UNIVERSIDADE TIRADENTES – UNIT PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PROCESSOS - PEP DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO LÁCTEO PROBIÓTICO A BASE DE KEFIR Autor: Jackeline Andrade Gama Orientadores: Dr. Álvaro Silva Lima Dra. Cleide Mara Faria Soares ARACAJU, SE - BRASIL JUNHO DE 2011 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO LÁCTEO PROBIÓTICO A BASE DE KEFIR Jackeline Andrade Gama DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PROCESSOS DA UNIVERSIDADE TIRADENTES COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA DE PROCESSOS Aprovado por: ______________________________________________________ Prof. Dr. Álvaro Silva Lima Universidade Tiradentes ______________________________________________________ Profa. Dra. Cleide Mara Faria Soares Universidade Tiradentes ______________________________________________________ Profa. Dra. Luciana Cristina Lima de Aquino Universidade Federal de Sergipe ______________________________________________________ Prof. Dr. Daniel Pereira da Silva Universidade Tiradentes ARACAJU, SE - BRASIL JUNHO DE 2011 UNIVERSIDADE TIRADENTES – UNIT PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PROCESSOS - PEP DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO LÁCTEO PROBIÓTICO A BA DE KEFIR Autor: Jackeline Andrade Gama Orientadores: Dr. Álvaro Silva Lima Dra. Cleide Mara Faria Soares ARACAJU, SE - BRASIL JUNHO DE 2011 FICHA CATALOGRÁFICA Ninguém pode ser escravo de sua identidade: quando surge uma possibilidade de mudança é preciso mudar. Elliot Gould vi Agradecimentos Aos professores Álvaro Silva Lima e Cleide Mara Faria Soares, por ter propiciado todas as condições para realização deste projeto e pela competente orientação no seu desenvolvimento. A todos os funcionários e professores do ITP que, de um modo ou de outro, são parte deste trabalho em especial Rone, Alisson e Arthur por todo o apoio. Aos colegas conquistados durante esses dois anos de conhecimento. Aos meus pais, Paulo e Nide, e minhas irmãs Ju e Keylla e meu irmão Thiago, pelo incentivo, pela confiança e pelo entusiasmo de sempre. Ao meu noivo Alexandre, por todo incentivo e companheirismo. A DEUS, razão de nossa existência e força essencial para a caminhada da vida, sem nada seria possível. A Universidade Tiradentes e ao Órgão de fomento FINEP/SEBRAE, pelo apoio ao tema desta dissertação. vii Resumo da Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Processos da Universidade Tiradentes como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Processos. DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO LÁCTEO PROBIÓTICO A BASE DE KEFIR Jackeline Andrade Gama Neste trabalho foram determinadas as condições de processo para obtenção de um produto lácteo probiótico e funcional, utilizando como cultura “starter”, os grãos de kefir. Aplicou-se a metodologia de planejamento de experimentos para otimizar o processo. Foram realizados dois planejamentos fatoriais completos 2³ com três pontos centrais. No primeiro delineamento experimental a variável resposta foi a viscosidade utilizando os seguintes parâmetros: influência da concentração do leite em pó (X1), da temperatura (X2) e da concentração dos grãos de kefir (X3) no processo de fermentação de leite de vaca utilizando grãos de kefir. No segundo planejamento experimental foram mantidas as variáveis independentes em condições experimentais similares; e foram expandidas as variáveis dependentes (viscosidade, células lácticas viáveis, pH e acidez). Após a seleção da melhor região do processo foi realizada a análise sensorial para os atributos aparência, aroma, sabor, textura e impressão global, bem como a intenção de compra do produto desenvolvido. A melhor condição de processo obtida para a produção de um produto com alta viscosidade e com alto potencial probiótico foi: 12,5% de leite em pó, 10% de grãos de kefir a 45°C, obtendo uma viscosidade de 2.840 cP, pH 3,53 e 1,83x109 UFC/mL de bactérias láticas em 24 h de fermentação. Palavras-Chave: Kefir; produto lácteo fermentado; leite; planejamento de experimento. viii Abstract of Dissertation presented to the Process Engineering Graduate Program of Universidade Tiradentes as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) DAIRY PRODUCT DEVELOPMENT BASED PROBIOTIC KEFIR GRAINS This work were determined the process conditions for obtainment of the probiotic milk product and functional, using as starter culture, kefir grains. The tool used to select the best region of the process was the methodology of experimental design. Two factorial design with three full 2³ central points were performed. In the first experiment the response variable was the viscosity using the following parameters: the influence of the concentration of milk powder (X1), temperature (X2) and the concentration of kefir grains (X3) in the process of fermentation of cow milk using kefir grains. In the second experimental design were maintained the independent variables in similar or others conditions, and expanded to the dependent variable, such as: viscosity, lactic viable cells, monitoring the pH value and acidity of the medium in the different experiments. After to select the best region of the process was sensory evaluation was conducted with intent of the purchase and acceptance of the following parameters: appearance, aroma, flavor, texture, the best process condition obtained for the production of a product with high viscosity and high potential probiotic was: 12.5% milk powder, 10% kefir grains at temperature of 45 ° C, obtained has viscosity of 2840 cP, pH 3.53 and 1.83 x109 CFU / mL of lactic acid bacteria in 24 h fermentation. Keywords: Kefir, fermented milk product, milk, experimental design. ix SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 10 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 2.1 EMULSÃO ................................................................................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 2.1.1 Tipos de emulsões .................................................................................. Erro! Indicador não definido. 2.1.2 Mecanismos envolvidos na estabilização das emulsões ......................... Erro! Indicador não definido. Repulsão Eletrostática ................................................................................................Erro! Indicador não definido. Estabilização Estérica .................................................................................................Erro! Indicador não definido. Efeito de Gibbs-Marangoni .........................................................................................Erro! Indicador não definido. 3. MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS .............................................................. 14 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................................... 8 4.1 ANÁLISES E ENSAIOS EXPERIMENTAIS ..................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 4.1.1 Caracterização do petróleo e água produzida ....................................... Erro! Indicador não definido. 5. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS .................................................................................. 33 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA.................................................................................. 35 x LISTA DE FIGURAS Figura 3.1 - Fotografia eletrônica de bifidobactérias..............................................................20 Figura 3.2 - Aspecto dos grãos de Kefir..................................................................................22 Figuras 3.3 - Fluxograma geral da fabricação de produtos lácteos..........................................24 Figura 3.4 - Molécula do kefiran.............................................................................................29 Figura 3.5 - Fluxograma do processo tradicional de fabricação de kefir.................................34 Figura 3.6 - Fluxograma do processo industrial de fabricação de kefir...................................35 Figura 3.7 - Produtos a base de grãos de kefir comercializados por uma única empresa, a DMJ...........................................................................................................................................41 Figura 4.1 - Ficha de avaliação pelo método da aceitação......................................................46 Figura 5.1 - Perfil de viscosidade nas diferentes velocidades angulares testadas...................51 Figura 5.2 - Diagrama de Pareto no tempo de 6 h para a viscosidade.....................................54 Figura 5.3 - Perfil do crescimento relativo de células láticas (N/No) para ensaios contendo 10% de grãos de kefir; temperatura de 25ºC (Exp 1 e 2) e 45ºC (Exp 3 e 4) e diferentes concentrações de leite em pó....................................................................................................59 Figura 5.4 - Perfil do crescimento relativo de células láticas (N/No) para ensaios contendo 10% de grãos de kefir; temperatura de 25ºC (Exp 5 e 6) e 45ºC (Exp 7 e 8) e diferentes concentrações de leite em pó....................................................................................................59 Figura 5.5 - Perfil do crescimento relativo de células láticas (N/No) para as condições do ponto central contendo 7,5% de grãos de kefir; temperatura de 35ºC e concentração de leite em pó de 6,25%.........................................................................................................................60 Figura 5.6 - Diagrama de Pareto no tempo de 24 h para o crescimento de bactérias láticas...63 Figura 5.7 - Perfil da viscosidade para ensaios contendo 10% de grãos de kefir; temperatura de 25ºC (Exp 1 e 2) e 45ºC (Exp 3 e 4) e diferentes concentrações de leite em pó..................66 Figura 5.8 - Perfil da viscosidade para ensaios contendo 10% de grãos de kefir; temperatura de 25ºC (Exp 5 e 6) e 45ºC (Exp 7 e 8) e diferentes concentrações de leite em pó..................66 Figura 5.9 - Perfil da viscosidade para as condições do ponto central contendo 7,5% de grãos de kefir; temperatura de 35ºC e concentração de leite em pó de 6,25%...................................67 Figura 5.10 - Perfil de pH para ensaios contendo 5% de grãos de kefir; temperatura de 25ºC (Exp 1 e 2) e 45ºC (Exp 3 e 4) e diferentes concentrações de leite em pó...............................68 Figura 5.11 - Perfil de pH para ensaios contendo 10% de grãos de kefir; temperatura de 25ºC (Exp 5 e 6) e 45ºC (Exp 7 e 8) e diferentes concentrações de leite em pó...............................69 xi Figura 5.12 - Perfil de pH para as condições do ponto central contendo 7,5% de grãos de kefir; temperatura de 35ºC e concentração de leite em pó de 6,25%........................................69 Figura 5.13 - Percentual de intenção de compra para os fermentados formulados e o comercial. A – eu certamente compraria, B – eu provavelmente compraria, C – não sei se compraria, D – provavelmente não compraria e E – certamente não compraria......................75 xii LISTA DE TABELAS Tabela 3.1 - Composição do leite bovino.................................................................................17 Tabela 3.2 - Características fisiológicas e bioquímicas das bifidobactérias e dos lactobacillus..............................................................................................................................21 Tabela 3.3 - Principais grupos e espécies de microorganismos presentes nos grãos de kefir..23 Tabela 3.4 - Características do iogurte e do Kefir...................................................................28 Tabela 3.5 - Composição do Kefir...........................................................................................31 Tabela 3.6 - Diversos modos de obtenção de produtos lácteos................................................37 Tabela 4.1 - Condições para o planejamento de experimento prévio......................................43 Tabela 4.2 - Condições para a segunda matriz de planejamento.............................................44 Tabela 5.1 - Composição centesimal do leite fornecido pela empresa e alguns disponíveis no mercado.....................................................................................................................................48 Tabela 5.2 - Resultados do planejamento fatorial 23 com três pontos centrais empregando os parâmetros para os tratamentos analisados no tempo de 6h...........................................................50 Tabela 5.3 - Efeitos principais e secundários dos fatores leite em pó, temperatura e kefir sobre a viscosidade....................................................................................................................52 Tabela 5.4 - Análise de variância para a viscosidade do iogurte obtida pelo processo fermentativo..............................................................................................................................53 Tabela 5.5 - Composição centesimal do fermentado do ensaio 6............................................54 Tabela 5.6 Resultados do planejamento fatorial 23 com três pontos centrais empregando os parâmetros concentração de leite em pó, temperatura e concentração de grãos de kefir em fermentação de 24h e variáveis respostas concentração de células viáveis e viscosidade........56 Tabela 5.7 - Resultados do planejamento fatorial 23 com três pontos centrais empregando os parâmetros para os tratamentos analisados em diferentes tempos, cuja variável resposta são células viáveis........................................................................................................................................57 Tabela 5.8 - Valores para a cinética de crescimento de células láticas no processo de fermentação utilizando grãos de kefir.......................................................................................60 Tabela 5.9 - Efeitos calculados para avaliação do perfil de crescimento das bactérias láticas........................................................................................................................................61 Tabela 5.10 - Resultados do planejamento fatorial 23 com três pontos centrais empregando os parâmetros para os tratamentos analisados para a viscosidade no tempo 24 horas..................64 xiii Tabela 5.11 - Efeitos principais e secundários dos fatores leite em pó, temperatura e kefir sobre a viscosidade....................................................................................................................64 Tabela 5.12 - Análise de Variância para ajuste do modelo proposto que representa a viscosidade................................................................................................................................65 Tabela 5.13 - Perfil de pH para o desenvolvimento de um produto para os tratamentos analisados em diferentes tempos...............................................................................................68 Tabela 5.14 - Comparação da composição centesimal da bebida kefir formulada (12,5% de leite em pó, 10% grãos de kefir e 45°C) com a literatura.........................................................71 Tabela 5.15 - Teores de colesterol do leite e da bebida láctea.................................................71 Tabela 5.16 - Composição mineral dos produtos láteos produzidos........................................72 Tabela 5.17 - Composição mineral dos produtos láteos encontrados na literatura..................73 Tabela 5.18 - Notas sensoriais de aceitação para a bebida kefir e o iogurte comercial...........74 xiv Capítulo 1 1. INTRODUÇÃO Há uma nova tendência das indústrias de alimentos em produzirem iogurte e leites fermentados funcionais. A aceitação destes produtos pela população é motivada pelo excelente valor nutritivo, o que provoca um crescimento potencial, dos produtos probióticos. A indústria de laticínios está empenhada em aumentar a sua competitividade no segmento de produtos funcionais, pois necessita se adaptar as tendências de mudanças em um mercado consumidor exigente, que se modifica rapidamente, além de ter que manter a liderança tecnológica nas indústrias (THAMER; PENNA, 2005). De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos (ABIA, 2009), o mercado mundial de alimentos funcionais movimentou, em 2005, em torno de US$ 60 bilhões, tendo como principais mercados a Europa, Japão e Estados Unidos. Estima-se que só nos Estados Unidos a movimentação financeira foi de US$ 15 bilhões. No Brasil, em 2005, o mercado de funcionais foi avaliado em US$ 600 milhões. Os produtos light e diet, disponíveis no mercado desde o início de 1990, atingiram vendas anuais ao redor de US$ 4 bilhões, em 2005. Deste montante, o mercado de produtos funcionais representou 14% e na indústria de alimentos 0,8%. Deste modo, juntos esses produtos (diet, light e funcionais) somam 6,3% do volume de vendas da indústria brasileira de alimentação. Essa explosão de interesse dos consumidores em consumir alimentos ou componentes alimentares fisiologicamente ativos, também denominados alimentos funcionais, é justificada pela necessidade de melhoria da saúde. No tocante aos produtos lácteos funcionais, o Estado de Sergipe apresenta apenas uma pequena parcela destes produtos diferenciados, apesar de uma significativa bacia leiteira, com uma produção anual de aproximadamente de 252 mil litros de leite em 2007 (IBGE, 2009). Há atualmente 22 laticínios instalados na região, sendo realizados diversos projetos de investimentos em desenvolvimento de tecnologias em processos produtivos de derivados de leite. Alimentos funcionais, são aqueles produtos alimentícios ou ingredientes que, além das funções nutricionais básicas, quando consumidos como parte da dieta, produzem efeitos metabólicos, fisiológicos e/ou benéficos à saúde. Estes alimentos devem ser seguros para o consumo sem que haja a necessidade de supervisão médica. E sua eficácia e segurança devem 10 ser asseguradas por estudos científicos. Já os alimentos probióticos são alimentos que contém microorganismos vivos que beneficiam o organismo, melhorando a microflora intestinal. Os probióticos têm sido usados por algum tempo e estão disponíveis em alguns produtos alimentares, como leites fermentados e alguns tipos de iogurtes (ANTUNES, 2007; GOMES e MALCATA, 1999). Os principais microorganismos utilizados para a produção de produtos lácteos probióticos são: Lactobacillus acidophillus, Bifidobacterium spp., Lac. casei subespécie casei biovar shirota, Lac. GG straim e os grãos de Kefir que é um consórcio microbiano de bactérias láticas acéticas e leveduras (ZACARCHENCO e MASSAGUER-ROIG, 2006). Esses micro-oganismos utilizados para a elaboração de probióticos utilizam em sua maioria como substrato os constituintes do leite (vaca, cabra, búfala, soja, etc.), podendo ser utilizado alguns tipos de aditivos como espessante (leite em pó, amido, goma xantana), aromatizantes, saborizantes, corante. Na padronização do leite para produção dos produtos lácteos são normalmente adicionados os seguintes espessantes para aumentar o teor de sólidos totais no leite: leite em pó: leite concentrado, proteínas lácteas, amidos ou amidos modificados. O uso destes espessantes é regulamentado pelo Ministério da Agricultura no Regulamento Técnico de Padrão Identidade e Qualidade para Leites Fermentados. Neste contexto, a fermentação é o processo no qual os micro-organismos são inseridos em biorreatores em batelada para obtenção do produto lácteo (iogurte, bebida láctea, kefir, queijo). De acordo com a literatura, o alimento denominado probióticos para diferentes derivados do leite deve conter no mínimo 107 células viáveis/ grama ou por mL. A dose terapêutica mínima diária recomendada é de 105 células viáveis/ grama ou mL (HAULY et al., 2005). Atualmente, dentre as bebidas lácteas comercializadas mundialmente o consórcio microbiano kefir é bastante utilizada nos países da Europa Oriental e Ocidental. A bebida láctea nestes países é comercializada como o mesmo nome que o consócio microbiano, kefir. Portnto, kefir é também definido como o produto resultante da fermentação do leite por grãos de kefir (ORDONEZ, 2005). Contudo, no Brasil e nos demais países da América Latina ainda não são comercializados em grande escala a bebida láctea “kefir”. Apesar da potencialidade de mercado deste produto, possivelmente devido às condições climáticas a padronização do processo ainda não foi realizada para atender as boas práticas de fabricação na indústria. Por 11 fim, a proposta deste trabalho foi à avaliação das condições do processo fermentativo para a produção de kefir. 12 Capítulo 2 2 OJETIVOS 2.1. Objetivo Geral O presente trabalho teve como objetivo o desenvolvimento do processo fermentativo para a obtenção de um produto lácteo probiótico utilizando grãos de kefir. 2.2. Objetivos Específicos Os objetivos específicos foram: (i) Caracterizar o leite a ser utilizado como matéria prima; (ii) Otimizar as condições de fermentação para a produção da bebida láctea utilizando grãos de kefir; (iii) Caracterizar físico-químicamente o leite a bebida láctea obtida no processo fermentativo, e; (iv) Realizar a análise sensorial das bebidas lácteas obtidas na região otimizada no processo fermentativo. 13 Capítulo 3 3. REVISÃO BIBLIOGRAFICA Nesta revisão bibliográfica será abordado os diferentes temas relacionados ao desenvolvimento de produtos lácteos obtidos a partir do processo fermentativo utilizando kefir. 3.1. Leite O leite é um dos mais completos alimentos, contém uma grande variedade de nutrientes essenciais ao crescimento, desenvolvimento e manutenção de uma vida saudável. Rico em proteínas, energia e minerais, como mostra a Tabela 3.1 para leite bovino. A composição do leite pode variar de acordo com os seguintes fatores: raça, período de lactação, alimentação, saúde, período de cio, idade, características individuais, clima, espaço entre as ordenhas e estação do ano. O leite deve ter o aspecto liquido, homogêneo, formando uma camada de gordura na superfície quando deixado em repouso. Não pode conter substâncias estranhas, devendo este sempre limpo (VERRUMA e SALGADO, 1994). Componentes Tabela 3.1: Composição do leite bovino Composição1 Composição2 Composição3 Água (%) 87,0 87,5 88 Gordura (%) 3,5 – 5,5 3,6 3,7 Proteínas (%) 3,1 – 3,9 3,6 3,7 Lactose (%) 4,9 – 5,0 4,6 4,7 Sais Minerais (%) 0,7 0,7 0,7 Fonte:1ORDONEZ, 2005; 2FIRJAN, 2008; 3VERRUMA e SALGADO, 1994. O leite fresco possui um sabor levemente adocicado e agradável, devido essencialmente a alta quantidade de lactose. Além disso, os outros elementos do leite, inclusive as proteínas que são insípidas, participam de alguma forma, direta ou indireta, na sensação de sabor. Pode ocorrer mudança no sabor do leite devido a várias causas, no qual estas estão relacionadas fundamentalmente ao manejo dos animais e como o leite é processado, pois mesmo depois da pasteurização e embalagem, o leite ainda pode absorver sabores indesejáveis. O teor de 14 gordura também influencia no sabor do leite, pois, normalmente, quanto maior o teor de gordura mais saboroso o leite será (VENTURINI et al., 2005). O leite possui odor suave, levemente ácido, e lembra mais ou menos o animal que o produziu e ele recém-ordenhado tem um odor relacionado ao ambiente de ordenha, que desaparecem logo depois. Os principais elementos que influenciam o odor do leite são provenientes de alimentos, meio ambiente, utensílios que entram em contato com o leite e microrganismos (FIRJAN, 2008). Odores desagradáveis do leite podem ser eliminados durante a pasteurização, quando o produto passar por um equipamento denominado aerador. Neste equipamento o leite levemente aquecido é turbilhonado de tal forma que as substâncias voláteis que conferem odor desagradável sejam evaporadas. A cor característica do leite (branco-amarelada opaca) é devido, principalmente, à dispersão da luz pelas micelas de caseína, sendo que glóbulos de gordura dispersam a luz, mas pouco contribui para a cor branca do leite. A cor amarelada do leite e devido a substancias lipossolúveis (caroteno e a riboflavina) (ORDONEZ, 2005). Os produtos lácteos são produtos oriundos do leite como iogurte, leite fermentado, queijo, manteiga entre outros. 3.2. Micro-organismos Utilizados na Fabricação de Produtos Lácteos Probióticos As bactérias são os principais microrganismos utilizados para a fabricação de produtos lácteos dentre elas as Bifidobactérias, os Lactobacillus e os Streptococcus. Destre estas as Bifidobactérias e os Lactobacillus são as mais utilizadas na elaboração de produtos probióticos. Algumas leveduras também são encontradas nos produtos lácteos como é o caso dos grãos de kefir (FERREIRA, 2001). Além dos benefícios nutricionais, as culturas probióticas podem também contribuir para o melhoramento do sabor do produto final, por promover acidificação reduzida durante o tempo de prateleira (GOMES e MALCATA, 1999). 3.2.1. Bifidobactérias As bifidobactérias são em geral, caracterizadas por serem microrganismos Grampositivos, não formadores de esporos, desprovidos de flagelos e anaeróbios. Moforlogicamente podem ter várias formas que incluem bacilos curtos e curvados, bacilos com a forma de cacete e bacilos bifurcados. Das 30 espécies conhecidas do gênero Bifidobacterium, uma é utilizada para obtenção de leite fermentado e apresenta uma boa 15 tolerância ao oxigênio, ao contrário da maior parte das outras do mesmo gênero. A Figura 3.1 mostra uma imagem das bifidobactérias (FERREIRA, 2001). Possuem um conteúdo elevado de guanina e citosina que varia, em termos molares, de 54 a 67%. São heterofermentativos, ou seja, produzem ácidos acético e lático na proporção molar de 3:2 a partir de 2 moles de hexose, sem produção de CO2, exceto durante a degradação do gluconato. A enzima chave desta via metabólica fermentativa é a frutose- 6fosfato fosfocetolase, a qual pode por isso ser usada como marcador taxonômico na identificação do gênero, mas que não permite a diferenciação entre as espécies (GOMES e MALCATA, 1999). Utilizam como fonte de carbono (substrato): glicose, galactose, lactose e frutose. A temperatura de crescimento ótimo dessas bactérias se dá entre os 37 e 41 ºC, ocorrendo máximos e mínimos de crescimento a 43-45 ºC e 25-28 ºC, respectivamente. Em relação ao valor do pH, o ponto ótimo é verificado entre 6 e 7, com ausência de crescimento a valores de pH ácidos (4,5-5,0) ou pH alcalinos (8,0-8,5) (GOMES & MALCATA, 1999). Figura 3.1: Fotografia eletrônica de bifidobactérias. Fonte: http://jarb3mjc.sites.uol.com.br/ds1723dez_07.htm 3.2.2. Lactobacillus Os lactobacilos são geralmente caracterizados como gram-positivos incapazes de formar esporos, desprovidos de flagelos, possuindo forma bacilar ou cocobacilar, e anaeróbios como mostra a Tabela 3.2. O gênero compreende, em torno de 56 espécies oficialmente reconhecidas, as mais utilizadas para fins de aditivo dietético são L. acidophilus, L. rhamnosus e L. casei. O L. acidophilus, o que mais se destaca, é um bacilo gram-positivo com pontas arredondadas, que se encontra na forma de células livres, aos pares ou em cadeias curtas, com tamanho típico de 0,6-0,9 µm de largura e 1,5-6,0 µm de comprimento. Tem como particularidades ser pouco tolerante à salinidade do meio, e ser microaerofílico, com o 16 crescimento em meios sólidos favorecido por anaerobiose ou pressão reduzida de oxigênio (GOMES e MALCATA, 1999). As condições ótimas para a sua multiplicação são temperaturas de 35-40 ºC e valores de pH de 5,5-6,0. O crescimento de L. acidophilu pode ocorrer a 45 ºC, e a sua tolerância em termos de acidez do meio varia entre 0,3 e 1,9 %(v/v) de acidez titulável (GOMES e MALCATA, 1999). Tabela 3.2: Características fisiológicas e bioquímicas das Bifidobactérias e dos lactobacillus. Características Bifidobacterium spp. Fisiologia Anaeróbio Composição da parede Aminoácido básico tetrapeptídeo celular variável, ou omitina ou lisina, vários Lac. acidophilus Microaerofílico Lys-D Asp tipos de transpeptidação Composição fosfolipídio Poliglicerolfosfolipídio e seus liso- Glicerol derivados, alanilfosfatidilglicerol, liso – derivados de difosfatidilglicerol Composição base DNA 55-67 34-37 Configuração ácida lático L DeL Metabolismo de açúcares Heterofermentativo Homofermentativo (Mol % guanina + citosina) Fonte: Adaptado de GOMES & MALCATA, 1999 3.2.3. Grãos de Kefir Os grãos de Kefir assemelham-se a uma couve-flor, como mostra a Figura 3.2. É um agrupamento gelatinoso polissacarídeo que tem vários micro-organismos em simbiose (leveduras, bactérias ácido láticas, bactérias ácido acético e fungos), e sua complexidade ainda não foi completamente decifrado pela ciência (PLESSAS, et al. 2004; GONCU e ALPKENT, 2005; PRASKEVOPOLOU et al. 2003; GARROTE et al. 1997). 17 Figura 3.2: Aspecto dos grãos de Kefir. Fonte: Adaptado de: http://www.kefir.co.kr/eng/kefir-grain.php. De acordo com GIACOMELLI (2004) os grãos vistos em microscópio revelam uma estrutura complexa. A composição dos grãos de kefir é formada por: 4,4% de lipídios, 12,1% de cinzas, 45,7% de mucopolissacarídeo, 34,3% de proteínas totais, vitaminas do complexo B, vitamina K, triptofano, cálcio, fósforo e magnésio. Os microrganismos presentes nos grãos de kefir variam de acordo com a sua origem, características da região, processamento, tempo, temperatura e o leite utilizado (FARNWORTH, 2005). Os principais grupos e espécies dos microrganismos encontrados nos grãos de kefir, estão descritos na Tabela 3.3. Estes microrganismos produzem uma grande diversidade de polissacarídeos e carboidratos, como mostra a Tabela 3.4 (SIMOVA, 2002). 3.3. Produtos Lácteos 3.3.1. Leite Fermentado e Iogurte Entende-se por leites fermentados os produtos resultantes da fermentação do leite pasteurizado ou esterilizado, por fermentos lácticos próprios. Já o iogurte, a fermentação se realiza com cultivos protosimbióticos de Streptococcus salivarius subsp. thermophilus e Lactobacillus delbrueckii subsp. Bulgaricus, aos quais pede esta associado, de forma complementar, outras bactérias ácido-lácticas que contribuem para a determinação das características do produto final (AGRICULTURA, IN 46, 2007). O leite acidófilo ou acidofilado é o leite fermentado cuja fermentação se realiza exclusivamente com cultivos de Lactobacillus acidophilus (AGRICULTURA, IN 46, 2007). Os leites fermentados são obtidos por coagulação e diminuição do valor do pH do leite, ou do leite reconstituído, adicionado ou não de outros produtos lácteos. A coagulação ocorre por fermentação láctica, mediante a ação de cultivo de microrganismos específicos. Estes microrganismos devem ser viáveis, ativos e abundantes no produto final, durante o prazo de validade do produto. 18 Tabela 3.3: Microrganismos presentes nos grãos de kefir Lactobacilos Acetobacter Leveduras Streptococcos/Lactococcus Lac. acidophilus A. aceti Kluyveromyces lactis Lactococci lactis subsp. Lactis Lac. parakefir SP A.rasens K. marxianus Lc. Lactis var. diacetylactis Nov Lac. lactis - K. bulgaricus Lc lactis subsp Cremoris Lac. casei subsp. - K. fragilis Streptococci salivarius Pseudoplantarum Lac. paracasei subsp. Thermo. - Candida kefir S. lactis Lac. cellobiosus - C. pseudotropicalis Enterococcus cremoris Lac. delbrueckii - C. rancens Leuc. Mesenteroides - C. tenuis - Lac. fructivorans - Saccharomyces lactis - Lac. helveticus - S. carlsbergensis - - S. subsp. Torulopsis - subsp. Paracasei subsp. Bulgaricus Lac. delbrueckii subsp lactis. subsp. Lactis Lac. hilgardii holmil Lac. kefiri - S. cerevisiae - Lac. - - - - - - Lac. brevis - - - Lac. casei subsp. - - - - - kefiranofaciens Lac. kefirgranum sp. Nov Rhamnosus Lac. plantarum Fonte: SANTOS e FERREIRA, 2008 19 - Tabela 3.4: Polissacarídeos produzidos pelos grãos de kefir Lactobacillus Polissacarídeo Lac. bulgaricus HP1 460.27d7.02 Lac. bulgaricus HP2 147.23d6.85 Lac. bulgaricus HP3 46.93d4.94 Lac. bulgaricus HP4 195.37d3.97 Lac. helveticus MP10 15.37d3.85 Lac. helveticus MP11 19.23d3.34 Lac. helveticus MP12 D Lac. helveticus MP13 10.40d1.55 Lac. brevis B1 D Lac. brevis B2 D Lac. brevis B3 D Lac. brevis B4 D Lac. thermophilus T10 31.40d4.71 Lac. thermophilus T11 15.77d2.93 Lac. thermophilus T12 D Lac. thermophilus T13 27.80d3.38 Lac. Lactis C11 D Lac. Lactis C12 D Lac. Lactis C13 D Lac. Lactis C14 D Fonte: Adaptado de SIMOVA, 2002 Os leites fermentados envolvem as seguintes categorias de produtos: iogurte, leite acidófilo, kefir, kumys, coalhada e leite fermentado ou cultivado (FERREIRA, 2001). A Figura 3.3 mostra o fluxograma básico para obtenção dos produtos lácteos: iogurte leite fermentado, leite acidófilo, kefir e kumys. Existem duas diferentes tecnologias para a produção de iogurtes: Iogurte Tradicional ou Clássico (iogurte natural integral, fermentado na embalagem), e; Iogurte Batido (fermentado em tanques). O iogurte tradicional tem uma textura mais firme que o iogurte batido, pois no iogurte batido, há a quebra do gel, daí a 20 consistência menos firme e cremosa do iogurte batido. O iogurte batido é fermentado na iogurteira em batelada (FERREIRA, 2001). A seguir será descritas as etapas para elaboração de um produto lácteo: Recepção de Matéria-Prima Padronização Pasteurização Açúcar Resfriamento Adição do MO Incubação Agitação / Homogeinização Adição do Aroma / Sabor Resfriamento Análises Figura 3.3: Fluxograma geral da fabricação de produtos lácteos Inicialmente, tem-se a matéria-prima utilizada, o leite, poderá ser em natureza ou reconstituído, pasteurizado ou esterilizado, adicionado ou não de outros produtos de origem láctea, bem como de outras substâncias alimentícias recomendadas pela tecnologia atual de fabricação de leites fermentados, e que não interfiram no processo de fermentação do leite pelos fermentos (cultura “starter”) empregados (AGRICULTURA IN 46, 2007; ORDONEZ, 2005). Usualmente, é utilizado o leite de vaca como matéria-prima, no entanto, torna-se cada vez mais comum a utilização de leite de outras espécies (cabra, búfala, ovelha, soja, entre outras), os quais deverão ser, também, passar pelo tratamento térmico de pasteurização (FERREIRA, 2001). 21 Na etapa de padronização é realizada em relação ao teor de gordura e ao teor de extrato seco total. Quanto ao teor de gordura, o leite é desnatado até atingir o teor de gordura ideal para a fabricação do produto normalmente de 3,0%. Evaporação de 10-20% do volume do leite provocando um aumento de 1,5-3% de extrato seco. Esta etapa é de extrema importância, especialmente para iogurtes. Um aumento do extrato seco total resulta em um produto mais firme, com menor tendência de separação de soro. Normalmente, utiliza-se leite com extrato seco total de 12 - 15% (concentrado) e acidez inferior a 20°D (0,2% de ácido láctico). A legislação vigente permite adicionar uma série de produtos considerados como ingredientes opcionais (descritos acima) que podem servir para aumentar o extrato seco do leite e melhorar a textura do iogurte (AGRICULTURA, IN 46, 2007) A pasteurização, a etapa subseqüente, tem como objetivo evitar a competição por bactérias não selecionadas com as bactérias do fermento e, eliminar os microrganismos patogênicos como Salmonella e Campylobacter. O efeito redutor da pasteurização estimula o desenvolvimento do fermento lácteo. Além disso, ele também influi no aumento da viscosidade do iogurte e na obtenção de uma textura adequada. A desnaturação de 80-90% das proteínas do soro (solúveis), obtidas com um binômio de 90 - 95°C por 3 - 5 min, aumenta a firmeza do produto e o rendimento, além de prevenir a separação do soro. Paralelamente, a pasteurização provoca uma redistribuição de íons cálcio, magnésio e fósforo entre as formas solúvel e coloidal, que tende a reduzir o tempo de coagulação (FERREIRA, 2001). É na agitação que ocorre a quebra do gel e a adição do aroma e sabor. Após, o produto é resfriado a uma temperatura inferior a 7°C por 12 a 24 horas antes da comercialização onde ele adquire sabor característico. Em seguida são realizadas análises por uma equipe de controle de qualidade, onde avaliam o produto microbiologicamente e físico-quimicamente. São realizados análises do teor de gordura, pH, acidez, coliformes, fungos e leveduras, contagem de bactérias láticas (ANTUNES, 2007). 3.4. Kefir A palavra kefir é originada do idioma turco e significa "indolência", estando associada a "sensação boa" ou "prazer". É também conhecida por vários nomes, dependendo da região, tais como quépi, Kippe, kéfir, khaphin, kiaphir, keffir, e kefyr (FERREIRA, 2001). 22 De acordo com a Legislação vigente para o Padrão de Identidade Qualidade de Leites Fermentados do Ministério da Agricultura, kefir é o produto resultante da fermentação do leite pasteurizado ou esterilizado por cultivos acidolácticos elaborados com grãos de kefir, Lactobacillus kefir, espécies dos gêneros Leuconostoc, Lactococcus e Acetobacter com produção de ácido lático, etanol e dióxido de carbono (BRITO, 2009). Já a FAO/OMS (2009) define a bebida kefir baseada na composição microbiana dos grãos de kefir (cultura iniciadora ou starter utilizada para produzir kefir): cultura starter preparada de grãos de Kefir, Lactobacillus kefiri e espécies do gênero Leuconostoc, Lacococcus e Acetobacter crescendo em um forte relacionamento específico. Os grãos de kefir constitui de ambas leveduras, as que fermentam a lactose (Kluyveromyces marxianus) e as que não fermentam ( Saccharomyces unisporus, Saccharomyces cerevisiae e Sacharomyces exiguus). Com uma consistência cremosa espessa uniforme, a bebida gerada pela fermentação do leite pelos microrganismos associados aos grãos de kefir, possui um leve gosto ácido que refresca e um aroma moderado de levedura fresca, que se assemelha à bebidas alcoólicas muito “leve”. Associado à efervescência do gás produzido (CO2), é um produto lácteo sem igual e que possui cerca de 40 combinações aromáticas, podendo ser consumido fresco ou refrigerado (ORDONEZ, 2004). As características sensoriais do kefir diferem daquelas apresentadas pelos iogurte, com relação a presença de uma pequena quantidade de CO2, álcool e os benefícios do polissacarídeo (kefiran) (OTLES e CAGINDI, 2003). Os números estatísticos da produção e consumo de kefir não são facilmente disponíveis, desde produtos lácteos fermentados, como também não são nem sempre discriminadas em separados por itens como iogurte e kefir (FARNWORTH, 2005). Tanto o kefir quanto o iogurte são produtos lácteos, cultivados de vários tipos de bactérias benéficas. O iogurte contém bactérias benéficas transitórias que mantêm o sistema digestivo limpo, porém o kefir pode colonizar o trato intestinal. O kefir contém diversas bactérias não comumente encontradas nos iogurtes: Lactobacillus, Leuconostoc, Lactococcus, Acetobacter e Streptococcus e contém também leveduras igualmente benéficas, como Saccharomyces, Kluyveromyces Torula. O kefir controla e elimina microrganismos patogênicos destrutivos no corpo (FARNWORTH, 2005; OTLES e CAGINDI, 2003; GARROTE et al. 1997). 23 A vantagem mais notável do kefir em relação ao iogurte é a presença do polissacarídeo chamado kefiran que possuem propriedades antiinflamatório e anti-tumoral (GIACOMELLI, 2004; OTES & CAGINDI, 2003; ORDONEZ, 2005). . A Tabela 3.5 faz um comparativo entre o Iogurte e o kefir. Tabela 3.5: Características do Iogurte e do Kefir Característica Kefir Iogurte Microrganismos Temperatura ótima (oC) Tempo de fermentação (h) Produto Grãos de kefir 25 20 - 24 Leite fermentado ácido-álcool, CO2, kefiran Cáucaso Bactérias ácido láticas 37 – 42 ~5 Leite fermentado ácido Origem Bulgária O Kefiran é composto de duas moléculas de monossacarídeos, D-glicose e Dgalactose, em proporções iguais. A Figura 2.4 mostra a molécula do kefiran. Kefiran tem demonstrado ter certas qualidades medicinais, sendo útil como alimento funcional para evitar ou controlar algumas doenças comuns do trato intestinal que ocorrem (DMJ Biotech Corp, 2009). Figura 3.4: Molécula do kefiran. Fonte: http://www.kefir.co.kr/eng/kefiran.php. Os grãos de kefir possui uma dinâmica e complexa microbiota que não foi inicialmente propícia para a produção comercial de um produto uniforme e padronizado, o que levou grupos de pesquisadores, tentar produzir kefir de uma mistura de culturas puras combinada com uma cultura de iogurte de bactérias ácido lácticas e Saccharomyces cerevisiae (um fermento não-lactose) para produzir um leite fermentado com características de kefir (que produzem CO2 e etanol) sob uma variedade de condições (FARNWORTH, 2005). 24 FARNWORTH, (2005) citou também que cientistas produziram uma cultura multistarter com quatro bactérias e duas leveduras isoladas dos grãos de kefir, com o intuito de fabricar a bebida em um processo contínuo. Uma cultura starter foi formada por duas bactérias (Lactobacillus helveticus e Lactococcus lactis subsp. lactis,) e uma levedura (S. cerevisiae) também isoladas dos grãos de kefir e combinado com duas cepas de iogurte (Lactobacillus delbrueckii subsp. Bulgaricus e Streptococcus thermophilus) também foi produzida. A levedura foi acrescentada ao composto da cultura starter com sacarose, quer no início, ou após a fermentação ácido láctica. Ambos os kefirs produzidos, foram encontrados com um elevado número de cocos e lactobacilos viáveis e tinham propriedades químicas e organolépticas semelhantes ao do kefir tradicional. Um kefir comercial também está sendo produzido nos Estados Unidos, utilizando uma mistura de microrganismos definidos em vez de grãos de kefir . Esta mistura da cultura starter, contém: Streptococcus lactis, L. plantarum, Streptococcus cremoris, L. casei, Streptococcus diacetylactis, Leuconostoc cremoris e Saccharomyces florentinus (HERTZLER e CLANCY , 2003). Fermentos em pó contendo bactérias lácticas e leveduras congeladas de grãos de kefir estão disponíveis comercialmente; alguns são complementadas com outros microrganismos para transmitir as características desejáveis do Kefir no produto (FARNWORTH, 2005). É evidente que o produto final, como são produzidos a partir de grãos de kefir, terão um maior número e variedades de microrganismos que a bebida produzida a partir de uma mistura de um pequeno número de culturas puras. O sabor típico do kefir resulta da presença de vários compostos que são produzidos durante a fermentação (BESHKOVA et al. 2003). Kefir produzido a partir de culturas puras não foi bem aceito no Canadá, através de uma análise sensorial exceto as bebidas que possuiam edulcorantes, cerca de 40% das pessoas que degustaram kefir pela primeira vez deulhe uma classificação positiva com relação ao sabor. A adição do sabor, ou modificação do processo de fermentação (por exemplo, além de lactococci, lactobacilos e leveduras) aumentou a aceitabilidade de kefir, em comparação com o Kefir feito tradicionalmente. Compostos como o acetaldeído e acetoína têm recebido uma atenção especial a respeito do seu papel durante a fabricação de kefir devido à contribuição para as características organolépticas, pricipalmente o sabor (GIACOMELLI, 2004; FERREIRA, 2001). 25 Tanto o sabor, a viscosidade, a composição microbiológica e físico-químca do kefir podem ser influenciados pela origem e tamanho do inóculo adicionado ao leite, pela agitação, temperatura de processo e a duração do arrefecimento e amadurecimento das fases que suscede a fermentação. (OTLES e CAGINDI, 2003; GARROTE, 1997; ATHANASIADIS, et al. 2004). O kefir é rico em ácido lático, acético e glicônico, álcool etílico, gás carbônico, vitamina B12 e polissacarídeos. O ácido lático é o princupal metabólito produzido durante a fermentação do kefir, esse processo é capaz de converter de 20 a 50% da lactose em ácido lático, tornando o kefir uma bebida que pode ser consumida por pessoas com tolerancia a lactose A Tabela 3.6 demostra a composição do Kefir (GIACOMELLI, 2004). O ácido lático é considerado um conservante natural, o que torna o kefir um produto biologicamente seguro (GIACOMELLI, 2004). Tabela 3.6: Composição do Kefir Costituinte Água Acidez em graus Dornic (°D) Proteínas totais (%) Sacarose (%) Gordura (%) Matérias albuminóides (%) pH Acidez Volátil (mL de NaOH Caseína (%) Albumina (%) Lactose (%) Peptonas (%) Ácido Lático (%) Álcool (%) Gás Carbônico (%. v/v) Minerais (%) Diacetil (mg/L) Acetoaldeído (mg/L) Fonte: GIACOMELLI, 2004 Valores médios 87 80 (no final da incubação) 3,4 - 4,2 Mínimo de 4,4 0,5 – 3,0 3,1 4,2 – 4,5 3,9 2,8 0,2 2,6 – 3,75 0,06 0,7 0,23 – 1 20 – 25 0,74 – 0,8 0,49 1,30 Os benefícios do consumo de kefir são inúmeros, mas os principais são descritos abaixo (OTLES e CAGIDI, 2003; PARASKEVOPOULOU et al., 2003; SAAD et al., 2006): incrementa o valor biológico das proteínas do leite - as proteínas do kefir são parcialmente digeridas e, assim, mais facilmente utilizadas pelo organismo. 26 O triptofano, um dos aminoácidos essenciais abundantes no kefir, é conhecido pelo seu efeito relaxante do sistema nervoso; sintetiza ácido láctico, o que diminui a intolerância a lactose e favorece a digestibilidade do leite mesmo para pessoas que sejam sensíveis ao leite de vaca; sintetiza vitaminas do complexo B; aumenta a resistência à infecções; ativa o sistema imunológico - e já foi usado, com sucesso, para ajudar pessoas que sofrem de aids, síndrome de fadiga crónica e herpes; efeito tranquilizador do sistema nervoso beneficia muitas pessoas que sofrem de depressão, distúrbios do sono, entre outras; restabelece e equilibra a flora intestinal - elimina do intestino as bactérias e leveduras prejudiciais, e aumenta a população bacteriana benéfica e protectora; regulador da flora intestinal, podendo ser usado tanto em casos de obstipação quanto diarreia, reduz a flatulência e melhora de uma forma geral todo o sistema digestivo; o efeito de “limpeza” que exerce em todo o corpo, ajuda a estabelecer o equilíbrio do ecossistema interno, permitindo uma ótima saúde e aumento da longevidade; diminui o risco de câncer , principalmente de cólon; diminui a fração do colesteril LDL. Kefir é o único produto lácteo fermentado produzido a partir de uma mistura de bactérias láticas e leveduras. Apesar de sua antiga origem e consumo em algumas regiões, no Brasil, o consumo é recente e existem poucos estudos brasileiros a respeito dos grãos de kefir e seus derivados. Sabe-se, que um número cada vez maior de benefícios tem sido vinculados a esse alimento e o fato de ser probiótico, pode aumentar ainda mais seu valor agregado. Um produto referido como simbiótico é aquele no qual um prebiótico e um probiótico estão combinados. (OTLES e CAGIDI, 2003; GIACOMELLI, 2004; FARNWORTH, 2005; PARASKEVOPOULOU, 2003; SAAD, 2006; GARROTE, et al. 1997). As embalagens que são utilizadas para o acondicionamento da bebida kefir, devem ser forte suficientes para resistir a qualquer pressão que possa criar (por exemplo, vidro), ou 27 flexível o suficiente para conter o volume de gás produzido (por exemplo, de plástico com uma folha de alumínio superior (WITTHUN et al, 2004). Durante o armazenamento prolongado do kefir a baixas temperaturas, a fermentação ácida e o desdobramento de proteínas em aminoácidos cessam, enquanto que a formação de CO2, álccol e aroma continua a ocorrer (FERREIRA, 2001). 3.5. Processos Fermentativos Tradicionalmente, o kefir é produzido adicionando grãos de kefir (uma massa de proteínas, polissacarídeos, mesofílica, homofermentativa e heterofermentativa, ácido láctico, estreptococos, lactobacilos termófilos e mesofílicos, ácido acético, bactérias e leveduras) para uma quantidade de leite de 2 a 10% , geralmente 5%, a temperatura ambiente.O processo de fermentação varia de 18 a 24 horas, após esse período os grãos são peneirados e refrigerados para serem utilizados para ouitra inoculação e a bebida é acondicionada 4°C até ser consumida, esse processo de fabricação está descrito na Figura 3.5 (OTLES & CAGINDI, 2003). Leite Cru Arrefecimento (20 - 25ºC) Inoculação Fermentação 18 - 24 h Separação dos Grãos Maturação e Resfriamento 4ºC Estocagem Figura 3.5: Fluxograma do processo Tradicional de fabricação de kefir. Fonte: Adaptado de OTLES e CAGINDI, 2003. Há diferentes métodos para obtenção do kefir industrialmente, mas seguem todos os mesmo princípios. Faz-se homogeinização do leite, em seguida, a pasteurização e 28 resfriamento do leite e a inoculação com os grãos de kefir que podem variar de 2 a 8%, o tempo de fermentação é de em média 24 horas. A bebida é filtrada e acondicionada em embalagens apropriadas, onde são mantidas por 24 horas a uma temperatura em torno de 12 – 14°C (onde vai adquirir as caracteristicas sensoriais) para depois ser estocada (4°C) e comercializada (OTLES e CAGINDI, 2003, FERREIRA, 2001). O fluxograma do processo industrial de fabicação de kefir é demonstrado na Figura 3.6. Durante o período de fermentação do leite pelos grãos de kefir os microrganismos homofermentativos, ácido láctico e estreptococos crescem rapidamente, provocando inicialmente uma queda do pH. Esta queda do pH favorece o crescimento dos lactobacilos, provocando, a diminuição dos estreptococos. A presença de leveduras na mistura, juntamente com a temperatura de processo (21-23,8°C), incentiva o crescimento da produção de aroma pelos microrganismos heterofermentativos, estreptococos (TRANSEK; GORSEK, 2007). Leite Cru Homogeinização Pasteurização Resfriamento Inoculação (2 - 8%) Fermentação 18 - 24 h Separação dos Grãos Embalagem Maturação 12 - 14ºC, 24h Estocagem 4ºC Figura 3.6: Fluxograma do processo Industrial de fabricação de kefir. Fonte: Adaptado de OTLES & CAGINDI, 2003. 29 As espécies que integram o gênero Bifidobacterium conseguem proliferar num meio semi-sintético contendo apenas lactose, aminoácidos, vitaminas, nucleotídeos e alguns minerais. Um dos fatores limitantes para o crescimento dessas bactérias, é a fonte de azoto, que para algumas estirpes poderá estar na forma de amônia enquanto para outras, deverá ser uma fonte orgânica. No que diz respeito ao L. acidophilus, os requisitos em nutrientes necessários para a exibição de taxas razoáveis de crescimento são semelhantes aos das Bifidobacterium: hidratos de carbono como fonte de energia, proteínas e respectivos produtos de degradação, vitaminas do complexo B, derivados dos ácidos nucléicos e minerais. A presença do grupo sulfidrilo em leites enriquecidos com proteínas do soro favorece o crescimento de L.acidophilus. (GOMES & MALCATA, 1999) Durante a produção de kefir, ocorrem quatro modificações importantes: formação de ácido lático, formação de álcool, formação do “flavor” pelas leveduras, desdobramento parcial da proteína para peptonas e aminoácidos. Essas modificações são ocasionadas devido a temperatura. A formação de CO2 se dá a temperatura de 5 a15°C, enquanto a fermentação lática se dá de maneira lenta. Ao invés de se escolher uma temperatura média, acidifica-se o meio, mantendo a temperatura de 16-22°C e em seguida retorna-se para a temperatura de 515°C para que haja a produção de álcool e CO2. As proteínas se desdobram em aminoácidos durante a fermentação lática (TRAMSEK; GORSEK, 2008). A Tabela 3.8 mostra os diversos métos de produção dos produtos lácteos. Nosta-se que apenas um artigo cita a fermentação contínua num bioreator CSTR, pois tradicionalmente a produçãos desses produtos é feita em bioreator por batelada. Para o uso do método contínuohá a necessidade de estudos sobre o sistema desse bioreator na produção de produtos lácteos. 30 Tabela: 3.8: Diversos modos de obtenção de produtos lácteos Micro-organismos Condições de Processo Tipo de Reator Grãos de kefir Fermentação a T=24°C Bioreator CSTR e por 24 h, com rotação de bioreator em batelada 90 rpm, adição de 20 g/L de glucose Streptococcus thermophilus, Fermentação a T= 42°C Bioreator em batelada Lactobacillus delbruecki até atingir o pH 4,7 – 4,8, subsp. Bulgaricus com adição de leite empó, ,Bifidobacterium e soro de leite em pó, açúcar Lactobacillus acidophyllus e fritoligossacarídeos Grãos de kefir Fermentação a T=30°C por Bioreator em batelada 120 minutos e fabricação de pão tradicional. Grãos de kefir, Lac. Fermentação a T=32°C por Bioreator em batelada dekbruekii spp bulgaricus, 90 minutos em seguida Streptococcus salivarius spp. fabricação padrão de thermophillus, Lac. lactis queijo branco spp. lactis, Lac. lactis spp. cremoris Grãos de kefir Fermentação a T= 30°C Bioreator em batelada por 7 horas ou até o pH atingir entre 3 – 4,7, em condições aeróbicas Grãos de kefir Fermentação aeróbica Bioreator em batelada T=30° até o pH atingir 4,0. 31 Produto Kefir Fonte GORSEK e TRAMSEK (2008) Bebida láctea probiótica THAMER e PENNA (2005) Pão PLESSAS et al. (2005) Queijo GONCU e ALPKENT (2005) Bebida láctea ATHANASIADIS et al. (2004) Bebida láctea PARASKEVOPOULOU et al. (2003) Continuação da Tabela 3.6 Micro-organismos Grãos de kefir Condições de Processo Fermentação a temperatura ambiente (25°C) por 36 horas. Grãos de kefir Fermentação a uma T=30°C até o Ph atingir 4,0, com adição de frutose. Grãos de kefir Fermentação a T=23°C por 18 horas com adição de polda de morango Grãos de kefir Fermentanção a Temperatura entre 20 e 25°C por 18 – 24 horas Bifidobacterium animalis Fermentação a T= 21°C subsp. Lactis (BB12, por 15 a 20 horas, com Madri/Espanha) e Mesophilic adição de sacarose e Aromatic Culture (MAC cucralose. CHN-22, Horsholm/Dinamarca), composta por mistura de linhagens contendo Lactococcus lactis subsp. Cremoris, L. lactis subsp. Lactis, Lactococcus lactis subsp. Lactis biovar. Diacetylactis e Leuconostoc mesentoroides subsp. Cremoris Tipo de Reator Bioreator em batelada Produto Kefir Fonte WITTHUHN et al. (2005) Bioreator em batelada Bebida láctea OTLES e CAGINDI, (2003) Bioreator em batelada Kefir ERGÖNÜL et al. (2004). Bioreator em batelada Kefir PARASKEVOPOULOU et al. (2003) Bioreator em batelada Buttermilk probiótico ANTUNES et al. (2006) 32 Continuação da Tabela 3.6 Micro-organismos Streptococcus thermophilus, Bifidobacterium longum, Lac. acidophilus Streptococcus thermophilus, Lac. Acidophilus, Lac. delbrueckii subsp. bulgaricus Grãos de kefir Condições de Processo Fermentação a T= 45°C até o pH atingir 4,7. Tipo de Reator Bioreator em batelada Produto Iogurte probiótico Fermentação a T=42°C até o pH atingir a 4,7-4,8. Bioreator em batelada Bebida láctea probiótica THAMER e PENNA. (2006) Fermentação a temperatura Bioreator em batelada ambiente por 7 dias 33 Bebida fermentada Fonte ZACARCHENCO e MASSAGUER-ROIG (2006) SILVA et al. (2005) 3.6. Potencial de Mercado No mercado de produtos lácteos, os alimentos funcionais estão se tornando uma realidade, onde muitas empresas estão desenvolvendo linhas de produtos tendo a promoção de benefícios à saúde. Isso se dá ao fato dos consumidores estarem em contínua busca da melhor qualidade de vida com uma alimentação saudável e a prática de atividades físicas (FARNWORTH, 2005). O consumo de kefir no Brasil se dá de maneira artesanal, pois esse produto não é industrializado nem comercializado. Muito popular na Rússia, Hungria, Polônia por muitos anos. Na Rússia, o kefir corresponde a mais de 80% do montante total do leite fermentado consumidos. Também é bem conhecida na Suécia, Noruega, Finlândia e Alemanha, Grécia, Áustria, Israel. Está atualmente disponível nos Estados Unidos, principalmente como uma bebida étnica, e está crescendo em popularidade no Japão. Hoje, o kefir é cada vez mais popular devido aos seus efeitos benéficos (ERGÖNÜL, 2004). Kefir é ainda mais familiar para os consumidores na Europa Oriental, embora a produção comercial ocorra agora na América do Norte. No entanto, podem ser encontradas várias patentes relativas a produção comercial mundial de kefir (; GIACOMELLI, 2004). No mercado internacional, se destacam o Actívia Kefir, comercializado na Rússia e Kefir Liberte, no Canadá e França (SANTOS e FERREIRA, 2008). Na Figura 3.7 podemos ver a gama de produtos comercializados por uma única empresa a DMJ Biotech Corp. adiconando os grãos de kefir entre eles temos: requeijão cremoso, kefir dediversos sabores, leite de kefir, fermento, queijo etc. Figura 3.7: Prodtos a base de grãos de kefir comercializados por uma única empresa a DMJ. Fonte: WW ://www.kefir.co.kr. 1 Capítulo 4 4. MATERIAIS E MÉTODOS Nesta seção são apresentados os materiais e a metodologia utilizada neste trabalho visando o desenvolvimento de um produto lácteo probiótico, bem como os métodos analíticos empregados na caracterização do leite fermentado. 4.1. Materiais Os materiais empregados encontram-se especificados a seguir. 4.1.1. Grãos de kefir Os grãos de kefir, utilizados no desenvolvimento do produto lácteo, foram adquiridos junto à Pastoral da Criança, em Aracaju-Sergipe, e mantidos no Laboratório de Pesquisa em Alimentos do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) em Aracaju-Sergipe. 4.1.2. Leite e iogurte O leite pasteurizado utilizado como matéria-prima para a produção do produto lácteo fermentado foi proveniente do Laticínio Nativille, em Nossa Senhora da Glória-Sergipe e do Laticínio Coopeagrio, em Porto da Folha-Sergipe. 4.2. Metodologia Experimental O procedimento experimental para o cultivo do grão de kefir, para a preparação do leite fermentado, assim como para a sua caracterização por meio de análise físico-química, microbiológicas e sensorial é apresentado nesta seção. 2 4.2.1. Delineamento experimental Para a avaliação das condições do processo fermentativo foi adotada a metodologia do planejamento experimental empregando duas matrizes de 23 com 3 repetições no ponto central. O primeiro planejamento avaliou as condições experimentais do processo fermentativo com base nas informações da literatura. As variáveis independentes avaliadas foram: concentração do leite em pó (X1), temperatura (X2) e os grãos de kefir (X3), conforme descrito na Tabela 4.1. Os ensaios foram conduzidos, e a variável resposta selecionada foi a viscosidade do leite fermentado produzido. Os experimentos foram efetuados de maneira randômica por um período máximo de 6h, conforme descritos na literatura para a obtenção convencional do iogurte. Tabela 4.1: Condições para o planejamento de experimento prévio Fatores -1 0 1 X1: Leite em pó (%) 5 10 5 X2: Temperatura (˚C) 35 45 5 X3: Grãos de kefir (%) 1 3 + 1 5 5 Baseando-se nos resultados obtidos na primeira análise, verificou-se a viabilidade de aplicar uma segunda matriz experimental, neste caso os níveis máximo e mínimo foram modificados (Tabela 4.2). Essa segunda matriz de planejamento experimental, como dito anteriormente, baseou-se no melhor resultado do planejamento preliminar, e expandiu as variáveis respostas para: viscosidade, potencial probiótico, acidez e pH. O processo fermentativo foi conduzido por 24h com amostragem a 0, 6, 18 e 24h como descrito por TRANSEK (2008). 3 Tabela 4.2: Condições para a segunda matriz de planejamento Fatores -1 0 + 1 X1: Leite em pó (%) 0 6,25 1 2,5 X2: Temperatura (˚C) 25 35 4 5 X3: Grãos de kefir (%) 5 7,5 1 0 Na análise dos resultados do planejamento experimental foi utilizado o programa STATISTICA 6.0. 4.2.2. Processo fermentativo O meio de cultura foi formulado com leite de vaca e espessante (leite em pó), misturados na proporção de cada experimento, pasteurizado (aquecimento a 80oC por 10 min., e esfriamento rápido). Variaram-se as concentrações de espessante, de grãos de kefir e a temperatura. As fermentações foram realizadas em frascos Erlenmeyers de 500 mL contendo 300 mL de meio, em processo estático. 4.3. Métodos de Análise Os métodos de análise físico-químicas, microbiológicas e sensoriais são descritos de forma suscinta nesse item. 4.3.1. Caracterização do leite, do kefir e do iogurte As análises físico-químicas foram realizadas segundo a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2005) e constaram dos seguintes métodos: pH (potenciometria), acidez (titulação potenciométrica), lipídios (obtido após hidrólise ácida – ácido clorídrico – 60%, secagem e extração com éter de petróleo), proteínas (Método de Kjedall), e carboidratos totais calculados em glicose (Método de Lane-Eynon, após a hidrólise em meio ácido sob refluxo por 3h e 30 minutos), cinzas (determinado em forno - mufla a 550ºC). 4.3.2. Análise microbiana: qualidade higiênico-sanitária 4 A análise microbiológica do leite e do fermentado foi através da utilização do método de determinação do Número Mais Provável (NMP) de coliformes totais e termotolerantes, de cada diluição (10-1 a 10-6) do alimento em estudo. Utilizando cinco tubos contendo 6 ml de caldo lauril sulfato triptose contendo um tubo de Durham invertido, para obter seis séries de cinco tubos. Foi utilizado um tubo controle do meio de cultura e outro do diluente, em seguida a incubação em estufa a 35-37°C, por 24-48h. Considerando positivos os tubos que apresentarem turvação do meio e/ou produção de gás. A contagem das bactérias foi obtida no produto final utilizando a metodologia descrita por SILVA et al. (1997). Foram realizadas diluições em tubos contendo amostras em água peptonada, em seguida realizou-se o plaqueamento de 1 mL de produto lácteo em placas de petri em Agar de Man Rogosa & Sharpe (MRS), as quais foram incubadas a 30°C por 48 a 72 horas em atmosfera microaerófila. 4.3.3. Viscosidade As curvas reológicas foram determinadas em viscosímetro Visco Star-r, Modelo v10002, com adaptador para amostras de pequeno volume (200 mL). Utilizando-se spindle número R2 e utilizando a velocidade angular entre 0,5 e 100 rpm permanecendo em torno de 2 min na velocidade sem controle de temperatura. A temperatura inicial das amostras foi de aproximadamente 10°C (TELES e FLORES, 2007). 4.3.4. Análise sensorial Os produtos lácteos produzidos foram analisados quanto aos parâmetros sensoriais. A equipe da analise sensorial foi composta por no mínimo por 30 provadores selecionados ao acaso, o que representa o mercado alvo. Foi realizada uma analise sensorial pelo método da aceitação, na qual foram avaliados os parâmetros sensoriais aparência, aroma, sabor, textura e impressão global. Cada provador atribuiu uma nota de acordo com as características dos parâmetros sensoriais analisados. As amostras foram servidas em cabines individuais, os provadores atribuíram uma nota a cada parâmetro analisado de acordo com uma escala hedônica estruturada de 9 pontos, indicando a intenção de compra, como mostra a ficha de avaliação apresentada na Figura 4.1. 5 Figura 4.1: Ficha de avaliação pelo método da aceitação 4.3.5. Análise de colesterol Para a dosagem de colesterol do leite e das bebidas lácteas, foi necessário a derivatização das amostras, da seguinte forma: colocou-se 10 gramas da amostra da bebida láctea a uma solução contendo KOH e etanol, deixando-as por mais 10 minutos a 60ºC e depois adicionou água destilada. Após o resfriamento da amostra, extraiu o sobrenadante com hexano depois da separação das fases. A secagem da amostra foi realizada na presença de atmosfera inerte. A amostra foi dissolvida em fase móvel (acetonitrila:isopropanol 90:10). A curva de calibração (Apêndice A) e a dosagem de colesterol foram realizadas por cromatografia líquida de alta eficiência utilizando o cromatógrafo Pro Star (Varian), detector UV-visível (SPD-10 AVvp) e software (Programa Star Integrator Varian versão 4.5) para o processamento dos dados. A coluna analítica utilizada foi a C18 (150 x 4,6mm x5μ) (Gemini, Phenomenex), mantida a 40ºC em forno com temperatura controlada. As amostras derivatizadas foram injetadas no equipamento. A fase-móvel utilizada foi composta de 90% de acetonitrila e 10% de isopropanol em fluxo de 1,5 mL por minuto, sendo o tempo de análise de 20 minutos. Os cromatogramas foram processados com o comprimento de onda de 210 nm. 6 4.3.6. Análise estatística Os dados foram analisados utilizando o STATISTICA 6.0. A análise de ANOVA foi usada para detectar a diferença significativa (p≤ 0,05) entre as amostras. Foram utilizados os testes de Tukey e o de Dunnet para determinar os valores médios significativos. 7 Capítulo 5 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Neste capítulo são apresentados e analisados os principais resultados obtidos durante o desenvolvimento do trabalho. 5.1. Caracterização do Leite Neste item são apresentados e descritos os resultados da etapa de caracterização da matéria-prima utilizada na fabricação do fermentado lácteo, o leite. A Tabela 5.1 compara os resultados da composição centesimal do leite fornecido pelas empresas com os dados de composição de leite apresentado pela literatura. O leite utilizado apresentou uma acidez maior do que aquela do leite encontrado comercialmente, e um teor de proteínas inferior ao leite comercial (TORRES et al., 2000). A diferença dos resultados encontrados deve-se possivelmente a raça, idade, período de lactação e alimentação do animal. Tabela 5.1: Composição centesimal do leite fornecido pela empresa e alguns disponíveis no mercado. Leite utilizado Leite comerciala pH 6,62 ± 0,00 6,6-6,8 Acidez T.T (mg NaOH) 3,63 ± 0,15 1,82 Umidade (%) 89,06 ± 0,02 87,95 Cinzas (%) 0,69 ± 0,02 0,54 Proteína (%) 1,05 ± 0,03 3,24 Lipídios (%) 0,94 ± 0,03 3,10 Açúcares Redutores (%) 2,17 ± 0,15 - 3,6 ± 0,1 2,00 Carboidrato (%) 8,27 5,17 Energia (Kcal/ 100g) 45,74 62 Constituintes Açúcares Totais (%) Fonte: aTorres et al. (2000) 8 No conteúdo mineral, a porcentagem de cinzas do leite fornecido é cerca de 22% comparado ao leite comercial da literatura. De acordo com Torres (2000), os valores energéticos para o leite comercial são de cerca de 62Kcal/100g. Entretanto, o valor para o leite utilizado neste trabalho fornecido foi inferior em cerca de 26%. As variações observadas foram ocasionadas possivelmente pela composição bromatológica das pastagens dos pontos de referência, considerando que a variação ocasiona direta ou indiretamente desequilíbrio na relação energia/proteína na alimentação do gado e por fim no produto final (GOMES e MALCATA, 1999). 5.2. Produção de Bebida Láctea Fermentada Nesta seção é apresentada a região ótima dos parâmetros para o processo de fermentação de leite de vaca utilizando grãos de kefir como iniciador do processo. A influência da concentração do leite em pó (X1), da temperatura (X2) e da concentração dos grãos de kefir (X3), foram primeiramente estudada por meio de um planejamento fatorial completo 2³ com três repetições no ponto central, adotando como variável resposta a viscosidade da bebida láctea obtida. A viscosidade foi selecionada como variável resposta, devido ao direcionamento do mercado da região nordeste, onde se supõe que as maiores sensibilidades gustativas do mercado regional, são para produtos lácteos com maior consistência. Na Tabela 5.2 são apresentados os níveis selecionados para cada variável. As variáveis quantitativas foram representadas da seguinte forma: o sinal (+) representa o nível máximo, o sinal (-) o nível mínimo e o sinal (0) o ponto central. Desta forma, a matriz utilizada foi constituída por 11 ensaios, no qual três foram referentes aos pontos centrais. A velocidade angular de 30 rpm aplicada ao spindle do viscosímetro propiciou a melhor determinação da viscosidade do leite, conforme descrito na Figura 5.1 e, por esta razão, foi escolhida para as determinações. A Tabela 5.2 mostra que o aumento da concentração do espessante (leite em pó) propiciou o aumento da viscosidade do leite fermentado, o que esta de acordo com os trabalhos da literatura, que atribui este efeito a compactação da rede de caseína (ÜNAL et al, 2003; KOKSOY e KILICl, 2004). Entretanto, no Experimento 2 que possui a quantidade máxima de leite em pó neste estudo, a viscosidade foi de 45 cP, o que pode ser explicado pelo fato deste ensaio possuir apenas 1% de grãos de kefir. O mesmo ocorre nos experimentos 1 e 3, indicando que a 9 concentração de grãos de kefir para a produção da bebida kefir influencia na viscosidade da bebida. Tabela 5.2: Resultados do planejamento fatorial 23 com três pontos centrais empregando os parâmetros para os tratamentos analisados no tempo de 6 h Ordem Experimentos X1 X2 X3 Leite em Temperatura Kefir Viscosidade pó (%) (°C) (%) (cp) 3 1 -1 -1 -1 5 35 1 65 2 2 +1 -1 -1 15 35 1 45 4 3 -1 +1 -1 5 55 1 60 8 4 +1 +1 -1 15 55 1 72 9 5 -1 -1 +1 5 35 5 96 10 6 +1 -1 +1 15 35 5 187 11 7 -1 +1 +1 5 55 5 87 1 8 +1 +1 +1 15 55 5 104 5 9 0 0 0 10 45 3 117 6 10 0 0 0 10 45 3 93 7 11 0 0 0 10 45 3 96 250 Ensaio1 200 Ensaio3 Cp Ensaio4 150 Ensaio5 100 Ensaio7 Ensaio9/1 50 Ensaio9/2 0 0,5 1 2 3 5 10 20 50 100 Rpm Figura 5.1: Perfil de viscosidade nas diferentes velocidades angulares testadas 10 A viscosidade do leite fermentado utilizando grãos de kefir variou entre 45 a 187cp, valores superiores com a viscosidade de iogurtes comerciais líquidos (5,38 cp) e consistente (120 cp) encontrados por Teles e Flores (2007). Observa-se que o aumento da concentração de leite em pó e de grãos de kefir no processo fermentativo propicia o aumento da viscosidade do leite fermentado. Já a temperatura tem efeito contrário. A viscosidade aparente dos produtos lácteos diminuiu com o aumento da taxa de deformação (1/s) (Teles e Flores, 2007) indicando comportamento de fluido não Newtoniano, no qual a viscosidade permanece constante com a variação da taxa de deformação (BORWANKAR, 1992). A viscosidade aparente decresce devido ao rearranjo e/ou deformação das partículas, que resulta na diminuição da resistência ao escoamento (RAO, 1994). Alguns autores (PENNA et al., 2001; KOKSOY e KILIC, 2004) observaram que as bebidas lácteas fermentadas apresentam o mesmo tipo de comportamento. Além disso, relataram que o modelo da lei da potência tem sido utilizado na modelagem do comportamento do fluxo desse tipo de produto. A análise dos efeitos principais demonstrou que a concentração de grãos de kefir é significante ao nível de 95% de confiança, pois houve um aumento na viscosidade do produto lácteo. Os demais efeitos, leite em pó e temperatura, foram significantes ao nível de 85% em interação. Os efeitos principais e secundários dos fatores quantidades de leite em pó, temperatura e concentração de grãos kefir sobre a viscosidade estão detalhados na Tabela 5.3 e 5.4, confirmando o que foi apresentado na Figura 5.2 (Diagrama de Pareto), mostrando que a concentração de grãos de kefir é significativa ao nível de 95% de confiança. Tabela 5.3: Efeitos principais e secundários dos fatores leite em pó, temperatura e kefir sobre a viscosidade Variável Independente Estimativa Erro padrão p Média Global 92,90* 6,89* 0,000175* X1: Leite em Pó (%) 25,00 16,15 0,196612 X2: Temperatura -17,50 16,15 0,339580 X3: Kefir (%) 58,00* 16,15* 0,022949* X1X2 -10.50 16,15 0,551120 X1X3 29,00 16,15** 0,146039** X2X3 -28,5** 16,15** 0,0152440** *Significativo ao nível de 95% de probabilidade. **Significativo ao nível de 85% de probabilidade 11 Dentre todos os tratamentos testados, a melhor condição para obter a viscosidade (187cp) foi o ensaio 6, nas seguintes condições: 15g de leite em pó, 35°C e 5% de kefir. Por outro lado, a mínima viscosidade (45 cp) foi obtida no ensaio 2, nas seguintes condições: 15g de leite em pó, 35°C e 1% de kefir, que condiz com a literatura, já que os grãos de kefir crescem melhor à temperatura ambiente e a percentagem normalmente utilizada varia de 8 a 10% de grãos de kefir (FARNWORTH, 2005; FERREIRA, 2001). Tabela 5.4: Análise de variância para a viscosidade do iogurte obtida pelo processo fermentativo Variável Soma Graus de Média Independente quadrática Liberdade Quadrática X1 378,13 1 378,125 0,386939 0,567614 X2 78,12 1 78,125 0,079946 0,791399 X3 9591,13* 1 9591,125* F** p* 9,814688* 0,035089* X1X2 1,12 1 1,125 0,001151 0,974559 X1X3 3240,12 1 3240,125 3,315650 0,142729 X2X3 3160,12 1 3160,125 3,233785 0,146533 Erro total 3908,89 4 977,222 Total SS 20357,64 10 2 Total (corrigido) = 20357,64. R = 0,80. **F: Teste estatístico de comparação da variância nos ensaios, permitindo a avaliação da qualidade de ajuste. *p: Teste estatístico para estimativa do intervalo de confiança do modelo. 12 Figura 5.2: Diagrama de Pareto no tempo de 6 h para a viscosidade De acordo com Teles e Flores (2007), a variável leite em pó apresentou em seus resultados menor influência na viscosidade do iogurte. Embora ambos os ensaios, 6 e 2, contivessem a mesma quantidade de leite em pó, a viscosidade foi diferente. 5.2.1. Caracterização físico-química e microbiológica da bebida kefir Na Tabela 5.5, encontra-se a composição centesimal do fermentado na melhor condição do planejamento experimental (ensaio 2), considerando que o preferencial do produto obtido é um produto com alta viscosidade, já que se supõe que no estado Sergipe há um maior consumo deste tipo de produto lácteo, ou seja, mais consistente. Segundo a literatura, a produção de ácido lático durante a incubação promove a diminuição do pH do leite de 6,52 (Tabela 5.1) para 5,01 (Tabela 5.5). Porém, não há uma concordância entre os autores, sobre a faixa de pH ideal que o iogurte ou a bebida láctea fermentada deve atingir no final da produção. O valor obtido foi 14% a menos que o obtido por Barbara et al. (2006) no leite fermentado com grãos de kefir. O valor médio de proteína observado foi de 0,62%, cerca de 50% menor do que a quantidade de proteína observada no leite, explicado pela ação dos grãos de kefir no leite, e inferior ao valor mínimo de 1,2%, estabelecido pelo Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Bebidas Lácteas. 13 Tabela 5.5: Composição centesimal do fermentado do ensaio 6 Constituintes Iogurte produzido pH 5,11 ± 0,180 Acidez T,T 1,65 ± 0,070 Umidade (%) 87,60 ± 0,600 Cinzas (%) 0,82 ± 0,006 Proteína (%) 0,62 ± 0,030 Lipídios (%) 0,62 ± 0,050 Carboidrato (%) 10,350 Energia (Kcal/ 100g) 49,370 De acordo com a resolução nº 5 de 2000 – MAPA, os leites fermentados com agregados açucarados e ou saborizados poderão ter conteúdo de proteína inferior ao preconizado, não devendo, porém, reduzir-se a uma proporção maior do que a percentagem de substâncias alimentícias não lácteas (BRASIL, 2000), o que pode explicar os baixos valores de proteína encontrados na análise deste estudo. Do ponto de vista nutricional, os lipídios têm seu papel no fornecimento de energia e servem de veículo para vitaminas lipossolúveis, como a vitamina A, naturalmente presente no leite integral tipo A (DANONE, 2010). No caso deste estudo, o valor de lipídios foi de 0,62% (Tabela 5.5) inferior ao determinado para o leite mostrado na Tabela 5.1. Quanto à contaminação, pode ser causada por diversos fatores, tais como a variação de acidez, o processamento inadequado e ausência de controle de temperatura. Na etapa do estudo em que foi realizada a análise de contaminação, não foi verificado a contagem de coliformes totais, termotolerantes e salmonella. 5.3. Avaliação das Condições Experimentais do Processo Fermentativo Com a realização da seleção da região ótima no processo de obtenção de produtos lácteos, buscou-se melhorar a tecnologia de produção da bebida Kefir utilizando a matriz do segundo planejamento, conforme o item 4.2.1, descrito em Materiais e Métodos. 14 5.3.1. Delineamento experimental Foi realizada, a avaliação dos efeitos das variáveis relacionadas no processo fermentativo para obtenção da bebida láctea kefir. Também foram ampliadas as variáveis dependentes para viscosidade (permitindo averiguar a consistência do fermentado) e células lácticas viáveis (identificação do potencial probiótico), além de se ter feito um acompanhamento do valor do pH e da acidez do meio durante os ensaios), como mostrado na Tabela 5.6. As influências da concentração do leite em pó (X1), da temperatura (X2) e dos grãos de kefir (X3) na produção de leite fermentado foram estudadas por meio de um planejamento fatorial completo 2³ com três pontos centrais (condição encontrada pelo delineamento experimental prévio e que produziu leites fermentados consistentes utilizando grãos de kefir. Na Tabela 5.6 observa-se o potencial probiótico da bebida kefir a partir do elevado número de células viáveis após 24 horas de fermentação. Tabela 5.6: Resultados do planejamento fatorial 23 com três pontos centrais empregando os parâmetros concentração de leite em pó, temperatura e concentração de grãos de kefir em fermentação de 24h e variáveis respostas concentração de células viáveis e viscosidade Exp. Leite em pó Temperatura Kefir (%) (°C) (%) Células Viáveis Viscosidade (UFC/mL) 7 (cP) 1 0 25 5 1,25x10 80 2 12,5 25 5 1,20x107 187 3 0 45 5 2,59x108 1210 4 12,5 45 5 2,00x108 2580 5 0 25 10 3,43x107 57 6 12,5 25 10 1,32x107 329 9 7 0 45 10 1,40x10 2010 8 12,5 45 10 1,83x109 2840 9 6,25 35 7,5 5,80x107 890 10 6,25 35 7,5 1,15x108 810 11 6,25 35 7,5 8,70x107 880 15 5.3.2. Potencial probiótico Nesta seção apresentam-se os resultados obtidos na contagem de células láticas (potencial probiótico) do produto lácteo produzido a partir de grãos de kefir. A Tabela 5.7 apresenta a quantidade de células viáveis presente na bebida Kefir. Tabela 5.7: Resultados do planejamento fatorial 23 com três pontos centrais empregando os parâmetros para os tratamentos analisados em diferentes tempos, cuja variável resposta são células viáveis Experimentos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Leite em pó (%) 0 12,5 0 12,5 0 12,5 0 12,5 6,25 6,25 6,25 Células Células Células Temperatura Kefir Viáveis Viáveis Viáveis (°C) (%) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) 0h 6h 18h 4 5 25 5 4,30x10 1,40x10 2,20x106 25 5 3,50x104 3,06x105 1,90x106 45 5 4,91x105 2,95x106 3,90x107 5 6 45 5 4,90x10 1,21x10 1,25x107 25 10 5,90x104 1,50x105 3,29x106 25 10 3,69x104 1,64x105 4,10x106 5 5 45 10 8,90x10 9,02x10 1,43x107 45 10 8,96x105 2,75x106 3,59x107 35 7,5 1,59x105 1,86x106 2,43x107 5 6 35 7,5 1,50x10 1,80x10 2,70x107 35 7,5 1,59x105 2,07x106 2,50x107 Células Viáveis (UFC/mL) 24h 1,25x107 1,20x107 2,59x108 2,00x108 3,43x107 1,32x107 1,40x109 1,83x109 5,80x107 1,15x108 8,70x107 A partir de 6 horas de fermentação, o produto lácteo obtido, já pode ser considerado um probiótico nos ensaios 8, 9, 10 e 11, atendendo os requisitos descritos na literatura e na legislação brasileira em vigor para bebidas lácteas (BRASIL, 2000), que preconizam que todos os micro-organismos produtores da fermentação lática devem ser viáveis e está presente no produto em quantidades mínimas de 106 UFC/mL. Portanto, o tempo de fermentação escolhido para o processo de fabricação da bebida Kefir, foi o de 24 horas, pois a contagem de bactérias láticas atingiu valores na ordem de 109 UFC/mL, apresentando crescimento microbiano suficiente para atuação do mesmo no intestino humano como um alimento probiótico. De acordo com Thamer e Penna (2005), a obtenção de um produto lácteo com crescimento na ordem de 109 UFC/mL é boa para que se tenha pelo menos cerca de 103 a 104 UFC atingindo o intestino, sendo que o ideal seria que atingisse 106. Os valores de N/No em função do tempo de processo fermentativo foram utilizados para a construção das Figura 5.3 a 5.5, por meio da qual é possível observar uma linearidade da 16 relação do aumento do número de células láticas com o tempo. Desta forma entende-se que este crescimento foi regido por uma cinética de primeira ordem, como mostra a Equação 01. dN/dt = kN (01) onde N é o número de células láticas, t é o tempo e k é a constante de aumento de células láticas. Integrando essa equação e sabendo-se que t0 é 0 (zero), obtém-se: Log(N/No) = kt (02) Sabendo-se que o tempo de duplicação das células ocorre quando N=2N0, pode-se determinar o tempo de duplicação das células láticas, a partir da Equação 03. t2 = (log 2)/k (03) Figura 5.3: Perfil do crescimento relativo de células láticas (N/N0) para ensaios contendo 10% de grãos de kefir; temperatura de 25oC (Exp 1 e 2) e 45oC (Exp 3 e 4) e diferentes concentrações de leite em pó 17 Figura 5.4: Perfil do crescimento relativo de células láticas (N/N0) para ensaios contendo 10% de grãos de kefir; temperatura de 25oC (Exp 5 e 6) e 45oC (Exp 7 e 8) e diferentes concentrações de leite em pó Figura 5.5: Perfil do crescimento relativo de células láticas (N/N0) para as condições do ponto central contendo 7,5% de grãos de kefir; temperatura de 35oC e concentração de leite em pó de 6,25% Os valores da constante de crescimento, o tempo de duplicação e o coeficiente de regressão para a linearização são apresentados na Tabela 5.8. 18 Tabela 5.8: Valores para a cinética de crescimento de células láticas no processo de fermentação utilizando grãos de kefir. Exp. K (min-1) t2 (min) r2 1 0,0993 3,03 0,9948 2 0,1044 2,88 0,9657 3 0,1113 2,70 0,9941 4 0,0965 3,12 0,9435 5 0,1071 2,81 0,9736 6 0,1090 2,76 0,9974 7 0,1052 2,86 0,8070 8 0,1188 2,53 0,9153 9 - 11 0,1195 2,52 0,9638 Nas Figuras 5.3 a 5.5 pode ser observado o crescimento exponencial das bactérias láticas em todos os níveis (-1, 0 e +1). Para permitir uma melhor avaliação do potencial probiótico, foi realizado o planejamento de experimentos da matriz proposta. Entre todas as condições testadas, os grãos de kefir, temperatura, e a interação grãos de kefir e temperatura, foram mais eficazes para a produção de um produto lácteo com alto potencial probiótico (Tabela 5.8). Como é possível observar nos ensaios 7, 8 e 9 a 11 apresentaram uma contagem de células viáveis, evidenciando assim o potencial probiótico. Na Tabela 5.9 são apresentadas as estimativas de efeito, erros – padrão e teste t de Student’s para os parâmetros que influenciam no número de células viáveis, como pode ser observado pelo teste t. A temperatura, a concentração de grãos de kefir e a interação entre temperatura e grãos de kefir apresentaram influência significativa ao nível de 95% de confiança. Somente o leite em pó e a interação do leite em pó, temperatura e grãos de kefir não foram significativos. A Figura 5.6 (Diagrama de Pareto) representa os valores de efeito estimado das variáveis e das interações, em concordância com a tabela de estimativa de efeito (Tabela 5.9), onde é possível verificar os valores estatisticamente significativos ao nível de confiança de 95% (p<0,05). Os efeitos da temperatura e da concentração de grãos de kefir e interação destes efeitos foram mais significativas no processo de produção de um produto lácteo probiótico, tendo como variável resposta, a contagem de células viáveis, é quanto estiver mais a direita da linha vermelha. O comprimento de cada barra é proporcional ao efeito da variável. Segundo o Gráfico 5.6, a variável temperatura é a que mais interfere no processo fermentativo 19 na forma positiva, ou seja, as temperaturas mais elevadas exercem efeito positivo no processo fermentativo. Tabela 5.9: Efeitos calculados para avaliação do perfil de crescimento das bactérias láticas. Variável Independente Média Global X1: Leite em Pó (%) Estimativa Erro padrão p 365.545.455* 89.810.580* 0,015* 87.350.000 210.624.480 0,699 * X2: Temperatura 904.250.000 210.624.480 0,012* X3: Kefir (%) 698.500.000* 210.624.480* 0,029* 98.150.000 210.624.480 0,665 X1X3 117.100.000 210.624.480 0,607 X2X3 687.000.000* 210.624.480* 0,031* * X1X2 * Contudo, deve-se ressaltar que a temperatura média do Estado de Sergipe é de aproximadamente 26°C e, portanto, acredita-se que o consórcio microbiano utilizado como cultura starter no processo fermentativo, tenha se adaptado as condições climáticas. Deve-se salientar que a utilização do planejamento de experimentos indicou o aumento da temperatura como fator para o aumento do número de células viáveis, mas esta ferramenta experimental deve ser utilizada como aliada nos experimentos, pois o uso de altas temperaturas no processo fermentativo do leite pode inibir o crescimento dos micro-organismos responsáveis pela fermentação lática e obtenção do produto lácteo. Na literatura a temperatura de fermentação reportada é de 25°C (WITTHUHN et al., 2005). Neste trabalho a temperatura variou entre 35 e 45°C, evidenciando-se assim a adaptação do consórcio microbiano (grãos de kefir). Nas Tabelas 5.7 e 5.8, é possível observar que os ensaios com o nível mais alto de grãos de kefir, quando utilizado a temperatura de 45°C, foram os experimentos que obtiveram o maior número de células viáveis 109 UFC/mL, confirmando o que foi apresentado na Figura 5.6 (Diagrama de Pareto), que a concentração de grãos de kefir é significativa ao nível de 95% de confiança. 20 (2)T(L) 4,293186 3,316329 3,316329 (3)Kef ir(L) 3,261729 3,261729 2Lby 3L 1Lby 3L 1Lby 2L (1)Leite(L) ,5559658 ,5559658 ,4659952 ,4659952 ,4147191 ,4147191 p=,05 Ef eito padronizado (v alor de t calculado) Figura5.6: Diagrama de Pareto no tempo de 24 h para o crescimento de bactérias láticas. Portanto, um dos principais objetivos quanto à avaliação do desenvolvimento de um potencial probiótico e funcional foi verificado, o maior número de células viáveis na ordem de 109UFC/mL. 5.3.3. Estudo da viscosidade De acordo com a literatura, o aumento da viscosidade da bebida láctea, favorece a lipólise e a ação enzimática, diminui o tamanho dos glóbulos de gordura, estabiliza as proteínas, etc. (ÜNAL et al., 2003; KOKSOY; KILIY, 2004). A partir destas propriedades, neste item encontra-se avaliada a influência dos fatores na variável resposta viscosidade. Os maiores valores de viscosidades obtidos durante quase todo o processo fermentativo, foram utilizando a maior concentração de leite em pó (ensaio 4 e 8). A Tabela 5.8 mostra que a viscosidade também variou conforme o teor de sólidos secos. Segundo Ünal, et al. (2003) e Koksoy e Kilic (2004), a viscosidade aparente é influenciada pelo teor de sólidos secos, provavelmente pela compactação da rede de caseína. A maior viscosidade obtida foi de 2840 cP, com 12,5 % de leite em pó, a uma temperatura de 45°C e 10% de grãos de kefir. Os resultados obtidos mostram que a viscosidade foi influenciada significativamente pela adição de leite em pó, temperatura e interação leite em pó/temperatura, a nível de confiança de 93%, como é mostrado nas Tabelas 5.10 e 5.11. 21 Tabela 5.10: Resultados do planejamento fatorial 23 com três pontos centrais empregando os parâmetros para os tratamentos analisados para a viscosidade no tempo 24 horas. Experimento Leite em pó (%) Temperatura (°C) Kefir (%) Viscosidade (cP) 1 0 25 5 80 2 12,5 25 5 187 3 0 45 5 1210 4 12,5 45 5 2580 5 0 25 10 57 6 12,5 25 10 329 7 0 45 10 2010 8 12,5 45 10 2840 9 6,25 35 7,5 890 10 6,25 35 7,5 810 11 6,25 35 7,5 880 Tabela 5.11: Efeitos principais e secundários dos fatores leite em pó, temperatura e kefir sobre a viscosidade. Variável Independente Estimativa Erro padrão p Média Global 937,727* 52,88* 0,000059* X1: Leite em Pó (%) 887,750* 124,01* 0,002015* X2: Temperatura 1753,750* 124,01* 0,000145* -77,250 124,01 0,567092 X1X2 827,250* 124,01* 0,002624* X1X3 149,250 124,01 0,295133 X2X3 -7,750 124,01 0,953168 X3: Kefir (%) *Significativo ao nível de 93% de probabilidade À medida que o tempo de fermentação aumentou, a viscosidade também aumentou, pois o meio foi se acidificando, e mais caseína foi sendo precipitada. Por meio de comparação entre o pH e a viscosidade, a partir de 3,4 a viscosidade aumentou cerca de 70%. Quando não houve o aumento da viscosidade, pode ser explicado pelo fato da variação de temperatura e agitação. 22 As Tabelas 5.10 e 5.11 revelam também o efeito positivo da adição de leite em pó (X1) no processo fermentativo (p<0,05), além do aumento da temperatura (X2) e a interação de ambos (X1X2). A partir do cálculo da análise de variância (ANOVA) observa-se que o F calculado (X1, X2 e X1X2) é maior que o F tabelado (3,59), ao nível de 95% de confiança, indicando a validade do modelo proposto para a viscosidade (Tabela 5.12). Deve-se salientar que o potencial probiótico (descrito no item 5.3.2) das formulações preparadas foi determinado, e o ensaio que apresentou maior número de bactérias láticas foi o ensaio 8 com maior viscosidade. Tabela 5.12: Análise de variância para ajuste do modelo proposto que representa a viscosidade. Variável Soma Graus de Média Independente quadrática liberdade Quadrática F** p* X1 1576200* 1 1576200* 51,24* 0,0020* X2 6151278* 1 6151278* 199,99* 0,00015* X3 11935 1 11935 0,39 0,56 X1X2 1368685* 1 13686885* 44,50* 0,0026* X1X3 44551 1 44551 1,45 0,29 X2X3 120 1 120 0,004 0,95 Erro total 123032 4 30758 Total SS 9275802 10 2 Total (corrigido) = 9275802. R = 0,98. **F: Teste estatístico de comparação da variância nos ensaios, permitindo a avaliação da qualidade de ajuste. *p: Teste estatístico para estimativa do intervalo de confiança do modelo. Nas Figuras 5.7 a 5.9 podem ser observados os perfis da viscosidade em todos os níveis (-1, 0 e +1). Nos níveis -1 e 0, observa-se o aumento da viscosidade durante toda a fermentação, no entanto no nível a partir de 18 horas de processo fermentativo houve um decréscimo mínimo da viscosidade nos ensaios 7 e 8 que diferem entre si pela porcentagem de leite em pó. Esse decréscimo da viscosidade possivelmente está associado a adaptação dos micro-organismos e pH. 23 Figura 5.7: Perfil da viscosidade para ensaios contendo 10% de grãos de kefir; temperatura de 25oC (Exp 1 e 2) e 45oC (Exp 3 e 4) e diferentes concentrações de leite em pó. Figura 5.8: Perfil da viscosidade para ensaios contendo 10% de grãos de kefir; temperatura de 25oC (Exp 5 e 6) e 45oC (Exp 7 e 8) e diferentes concentrações de leite em pó. 24 Figura 5.9: Perfil da viscosidade para as condições do ponto central contendo 7,5% de grãos de kefir; temperatura de 35oC e concentração de leite em pó de 6,25%. 5.3.4. Acompanhamento dos valores de pH nas fermentações Nesta seção encontram-se discutidos os resultados obtidos para o pH nas diferentes condições do processo fermentativos, conforme descrito na Tabela 5.13 e nas Figuras 5.10 a 5.12, sendo possível observar que o fermentado obtido nos ensaios 3, 4, 7, 8, 9, 10 e 11, o pH oscilou entre 3,17 e 4,24. No caso dos ensaios 9, 10 e 11 o valor do pH é similar ao descrito da literatura, isto é entre 4,1 e 4,5 (GIACOMELLI, 2004). Assim sendo, nota-se que os ensaios 3, 4, 7, 8, 9, 10 apresentaram pH inferior a 4,6 considerado ideal na fabricação de iogurte, pois o mesmo se encontra no limite de pH para o crescimento das microorganismo presente nos grãos de kefir (GIESE et al., 2010). O valor de pH está relacionado a atividade metabólica dos micro-organismos, podendo favorecer um determinado grupo em detrimento de outro, que no estudo em questão, constituem o inóculo utilizado para a fabricação do produto lácteo, os grãos de kefir que como já foi dito na seção 5.3.2, é um consórcio microbiano. As Figuras 5.10 a 5.13 apresentam a mesma tendência do pH, que é de diminuição à medida que aumenta o tempo de fermentação, devido ao aumento da porcentagem de ácido lático, pois, na medida em que ocorre a fermentação, há a transformação da lactose em ácido lático. De acordo com a norma FIL 150:1991 (BRASIL, 2000), a porcentagem de ácido lático 25 aceita para leite fermentados é <1,00%; o valor máximo encontrado para ácido lático nesse estudo foi de 0,2%. Tabela 5.13: Perfil de pH para o desenvolvimento de um produto para os tratamentos analisados em diferentes tempos. Leite Experimentos em pó (%) Temperatura Kefir (°C) (%) pH 0h pH 6h pH 18h pH 24h 1 0 25 5 6,02 6,05 5,81 6,02 2 12,5 25 5 6,00 6,38 5,67 6,00 3 0 45 5 5,51 5,34 4,11 3,17 4 12,5 45 5 5,61 6,04 3,62 3,70 5 0 25 10 5,70 5,98 5,61 5,78 6 12,5 25 10 5,68 5,77 5,53 5,68 7 0 45 10 5,45 5,4 4,58 3,45 8 12,5 45 10 5,60 5,44 3,39 3,53 9 6,25 35 7,5 6,4 6,04 4,45 4,40 10 6,25 35 7,5 6,5 6,07 4,30 4,10 11 6,25 35 7,5 6,52 6,08 4,20 4,24 Figura 5.10: Perfil de pH para ensaios contendo 5% de grãos de kefir; temperatura de 25oC (Exp 1 e 2) e 45oC (Exp 3 e 4) e diferentes concentrações de leite em pó. 26 Figura 5.11: Perfil de pH para ensaios contendo 10% de grãos de kefir; temperatura de 25oC (Exp 5 e 6) e 45oC (Exp 7 e 8) e diferentes concentrações de leite em pó. Figura 5.12: Perfil de pH para as condições do ponto central contendo 7,5% de grãos de kefir; temperatura de 35oC e concentração de leite em pó de 6,25%. O aumento da acidez, isto é a diminuição do pH, foi diretamente proporcional a temperatura e ao tempo de armazenamento para o iogurte (MARTIM, 2002). O problema do baixo valor do pH em iogurtes pode ser minimizados com o maior rigor no cumprimento da data de validade destes produtos. Isto obrigaria a sua retirada de mercado, uma vez que esta variação de acidez pode, em muitos casos, ser seguida de outras modificações sensoriais indesejáveis ou mesmo favorecer o crescimento de outros microorganismos mais tolerantes a 27 acidez e muitas vezes com funções desejadas. Portanto, foi verificado em todos os ensaios realizados neste trabalho, além do perfil de pH, o potencial probiótico e a viscosidade. 5.4. Caracterização da Bebida Kefir A Tabela 5.14 apresenta a composição centesimal do produto lácteo selecionado, obtido a partir dos diferentes processos fermentativos realizados neste trabalho. Segundo Torres et al. (2000) o teor de umidade foi de 85,87% para o iogurte tradicional utilizando leite, podendo-se notar que os valores obtidos neste trabalho foram similares. A acidez observada chegou a 0,96 (g de ácido láctico/100g) para o leite fermentado sem adição de leite em pó e 1,29 (g de ácido láctico/100g) para o leite fermentado selecionado, com remoção, atendendo ao estabelecido pela legislação brasileira em vigor, que é de 0,60 a 2,0 (g de ácido láctico/100g) (BRASIL, 2000). O teor de proteína foi cerca de 20% menor ao estabelecido pela legislação brasileira em vigor, que é de no mínimo 1,2% (BRASIL, 2000), porém superior ao teor de proteína descrito na literatura. A formulação selecionada obteve teor mineral semelhante ao encontrado na literatura (GIACOMELLI, 2004). Depois de selecionada a melhor formulação (45°C, 10% de grãos de kefir e 12,5 de leite em pó) para obtenção de um produto lácteo probiótico a partir de grãos de kefir, verificou-se o teor de remoção do colesterol após a fermentação, conforme apresentado na Tabela 5.15. Pode-se observar que o teor de colesterol no leite integral era de 56,33 mg/L e que, após o processo fermentativo com grãos de kefir, reduziu para 45,41 mg/L, com uma remoção parcial de 19,39%. De acordo com a literatura, o resultado obtido foi inferior àqueles determinados na Iugoslávia, Hungria e na região dos Cáucasos. No processo fermentativo de 24 h, utilizando uma temperatura de 20°C, obteve-se uma redução de 62% e no tempo de 48 h a 10°C, a redução foi de 84% do teor de colesterol (FARNWORT, 2005). Estes resultados podem ter tido influência da origem do grão de kefir, já que os microorganismos presentes nestes grãos podem variar de acordo com a sua origem e o processo fermentativo. As condições do processo fermentativo e climáticas observadas nos experimentos deste trabalho diferenciam-se daquelas mencionadas na literatura (FARNWORT, 2005). Entretanto, o resultado obtido de remoção do colesterol adiciona ao produto obtido um potencial de mercado. 28 Tabela 5.14: Comparação da composição centesimal da bebida kefir formulada (12,5% de leite em pó, 10% grãos de kefir e 45°C) com a literatura. Constituintes Produto Lácteo sem Produto Lácteo adição de leite em pó Selecionado 3,45±0,17 3,53±0,03 4,2 – 4,5 0,96±0,04 1,29±0,01 -- 89,63±0,21 0,6±0,03 0,81±0,02 1,09±0,42 84,54±0,4 0,82±0,33 0,74±0,01 1,4±0,13 87% 0,74 – 0,8% 3,4 - 4,2% 0,5 – 3,0% 1,64±0,04 1,92±0,06 - 3,43±0,03 4,29±0,08 - 7,87±0,43 12,5±0,59 - 44,53±0,41 65,56±0,26 - pH Acidez T.T (g de ácido láctico/100g) Umidade (%) Cinzas (%) Proteína (%) Lipídios (%) Açúcares Redutores (%) Açúcares Totais (%) Carboidrato (%) Energia (Kcal/ 100g) Kefira Fonte: aGiacomelli (2004 Tabela 5.15: Teores de colesterol do leite e da bebida láctea. Descrição da amostra Leite integral Fermentado Remoção Remoção (mg/L) (mg/L) (mg/L) (%) 56,33 45,41 10,92 19,39 Produto Lácteo Na Tabela 5.16, observa-se a composição mineral dos produtos lácteos produzidos. O conteúdo de cinzas (material inorgânico) aumentou com a diminuição da quantidade de leite em pó incorporada ao produto. O conteúdo de magnésio, fosfato e potássio não sofreu alterações com a incorporação do leite em pó, sugerindo que os outros parâmetros apresentavam teores mais elevados destes elementos e consequentemente o aporte dado, foi significativo. Comparando com o padrão (Tabela 5.17), esses minerais são semelhantes aos encontrados nos produtos elaborados. Em relação aos valores para o zinco, segundo a literatura, observa-se similaridade entre os produtos lácteos obtidos. Entretanto, para iogurte natural, os valores são maiores do que aqueles encontrados na literatura, diferença essa que se deve à cultura ao tipo de microorganismo utilizado para fabricação do produto lácteo e, possivelmente, também às 29 características do leite utilizado. Comparativamente aos valores encontrados para iogurte natural na literatura, os teores de cálcio são semelhantes do encontrado neste trabalho. Tabela 5.16: Composição mineral dos produtos láteos produzidos. Minerais Zn Ca Mg K Na P Fosfato Carbonato Sulfato Amostras µg/g 7 8 9 Padrão 20,52 157,51 13,27 281,26 49,50 10,50 8,50 30,50 8,50 19,75 119,66 13,24 223,15 33,70 11,55 8,33 31,85 1,75 17,98 127,09 13,30 239,10 37,76 9,98 7,56 37,33 8,90 18,62 159,52 12,79 233,00 43,84 10,88 8,93 30,40 8,77 Tabela 5.17 Composição mineral dos produtos láteos encontrados na literatura. Minerais Iogurte Natural1 Na K Ca Mg P Cu Fe Zn Mn 92,70 184,3 135,5 13,1 0,018 0,047 0,46 Iogurte Natural Desnatado2 65,00 218,00 150,00 16,00 121,00 0,04 0,59 - Iogurte Natural3 59,70 171,60 115,90 10,20 52,90 0,011 0,34 0,107 0,02 5.5. Avaliação Sensorial A avaliação sensorial foi conduzida segundo a metodologia descrita no item 4.3.4. Os produtos lácteos selecionados foram avaliados sensorialmente por provadores, feito um teste sensorial de diferenças significativas entre as amostras e o padrão, como mostrado na Tabela 5.4 e na Tabela B.1 (Apêndice B). 30 Os experimentos 7, 8 e 9 foram analisados por apresentarem uma viscosidade elevada e um potencial probiótico satisfatório. Estes produtos foram comparados com iogurte batido fornecido pela empresa parceira no desenvolvimento deste estudo, a Coopeagril. 5.5.1. Comparação dos produtos lácteos formulados e comerciais Os produtos lácteos comerciais foram comparados por meio de análise sensorial, e por análises físico-químicas. 5.5.1.1. Análise e aceitação A análise de aceitação das bebidas lácteas foi conduzida segundo a metodologia descrita no item 4.5.3. A Tabela 5.18 e as Tabelas B.2, B.3, B.4 e B.5 do Apêndice B, apresentam as médias e os dados obtidos na analise sensorial de aceitação, respectivamente, dos produtos formulados e do comercial. Pode-se observar que todas as formulações selecionadas foram estatisticamente semelhantes, não diferindo entre si (p≤0,01), da formulação comparada (padrão), para todos os parâmetros analisados, aparência, aroma, sabor, textura e impressão global. Segundo Costa et al. (2009), que realizou análise de aceitação do kefir com adição de sabor e o natural, o kefir que teve a maior aceitabilidade foi o que não apresentava adição de outros componentes, ou seja, o kefir de leite integral parece ser o mais aceito pelos consumidores. O mesmo resultado ocorreu na pesquisa feita por Yilmaz et al. (2005), que preferiram o kefir com um sabor ligeiramente ácido alcoólicas. De acordo com os resultados apresentados, a maioria das notas encontra-se na região negativa, categorias C, D e E, para intenção de compra, o que já poderia se prever por se tratar de um produto novo no mercado regional e nacional, pois o mesmo apresenta características sensoriais diferentes dos produtos lácteos consumidos, tal como a presença de CO2, etanol resultante da fermentação do leite pelo consórcio microbiano dos grãos de kefir. 31 Tabela 5.18: Notas sensoriais de aceitação para a bebida kefir e o iogurte comercial. Parâmetros Padrão Ensaio 7 Ensaio 8 Ensaio 9 Aparência 7,57a* 5,60b* 4,67b* 4,90b* Aroma 7,27a* 5,17b* 4,30b* 5,10b* Sabor 7,94a* 4,90b* 4,77b* 4,40b* Textura 8,00a* 4,37b* 5,24b* 4,27b* Impressão Global 7,87a* 4,87b* 4,67b* 4,70b* *Médias acompanhadas de letras iguais, na mesma linha, não diferem entre si significativamente quanto à aceitação dos bolos (p≤0,01). 5.5.1.2. Intenção de compra A Figura 5.13 e a Tabela B.6 (Apêndice B) mostram os percentuais para a intenção de compra dos fermentados formulados e do comercial. Por meio da Figura 5.13 percebe-se que o padrão obteve uma maior preferência entre os provadores, já que atribuíram uma intenção de compra como certamente compraria. Observa-se que na categoria B o Ensaio 8 se aproxima do padrão (provavelmente compraria). Figura 5.13: Percentual de intenção de compra para os fermentados formulados e o comercial. A – eu certamente compraria, B – eu provavelmente compraria, C – não sei se compraria, D – provavelmente não compraria e E – certamente não compraria . 32 Capítulo 5 5. CONCLUSÕES Erro! Indicador não definido. Os resultados obtidos foram bastante satisfatórios, e neste conjunto de dados pode-se concluir que: A composição centesimal do leite da região do semi-árido Sergipano apresenta valores diferenciados ao descrito na literatura. O estudo da viscosidade no primeiro planejamento mostrou que o aumento da viscosidade ocorreu com o aumento da concentração de grãos de kefir e a interação entre a concentração de kefir e de leite em, e que a interação da concentração de leite em pó e temperatura encontra-se no limiar de significância. No segundo planejamento, os experimentos apresentaram que a partir de 6 horas de fermentação, o produto lácteo obtido, já pode ser considerado um probiótico nos ensaios 8, 9, 10 e 11, atendendo os requisitos descritos na literatura e na legislação brasileira. A contagem de bactérias láticas atingiu valores na ordem de 109 UFC/mL, apresentando crescimento microbiano suficiente para atuação do mesmo no intestino humano como um alimento probiótico. A viscosidade no segundo planejamento experimental foi superior ao encontrado no primeiro planejamento mostrando que este fator foi influenciado significativamente por todos os parâmetros (leite em pó, temperatura e interação leite em pó/temperatura). No segundo planejamento a quantidade de grãos de kefir utilizada foi superior a utilizada no primeiro planejamento. Com isso mostrou que o leite em pó e a temperatura influenciaram para obtenção de um produto viscoso. O produto final obtido obteve teor de proteína e lipídio superior a bebida kefir, estes resultados pode ter tido influência da origem do grão de kefir, já que os micro-organismos presentes nestes grãos podem variar de acordo com a sua origem e o processo fermentativo. Neste trabalho as condições do processo fermentativo e climáticas foram diferenciadas do mencionado na literatura Entretanto o resultado obtido de remoção do colesterol de 19,39%. A aceitação do produto lácteo obtido não foi semelhante a do iogurte vendido comercialmente, entretanto não diferenciou entre as formulações testadas para nenhum dos parâmetros analisados. Não se pode comparar a bebida kefir com o iogurte vendido no Brasil, pois ambos os produtos lácteos apresentam características físico-químicas e sensórias diferentes. 33 O produto final obtido na condição de temperatura de 45°C, 10% de grãos de kefir e 12,5% de leite em pó, possuiu alto potencial probiótico que, m termos sensoriais foi relativamente aceito, considerando um produto novo e de características sensoriais diferentes dos produtos lácteos comercializados atualmente e produto com elevada consistência. 34 Capítulo 6 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA ANTUNES, A. E. Desenvolvimento de buttermilk probióticos. In: Ciência e Tecnologia de Alimentos 27(1): 83-90, Campinas, 2007. ABIA. Associação Brasileira das Industrias de Alimentos. Mercado Brasileiro dos alimentos industrializados. Disponível em: <http://www.anuarioabia.com.br/editorial_05.htm>. Acesso em: 23 ago. 2009. ATHANASIADES, I.; BOSKOU, D.; KANELLAKI, M.;KIOSSEOGLOU, V.E. KOUTINAS, A. A. Whey liquid waste of dairy industry as raw material for potable alcohol production by kefir granules. In: Journal of Agricultural Food Chemistry, v. 50, p.7231-7234, 2002. ATHANASIADIS, I.; PARASKEVOPOULOU, A.; BLEKAS, G.; KIOSSEOGLOU, V. Development of a novel whey beverage by fermentation with kefir granules. Effect of various treatments. In: Biotechnology. Prog., 20, p. 1091-1095, Grécia, 2004. BESHKOVA, D. M.; SIMOVA, E. D.; FRENGOVA, G. I.; DIMITROV, Zh. P. Production of volatile aroma compounds by kefir starter cultures. In: International Dairy Journal, v. 13, p. 529-535, 2003. BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento. Instrução Normativa n. 05, 2000. AGRICULTURA, Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento. Instrução Normativa n. 46. Adota o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leites Fermentados. Brasília: Diário Oficial da União, 2007. BORWANKAR, R.P. Food texture and rheology: a tutorial review. In: BORWANKAR, R.P.; SHOEMAKER, C.E. (ed.). Rheology of foods. London: Elsevier Applied Science, 1992. p.116. BRITO, M. A. et al. Composição. In: BRASIL. Agência de Informação Embrapa – Agronegócio do Leite. Embrapa. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia8/AG01/arvore/AG01_128_21720039243.ht ml>. Acesso em: 10 fev. 2009. 35 COSTA, F. E. C. SARAIVA, G. K. V. PAIVA, S. PEÇANHA, A. M. Avaliação de Meios de Cultura Propícios ao Desenvolvimento e Análise Sensorial do Kefir. In: Revista Univas, 5-6 de maio, Pouso Alegre/MG, 2009. DANONE. Processo de Fabricação de Iogurte. Brasil. 2004. Disponível em: <http://danone.com.br/estudantes.php>. Acesso em: 3 jun. 2010. DMJ Biotech Corp. Microorganisms of kefir. Disponível em: <http://www.kefir.co.kr/eng/kefir-grain.php>. Acesso em: 09 fev. 2009. ERGÖNÜL, B. A research on producing strawberry flavored kefir. In: Eletronic Journal of Environmental, Agricultural and Food Chemistry-EJEAFChe, Manisa/Turquia, p. 1728-1734, 2004. FAO/OMS. Normas alimentarias. Codex Alimentarius. Codex Standard 243, 2003 - Norma del Codex para leches fermentadas. Disponível em: <http://www.codexalimentarius.net/web/more_info.jsp?id_sta=400>. Acesso em: 14 fev. 2009. FARNWORTH, E.R. Kefir: a complex probiotic. In: Food Science and Technologies Bulletin: Functional Foods, 2 (1) p.1-17, Canadá, 2005. FERREIRA, C.L.L.F. Produtos Lácteos Fermentados: aspectos bioquímicos e tecnológicos. 2. ed. Viçosa: UFV, 2001. FIRJAN. Programa de atualização tecnológica de docentes do SENAI. Tecnologia de Alimentos: conceitos gerais-módulo II, SENAI/RJ, 2008. GARROTE, G.I.; ABRAHAM, A.G.; ANTONI, G.I. Preservation of kefir grains, a comparative study. In: Lebensm. Wiss. U. Technol, Argentina, v. 30, p.77-84, 1997. GIESE, S.; COELHO, S.R.M.; TÉO, C.R.P.A.; NÓBREGA, L.H.P.; CHRIST, D. Caracterização físico-química e sensorial de iogurtes comercializados na região oeste do Paraná. Revista Varia Scientia Agrárias, Cascavel, v.01, n.01, p.121-129, 2010. GIACOMELLI, P. Kefir – alimento funcional natural. 35f. 2004. Monografia (Graduação em Nutrição) – Universidade Guarulhos. Guarulhos/SP, 2004. GOMES, A.M.P.; MALCATA, F. . Agentes probióticos em alimentos: aspectos fisiológicos e terapêuticos e aplicações tecnológicas In: Boletim da Sociedade Portuguesa de Tecnologia, Portugal, n. 64, p. 12-24, 1999. GONCU, A.; ALPKENT, Z. Sensory and chemical properties of white pickled cheese produced using kefir, yoghurt or a commercial cheese as a starter. In: International Dairy Journal, v. 15, p. 771-776, 2005. 36 GORSEK, A.; TRAMSEK, M. Non-linear modeling of kefir grains growth curve. In: Proceding of Congress of Chemical Engineering (ECCE-6), Copenhagen, p. 16-20, 2007. HAULY, M.C.O.; FUCHS, R.H.; PRUDENCIO-FERREIRA, S.H. Suplementação de iogurte de soja com frutoligossacarídeo: características probióticas e aceitabilidade. In: Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 5, p. 613-622, 2005. HERTZLER, S.R.; CLANCY, S.M. Kefir improves lactose digestion and tolerance in adults with lactose maldigestion. In: Journal of the American Dietetic Association, v. 103, p. 582587, 2003. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Estados. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=se&tema=pecuaria2007>. Acesso em: 28 fev. 2009. KOKSOY, A.; KILIC, M. Use of hydrocolloids in textural stabilization of a yoghurt drink, ayran. Food Hydrocolloids, v.18, p.593-600, 2004. MARTIN, A. F. Armazenamento do iogurte e o Efeito na proporção das bactérias láticas. Dissertação de Mestrado em Ciência, Escola Superior de Agricultura “Luis de Quiroz”, São Paulo, SP, Brasil, 2002. ORDONEZ, J.A. Tecnologia de alimentos. Porto Alegre: Artmed, 2005. OTLES, S.; CAGINDI, O. Kefie: a probiotic dairy-composition nutritional and therapeutic aspects. Pakistan Journal of Nutrition, Faisalabad, v. 2, n. 2, p. 54-59, 2003. PARASKEVOPOULOU, A.; ATHANASIADIS, I.; KANELLAKI, M.; BEKATOROU, A.; BLEKAS, G.; KIOSSEOGLOU, V. Functional properties of single cell protein produced by kefir microflora. In: Food Research International, v. 36, p. 431-438, 2003. PENNA, A.L.B.; SIVIERI, K.; OLIVEIRA, M.N. Relation between quality and rheological properties of lactic beverages. Journal of Food Engineering, v.49, p.7-13, 2001. PLESSAS, S. et al. Bread making using kefir grains as baker’s yeast. In: Food Chemistry, Grécia, v. 93, p.585-589, 2008. RAO, M.A. Rheological properties of fluid foods. In: RAO, M.A.; RIZVI, S.S. (ed.). Engineering properties of foods. 2nd ed. New York: Marcel Dekker, 1994. p.1-53. SANTOS, P.V. FERREIRA, C.L.L. Kefir: o alimento funcional. In: Leites & Derivados, 2008. SILVA, N.F.; GONÇALVES, L.R.B.; PINTO, G.A.S.; RODRIGUES, S. Utilização de grãos de kefir para elaboração de uma bebida fermentada a partir do suco de caju. In: XV Simpósio Nacional de Bioprocessos (XV Sinaferm), 2005. 37 SIMOVA, E.; BESHKOVA, D.; ANGELOV, A.; HRISTOZOVA, T.S.; FRENGOVA, G.; SPASOV, Z. Lactic acid bacteria and yeasts in kefir grains made from them. In: Journal of industrial Microbiology and Biotachnology. v. 28 n. 1, p. 1-6, 2002. SAAD, S.M.I. Probióticos e prebióticos: o estado da arte. In: Revista Brasileira de Farmaceuticos, São Paulo, v. 2 ,n. 1, jan./mar., p. 1-16, 2006. TELES, C. D.; FLORES, B. H. Influencia da adição de espessantes e leite em pó nas características reológicas do iogurte desnatado. In: B. CEPPA, v. 25, n. 2, p. 247-256, 2007. THAMER, K. G.; PENNA, A. L. B Efeito do teor de soro, açúcar e de frutoligossacarídeo sobre a população de bactérias probióticas em bebidas fermentadas. In: Revista Brasileira de Ciências Farmaceuticas, São Paulo, v. 41, n. 3, 2005. TORRES, E. A. F. S.; CAPOS, C. N. ;DUARTE, M.; GARBELOTTI, L.M.; PHILIPPI, T. S.; RODRIGUEZ, R. S. M. Composição centesimal e valor calórico de alimentos de origem animal. Ciência Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 20, n. 2, p. 145-150, 2000. TRAMSEK, M.; GORSEK, A. Kefir grains production – an approach for volume optimization of two-stage bioreactor system. In: Biochemical Engineering Journal, Slovenia, v. 42, nov., p. 153-158, 2008. TRANSEK, M.; GORSEK, A. A Novel Approach for Assuring and Following Inoculum Activity during kefir grains growth studies - Application of dynamic pH profiles. In. Acta Chim Slov, Slovenia, v. 54, n. 4, p. 693-699, 2007. VENTURINI, K. S.; SARCINELLI, M.; F. SILVA, L. C. Características do Leite In: Boletim Técnico, PIE-UFES:01007, 2007. ÜNAL, B.; METIN, S.; ISIKLI, N.D. Use of response surface methodology to describe the combined effect of storage time, locust bean gum and dry matter of milk on the physical properties of low-fat set yoghurt. International Dairy Journal, v.13, p.909-916, 2003. VERRUMA, M. R.; SALGADO, J. M. Análise química do leite de búfala em comparação ao leite de vaca. In: Sci. agric., Piracicaba, 51(1), jan./abr., p.131-137, 1994. YILMAZ, L.; YILSAY, T.O.; BAYIZIT, A.A. The Sensory Characteristics of Berry- Flavoured Kefir In: Czech J. Food Sci., v. 24, n. 1, p. 26–32, 2005. WITTHUHN, R. C.; SCHOEMAN, T.; CILIERS, A.; BRITZ, T.J. Impact of preservation and different packaging conditions on the microbial community and activity of kefir grains. In: Food Microbiology, Elsevier, África do Sul, v. 22, ago., p. 337-344, 2005. ZACARCHENCO, P.B.; MASSAGUER-ROIG, S. Properties of Streptococcus thermophilus fermented milk containing variable concentrations of Bifidobacterium longum and 38 Lactobacillus acidophilus. Braz. J. Microbiol., São Paulo, v. 37, n. 3, jul./set., pp. 338-344, 2006. 39 Capítulo 7 APÊNDICES 40 APÊNDICE A: DOSAGEM DE COLESTEROL A dosagem de colesterol foi determinada a partir da curva de calibração (Tabela A.1 e Figura A.1), conforme descrito na equação abaixo (equação A.1): Ccolesterol ( Área 107093) / 56026) r 2 0,998 (A.1) em que: Ccolesterol = concentração de colesterol, expressa em mg/mL Área = área obtida pelo método da cromatografia líquida expressa (AU/seg) Tabela A.1. Dados para a obtenção da curva de calibração para a dosagem de colesterol: área em função da concentração de colesterol C colesterol ( mg/ mL ) Área (AU/seg) 5,3 262324 10,6 494923 31,8 1285211 53 2049686 74,2 2744282 A Figura A.1 apresenta os dados experimentais em função da concentração de colesterol, ajustados com a equação. 3000000 Colesterol Ccolesterol = (Área-107093)/56026 2500000 2 r =0,9989 Área (AU/seg) 2000000 1500000 1000000 500000 0 0 10 20 30 40 50 C colesterol (mg/mL) Figura A.1: Curva de calibração do colesterol 41 60 70 80 APÊNDICE B: AVALIAÇÃO SENSORIAL Tabela B.1: Dados sensoriais da diferença do padrão para os produtos lácteos formulados Ficha Padrão Ensaio 7 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 Soma Média 8 6 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 9 7 8 7 9 9 7 7 8 8 8 7 9 7 8 7 9 8 8 6 8 236 7,87 7 4 6 2 6 3 5 4 9 7 3 3 6 6 1 7 5 5 4 6 4 6 4 4 5 7 1 6 5 5 7 4 6 146 4,87 Ensaio 8 6 2 7 4 5 8 1 2 7 7 4 4 5 4 4 9 8 6 1 3 4 1 6 5 4 7 1 5 4 6 6 2 7 140 4,67 42 Ensaio 9 5 7 5 5 3 6 6 4 6 2 9 6 2 5 3 6 6 2 5 5 4 6 5 5 3 6 6 2 2 4 5 7 5 141 4,71 Tabela B.2: Dados sensoriais de aceitação, para o parâmetro de aparência Ficha Padrão Ensaio 7 Ensaio 8 Ensaio 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Soma Média 6 6 8 8 6 7 8 7 8 7 8 9 8 8 7 8 8 9 9 8 7 8 4 8 8 7 8 7 9 8 227 7,57 8 7 5 5 7 5 5 6 8 7 3 7 7 7 5 8 2 2 5 7 6 6 6 8 3 7 3 1 6 6 168 5,60 5 1 7 7 5 5 2 4 6 7 2 2 7 2 5 8 8 3 4 6 3 1 7 8 4 7 1 2 3 8 140 4,67 6 8 5 4 5 5 5 5 3 2 9 6 7 3 2 3 7 5 6 3 5 6 6 2 8 6 6 4 1 4 147 4,90 43 Tabela B.3: Dados sensoriais de aceitação, para o parâmetro de aroma. Ficha Padrão Ensaio 7 Ensaio 8 Ensaio 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Soma Média 6 6 8 7 6 8 7 7 7 8 8 9 7 7 6 6 7 9 7 7 6 7 8 7 9 7 8 6 9 8 218 7,27 7 4 6 2 7 3 5 3 9 8 3 7 5 8 4 3 6 3 2 6 6 6 6 6 3 6 1 6 6 8 155 5,17 5 1 8 7 2 7 2 5 7 9 2 3 4 4 4 8 8 6 1 4 2 1 2 2 3 7 1 2 5 7 129 4,30 8 3 6 5 3 7 5 4 5 2 9 6 7 6 2 4 5 4 6 3 4 7 5 6 8 6 7 4 3 3 153 5,10 44 Tabela B.4: Dados sensoriais de aceitação, para o parâmetro de sabor. Ficha Padrão Ensaio 7 Ensaio 8 Ensaio 9 1 9 6 7 6 2 7 6 2 7 3 7 6 7 4 4 7 3 4 1 5 8 5 3 3 6 8 3 7 6 7 8 4 1 6 8 8 4 2 2 9 8 9 7 7 10 8 8 7 2 11 8 2 4 8 12 8 1 2 6 13 9 7 6 7 14 8 6 3 6 15 9 1 5 3 16 7 7 9 4 17 9 6 8 4 18 9 5 6 3 19 8 5 1 4 20 7 7 2 4 21 7 4 5 3 22 8 7 1 5 23 8 5 7 4 24 7 3 5 5 25 9 6 4 2 26 7 7 7 6 27 8 1 1 5 28 7 7 8 2 29 9 4 5 3 30 8 2 7 4 Soma 238 147 143 132 Média 7,93 5,90 4,77 4,40 45 Tabela B.5: Dados sensoriais de aceitação, para o parâmetro de textura. Ficha Padrão Ensaio 7 Ensaio 8 Ensaio 9 1 8 6 6 5 2 6 4 5 6 3 9 7 7 5 4 8 3 5 5 5 9 6 5 1 6 8 3 5 5 7 9 4 2 5 8 8 2 4 2 9 8 8 6 4 10 8 7 7 2 11 8 2 4 9 12 5 2 5 6 13 9 7 6 2 14 7 7 4 6 15 7 1 6 4 16 8 8 9 5 17 8 4 8 5 18 9 4 5 5 19 9 2 1 4 20 8 4 6 4 21 7 6 4 3 22 7 7 1 6 23 8 5 8 4 24 9 3 6 4 25 9 1 6 2 26 7 6 7 6 27 9 1 4 6 28 7 5 6 2 29 9 4 4 1 30 9 2 5 4 Soma 240 131 157 128 Média 8,00 4,37 5,23 4,27 46 Tabela B.6: Dados percentuais para a intenção de compra dos provadores. Formulação A B C D E Padrão 54% 37% 3% 3% 3% Ensaio 7 0% 13% 44% 33% 10% Ensaio 8 3% 27% 17% 33% 20% Ensaio 9 0% 14% 30% 40% 16% A= Eu certamente compraria, B= Eu provavelmente compraria, C= Não sei se compraria, D= Provavelmente não compraria e E= Certamente não compraria. 47 APÊNDICE C – LISTA DE DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS Lista de divulgação dos resultados Esta dissertação de mestrado foi realizada ao longo de 26 meses de estudo, durante os quais publicou-se os resultados em diferentes meios de divulgação, como a seguir listadas: - Trabalhos completos em anais de eventos: 1) GOMES, A. V. U. S; GAMA, J. A; REZENDE, S. B; SANTANA, R. F; PEREIRA, M.M; LIMA, A. S; SOARES, C. M. F. “Avaliação das Condições de Processo de Iogurte de Kefir”. XVII Simpósio Nacional de Bioprocessos – SINAFERM, Natal-RN, 02 a 05 de agosto de 2009. 2) GAMA, J. A; GOMES, A. V. U. S; REZENDE, S. B; SANTANA, R. F; LIMA, A. S; SOARES, C. M. F. “ Estudo da viscosidade no processo de obtenção do produto lácteo: kefir”. IX Simpósio de Hidrólise Enzimática de Biomassas – SHEB, Maringá-PR, 23 a 27 de novembro de 2009. - Resumos simples em anais de eventos: 1) GAMA, J. A; GOMES, A. V. U. S; REZENDE, S. B;SANTANA, R. F; SOARES, C. M. F; LIMA, A. S. “Desenvolvimento de um Produto Lácteo utilizando grãos de Kefir”. 8 SIMPÓSIO LATINO AMERICANO DE CIÊNCIA DE ALIMENTOS, Campinas - SP, 2009. 2) GAMA, J. A; GOMES, A. V. U. S; REZENDE, S. B;SANTANA, R. F; SOARES, C. M. F; LIMA, A. S. “Milky product using supreme of kefir: production and development”. Bio Micro World, Lisboa, 2009. 3) GAMA, J. A; GOMES, A. V. U. S; REZENDE, S. B;SANTANA, R. F; SOARES, C. M. F; LIMA, A. S. “Estudo do Desenvolvimento de um Produto Lácteo Probiótico e Funcional utilizando grãos de kefir” XI Semana de Pesquisa – SEMPESq, Aracaju-SE, 2009. 48