superiores foram realizadas dobras simples no arco, para se obter o nivelamento do contorno gengival. Neste caso foi tomado como referência o dente que ocupava uma relação mais estética com o lábio superior durante o sorriso (fig. 6). O resultado final do tratamento mostra a correção das relações oclusais e estéticas onde o somatório desses dois fatores poderão contribuir para a pre- A servação da estabilidade do caso (fig. 7 e 8). Nesta paciente foram usadas como contenção uma barra colada entre os caninos, no arco inferior e, aparelho removível de arco contínuo no arco superior. O tempo de tratamento ativo foi de 01 (um) ano e 10 (dez) meses. Caso 2 Histórico e Aspectos Clínicos Gerais Paciente do sexo feminino, xanto- B FIGURA 4A - “Buraco negro” entre os incisivos centrais superiores, B) Desnivelamento do contorno gengival durante o sorriso. A B FIGURA 5A - Desgaste das superfícies mesiais dos incisivos centrais, B) Fechamento do diastema criado com o uso de uma cadeia elastomérica. A B FIGURA 6 - Correção do desnivelamento do contorno gengival durante o sorriso. A B derma com 24 anos e 7 meses de idade, fazendo uso de aparelho ortodôntico fixo apresentava queixa com os resultados do seu tratamento, pois se dizia apreensiva com o surgimento de uma mordida cruzada vestibular anterior entre o 21 e 32, e posterior esquerda devido a distalização do primeiro molar inferior esquerdo, estando esse com comprometimento periodontal. Na sua história médica não apresentava relato de problemas sistêmicos. A paciente apresentava boa higiene bucal e restaurações em boas condições. Havia ausência dos seguintes dentes: 16, 26, 36 e 46 (extração por cárie), 14 e 24 (indicação ortodôntica) 38, 35 e 45 (agenesia). Diagnóstico e Plano de Tratamento No exame das arcadas observa-se uma relação entre caninos de Classe III no lado esquerdo e uma relação de Classe I no lado direito, com desvio da linha média inferior de 1,0 mm para a direita. Existia a presença de uma mordida cruzada anterior entre os incisivos laterais e uma mordida cruzada posterior esquerda entre o 23 e o 34 (fig. 9). Notase nesta relação entre as arcadas que os caninos superiores tem inclinações de torque bastante diferentes entre si, onde o 23 apresenta um torque vestibular de raiz bastante acentuado. Esta situação provocou uma alteração no aspecto funcional, influenciando na mordida cruzada, e no aspecto estético, causando diferença na exposição do corredor bucal direito e esquerdo (fig. 10). A tentativa de se obter espaço para a colocação de um implante no lugar do 35, parece ter provocado problemas periodontais no 37, causando uma recessão gengival na superfície lingual. C FIGURA 7 - Fotografias intra-orais finais. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 5, p. 68-74, set./out. 2000 71 Além disso foi obtido um espaço exagerado para a substituição do 35, causando a projeção dos dentes anteriores, levando a uma relação Cl III entre caninos esquerdos e desviando a linha média inferior para a direita. Tratamento O tratamento iniciou após a retirada do antigo aparelho, e colocação dos novos acessórios ortodônticos. Já no início do tratamento foi programado a colocação do implante na região do 35. Nesta fase foi discutido com o A cirurgião e o protesista o local do implante e a futura coroa, visto que, haveria a necessidade de uma leve distalização do 34 e 33 para se obter uma relação de caninos Cl I no lado esquerdo. Sendo assim, o implante foi colocado distalmente, cerca de 2,0 mm, ao centro do espaço existente (fig. 11). Este implante serviu posteriormente como unidade de ancoragem, pois a inclusão do 37 estava impossibilitada devido as condições periodontais deste (fig. 12). No arco inferior foram realizadas a distalização do 33 e 34, assim como, a correção do desvio da linha média e mordida cruzada. No arco superior foram corrigidas as inclinações dos incisivos e caninos. Nesta fase ficou evidente a necessidade da redistribuição dos espaços, pois existia uma discrepância entre o tamanho dos dentes superiores e os dentes inferiores, sendo os superiores mais estreitos. Após a remoção do aparelho fixo foi colocado um aparelho removível de arco contínuo como contenção no arco superior. Os espaços entre os dentes foram mantidos B C B C FIGURA 8 - Fotografias finais da paciente. A FIGURA 9 - Fotografias dos modelos iniciais. A B FIGURA 10A, 10B - Vista frontal do arco superior mostrando as diferentes inclinações axiais (torque) dos caninos. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 5, p. 68-74, set./out. 2000 72 A B FIGURA 11A - Colocação do implante no local determinado, B) Radiografia do implante. FIGURA 12 - Recessão gengival por lingual do 37. A B C D E F FIGURA 13 - Fotografias intra-orais finais. com prolongações da base acrílica do aparelho. Após um clareamento dentário foram feitas as restaurações estéticas na região anterior, fechando todos os espaços (fig 13). O elemento protético definitivo do implante deixou para ser colocado ao fim do tratamento ortodôntico, assim como foram deixadas as restaurações estéticas. O tratamento ativo teve duração de 01 ano e 06 meses. CONCLUSÕES O aumento das relações interdis- ciplinares tornou a compreensão das etapas necessárias para a seqüência ideal do tratamento um requisito básico para a resolução de problemas estéticos funcionais. Dificilmente encontramos hoje pacientes adultos que não requeiram algum tipo de intervenção interdisciplinar, onde o acompanhamento de mais de uma especialidade se faça necessário. O tratamento ortodôntico por si só necessita de requisitos para o seu bom desempenho. O controle de ancoragem, distribuição de espaços, controle vertical, horizontal e transverso são etapas que requerem a completa adequação do meio bucal, para que sejam obtidos os melhores resultados. Porém, é o somatório das atividades que proporcionarão as condições ideais de tratamento, assim como o resultado final4. AGRADECIMENTOS À equipe cirúrgica: Dr. Adilson Torreão Filho (Especialista em Periodontia) e a Dra. Nadja Mª A. Lopes (Especialista em Implantodontia). Abstract The aim of this article is to show the importance of interdisciplinary treatment with the esthetics aspects of the anterior teeth and the structures of the mouth, looking for the orthodontic excellence through improving of the aesthetic and function. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 5, p. 68-74, set./out. 2000 Key-words: Esthetic; Smile; Interdisciplinary treatment. 73 REFERÊNCIAS 1 - ANDREWS, L. F. The six keys to normal occlusion. Am J Orthod, v.62, no.3, p. 296-309, 1972. 2 - AUGER, T. A.; TURLEY, P. K. The female soft tissue profile as presented in fashion magazines during the 1900s: A photograhic analyzis. Int J Oral Surg, v.14, no.1, p. 7-18, 1999. 3 - BURSTONE, C. J. Diagnosis and treatment planning of patients with asymmetries. Semin in Orthod, v.4, no.3, p. 153-164, 1998. 4 - CÂMARA et al. Abordagem interdisciplinar para o tratamento de diastema. Estética contemporânea, v.1, n.1, p. 51-57, 1999. 5 - CHICHE et al. Diagnosis and treatment planning of esthetic problem. In: CHICHE, G.; PINAULT, A. Esthetics of anterior fixed prosthodontics. St Louis: Quintessence, 1994. p.33-52. 6 - CHIU, C. S. W. et al. The facial soft tissue profile of southern chinese: prosthodontic considerations. J Prosthet Dent, v.69, no.5, p. 839-850, 1992. 7 - DAWSON, P. E. Evaluation, diagnosis and treatment of occlusal problems. St Louis: Mosby , 1980. 405p. 8 - GOTTLIEB E.L. et al. 1990 JCO study of orthodontic diagnosis and treatment procedures. I. Results and trends. J Clin Orthod, v.25, no.3, p. 145-156, 1991. 9 - NAFZIGER, Y. J. A study of patient expressivity in relation to orthodontic/ surgical treatment. Am J Orthod Dentofacial Orthop, v.106, no.3, p. 227-237, 1994. 10 - PHAHL-ANDERSEN, B. et al. Adolescent growth changes in soft tissue profile. Am J Orthod Dentofacial Orthop, v.107, no.5, p. 476-483, 1995. 11 - POULTON, D. R. Facial esthetics and Angles. Angle Orthod, v.27, no.3, p. 133-137. 1957. 12 - PROFFIT, W. R. Orthdontic diagnosis: The development of a problem list. In: ——— Contemporary Orthodontics. St Louis: Mosby , 1986, p. 123-167. 13 - SANTOS, J. C. Estudo comparativo da análise de Downs em indivíduos com oclusão excelente. 1994. 80f. Monografia (Especialização) - Faculdade de Odontologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1994. 14 - SCHOTT, K. Estudo comparativo da análise Tweed-Merrifield em brasileiros com oclusão excelente. 1994. 92f. Monografia (Especialização) - Faculdade de Odontologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 1994. 15 - VIG, R. G.; BRUNDO G. C. The kinetics of anterior tooth display. J Prosthet Dent, v.39, no.4, p. 502-504, 1978. 16 - YOON, M. E. et al. A study on the smile in Korean youth. J Korean Acad Prosthodont, v.30, no.3, p. 259-270, 1992. Endereço para correspondência Carlos Alexandre L. Peersen da Câmara Rua Mossoró, 561 Petrópolis - Natal-RN CEP 59020-090 R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 5, p. 68-74, set./out. 2000 74 Artigo de Divulgação Tratamento Ortodôntico-Cirúrgico de Incisivo Central Superior Impactado com Dilaceração Acentuada - Caso Clínico Orthodontic-Surgical Treatment of a Dilacerated Maxillary Central Incisor – Clinical Report Resumo Arno Locks Daltro E. Ritter O traumatismo dental na dentição decídua pode influenciar consideravelmente o desenvolvimento dos dentes sucessores permanentes. Este acontecimento relativamente comum pode causar um deslocamento da coroa em relação à raiz dental, gerando uma curvatura definida como dilaceração, que em grande parte dos casos impede a erupção normal do dente permanente. O objetivo deste artigo é relatar um caso clínico de traumatismo na dentição decídua levando a uma dilaceração no sucessor permanente, e mostrar o tratamento ortodôntico-cirúrgico realizado. INTRODUÇÃO O traumatismo de dentes anteriores decíduos é um acontecimento relativamente comum, ocorrendo em cerca de 1/3 das crianças nesta fase da dentição17. Devido à relação de proximidade entre o ápice do dente decíduo e o germe do permanente, o trauma nos dentes decíduos pode ocasionar anomalias nos sucessores permanentes em formação, seja atra- vés do contato direto ou da inflamação periapical proveniente do dente decíduo traumatizado1,2,3. Cerca de 54% das luxações intrusivas em dentes decíduos podem causar anomalias no sucessor permanente, dentre as quais encontra-se a dilaceração, que é uma curvatura anormal entre a coroa e a raiz de um dente completamente desenvolvido4. Essa deformidade de desenvolvimento é atribuída a um distúrbio na formação de um dente, podendo ocorrer tanto na coroa quanto na raiz, onde a parte já calcificada é deslocada em relação à parte não calcificada22. Segundo HOWE10 a forma mais comum de dilaceração é o deslocamento da margem incisal para cima e labialmente, se assemelhando a “mão de um guarda de trânsito”. Além do trauma na dentição decídua, levando ao deslocamento do dente permanente em formação, acredita-se que o tecido de cicatrização, desenvolvido após a perda prematura do incisivo decíduo possa ser um obstáculo para a erupção normal, e o dente em desenvolvimento altera seu caminho normal de erupção ocorrendo a dilaceração15,16. Arno Locks* Daltro E. Ritter** André R. Morona*** Gustavo B. Haertel*** Gerson L. U. Ribeiro**** Luciane M. Menezes**** * Unitermos: Traumatismo; Dilaceração; Tracionamento. ** *** **** Professor Responsável pela Disciplina de Ortodontia da UFSC; Mestre pela UFRJ; Doutor pela UNESP; Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da UFSC. Professor do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da UFSC; Especialista e Mestrando em Ortodontia pela UERJ. Alunos da última fase fase do Curso de Graduação em Odontologia da UFSC. Professores do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da UFSC; Mestres e Doutorandos em Ortodontia pela UFRJ. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 5, p. 75-79, set./out. 2000 75 Os dentes mais afetados pelos traumatismos, sofrendo dilaceração, são os ântero-superiores, em especial os incisivos centrais. Isto ocorre em virtude de estarem em uma das regiões mais sujeitas a trauma devido a quedas e colisões durante a infância8,9. A ocorrência e a extensão da dilaceração no dente permanente estão diretamente relacionadas à intensidade do trauma, ao estágio de formação do germe dentário e ao tipo de trauma no dente decíduo 4 . Segundo ANDREASEN1 há dois tipos de trauma na dentição: o direto que é gerado pelo impacto direto do dente sobre superfícies rígidas e o indireto que é ocasionado pelo forte fechamento da arcada inferior contra a superior. O trauma afeta mais a raiz quando ocorrer em uma idade mais avançada, entre os 4 e 6 anos de idade, e afeta mais a coroa quando ocorre em uma idade mais precoce9,15,16. O diagnóstico precoce neste caso é de extrema importância, pois o dente permanente, que está em fase de formação radicular, deve ser reposicionado o mais rápido possível, a fim de que a dilaceração não se agrave, impedindo ou dificultando o tracionamento e reposicionamento normal do dente13. Há relatos na literatura de que em um dente com pouca dilaceração, havendo diagnóstico precoce, o tracionamento lento contribui para a retificação da raiz, devido à porção calcificada alinhar-se com a porção em calcificação do dente 11,14,16 . No período de luxação intrafolicular, a radiografia, ao lado dos sinais de inflamação aguda e anamnese poderá elucidar o caso5. Passada essa fase aguda, a radiografia e anamnese deverão somar-se ao exame clínico para um correto diagnóstico. Alguns sinais clínicos podem ser indicativos, como o atraso da irrupção ou alteração na seqüência normal de erupção e abaulamento na região labial do rebordo13. Os dentes dilacerados não são facilmente observados na radiografia periapical, onde sua imagem radiográfica se asseme- lha muito a um dente com reabsorção radicular22. Para determinar a posição vestíbulo-palatina do dente impactado pode-se lançar mão da técnica de Clark ou através de filmes oclusais13. A radiografia cefalométrica em norma lateral é recomendada como exame radiográfico complementar22. A literatura mostra que na maioria dos casos, quando se opta por não extrair o dente, a exposição cirúrgica do dente não erupcionado e o seu tracionamento ortodôntico são necessários para posicioná-lo corretamente no arco18. Atualmente tem sido dada uma maior ênfase aos procedimentos cirúrgicos que podem ser utilizados como via de acesso à coroa do dente incluso, na tentativa de se conseguir, pós-tratamento, uma faixa adequada de gengiva inserida, fundamental para manutenção da saúde periodontal3,7,12,18. São duas as técnicas cirúrgicas mais utilizadas: a técnica do retalho gengival reposicionado apicalmente e a técnica do retalho reposicionado em sua posição original18,23. Na técnica do retalho gengival reposicionado apicalmente, um retalho é levantado e suturado deixando metade ou 2/3 da coroa do dente incluso descoberta. A técnica do retalho reposicionado em sua posição original envolve o levantamento de um retalho gengival, a colagem imediata do acessório no dente exposto e o reposicionamento do retalho em sua posição original, simulando dessa forma a erupção natural do dente, o que leva muitos clínicos a acreditarem que os melhores resultados obtidos quando da utilização dessa técnica são devidos à esse fato18. Estudos mostram que os resultados estético-periodontais obtidos ao final do tratamento, quando utilizada a técnica do retalho reposicionado em sua posição original, são melhores do que os obtidos quando utilizada a técnica do retalho reposicionado apicalmente18. Nos casos de dentes que apresentam dilaceração é necessário inicial- R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 5, p. 75-79, set./out. 2000 mente identificar se há possibilidade de correção. Quando existe uma angulação acentuada entre coroa e raiz, e completa formação radicular, o tratamento pode consistir na extração do dente19. Na literatura encontram-se várias métodos de tratamento entre os quais, utilização de forças eletromagnéticas, secção da coroa e tracionamento da raiz em casos de dilaceração próxima à coroa, apicotomias em casos de dilaceração próxima ao terço apical da raiz, e combinação entre tratamento ortodôntico e cirúrgico19. A utilização de aparelhos ortodônticos removíveis como alternativa para o tracionamento de dentes inclusos, tem-se mostrado uma técnica extremamente eficaz, tendo como vantagens em relação aos aparelhos fixos o baixo custo, fácil confecção, fácil aplicação na clínica geral e o fato da força liberada durante a tração do dente incluso ser em grande parte dissipada no apoio mucoso, através da placa de acrílico, tendo mínimos efeitos colaterais19. O tracionamento do dente incluso deve ser realizado aplicando-se forças leves, entre 30 e 60 gramas, pois movimentos muito rápidos do dente em questão podem levá-lo a uma desvitalização18. CASO CLÍNICO Uma paciente do sexo feminino, com 7 anos e 02 meses de idade, apresentou-se para exame ortodôntico. Na anamnese a paciente relatou haver sofrido um trauma envolvendo a região ântero-superior da arcada dentária, com luxação sem avulsão dos dentes decíduos, por volta dos 5 anos de idade. Verificou-se no exame clínico a ausência de erupção do incisivo central superior esquerdo, com falta de espaço para o mesmo na arcada (figs. 1A e 1B). Os demais dentes apresentavam-se em normalidade de acordo com a idade e o estágio de dentadura mista. Os métodos radiográficos auxiliares contribuíram para o diagnóstico de dilaceração radicular acentuada no terço médio-apical do incisi76 B FIGURA 1 - A) Foto extra-oral de frente sorrindo; B) Foto intra-oral de frente. A A B C FIGURA 2 - A) Radiografia periapical; B) radiografia oclusal; C) radiografia panorâmica; D) radiografia cefalométrica lateral. D R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 5, p. 75-79, set./out. 2000 vo central superior esquerdo (figs. 2A e 2B - radiografias periapical e oclusal). O dente em questão apresentava-se com seu longo eixo coronal posicionado em direção superior (figs. 2C e 2D - radiografias panorâmica e cefalométrica lateral), com sua superfície coronal palatina posicionada para vestibular (fig. 2C - radiografia panorâmica). Esta má-posição e a dilaceração radicular muito provavelmente foram causadas pelo trauma sofrido sobre os dentes decíduos, previamente ao estágio de calcificação do terço apical deste dente. Estando o diagnóstico concluído, apesar da gravidade da dilaceração e da má-posição dentária, optou-se pela tentativa de tracionamento dental. O primeiro procedimento realizado foi a cirurgia de acesso, a qual consistiu de levantamento de retalho gengival, colagem de um acessório ortodôntico na palatal do dente incluso, no qual um fio duplo de amarrilho foi amarrado, e posterior recobrimento gengival total do dente, deixando somente uma porção do fio de amarrilho exposto ao meio bucal. Após a completa cicatrização da região, por volta de 2 semanas após a cirurgia, iniciou-se os procedimentos ortodônticos. O tracionamento de dentes inclusos pode ser realizado com aparelhos fixos ou removíveis. Neste caso, devido à paciente apresentar-se no estágio da dentadura mista, com poucos dentes permanentes disponíveis para colagem de braquetes, optou-se pelo tracionamento com aparelho removível. Devido à falta de espaço mésiodistal para o correto posicionamento do dente incluso no arco, duas molas digitais confeccionadas em fio de aço 0.5mm foram incorporadas ao aparelho, as quais tocavam nas superfícies mesiais dos elementos 11 e 22 tendo a função de movimentar estes dentes para distal, obtendo-se o espaço suficiente para o futuro posicionamento do 21. No mesmo aparelho, confeccionou-se um dispositivo vestibular em fio 0.7mm, com helicóides proporcionando flexibilida77 FIGURA 3 - Foto intra-oral de frente com o aparelho instalado. FIGURA 4 - Foto intra-oral mostrando a quantidade de ativação do dispositivo. FIGURA 6 - Movimentação fisiológica do dente (comparar com a FIG. 5). FIGURA 7 - Alinhamento e nivelamento final do dente no arco. de, o qual exerceu o tracionamento do dente incluso (fig. 3). O posicionamento do dispositivo vestibular de tração objetivava o tracionamento dental no sentido mais vertical possível, para que o dente irrompesse dentro da gengiva aderida. A força de tração exercida foi de 50 gramas, com consultas realizadas a cada 3 semanas (fig. 4, comparar com a fig. 3 mostrando a quantidade de ativação). Após 11 meses de utilização desta aparatologia móvel, o dente irrompeu na linha de gengiva inserida (fig. 5), quando neste momento removeuse o acessório colado por palatal e interrompeu-se a aplicação de qualquer força de tração, e o aparelho foi utilizado somente para manter o espaço mésio-distal para o dente 21. A figura 6 mostra a movimentação fisiológica do posicionamento do dente 21, após 10 meses sem a utilização de forças ortodônticas, sendo este procedimento realizado devido à preocupação com o nível gengival. Neste momento optou-se pela colagem de braquetes nos 4 incisivos superiores para alinhamento e nivelamento destes dentes (fig. 7). Em uma vista lateral aproximada, tomada com filme oclusal, é possível visualizar a dilaceração apical acentuada (fig. 8). Nesta mesma tomada nota-se ao nível apical, uma quantidade de osso neoformado, o qual acompanhou a movimentação até a nova posição dental. FIGURA 5 - Momento em que suspendeu-se a ativação do aparelho removível. FIGURA 8 - Radiografia lateral aproximada obtida com filme oclusal, evidenciando a dilaceração e a neoformação óssea apical vestibular à raiz. CONCLUSÃO A dilaceração radicular em dentes permanentes é uma deformidade relativamente comum em pacientes que sofreram trauma na dentição decídua. É importante seu diagnóstico precoce para que o prognóstico seja favorável. O tratamento combinado ortodôntico-cirúrgico é uma alternativa viável, atingindo resultados satisfatórios desde que seguidos princípios básicos, descritos neste artigo. Abstract Dental trauma in the primary dentition may considerably influence the sucessor permanent teeth development. This relatively common occurrence may cause a crown dislodgement related to the root of the tooth, thus generating a curvature defined as dilaceration, wich in most of cases obstruct the normal eruption of the permanent tooth. The aim of this study is to report a clinical case of primary teeth trauma leaving to a di- R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 5, p. 75-79, set./out. 2000 laceration of permanent sucessor, and show the orthodontic-surgic treatment released. Key-words: Trauma; Dilaceration; Traction. 78