425 A Valorização às Áreas de Estudo na Formação Acadêmica em Educação Física: um estudo piloto com estudantes argentinos V Mostra de Pesquisa da PósGraduação Rafael Eduardo Schmitt1, Bettina Steren dos Santos1 (orientador) Programa de Pós Graduação em Educação – Faculdade de Educação – PUCRS. 1 Resumo Este estudo trata da valorização que acadêmicos de Educação Física atribuem às principais áreas de estudo que integram sua formação universitária. Fundamenta-se teoricamente no próprio contexto histórico de seu processo formativo, além de Teorias Motivacionais Contemporâneas. O delineamento da investigação orienta-se pelo método quantitativo, tendo o estudo um caráter descritivo-exploratório. Os resultados apresentam tendências valorativas dos estudantes, buscando dialogar com a produção do conhecimento no campo educacional. Introdução A formação acadêmica em Educação Física engloba estudos que se originam de diversas áreas do conhecimento. Se analisado de forma sintética, as áreas de estudo que compõem os currículos nesse campo derivam das Ciências Biológicas, das Ciências da Saúde, das Ciências Humanas, das Ciências Sociais, além dos conhecimentos específicos e dos conhecimentos metodológicos gerais. Desse amplo cenário que contempla inúmeros saberes, emerge a problemática dessa investigação: Como acadêmicos de Educação Física têm valorizado as distintas áreas de estudo que compõem a formação? Na busca de subsídios para essa questão, dois caminhos teóricos foram traçados. O primeiro realizou uma imersão histórico-contextual que demonstrou uma hipervalorização aos conhecimentos biológicos (CASTELLANI FILHO, 2008), em detrimento aos conhecimentos humanístico-pedagógicos, que ao longo da história formativa, tenderam a figurar como elementos de menor prestígio (BENITES et al., 2008). Já o segundo, buscou o embasamento em Teorias Motivacionais, tais como a Teoria da Autodeterminação (DECI e RYAN, 2000). V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 426 À luz dessa Teoria, procurou-se identificar bases explicativas capazes de predizer as atitudes valorativas apresentadas pelos estudantes. Com base nos conceitos teóricos e no problema apresentado, o presente estudo tem como objetivo geral conhecer o grau de importância que acadêmicos de Educação Física atribuem às principais áreas de estudo que conformam a formação universitária. Metodologia Pertencente a uma Dissertação de Mestrado, a investigação caracteriza-se como um estudo piloto de caráter descritivo-exploratório, delineado no método quantitativo. O campo da investigação compreendeu a Universidad Nacional de La Plata - Província de Buenos Aires/Argentina - tendo como amostra 126 estudantes de Educação Física dos gêneros masculino (50,8%) e feminino (49,2%), matriculados entre o 3º e o 5º ano, com idades entre de 21 e 39 anos (Xm = 24,18; dp = 2,94). Um instrumento de coleta de dados, denominado Escala de Valorização às Áreas de Estudo (EVAE-Ef) foi especialmente construído para estudantes de Educação Física (SCHMITT, 2009). Baseado em uma escala linear numérica (ALRECK e SETTLE, 1995), o instrumento possibilitou aos participantes informarem sua percepção quanto aos itens perguntados, em uma escala de tipo Likert de cinco pontos. Foram avaliados 58 itens, que se agruparam em quatro dimensões: Ciências Biológicas e da Saúde; Ciências Humanas e Sociais; Conhecimentos Específicos; e Conhecimentos Gerais e Metodológicos. Importante salientar que a confiabilidade da escala revelou valores de Alfa de Crombach que variaram satisfatoriamente entre 0,79 e 0,94. A confiabilidade também foi testada através do método da divisão do instrumento (split half method), calculada a partir da correlação de Spearman-Brown. De forma global, os coeficientes variaram de 0,61 a 0,85, revelando correlações moderadas e fortes. Com indicadores de confiabilidade favoráveis, permitiu-se obter importantes resultados relacionados à formação inicial em Educação Física. Resultados e Discussão Entre as áreas de estudo altamente valorizadas pelos estudantes investigados destacaram-se: Fisiologia do Exercício (Xm= 4,57; dp= 0,72), Desporto Coletivo (Xm= 4,37; dp = 0,78), Didática (Xm= 4,24; dp = 0,93), Anatomia (Xm= 4,22; dp = 0,95), Desenvolvimento Motor (Xm= 4,10; dp = 0,96), Nutrição (Xm= 4,02; dp = 0,93) e Antropometria (Xm= 4,01; dp = 0,95). V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 427 Entre os itens menos valorizados, evidenciaram-se as áreas de Filosofia (Xm= 2,16; dp = 1,15), Sociologia (Xm= 2,51; dp = 1,11), Antropologia (Xm= 2,4; dp = 1,15), Epistemologia (Xm= 2,78; dp = 1,1) e Políticas Educacionais (Xm= 2,95; dp = 1,15). Importante observar que as áreas mais valorizadas foram compostas predominantemente por itens pertencentes às Ciências Biológicas e da Saúde, enquanto que, nas menos valorizadas, situaram-se exclusivamente áreas relacionadas às Ciências Humanas e Sociais. Essas tendências, historicamente constituídas no campo da Educação Física, seguem exercendo influências e orientando atitudes comportamentais entre os estudantes, sobretudo os participantes desse estudo. Por fim, a análise das quatro dimensões investigadas demonstrou, claramente, médias mais elevadas para (CB) Ciências Biológicas e da Saúde [Xm= 3,85; I.C. = 3,65-4,04] e (CE) Conhecimentos Específicos [Xm= 3,76; I.C. = 3,57-3,94]. As menores médias foram registradas para (CG) Conhecimento Gerais e Metodológicos [Xm= 3,4; I.C. = 3,23-3,57] e (CH) Ciências Humanas e Sociais [Xm= 3,29; I.C. = 3,12-3,45]. Em concordância com as tendências apontadas, diferenças estatisticamente significativas foram evidenciadas entre CB e CH, tendo como parâmetro um intervalo de confiança (I.C.) de 95%. Conclusão A baixa valorização atribuída pelos estudantes de Educação Física aos conhecimentos humanístico-pedagógicos, soa como o principal ponto de reflexão possibilitado por essa investigação. Seguindo os passos metodológicos realizados nesse estudo piloto, a investigação tem avançado em três importantes universidades da região metropolitana de Porto Alegre/RS. Os resultados pretendem dialogar com o ensino superior na área de Educação Física, além de contribuir enquanto modelo investigativo viável voltado ao campo educacional. Referências ALRECK, P.; SETTLE, R. The survey research handbook: guidelines and strategies for conducting a survey. 2.ed. New York: McGraw-Hill, 1995. BENITES, L. et al. O processo de constituição histórica das diretrizes curriculares na formação de professores de Educação Física. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 34, n. 02, pp. 343-360, set./dez. 2008. CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. 15.ed. Campinas: Papirus, 2008. DECI, E.; RYAN, R. The “What” and “Why” of Goal Pursuits: Human Needs and the Self-Determination of Behavior. Psychological Inquiry, v. 11, n. 4, pp. 227–268, sep./dec. 2000. SCHMITT, R. E. Motivación para los estúdios en distintas áreas del conocimiento: una investigación con académicos de Educación Física brasileños y argentinos. Libro de actas: I Congreso Argentino del Centro del País. Universidad Nacional de Río Cuarto, dez. 2009. [no prelo] V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010