BARBOSA FS; MENEZES, ELA; ARRUDA, LN; BRITO, DO; CARMO, MGF; PEREIRA, MB. Preferência de oviposição
Preferência de oviposição de broca-pequena-do-fruto em oito variedades de tomate rasteiro.
de broca-pequena-do-fruto em oito variedades de tomate rasteiro. 2010. Horticultura Brasileira 28: S634-S640.
Preferência de oviposição de broca-pequena-do-fruto em oito variedades de tomate rasteiro.
Flávia Silva Barbosa1; Elen de Lima Aguiar-Menezes1; Leilson Novaes Arruda1; Dayane
Oliveira de Brito1; Margarida Gorete Ferreira do Carmo1; Mauricio Ballesteiro Pereira1.
1
UFRRJ. Seropédica, RJ. E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Para contribuir com o entendimento da
resistência do tomateiro à N. elegantalis,
objetivou-se com este estudo identificar
diferenças na preferência de oviposição e
sobrevivência das larvas em frutos de oito
variedades de tomate de hábito rasteiro. Para
isso foi realizado um experimento no qual
frutos das oito variedades de tomates foram
submetidas a oviposição por fêmeas de N.
elegantalis, em condições semi-controladas,
durante oito dias. Foram avaliados o número
de ovos postos e o número de larvas que
chegaram ao ponto de empupar. A análise
dos dados não mostrou significância para
variedades tanto para a variável numero de
ovos como para número de larvas, sugerindo
não haver preferência pelas variedades
testadas e que as larvas de N. elegantalis
são capazes de penetrar, sobreviver e
empupar de forma semelhante, qualquer que
seja o genótipo. Contudo, observou-se uma
tendência da variedade LAI 148 em
apresentar menor número de ovos e larvas
eclodidas, indicando ser menos atraente para
N. elegantalis.
Oviposition preference of tomato fruit
borer for eight varieties of tomato
Palavras - chave: Resistência, antixenose,
Solanum lycopersicum, Neoleucinodes
elegantalis
In order to contribute with the
understanding of the resistance of tomato to N.
elegantalis, this study aimed to identify
differences in the oviposition preference and the
survivorship of the larvae in fruits of eight
varieties of tomatoes. For this an experiment
was carried out in which fruits of the eight
varieties of tomatoes were submitted the
oviposition by N. elegantalis females, in halfcontrolled conditions, during eight days. The
number of laying eggs and the number of larvae
which had reached the pupation phase were
evaluated. The analysis of the data did not show
significance to variety to the variable numbers
of eggs as well as to the number of larvae,
suggesting there is no preference for the tested
varieties and that the larvae of N. elegantalis
are capable to penetrate, to survive and to
pupate the same manner, in any genotype.
However it was observed lower number of eggs
and hatched larvae in the variety LAI 148,
indicating to be less attractive for N. elegantalis.
Keywords: Resistance, antixenose, Solanum
lycopersicum, Neoleucinodes elegantalis
O tomateiro Solanum lycopersicum (= Lycopersicon esculentum Mill) (Solanaceae) é
uma das mais importantes hortaliças cultivadas no mundo, tanto por área como por seu
valor comercial, sendo a segunda olerícola em produção no Brasil. É considerada uma das
poucas culturas em que pragas e doenças são igualmente importantes, sendo hospedeira
para cerca de 200 espécies de artrópodes (Carvalho et al., 2002).
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 634
Preferência de oviposição de broca-pequena-do-fruto em oito variedades de tomate rasteiro.
Um dos principais entraves à tomaticultura é a broca-pequena-do-tomateiro
(Neoleucinodes elegantalis) (Lepidoptera: Crambidae), considerada como uma das pragas
chaves do tomateiro (Salas et al., 1991; Rodrigues Filho et al., 1998; Gallo et al., 2002;
Jordão & Nakano, 2002).
Essa praga é responsável por danos econômicos consideráveis à cultura do tomate,
pela natureza e extensão do seu ataque, tendo em vista que o fruto atacado fica totalmente
inadequado para a comercialização, prejudicando seriamente a produção, sem contar que
apresenta ocorrência em todos os meses do ano (Rodrigues Filho et al., 1998; Rodrigues
Filho, 2000; Rodrigues Filho et al., 2000; Nunes & Leal, 2001; Gallo et al. 2002; Badji et al,
2003; Picanço et al., 2007).
Além do tomate, N. elegantalis ataca outras solanáceas, como berinjela (Solanum
melongena), naranjilha (Solanum quitoenese), tamarilho (Cyphomandra betacea), pimentão
(Capsicum annuum), jiló (Solanum ovigerum), e frutos das plantas daninhas: juá grande
(Solanum paniculatum), juá pequeno (Solanum reflexus), juá vermelho (Solanum ciliatum),
juá doce (Solanum sisymbrifolim) e jurubeba (Solanum robustum) (Toledo, 1948 apud Carneiro
et al., 1998; Plaza et al., 1992; Zucchi et al., 1993 apud Carneiro et al., 1998).
O controle de N. elegantalis é dificultado em virtude de sua biologia, haja vista que a
fêmea deposita os ovos preferencialmente sob as sépalas de frutos verdes pequenos (23
mm), sendo que após cinco dias, a larva eclode e penetra no fruto, entre a primeira e a
segunda hora da fotofase, permanecendo por aproximadamente 30 dias, passando a maior
parte de seu ciclo no interior do fruto, comprometendo a qualidade final do fruto (Blackmer et
al., 2001; Badji et al., 2003). Para o controle dessa praga, são utilizadas de forma sistemática
aplicações sucessivas de inseticidas sintéticos, o que é indesejável, por elevar os custos de
produção, expor produtores e consumidores a ingredientes ativos prejudiciais à saúde, com
capacidade de provocar intoxicação humana, produzir efeito adverso sobre o ambiente,
pode levar à ressurgência de pragas, reduzir a população de insetos benéficos como inimigos
naturais e polinizadores, e selecionar indivíduos resistentes nas populações de pragas
(Thomazini et al., 2000; Blackmer et al. 2001; Gallo et al., 2002).
É comum produtores realizarem pulverizações sistemáticas de agrotóxicos, duas a
três vezes por semana desde o início do florescimento, independentemente da presença da
praga (Rodrigues Filho, 2000; Badji et al., 2003). Todavia, a falta de variedades resistentes à
N. elegantalis, faz com que o controle químico seja o método mais utilizado (Nunes & Leal,
2001). Dessa forma, identificar variedades resistentes para fins de utilização em melhoramento
genético que permita a resistência a essa praga em variedades comerciais, poderá possibilitar
uma redução no uso de químicos sintéticos e conseqüentemente uma redução no custo de
produção. Assim, para contribuir com o entendimento da resistência e/ou tolerância à N.
elegantalis, este estudo objetivou identificar diferenças na preferência de oviposição e
sobrevivência das larvas dessa broca em frutos de oito variedades de tomate de hábito
rasteiro em condições semi-controladas.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi executado no Laboratório do Centro Integrado de Manejo de Pragas
(CIMP)/UFRRJ (Seropédica, RJ), em novembro de 2009.
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 635
Preferência de oviposição de broca-pequena-do-fruto em oito variedades de tomate rasteiro.
Foram testadas, a preferência de oviposição de N. elegantalis (broca-pequena-dotomateiro) em frutos de oito variedades de tomate (Solanum lycopersicum) de hábito rasteiro
(industriais) oriundas da Embrapa Hortaliças (Viradoro, Nemadoro, Tospodoro, HEI36, LAI
148, LAI 144, LAI 132 e UC82) em condições semi-controladas.
As oito variedades de tomate foram plantadas e conduzidas no campo experimental
da Fazendinha Agroecológica km 47 (SIPA) em condições de cultivo orgânico, não recebendo
nenhuma aplicação de defensivos. Em cada variedade foi colhido diariamente um fruto, em
estágio de fruto verde, respeitando o tamanho de 23 mm, ideal para postura (Blackmer et al.,
2001), os quais foram devidamente identificados e colocados, em posições escolhidas por
sorteio, no interior de uma gaiola, na qual foram previamente colocados 250 casais de pupas
de N. elegantalis, de mesma idade, provenientes da criação mantida em laboratório. A gaiola
media 1,50m X 1,50m X 1,50m, com estrutura de madeira e revestida com tecido voile. Os
frutos passaram a ser colocados no dia em que os adultos nasceram.
Até o fim do ciclo de vida dos adultos realizou-se este procedimento, alterando
diariamente a localização dos frutos, com o objetivo de evitar interferência de possíveis
fatores sobre o comportamento das fêmeas, como posição do fruto, luminosidade, etc.
Diariamente os frutos eram retirados, o número de ovos foram contados com o auxilio de
microscópio estereoscópico, sendo que alguns ovos foram transferidos para frutos da mesma
variedade para possibilitar o desenvolvimento adequado da larva. Esses frutos foram
colocados sobre papel de filtro em potes plásticos individuais abertos, sendo observados
por vários dias até não ocorrer mais a saída de larvas. Foi anotado, para cada fruto, o
número das larvas que eclodiram, penetraram no fruto e que saíram dele para empupar no
papel toalha.
Os dados foram transformados para raiz de (x+0,5) e submetidos à análise da variância,
com cálculo do DMS (t a 5%) e estudo da regressão para dias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise da variância indicou que não houve diferença significativa entre as variedades,
tanto para a variável número de ovos como para número de larvas por fruto (Tabela 1),
sugerindo que as fêmeas adultas de N. elegantalis ovipositam uma quantidade semelhante
de ovos nos frutos das oito variedades e que as larvas são capazes de penetrar, sobreviver
e empupar de forma semelhante, qualquer que seja o genótipo. Portanto, aparentemente,
nenhuma das variedades exerce atração ou repulsão aos adultos e seus frutos não oferecem
dificuldades à sobrevivência das larvas. Embora o teste F tenha indicado não significância
para variedades, observa-se que a variedade LAI 148, apresentou menor número de ovos e
de larvas eclodidas, indicando ser menos atraente para N. elegantalis. Os valores
apresentados foram significativamente inferiores (t a 5%) aos da variedade que apresentou
maior número de ovos (Viradoro) e maior número de larvas (LAI132), porém trata-se de
especulação, pois a diferença entre as variedades foi não significativa. Todavia, a variedade
Viradoro se mostrou ser mais susceptível que a cultivar Maravilha de S. lycopersicum que foi
usada como testemunha por Restrepo-Salazar et al. (2006) e Cabrera et al. (2008), visto ter
apresentado apenas 2 larvas/fruto. Para a variável “dias” (Tabela 2), o resultado da análise
foi altamente significativo, mostrando diferença no número de ovos e de larvas, sendo que
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 636
Preferência de oviposição de broca-pequena-do-fruto em oito variedades de tomate rasteiro.
os frutos expostos no terceiro e sexto dias apresentaram maiores números de ovos e de
larvas e no primeiro, segundo e no oitavo dias, ocorreram os menores números de ovos e de
larvas. A explicação para esse comportamento pode residir na biologia do inseto, temperatura,
número de fêmeas viáveis. Provavelmente nos dois primeiros dias o número de postura
tenha sido muito baixo em função das fêmeas terem sido recém fecundadas e não estarem
ainda prontas para fazer posturas. O estudo da regressão do número de larvas sobre “dias”
2
2
indica significância apenas para regressão quadrática (R =0,68 para ovos e R =0,602 para
larvas), embora os desvios da regressão ainda sejam significativos, o que mostra que a
variação no número de larvas eclodidas por dia de exposição não seguiu um padrão bem
definido, mas acredita-se que o inseto respeita um determinado tempo para oviposição,
após a cópula.
Tais resultados indicam que N. elegantalis é capaz de infestar as oito variedades, bem
como suas larvas são capazes de sobreviver nos frutos dessas variedades, podendo concluir
que nenhuma das variedades testadas apresenta resistência por preferência para nãooviposição por N. elegantalis.
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19: 53-59.
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 637
Preferência de oviposição de broca-pequena-do-fruto em oito variedades de tomate rasteiro.
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Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 638
Preferência de oviposição de broca-pequena-do-fruto em oito variedades de tomate rasteiro.
Tabela 1. Resumo da análise de variância para número de ovos e larvas emergidas de N.
elegantalis após oito dias de posturas em frutos de oito variedades testadas em um
experimento realizado em gaiola. (Analisado como √x + 0,5). [Abstract of variance analysis
to number of eggs and emerged larvae of N. elegantalis after eight days of oviposition in
fruits of eight tested varieties in an experiment carried out in cage. (Analyzed as √x + 0,5)].
Tratamentos
HEI36
LAI132
LAI144
LAI148
NEMADORO
TOSPODORO
UC82
VIRADORO
Médias
QMTrat
CV%
DMS(t 5%)
Médias do no. de ovos
Médias do no. de larvas
3,470
3,819
3,758
2,543
3,538
3,947
3,981
4,678
3,717
1,331
39,658
1,481
2,253
2,809
2,591
1,613
2,606
2,056
2,274
2,138
2,292
1,141
41,57
0,9576
NS
NS
NS = não significativo a 5% de probabilidade. (NS = not significant at 5% of probability).
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 639
Dias de postura
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
0,772
1,375
7,103
4,186
4,966
6,184
3,833
1,315
3,717
20,658
9,488
206,198
19,699
Médias do no. de ovos
1
2
3
4
5
6
7
8
QMTrat
Regressão Linear
Regressão Quadrática
Desvios
D
D
A
CD
BC
AB
C
D
***
*
***
***
Dias de postura
NS = não significativo a 5% de probabilidade. (NS = not significant at 5% of probability).
HEI36
1
LAI132
2
LAI144
3
LAI148
4
NEMADORO
5
TOSPODORO
6
UC82
7
VIRADORO
8
Médias
QMTrat
QMTrat
CV%
Regressão Linear
DMS(t 5%)
Regressão Quadrática
Desvios
Tratamentos
0,707
0,772
4,520
2,853
2,701
3,757
2,084
0,946
2,292
16,31
1,598
69,394
8,636
Médias do no. de larvas
***
NS
***
***
C
C
A
B
B
AB
B
C
Tabela 2. Resumo da análise de variância para número diário de ovos e larvas emergidas de N. elegantalis emergidas durante
um período oito dias de posturas em frutos de oito variedades testadas em um experimento realizado em gaiola. (Analisado
como √x + 0,5). [Abstract of variance analysis to number of eggs and emerged larvae of N. elegantalis during a period of eight
days of oviposition in fruits of eight tested varieties in an experiment carried out in cage. (Analyzed as √x + 0,5)].
Preferência de oviposição de broca-pequena-do-fruto em oito variedades de tomate rasteiro.
S 640
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