FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS FUNCIONAIS PARA A SAÚDE OCULAR A VISÃO, PEQUENA INTRODUÇÃO A visão é um dos cinco sentidos que permitem inúmeros seres vivos aprimorarem suas percepções do mundo, dentre eles os seres humanos. Embora o olho seja o órgão sensorial da visão, esta inclui não só a habilidade de detectar a luz (as ondas eletromagnéticas no espectro visível) e as imagens, mas também a de as interpretar, ou seja, ver. Por isso, no sentido mais amplo da palavra visão, esta requer a intervenção de zonas especializadas do cérebro, o córtex visual, que analisam e sintetizam a informação recolhida em termos de forma, cor, textura, relevo, etc. A visão é, por isso, a percepção das radiações luminosas, compreendendo todo o conjunto de mecanismos fisiológicos e psicológicos pelos quais estas radiações determinam impressões sensoriais de natureza variada, como as cores, as formas, o movimento, a distância e o relevo. © Tigerx Dreamstime.com SAÚDE OCULAR O olho é o primeiro componente deste sistema sensorial e é no seu interior que está a retina, composta de cones e bastonetes, onde se realizam os primeiros passos do processo perceptivo. A retina transmite os dados visuais, através do nervo óptico e do núcleo geniculado lateral, para o córtex cerebral. No cérebro tem, então, início o processo de análise e interpretação que nos permite reconstruir as distâncias, cores, movimentos e formas dos objetos que nos rodeiam. 42 olho.indd 42 25/8/2008 12:01:11 SAÚDE OCULAR O OLHO: ANATOmIA báSICA coróide retina esclera humor vítreo conjuntiva humor aquoso córnea mácula pupila nervo óptico contém duas estruturas: o corpo ciliar e a íris. O primeiro é uma região muscular conectada ao cristalino. Ele se contrai e relaxa para controlar o tamanho do cristalino quando o foco precisa ser ajustado. A íris é a parte colorida do olho; sua cor é determinada pela cor do tecido conjuntivo e das células de pigmento. Menos pigmentação deixa os olhos azuis, mais pigmentação deixa os olhos marrons. A íris é um diafragma ajustável ao redor de uma abertura central chamada pupila. Sua função é controlar a quantidade de luz que entra no olho: ambiente com muita luz faz fechar a pupila e ambiente com pouca luz faz dilatar a pupila. Exerce a função idêntica ao diafragma de uma máquina fotográfica. A íris possui dois músculos: o músculo dilatador torna a íris menor e, conseqüentemente, a pupila fica maior para permitir que mais luz entre no olho. Já o músculo esfíncter deixa a íris maior e a pupila menor, permitindo que menos luz entre no olho. O tamanho da pupila pode mudar de 2 milímetros para 8 milímetros. Isso significa que ao alterar o tamanho da pupila, o olho pode mudar a quantidade de luz que entra nele em até 30 vezes. A camada mais interna é a retina: a porção do olho que percebe a luz. Ela ocupa 2/3 da superfície interna do globo ocular e possui múltiplas camadas de tecido neural dispostas de forma ordenada. Ela contém células bastonetes, que são responsáveis pela visão em condições de pouca luz, e células cone, responsáveis pela visão de cores e detalhes. Na parte posterior do olho, cristalino íris no centro da retina, está a mácula, na qual se localizam os cones. No centro da mácula há uma área chamada fóvea central. Esta área contém apenas cones e é responsável por enxergarmos claramente detalhes específicos. A retina contém um composto químico chamado rodopsina. Ela é a responsável por converter a luz nos impulsos elétricos que o cérebro interpreta como visão. As fibras nervosas da retina juntam-se na parte posterior do olho e formam o nervo óptico, que conduz os impulsos elétricos ao cérebro. O local em que o nervo óptico e os vasos sangüíneos saem da retina é chamado de disco óptico. Esta área é um ponto cego da retina, porque não contém bastonetes ou cones. No entanto, não se percebe este ponto cego, porque cada olho cobre o ponto cego do outro. Dentro do globo ocular há duas seções preenchidas por fluidos separados pelo cristalino. A seção posterior e maior contém um material transparente e semelhante a um gel, chamado humor vítreo. A seção frontal e menor contém um material transparente e aquoso, chamado humor aquoso. O humor aquoso divide-se em duas seções chamadas câmara anterior (na frente da íris) e câmara posterior (atrás da íris). O humor aquoso é produzido no corpo ciliar e escoa pelo canal de Schlemm. Quando esse escoamento é bloqueado, pode ocorrer uma doença chamada glaucoma. O cristalino é uma estrutura transparente e biconvexa de cerca de 10mm de diâmetro. O cristalino muda de forma, porque está ligado a músculos do corpo ciliar. É usado para fazer o ajuste fino da visão. FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS Embora pequeno no tamanho, o olho é um órgão muito complexo. O globo ocular está situado dentro de uma cavidade óssea. É levemente achatado na vertical: possui aproximadamente 23mm de diâmetro vertical e 23,5mm de diâmetro horizontal; o volume é de cerca de 3cm3. O olho é capaz de se movimentar em várias direções para maximizar o campo de visão e, além disso, é protegido de ferimentos por uma cavidade óssea chamada de cavidade orbital. O olho fica incrustado em gordura, que lhe fornece amortecimento. As pálpebras protegem o olho por meio do ato de piscar. E isso também mantém a superfície do olho úmida ao espalhar as lágrimas sobre os olhos. Os cílios e sobrancelhas protegem o olho de partículas que podem feri-lo. As lágrimas, por sua vez, são produzidas nas glândulas lacrimais, que estão localizadas acima do segmento exterior de cada olho. As lágrimas, eventualmente, acabam sendo sugadas para o canto do olho, dentro do saco lacrimal, passando pelo duto nasal e entrando no nariz. É por isso que o nariz escorre quando choramos. Há seis músculos ligados à esclera para controlar os movimentos do olho: o reto medial, o reto lateral, o reto superior, o reto inferior, o oblíquo superior e o oblíquo inferior (veja Figura 1). A camada dura e mais exterior do olho é chamada de esclera, ou esclerótica; é a parte branca do olho. Densa, reveste 5/6 do globo ocular; o 1/6 restante compreende a córnea. Sua função é a proteção ocular. Ela mantém o formato do olho. A sexta parte frontal dessa camada é transparente e chamada de córnea. Toda a luz deve passar primeiro pela córnea ao entrar no olho. Ligados à esclera estão os músculos que movem o olho, chamados músculos extra-oculares. O coróide (ou trato uveal) é a segunda camada do olho. Ele contém os vasos sangüíneos que fornecem sangue às estruturas; servem para a nutrição da retina. A parte frontal do coróide FIGURA 1 - GLÓBULO OCULAR 43 olho.indd 43 25/8/2008 12:01:12 SAÚDE OCULAR Cobrindo a superfície interna das pálpebras e da esclera está uma mucosa chamada de conjuntiva, que ajuda a manter a umidade do olho. Uma infecção desta área é chamada de conjuntivite. FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS A QUímICA DA VISÃO A vitamina A é o composto químico mais utilizado, tanto pelos cones quanto pelos bastonetes, para a síntese de substâncias fotossensíveis. Ao ser absorvida por um bastonete, ela é transformada em retineno. O retineno combina-se com uma proteína dos bastonetes, a escotopsina, para formar o composto fotossensível rodopsina. Se o olho não está exposto a energia luminosa, a concentração de rodopsina pode aumentar significativamente; exposto a ela, parte da rodopsina se transforma em lumirrodopsina, que, por sua vez, pode ser transformada em metarrodopsina, a qual se degrada finalmente em retineno e escotopsina. No processo de fracionamento da rodopsina, os bastonetes são, provavelmente, excitados por cargas iônicas que se desenvolveram, por instantes, nas superfícies em fracionamento da rodopsina. Essas cargas perduram apenas por uma pequena fração de segundos. Durante esse pequeno intervalo, são gerados sinais neurais no bastonete, que são transmitidos para o nervo óptico e, por meio dele, para o encéfalo. Após a rodopsina ter sido decomposta pela energia luminosa, seus produtos de decomposição, o retineno e a escotopsina, são de novo recombinados, nos próximos poucos minutos, pelos processos metabólicos da célula, para formar nova rodopsina, que pode ser reutilizada para produzir excitação adicional dos bastonetes. Dessa forma, existe um ciclo contínuo, no qual a rodopsina é formada continuamente e decomposta pela energia luminosa para excitar os bastonetes. Nos cones, os processos químicos são quase exatamente iguais aos dos bastonetes, exceto pelo fato de que a proteína escotopsina, característica dos bastonetes, é substituída por uma de três proteínas semelhantes, chama- da genericamente de fotopsinas. As diferenças existentes entre as fotopsinas fazem com que os três tipos de cones sejam sensíveis de modo seletivo a diferentes cores. Os cones diferem dos bastonetes em três aspectos: - primeiro, respondem seletivamente a determinadas cores, isto é, alguns são sensíveis a uma cor e outros a outras cores; - segundo, são muito menos sensíveis à luz do que os bastonetes, o que os impedes de ver sob iluminação muito fraca; - terceiro, cada fibra do nervo óptico está ligada a um cone, o que lhes permite acuidade visual muito maior do que a dos bastonetes (há de 10 a 200 bastonetes conectados à mesma fibra do nervo óptico, o que significa que os sinais transmitidos pelos bastonetes não se originam de um ponto restrito e específico da retina, diminuindo, portanto, seu poder de resolução óptica). AS PRINCIPAIS AFECÇÕES DA SAÚDE OCULAR As principais doenças que podem afetar dramaticamente a saúde ocular, em pessoas com idade acima de 40 anos, são a DMRI (Degeneração Macular Relacionada à Idade), o glaucoma, a catarata e a retinopatia diabética. a) A DMRI ou Degeneração Macular Relacionada à Idade é uma lesão que acomete a mácula, uma pequena área no fundo do olho que permite enxergar claramente pequenos detalhes. Quando a mácula não funciona de maneira correta, ocorre embaçamento ou escuridão no centro de nossa visão. A degeneração macular afeta tanto a visão de longe como a de perto, podendo dificultar ou impedir algumas atividades, tais como leitura e trabalhos manuais (veja Figura 2). FIGURA 2 - OLHO AFETADO PELA DEGENERAÇÃO MACULAR mácula depressão veia artéria disco óptico cúpula Embora a degeneração macular reduza a visão central, ela não prejudica a visão lateral ou periférica do olho. Por exemplo, uma pessoa afetada pode ver o contorno de um relógio, mas é incapaz de enxergar as horas. A degeneração macular, geralmente, não resulta em cegueira total, pois as pessoas continuam a desfrutar de alguma visão útil, o que lhes proporciona uma relativa independência. Algumas pessoas idosas desenvolvem a degeneração macular como parte do processo natural de envelhecimento do organismo. Estudos recentes têm mostrado que existe uma predisposição genética para a degeneração macular. O Instituto da Visão, em parceria com a UFMG, vêm ADAPTAÇÃO AO CLARO E AO ESCURO Adaptação ao escuro: a pupila dilata (ocorre midríase), expondo maior número de bastonetes à incidência luminosa, sabendo-se que eles são mais sensíveis. É preciso um certo tempo para a síntese de rodopsina em quantidade suficiente para uma visão melhor. A adaptação total ao escuro ocorre em 30 minutos e visa condicionar os bastonetes para receber estímulos luminosos de pequena intensidade. Adaptação ao claro: mais rápida. Ao sair de um ambiente escuro, a pupila está dilatada e fica-se com os olhos ofuscados porque a luz que estava incidindo nos bastonetes passa a atuar sobre os cones. Com a incidência de luz nos cones, há uma degradação rápida da rodopsina nos bastonetes e das fotopsinas nos cones. O período de ofuscamento dura 10 minutos, aproximadamente, tempo usado para uma nova síntese de níveis adequados de pigmento visual. 44 olho.indd 44 25/8/2008 12:01:13 desenvolvendo pesquisas avançadas para identificar, em cada paciente, os genes que poderiam estar associados à doença. Essa identificação pode ser muito útil na prevenção e tratamento da degeneração macular, tanto para o paciente como para seus familiares. Os dois tipos mais comuns de degeneração macular ligada à idade são a “seca”, também chamada atrófica, e a “úmida”, também chamada exsudativa. A maioria dos portadores de degeneração macular apresenta a forma atrófica (“seca”). Ela é provocada por uma alteração degenerativa nos tecidos da mácula, levando a uma perda lenta e gradual da visão central. A degeneração macular exsudativa (“úmida”) é responsável por cerca de 10% dos casos. Embora seja menos freqüente, é potencialmente mais grave que a forma seca, ocorrendo quando vasos sangüíneos anormais se formam no fundo do olho. Esses novos vasos sangüíneos extravasam fluido ou sangue, prejudicando a visão central. A perda de visão nesses casos pode ser rápida e grave. Existe um terceiro tipo de degeneração macular chamado de cicatricial; é marcada pelo escotoma central permanente, baixa de acuidade visual. Na angiografia, tem-se uma hiperfluorescência por tingimento da cicatriz. Os sintomas da degeneração macular podem ser imperceptíveis nos estágios iniciais. Às vezes, apenas um dos olhos apresenta a baixa de visão, enquanto o outro continua a enxergar bem durante muitos anos. Entretanto, quando ambos os olhos são afetados, a diminuição da visão central pode ser percebida mais precocemente. Os sintomas mais freqüentes são: “aparência borrada” das palavras, área escura ou vazia no centro da visão e/ou distorção das linhas retas, como na Figura 3. Há várias modalidades de tratamento para a degeneração macular. Na degeneração macular “seca”, o uso de uma combinação adequada de vitaminas e sais minerais pode impedir ou retardar a perda da visão. Já a degeneração macular “úmida”, nos estágios iniciais, pode ser tratada com raios laser. A fotocoagulação a laser emprega um feixe de luz altamente focalizado para ocluir os vasos FIGURA 3 - DISTORÇÃO DAS LINHAS RETAS: UM DOS SINTOMAS DA DEGENERAÇÃO MACULAR sangüíneos que lesam a mácula. Esse tratamento é realizado nos casos em que os vasos anormais não afetam o centro da mácula. A Terapia Fotodinâmica (PDT, Photodynamic Therapy), que utiliza um corante especial – Visudyne – o qual injetado em uma veia do braço, irá localizar-se nos vasos anormais no fundo do olho. Um laser especial ativa, então, esse corante, o que resulta na oclusão dos vasos anormais, sem lesão da retina sobrejacente. Esse tratamento é utilizado quando os vasos anormais estão localizados no centro da mácula. Outra técnica cirúrgica é a translocação macular. Nela, a retina é descolada e mudada para uma nova posição. A mácula sensorial fica, assim, em uma posição diferente dos vasos anormais, localizados abaixo da retina, os quais, dessa forma, podem ser ocluídos com o laser tradicional, sem danos para a mácula. Programas de pesquisa vem investigando intensamente drogas inibitórias da angiogênese, radioterapia, transplantes de epitélio pigmentar retiniano, uso de nutrientes, entre muitos outros. Destes, o que tem despertado interesse crescente é a inibição da angiogênese, tendo como alvo o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). Em 2002, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia apontou que aproximadamente 2,9 milhões de brasileiros, com mais de 65 anos de idade, apresentavam casos de DMRI, e com o aumento da expectativa de vida, é natural que este número se eleve. A moléstia afeta cerca de 30 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a maior causa de cegueira a partir dos 50 anos, nos Estados Unidos, e responsável por 50% dos casos de cegueira no Reino Unido b) O glaucoma, doença ocular que afeta homens e mulheres na mesma proporção, é considerado um dos distúrbios mais traiçoeiros da oftalmologia, por afetar a visão lentamente, muitas vezes sem que as pessoas se dêem conta disso. Trata-se de um distúrbio em que a pressão do líquido que preenche o globo ocular está anormalmente aumentada, além do que o olho pode tolerar por tempo prolongado. O aumento de pressão é causado por um acúmulo de líquido – humor aquoso – que circula no interior do olho. Esse acúmulo se produz mais comumente pela obstrução do conduto pelo qual normalmente esse líquido sai do olho através do trabeculado. Nesse caso, a pressão intra-ocular vai aumentando progressivamente. A média da pressão intra-ocular é 16 milímetros de mercúrio (mmHg), embora a faixa de normalidade seja entre 10 e 21 mmHg. No entanto, outros fatores são observados pelo médico para atestar o glaucoma. O aumento de pressão dificulta a irrigação das células nervosas e leva à sua morte. A pressão intra-ocular aumentada pode comprimir os vasos sangüíneos que nutrem as sensíveis estruturas visuais do fundo do olho. Devido à falta de irrigação sangüínea, as células nervosas vão morrendo, provocando perda progressiva da visão e estreitamento do campo visual. Se o processo não for controlado, pode levar à cegueira. Geralmente, não há sinais para o glaucoma. Na maioria dos casos, desenvolve-se em meses ou até em anos, sem ocasionar nenhum sintoma. O dano pode progredir tão lentamente, que a pessoa não se dá conta da perda gradual da visão. Em geral, a visão vai piorando até que finalmente começa a afetar o próprio centro do campo visual e se estabelece a cegueira permanente. Alguns pacientes podem experimentar sintomas vagos, que são importantes avisos de que é necessário um exame ocular completo. Esses sintomas podem envolver a necessidade FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS SAÚDE OCULAR 45 olho.indd 45 25/8/2008 12:01:13 FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS SAÚDE OCULAR de trocar com freqüência a graduação dos óculos, dificuldade para se adaptar à obscuridade, perda da visão lateral e visão embaçada. Se houver um grande aumento da pressão, pode haver outros sintomas, como o aparecimento de halos ou arco-íris ao redor das luzes e cefaléias ou dor ocular intensa. O tipo mais comum é o glaucoma primário de ângulo aberto, freqüentemente assintomático. Uma das causas pode ser uma obstrução do escoamento do humor aquoso do olho. O humor aquoso é produzido no corpo ciliar do olho, fluindo através da pupila para a câmera anterior. A malha trabecular, então, drena o líquido para o canal de Schlemm e finalmente para o sistema venoso. Todos os olhos possuem alguma pressão intra-ocular que é causada pela presença de alguma resistência ao fluxo do humor aquoso através da malha trabecular e do canal de Schlemm. Se a pressão intra-ocular (PIO) for alta demais (maior do que 21,5 mmHg), a pressão nas paredes do olho resultará na compressão das estruturas oculares. Entretanto, outros fatores, como perturbações no fluxo sangüíneo no nervo óptico, podem interagir com a PIO e afetar o nervo óptico. Em um terço dos casos de glaucoma primário de ângulo aberto há PIO estatisticamente normal. Esses casos são chamados de glaucoma de pressão normal. Devido ao fato de exames do nervo óptico nem sempre serem realizados juntamente com medidas de PIO em pacientes de risco, o glaucoma de pressão normal é mais raramente diagnosticado até as condições se apresentarem adiantadas. Outro tipo, o glaucoma de ângulo fechado, é caracterizado por aumentos súbitos de pressão intra-ocular. Isto ocorre em olhos susceptíveis quando a pupila dilata e bloqueia o fluxo do fluido através dela, levando à íris bloquear a malha trabecular. O glaucoma de ângulo fechado pode causar dor e reduzir a acuidade visual (visão borrada), e pode levar à perda visual irreversível dentro de um curto período de tempo. É considerada uma situação de emergência oftalmológica e requer tratamento imediato. Muitas pessoas com esse glaucoma podem visualizar um halo em volta de pontos de luz brilhantes, além da perda de visão característica da doença. O glaucoma congênito é uma doença genética rara que atinge bebês. Recém-nascidos com globos oculares aumentados e córneas embaçadas. Se considera que a causa da pressão intraocular elevada nesses casos é causada pela redução da permeabilidade trabecular. O tratamento é a cirurgia. O glaucoma secundário ocorre como uma complicação de várias condições médicas, como cirurgia ocular, catarata avançada, lesões oculares, uveítes, diabetes ou uso de corticóides. Apresentando ou não sintomas distintos, uma complicação quase inevitável do glaucoma é a perda de visual. A perda visual causada por glaucoma atinge primeiro a visão periférica. No começo a perda é sutil, e pode não ser percebida pelo paciente. Perdas moderadas a severas podem ser notadas pelo paciente através de exames atentos da sua visão periférica. Isso pode ser feito fechando um olho e examinando todos os quatro cantos do campo visual notando claridade e acuidade, e então repetindo o processo com o outro olho fechado. Freqüentemente, o paciente não nota a perda de visão até vivenciar a “visão tunelada”. Se a doença não for tratada, o campo visual se estreita cada vez mais, obscurecendo a visão central e finalmente progredindo para a cegueira do olho afetado. Esperar pelos sintomas de perda visual não é o ideal. A perda visual causada pelo glaucoma é irreversível, mas O olho é o primeiro componente deste sistema sensorial e é no seu interior que está a retina, composta de cones e bastonetes, onde se realizam os primeiros passos do processo perceptivo. pode ser prevenida ou atrasada por tratamento. Um oftalmologista deve ser consultado pelas pessoas com risco de desenvolver glaucoma. Pessoas com histórico familiar de glaucoma têm cerca de 6% de chance de desenvolver a doença; diabéticos e negros são mais propensos a desenvolverem glaucoma de ângulo aberto, e asiáticos têm maior tendência a desenvolver glaucoma de ângulo fechado. Idealmente, todas as pessoas devem checar o glaucoma a partir dos 35 anos, com a freqüência das checagens aumentando com a idade. Metade das pessoas que sofrem de glaucoma não sabem disso. Inúmeros estudos sugerem que há uma correlação, não necessariamente causal, entre glaucoma e hipertensão sistêmica (ou seja, pressão sangüínea alta). Apesar da pressão intra-ocular elevada não ser a única causa do glaucoma, até o momento, diminuí-la é o principal tratamento. A pressão intra-ocular pode ser diminuída com medicamentos, em geral, colírios. Há diversas classes diferentes de medicamentos para tratar glaucoma, com diversos medicamentos em cada classe. Antagonistas adrenérgico beta de uso tópico, como o timolol e o betaxolol, diminuem a produção de humor aquoso. Medicamentos simpatomiméticos menos seletivos, como a epinefrina, aumentam o fluxo do humor aquoso através da malha trabecular e possivelmente através da via úveo-escleral. Agentes mióticos parasimpatomiméticos, como a pilocarpina, funcionam pela contração do músculo ciliar, estreitando a malha trabecular e permitindo o aumento do fluxo através das vias tradicionais. Inibidores da anidrase carbônica, como a dorzolamida, diminuem a secreção do humor aquoso pela inibição da anidrase carbônica no corpo ciliar. Análogas da prostaglandina, como o latanoproste, aumentam o escoamento do humor aquoso pela via úveo-escleral. Tanto a cirurgia a laser quanto a tradicional podem ser realizadas para o tratamento de glaucoma. A trabeculoplastia laser pode ser utilizada para tratamento de glaucoma de ângulo aberto. Um ponto de laser de 46 olho.indd 46 25/8/2008 12:01:13 SAÚDE OCULAR argônio é apontado à malha trabecular para estimular a abertura da malha e permitir um aumento no escoamento do humor aquoso. A cirurgia convencional mais comum realizada para tratamento de glaucoma é a trabeculectomia. Nela, uma câmara (bolha) é feita na parede escleral do olho, e uma abertura é feita abaixo da bolha para remover a porção da malha trabecular. A bolha é então suturada frouxamente de volta. Isso permite ao fluído escoar para fora do olho através desta abertura, resultando em diminuição da pressão intra-ocular. Atualmente, cerca de 90 milhões de pessoas no mundo sofrem com o aumento da pressão intra-ocular, sendo esta a maior causa de perda da visão, ficando atrás apenas da catarata. A doença afeta, geralmente, pessoas acima de 35 anos e a prevalência é de 1% a pâncreas. O diabetes pode afetar crianças e adultos. Com o tempo, o diabetes afeta o sistema circulatório da retina. A retina é uma camada de prolongamento dos nervos, onde estão as células receptoras responsáveis por perceber a luz e ajudar a enviar as imagens ao cérebro. O dano aos vasos sangüíneos da retina pode ter como resultado vazamento de fluido ou sangue, que poderão causar fibrose e desorganizar a retina. Isto pode distorcer as imagens ou tornar as imagens que a retina envia ao cérebro borradas. O diabetes lesa os vasos sangüíneos da retina e pode ocasionar crescimento anômalo dos vasos, numa fase mais avançada da doença. Os riscos de desenvolver retinopatia diabética aumentam quanto maior o tempo de doença dos pacientes. Hoje, tem-se idéia que 80% das pessoas que tenham retina. Trata-se da causa mais comum de perda visual por diabetes. A perda de visão pode ser moderada ou grave, porém, até mesmo nos piores casos, a visão periférica continua a funcionar. A isquemia macular ocorre quando os pequenos vasos sangüíneos (capilares) fecham. A visão fica turva porque a mácula não recebe sangue em quantidade suficiente para funcionar bem. O RDP apresenta-se quando novos vasos anormais (neovascularização) começam a crescer na superfície da retina ou do nervo óptico. A causa principal de RDP é a oclusão extensa de vasos sangüíneos da retina, impedindo assim o fluxo sangüíneo adequado. A retina responde gerando novos vasos sangüíneos numa tentativa de fornecer sangue à área onde se fecharam os vasos originais. Infelizmente, os nossos vasos san- 3% da população mundial. Segundo a Sociedade Nacional de Prevenção da Cegueira dos Estados Unidos, uma em cada 50 pessoas com mais de 35 anos e três em cada 100 com mais de 65 anos têm glaucoma. As pessoas que têm maior risco de sofrer do distúrbio são as diabéticas e as com familiares portadores de glaucoma. c) A retinopatia diabética. Os pacientes com diabetes são mais propensos a desenvolver problemas oculares, tais como catarata e glaucoma, mas as doenças que afetam a retina são a principal ameaça à visão. A maioria dos pacientes diabéticos desenvolve mudanças na retina após aproximadamente 20 anos. O efeito do diabetes na retina é chamado retinopatia diabética. O diabetes é uma doença que provoca o aumento da quantidade de açúcar (glicose) no sangue por falta absoluta ou relativa de insulina. A insulina é o hormônio que regula o nível do açúcar (glicose) no sangue e é produzida pelo sofrido de diabetes por pelo menos 15 anos apresentam algum tipo de lesão nos vasos sangüíneos da retina. Depois de 10 anos de doença, a incidência é de 50%, depois de 30 anos, é de 90%. Existem duas formas de retinopatia diabética: exsudativa ou não-proliferativa (RDNP) e proliferativa (RDP). Em ambos os casos, a retinopatia pode levar a uma perda parcial ou total da visão. A RDNP, mais conhecida como retinopatia de fundo, é uma etapa inicial da retinopatia diabética. Nesta etapa, minúsculos vasos sangüíneos dentro da retina deixam sair sangue ou fluído. A saída do fluído faz a retina inchar ou formar depósito. Quando a visão é afetada, é em decorrência do edema macular e/ou isquemia macular. O edema macular é um espessamento da mácula, uma pequena área no centro da retina que nos permite ver os detalhes com clareza. O espessamento é provocado pela passagem de fluído dos vasos sangüíneos da güíneos anormais não reabastecem a retina com um fluxo normal de sangue. Muitas vezes, estes novos vasos são acompanhados de tecido cicatricial que pode provocar enrugamento ou deslocamento da retina. O RDP pode levar a perda visual mais severa do que a RDNP por afetar tanto a visão central como a periférica. Os efeitos da retinopatia diabética na visão variam dependendo do estágio da doença. Visão borrada (ligado freqüentemente aos níveis de açúcar no sangue), moscas volantes e flashes e perda repentina da visão são alguns sintomas comuns de retinopatia diabética, entretanto, o diabetes pode causar outros sintomas no olho. Em alguns casos, pode-se recomendar um tratamento para deter o avanço das lesões causadas pela retinopatia diabética e, se possível, melhorar a qualidade da visão. Na fotocoagulação, mira-se um raio laser na retina para selar os vasos sangüíneos, com pequenas aplicações, reduzindo aí o FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS A visão é a percepção das radiações luminosas, compreendendo todo o conjunto de mecanismos fisiológicos e psicológicos pelos quais estas radiações determinam impressões sensoriais de natureza variada, como as cores, as formas, o movimento, a distância e o relevo. 47 olho.indd 47 25/8/2008 12:01:13 FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS SAÚDE OCULAR edema macular (mácula é a região da retina que possibilita ver detalhes minúsculos, como letras e números). Para tratar a formação de vasos sangüíneos anormais (neovascularização) as aplicações são espaçadas ao longo das áreas laterais da retina. As pequenas cicatrizes resultantes da aplicação do laser reduzem a formação de vasos sangüíneos anormais e ajudam a manter a retina sobre o fundo do olho, evitando o descolamento da retina. Se a retinopatia diabética é descoberta em suas primeiras etapas, a cirurgia a laser pode desacelerar o ritmo de perda da visão. Em casos onde se encontra retinopatia diabética proliferativa avançada, o oftalmologista poderá recomenda vitrectomia. A prevalência de retinopatia diabética em diabéticos insulino-dependentes é de 40%, enquanto que em diabético não insulino-dependentes é de 20%. A faixa etária mais acometida está entre 30 a 65 anos, sendo o sexo feminino afetado com maior freqüência. d) A catarata é considerada a principal causa de cegueira, sendo responsável por cerca da metade do número de cegos no mundo. A catarata é uma opacificação da lente natural do olho: o cristalino. A medida em que essa opacidade acentua-se, as imagens não chegam na retina de forma clara. Os pacientes com catarata podem apresentar vários sintomas: visão borrada, sensibilidade à luz e ao ofuscamento - principalmente quanto exposto à luz solar ou dirigindo à noite -, miopização - o que leva à necessidade de trocar de óculos com maior freqüência - e imagens distorcidas ou fantasmas. A principal causa é o envelhecimento natural; o cristalino é formado por lamelas transparentes e, com o passar do tempo, essas camadas envelhecem e perdem a transparência. Existem outras causas importantes, tais como: - traumatismo ocular (pancadas ou perfurações nos olhos provocam inflamações que podem prejudicar a transparência do cristalino); - certas doenças (diabetes, etc.); - medicamentos (quando os corticóides são usados por tempo prolongado e em grande quantidade, o cristalino é prejudicado); e - doenças genéticas. Embora o olho seja o órgão sensorial da visão, esta inclui não só a habilidade de detectar a luz e as imagens, mas também a de as interpretar, ou seja, ver. Inicialmente a catarata pode não precisar de cirurgia se não estiver abaixando a visão. Em alguns casos, a visão melhora com um novo óculos. Quando a catarata abaixa a visão e passa a incomodar, deve-se recorrer a cirurgia. A catarata não pode ser retirada com laser, mas somente através de uma incisão cirúrgica. As duas técnicas principais são a cirurgia extra-capsular e a facoemulsificação. Na cirurgia extra-capsular, após uma anestesia local, é feita uma incisão nos olhos de cerca de 12mm (o corte toma 180 graus do olho). Com uma pinça especial, a catarata é totalmente retirada. A lente doente sai sem que seja preciso fragmentá-la. Pelo corte por onde saiu a catarata, uma lente intra-ocular artificial grande e rígida é colocada. São dados de 7 a 10 pontos. Na técnica por facoemulsificação, depois da anestesia local, é feita uma incisão de cerca de 3mm - espaço suficiente para passagem dos instrumentos cirúrgicos. Um aparelho de ultra-som encosta na catarata e emite ondas que fazem a lente vibrar intensamente e, aos poucos, ir se fragmentando. A lente intra-ocular é inserida pela abertura. Neste caso, a lente é dobrável e entra pelo pequeno corte feito no olho. Sobre o espaço vazio onde estava a catarata, a lente é desdobrada para, assim, ficar encaixada. Ela substitui as funções do cristalino doente. Assim, em ambas as técnicas uma lente intra-ocular é implantada no lugar do cristalino, permitindo sua subs- tituição na focalização de imagens; o cálculo da graduação da lente realizado antes da cirurgia permite a correção do grau do paciente. A catarata é a principal causa de visão baixa nos Estados Unidos. Estima-se que cerca de 40 milhões de americanos com 40 anos ou mais tenha catarata em um dos olhos. Cerca de 4 milhões de americanos de 40 anos ou mais sofrem de retinopatia diabética. O glaucoma é a segunda causa de cegueira no mundo. Mais de 2 milhões de americanos nesta mesma faixa de idade sofre de glaucoma primário de ângulo aberto. A patogênese deste tipo de glaucoma não é ainda muito bem compreendida, sendo que a pressão intra-ocular parece ser o único fator de risco que possa ser controlado. A correlação entre dieta e saúde ocular não é nova. A necessidade de vitamina A para prevenir a xeroftalmia e cegueira noturna é conhecida há décadas. Mais recentemente, cresceu o interesse para os suplementos dietéticos que podem atuar na prevenção da perda de visão por condições degenerativas decorrentes da idade. Entre eles, convêm citar os antioxidantes, o mirtilo (em inglês billberry), o gingko biloba e os ácidos graxos ômega-3. Os antioxidantes O estresse oxidativo ocorre quando o nível de espécies reativas de oxigênio (ROIs) em um sistema excede a capacidade dos antioxidantes, causando danos oxidativos as células. As ROIs são moléculas instáveis produzidas nos tecidos de todo o corpo, em sua maior parte pelas mitocôndrias (durante o processo de fosforilação oxidativa) e pelas enzimas do citocromo P450 hepático. Mesmo em concentrações baixas, a exposição prolongada as ROIs resulta em lesão tecidual, mutação do DNA e doenças. A retina é vulnerável aos danos oxidativos por diversas razões. Primeiramente, por estar constantemente exposta a luz e a níveis elevados de oxigênio, o que fornece um ambiente favorável para a geração de ROIs. Em segundo lugar, os segmentos exteriores dos fotorreceptores contêm concentrações elevadas dos ácidos graxos 48 olho.indd 48 25/8/2008 12:01:14 SAÚDE OCULAR estágios de DMRI, e foi realizado por 11 centros clínicos dos Estados Unidos. Os participantes receberam uma das quatro suplementações diárias seguintes: 1) somente zinco (80mg de óxido de zinco mais 2mg de óxido cúprico; o cobre foi adicionado às formulações contendo zinco para evitar anemia por deficiência de cobre, condição geralmente associada a uma alta ingestão de zinco); 2) somente antioxidantes (500mg de vitamina C; 400 UI de vitamina E; 15mg de beta-caroteno, o que equivale a 25.000 UI de vitamina A); 3) antioxidantes e zinco; 4) placebo. Os participantes foram cuidadosamente acompanhados durante seis anos! As comparações com o grupo placebo mostraram uma redução estatisticamente significativa (cerca de 25%) no desenvolvimento de DMRI avançada no grupo que tomou a formulação de antioxidantes plus zinco. Os grupos que tomaram somente a formulação com zinco ou somente a formulação com antioxidantes também tiverem redução do risco de desenvolvimento de DMRI, porém com taxas mais moderadas (de 21% e 17%, respectivamente). Assim, os resultados da AREDS sugerem que a suplementação nutricional pode ser um dos meios mais promissores de desacelerar o desenvolvimento de DMRI, ou seja, postergar a perda de visão relacionada com a doença. Essa suplementação não apresenta nenhum efeito no desenvolvimento da catarata. Ademais, um estudo da Cochrane (www.cochrane.org) chama a atenção sobre os perigos de generalizar as informações decorrentes da AREDS para outras populações com diferentes hábitos nutricionais; até sugere que podem ocorrer alguns danos a saúde como conseqüências de uma suplementação em longo prazo, particularmente em fumantes. Uma nova pesquisa, a AREDS 2, está trabalhando com cerca de 100 centros clínicos, 4.000 pessoas de 50 a 85 anos, portadoras de DMRI. O estresse oxidativo pode também contribuir para a etiologia e progressão do glaucoma, e a adição de antioxi- FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS © Tigerx Dreamstime.com poliinsaturados, que são prontamente oxidados pelas ROIs. Os danos oxidativos a retina são um fator de risco de DMRI e da decorrente perda de visão. Os antioxidantes podem, então, prevenir os danos celulares a retina, reagindo com os radicais livres produzidos pelo processo de absorção da luz. Nesse caso, eles atuam como agentes protetores. A eficácia de uma suplementação em longo prazo com os antioxidantes, vitaminas C e E, beta-caroteno e alta dose de zinco em parar a progressão da DMRI está alicerçada, principalmente, em um grande estudo chamado AgeRelated Eye Disease Study (AREDS), patrocinado pelo National Eye Institute, de Bethesda, MD, organismo governamental norte-americano. A formulação especial utilizada neste estudo apresentou pequenos benefícios em pessoas acometidas com moderados, até severos, sinais de DMRI; altas dosagens de antioxidantes e zinco podem reduzir em até 25% o risco de desenvolver DMRI. O AREDS envolveu 4.757 participantes, de 55 a 80 anos, com vários 49 olho.indd 49 25/8/2008 12:01:16 SAÚDE OCULAR FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS dantes na dieta aparece como meio promissor de prevenção do glaucoma primário de ângulo aberto. Uma pesquisa prospectiva recente estudou o papel de alguns carotenóides específicos (alfa-caroteno, betacaroteno, beta-criptoxantina, luteína e zeaxantina), juntos com vitaminas E e C, com relação ao risco de desenvolvimento de glaucoma primário de ângulo aberto. O estudo contou com 116.484 participantes, acompanhados durante, pelo menos, 10 anos. Não foram encontradas evidências substanciais de que uma ingestão diária de carotenóides, com vitaminas E e C, reduzia substancialmente o risco de desenvolver um glaucoma primário de ângulo aberto! Alguns anos atrás, foi estudado a relação entre a ingestão diária de antioxidantes e a catarata relacionada com a idade, em 492 mulheres, não portadoras de diabetes, de 53 a 73 anos, com diagnóstico prévio de catarata. A ingestão diária de nutrientes foi calculada a partir de questionários coletados durante 13 a 15 anos. Os pesquisadores observaram que a vitamina C tinha alguma influência na redução do desenvolvimento da catarata em mulheres com menos de 60 anos. Os resultados também mostraram uma influência positiva dos carotenóides em mulheres que nunca fumaram! Assim, as evidências de influência positiva dos carotenóides clássicos sobre a saúde do olho são pobres ou, pelo menos, não são claramente definidas. A luteína e a zeaxantina, também carotenóides, parecem ser bem mais eficientes. Luteína e zeaxantina Os carotenóides luteína e zeaxantina, fora o fato de serem potentes antioxidantes, são os micronutrientes que apresentam algum real potencial de proteção contra a DMRI. São abundantes na retina e também encontrados em altas concentrações na mácula. A luteína e a zeaxantina são carotenóides que possuem oxigênio em sua estrutura; são conhecidas como xantofilas e comumente encontradas em vegetais de folhas verdes, como espinafre e couve-de-bruxelas. Apresentam colorações amarelas e alaranjadas, as quais muitas vezes são mascaradas pela cor verde da clorofila. As xantofilas também podem ser encontradas no reino animal, como na gema dos ovos (fonte altamente biodisponível de luteína e zeaxantina), na carne de salmão e nas conchas de crustáceos. Neste último caso, possuem às vezes cores azuladas ou verde, por estarem unidas a uma proteína. O aquecimento quebra essa ligação, o que explica a mudança de cor que ocorre ao cozinhar alguns crustáceos. Esses ingredientes benéficos à saúde ocular podem também ser encontrados na forma de suplementos. Alguns estudos mostram que uma alta ingestão de luteína e zeaxantina, a partir de alimentos como o espinafre e o brócolis, é associada a uma redução do risco de DMRI e de catarata. Essas constatações não somente alimentaram o interesse geral pelos benefícios da luteína e zeaxantina para a saúde, como também levaram a uma verdadeira proliferação, em farmácias e estabelecimentos comercializando “health food”, do número de suplementos à base de luteína e zeaxantina disponíveis nas prateleiras! As principais funções fisiológicas da luteína e zeaxantina com relação à saúde ocular reside na proteção oferecida contra os danos oxidativos e na absorção (filtração) do efeito nocivo da luz azul dos raios solares. Dos mais de 600 carotenóides existentes na natureza, aproximadamente 20 estão presentes no plasma humano e tecidos, e não mais que seis em quantidades elevadas: alfa-caroteno, beta-caroteno, beta-criptoxantina, licopeno, luteína e zeaxantina. Baixas concentrações de luteína e zeaxantina no plasma sangüíneo, ou insuficiente ingestão dos mesmos pela dieta, são associados a uma baixa densidade desses pigmentos na mácula. Existem evidências crescentes sugerindo uma relação direta entre a DMRI e baixos níveis de pigmentação macular. Um estudo de casos controlados envolvendo 56 pessoas com DMRI e 56 sem, mostrou que as pessoas com nível de luteína e zeaxantina no último quartil apresentam um risco 82% menor de contrair DMRI, comparado com aquelas com nível localizado no quartil inferior. Em outro estudo, a relação entre a pigmentação macular e o risco de DMRI foi examinada em 46 pessoas com idade entre 21 até 81 anos, com mácula saudável, e em nove pessoas apresentando alto risco de DMRI. Observou-se, em olhos saudáveis, uma diminuição da densidade óptica da pigmentação macular relacionada a idade. Os olhos predispostos a DMRI apresentaram pigmentação macular significativamente menor que os olhos não apresentando risco. O estudo concluiu que uma suplementação com luteína e zeaxantina pode retardar ou modificar o curso da DMRI. Em estudo randomizado, duplo-cego, controlado com placebo, conhecido como Estudo LAST (Lutein Antioxidant Supplementation Trial), 90 pacientes com DMRI atrófica foram divididos em três grupos. O Grupo 1 recebeu suplementação diária, durante 12 meses, de 10mg de luteína; o Grupo 2, 10mg de luteína mais antioxidantes e minerais; e o Grupo 3 recebeu um placebo de maltodextrina. A densidade ótica da pigmentação macular, a acuidade visual, a sensibilidade aos contrastes e recobrimento da visão após clarões melhorou nos Grupos 1 e 2. Os pacientes que receberam o placebo (Grupo 3) não apresentaram nenhuma mudança significativa em nenhum dos parâmetros medidos. O estudo concluiu que a função visual melhora com suplementação de luteína ou de luteína com outros nutrientes. Como já mencionado, a luteína e a zeaxantina são os únicos carotenóides da dieta presentes nas lentes naturais do olho; estudos epidemiológicas sugerem que o consumo de vegetais ricos em luteína e zeaxantina reduz os riscos de desenvolver uma catarata relacionada à idade. Em experiência com tubo de ensaio, tanto a luteína quanto a zeaxantina mostraram proteger as células epiteliais das lentes humanas (córneas) contra a agressão da luz ultravioleta. 50 olho.indd 50 25/8/2008 12:01:16 SAÚDE OCULAR Em recente estudo, 17 pacientes com catarata decorrentes da idade foram divididos, de forma aleatória, em três grupos; para um grupo foi administrado, três vezes por semana, durante dois anos, 15mg de luteína; para outro grupo, 100mg de alfa-tocoferol; e para o terceiro grupo, um placebo. A performance visual (acuidade visual e sensibilidade a clarões) foi monitorada a cada três meses durante toda a duração do estudo. Somente o grupo que tomou luteína apresentou melhoria da performance visual, sugerindo assim que uma alta suplementação em luteína pode ter efeitos benéficos em pacientes sofrendo de catarata relacionada com a idade. Estudos toxicológicos em animais estabeleceram a segurança da luteína como nutriente e a FDA lhe concedeu o estatuto de GRAS (Generally Recognized As Safe). O extrato de mirtilo Os extratos de mirtilo têm sido usados em oftalmologia por suas propriedades em melhorar a acuidade visual noturna. As propriedades do mirtilo foram descobertas casualmente durante a Segunda Guerra Mundial pelos pilotos da Real Força Aérea britânica que, após ingerir geléia de mirtilo, perceberam a melhora na sua visão noturna, maior ajuste visual na escuridão e rápida volta da acuidade visual após exposição a clarões. Estudos científicos têm mostrado que o mirtilo previne doenças relacionadas à visão, como catarata e glaucoma, melhorando a capacidade de leitura e o foco da visão. Os antocianos presentes no mirtilo têm a capacidade de reverter ou evitar o problema, prolongando a capacidade visual. O extrato de mirtilo é dotado de poderosa ação sobre à microcirculação, com atividade específica sobre os pequenos vasos. A microcirculação é hoje um assunto que se tornou o centro das atenções na área médica. A importância dos menores vasos sangüíneos e seu tecido circulante, tem sido enfatizada recentemente nas patogenesias, e relacionada com a evolução de diversos problemas mesenquimais no homem. O extrato de mirtilo é um dos ex- tratos mais bem divulgados e vendidos nos Estados Unidos e na Europa. É obtido das bagas da uva-do-monte (Vaccinium myrtillus L.) e é padronizado em termos das antocianidinas presentes na sua constituição. Essas antocianidinas agem fortalecendo as paredes dos capilares pela formação de um complexo com os fosfolipídios da membrana das células endoteliais (ação parietal). O extrato de mirtilo possui especial atuação sobre desordens oftálmicas. É particularmente efetivo na área que circunda os olhos. Pode ser indicado na miopia, na hemeralopia (incapacidade de ver distintamente, tanto com luz clara quanto sob iluminação reduzida), na fadiga ocular e na retinopatia causada pela fotossensibilidade em diabéticos. O gingko biloba Um estudo realizado em 2002 mostrou um aumento estatisticamente significativo da acuidade visual de longa distância em pacientes com DM, após tratamento com extrato EGb 761 de gingko biloba. FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS Um composto vitamínico foi o segredo dos pilotos da Moto GP para a disputa do GP do Qatar, o primeiro da modalidade que foi realizado à noite. De acordo com a agência de notícias Ansa, os médicos da clínica italiana Mobile desenvolveram o Centaurus, um composto natural feito de extrato concentrado de mirtilo, para ajudar às novas condições luminosas. Além do complexo vitamínico, os médicos italianos também recomendaram uma dieta à base de vitamina C para melhorar a visão noturna. O GP do Qatar abriu a temporada 2008 da Moto GP no dia 9 de março. © Anna501 Dreamstime.com Extrato de mirtilo no Grande Prêmio de Moto do Qatar 51 olho.indd 51 25/8/2008 12:01:20 © Eugene Bochkarev Dreamstime.com SAÚDE OCULAR A eficácia terapêutica do extrato padronizado EGb 761 foi investigada em estudo controlado com placebo, duplo-cego, envolvendo 99 pacientes com visão comprometida por DMRI. O objetivo principal foi a avaliação de mudanças na acuidade visual do olho mais atingido, após um tratamento de seis meses com extrato EGb 761 de gingko biloba, em posologia de 240mg por dia (Grupo I = 50 pacientes) ou 60mg por dia (Grupo II = 49 pacientes). Após quatro semanas, foi observado uma nítida melhoria de acuidade visual, em ambos os grupos testes, com melhorias mais acentuadas no Grupo I (240mg por dia). FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS Os ácidos graxos Ômega-3 Extrato de ginkgo biloba EGb 761 É uma associação de glicosídeos ginkgoflavonóides, ginkgolídeos e bilobalídeos, com propriedades vasoativas, antioxidantes e antiisquêmicas, favorecendo o fluxo sangüíneo na microcirculação labiríntica e no sistema nervoso central, diminuindo a agregação plaquetária e a deformação das hemácias e aumentando a incorporação de oxigênio e da glicose pelas células sensoriais; dose de 40mg ou 80mg três vezes ao dia ou 120mg duas vezes ao dia. O ácido graxo essencial da família ômega-3, denominado ácido docohexaenóico ou DHA, é abundante na retina e é um nutriente essencial para o desenvolvimento do olho em crianças. Os recém-nascidos prematuros que não recebem quantidades suficientes desse ácido graxo essencial podem apresentar um subdesenvolvimento da retina, comparativamente aos que receberem quantidades adequadas, apresentando estes últimos uma maior acuidade visual. As pesquisas têm demonstrado que uma suplementação em ácidos graxos ômega-3 resultam em melhoria nas funções visuais de recém-nascidos prematuros. Em um estudo randomizado, duplo-cego, recém-nascidos receberam uma suplementação com DHA e AA (ácido araquidônico) em uma formulação elaborada de tal forma a se aproximar o máximo possível do leite materno. Os recém-nascidos que receberam essa suplementação mostraram uma melhoria significativa da performance visual aos 12 meses de idade. Um estudo de corte prospectivo, desenvolvido em um prazo médio de seguimento de 4,6 anos, envolvendo 261 indivíduos de 60 anos ou mais, apresentando DMRI em estágios iniciais ou intermediários, mostrou que uma maior ingestão de peixe e nozes era associada a um menor risco de progressão da DMRI. 52 olho.indd 52 25/8/2008 12:01:24