C) Suco de frutas. 16 CROCE, M. A.; SILVESTRI, C.; GUERRA, D.; CARNEVALI, E.; BORALDI, F.; TIOZZO, R.; PARMA, B. Adhesion and proliferation of hu- man dermal fibroblasts on collagen matrix. J Biomater Appl, v.18, n.3, p.209-22. 2004. MADIHALLY, S. V.; MATTHEW, H. W. T. Porous chitosan scaffolds for tissue engineering. Biomaterials, v.20, n.12, p.1133-1142. 1999. NEHRER, S.; BREINAN, H. A.; RAMAPPA, A.; SHORTKROFF, S.; YOUNG, G.; MINAS, T.; SLEDGE, C. B.; YANNAS, I. V.; SPECTOR, M. Canine chondrocytes seeded in type I and type II collagen implants investigated in vitro. Journal of Biomedical Materials Research, v.38, 1997. CZAJA, W. K.; YOUNG, D. J.; KAWECKI, M.; BROWN, R. M. The future prospects of microbial cellulose in biomedical applications. Biomacromolecules, v.8, n.1, p.1-12. 2007. SERRANO, M. C.; PAGANI, R.; VALLET-REGI, M.; PENA, J.; RAMILA, A.; IZQUIERDO, I.; PORTOLES, M. T. In vitro biocompatibility assessment of poly(epsilon-caprolactone) films using L929 mouse fibroblasts. Biomaterials, v.25, n.25, p.5603-5611. 2004. VERT, M.; LI, S.M.; SPENHAUER, G.; GUERIN, P. Biosorbability and biocompatibility of aliphatic polyesters. J. Mater. Sci. Mater. Med., v.3, p.432-446, 1992. SCHALDACH, M. Cardiologia cirúrgica: persperctivas para o ano de 2000. Biomateriai, Cap. 3, 2000. CRAIGHEAD, H. G.; JAMES, C. D.; TURNER, A. M. P. Chemical and topographical patterning for directed cell attachment. Current Opinion in Solid State & Materials Science, v.5, n.2-3, p.177-184. 2001. KUMARI, T. V.; VASUDEV, U.; KUMAR, A.; MENON, B. Cell surface interactions in the study of biocompatibility. Trends in biomaterials and artificial organs , v.15, n.2, p.37-41. 2002. CZAJA, W.; KRYSTYNOWICZ, A.; BIELECKI, S.; BROWN, R. M., JR. Microbial cellulose-the natural power to heal wounds. Biomaterials, v.27, n.2, p.145-51. 2006. HOENICH, N. Cellulose for medical applications: past, present, and future. BioResources, v.1, n.2, p.270-280. 2006. SANCHAVANAKIT, N.; SANGRUNGRAUNGROJ, W.; KAOMONGKOLGIT, R.; BANAPRASERT, T.; PAVASANT, P.; PHISALAPHONG, M. Growth of human keratinocytes and fibroblasts on bacterial cellulose film. Biotechnology Progress, v.22, n.4, p.1194-1199. 2006. HELENIUS, G.; BACKDAHL, H.; BODIN, A.; NANNMARK, U.; GATENHOLM, P.; RISBERG, B. In vivo biocompatibility of bacterial cellulose. J Biomed Mater Res A, v.76, n.2, p.431-8. 2006. SVENSSON, A.; NICKLASSON, E.; HARRAH, T.; PANILAITIS, B.; KAPLAN, D. L.; BRITTBERG, M.; GATENHOLM, P. Bacterial cellulose as a potential scaffold for tissue engineering of cartilage. Biomaterials, v.26, n.4, p.419-31. 2005. FONTANA, J. D.; DE SOUZA, A. M.; FONTANA, C. K.; TORRIANI, I. L.; MORESCHI, J. C.; GALLOTTI, B. J.; DE SOUZA, S. J.; NARCISCO, G. P.; BICHARA, J. A.; FARAH, L. F. Acetobacter cellulose pellicle as a temporary skin substitute. Appl Biochem Biotechnol, v.24-25, p.253-64. 1990. KLEMM, D.; SCHUMANN, D.; UDHARDT, U.; MARSCH, S. Bacterial synthesized cellulose - artificial blood vessels for microsurgery. Progress in Polymer Science, v.26, n.9, p.1561-1603. 2001. MAYALL, R. C.; MAYALL, A. C.; MAYALL, L. C.; ROCHA, H. C.; MARQUES, L. C. Tratamento das ulceras troficas dos membros com um novo substitute da pele. ReV. Bras. Cir. (Abstract in English) 1990, 80. Hestrin, S.; Schramm, M. Synthesis of cellulose by Acetobacter xylinum. Preparation of freeze-dried cells capable of polymerizing glucose to cellulose. Biochem J 58, 345–352, 1954. Mikkelsen, D., Flanagan B.M., Dykes, G.A., Gidley, M.J.. Influence of different carbon sources on bacterial celluloseproduction by Gluconacetobacter xylinus strain ATCC 53524. Journal of Applied Microbiology. 107, 576–583, 2009. Nguyen, V.T., Gidley, M.J., Dykes, G.A. Potential of a nisin-containing bacterial cellulose film to inhibit Listeria monocytogenes on processed meats. Food Microbiol 25,471– 478. 2008. Kurosumi,a. Sasaki, c, Yamashita, y., Nakamura,y. Utilization of various fruit juices as carbon source for production of bacterial cellulose by Acetobacter xylinum NBRC 13693. Carbohydrate Polymers 76, 333–335. 2009. ARAUZ, L.J., JOZALA, A.F., MAZZOLA, P.G., PENNA, T.C.V. Nisin biotechnological production and aplication: a review. Trends in Food Science and Technology, v.20, p. 146-154, 2009. MANUAL DE OSLO. DIRETRIZES PARA COLETA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS SOBRE INOVAÇÃO, 3ª Ed, OCDE e Eurostat, 2006. Iguchi, M., Yamanaka, S. Industrial use of bacterial cellulose – A review. Proceedings of International Workshop Green Polymer. Bandung-Bogor, 47–54. 1997. 17 Ciência in Foco MICROBIOTA fECAL HUMANA Carla Taddei 1°Secretária da Sociedade Brasileira de Microbiologia, Professora Doutora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades - USP Fernanda F. Oliveira Mestre em Análises Clínicas pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas - USP Cristina Bogsan Doutoranda em Tecnologia de Alimentos pela Faculdade de Farmácia e Bioquímica - USP INTRODUÇÃO O trato gastrointestinal (TGI) humano pode ser considerado um complexo ecossistema, uma vez que alberga uma sofisticada rede de interações entre células do hospedeiro, alimentos e microrganismos (Zoetendal, 2006). O intestino é considerado o maior órgão imunológico do corpo humano, abrigando cerca de 80% das células imunológicas e é responsável pela produção de um terço de anticorpos, necessários no Sistema Imunológico Inato e Adaptativo (Ouwehand, 2002). Com relação aos microrganismos, o TGI alberga o maior número e a maior diversidade de espécies bacterianas que colonizam o corpo humano. Embora as bactérias possam ser encontradas em todo o TGI, o maior número de bactérias reside no cólon e no ceco. A população 11 14 microbiana do TGI varia de 10 a 10 UFC/mL no conteúdo intestinal. Estimase a existência de aproximadamente 400 a 1.000 espécies diferentes de micro-organismos, a maioria bactérias (Magalhaes et al., 2007). Mais de 99% da microbiota fecal cultivável é representada por apenas 30-40 espécies bacterianas, o que reflete a dificuldade ainda existente em se conhecer a diversidade de micro-organismos que residem no TGI. 18 O entendimento da microbiota intestinal humana era limitado às técnicas microbiológicas convencionais, porém, o sequenciamento dos genes de RNA ribossomal 16S (rRNA) de bactérias fecais e de mucosa facilitaram a identificação e classificação bacteriana (Eckburg, Bik et al., 2005; Palmer, Bik et al., 2007). O estudo da comunidade bacteriana usando técnicas metagenômicas revelou uma diversidade muito maior dos domínios bacteriano e archaeal que o existente anteriormente e ajudou a determinar a estrutura de ecossistemas antigamente desconhecidas (Macfarlane e Macfarlane, 2004; Gill, Pop et al., 2006; Frank e Pace, 2008). O uso de técnicas moleculares para o estudo da microbiota fecal tem contribuído para a aplicação de métodos rápidos e independentes de cultivo e tem revelado grande diversidade da microbiota nas amostras analisadas. No entanto, podese argumentar que a informação obtida a partir da análise da microbiota das fezes não fornece resultados precisos sobre a microbiota de mucosa intestinal. A definição exata da microbiota da mucosa intestinal ainda é muito difícil uma vez que os procedimentos de coleta são invasivos a informação obtida a partir da análise da microbiota das fezes não fornece resultados precisos sobre a microbiota de mucosa intestinal. Porém, alguns estudos demonstraram que a microbiota fecal reflete na microbiota do colón intestinal (Tannock, 2005). As amostras colhidas por biópsias do cólon intestinal não estão livres de contaminação, pois o fluido fecal continua presente na superfície do intestino. Portanto, não está claro o que exatamente está sendo descrito nos estudos atuais, se é a composição de mucosa ou contaminação da comunidade fecal (Tannock, 2005). O sequenciamento genético 16S rRNA mostrou que as especies não cultivaveis representam parte substancial da microbiota intestinal. Através de técnicas de clonagem Eckburg, Bik et al. (2005) encontraram que Bacteroidetes e Firmicutes compreendem mais de 90% do todos os filotipos bacterianos e que M. smithii, bactéria metanogênica, domina o domínio Archaea. A microbiota bacteriana intestinal tem papel fundamental na proteção ecológica do hospedeiro, impedindo o estabelecimento de bactérias patogênicas. As bactérias da microbiota inibem o crescimento de bactérias patogênicas (antagonismo), produzindo substâncias antimicrobianas, além de competirem por nutrientes e sítios de adesão. Este fenômeno é conhecido como “resistência à colonização” (Tannock, 2001). Outra função atribuída à microbiota intestinal está relacionada à sua contribuição para a nutrição e o metabolismo do hospedeiro. Esta contribuição pode ser evidenciada pela sua capacidade de interferir no pH do intestino e na motilidade intestinal, favorecendo a absorção de íons e água e na diferenciação de células da mucosa. A microbiota ainda exerce atividade bioquímica, produzindo vitaminas do complexo B e K as quais são utilizadas pelo hospedeiro (Grolund et al., 1999). Além disso, a microbiota degrada carboidratos ingeridos pela alimentação, produzindo substratos absorvidos pela célula intestinal do hospedeiro (Hooper, 2009). Foi demonstrado que alguns micro-organismos da microbiota intestinal são capazes de produzir grandes variedades de ácidos graxos bioativos e metabólitos, tais como o ácido linoleico conjugado (CLA), ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), gama-amino ácido butírico (GABA), que têm mostrado grande potencial no tratamento de doenças como o câncer, obesidade e doenças cardiovasculares. Um papel fundamental dos ácidos graxos de cadeia curta na fisiologia do cólon é o seu efeito trófico sobre o epitélio intestinal, além de estimular a proliferação e a diferenciação das células epiteliais (Wall et al., 2009). Imunomodulação A mucosa intestinal humana é a principal interface entre o sistema imunológico e o ambiente externo. A microbiota tem efeito estimulante no desenvolvimento do sistema imunológico do hospedeiro. Nos animais de experimentação isentos de bactérias, os nódulos linfáticos são menores e menos frequentes. O efeito estimulante da microbiota no tecido imunológico do hospedeiro está envolvido em aspectos da resistência que são importantes nos estágios iniciais das infecções pelos patógenos. No TGI, existe um estado de modulação imunológica constante. Enquanto o sistema imunológico está pronto para responder contra bactérias patogênicas, também é capaz se manter tolerante em relação à microbiota, que é um processo ativamente mantido (Mounttzouris et al., 2002; Schiffrin & Blum, 2002). A microbiota desempenha Figura 1. Esquema do tecido linfoide associado ao intestino (GALT), com estruturas linfóides organizadas, como placas de Peyer e linfonodos mesentéricos, como também linfócitos distribuídos difusamente e plasmócitos na lâmina própria, além de linfócitos intraepitelial. Macrofagos e células dendríticas estão presentes tanto em compartimentos linfóides organizados como difusos (Adlerberth, 2009). papel importante no desenvolvimento e na expansão dos tecidos linfoides e na homeostasia da imunidade intestinal (Gaskins et al.,2008). O sistema imune inato possui receptores de reconhecimento de padrões (PRR), que têm como alvos estruturas moleculares comuns a grandes grupos de patógenos e não ao hospedeiro. Essas estruturas são denominadas padrões moleculares associados à patógenos (PAMP). Membros de várias famílias de proteínas funcionam como PRR e são expressas em células responsáveis pela primeira linha de defesa do organismo, como as células epiteliais e também as células apresentadoras de antígeno, representadas por macrófagos e células dendríticas (Medzhitov & Janeway, 2000). No intestino, duas classes de receptores têm papel crucial no reconhecimento de patógenos pelo sistema imune de mucosa; os receptores Toll-like (TLR) e Nod (NLR). O sistema imunológico inato reconhece um grande número de estruturas moleculares de bactérias, como os componentes da parede bacteriana (lipopolissacarídeos, peptideoglicanos e ácidos lipoteicoicos) e a flagelina, componente do flagelo bacteriano. Diferentes estruturas ativam diferentes TLR: o TLR2 reconhece pepitideoglicanos e ácido lipoteicoico; o TLR3 reconhece RNA- dupla-fita, comuns em vírus; o TLR4 é o receptor de lipopolissacarídeos (LPS), o principal componente da parede de bactérias Gram negativas; e o TLR5 reconhece a flagelina. A ligação de componentes dos microorganismos com esses receptores induz o recrutamento de proteínas adaptadoras específicas que transduzem o sinal, ativando quinases e fatores de transcrição, como NF-kB e STAT-1, com subsequente produção de mediadores inflamatórios, como citocinas e quimiocinas (Bedani & Rossi, 2009). As células epiteliais do intestino humano e as células da lâmina própria 19 expressam TLR3 e TLR5, porém pouco TLR2 e TLR4. Estudos mostraram que TLR2 e TLR4 são expressos apenas em células epiteliais das criptas e que esta expressão foi perdida com a maturação das células no lúmen intestinal. A falta de TLR2 de TLR4 e do co-receptor CD14 (necessário para resposta ao LPS) e outras moléculas nas células epiteliais, provavelmente explica a ausência de resposta imunológica ao LPS das bactérias comensais. Porém, a presença de TLR5 permitiria ao epitélio intestinal responder às infecções mediadas por bactérias comensais flageladas, bem como às bactérias enteropatogênicas (Winkler et al., 2007; Furrie et al., 2007). No entanto, foi demonstrado que o receptor TLR5 é expresso apenas na região basolateral das células intestinais, evitando assim o reconhecimento das bactérias comensais (Gewirtz et al., 2001). Os receptores NOD (NLR), que estão localizados no citosol celular, NOD1 e NOD2 estão envolvidos no reconhecimento de pepitideoglicanos, um importante componente da parede celular bacteriana. O estímulo destas proteínas, de maneira similar aos TLR, induz a produção de mediadores inflamatórios, como citocinas e quimiocinas (Magalhaes et al., 2007). Além disso, as células dendríticas têm a capacidade de capturar as bactérias no lúmen intestinal e induzir a produção de células B e IgAs bactéria específica, que limitam a invasão bacteriana pelo do epitélio intestinal. Deste modo, o sistema imunológico inato e adaptativo utiliza mecanismos para a detecção de bactérias e colabora para limitar o acesso ao epitélio intestinal. Embora as bactérias simbióticas sejam toleradas no lúmen intestinal, as mesmas são rapidamente fagocitadas e eliminadas por macrófagos e células dendríticas residentes quando atravessam a barreira epitelial. Estes mecanismos são importantes para manter a simbiose, sem causar danos à saúde do hospedeiro (Hooper, 2009). Microbiota infantil Ao nascimento, as mucosas do recém-nascido são estéreis. A colonização ocorre progressivamente após o parto. 20 No intestino, a população microbiana inicial é bastante heterogênea. Mecanismos regulatórios gerados dentro dos habitats (como imunidade e condições físico-químicas do meio) e forças externas (tipos de nutrientes, contaminação ambiental e uso de antimicrobianos) permitem a presença continuada de alguns tipos de micro-organismos e a eliminação de outros. Posteriormente, a composição da microbiota se torna mais estável, e a comunidade bacteriana normal do adulto é alcançada (comunidade clímax) (Tannock, 2001). As crianças atingirão uma microbiota com características de adulto ou comunidade clímax em torno dos 2 anos de idade. A partir deste período, embora a microbiota intestinal permaneça em interação permanente com micro-organismos do meio ambiente, sua composição se mantém estável. Alterações neste equilíbrio poderão ser observadas em condições patológicas, como por ocasião de infecções intestinais, uso de antibióticos e tratamento imunossupressor (Penders, 2007). De maneira geral, as bactérias anaeróbias facultativas, como Escherichia coli, Staphylococcus, Enterococcus faecalis e E. faecium, são as primeiras bactérias a colonizarem o TGI do recémnascido, devido ao elevado teor de oxigênio que existe inicialmente. À medida que estas bactérias consomem o oxigênio, o meio se torna mais adequado para as bactérias anaeróbias estritas (Bifidobacterium, Bacteroides e Clostridium). Depois disso, pouco se sabe sobre a identidade e a época de entrada dos outros componentes do ecossistema digestivo (Adlerberth, 1999). Fatores internos e externos interferem no processo de colonização da mucosa intestinal (Tannock, 1999 e 2001). Os fatores internos estão relacionados às condições do hospedeiro, tais como desenvolvimento anatômico do TGI, movimentos peristálticos, ácidos biliares, pH intestinal e resposta imune, assim como contemplariam as inter relações microbianas, quantidade e qualidade dos receptores de mucosa e terapias medicamentosas. Os fatores externos dependem do ambiente ao qual este hospedeiro está inserido e incluem carga de bactérias do meio ambiente, composição da microbio- ta materna, forma de nascimento e alimentação (Fanaro et al., 2003). Alguns fatores favorecem a implantação de bactérias consideradas benéficas ao organismo, como Lactobacillus e Bifidobacterium, no TGI dos recémnascidos, como o “fator bífido” (oligossacarídeos), presentes em quantidade elevada somente nas secreções lácteas humanas. O fator bífido é utilizado por bactérias bífidas, podendo ser considerado, portanto, como fator de crescimento que favorece a implantação específica dessas bactérias no trato digestivo do recém-nascido humano. Uma vez instaladas, juntamente com a baixa capacidade tamponante do leite humano, permitem também a melhor atuação das bactérias produtoras de ácido lático, devido a redução do pH intestinal, tornando o ambiente desfavorável ao crescimento de microrganismos patogênicos (Cummings, 2000). O desenvolvimento da microbiota intestinal é afetado também pela região geográfica em que a criança nasce e esse fato é descrito até mesmo em países do mesmo continente. A formação da microbiota parece diferir entre crianças que vivem em países desenvolvidos e países em desenvolvimento, podendo, este fato, ser atribuído a elevados níveis de contaminação ambiental que as crianças de países em desenvolvimento são expostas no início da vida (Adlerberth, 2008). De acordo com a hipótese da higiene, práticas mais rigorosas de higiene adotadas em países desenvolvidos podem modificar a exposição microbiana inicial, e, consequentemente, o padrão da microbiota intestinal desses recém-nascidos causando impacto negativo sobre a regulação imunológica, possivelmente levando à maior incidência de doenças alérgicas e autoimunes observadas nesses países (Penders, et al.,2006). Mirobiota do adulto A microbiota do adulto alberga 1014 UFC, ou 60% da massa fecal (Aldeberth, 2009). Neste ambiente, não há oxigênio, e as bactérias facultativas ou anaeróbicas são as residentes deste ecossistema, obtendo energia de processos metabólicos anaeróbicos. A microbiota difere entre cada indivíduo, porém, a composição desta parece ser homogênea do cólon distal até o reto. Bacteroides, Bifidobacterium e os clusters XIV e IV de Clostridium (contendo gêneros como Eubacterium, Ruminococcus, Veillonella e Faecalibacterium, pertencentes ao filo Firmicutes) dominam entre os adultos. Lactobacillus são identificados em cerca de 80% dos indivíduos, porém, em baixo número. Membros da família Enterobacteriaceae representam menos de 1% da composição desta microbiota. Poucos estudos mostram esse ecossistema no intestino delgado, onde o oxigênio é abundante e bactéria aerotolerantes como Lactobacillus e Streptococcus são dominantes (Aldeberth, 2009). Mesmo após o estabelecimento da composição da micorbiota na infância, ao longo dos anos, a idade avançada também parece ser um fator determinante para a composição de microbiota. Em indivíduos idosos, há um predomínio de gêneros como Clostridium, Bacteroides e Lactobacilus e um acentuado declínio de Bifidobacterium (Hayashi et al, 2003). Interessantemente, a bactéria Feacalibacterium prausnitzzi foi relatada em abundância na composição da microbiota em idosos. Esta bactéria em especial possui um perfil antiinflamatório uma vez que induz a secreção de baixos níveis de IL-12 e IFN- e altos níveis de IL-10. Este bactéria possui uma razão IL-10/IL-12 maior que Lactobacillus salivariums Ls33, mundialmente conhecida por seus efeitos antiinflamatórios (Sokol et al, 2008). Microbiota e obesidade A obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo acumulo excessivo de gordura (Carvalho, Dutra et al., 2009). Sua etimologia é complexa e multifatorial, resultado da interação genética, ambiente, estilo de vida e fatores emocionais. Além disso, a obesidade representa um fator de risco a muitas doenças crônicas como dislipidemia, diabete, hipertensão e hipertrofia vascular (Duvnjak e Duvnjak, 2009). A prevalência de obesidade aumentou dramaticalmente nos últimos trinta anos e se tornou uma pandemia. Não apenas adultos, mas crianças e adolescentes estão se tornando obesos (Hill, Wyatt et al., 2003; Kalliomaki, Collado et al., 2008). O tratamento da obesidade através da mudança de estilo de vida nem sempre é eficaz por muito tempo devido a dificuldade enfrentada com as grandes mudanças permanentes na dieta e atividades físicas que são requeridas para manter o peso (Hill e Wyatt, 2002; Tsai e Wadden, 2005). Uma estratégia alternativa seria promover pequenas mudanças de hábitos quando se inicia o ganho de peso (Hill, 2009). Muitas pessoas que perdem peso através da modificação extrema de estilo de vida recuperam esse peso ao longo do tempo (Tsai e Wadden, 2005). Há evidencias que alterações na microbiota intestinal impactam no desenvolvimento da obesidade devido as diferenças encontradas na microbiota de obesos, não-obesos e diabéticos tipo-2 (Raoult, 2008; Cani, P. D. e Delzenne, N. M., 2009). A microbiota intestinal se mantém constante depois da transformação de microbiota infantil em adulta, no entanto, podem ocorrer mudanças transitórias derivadas de fatores alimentares como demonstraram Ley, Backhed et al. (2005). A estabilidade da microbiota é possível devido ao reconhecimento e tolerância do sistema immune de mucosas adquirida durante a infância (Ouwehand, Salminen et al., 2002). Alguns estudos apontam para a diversidade entre a composição bacteriana luminal e de mucosa (Eckburg, Bik et al., 2005), isso devido provavelmente a um grupo de genes compartilhados que definem o microbioma intestinal e várias funções metabólicas (Turnbaugh, Hamady et al., 2009). Estudos comparativos entre adultos mostraram que o genótipo é mais importante que a dieta, idade ou estilo de vida para determinar a composição da microbiota intestinal (Zoetendal, BenAmor et al., 2001). Obesidade Viceral A obesidade visceral é caracterizada pelo excesso de gordura armazenada ao redor do abdomen, e é o primeiro sinal das anormalidades metabólicas, caracterizado como uma inflamação crônica de baixa intensidade, na qual o tecido adiposo apresenta o papel regulatório principal e representa um importante alvo para a síndrome metabólica (Matsuzawa, 2006). O desenvolvimento da obesidade é complexo, envolvendo fatores ambientais e genéticos. Alguns genes estão relacionados com a determinação do peso corporal, afetando apetite, energia e funções metabólicas (Cecil, Tavendale et al., 2008). De acordo com Hill (2006) e Jernas, Palming et al. (2006), a obesidade visceral é resultado de um desequilíbrio energético entre energia absorvida, energia gasta e energia estocada. O excesso de energia é estocado nos tecidos adipócitos como triglicérides. A quantidade de gordura no fígado é determinado pelo balanço entre absorção de ácidos graxos da dieta, síntese de ácidos gráxos endógenos, síntese de triglicérides, oxidação de ácidos graxos e exportação de triglicérides. Mudanças em qualquer um destes parâmetros pode afetar a quantidade de gordura estocada no fígado. As anormalidades metabólicas que acompanham a obesidade incluem hipertensão, comprometimento da tolerância a glicose, resistência a insulina levando a hiperinsulinemia e dislipidemia (Stienstra, Duval et al., 2007). Obesidade Visceral e microbiota intestinal O processo fisiológico que regula peso e metabolismo, incluindo sinais periféricos de fome e saciedade e resposta à ingestão de alimento pelo sistema gastrointestinal tem sido de grande interesse na pesquisa atual (Camilleri, Bueno et al., 2006; Murphy, Dhillo et al., 2006). Evidências recentes sugerem que a microbiota simbionte do trato gastrointestinal humano afeta a aquisição de nutrientes e regulação energética, baseadas na observação de que pessoas obesas e magras apresentarem perfis de microbiotas diferentes. Cani e Delzenne (2009) sugeriram duas vias importantes da microbiota afetar a aquisição de nutrientes e a regulação energética. No primeiro, a microbiota promove a absorção de monossacarídeos, a extração de energia de componentes alimentares não digeríveis (via ácidos graxos de cadeia curta produzidos durante a fermentação), lipogenese hepática via de novo, e armazenamento 21 de gordura nos adipócitos (Backhed, 2010). Na segunda via, os ácidos graxo de cadeia curta, formados a partir da fermentação realizada pela microbiota intestinal atuam não apenas como substratos ao hospedeiro mas também como moléculas de sinalização como receptores acoplados a proteína G (Gpr41, Gpr43). Samuel, Shaito et al. (2008) demonstraram que os camundongos GPR41-/- colonizados com um modelo de comunidade microbiana fermentativa (Bacteroides thetaiotaiomicron e Methanobrevibacter smithii) não ganharam massa adiposa na mesma proporção que os correspondentes wild-type ganharam. Os autores também mostraram que camundongos wild-type germ-free tiveram aumento plasmático do peptidio YY (PYY) anorexogênico, enquanto o camundongo GPR41-/- não apresentou modificação. Não há consenso no quanto a redução de Gpr41 influencia a concentração de PYY e causa a redução das taxas de entrega de nutrientes ao segmento íleo-colônico do intestino. Em contrapartida Delzenne, Cani et al. (2005) mostraram a modulação da microbiota através da fermentação de carboidratos não digeríveis (prebióticos), os quais aumentam as concentrações de ácidos graxos de cadeia curta no ceco e também aumentam a concentração plasmática de PYY, um mecanismo que provavelmente contribua para a redução no consumo alimentar e desenvolvimento de massa corporal. Além disso, com a mudança na microbiota ocorre uma super produção de ácidos graxos de cadeia curta concomitantemente com o aumento de secreção de PYY e esse aumento não acarreta necessariamente em dispersão energética e desenvolvimento de gordura. Atividades metabólicas da microbiota intestinal facilitam a extração de calorias ingeridas na dieta; ajudam a estocar estas calorias no tecido adiposo para uso posterior e prove energia e nutrientes para o crescimento e proliferação microbiológica. Diferenças individuais na captação de energia pode ser a explicação fisiológica para alguns pacientes obesos que não comem em excesso, sugerindo que a microbiota intestinal de cada pessoa apresenta eficiencia metabólica específica com características que podem predispor a obesidade (Backhed, 2010). 22 Enquanto os estudos relacionados a disbiose intestinal durante a obesidade apontam mudanças na quantidade de bifidobactéria Cani, e Delzenne (2009), Kalliomaki, Collado et al. (2008) observaram aumento no número de bifidobactérias e diminuição na quantidade de Staphylococcus aureus quando comparavam crianças de peso normal e obesas aos sete anos de idade, sugerindo que as diferenças na microbiota precedem a obesidade. Bacteroidetes e Firmicutes são as principais divisões bacterianas que diferem consideravelmente entre indivíduos magros e obesos. O camundongo obeso aumenta a concentração de Firmicutes e diminue a concentração de Bacteroidetes quando comparados entre si, corroborando com a teoria de que certas composições de microbiota intestinal extraem mais energia do alimento do que outras (Frank e Pace, 2008). Ley, Peterson et al. (2006) monitoraram a microbiota fecal de 12 pacientes obesos durante a participação de um programa de perda de peso, onde, de forma randômica, foram selecionados a ingerir dieta de baixa caloria restrita em gordura ou dieta de baixa caloria restrita em carboidratos. Assim como nos experimentos em camundongos, as divisões Bacteroidetes e Firmicutes dominaram a microbiota com estabilidade individual bem determinada durante todo o período de estudo. Após a dieta terapia, pacientes obesos apresentaram menos Bacteroidetes e mais Firmicutes que os participantes magros controles. Depois da perda de peso, uma proporção relativa de Bacteroidetes aumentou, enquanto de Firmicutes diminuiu. A correlação feita de acordo com a perda de peso e não com o tipo de dieta hipocalórica mostrou que Bacteroidetes constituem aproximadamente 3% das bactérias intestinais antes da dieta terapia e aproximadamente 15% após a perda de peso. No entanto, Duncan, Lobley et al. (2008) realizaram experimento similar e não encontraram dados que suportem esta hipótese. Ainda não se sabe porque pessoas obesas apresentam mais Firmicutes (DiBaise et al., 2008), no entanto, sabe-se que pessoas obesas apresentam menor diversidade de microbiota do que pessoas magras (Raoult, 2008; Turnbau- gh, Hamady et al., 2009). Este pode ser o primeiro sinal para entender como a dieta afeta a regulação energética e a composição da microbiota individual. Considerações finais Apesar dos avanços obtidos nas últimas décadas no estudo da composição da microbiota fecal com o advento de técnicas moleculares, mais estudos são necessários para entender a modulação deste complexo ecossistema e os fatores que interferem no seu estabelecimento. Estes estudos poderão contribuir ainda para o entendimento dos reais efeitos da microbiota infantil no desenvolvimento de alergias e doenças imunológicas e/ou inflamatórias, possibilitando a intervenção com, por exemplo, o uso de alimentos funcionais na dieta de lactentes, e desta forma, promover o correto desenvolvimento do TGI e garantir seu equilíbrio na idade adulta. Referencias ADLERBERTH I., WOLD AE. - Establishment of the gut microbiota in Western infants. Acta Pediatria. 2008; p. 229-238. Adlerberth, I. - Establishment of normal intestinal microflora in the newborn infant. In: Hanson LA, Yolken RH, editors. Probiotics, Other Nutritional Factors and Intestinal Microflora. Nestlé Nutrition Workshop Series, vol 42. , Philadelphia: Lippincott-Raven Publishers; 1999. p. 63-78. ANDERSSON, A. F. et al. Comparative Analysis of Human Gut Microbiota by Barcoded Pyrosequencing. Plos One [S.I.], v. 3, n. 7, 2008. BACKHED, F. Addressing the gut microbiome and implications for obesity. International Dairy Journal [S.I.], v. 20, n. 4, p. 259-261, 2010. BERDANI, R.; ROSSI, E.A.; Microbiota intestinal e probióticos: Implicações sobre o câncer de colón . Departamento de alimentos e nutrição, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual paulista, Araraquara, São Paulo Brasil. 2009. CAMILLERI, M. et al. Pharmacological and pharmacokinetic aspects of functional gastrointestinal disorders. Gastroenterology [S.I.], v. 130, n. 5, p. 1421-1434, 2006. CANI, P. D.; DELZENNE, N. M. Interplay between obesity and associated metabolic disorders: new insights into the gut microbiota. Current Opinion in Pharmacology [S.I.], v. 9, n. 6, p. 737-743, 2009. GILL, S. R. et al. Metagenomic analysis of the human distal gut microbiome. Science [S.I.], v. 312, n. 5778, p. 1355-1359, 2006. MACFARLANE, G. T.; CUMMINGS, J. H. Probiotics, infection and immunity. Current Opinion in Infectious Diseases, v. 15, p. 501-506, 2002. MACFARLANE, 2000. CARVALHO, K. M. B. et al. Obesidade e Síndrome Metabólica. Barueri: Manole, 2009. (Nutrição nas doenças crônicas não-transmissíveis). Grolund, M.; Lehtonen, O.; Erola, E.; Kero, P. - Fecal microflora in healthy infants born by different methods of delivery: permanent changes in intestnal flora after cesarean delivery. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 1999; 28(1):19-25. CECIL, J. E. et al. An Obesity-Associated FTO Gene Variant and Increased Energy Intake in Children. New England Journal of Medicine [S.I.], v. 359, n. 24, p. 2558-2566, 2008. HILL, J. O. Understanding and addressing the epidemic of obesity: An energy balance perspective. Endocrine Reviews [S.I.], v. 27, n. 7, p. 750-761, 2006. MATSUZAWA, Y. Therapy insight: adipocytokines in metabolic syndrome and related cardiovascular disease. Nature Clinical Practice Cardiovascular Medicine [S.I.], v. 3, n. 1, p. 35-42, 2006. DELZENNE, N. M. et al. Impact of inulin and oligofructose on gastrointestinal peptides. British Journal of Nutrition [S.I.], v. 93, p. S157S161, 2005. ______. Can a small-changes approach help address the obesity epidemic? A report of the Joint Task Force of the American Society for Nutrition, Institute of Food Technologists, and International Food Information Council. American Journal of Clinical Nutrition [S.I.], v. 89, n. 2, p. 477-484, 2009. MEDZHITOV, R., JANEWAY, C. Innate immune Recognition: mechanisms and pathways. Immunological Reviews, 173:97,2000. Mounttzouris, K.C.; McCartney, A.L.; Gibson, G.R. - Intestinal microflora of human infants and current trends for its nutritional modulation. Br J Nutr. 2002; 87:405-20. HILL, J. O.; WYATT, H. Outpatient management of obesity: A primary care perspective. Obesity Research [S.I.], v. 10, p. 124S-130S, 2002. MURPHY, K. G. et al. Gut peptides in the regulation of food intake and energy homeostasis. Endocrine Reviews [S.I.], v. 27, n. 7, p. 719727, 2006. HILL, J. O. et al. Obesity and the environment: Where do we go from here? Science [S.I.], v. 299, n. 5608, p. 853-855, 2003. OUWEHAND, A. C. et al. Probiotics: an overview of beneficial effects. Antonie Van Leeuwenhoek International Journal of General and Molecular Microbiology [S.I.], v. 82, n. 1-4, p. 279-289, 2002. DUNCAN, S. H. et al. Human colonic microbiota associated with diet, obesity and weight loss. International Journal of Obesity [S.I.], v. 32, n. 11, p. 1720-1724, 2008. DUVNJAK, L.; DUVNJAK, M. The metabolic syndrome – an ongoing story. Journal of Physioly and Pharmacology [S.I.], v. 60, p. 19-24, 2009. ECKBURG, P. B. et al. Diversity of the human intestinal microbial flora. Science [S.I.], v. 308, n. 5728, p. 1635-1638, 2005. Fanaro, S.; Chierici, R.; Guerrini, Vigi V. - Intestinal microflora in early infancy: composition and development. Acta Paediatr Suppl, 2003; 441: 48-55. FRANK, D. N.; PACE, N. R. Gastrointestinal microbiology enters the metagenomics era. Current Opinion in Gastroenterology [S.I.], v. 24, n. 1, p. 4-10, 2008. Furrie, E. - A molecular revolution in the study of intestinal microflora. Gut 2006 Feb; 55(2) 141-143 www.gut.bmj.com on 4 december 2007. GASKINS, H.R; CROIX, A.J.; NAKAMURA, N.; NAVA, G.M. Impact the intestinal microbiota on the development of mucosal defense. Clinical Infectious diseases; v. 46 2008. GEWIRTZ, A.T., NAVAS, T.A., GODOWSKI, P.J., MADARA, J.L. Cutting edge: bacterial flagellin activates basolaterally expressed TLR5 to induce epithelial proinflammatory gene expression. J. Immunol., 167:1882-5, 2001. HOPPER,L.V. Do symbiotic bactéria subvert host immunity? Nature Reviews microbiology; vol.7, 2009, p. 367-374. HOOPER, 2007 JERNAS, M. et al. Separation of human adipocytes by size: hypertrophic fat cells display distinct gene expression. Faseb Journal [S.I.], v. 20, n. 9, p. 1540-+, 2006. KALLIOMAKI, M. et al. Early differences in fecal microbiota composition in children may predict overweight. American Journal of Clinical Nutrition [S.I.], v. 87, n. 3, p. 534-538, 2008. LEY, R. E. et al. Obesity alters gut microbial ecology. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America [S.I.], v. 102, n. 31, p. 11070-11075, 2005. ______. Ecological and evolutionary forces shaping microbial diversity in the human intestine. Cell [S.I.], v. 124, n. 4, p. 837-848, 2006. MACFARLANE, S.; MACFARLANE, G. T. Bacterial diversity in the human gut. Advances in Applied Microbiology, Vol 54 [S.I.], v. 54, p. 261289, 2004. MAGALHAES J.G; TATTOLI I.; GIRARDIN S.E. The intestinal epithelial barrier: how to distinguish between the microbial flora and pathogens. Semin Immunol. v.2 , p. 106-15, 2007. PALMER, C. et al. Development of the human infant intestinal microbiota. Plos Biology [S.I.], v. 5, p. 1556-1573, 2007. PENDERS, J.; STOBBRINGH, E.E.; THIJS, C.; ADAMS, H.; VINK, C.; VAN REE, VAN DEN BRANDT, P.A. – Molecular fingerprinting of the intestinal microbiota of infantsin whom atopic eczema was or was not developing. Clin Exp Allergy, v. 36 p. 1602-08. 2006. RAOULT, D. Obesity pandemics and the modification of digestive bacterial flora. European Journal of Clinical Microbiology & Infectious Diseases [S.I.], v. 27, n. 8, p. 631-634, 2008. SAMUEL, B. S. et al. Effects of the gut microbiota on host adiposity are modulated by the short-chain fatty-acid binding G proteincoupled receptor, Gpr41. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America [S.I.], v. 105, n. 43, p. 1676716772, 2008. 23 Schiffrin, E.J.; Blum, S. - Interactions between the microbiota and the intestinal mucosa. Eur J Clin Nutr, 2002; 56(suppl 3):S60-S4. SOKOL, H. et al. Faecalibacterium prausnitzii is an anti-inflammatory commensal bacterium identified by gut microbiota analysis of Crohn disease patients. PNAS v. 105, n. 43, p. 16731–16736. 2008. Tannock GW. New perceptions of the gut microbiota: implications for future research. Gastroenterol Clin North Am. 34(3):361-82, 2005. STIENSTRA, R. et al. The role of PPAR-alpha and PPAR-gamma in obesity-induced hepatic inflammation. Journal of Hepatology [S.I.], v. 46, p. 739, 2007. TURNBAUGH, P. J. et al. A core gut microbiome in obese and lean twins. Nature [S.I.], v. 457, n. 7228, p. 480-U7, 2009. Tannock, G.W. - Molecular assessment of intestinal microflora. Am J Clin Nutr, 2001; 73: 410S-4S. Tannock, G.W. - The normal microflora: an introduction. In: Tannock GW, editor. Medical Importance of Normal Microflora. Netherlands: Kluwer Academic Publishers; 1999. p. 1-23. 24 TSAI, A. G.; WADDEN, T. A. Systematic review: An evaluation of major commercial weight loss programs in the United States. Annals of Internal Medicine [S.I.], v. 142, n. 1, p. 56-66, 2005. WALL, R.; ROSS, R.P.; RYAN,C.A.; HUSSEY,S.; MURPHY, B.; FITZGERALD, G.F.; STANTON, C. Role of Gut Microbiota in Early Infant Development. Clinical Medicine: Pediatrics, 2009, p.45-54. WINKLER, P.; GHADIMI, D.; SCHREZENMEIR,J.; KRAEHENBUHL, JP. Molecular and Cellular Basis of microflora host interaction. J Nutr., 2007; 137(3 Suppl 2) p. 756S-72S. ZOETENDAL EG.; RAJILIC-STOJANOVIC M.; VOS WM. High-throughput diversity and functionality analysis os the gastrointestinal tract microbiota. Recent advances in basic science; 2008. p. 1605-1615. ZOETENDAL, E. G. et al. DNA isolation Protocols affect the detection limit of PCR approaches of bacteria in samples from the human gastrointestinal tract. Systematic and Applied Microbiology [S.I.], v. 24, n. 3, p. 405-410, 2001. Zoetendal EG, Vaughan EE, de Vos WM. A microbial world within us. Mol Microbiol. 59(6):1639-50. 2006 Ciência in Foco ATIvIDADE BIOLÓGICA DE POLISSACARÍDEOS: LIÇÕES ENSINADAS POR MICRORGANISMOS PATOGÊNICOS Marcio L. Rodrigues Laboratório de Estudos Integrados em Bioquímica Microbiana, Instituto de Microbiologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro; Avenida Carlos Chagas Filho, 373, Cidade Universitária CCS, Bloco I. Rio de Janeiro - RJ, 21941-902, Brasil. Telefone: 21 2562 6740, fax: 21 25608344 - [email protected] resuMo Estudos sobre estrutura e função de polissacarídeos em sistemas biológicos classicamente envolvem análise de seqüência e composição de monossacarídeos, configuração anomérica, tipo de ligação glicosídica, ramificações e presença de substituintes. A literatura recente, entretanto, indica que outros parâmetros, até então pouco explorados, parecem influenciar diretamente a atividade biológica de polissacarídeos microbianos. Dentre esses parâmetros, destaca-se a correlação inversa entre as dimensões de polissacarídeos fúngicos e sua atividade imunobiológica. Essas observações recentes sugerem novos conceitos sobre estrutura e função de polissacarídeos, o que pode gerar novas abordagens para o estudo dessas estruturas e suas aplicações práticas. Polissacarídeos são estruturas poliméricas compostas de ao menos dez monossacarídeos conectados seqüencialmente por ligações glicosídicas. Essas estruturas podem ser lineares ou ramificadas, característica observada quando um monossacarídeo constituinte de um polissacarídeo está envolvido em mais de duas ligações glicosídicas. Os polissacarídeos podem ser classificados como homopolissacarídeos, termo usado para indicar um polímero composto de monossacarídeos idênticos, ou hereropolissacarídeos, termo usado para definir polissacarídeos compostos por dois ou mais tipos de monossacarídeos [1]. Os polissacarídeos são componentes estruturais importantes encontrados nos três domínios da vida. Em microrganismos patogênicos, vários estudos demonstram que os polissacarídeos desempenham papéis determinantes para a arquitetura do envelope celular [2]. Em patógenos procarióticos e eucarióticos, são vários os polissacarídeos componentes da superfície celular. Essa distribuição permite que estruturas polissacarídicas influenciem diretamente a interação patógeno-hospedeiro [3-7]. Polissacarídeos capsulares foram alguns dos primeiros determinantes de virulência microbiana descritos na literatura, como demonstrado no clássico experimento de Griffith (revisão em [8]). Nesse estudo pioneiro sobre transferência de ácidos nucléicos e transformação bacteriana, o uso de isolados de Streptococcus pneumoniae, na época identificados como tipo III-S (do inglês “smooth”) e tipo II-R (do inglês “rough”), permitiu o estabelecimento de uma relação direta entre a presença de cápsulas polissacarídicas em bactérias patogênicas e proteção contra as defesas do hospedeiro. O isolado III-S, revestido pela rede de polissacarídeos, foi capaz de sobreviver à resposta imune 25 e causar morte de animais infectados. O isolado II-R, acapsular, mostrou-se avirulento. Posteriormente, ao longo de várias décadas, a associação entre polissacarídeos capsulares e virulência microbiana foi consolidada [9], embora seja claro que, em alguns casos, essas estruturas funcionem em favor do controle da infecção [10-12]. Classicamente, polissacarídeos são considerados antígenos indutores de padrões de imunidade independente de células T, consistindo em ativadores mais eficientes da produção de anticorpos do que da resposta imune mediada por células [13]. Na última década, centenas de estudos demonstraram o papel de polissacarídeos na ativação de mecanismos de imunidade inata (revisão em [10]). A conjugação de polissacarídeos a estruturas protéicas pode gerar estruturas de imunogenicidade aumentada e, de fato, vacinas contendo polissacarídeos contra patógenos procarióticos são comercialmente disponíveis atualmente [14, 15]. Dentre essas, destacam-se vacinas anti-pneumocócicas, baseadas na combinação de polissacarídeos capsulares de Streptococcus pneumoniae de 13 sorotipos individualmente conjugadas a proteína diftérica não tóxica, e conjugados polissacarídeo-toxóide diftérico protetores contra meningococos de quatro sorogrupos diferentes [14, 15]. Os polissacarídeos são fundamentais para mecanismos de patogenicidade e imunidade também nas infecções fúngicas [16]. Ao contrário das células de mamífero, os fungos possuem um envoltório denominado parede celular, estrutura composta majoritariamente de polissacarídeos [4]. Glucanas, quitina e mananas (polímeros formados por unidades repetitivas, respectivamente, de glucose, N-acetilglucosamina e manose) são particularmente abundantes na parede celular de fungos, onde, dependendo de seus aspectos estruturais, funcionam como reguladores de virulência ou ativadores de imunidade inata [4, 11, 12]. O gênero fúngico no qual a função de polissacarídeos no processo infeccioso é conhecida em mais detalhes é o Cryptococcus. O gênero Cryptococcus comporta as espécies patogênicas C. neoformans 26 e C. gattii. Esses são os agentes etiológicos da criptococose, doença que pode atingir o pulmão e, em indivíduos imunocomprometidos, causar danos ao sistema nervoso central e outros órgãos [17]. Estima-se que cerca de um milhão de novos casos de criptococose ocorram anualmente, com índices de letalidade que podem atingir 60% [18]. No Brasil, a criptococose é a doença fúngica de maior índice de letalidade em pacientes HIV-positivos em estágio de imunossupressão [19]. C. neoformans e C. gattii são patógenos eucarióticos leveduriformes que apresentam uma característica singular: a presença de cápsula polissacarídica [20] (Figura 1). Essa é uma característica comum em patógenos bacterianos, mas rara em microrganismos eucarióticos. Em C. neoformans e C. gattii, a cápsula é majoritariamente composta pelos polissacarídeos glucuronoxilomanana (GXM) e glucuronoxilomanogalactana (GXMGal) [20]. O polissacarídeo capsular majoritário em ambas as espécies é a GXM, que consiste de um polímero de unidades de manose α1,3 ligadas com substituições de ácido glucurônico e xilose, formando ligações β1,2 e β1,4 com o esqueleto de manose [20]. É fato, portanto, que ácido glucurônico, xilose e manose são as unidades formadoras da GXM. As particularidades estruturais oriundas das conformações distintas que esses açúcares podem formar, entretanto, se refletem em propriedades sorológicas diferenciadas. Essas propriedades dividem a GXM em quatro principais sorogrupos: A e D, produzidos por C. neoformans, e B e C, produzidos por C. gattii [20]. Para construção da rede capsular, as leveduras secretam os polissacarídeos para o ambiente extracelular por mecanismos que envolvem a liberação de vesículas, para posterior incorporação na superfície celular e crescimento distal da cápsula [21, 22]. Acredita-se que a produção de GXM e liberação para o ambiente extracelular sejam eventos fundamentais para a imunopatogênese da criptococose [20]. Em geral, a GXM é deletéria para o sistema imune [23], embora vários relatos indiquem que esse polissacarídeo seja um potente ativador do sistema complemento e da imunidade inata [16, 20, 24]. Recentemente, foi claramente demonstrado que frações extracelulares de GXM diferem em estrutura e função de amostras de polissacarídeo associado à superfície celular do C. neoformans [25]. Essas observações sugeriram que as leveduras de C. neoformans e C. gattii produzem populações altamente diversificadas de GXM que, mesmo com composição monossacarídica similar, apresentam particularidades estruturais com reflexo direto em sua função. De fato, o grupo liderado pelo Dr. Arturo Casadevall demonstrou em estudo recente que a produção de GXM por C. neoformans inclui fibras polissacarídicas com dimensões moleculares muito variáveis, que interagiriam por mecanismos diversos para formar a malha capsular nessa espécie [26]. Esse estudo permitiu que fossem levantadas questões como: amostras polissacarídicas de composição idêntica, mas com dimensões e graus de polimerização variáveis, apresentarão funções biológicas distintas? A questão levantada acima é fundamentada por observações que se tornaram recentemente disponíveis na literatura científica. A quitina, polissacarídeo encontrado em células fúngicas, de insetos e parasitas, é um polímero insolúvel em água composto de unidades de N-acetilglucosamina formando ligações β1,4. Conforme descrito por Da Silva e colaboradores [27, 28], frações de quitina com dimensões elevadas são imunologicamente inertes. Amostras do polissacarídeo com dimensões reduzidas, entretanto, estiveram associadas à eficiente estimulação de receptores da imunidade inata e produção de citocinas pró- e antiinflamatórias. Essas observações criaram um claro precedente na literatura indicando que amostras polissacarídicas de composição idêntica, mas com dimensões variáveis, podem ter funções diferenciadas. A observação acima descrita e o fato de estruturas capsulares de espécies do complexo Cryptococcus serem compostas por moléculas de GXM de dimensões variadas estão de acordo com a hipótese de que as mesmas poderiam gerar múltiplos efeitos biológicos. Em estudo recente desenvolvido por Fonseca e colegas Figura 1. Polissacarídeos de superfície celular do C. neoformans. O painel à esquerda mostra leveduras contra-coradas com tinta Nanquim; os halos brancos representam a malha capsular. O painel à direita mostra, por microscopia de fluorescência, polissacarídeos capsulares (em verde, corados com anticorpo contra GXM) e de parede (azul, corados com calcofluor white, corante fluorescente para quitina). As regiões da célula coradas em vermelho representam oligômeros de quitina, revelados através de reação com a lectina do germe do trigo. Cortesia da Dra. Fernanda L. Fonseca (Instituto de Microbiologia, UFRJ). [29], essa hipótese foi comprovada. Através do uso de um modelo experimental que testou a ativação de respostas celulares resultantes na produção de óxido nítrico por fagócitos e ativação de receptores do tipo Toll, foi observado que amostras de GXM isoladas de C. gattii (sorotipo B) com composições monossacarídicas similares a outras produzidas por C. neoformans (sorotipos A e D) e mesmo por outros isolados de C. gattii (sorotipo C) geravam respostas muito variáveis. Através de ensaios de medida de diâmetro molecular por espalhamento de luz, foi observado que a capacidade aumentada de induzir respostas celulares está correlacionada com a ocorrência de diâmetros moleculares reduzidos nas amostras polissacarídicas do sorotipo B. Foi assim gerada a conclusão de que amostras de GXM com dimensões reduzidas teriam maior potencial imunobiológico, conforme demonstrado para quitina [27, 28, 30]. As observações descritas acima geram novos conceitos sobre estrutura e função de polissacarídeos. Além de aspectos estruturais tradicionalmente estudados, como análise de seqüência e composição de monossacarídeos, configuração anomérica, tipo de ligação glicosídica, ramificações e presença de substituintes, torna-se clara a necessidade de análise de outros parâmetros para determinação de estrutura e fun- ção de polissacarídeos, como diâmetro molecular e grau de polimerização. Esses conceitos podem gerar novas visões sobre, por exemplo, imunogenicidade de polissacarídeos e aplicações em terapia e prevenção de doenças. Os estudos concluídos na área são ainda embrionários e, parece claro, há ainda muito a ser descoberto. Agradecimentos O trabalho sobre estrutura e funções de polissacarídeos em nosso laboratório vem sendo desenvolvido com apoio financeiro das agências de fomento FAPERJ, FAPESP, FINEP, CNPq e CAPES. Cabem aqui também agradecimentos aos Profs. Luiz R. Travassos e Arturo Casadevall pelos ensinamentos na área e ao Prof. Leonardo Nimrichter pela colaboração constante nesses estudos. As imagens mostradas na Figura 1 são de autoria da Dra. Fernanda L. Fonseca. Referências bibliográficas. 1. Book Review of Chemical Glycobiology. ACS Symposium Series 990. J Am Chem Soc, 2008. 2. Roberts, I.S., The biochemistry and genetics of capsular polysaccharide production in bacteria. Annu Rev Microbiol, 1996. 50: p. 285-315. 3. Doering, T.L., How Sweet It Is! Cell Wall Biogenesis and Polysaccharide Capsule Formation in Cryptococcus neoformans. Annu Rev Microbiol, 2009. 4. Nimrichter, L., et al., The multitude of targets for the immune system and drug therapy in the fungal cell wall. Microbes Infect, 2005. 7(4): p. 789-98. 5. Reiter, W.D., Biosynthesis and properties of the plant cell wall. Curr Opin Plant Biol, 2002. 5(6): p. 536-42. 6. Whitfield, C., Biosynthesis and assembly of capsular polysaccharides in Escherichia coli. Annu Rev Biochem, 2006. 75: p. 39-68. 7. Whitfield, C., N. Kaniuk, and E. Frirdich, Molecular insights into the assembly and diversity of the outer core oligosaccharide in lipopolysaccharides from Escherichia coli and Salmonella. J Endotoxin Res, 2003. 9(4): p. 244-9. 8. Smith, H., Pathogenicity and the microbe in vivo. The 1989 Fred Griffith Review Lecture. J Gen Microbiol, 1990. 136(3): p. 377-93. 9. Moxon, E.R. and J.S. Kroll, The role of bacterial polysaccharide capsules as virulence factors. Curr Top Microbiol Immunol, 1990. 150: p. 65-85. 10. Roeder, A., et al., Toll-like receptors as key mediators in innate antifungal immunity. Med Mycol, 2004. 42(6): p. 485-98. 27 11. Bittencourt, V.C., et al., An alpha-glucan of Pseudallescheria boydii is involved in fungal phagocytosis and Toll-like receptor activation. J Biol Chem, 2006. 281(32): p. 22614-23. 18. Park, B.J., et al., Estimation of the current global burden of cryptococcal meningitis among persons living with HIV/AIDS. AIDS, 2009. 23(4): p. 525-30. 12. Figueiredo, R.T., et al., TLR4 recognizes Pseudallescheria boydii conidia and purified rhamnomannans. J Biol Chem. 285(52): p. 40714-23. 19. Prado, M., et al., Mortality due to systemic mycoses as a primary cause of death or in association with AIDS in Brazil: a review from 1996 to 2006. Mem Inst Oswaldo Cruz, 2009. 104(3): p. 513-21. 13. Vecchiarelli, A., Fungal capsular polysaccharide and T-cell suppression: the hidden nature of poor immunogenicity. Crit Rev Immunol, 2007. 27(6): p. 547-57. 14. Deeks, E.D., Meningococcal quadrivalent (serogroups A, C, w135, and y) conjugate vaccine (Menveo): in adolescents and adults. BioDrugs. 24(5): p. 287-97. 15. Pletz, M.W., et al., Pneumococcal vaccines: mechanism of action, impact on epidemiology and adaption of the species. Int J Antimicrob Agents, 2008. 32(3): p. 199-206. 16. Levitz, S.M., Interactions of Toll-like receptors with fungi. Microbes Infect, 2004. 6(15): p. 1351-5. 17. Bicanic, T. and T.S. Harrison, Cryptococcal meningitis. Br Med Bull, 2004. 72: p. 99-118. 28 20. Zaragoza, O., et al., The capsule of the fungal pathogen Cryptococcus neoformans. Adv Appl Microbiol, 2009. 68: p. 133-216. 21. Zaragoza, O., et al., The polysaccharide capsule of the pathogenic fungus Cryptococcus neoformans enlarges by distal growth and is rearranged during budding. Mol Microbiol, 2006. 59(1): p. 67-83. 22. Rodrigues, M.L., et al., Vesicular polysaccharide export in Cryptococcus neoformans is a eukaryotic solution to the problem of fungal trans-cell wall transport. Eukaryot Cell, 2007. 6(1): p. 48-59. 23. Monari, C., F. Bistoni, and A. Vecchiarelli, Glucuronoxylomannan exhibits potent immunosuppressive properties. FEMS Yeast Res, 2006. 6(4): p. 537-42. 24. Levitz, S.M., Receptor-mediated recognition of Cryptococcus neoformans. Nippon Ishinkin Gakkai Zasshi, 2002. 43(3): p. 133-6. 25. Frases, S., et al., Cryptococcus neoformans capsular polysaccharide and exopolysaccharide fractions manifest physical, chemical, and antigenic differences. Eukaryot Cell, 2008. 7(2): p. 319-27. 26. Frases, S., et al., Capsule of Cryptococcus neoformans grows by enlargement of polysaccharide molecules. Proc Natl Acad Sci U S A, 2009. 106(4): p. 1228-33. 27. Da Silva, C.A., et al., Chitin is a sizedependent regulator of macrophage TNF and IL-10 production. J Immunol, 2009. 182(6): p. 3573-82. 28. Da Silva, C.A., et al., TLR-2 and IL-17A in chitin-induced macrophage activation and acute inflammation. J Immunol, 2008. 181(6): p. 4279-86. 29. Fonseca, F.L., et al., Immunomodulatory effects of serotype B glucuronoxylomannan from Cryptococcus gattii correlate with polysaccharide diameter. Infect Immun. 78(9): p. 3861-70. 30. Lee, C.G., et al., Chitin regulation of immune responses: an old molecule with new roles. Curr Opin Immunol, 2008. 20(6): p. 684-9. Ciência in Foco POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO DE fUNGOS MARINHOS PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS LIGNINOLÍTICAS E DEGRADAÇÃO DE POLUENTES AMBIENTAIS Rafaella C. Bonugli-Santos, Mariana J. Magrini, Maria Raphaella S. Vasconcelos, Michel Rodrigo Z. Passarini & Lara Durães Sette Divisão de Recursos Microbianos DRM – CPQBA Universidade Estadual de Campinas (UnICAMP) – Campinas – SP introDução O interesse pelo isolamento e avaliação do potencial biotecnológico de microorganismos pertencentes a nichos ecológicos pouco explorados tem crescido nos últimos anos. Recentemente, estudos com enfoque na identificação e isolamento de compostos a partir da diversidade microbiana de origem marinha vêm se expandindo [1-4]. Segundo Bugni e Ireland [1], os fungos derivados de ambientes marinhos são uma fonte de diversidade química, e este fato é atestado pelos 277 novos compostos que foram isolados e descritos. Alguns trabalhos relacionados ao isolamento e produção de metabólitos secundários por fungos filamentosos marinhos ou derivados de ambiente marinho foram reportados na literatura [1-3,5-7], demonstrando o potencial biotecnológico destes organismos. As principais atividades biológicas relacionadas aos fungos derivados mari- nhos são: propriedades antimicrobianas e antitumorais, inibição de ciclo celular, antagonistas de fatores de ativação, atividade antiviral, inibição de fosfatase e quinase [1]. Entretanto, seu potencial pode ser explorado em diversas áreas, como na produção de diferentes enzimas [4,8-10] e na degradação de poluentes ambientais [11-13]. fungos MArinHos Os fungos marinhos não formam um grupo taxonômico, mas sim ecológico [14]. No ambiente marinho, são organismos heterotróficos, com papel principal na decomposição do tecido vegetal e animal (celulose, lignina, queratina, entre outros) e na reciclagem de nutrientes [1]. A temperatura é o parâmetro mais importante que controla a distribuição dos fungos marinhos, embora a pressão hidrostática e a disponibilidade de oxigênio sejam também fatores relevantes [15]. Os estudos na área de micologia marinha são relativamente recentes e renderam até o momento a classificação de dois grupos de fungos marinhos, com base em sua capacidade de crescer e se reproduzir na água do mar. São chamados fungos marinhos obrigatórios aqueles que crescem e esporulam exclusivamente na água do mar, e seus esporos são capazes de germinar neste ambiente; e fungos marinhos facultativos aqueles terrestres e aquáticos com adaptações que permitem seu crescimento no ambiente marinho [16]. De acordo com Hyde et al. [14], aproximadamente 800 espécies de fungos marinhos obrigatórios foram encontrados. Porém, estes micro-organismos não podem ser definidos somente por critérios fisiológicos, necessitando de um vasto estudo de sua ecologia para serem classificados como fungos marinhos obrigatórios. Neste sentido, um grande número de fungos isolados de amostras marinhas não foi comprovadamente 29 classificado como micro-organismo marinho obrigatório ou facultativo. Assim, foi criada a expressão “fungos derivados de ambiente marinho” (marine-derived fungi), visando uma classificação mais geral para estes organismos [17]. Pesquisas conduzidas principalmente durante a metade do século passado permitiram uma compreensão do papel dos micro-organismos no ambiente marinho. Em contraste com o ambiente terrestre, a vida no mar é dominada em termos de biomassa e metabolismo por micro-organismos dos três domínios de vida (Bacteria, Archaea e Eukarya). Nos oceanos, os micro-organismos fototróficos que coletam a energia solar, produzem energia para os processos heterotróficos que ocorrem no ecossistema marinho [18]. Diversidade microbiana do ambiente marinho Os oceanos cobrem aproximadamente 71% da superfície da Terra e são considerados como grandes reservatórios de recursos naturais [18]. No entanto, a extensão da biodiversidade marinha, especialmente de micro-organismos, é pouco conhecida. Estima-se que a diversidade biológica dos ecossistemas marinhos pode ser mais elevada do que em florestas tropicais [19]. As comunidades microbianas marinhas são compostas por organismos que podem ser encontrados não só nas águas superficiais, mas também em profundezas abissais, nas regiões litorâneas e oceânicas, associados a uma variedade de substratos, incluindo esponjas, algas, madeiras, sedimentos, moluscos, plantas, peixes e corais [15,20]. A associação entre micro e macroorganismos é uma característica proeminente dos ecossistemas marinhos. Corais e esponjas são conhecidos por manterem relações simbióticas com micro-organismos como cianobactérias, fungos e bactérias, o que os torna um conglomerado em miniatura de vários organismos. Entretanto, para muitos dos organismos marinhos a natureza destas associações não foi, até o presente momento, rigorosamente investigada e definida [21]. Contudo, a associação entre fungos e invertebrados marinhos tem sido descrita na literatura [21-23]. 30 Poucos são os estudos de microorganismos marinhos ao longo da costa brasileira. Entre os fungos filamentosos caracterizados, os gêneros com maior incidência são: Acremonium, Aspergillus, Cladosporium, Fusarium, Paecilomyces, Penicillium e Trichoderma [4,24,25]. Um dos trabalhos mais recentes realizado pelo nosso grupo de pesquisa [4], avalia a diversidade de fungos filamentosos recuperados de quatro diferentes amostras de esponjas marinhas. Os resultados permitiram a identificação de 144 ribotipos distintos do total de 256 isolados (Figura 1). Os fungos filamentosos foram distribuídos entre 24 gêneros pertencentes aos filos Ascomycota, Basidiomycota e Zygomycota, alguns dos quais jamais haviam sido relatados na literatura como fungos derivados marinhos (Pestalotiopsis, Xylaria, Botrysphaeria e Cunnninghamella). Muitos dos gêneros identificados pertencem a um grupo conhecido como ‘esponjasgeneralistas’, incluindo Penicillum e Aspergillus, e também os gêneros Trichoderma, Phoma, Cladosporium, Fusarium e Mucor. Potencial biotecnológico de fungos marinhos As propriedades físico-químicas únicas do ambiente marinho são susceptíveis de ter conferido aos fungos marinhos adaptações fisiológicas especiais, diferentes dos fungos terrestres, que podem ser explorado em diversas áreas da biotecnologia. Diversos fungos têm sido isolados do ambiente marinho e são descritos como produtores de novos metabólitos secundários não encontrados em fungos terrestres [1]. Temperatura, pH, salinidade e concentração de íons sódio são fatores físicos com propriedades exclusivas no ambiente marinho e que afetam estes micro-organismos. A água do mar possui em média uma salinidade de 33-35 ppt, enquanto que a água doce possui menos de 0,05% de sais (0,5 ppt). O sódio, mesmo em baixas concentrações, é tóxico para a célula da maioria dos organismos terrestres e de água doce. A presença de altos níveis de íons sódio confere características únicas às células dos fungos derivados marinhos, capazes de reduzir sua toxicidade. O habitat marinho tem sido uma fonte de produtos naturais exclusivos usados em compostos farmacêuticos ou com características úteis para aplicações biotecnológicas. Entretanto, os estudos sobre as enzimas microbianas de origem marinhas podem ser considerados praticamente inexplorados. Estas enzimas podem oferecer propriedades relacionadas com o habitat marinho que são muito apreciadas no âmbito de uma perspectiva biotecnológica [26]. As enzimas extracelulares são importantes para o desenvolvimento dos fungos em seu habitat natural, entre elas as celulases, hemicelulases, pectinases e ligninases fornecem aos fungos os meios para obtenção de energia e nutrientes, além de contribuir para a ação de fungos patogênicos a células vegetais e animais [27]. Enzimas Ligninolíticas As enzimas ligninolíticas são enzimas capazes de degradar a lignina presente em todas as plantas vasculares, sendo de grande importância na valorização de resíduos vegetais, juntamente com outras aplicações industriais e ambientais. A lignina é um polímero amorfo complexo composto de unidades fenilpropano (C9) unidas por diferentes tipos de ligações e suas estruturas podem variar entre as espécies vegetais [28]. Constituindo de 20-30% da parede celular vegetal é um polímero natural rico em anéis aromáticos, e o mais abundante no planeta, depois da celulose [29]. Este polímero confere rigidez à parede celular e aos tecidos das plantas vasculares e está envolvido no transporte de água em plantas superiores, além de formar uma barreira contra o ataque microbiano [30]. Os fungos produtores de enzimas ligninolíticas, capazes de degradar a lignina, são conhecidos como fungos que degradam madeira. São divididos em três categorias principais, definidas de acordo com o modo de ataque à molécula da lignina durante o processo de degradação [31]: a) fungos de podridão mole (soft-rot fungi): a maioria pertence ao filo Ascomycota; b) fungos de podridão parda (brown-rot fungi): pertencem ao filo Basidiomycota e, c) fungos de podridão branca (white-rot fungi): pertencem aos filos Basidiomycota e Ascomycota. Em Figura 1. Ocorrência de fungos filamentosos em amostras de macro-organismos marinhos da costa brasileira: Dideminun sp. (ascídia), Mycale laxissima, Anphimedon viridis e Dragmacidon reticulata (esponjas). Fonte: [4]. adição, os fungos de podridão branca são os únicos organismos conhecidos capazes de mineralizar completamente a lignina em CO2 e H2O, porém não são capazes de utilizar este composto como única fonte de carbono e energia [32]. É importante destacar que o sistema ligninolítico dos fungos, principalmente dos fungos de degradação branca, não é homogêneo. Diferentes fungos têm mostrado capacidade para produzir uma ou mais enzimas ligninolíticas [31]. As enzimas ligninolíticas são produzidas durante o metabolismo secundário e atuam na oxidação dos substratos em ambientes externos às células [30]. São três as principais enzimas diretamente envolvidas na degradação da lignina: lignina peroxidase (LiP), primeiramente caracterizada por Tien e Kirk [33], manganês-peroxidase (MnP) descoberta por Kuwahara et al. [34] e lacase (Lac), descoberta por Yoshida em plantas em 1983 e alguns anos depois em fungos, por Call e Mucke [35]. Essas enzimas foram extensivamente estudadas em fungos terrestres visando aplicação em processos de degradação de poluentes ambientes, principalmente hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) e efluentes têxteis, mas atualmente o recente isolamento de fungos com uma melhor capacidade de biodegradação em relação às linhagens terrestres de referência tem direcionado a atenção mundial na busca de fungos pertencentes a diferentes grupos ecofisiológicos e taxonômicos para a biorremediação, como é o caso das enzimas ligninolíticas de origem marinha. Produção de enzimas ligninolíticas por fungos derivados de ambientes marinhos As pesquisas com fungos derivados de ambiente marinho, em sua maioria, se referem aos experimentos de descoloração de efluentes coloridos e corantes sintéticos, sendo a avaliação da produção de enzimas ligninolíticas um objetivo secundário [36]. No ambiente marinho, as enzimas ligninolíticas possivelmente fornecem meios para a obtenção de energia e nutrientes, além da proteção a possíveis patógenos [27]. O primeiro relato sobre a mineralização da lignina por um fungo marinho foi publicado por Sutherland et al. [37]. Alguns poucos fungos marinhos foram reportados na literatura como produtores de enzimas ligninolíticas. Neste 31 contexto, nosso grupo de pesquisa vem realizando estudos sobre a produção dessas enzimas por fungos derivados de ambiente marinho. Para tanto, cerca de 800 fungos filamentosos recuperados de diferentes amostras marinhas e mantidos na coleção de pesquisa da Divisão de Recursos Microbianos do CPQBA/ UNICAMP estão sendo investigados e têm revelado ser uma potencial fonte de recursos genéticos para produção de enzimas ligninolíticas. No trabalho de seleção inicial utilizando guaiacol como substrato para lacase 35% dos fungos derivados de esponjas marinhas avaliados foram positivos para a atividade ligninolítica (Figura 2). As esponjas marinhas alimentam-se por filtração, bombeando a água através das paredes do corpo e, consequentemente, retêm impurezas do fitoplâncton e/ou outras matérias em suspensão. Portanto, de acordo com Wang [9], é razoável acre- ditar que alguns micro-organismos associados às esponjas produzam enzimas hidrolíticas para converter esta matéria orgânica em nutrientes. Atividades significativas de lacase, LiP e principalmente MnP foram produzidas em 12,5% e 23% de salinidade por fungos derivados de cnidários marinhos: Aspergillus sclerotiorum CBMAI 849, Cladosporium cladosporioides CBMAI 857 e Mucor racemosus CBMAI 847 [38]. Este foi o primeiro trabalho a relatar a atividade ligninolítica por fungo zigomiceto pertencente ao gênero Mucor, bem como por fungos isolados de cnidários marinhos. Recentemente, a atividade da lacase e a detecção dos genes que codificam para a lacase foram estudados por Bonugli-Santos et al. [39] em basidiomicetos isolados de esponjas marinhas. Altos valores de lacase foram produzidos por Marasmiellus sp. CBMAI 1062 (971,2 Figura 2. Seleção de fungos derivados de esponjas marinhas com atividade ligninolítica. Resultado positivo: halo marrom escuro em meio B&K suplementado com guaiacol (7 dias de cultivo a 28°C) 32 UL) e Peniophora sp. CBMAI 1063 (709,03 UL) em meio de cultivo preparado com água do mar artificial, que possui salinidade de aproximadamente 4%. Em adição, estes basidiomicetos marinhos estão demonstrando capacidade de produção de valores significativos de LiP e MnP quando cultivados em água do mar artificial. Aplicação biotecnológica das enzimas ligninolíticas produzidas por fungos marinhos Levando-se em consideração a complexidade da molécula da lignina as enzimas capazes de degradar este polímero não possuem alta especificidade em relação aos substratos. Portanto, possuem um papel de destaque nos tratamentos enzimáticos em diferentes setores industriais, como o alimentício e de papel e celulose, e na remediação de diversos compostos poluentes. Neste sentido, são amplamente estudadas na degradação de diferentes compostos formados por estruturas complexas (aromáticas), como por exemplo, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs). Biodegradação de corantes sintéticos e efluentes têxteis As indústrias têxteis apresentam grande potencial de poluição devido principalmente ao elevado consumo de corantes durante a etapa de tingimento e ao consumo de aditivos (ligantes, fixadores, antiespumantes, espessantes, amaciantes, resinas, antiestáticos, antichamas e antifungos) [40]. Neste sentido, essas indústrias são responsáveis pela geração de efluentes com elevados níveis de coloração, demanda química de oxigênio (DQO) e sólidos suspensos. Dentre estes, o problema da coloração tem atraído a atenção de pesquisadores, ambientalistas e governantes. O complexo têxtil do estado de São Paulo está localizado na região da cidade de Americana e constitui um dos maiores pólos de indústrias têxteis do Brasil, contando com aproximadamente 3.000 indústrias. Em virtude do grande volume de produção, também é significativo o volume de resíduos que são gerados por essas empresas, necessitando de alternativas para o tratamento dos poluentes gerados. A maioria das técnicas para remoção das características físicas, químicas e biológicas dos resíduos coloridos é a concentração dos resíduos sólidos em lodos. Atualmente, os principais métodos de tratamento de águas residuais têxteis envolvem processos físicos e/ou químicos por filtração em membranas, coagulação, floculação, precipitação, flotação, adsorção, troca iônica, extração de pares iônicos, eletrólise, redução química e oxidação química avançada [41]. Os processos oxidativos avançados incluem a cloração, branqueamento, ozonização e a oxidação fotocatalítica [41-44]. Entretanto, nestes tratamentos, há possibilidade de que um problema de poluição secundária possa surgir devido a uma excessiva utilização de produtos químicos, além de serem extremamente onerosos. Sistemas biológicos e/ou sistemas de tratamento misto que possam efetivamente remover a cor de grandes volumes de águas residuais com um baixo custo estão sendo considerados como importantes alternativas [42]. Técnicas biológicas incluem a biossorção e a biodegradação em processos de tratamento com bactérias, fungos, plantas, algas e enzimas em sistemas aeróbios, anaeróbios, anóxicos ou combinados anaeróbio/aeróbio [45-48]. A utilização de fungos filamentosos na degradação/descoloração de poluentes ambientais pode ser considerada vantajosa devido à capacidade de suportar altas concentrações de compostos tóxicos, baixa especificidade do complexo enzimático ligninolítico e amplo crescimento das hifas através do substrato, o que juntamente com a difusão das enzimas extracelulares contribuem para o alcance e oxidação dos compostos pouco disponíveis [49]. Na última década um extenso número de revisões demonstra o potencial das enzimas ligninolíticas na descoloração de diferentes grupos de corantes têxteis e efluentes [50-53]. Contudo, os efluentes têxteis, além de corantes, contêm também valores extremos de pH e sais, os quais podem variar de 20 a 80% [54], representando um dos principais problemas durante a degradação por fungos terrestres [55]. Assim, apesar da alta eficiência de algumas linhagens relatadas na literatura, novos grupos de fungos e enzimas ligninolíticas com características que possam suprir estas dificuldades estão sendo cada vez mais valorizados nas pesquisas, visando melhoria na eficiência processo de degradação/descoloração de corantes. Neste contexto, os fungos derivados de ambiente marinho podem ser considerados estratégicos para a biorremediação de ambientes ou processos salinos, incluindo o tratamento de efluentes de indústria têxtil. Os trabalhos de Raghukumar et al., [56,57] e D’Souza et al. [8] mostram a capacidade de descoloração de efluentes têxtil e corantes sintéticos como vermelho congo, verde brilhante e Remazol Brilhant Blue R (RBBR) por fungos marinhos. Resultados significativos de descoloração de corantes têxteis têm sido obtidos pelo nosso grupo de pesquisa (Figura 3), utilizando fungos filamentosos recuperados de amostras marinhas da costa brasileira [25, 58]. Biodegradação de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) são constituídos por dois ou mais anéis aromáticos unidos de forma linear, angular ou agrupada. Eles podem existir em mais de 100 diferentes combinações, porém os mais comuns formam um grupo de 15 HPAs [59]. Devido à sua estrutura hidrofóbica e estabilidade química à temperatura ambiente eles são praticamente insolúveis em água e altamente lipofílicos [60]. Embora os HPAs sejam encontrados naturalmente no carvão e petróleo, sua principal origem atual é a combustão incompleta de material orgânico, como no caso da queima de madeira e óleos combustíveis [61]. Podem ainda ser lançados no ambiente durante as atividades de rotina da indústria petrolífera, como o transporte de óleo, ou através de seu derramamento acidental no ambiente marinho, causando sérios danos ambientais, sociais e econômicos, como o ocorrido em 2010 no Golfo do México. Muitos destes poluentes foram descritos como carcinogênicos, genotóxicos, citotóxicos ou ecotóxicos em estudos in vitro e em humanos, animais, plantas e micro-organismos aquáticos [62]. Pireno e benzo[a]pireno são compostos cancerígenos com um longo período de meiavida no solo, que varia de 270 dias a 5,2 anos e 269 dias a 8,2 anos, respectivamente [63]. Ambos são classificados pela Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos Estados Unidos (US EPA) como poluentes prioritários [59]. Os fungos filamentosos envolvidos na degradação de HPAs incluem fungos ligninolíticos e fungos não-ligninolíticos Figura 3. Descoloração do corante RBBR pelo fungo derivado marinho Peniophora sp. CBMAI 1603 em meio sólido (A) e líquido (B). 33 (fungos que não produzem estas enzimas). As enzimas ligninolíticas oxidam os HPAs em difenóis transitórios que facilmente se auto-oxidam em quinonas [64]. Outra rota metabólica de degradação envolve a hidroxilação por monooxigenases do citocromo P-450 através de uma sequência de reações similares àquelas encontradas em células de mamíferos [65]. Os metabólitos produzidos são geralmente mais hidrossolúveis e menos tóxicos que os HPAs de origem. Entretanto, o mecanismo básico envolvido nos processos de biorremediação dos HPAs permanece ainda pouco entendido [66]. De acordo com da Silva et al. [25, 67], Baborová et al. [68] e Chulalaksananukul et al. [69], o sistema ligninolítico é de grande importância na degradação de HPAs, servindo como uma estratégia fundamental na biorremediação de ambientes impactados. Embora a produção destas enzimas por fungos derivados marinhos tenha sido observada, sua relação com a degradação de HPAs é pouco conhecida [36]. O uso destes micro-organismos na biorremediação de ambientes salinos poluídos pode ser vantajoso devido à sua tolerância a altas pressões e a condições salinas. Neste contexto, nosso grupo de pesquisa tem concentrado esforços nos estudos de degradação dos HPAs pireno e benzo[a]pireno. Os primeiros resultados utilizando fungos derivados de cnidários marinhos selecionados pela capacidade de descolorir o corante RBBR [25] foram animadores. O fungo Aspergillus sclerotiorum CBMAI 849 foi capaz de degradar 99,7% de pireno (Figura 4A) e 76,6% de benzo[a] pireno (Figura 4B) após 8 e 16 dias, respectivamente. Uma redução significativa de benzo[a]pireno (>50,0%) também foi alcançada pelo isolado Mucor racemosus CBMAI 847. Os metabólitos formados, pirenilsulfato e benzo[a]pirenilsulfato, sugerem que o mecanismo de hidroxilação foi mediado pela citocromo P450 mono-oxigenase [13]. Por outro lado, estudos de degradação destes mesmos HPAs por três fungos basidiomicetos ligninolíticos isolados de esponjas marinhas (em andamento) sugerem o envolvimento das enzimas MnP e lacase no processo de degradação. Conclusão O isolamento e seleção de fungos derivados de amostras marinhas representam uma importante estratégia para obtenção de recursos genéticos com potencial aplicação biotecnológica nos setores industrial e ambiental. Por estarem adaptados às condições do ambiente marinho, os fungos recuperados de amostras provenientes deste ecossistema podem apresentar vantagens biológicas em processos salinos e/ou alcalinos, como por exemplo, a degradação/ descoloração de corantes e efluentes de indústria têxteis, bem como na biorremediação de HPAs derivados do petróleo em águas e sedimentos marinhos. Tendo em vista o potencial biotecnológico dos fungos derivados de amostras marinhas, uma coleção de micro-organismos marinhos está sendo estabelecida no âmbito da Coleção Brasileira de Microorganismos de Ambiente e Indústria do CPQBA/UNICAMP, garantindo a preservação deste valioso recurso genético. Agradecimentos Os autores agradecem ao apoio financeiro e/ou bolsas de estudo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e tecnológico (CNPq), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Bibliografia Figura 4. Cromatogramas obtidos por CG-EM: solução padrão (24,4 ug.mL-1), pireno e benzo[a]pireno (40,0 ug.mL-1) (A); Degradação de pireno após 8 dias de incubação pelo fungo A. sclerotiorum CBMAI 849 (A1); Degradação de benzo[a[pireno após 16 dias de incubação pelo fungo A. sclerotiorum CBMAI 849 (A2). Fonte: [13]. 34 Bugni, T.S.; Ireland, C.M. (2004). Marinederived fungi: a chemically and biologically diverse group of microorganisms. Natural Product Reports 21, 143-163. Amagata, T.; Morinata, B.I.; Amagata, A.; Tenney, K.; Valeriote, F.A.; Lobkovsky, E.; Clardy, J.; Crews, P. (2006). A Chemical Study of Cyclic Depsipeptides Produced by a SpongeDerived Fungus. Journal of Natural Products 69, 560-1565. Leahy, J.G.; Colwell, R.R. (1990). Microbial Degradation of Hydrocarbons in the Environment. Microbiological Reviews 54 (3), 305315. Boot, C.M.; Tenney, K.; Valeriote, F.A.; Crews, P. (2006). Highly N-Methylated Linear Peptides Produced by an Atypical SpongeDerived Acremonium sp. Journal of Natural Products 69, 83-92. Jackson, A.; Pardue, J.H. (1999). The Role of Nutrient Additions on Crude Oil Degradation in Louisiana’s Salt Marshes. Water Soil Air Pollut. 109, 343-355. Menezes, C.B.; Bonugli-Santos, R.C.; Miqueletto, P.B.; Passarini, M.R.Z.; Silva, C.H.D.; Justo, M.R.; Leal, R.R.; FantinattiGarboggini, F.; Oliveira, V.M.; Berlinck, R.G.S.; Sette, L.D. (2010). Microbial diversity associated with algae, ascidians and sponges from the north coast of São Paulo state, Brazil. Microbiological Research 165 (6), 466-482. Namikoshi, M.; Akano, K.; Meguro, S.; Kasuga, I.; Mine, Y.; Takahashi, T.; Kobayashi, H. (2001). A new macrocyclic trichothecene, 12, 13-deoxyroridin E, produced by the marine-derived fungus Myrothecium roridum collected in Palau. Journal of Natural Products 64, 396-398. Li, Y.; Li, X.; Kim, S.K.; Kang, J.S.; Choi, H.D.; Rho, J.R.; Son, B.W. (2004). Golmaenone, a New Diketopiperazine Alkaloid from the Marine-Derived Fungus Aspergillus sp. Chemical and Pharmaceutical Bulletin 52, 375-376. Rocha, L.C.; Ferreira, H.V.; Pimenta, E.F.; Berlinck, R.G.S.; Seleghin, M.H.; Javaroti, D.C; Sette, L.D.; Bonugli, R.C.; Porto, A.L.M. (2009). Bioreduction of α-chloroacetophenone by whole cells of marine fungi. Biotechnology Letters 31, 1559-1563. D’Souza, D.T.; Tiwari, R.; Sah, A.K.; Raghukumara, C. (2006). Enhanced production of laccase by a marine fungus during treatment of colored effluents and synthetic dyes. Enzyme and Microbial Technology 38, 504-511. Wang, G. (2006). Diversity and biotechnological potential of the sponge-associated microbial consortia. Journal of Industrial Microbiology and Biotechnology 33, 545-551. Le Crom, S.; Schackwitz, W.; Pennacchio, L.; Magnuson, J.K.; Culley, D.E.; Collett, Jr; Martin, J.; Druzhinina, I.S.; Mathis, H.; Monot, F.; Seiboth, B.; Cherry, B.; Rey, M.; Berka, R.; Kubicek, C.P.; Baker, S.E.; Margeo, T.A. (2009). Tracking the roots of cellulase hyperproduction by the fungus Trichoderma reesei using massively parallel DNA sequencing. Proceedings of the National Academy of Sciences 106, 16151-16156. Passarini, M.R.Z.; Rodrigues, M.V.N.; da Silva, M.; Sette, L.D. (2011). Marine-derived filamentous fungi and their potential application for polycyclic aromatic hydrocarbon bioremediation. Marine Pollution Bulletin 62, 364-370. Hyde, K.D.; Sarma, V.V.; Jones, E.B.G. (2000). Morphology and taxonomy of higher marine fungi. In: Hyde, K.D., Pointing, S.B. (eds) Marine Mycology- A Practical Approach. Fungal Diversity Research Series 1, Fungal Diversity Press, Hong Kong, China. Das, S.; Lyla, P.S.; Ajmal Khan, S. (2006). Marine microbial diversity and ecology: importance and future perspectives. Current Science 90 (10), 1325-1335. Kohlmeyer, J.; Kohlmeyer, E. (1979). Marine Micology: The Higher Fungi. Academic Press, New York, USA. Osterhage, C. (2001). Isolation, Structure Determination and Biological Activity Assessment of Secondary Metabolites from Marine-derived Fungi. Alemanha, 186p. (Tese de Doutorado. Gemeinsamen Naturwissenschaftlichen Fakultät). Karl, D.M. (2007). Microbial oceanography: paradigms, processes and promise. Nature Reviews Microbiology 5, 759-769. Larsen, T.O.; Smedsgaard, J.; Nielsen, K.F.; Hansen, M.E.; Frisvad, J.C. (2005). Phenotypic taxonomy and metabolite profiling in microbial drug discovery. Natural Product Reports 22, 672-695. Hill, R.A. (2005). Marine natural products. Annu. Rep. Prog. Chem. 101, 124-136. Taylor, M.W.; Radax, R.; Steger, D.; Wagner, M. (2007). Sponge-Associated Microorganisms: Evolution, Ecology, and Biotechnological Potential. Microbiology and Molecular Biology Reviews 71, 295-347. Wang, G.; Li, Q.; Zhu, P. (2008). Phylogenetic diversity of culturable fungi associated with the Hawaiian sponges Suberites zeteki and Gelliodes fibrosa. Antonie van Leeuwenhoek 93, 163-174. Baker, P.W.; Kennedy, J.; Dobson, A.D.W.; Marchesi, J.R. (2009). Phylogenetic Diversity and Antimicrobial Activities of Fungi Associated with Haliclona simulans Isolated from Irish Coastal Waters. Marine Biotechnology 11, 540-547. Berlinck, R.G.S.; Hajdu, E.; Rocha, R.M.; Oliveira, J.H.H.L.; Hernández, I.L.C.; Seleghim, M.H.R.; Granato, A.C.; Almeida, E.R.V.R.; Nuñez, C.V.; Muricy, G.; Peixinho, S.; Pessoa, C.; Moraes, M.O.; Cavalcanti, B.C.; Nascimento, G.G.F.; Thiemann, O.; Silva, M.; Souza, A.O.; Silva, C.L.; Minarini, P.R.R. (2004). Challenges and Rewards of Research in Marine Natural Products Chemistry in Brazil. Journal of Natural Products 67 (3), 510–522. da Silva, M.; Passarini, M.R.Z.; Bonugli, R.C.; Sette, L.D. (2008). Cnidarian-derived filamentous fungi from Brazil: isolation, characterisation and RBBR decolourisation screening. Environmental Technology 29, 1331-1339. Trincone, A. (2010). Potential biocatalysts originating from sea environments. Journal of Molecular Catalysis B: Enzymatic 66, 241256. Aro, N.; Pakula, T.; Penttila, M. (2005). Transcriptional regulation of plant cell wall degradation by filamentous fungi. FEMS Microbiology Reviews 29, 719-739. Fengel, D.; Wegener G. (1984). Wood: Chemistry, ultrastructure, reactions. Walter de Gruyter: Berlin & New York. Leonowicz, A.; Matuszewska, A.; Luterek, J.; Ziegenhagen, D.; Wojtas Wasilewska, M.; Cho, N.; Hofrichter, M. (1999). Review: Biodegradation of lignin by white rot fungi. Fungal Genetics and Biology 27, 175-185. Hofrichter, M. (2002). Review: lignin conversion by manganese peroxidases (MnP). Enzyme and Microbial Technology 30, 454-466. Arora, D.S.; Sharma, R.K. Ligninolytic Fungal Laccases and Their Biotechnological Applications. Applied Biochemistry and Biotechnology. In press: DOI 10.1007/s12010-0098676-y. Boyley, C.D.; Kropp, B.R.; Reid, I.D. (1992). Solubilization and mineralization of lignin by white rot fungi. Applied and Environmental Microbiology 58, 3217-3224. Tien, M.; Kirk, T.K. (1984). Lignin-degrading enzyme from Phanerochaete chrysosporium: 35 purification, characterization and catalytic properties of unique H2O2 requiring oxygenase. Proc Natl Acad Sci USA 81, 2280-2284. Kuwahara, M.; Glenn, J.K.; Morgan, M.A.; Gold, M.H. (1984). Separation and characterization of two extracellular H2O2 dependent oxidases from ligninolytic cultures of Phanerochaete chrysosporium. FEBS Lett. 169, 247-50. Call, H.P.; Mucke, I. (1997). History, overview and applications of mediated lignolytic systems, especially laccase-mediator-systems (Lignozym-process). Journal of Biotechnology 53,163–202. Raghukumar, C. (2008). Marine fungal biotechnology: an ecological perspective. Fungal Diversity 31, 19-35. Sutherland, J.B.; Crawford, D.L.; Speedie, M.K. (1982). Decomposition of 14C-labeled maple and spruce lignin by marine fungi. Mycologia 74, 511–513. Bonugli-Santos, R.C.; Durrant, L.R.; da Silva, M.; Sette, L.D. (2010). Production of laccase, manganese peroxidase and lignin peroxidase by Brazilian marine-derived fungi. Enzyme and Microbial Technology 46, 32-37. Bonugli-Santos, R.C.; Durrant, L.R.; Sette, L.D. (2010). Laccase activity and putative laccase genes in marine-derived basidiomycetes. Fungal Biology 114, 863- 872. Cammarota, M.C; Coelho, M.A.Z. (2001). Tratamento Enzimático Para Remoção de Cor de Efluentes da Indústria Têxtil. Revista Química Têxtil 65, 40-47. Gogate, P.R.; Pandit, A.B. (2004). A review of imperative technologies for wastewater treatment I: oxidation technologies at ambient conditions. Advan. Environ. Res. 8, 501-551. Robinson,T.; Chandran, P.; Nigam,P. (2001). Studies on the production of enzymes by white-rot fungi for the decolourisation of textile dyes. Enzyme and Microbial Technology 29, 575-579. Alaton, I.A.; Ferry, J.L. (2003). Merits of polyoxotungstates as environmental remediation catalysts: a novel wet oxidation technology for refractory industrial pollutants. J. Environ. Sci. Health Tox. Hazard Subst. Environ. Eng. 38, 2435-2445. Kusvuran, E.; Gulnaz, O.; Irmak, S.; Atanur, O.M.; Yavuz, H.I.; Erbatur, O. (2004). Compa- 36 rison of several advanced oxidation processes for the decolorization of Reactive Red 120 azo dye in aqueous solution. J. Hazard Mater. 109, 85-93. Forgacs, E.; Cserhati, T.; Oros, G. (2004) Removal of synthetic dyes from wastewaters: a review. Environ. Int. 30, 953-971. Christian, V.; Shrivastava, R.; Shukla, D.; Modi, H.; Vyas, R.B.M. (2005). Mediator role of veratryl alcohol in the lignin peroxidasecatalyzed oxidative decolorization of Remazol brilliant blue R. Enz. Microbiol. Technol. 36, 426-431. Shrivastava, R.; Christian, V.; Vyas, B.R.M (2005) Enzymatic decolorization of sulfonphthalein dyes. Enz Microbiol Technol 36, 333-337 Enayatzamir, K.; Tabandeh, F.; Yakhchali, B.; Alikhani, H.A.; Couto, S.R. Assessment of the joint effect of laccase and cellobiose dehydrogenase on the decolouration of different synthetic dyes. J. Hazard Mater. In press: DOI 10.1016/j.jhazmat.2009.0. Reddy, C.A. (1985). The potential for white rot fungi in the treatment of pollutants. Curr. Opt. Biotechnol. 6, 320-328. Robinson, T.; McMullan, G.; Marchant, R.; Nigam, P. (2001). Remediation of dyes in textile effluent: a critical review on current treatment technologies with a proposed alternative. Bioresource Technology 77, 247-255. Peralta-Zamora, P.; Pereira, C.M.; Tiburtius, E.R.L; Moraes, S.G.; Rosa, M.A; Minussi, R.C.; Durán, N. (2003). Decolorization of reactive dyes by immobilized laccase. Applied Catalysis B: Environmental 42, 131-144. Wesenberg, D.; Kyriakides, I.; Agathos, S.N. (2003). White-rot fungi and their enzymes for the treatment of industrial dye effluents. Biotechnology Advances 22, 161-187. Kaushik, P.; Malik, A. (2009). Fungal dye decolourization: Recent advances and future potential. Environment International 35,127-141. Silva, A.C. (2006). Degradação de corante em meio salino por ozonização. Rio de Janeiro, Brasil, 181p. (Tese de Doutorado. COPPE. Universidade Federal do Rio de Janeiro). Muthukumar, M.; Selvakumar, N. (2004). Studies on the effect of inorganic salts on decolouration of acid dye effluents by ozonation. Dyes and Pigments 62, 221-228. Raghukumar, C.; D’Souza, T.M.; Thorn, R.G.; Reddy, C.A. (1999). Lignin-Modifying Enzymes of Flavodon flavus, a Basidiomycete Isolated from a Coastal Marine Environment. Applied and Environmental Microbiology 65 (5), 2103-2111. Raghukumar, C. (2002). Bioremediation of coloured pollutants by terrestrial versus facultative marine fungi. In: K.D. Hyde (ed). Fungi in Marine Environment. Fungal Diversity Press, Hong Kong, China, p.317-344. Bonugli-Santos, R.C.; Durrant, L.R.; Sette, L.D. (2010). Textile Dyes Decolorization and Ligninolytic Activity by Marine-Derived Peniophora sp. CBMAI 1063. proceedings of the 12th International Conference on Culture Collections, pg. 23. United States Environmental Protection Agency. 2011. Polycyclic Aromatic Hydrocarbons (PAHs). Disponível em: http://www.epa.gov/ osw/hazard/wastemin/priority.htm. Acesso em 13 de janeiro de 2011. Harvey, R.G. (1997). Polycyclic Aromatic Hydrocarbons. Hoboken, Wiley-VCH, New York. Finlayson-Pitts, B.J.; Pitts, J.N. (1997). Tropospheric air pollution: Ozone, airborne toxics, polycyclic aromatic hydrocarbons, and particles. Science 276, 1045-1052. Anyakora, C. (2007). Environmental Impact of Polynuclear Aromatic Hydrocarbons. Research Signpost, Kerala, India. Juhasz, A.L.; Naidu, R. (2000). Bioremediation of high molecular weight polycyclic aromatic hydrocarbons: a review of the microbial degradation of benzo(a)pyrene. International Biodeterioration & Biodegradation 45, 57-88. Cerniglia, C.E.; Sutherland, J.B. (2010). Degradation of Polycyclic Aromatic Hydrocarbons by Fungi. In Timmis K.N. (ed) Handbook of Hydrocarbon and Lipid Microbiology. Springer-Verlag Berlin Heidelberg, p.2079-2110. Miller, K.P.; Ramos, K.S. (2001). Impact of cellular metabolism on the biological effects of benzo[a]pyrene and related hydrocarbons. Drug Metab. Rev. 33, 1–35. Verdin, A.; Sahraoui, A.; Durand, R. (2004). Degradation of benzo[a]pyrene by mitosporic fungi and extracellular oxidative enzymes. International Biodeterioration & Biodegradation 53, 65-70. da Silva, M.; Cerniglia, C.E.; Pothuluri, J.V.; Canhos, V.P.; Esposito, E. (2003) Screening filamentous fungi isolated from estuarine sediments for the ability to oxidize polycyclic aromatic hydrocarbons. World Journal of Microbiology & Biotechnology 19, 399–405. Baborová, P.; Möder, M.; Baldrian, P.; Cajthamlová, K.; Cajthaml, T. (2006) Purification of a new manganese peroxidase of the white-rot fungus Irpex lacteus, and degradation of polycyclic aromatic hydrocarbons by the enzyme. Research in Microbiology 157, 248–253. Chulalaksananukul, S.; Gadd, G.M.; Sangvanich, P.; Sihanonth, P.; Piapukiew, J.; Vangnai, A.S. (2006). Biodegradation of benzo(a)pyrene by a newly isolated Fusarium sp. FEMS Microbiol. Lett. 262, 99-106. 37 Aprovado pela SBM confiança na qualidade do produto Em 2009 a Sociedade Brasileira de Microbiologia implantou o Selo de Aprovação SBM, com o objetivo de promover a aprovação de produtos sanitariamente adequados quanto à presença de microrganismos. Em paralelo ao Selo, foi criado o Departamento de Avaliação de Produtos pela SBM, responsável pelas análises e pesquisas dos produtos, incluindo as embalagens e informações ao consumidor. A aprovação do produto começou a ser uma exigência do mercado e os fabricantes passaram a se preocupar mais em adequar sua produção e seus produtos dentro de parâmetros qualitativos e com preços competitivos. O programa de aprovação da SBM visa certificar produtos quanto a sua qualidade microbiológica e/ou sua capacidade germicida. O processo de aprovação pela SBM segue um programa internacional, cujas diretrizes emanam da Organização Mundial de Saúde. O primeiro produto a receber o Selo de Aprovação da SBM foi o Dettol® produzido pela empresa Reckitt-Benckiser nas formas de sabonete em barra, sabonete líquido e gel anti-séptico. Este selo foi concedido após avaliação de parecer técnico-específico emitido por especialistas indicados pela SBM. Como solicitar o Selo SBM As empresas interessadas em encaminhar seus produtos para avaliação do programa de aprovação da SBM devem: - Enviar carta à Sociedade Brasileira de Microbiologia e solicitar que o produto, fabricado ou comercializado no Brasil seja analisado para receber o Selo de Aprovação SBM; - Também é preciso enviar estudos já realizados sobre o produto, como análises, pesquisas e formulação, além de informações adicionais que houver; - Caso a comissão de avaliação achar necessário, novos testes em laboratórios credenciados poderão ser solicitados. Depois do envio deste material, o SBM firma com a empresa solicitante um protocolo de pesquisa, informando os objetivos, procedimentos e tempo de estudo. A realização dos ensaios dura entre 30 a 90 dias e todas as análises realizadas, materiais e equipamentos utilizados obedecem a normas específicas para cada produto. Sendo o produto aprovado, deverá a Empresa assinar um Contrato que rege todos os pontos do relacionamento com a SBM. Para tornar possível mais essa atividade da SBM, foi realizado um convênio de parceria com empresa tradicional em proficiência, a Controllab. Para obtenção de maiores esclarecimentos entre em contato com: [email protected] 38 SBM in foco - A forma direta de falar com os microbiologistas. Apresentamos o plano de comercialização para 4 edições da Revista Microbiologia in Foco. Periódico da Sociedade Brasileira de Microbiologia, com tiragem de 2000 exemplares e distribuição gratuita. Revista de informação e divulgação sobre temas em bacteriologia, micologia e virologia nas várias áreas de abrangência da Microbiologia: ambiental, agrícola, básica, de alimentos, industrial, médica humana e veterinária e oral. A revista ainda conta com espaços para divulgação de consensos, agenda científica, atualidades e oportunidades de trabalho. Venha fazer parte deste veículo de informação atualizada! Atenciosamente, Marina Baquerizo Martinez e Carlos P. Taborda - Editores Sociedade Brasileira de Microbiologia página inteira 21 x 28 cm Para anunciar entre em contato com José Jair Cagnotto: E-mail: [email protected] Telefone: (11) 3813-9647 ou 3037-7095 1/2 página 18 x 12 cm www.sbmicrobiologia.org.br Agenda in Foco 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia Data: 02/10/2011 à 06/10/2011. Local: Rafain Palace Hotel e Convention Center Foz do Iguaçu, PR – Brasil. XXI Congresso Latino-Americano de Microbiologia Data: 28/10/2012 à 01/11/2012 Local: Mendes Convention Center – Santos, SP – Brasil 40 Cursos de Especialização e Aperfeiçoamento em Microbiologia • Microbiologia Clínica • Microbiologia Industrial • Microbiologia de Alimentos • Microbiologia Ambiental Início das turmas em janeiro e julho Coodernadora: Dra. Marina Baquerizo Martinez Profa. Titular da FCF-USP Público Alvo Graduados em • Biologia • Medicina Veterinária • Engenharia de Alimentos • Engenharia Química • Farmácia • Biomedicina • Medicina • Odontologia Especialização Aperfeiçoamento Interessados em atuar na área de microbiologia de alimentos, ambiental, industrial e clínica. Profissionais que atuam na área de microbiologia de alimentos, ambiental, industrial e clínica. E queiram aprimorar seus conhecimentos específicos. Seleção: Ficha de inscrição e Envio de currículo Seleção: Ficha de inscrição e Envio de currículo Duração: 18 meses, aulas quinzenais, sextas-feiras das 19:00 a 23:00 horas e sábados das 9:00 as 18:00 horas Duração: 8 meses, aulas quinzenais, sextas-feiras das 19:00 a 23:00 horas e sábados das 9:00 as 18:00 horas Carga Horária Total: 760 horas Carga Horária Total: 180 horas www.sbmicrobiologia.org.br Av. Prof. Lineu Prestes 2415 ICB III | Cidade Universitária | São Paulo | SP | CEP: 05508-000 Tel: 11 3037-7095 | 11 3813-9647 | [email protected] 41 FIQUE SÓCIO Os sócios da SBM têm direito a descontos especiais nos eventos promovidos ou patrocinados pela SBM . Para usufruir do desconto de associado em nossas atividades é imprescindivel estar anuente a dois anos consecutivos com a sociedade. Além disso, têm acesso livre à revista científica Brazilian Journal of Microbiology (BJM e que se destina à publicação de trabalhos de pesquisa originais, notas breves e revisões, envolvendo todos os aspectos da Microbiologia. É considerada uma das revistas científicas mais importantes do nosso país. O BJM tem uma política muito severa de avaliação dos trabalhos submetidos à publicação, sendo cada manuscrito avaliado por pelo menos dois revisores criteriosamente selecionados. A revista Microbiologia in Foco tem o objetivo de promover o intercâmbio de informações científicas entre os associados, publicando os autores nacionais de expressão. Adota o mesmo critério de avaliação e excelência que a SBM sempre adotou. Enviaremos o último número da Microbiologia in Foco a todos os novos associados, após sua efetiva associação, um exemplar da revista, no período composto entre os dias 05 e 10. Nos meses seguintes, os associados receberão regularmente os novos números publicados da revista. Fique sócio da SBM. Veja informações no site: www.sbmicrobiologia.org.br Lembre-se: um sócio da SBM integra a maior e mais representativa associação da comunidade científica que atua na microbiologia nacional. Valores para associação Categoria de Sócio ............................................... Anuidade 2011 Aluno de Graduação................................................... R$ 80,00 Aluno de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado)............................................. R$ 130,00 Aluno de Pós-Doutorado............................................ R$ 160,00 Profissional................................................................ R$ 190,00 Biênio 2010-2011 Presidente Adalberto Pessoa Junior, USP-SP 1º Tesoureiro Carlos Pelleschi Taborda, USP-SP Vice Presidente Alexandre Soares Rosado, UFRJ-RJ 2º Tesoureiro Patrícia Silva Cisalpino, UFMG-MG 1º Secretário Carla Taddei de Castro Neves, USP-SP Conselho Fiscal Bernadette G. Franco, USP-SP Sergio E. L. Fracalanza, UFRJ-RJ Agnes Marie Sá Figueiredo, UFRJ-RJ 2º Secretário Lauro Santos Filho, UFPB-PB Representantes de Área SBM 2010-2011 Coleções de Cultura Lara D. Sette, UNICAMP-SP Carlos Augusto Rosa, UFMG Microbiologia Clínica Elizabeth de Andrade Marques, RJ Jorge Luiz Mello Sampaio, Fleury-SP Parasito-Hospedeiro Sandro R. de Almeida, USP-SP Dario Simões Zamboni, USP-SP Ensino Alexandre Lourenço, UNIP/UNISA/FMU-SP Marcela Pellegrini Peçanha, PUC/UNESP Microbiologia Industrial José Gregório, USP-SP Eleni Gomes, UNESP-Rio Preto Microbiologia do Solo Itamar Soares de Melo, Embrapa-SP Mariangela Hungria, Embrapa-PR Infecção Hospitalar Ana Lúcia Darini, USP-SP Afonso Luis Barth, UFRGS Microbiologia Médica Leila Carvalho Campos, FIOCRUZ-BA Waldir P. Elias Jr, Instituto Butantan-SP Microbiologia Veterinária Walter Lilenbaum, UFF-RJ Odir Antônio Dallagostin, UFPel Microbiologia de Alimentos Bernardete G. Franco, USP-SP Ricardo Souza Dias, FUNED-MG/Metodista de Minas Micologia Célia Maria de Almeida Soares, UFG-GO Marcio Rodriges, UFRJ-RJ Virologia Maurício L. Nogueira, FAMERP-SP Luciana Barros de Arruda, UFRJ-RJ Microbiologia Ambiental Irma Grivera, USP-SP Ricardo Henrique Kruger, UnB Micotoxinas Marta Taniwashi, ITAL-SP Myrna Sabino, Instituto Adolfo Lutz-SP Genética de Microrganismos e Bioinformática Vasco Ariston de Carvalho Azevedo, UFMG-MG Artur Luiz da Costa Silva, UFPA