Faculdade do Vale do Ipojuca- FAVIP Administração Ionara Fernanda dos Santos Silva Gestão municipal e os espaços para tratar de questões relativas à mulher. Caruaru 2011 Ionara Fernanda dos Santos Silva Gestão Municipal e os espaços para tratar de questões relativas à mulher Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Administração da Faculdade do Vale do Ipojuca como exigência parcial para o título de administrador. Orientador: Marjony Camelo Caruaru 2011 Catalogação na fonte Biblioteca da Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE S586g Silva, Ionara Fernanda dos Santos. Gestão municipal e os espaços para tratar de questões relativas à mulher / Ionara Fernanda dos Santos Silva. -- Caruaru : FAVIP, 2011. 39 f. Orientador(a) : Marjony Camelo. Trabalho de Conclusão de Curso (Administração de Empresas) -Faculdade do Vale do Ipojuca. Inclui apêndice. 1. Políticas públicas. 2. Mulheres – Gestão municipal. I. Título. CDU 658[12.1] Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367 Gestão Municipal e os espaços para tratar de questões relativas à mulher Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Administração da Faculdade do Vale do Ipojuca como exigência parcial para o título de administrador. Orientador: Marjony Camelo Aprovada em: ___/____/___ Profº. Orientador: Marjony Camelo Profº. Avaliador: Lucyano Holanda ___________________________________________________________________ Profº. Avaliador: Saulo André dos Santos AGRADECIMENTOS A Deus, por tudo que me proporcionou durante esses quatro anos e principalmente na realização deste trabalho. A minha mãe, pela dedicação e por acreditar que a educação é o melhor investimento que pode- se oferecer a um filho. Aos professores, conhecimentos. pela contribuição na disseminação dos Aos amigos, que proporcionaram experiências enriquecedoras tanto pessoais quanto profissional. A professora Ana Paula Lucena, pela contribuição na elaboração do projeto durante o primeiro semestre. Ao professor Marjony Camelo, pela orientação na segunda parte deste trabalho sendo decisivo para conclusão do mesmo. Aos profissionais da Prefeitura Brejo da Madre de Deus- PE, que responderam as entrevistas pacientemente. A todos, meus sinceros agradecimentos. Enquanto eu tiver perguntas e não tiver respostas... continuarei a escrever. Clarice Lispector RESUMO Esta pesquisa tem por objetivo, identificar as dificuldades que um município de pequeno porte enfrenta para implantar um espaço que trate de questões relativas à mulher. Para isso foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório, verificando através da fundamentação teórica as teorias feministas, as políticas públicas e a gestão municipal na perspectiva de criação de órgãos para tratar das questões relativas à mulher. Em seguida foi descrita a metodologia da pesquisa, sendo um estudo de caso utilizando a forma de abordagem qualitativa através de entrevistas e para análise dos dados utilizando- se a análise do discurso. Por fim, foi realizada a análise de resultados, verificando que dificuldades como rede de atendimento para a mulher, ausência do conselho de defesa das mulheres e principalmente recurso financeiro para contratação de recursos humanos é um obstáculo mais presente na criação de um espaço para o gênero feminino na gestão do município abordado. Palavras- chaves: políticas públicas, mulheres, gestão municipal, ABSTRACT This research aims to identify the difficulties that a small city faces to deploy a space that addresses issues concerning women. For this purpose a survey was conducted exploratory, checking through the theoretical feminist, public policy and municipal management from the perspective of creating organs to deal with issues concerning women. Was then described the research methodology, and a case study using the form of a qualitative approach through interviews and data analysis using discourse analysis. Finally, we performed the analysis of results, noting that difficulties such as service network for women, the absence of defense counsel women and especially financial resources to hire human resources is more present an obstacle in creating a space for gender women in the management of the municipality addressed. Keywords: municipal management, public policy, women. SUMÀRIO CAPÍTULO I – PROBLEMA DE PESQUISA 1.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08 1.2 Objetivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.2.1Objetivo Geral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.2.2 Objetivos Específicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.3 Justificativa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1História do Feminismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.1.1 Movimentos Feministas no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.2 Políticas Públicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.3 Leis que garantem o direito das mulheres. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.4 Administração Pública e as mulheres. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 CAPÍTULO III – METODOLOGIA DA PESQUISA 3.1 Classificação da Pesquisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3.1.1 Quanto aos Fins. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3.1.2 Quanto aos meios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3.2 Universo e Amostra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3.3 Instrumentos de Coleta e Análise dos Dados. . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 CAPÍTULO IV – ANÁLISE DOS DADOS 4.1Políticas Públicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 4.2 Ações Municipais para as mulheres. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4.3 Gestão Municipal e a necessidade de espaços para as mulheres. . . 34 CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 APÊNDICE A APÊNDICE B 8 CAPÍTULO I- PROBLEMA DA PESQUISA 1.1 Introdução No ano em que a primeira mulher no Brasil assumiu a Presidência da República criou- se entre todos os brasileiros, e principalmente brasileiras, novos ânimos no que tange as melhores condições de vida das mesmas. Com uma mulher na Presidência espera-se que as políticas públicas sejam ainda mais acentuadas e possam contemplar todas as demandas do público feminino nas várias regiões do país. As políticas públicas voltadas para as mulheres serão aqui abordadas para entender como estes se estabelecem; de que forma as demandas femininas estão sendo trabalhadas e como os municípios estão desenvolvendo políticas públicas para trabalhar ações que promovam a igualdade do gênero feminino. A administração pública também será foco de discussão visto que, o planejamento, a organização, a direção e o controle são princípios que devem ser seguidos pelos gestores para terem êxito nas ações que atendam aos interesses públicos, em especial, as demandas femininas. Tanto nas organizações privadas quanto públicas as mulheres estão cada vez alcançando altos cargos. Nos últimos tempos vem alcançando cada vez mais papel de destaque na sociedade e principalmente na política ela é o símbolo de que nenhum cargo ou hierarquia é difícil de ser conseguido. Atualmente, dos países que compõem a América do Sul três são governados por mulheres na Argentina Cristina Kirchner, eleita em 2007, a costarriquenha Laura Chinchilla, eleita em fevereiro de 2010, e agora Dilma Rousseff eleita em outubro de 2010 formam o grupo de mulheres que atualmente governam um país latinoamericano. Sendo que outros oito países latino-americanos tiveram uma mulher presidente: Bolívia, Haiti, Nicarágua, Equador, Guiana, Panamá, Chile e Costa Rica tendo a argentina Maria Estela Martinez de Perón, mais conhecida como “Isabelita” Perón a primeira mulher a chegar à presidência na América latina governando o país entre 1974 e 1976. Essa expansão das mulheres no mercado de trabalho e na política ocupando espaços até então somente masculinos também gerou muito preconceito e discriminação principalmente porque junto a essas conquistas, a mulher, alcançou sua independência financeira o que favoreceu maior liberdade de escolha sobre 9 quais caminhos seguir sem necessariamente ter a presença dominante masculina ao seu lado. Com o aumento das mulheres nesses espaços, o Estado percebe a necessidade de criar políticas públicas que defendam o bem- estar social, físico e emocional das mulheres e verificou a preocupação de entidades públicas em criar órgãos que assegurem a integridade e desenvolvimento do público feminino, sendo que algumas das entidades criadas por Estados e também Municípios para a promoção feminina são: as Secretarias, Coordenadorias e Assessorias voltadas para mulher. Numa organização privada geralmente existe os departamentos de finanças, recursos humanos, marketing, produção esses considerados básicos em uma organização dependendo do porte da organização pode existir uma diversificação maior desses como, por exemplo: logística, qualidade e pesquisa e desenvolvimento. Cada departamento desses é um elemento estratégico na organização com sua função e objetivos definidos na empresa e o seu desempenho afeta as demais atividades dos outros setores. Quando não existem esses departamentos principalmente os considerados essenciais numa organização todo trabalho da organização pode estar comprometido. Partindo do privado para o público os departamentos têm a mesma função manter toda a organização trabalhando em perfeito desempenho. Sendo assim esta pesquisa visa analisar como a falta de determinado órgão pode ser estratégico no setor público e como determinados fatores contribuem para existência ou não desses espaços. Assim a ideia de realizar a pesquisa surgiu ao analisar a Lei Orgânica do Município Brejo da Madre de Deus-PE e verificar que em um dos seus Artigos o município obrigava-se a criar e a manter um órgão específico para as mulheres, verificando a não existência desse órgão e como esse pode ser relevante ao município no que tange as melhores condições de atendimento as demandas femininas, começou um estudo acerca das razões e dificuldades para implantação de um órgão específico para as mulheres no município. Diante dessa contextualização, a investigação buscará responder ao seguinte questionamento: 10 Problema: Quais são as dificuldades que impedem a implantação de um órgão específico para tratar das questões relativas à Mulher no município Brejo da Madre de Deus-PE? 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral: Identificar as dificuldades que impedem a implantação de um órgão específico para tratar das questões relativas à Mulher no município de Brejo da Madre de Deus-PE. 1.2.2 Objetivos específicos: Descrever as políticas públicas que tratem da questão do gênero feminino no município Brejo da Madre de Deus-PE; Apresentar as ações desenvolvidas pela prefeitura para promoção do gênero feminino; Verificar se a Prefeitura considera necessário um espaço para tratar das questões relativas à mulher. 1.3 JUSTIFICATIVA Os novos espaços conquistados pelas mulheres, bem como a mudança de paradigmas nas relações sociais familiares, conjugais e trabalhistas apontam a necessidade de políticas públicas que favoreçam o bem- estar social, físico e emocional das mulheres. Observa-se que a temática em torno da mulher está crescente nos últimos anos, tendo em vista essas novas mudanças, criando assim várias discussões, seminários e encontros para melhor disseminação de como combater as desigualdades entre homens e mulheres. Pode-se verificar que existe no município Brejo da Madre de Deus certa carência em relação as ações voltadas para o gênero feminino tanto na esfera pública quanto na privada. No âmbito público o que existe no referido município são algumas atividades na área da assistência social, secretaria de saúde e educação, mas não existe de fato um órgão específico que tenha autonomia administrativa, financeira e principalmente poder para formular projetos e ações que tenham como prioridade a promoção da mulher no que se refere a áreas de educação, trabalho e renda, saúde e enfrentamento à violência. 11 Com isso, a pesquisa mostra relevante para a sociedade e principalmente para o município Brejo da Madre de Deus, tendo em vista que segundo dados do IBGE (2010) do Censo Demográfico1, as mulheres representam uma parcela de 51% de um total de 45.192 da população do município. Sendo assim, criar um órgão que assegure seus direitos possibilitará desenvolver ações para a maioria da população servindo também para conhecer de fato as necessidades sociais do município. Além do que contribuirá para o movimento em prol dos diretos das mulheres que tanto lutam por melhores condições de espaços mais igualitários entre homens e mulheres. Para o meio acadêmico, revela-se importante para a constituição do acervo de pesquisas, uma vez que, existe uma disponibilidade reduzida de livros que tratem sobre a temática abordada enriquecendo a coleção de publicações sobre o tema. Tendo em vista o destaque da temática que cada vez mais é abordada em âmbito nacional nas Instituições de Ensino Superior, públicas e privadas, além de que sua contribuição ajudará outros acadêmicos em pesquisas e artigos científicos que desejam explorar um pouco mais sobre a questão do gênero principalmente na esfera pública. 1 Informação retirada do site: www.ibge.org.br Acesso em: 15/03/11 12 CAPÍTULO II- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1.1 História do feminismo As desigualdades entre homens e mulheres sempre esteve presente na história da humanidade e a mulher ao longo dos séculos foi vista com um ser submisso, incapaz de realizar determinadas atividades. Encontramos relatos que afirmam este pensamento e que contribuíram para promover preconceitos e discriminações contra as mulheres durante séculos e que até hoje encontram presentes na sociedade. Segundo Puleo2 (2003), existem diversos tipos de discurso na história que relatam as desigualdades entre homens e mulheres, entre os discursos relatados encontram-se o da mitologia, religião e ciência. A mitologia é talvez o mais antigo destes, onde contava- se que devido à curiosidade própria de seu sexo, Pandora tinha aberto a caixa de todos os males do mundo e, em conseqüência, as mulheres eram responsáveis por haver desencadeado todo tipo de desgraça. A religião é um dos discursos mais importantes e talvez com maior legitimação na tradição judaicocristã, o relato de expulsão do paraíso tem essa função. Eva seria a Pandora judaico-cristã porque, por sua culpa, fomos tirados do Paraíso. Ainda segundo a mesma autora Puleo (2003) as ciências têm funcionado também, como discurso de legitimação da desigualdade da sociedade, e seguem frequentemente, em maior ou menor medida, cumprindo essa tarefa. Um exemplo é o caso da exclusão das mulheres da cidadania no momento da instauração das democracias modernas, onde celebres médicos-filósofos como Cabanis fundamentaram o não reconhecimento dos direitos políticos como o voto, com sua teoria de debilidade cerebral da mulher e com os preceitos de Higiene, que recomendavam sua dedicação integral à maternidade. Aliados a esses discursos históricos que contribuíram para alimentar as desigualdades entre homens e mulheres observamos nos relatos da história feminina que “a subordinação da mulher é um fenômeno universal e milenar, e que pode ser visto, como a primeira forma de opressão na história da humanidade, além de que, esta subordinação se manifesta de diferentes formas e intensidades, em sociedades, épocas ou classes sociais diferentes” (COSTA; SADENBERG, 2003, p. 22). 2 Alicia H. Puleo, Filósofa, professora titular da Cátedra de Estudos de Gênero da Universidade de Valladolid, Espanha. 13 Para alguns historiadores a mulher com a sua força de trabalho só ocupou destaque com a introdução do capitalismo nas sociedades, mas como veremos “A mulher das camadas sociais diretamente ocupadas na produção de bens e serviços nunca foi alheia ao trabalho. Em todas as épocas e lugares tem ela contribuído para a subsistência de sua família e para gerar riqueza social” (SAFFIOTI, 1976, p.32). Esse não reconhecimento da mulher no mercado trabalho pode ser entendido enquanto condição de que a esta só cabia o enclausuramento de seu lar. Mas um acontecimento decisivo fez com que as mulheres saíssem de seus lares e vendessem sua força de trabalho, com a Revolução Industrial3 houve uma intensa participação das mulheres no mercado de trabalho, o que até então não ocorria devido à mulher só caber o papel de procriadora e cuidar do seu lar, como estas tinham uma condição de inferioridade foram vistas como importante objeto de interesse da burguesia em acumular riqueza. Esse talvez tenha sido um processo bastante relevante na história que contribuiu para que de fato a mulher saísse de dentro do seu lar e mostrasse sua força de trabalho. Segundo Costa e Sadenberg, (2008, p. 23)“a passividade e submissão dentro do mundo doméstico, desenvolvida durante uma longa história de subordinação, serão utilizadas para impor- lhe o pagamento de salários inferiores aos dos homens e jornadas de trabalho excessivas e insalubres”. E ainda segundo as mesmas autoras a consciência desta situação de inferioridade dá origem ao movimento feminista que surge em fins do século XVIII e toma corpo no século XIX na maioria dos países europeus e nos Estados Unidos. Nestes países verifica-se a existência de dois grupos feministas: o feminismo burguês que limitava-se a reivindicar uma série de reformas jurídicas quanto ao status de mulher; e a corrente das feministas socialistas que viam a questão da opressão feminina como conseqüência do surgimento da propriedade privada (COSTA; SADENBERG, 2008 p. 25). Com isso podemos fazer o seguinte questionamento: se as mulheres com seus movimentos feministas não mostravam união, como conseguir que seus direitos se façam presentes nas sociedades? Deixando de lado as discussões sobre os movimentos internacionais veremos a seguir alguns acontecimentos importantes sobre a história das mulheres no Brasil e alguns movimentos feministas. 3 Revolução Industrial conjunto de transformações ocorridas na Europa Ocidental inicialmente na Inglaterra diretamente relacionadas à substituição do trabalho artesanal pelo trabalho assalariado, em que predominava o uso de máquinas. 14 2.1.2 Movimentos Feministas A análise dos movimentos feministas no Brasil será foco de maior debate para entender melhor a situação da condição feminina no país e como estes movimentos contribuíram para criação de políticas públicas e ações do Estado voltadas para a mulher. Temos como pioneira do feminismo no Brasil no século XIX, Nísia Floresta Brasileira Augusta, com a publicação da obra: Conselhos à minha filha. Nisia Floresta, uma voz feminina revolucionária, denunciava a condição de submetimento em que viviam as mulheres no Brasil e reivindicava sua emancipação, elegendo a educação como instrumento através do qual essa meta seria alcançada (PRIORE; BASSANEZI, 2007, p.443). Durante o século XVII o Brasil vivia sob um regime escravocrata, colonial e patriarcal e a mulher tinha a figura apenas de reprodutora e cuidadora de seu lar, casava-se relativamente jovem e gerava muitos filhos e sua única outra opção de vida era a de recolher-se a um convento. “No período colonial, grande parte das mulheres de „boa família‟ viviam submissas aos homens e trancadas em casa” (COTRIM, 2005, p.467). Em relação às mulheres de classes populares veremos o que assegura as autoras: As mulheres das classes populares tinham maior liberdade pessoal, inclusive para vivenciar sua sexualidade, mas sua situação não era menos precária ou opressiva. Além de enfrentar um trabalho que exigia muito esforço físico, viam-se muitas vezes abandonadas, tendo que desenvolver outras atividades paralelas para o sustento de sua prole.Certamente, em muito piores condições viviam as negras, escravas, vitimas de toda sorte de opressão, exploração e violência, inclusive violentadas por mulheres, suas amas, que não raro viviam à custa da venda do trabalho e do corpo prostituído de suas escravas. (COSTA; SADENBERG, 2008, p. 47) De acordo com o pensamento de Saffioti (1976, p. 33) “A tradição de submissão da mulher e a desigualdade de direitos entre os sexos não podem, contudo, ser vistas isoladamente. De fato a vida das mulheres não era fácil sua constante submissão e opressão além da falta de espaços fazia das mulheres sujeitos de segunda categoria, sem direitos apenas deveres e obrigações a cumprir. Com a vinda da família real portuguesa ao Brasil em 1808 ocorreu mudanças significativas na vida econômica e política do país. No ano de 1889 ocorre a proclamação da República e promulgação de uma nova constituição. É importante notar que essa Constituição, estabelecia que todos os cidadãos brasileiros são iguais perante a lei (Art. 72). Porém, a igualdade de todos, se 15 estendia somente aos homens alfabetizados, o que excluía não só as mulheres, mas também a maior parte da população masculina. Como se verá adiante, justamente por excluir as mulheres, isso contribuirá para que o feminismo no Brasil transformese de idéia em ação. De acordo com Cotrim (2005, p. 467) Na república, entretanto, a mulher foi dando passos mais decisivos para romper o círculo fechado que a oprimia. A força de trabalho passou a ser intensamente requisitada em nossas primeiras fábricas, tornando-se maioria em muitos setores, como o têxtil e o de alimentos. Apesar de exploradas, as mulheres operárias contribuíram na luta pela autonomia feminina. Mesmo recebendo salário inferior ao dos homens, igualavam-se a eles ao sair dos lares para trabalhar nas fábricas e completar o reduzido orçamento familiar. Segundo relatos da história as primeiras manifestações feministas no Brasil foram voltadas para a conquista do direito à educação e profissionalização da mulher. Uma luta que será enfrentada por Nisia Floresta e, mais tarde pela emergente Imprensa Brasileira. De acordo com Teles (2003, p.72) “as décadas primeiras do século XX será dedicada à conquista do voto feminino, agora como uma luta organizada, ainda que tendo mobilizado só determinados setores do segmento feminino da população”. Com o advento da república e suas mudanças institucionais fizeram nascer, também, a esperança na aprovação do voto feminino pelos deputados Em 1910 aconteceu a fundação do Partido Republicano Feminino, tendo à frente Leolinda Daltro, responsável por organizar uma passeata de mulheres, em 1917, no Rio de Janeiro. “Porém essa luta ganhará maior força com a criação da Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, em 1920, fundada por Bertha Lutz para lutar pela igualdade de salários e pelo sufrágio feminino” (PRIORE; BASSANEZI, 2007, p. 428). Transformada em Federação Brasileira para o Progresso Feminino (FBPF) em 1922. Ainda segundo Priore e Bassanezi (2007) em 1927, a FBPF consegue sua primeira vitória, o direito de voto às mulheres, através da atuação de Juvenal Lamartine governador do Estado do Rio Grande do Norte. Mas esse voto estava restrito apenas ao Estado do Rio Grande do Norte. A luta pelo sufrágio feminino seguirá até 1932 quando esta reivindicação será concedida pelo novo governo implantando a chamada revolução de 1932. Eleita deputada suplente em 1934, Bertha Lutz assumirá em 1936 o mandato na Câmara Federal. Já em 1937, apresenta o projeto denominado “Estatuto da Mulher”, que 16 estabelecia a licença especial de três meses na época do parto e em caso de aborto terapêutico ou medicinal, além de uma série de leis de proteção. Seu programa limitou-se ao combate às leis discriminatórias, preconceitos e tradições que impedem a igualdade entre homens e mulheres, no contexto das democracias burguesas. Para a FBPF o problema maior estava no atraso do capitalismo Brasileiro. Paralelamente a esse movimento feminista, desenvolve-se no Brasil, sob a tutela de organizações de esquerda do Partido Comunista Brasileiro (PCB), outro movimento feminista. Porém esse feminismo de esquerda não assumiu características próprias que o distinguisse do feminismo socialista mundial. A inexistência de uma perspectiva além do socialismo burocrático impedia o PCB de desenvolver uma política mais conseqüente, não só para as mulheres, mas também para a classe trabalhadora em seu conjunto. Só muitos anos depois o PCB reconhecia o erro de suas concepções em relação à questão feminina (SMITH, 2003, p. 108). Com o golpe militar de 1964, tanto o movimento feminino burguês, quanto os movimentos de mulheres lideradas pelas organizações de esquerda, serão igualmente silenciados, senão massacrados, junto com os demais movimentos populares do país. “O conceito de felicidade mudou”, observa a historiadora Carla Silvia Beozzo Bassanezi, que pesquisou as relações entre homens e mulheres, a partir de revistas femininas como o Jornal das Moças, Querida e Claudia”. Veja alguns conselhos divulgados pelas revistas femininas desse período(1945 a 1964). (COTRIM, 2005, p. 428) Não se deve irritar um homem com ciúmes e dúvidas; A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, nada de incomodá-lo com serviços domésticos; A esposa deve vestir-se depois de casada com a mesma elegância de solteira, pois é preciso lembrar-se de que a caça já foi feita, mas é preciso mantê-la bem presa; Se seu marido fuma, não arrume briga pelo simples fato de caírem cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa; O lugar de mulher é no lar, o trabalho fora de casa masculiniza. “Essas afirmações não surpreendiam uma esposa comum criada nos moldes das mulheres de classe média dos anos 50 no Brasil [...] ser mãe, esposa e dona de casa era considerado o destino natural das mulheres”.(PRIORE; BASSANEZI, 2007, p. 606-609). Essas idéias antigas e por vezes ridículas demonstram a perpetuação desses conceitos de que a mulher tem que ter uma conduta com gestos contidos e de acordo com os princípios morais aceitos pela sociedade para conseguir um 17 casamento ou certo status social. Veja o que dizia o Código Civil da época acerca do casamento. No próprio Código Civil estava prevista a possibilidade de anulação do casamento caso o recém-casado percebesse que a noiva não era virgem e, se tivesse sido enganado, poderia contar com o Código Penal que garantia punições Legais para o „induzimento a erro essencial‟ (PRIORE; BASSANEZI, 2007, p.613). Após o recesso forçado dos anos da ditadura militar, o movimento feminista começa a se articular novamente. De acordo com Priore e Bassanezi(2007) no ano de 1975 a ONU (organização das nações unidas) organizou o Ano Internacional da Mulher, no Rio de janeiro,onde foi realizado um grande seminário, reunindo mulheres interessadas em discutir a condição feminina em nossa sociedade, à luz das propostas do novo movimento feminista que até então se desenvolvia na Europa e nos Estados Unidos. Esse movimento feminista moderno, articulado em torno da afirmativa de que o pessoal é político, traz como novidade o questionamento da divisão sexual do trabalho e, consequentemente do papel tradicional da mulher na família e na sociedade. Como resultado desse movimento criou-se em setembro de 1975, segundo Priore e Bassanezi (2007) o Centro da Mulher Brasileira responsável por intermediar e articular os objetivos feministas em forma de ação coletiva.“No final do ano de 1975 foi criado o Movimento Feminista pela Anistia que tinha como proposta denunciar as repressões que o governo militar havia imposto aos cidadãos brasileiros”(PRIORE e BASSANEZI, 2007, p. 513). Conforme Costa; Sadenberg (2008) em 1985, o III Encontro Feminista LatinoAmericano e do Caribe, realizado em Bertioga-SP contou com a participação de mais de mil mulheres de diversos estados e países, este será um fator na nova forma de organização dos encontros nacionais que deixam de ser eventos restritos e passam a incorporar grande número de mulheres participantes de outros movimentos. Essa incorporação é resultante do trabalho constante de conscientização acerca da especificidade da condição feminina junto aos setores populares como partidos, sindicatos, etc. “Nem mesmo a própria policia escapa da disseminação das idéias feministas, sendo necessário um trabalho conjunto entre feministas, 18 delegadas e policiais na formação de pessoal especializado para o atendimento de mulheres vítimas da violência” (COSTA; SADENBERG, 2008, p. 44). A luta das mulheres, não se resume simplesmente na conquista dos direitos constitucionais ou na denúncia das discriminações e desigualdades de gênero essa luta é muito mais ampla visto que a opressão e a exploração da mulher têm suas raízes sociais e culturais, sendo necessário uma verdadeira revolução nos costumes e práticas. Segundo Priore; Bassanezi (2007) com a nova Constituição Federal de 1988 as mulheres passaram a ser reconhecidas legalmente como seres responsáveis e socialmente produtivas, tendo assim uma legislação mais progressiva, menos discriminatória, que leva em consideração a especificidade da condição feminina. Porém para que esse reconhecimento jurídico do direito da mulher seja na prática efetivado é necessária uma ação coletiva, pois só um movimento de mulheres conscientes de seus direitos e mobilizadas para fazer cumprir a Lei daqueles que a transgredirem é que garantirá a construção de uma sociedade mais justa. Nos anos que se seguem a mulher começa ganhar mais espaços na sociedade principalmente na política vemos mulheres prefeitas, governadoras, deputadas e senadoras. Apesar de poucas, mas já encontramos mulheres na presidência de grandes empresas multinacionais.“Grandes avanços foram dados, no ano 2004 foi realizado a I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres que envolveram mais de mais de 120 mil mulheres de todo o País surgindo assim o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres” (COSTA; SADENBERG, 2008, p. 88). A conferência foi um marco na afirmativa dos Direitos da Mulher e mobilizou por todo o Brasil cerca de 120 mil mulheres que participaram, diretamente dos debates e apresentaram as propostas para a elaboração do Plano Nacional de Políticas para as mulheres que, agora, a SPM está colocando em prática (SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES). Outra conquista das mulheres foi a criação da Lei 11.340, em 7 de Agosto de 2006, esta Lei é conhecida como Lei Maria da Penha e representa grandes avanços na conquista dos direitos da mulher, principalmente em relação à violência doméstica, que antes era tratada com algo em que “briga de marido e mulher ninguém mete a colher” este ditado popular serviu por longos anos para silenciarem as mulheres vitimas de toda opressão e humilhação de seus companheiros, maridos, namorados e pais. 19 Atualmente, as mulheres estão mais conscientes de seus direitos, foram longas décadas de muitas lutas, movimentos criados para combater as desigualdades, em muito se avançou não resta dúvida, mas há muito que se alcançar, sabemos que as mulheres ainda recebem salários inferiores aos dos homens mesmo ocupando o mesmo cargo, a violência ainda está presente em muitas relações e os espaços de poder não são suficientes para assegurar que as políticas sejam de fatos implantadas. 2.2 Políticas Públicas para as Mulheres Atender as várias demandas brasileiras é algo bastante complexo tendo em vista a heterogeneidade da população brasileira e os vários interesses dos grupos. O governo busca fazer programas e projetos que abrangem o mais possível essas necessidades utilizando de diversos tipos de políticas que possam suprir as deficiências nas áreas sociais, econômicas, estruturais e reparadoras. De acordo com Pereira4 (2009) existem diversos tipos de políticas públicas, como, por exemplo, as políticas sociais: educação, saúde, cultura, proteção de crianças e adolescentes; as políticas estruturais: indústria, agricultura, meio ambiente; políticas econômicas: política monetária, fiscal e cambial, comercial, internacional; políticas compensatórias ou reparadoras e redistributivas: combate à fome, cotas nas universidades, bolsa- escola. Interessa aqui a análise de políticas públicas sociais, pois de acordo com o conceito de Pereira (2009) a questão cultural e educação estão incluídas nas políticas sociais as quais tem origem nos movimentos populares do século XIX. Verifica- se nessa época o surgimento dos primeiros movimentos feministas, conforme relato na história do feminismo. Mas antes de explorar as políticas sociais e debatermos sobre a condição feminina nos governos e sua administração, vejamos alguns conceitos sobre política pública: Segundo Marta Farah (2003, p. 47) “política pública pode ser entendida como um curso de ação do Estado, orientado por determinados objetivos refletindo ou traduzindo um jogo de interesses”. De acordo com a cartilha Mulher e Poder 4 José Matias-Pereira é Doutor em Ciência Política pela Universidade Complutense de Madri, Espanha. PósDoutor em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). 20 (2010, p.04) “política pública é um conjunto de regras, programas, ações, benefícios e recursos voltados para promover o bem-estar social e os direitos da cidadã”. Conforme a Secretaria Especial da mulher, de Jaboatão dos Guararapes-PE (2009) “políticas públicas para a mulher são aquelas ações que tem como sujeito as mulheres, assim, estão voltadas para promover efetivamente a igualdade social e políticas econômicas entre os sexos”. Estes conceitos convergem para o entendimento de que toda política pública voltada para a mulher envolve o Estado através de ações que beneficiem o público feminino principalmente nas áreas do direito, educação e cultura como forma de eliminar as desigualdades entre homens e mulheres. No dia 11/05/2011 a seguinte informação encontrava-se no site oficial da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) “SPM vai assinar protocolo com frente de Prefeitos para fortalecer políticas para as mulheres”. Este acordo que será assinado em junho pretende incentivar a criação de organismos municipais que execute ações de gênero. Segundo a ministra Iriny Lopes5 a SPM está trabalhando com quatro eixos: 1) autonomia econômica das mulheres, igualdade no mundo do trabalho com inclusão social; 2) infra-estrutura social no meio rural e urbano e equipamentos sociais; 3) cidadania e garantia de direitos (educação / inclusão digital / lazer e cultura, esportes); 4) saúde e combate à violência contra as mulheres. Para a Ministra Iriny Lopes os municipios desenvolvem um papel muito relevante na implementação das politicas,uma vez que estes (municípios) é a parte do Estado mais próximo da sociedade civil, sendo necessário a integração UniãoEstados-Municípios para desenvolver ações que possam beneficiar as demandas femininas. Veja o que comenta a Ministra Iriny Lopes6 acerca dessa condição: Os municípios têm um papel extremamente importante na efetivação das políticas públicas para as mulheres, por que é lá na ponta que elas se concretizam. Existem ações que colaboram com a autonomia das mulheres e que dependem do município. Mulheres precisam de retaguarda para disputar em pé de igualdade o mundo do trabalho. A criação e ampliação de vagas em creches e educação infantil com qualidade e horário integral; equipamentos como lavanderia e cozinhas comunitárias e restaurantes populares, são exemplos disso. 5 6 Informação retirada do site: www.sepm.gov.br Informação retirada do site: www.sepm.gov.br Acesso em: 11/05/2011 Acesso em: 11/05/2011 21 Existe a preocupação do governo em formular e implementar politicas públicas que atendam as necessidades sociais da mulher visando a criação de organismos que possam atuar diretamente na causa de gênero buscando diminuir as desigualdades entre homens e mulheres que foram construídas ao longo dos tempos. As barreiras existentes para elaborar e implementar politicas públicas são muitas, pois como exposto no início da discussão existe heterogeneidade entre pessoas e jogo de interesses nos grupos sociais. Diante deste cenário Pereira (2009, p. 203) aponta algumas barreiras para a formulação de politicas públicas perfeitas:“o tempo decorrido entre a decisão, a formulação e a verificação dos resultados obtidos; a subordinação da avaliação à obtenção de informação qualificada e em tempo oportuno; e a prepoderência de valores e diferenças de visão politica no decorrer dos processos”. Para que o processo de formulação de políticas públicas seja aperfeiçoado é necessário que haja sintonia entre as necessidades e reclamações da sociedade e o interesse do Estado em resolver tais conflitos observando a cultura local e os atores envolvidos, a realidade onde se pretende atuar, os recursos necessários, as estratégias, os objetivos, os custos e os beneficios esperados. Depois da formulação vem o processo de implementar tais politicas nesse sentido é importante entender o porquê de certas politicas atingirem seus objetivos e outras não, por isso é tão importante elaborar bem uma política pois muitas vezes as falhas estão na formulação e não na implantação. E quando de fato a política não é posta em prática verifica assim uma falha na implementação que em geral envolve as pessoas responsáveis pela execução podendo estas não ser eficazes ou competentes e ainda porque nãofoi possível contornar os obstáculos externos apesar de seus esforços. Após estas fases é imprescindivel fazer a análise e avaliação das políticaspúblicas para saber se realmente os objetivos e metas foram alcançados, se o público-alvo foi atingido na proporção esperada, se os custos efetivamente trouxe beneficios à população e se sua alocação foi bem distribuído. 22 Outro ponto de discussão na politica pública refere- se quanto a universalizar ou focalizar as politicas sociais, segundo o Enap (2004)7 universalizar parte da premissa de que a redistribuição de bens e serviços, adequada às necessidades e relacionada a uma concepção de direitos, deveser garantida igualmente a todos os cidadãos e independente de qualquer condicionante prévia, como diferenças pessoais, contribuições sociais e inserção no mercado de trabalho. Desse ponto de vista a universalização das politicas públicas contemplaria todos os brasileiros independente de sua condição financeira, física e social o que serve de críticas para muitos especialistas. Defendendo a ideia de que com políticas de universalização os que detem maior patrimônio financeiro tem como se defender e acabam ficando com a maior parte dos recursos e os pobres devido aos altos custos de participação e a ausência de recursos de poder, não conseguem defender seus interesses. A focalização no que consta segundo o Enap (2004) consiste em concentrar recursos disponiveis na população de beneficiários potenciais claramente identificada, concedendo, diante de determinados problemas, tratamento preferencial a certos grupos da população, de maneira que os recursos cheguem verdadeiramente aos mais pobres e fragilizados. Quem defende este tipo de politica, afirma que, quanto mais focalizados forem os gastos do governo maior o efeito na redução das desigualdades, além da eficácia da ação e o alcance dos objetivos que consideram como prioritários (ENAP, 2004). 2.3 Leis que garantem o direito da Mulher A pesquisa tomará como fundamento o Plano Nacional de Políticas Públicas para as Mulheres este plano surge a partir da I Conferência de Políticas Públicas para as Mulheres (2003) que tem como objetivo o combate as desigualdades entre homens e mulheres e que orienta- se por pontos fundamentais como: autonomia, igualdade no mundo do trabalho e cidadania; educação inclusiva e não sexista, saúde das mulheres, direitos reprodutivos e sexuais; e, enfrentamento à violência contra as mulheres. Este plano representa um grande avanço para a igualdade de gênero principalmente para o movimento das mulheres e feministas que muito tem contribuído para o avanço de políticas publicas em relação ao gênero. 7 Escola Nacional de Administração Pública. Informação retirada do site: www.Enap. Gov.br 23/ 07/11 Acesso em: 23 “Quando um governo incorpora as demandas populares dizemos que o direito está garantido ou está previsto em lei. É a lei que regulamenta a política. É isso que permite ao cidadão(ã) fazer cobranças e exigir do Estado o cumprimento do preceito legal” (TRINDADE, 2005, p. 15). No âmbito de lei federal temos a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, mais conhecida com a Lei Maria da Penha que cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher representando grande avanço para todas as mulheres e grupos feministas que agora terão seus direitos realmente reconhecidos no tange à violência contra o gênero. Porém o mais relevante para o município Brejo da Madre de Deus encontrase na Lei Orgânica do município, que em seu artigo 219(2000, p.48) rege: O município obriga-se a implantar e a manter das questões relativas à mulher, que terá sua competência fixadas em lei, garantida a representantes da comunidade com atuação seus direitos. órgão especifico para tratar composição, organização e participação de mulheres comprovada na defesa de 2.4 Administração Pública e as mulheres Para alcançar a eficiência que tanto as organizações buscam é necessário seguir alguns princípios básicos que norteiam a administração tais como: planejamento, direção, organização e controle. Esses princípios devem estar tanto nas organizações públicas quanto nas privadas, tendo objetivos e características diferentes e que foram ilustrados por Saldanha (2006, p. 19) Quadro 1.1 Diferenças entre a administração pública e a administração privada Aspecto Administração pública Administração privada Político Funcionamento e resultados, bons ou maus têm impacto político. O processo sofre fortes ingerências políticas. Orientado para o bemestar social. Output em grande parte não mensurável. Organizações não competitivas no mercado. Rentabilidade dispensável (custo-benefício) Grandemente afetado e/ou dirigido por forças externas. Objetivos econômicos e sociais. Alto Há autonomia decisória. O impacto político é menor. Econômico Organizacional Orientado para o lucro. Output mensurável. Organização competitiva. Rentabilidade vital para o crescimento e sobrevivência. Tem controle mais amplo ela mesma. Objetivos predominante econômicos. Maior 24 grau de interdependência entre as organizações. órgãos com funções múltiplas e concomitantes. autonomia em relação a outras organizações. Órgãos com funcionalidade específica e bem discriminada. Fonte: FREITAS, Leci Silva de. Programa de Serviços penitenciários: um estudo de caso sobre o sistema estadual de planejamento. 1980. 854 f. v. Porém estes princípios não constituem como obrigatórios para as organizações públicas cabendo a estas seguir estes princípios se os considera necessário. No entanto existem princípios que encontram- se presentes na Constituição Federal do Brasil (artigo 37) e que norteiam a gestão pública devendo a estas organizações públicas segui-los caso contrário estarão ferindo estes princípios e comprometendo os serviços prestados a comunidade. Estes princípios basicamente são: Legalidade; Impossibilidade; Publicidade; Moralidade; Eficiência. Observadas as diferenças entre as organizações públicas e as organizações privadas, verá a seguir algumas definições acerca do que significa gestão pública. Na literatura encontramos alguns autores que abordam a temática gestão pública, identificando seus conceitos e a evolução desta. Em sequência será abordado como a questão do gênero feminino e respectivamente seus espaços está sendo trabalhada. Acerca dos conceitos sobre gestão pública Saldanha (2006, p.12) comenta “a gestão pública é a mesma atividade administrativa vinculada à lei ou à norma técnica e a política, realizando funções administrativas em um determinado período de tempo”. Outra definição apresentada seria: A administração pública, num sentido amplo, é um sistema complexo, composto de instituições e órgãos do Estado, normas, recursos humanos, infraestrutura, tecnologia, cultura, entre outras, encarregado de exercer de forma adequada a autoridade política e suas demais funções constitucionais, visando o bem comum. (PEREIRA, 2008, p. 07) De acordo com Amato (1971, apud SALDANHA, 2006, p.12), a administração pública é a gestão dos bens e interesses qualificados da comunidade, nos âmbito 25 federal, estadual e municipal, segundo os preceitos do direito e da moral, visando o bem comum. Após as diferenças entre a administração pública e a privada e os conceitos apresentados acerca da definição de administração pública será pertinente a análise da incorporação da mulher em programas e ações dos governos bem como os órgãos e entidades que trabalham tal temática no âmbito Federal, Estadual e Municipal como forma da diminuição das desigualdades entre homens e mulheres e da promoção da mulher em maiores e melhores espaços na sociedade. No planejamento e execução de políticas públicas que efetivamente atendam as necessidades específicas das mulheres é indispensável conhecer as esferas de competência de cada um dos níveis de governo (Federal, Estadual e Municipal). Tendo em mente que a administração municipal e logo em seguida, a estadual é a ponta do Estado mais próxima da demanda da população. (INSTITUTO FRIEDRICH EBERT, 2000, p. 21) A importância dos municípios para trabalhar ações eficazes no que contribuem efetivamente ao atendimento das demandas femininas mostra mais uma vez sua relevância tanto nas palavras da Ministra Iriny Lopes quanto do Instituto convergindo para o pensamento de que o município é a ponta do Estado mais próxima da população. Portanto as ações tomadas nessa instância repercutem diretamente na qualidade de vida da população em especial as mulheres. Segundo o Instituto Friedrich Ebert Trabalhar a questão de gênero não significa simplesmente atender as mulheres, mas alterar as relações de desigualdades entre homens e mulheres e, portanto, transformar as relações sociais com o objetivo de alcançar igualdade. As políticas gerais, contudo, tem sido formulada sob a ótica masculina, sem levar em consideração que mulheres e homens são socializados de formas distintas e suas responsabilidades e tarefas, tanto na família quanto na sociedade são construídas de forma diferente e, por isso necessitam de ações diferenciadas do Estado. (2000, p.10) De fato parece difícil conciliar administração e a questão do gênero feminino, pois no processo histórico verifica que “muito da teoria e do modo de pensarem administração vem de uma forma masculina de ver o mundo: agressivo, calculista sem escrúpulos” (KANITZ, 2000). E para compensar essa falta de atendimento as causas e demandas das mulheres criarem órgãos que assegure seus direitos tornam-se fundamentais para o avanço de uma sociedade mais justa. Isso demonstra a necessidade de criar estruturas que possam abrigar a questão do gênero com ações nas áreas de trabalho e renda, saúde e educação. Promover esses espaços para as mulheres é agir de forma estratégica principalmente tendo 26 em vista os novos papéis que estas adquiriram tanto na família quanto no trabalho, acerca disso Behring e Boschetti (2010, p. 185-186) comentam que “é crescente o número de famílias chefiadas por mulheres, o que tem tanto mulheres pobres quanto não pobres, mas com conseqüências agudas para as primeiras”. E ainda segundo o mesmo Instituto Friedrich Ebert (2000, p.16) Para que gênero perpasse todas as secretarias, faça parte do planejamento estratégico e integre as ações principais do plano de governo e preciso existir um organismo responsável por essa elaboração e articulação [...] com uma estrutura que tenha autonomia administrativa, dotação orçamentária e, acima de tudo, poder[...] sem essa estrutura, fica difícil formular projetos, implantar e acompanhar programas, entre outras coisas. Muitas vezes o espaço de gênero que essas estruturas encontram localizadas estão em um departamento em geral ou em algumas secretarias como, por exemplo: secretaria de assistência social, isso quando essas estruturas existem pois em muitos municípios sequer tem a presença de órgãos do governo preocupados com esta causa. Isso se deve ao preconceito existente de muitos gestores públicos por achar que as mulheres já são beneficiadas nos programas e ações do governo. Acerca disso apresenta- se alguns argumentos contrários a questão de gênero nas administrações “as mulheres já estão contempladas nas políticas sociais desenvolvidas pelas secretarias uma vez que a pobreza atinge todo mundo, independente de sexo” (INSTITUTO FRIEDRIECH EBERT, 2000). Em pesquisas realizadas por Marta Farah, (2003) sobre gênero e políticas públicas em análise aos programas governamentais de governos municipais no Brasil verificou- se que a questão de gênero está sendo incorporada aos poucos num processo incremental de transformação, em que alguns temas da agenda de gênero e algumas das abordagens propostas por movimentos e entidades de mulheres acaba ocupando espaços até então poucos disseminados com a causa da mulher abrindo caminhos para transformações mais profundas. Para o Partido dos Trabalhadores as administrações municipais que passam a ter uma relação mais estreita com a questão da mulher tendem a conhecer melhor a realidade local e podem elaborar políticas públicas mais eficazes. No Artigo de Mariella Mazzotti, (2003, p. 06) sobre o município como articulador de interesses e oportunidades para as mulheres discute sobre os desafios enfrentados pelas instituições municipais ligadas às políticas de equidade de gênero, diante do impacto provocado pela crise socioeconômica na qualidade de 27 vida das mulheres e de suas famílias especialmente daquelas pertencentes a setores mais populares, ela enfatiza que: Os municípios podem estabelecer canais de comunicação e coordenação, com uma diversidade de atores sociais: organizações, universidades, empresários, com os quais desenvolveram acordos para a ação coletiva por meio da articulação de interesses. Diante disso, os programas e projetos vinculados às questões do emprego, do trabalho e da geração de renda são estratégicos, já que atendem a necessidades especificas e práticas das mulheres, e por sua vez, apontam para um dos pólos da subordinação da mulher: a dependência econômica (COORDENADORIA ESPECIAL DA MULHER, SP, 2004). Percebe-se a preocupação para que os municípios, este que são a ponta do Estado mais próximo da população possa desenvolver ações em conjunto com outros órgãos e entidades a fim de promover planos estratégicos que favoreçam as demandas femininas. Para isso são criados alguns órgãos com políticas públicas voltadas para a mulher, veja a relação de alguns destes órgãos aqui no Estado de Pernambuco: Secretaria Especial da Mulher de Pernambuco; Secretaria Executiva da Mulher do Cabo de Santo Agostinho; Secretaria da Mulher de Caruaru; Secretaria da Mulher, Cultura, Juventude e Meio Ambiente de Água Preta; Secretaria da Mulher de Jaboatão dos Guararapes; Secretaria Municipal da Mulher de Petrolina; Secretaria de Políticas para as Mulheres de Passira; Coordenadoria da Mulher de Olinda; Coordenadoria da Mulher de Pesqueira; Coordenadoria da Mulher de Salgueiro; Coordenadoria da Mulher de Santa Cruz do Capibaribe; Assessoria da Mulher de Águas Belas; Diretoria da Mulher de Paulista 28 CAPÍTULO III- METODOLOGIA 3.1 Classificação da Pesquisa 3.1.1 Quantos aos Fins Para a classificação da pesquisa, toma-se como base a conceituação apresentada por Vergara (2003), que a qualifica em relação a dois aspectos: quantos aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins a pesquisa classifica- se como exploratória porque segundo Vergara (2003, p.20) “a investigação exploratória, é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado”. Pretendendo verificar as razões e dificuldades que fazem não existir um órgão da mulher no município Brejo da Madre de Deus- PE. Através de levantamento bibliográfico, documentos oficiais e entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado. 3.1.2 Quantos aos meios Quanto aos meios caracteriza como pesquisa de campo sendo uma “uma investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo” (VERGARA, 2003, p.47). Acontecerá a coleta de dados primários na Prefeitura Brejo da Madre de Deus. É também documental, pois recorrerão ao uso de documentos oficiais, Lei municipal, artigos, livros e publicações em geral. Essa pesquisa caracteriza também como um estudo de caso por realizar uma análise detalhada na Prefeitura em questão. 3.2 Universo e amostra O município Brejo da Madre de Deus-PE, localizado a 200 km de distância da capital Recife possui atualmente 45.192 habitantes segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010). O universo da pesquisa será composto por funcionários da prefeitura Brejo da Madre de Deus. Sendo três entrevistados de Secretarias distintas. A amostra foi definida pelo critério de tipicidade, que segundo Vergara (2003) “é constituída pela seleção de elementos que o pesquisador considere representativos da população-alvo”. Com isso, pretende- se obter informações dos funcionários da prefeitura, aqueles que de fato possam dar contribuições para encontrar as causas do problema a ser investigado. Sendo esses funcionários a 29 Assistente Social que trabalha na Secretaria de Assistência Social, a Secretária de Saúde e o Chefe de Gabinete. Esses foram escolhidos por verificar que as ações voltadas para a mulher neste município concentra- se nessas secretarias, sendo desta forma relevante as informações colhidas nesses espaços por estes entrevistados. 3.3 Instrumento de coleta e análise dos dados Nesta investigação os dados serão coletados por meio de entrevistas que conforme Rampazzo (2004, p. 110), “é um encontro entre duas pessoas a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional”. Quanto ao tipo de entrevista esta será padronizada onde se seguirá um roteiro previamente estabelecido. A pesquisa será de natureza qualitativa “as abordagens qualitativas são especialmente úteis para determinar as razões ou os porquês” (ACEVEDO, 2006, p. 53). Considerando a forma de abordagem qualitativa, os dados que foram coletados através das entrevistas foram analisados com base na análise do discurso. Para Vergara (2006, p.27) “a análise do discurso permite reconhecer o significado tanto do que está explícito na mensagem quanto do que está implícito; portanto, não só o que se fala, mas como se fala, além da interação entre membros de uma organização”. 30 CAPÍTULO IV- ANÁLISE DOS DADOS Neste capítulo é apresentada a análise dos dados coletados nas entrevistas, realizadas com a Assistente Social, a Secretária de Saúde e o Chefe de Gabinete todos os entrevistados são funcionários da Prefeitura do Brejo da Madre de DeusPE. A finalidade destas entrevistas é alcançar o objetivo geral da presente pesquisa, ou seja, identificar as dificuldades que impedem a implantação de um órgão específico para tratar das questões relativas à Mulher no município Brejo da Madre de Deus. Através disso buscou- se nas entrevistas: Descrever as políticas públicas que tratem da questão de gênero feminino Apresentar as ações desenvolvidas pela Prefeitura para promoção do gênero feminino Verificar se a Prefeitura considera necessário um espaço para tratar das questões relativas à mulher. 4.1 Políticas Públicas Segundo entrevistados, as políticas públicas para a mulher no município é desenvolvida principalmente nas Secretarias de Saúde e Assistência Social. De acordo com a Secretária de Saúde as políticas públicas para a mulher no município são trabalhadas em quatro eixos: [...] o planejamento da saúde hoje a nível da política nacional é bem definida enquanto programa da saúde da mulher [...] prioritariamente são trabalhadas em quatro eixos: pré-natal e do parto puerpério; prevenção do câncer do colo e de mama; planejamento familiar e uma rede de assistência principalmente ao parto puerpério (rede cegonha). Já na Secretaria de Ação Social segundo a Assistente social as políticas públicas têm um eixo voltado para a autonomia econômica das mulheres, garantia dos direitos da mulher e cidadania. [...] o município vem desenvolvendo atividades de fortalecimento de vinculo pessoal e social através da implantação de Políticas Públicas da Secretaria de Assistência Social, tanto no que condiz a situação de promoção, através da Proteção Social Básica, quanto do trato que violação dos direitos, através da Proteção Social Especial. 31 A Ministra Iriny Lopes (2010)8 afirma que a SPM está trabalhando com quatro eixos que são definidos no Plano de Políticas Nacional para as Mulheres traçando objetivos e metas. Os quatro eixos são: 1) Autonomia econômica das mulheres, igualdade no mundo do trabalho com inclusão digital; 2) Infra- estrutura social no meio rural e urbano e equipamentos sociais; 3) Cidadania e garantia de direitos (educação/inclusão digital/ lazer e cultura e esportes); 4) Saúde e combate a violência doméstica. Percebe- se que o município Brejo da Madre de Deus atende a alguns desses eixos ainda que de forma parcial e deixa a desejar em outros como, por exemplo: no eixo da infra-estrutura social rural e urbana e equipamentos sociais, no eixo da cidadania e garantia de direitos no que condiz a inclusão digital, lazer e cultura, pois em nenhum momento com os três entrevistados foi mencionado políticas neste âmbito. As políticas públicas para as mulheres podem encontrar dificuldades para serem implantadas no município tendo em vista algumas barreiras existentes como afirma Pereira (2009) “o tempo decorrido entre a decisão, a formulação e a verificação dos resultados obtidos, a preponderância de valores e diferenças de visão política”. E segundo o Instituto Friedrich Ebert (2000) as administrações municipais que passam a ter uma relação mais estreita com a questão da mulher tendem a conhecer melhor a realidade local e podem elaborar políticas públicas mais eficazes. 4.2 Ações Municipais para a mulher Para o Instituto Friedrich Ebert (2000) mulheres e homens são socializados de formas distintas e suas responsabilidades e tarefas, tanto na família quanto na sociedade são construídas de forma diferente e, por isso necessitam de ações diferenciadas do Estado. No município em questão foram verificadas algumas ações exclusivas para o público feminino principalmente no âmbito saúde e outras que não são exclusivas, mas que segundo entrevistados o público feminino representa em torno de 90%. Vejamos o que comenta a Assistente Social acerca dos cursos oferecidos pela Secretaria para profissionalização e inclusão das mulheres no mercado de trabalho. 8 Informação retirada do site: www.sepm.gov.br Acesso em: 11/05/2011 32 Para a Assistente Social, Cursos de qualificação profissional são oferecidos, mas não exclusivo para as mulheres, embora cerca de 90% sejam as mulheres. No CRAS (artesanato, bordado, renascença) com duração de 4 meses. É disponibilizado também corte e costura industrial com duração de 1 ano e 8 meses que ao final deve ser montado uma cooperativa. Para o Chefe de gabinete, [...] os projetos para as mulheres são realizados basicamente na área da saúde (mãe coruja) e da inclusão social (corte e costura industrial) que não é especifico para as mulheres, mas que atendem basicamente as mulheres. De acordo com a Ministra Iriny Lopes (2010) existem ações que colaboram com a autonomia das mulheres e que dependem do município. Ela ainda afirma que mulheres precisam de retaguarda para disputar em pé de igualdade o mundo do trabalho. As ações vinculadas a trabalho e geração de renda são vistos como estratégicos tendo em vista que indica um dos eixos de subordinação da mulher, a dependência econômica. Em relatos na história do feminismo no Brasil Cotrim (2005, p. 467) comenta: a força de trabalho feminina passou a ser intensamente requisitada em nossas primeiras fábricas, tornando-se maioria em muitos setores [...] mesmo recebendo salários inferiores aos dos homens, igualavam-se a eles ao sair de seus lares. Em relação à dependência econômica das mulheres Mariela Mazzotti (2003) afirma: [...] os programas e projetos vinculados ás questões de emprego, do trabalho e da geração de renda são estratégicos, já que atendem a necessidades especificas das mulheres, e por sua vez, apontam para um dos pólos da subordinação da mulher: a dependência econômica. É importante frisar que mudanças nas relações sociais e familiares fazem com que o Estado busque dar assistência as mulheres uma vez que pesquisas apontam que cada vez mais as mulheres estão ingressando no mercado de trabalho e tornando- se chefe da família responsáveis pelo sustento do lar. Acerca disso Behring; Boschetti, (2010, p. 185) afirmam que “o crescimento do número de famílias chefiadas por mulheres tem atingido tanto mulheres pobres quanto não pobres, mas com conseqüências agudas para as primeiras”. E ainda segundo as autoras no ano de 1992, 19,3% dos domicílios eram chefiados por mulheres, percentual que saltou, em 2002, para 32,1% dos domicílios. 33 Percebe- se que as ações voltadas para as mulheres não se caracterizam como ponto estratégico no município Brejo da Madre de Deus tendo em vista que não existem programas ou projetos específicos criados pelo município e o que existe em parte são projetos do Governo Federal ou Estadual. Talvez essa situação ocorra devido á falta de incentivo financeiro por parte dos governos Federal e Estadual que como comenta o chefe de gabinete, [...] os recursos financeiros sempre chegam depois da execução da ação, o município banca a ação e o recurso sempre chega com meses de atraso. Outro fator que dificulta as ações pode estar na falta de uma estrutura especifica que tratem do tema, pois segundo o Instituto Friedrich Ebert (2000) Para que gênero perpasse todas as secretarias, faça parte do planejamento estratégico e integre as ações principais do plano de governo é preciso existir um organismo responsável por essa elaboração e articulação. Lembrando que no município Brejo da Madre de Deus encontra- se na Lei Orgânica em seu artigo 219 o seguinte: O município obriga- se a implantar e a manter das questões relativas à mulher, que terá sua competência fixadas em lei, garantida a representantes da comunidade com atuação seus direitos. órgão especifico para tratar composição, organização e participação de mulheres comprovada na defesa de Ainda que as dificuldades para estabelecer ações para as mulheres sejam muitas o município não pode deixar adormecido a concretização deste espaço tendo em vista que este espaço será um direito garantido em lei alcançado pelas mulheres do município. 4.3 Gestão municipal considera necessário espaço para as mulheres Como exposto anteriormente, a Lei Orgânica do município Brejo da Madre de Deus em seu artigo 219 assegura a criação de um órgão que aborde temas relativos à mulher. Com a existência deste órgão as ações e políticas públicas voltadas para o público feminino ficariam mais direcionadas e efetivas. Pois como afirma o Instituto Friedrich Ebert (2000) é necessário existir uma estrutura que tenha autonomia 34 administrativa, dotação orçamentária e, acima de tudo poder, sem essa estrutura fica difícil formular projetos, implantar e acompanhar programas, entre outras coisas. Para a Assistente Social, [...] a gestão considera necessário este espaço, mas na atual conjuntura do município (porte e tipo de gestão) ele contempla nos programas já existentes. Segundo o Chefe de Gabinete, [...] a gente considera necessário um espaço, um órgão, não uma secretaria devido ao porte do município, mas uma diretoria pelo menos, que atendesse as necessidades das mulheres. Isso está sendo pensado dentro da Prefeitura de uma reforma administrativa e esse item foi colocado como uma das prioridades. Já para a Secretária de Saúde, [...] consideramos necessário sim, um espaço, mas com vista à saúde não temos nenhuma necessidade em criar nenhum órgão, isso é totalmente dispensado, agora como equipamento público, unidade organizacional é interessante que se tenha, porque ela (mulher) pode ser atendida em várias questões no mesmo local. Mas se não tiver a mulher consegue ser atendida sim, só que em vários locais distintos, aumentando o deslocamento. Observa- se que apesar dos entrevistados considerarem necessário um espaço para trabalhar as questões relativas á mulher e enfatizarem que já existem projetos para criação destes espaços não é dado prazos para implantação destes espaços ficando a ideia muito solta. E em alguns momentos apresentam argumentos que segundo o Instituto Friedrich Ebert (2000) mostram- se contrários a existência de espaços, como: as mulheres já estão contempladas nas políticas sociais desenvolvidas pelas secretarias. Algo semelhante dito pela Assistente Social no inicio deste tópico [...] a mulher já é contemplada nos programas já existentes. A secretária de saúde também deixa evidente que, com vista à saúde, não se tem nenhuma necessidade em criar nenhum órgão. A assistente social ainda ressalta [...] há um incentivo através da abertura, no município de uma coordenadoria da mulher. Porém os recursos disponibilizados visam a promoção de campanhas de combate a violência e discriminação, contemplando a produção de material para campanhas, estruturação de uma sala para recursos audiovisuais e de mobiliário, mas não contempla a contratação de recursos humanos, que deve ficar a cargo do município. Esses argumentos expostos pelas entrevistadas demonstram que apesar de existir projetos para criação desse espaço ainda existe o pensamento de que é 35 essas secretarias e os programas existentes são suficientes para atender as demandas femininas. Isso pode configurar certa dificuldade ou até mesmo prolongar a criação desse espaço para as mulheres no município. 36 Capítulo V- Considerações Finais Ao longo deste trabalho buscou-se identificar os motivos pelos quais o município Brejo da Madre de Deus ainda não possui um espaço em sua gestão pública para garantir os direitos das mulheres, tendo em vista a existência do artigo 219 da Lei Orgânica que assegura a criação deste espaço. Com isso, buscou-se através das entrevistas realizadas com a Assistente Social, a Secretária de Saúde e o Chefe de Gabinete, responder as questões abordadas pelos objetivos específicos: Descrever as políticas públicas que tratem da questão de gênero feminino Apresentar as ações desenvolvidas pela Prefeitura para promoção do gênero feminino Verificar se a Prefeitura considera necessário um espaço para tratar das questões relativas à mulher. Com relação às políticas públicas para as mulheres, verificou- se que em relação ao Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, alguns itens não estão sendo trabalhados pelo município, assim não existe uma conformidade entre o que é proposto pelo Plano Nacional para cumprimento das metas e objetivos e as políticas adotadas pela gestão municipal. O segundo objetivo adotado foi a apresentação das ações desenvolvidas pelo município para as mulheres. Constatou- se que em geral não existe ações específicas para o público feminino, estas são tanto para mulheres quanto para homens, principalmente as ações que promovem a autonomia e inserção das mulheres no mercado de trabalho. Desta forma a gestão não age de forma estratégica tendo em vista que as mulheres representam um percentual maior da população do município, sua representação no mercado de trabalho aumenta demandando ações do município tanto em profissionalização quanto em infraestrutura através de serviços como: aumento no número de vagas em creches. Por fim, buscou- se identificar se a prefeitura considera necessário um espaço para as mulheres. Verificou- se que todos os entrevistados consideram necessários este espaço, no entanto afirmam que devido ao porte do município este espaço tem de estar atrelado a determinada secretaria, pois os recursos financeiros constituem 37 dificuldades encontradas para implantação deste espaço, além de outras dificuldades tais como: a não existência de uma rede de atendimento, a ausência do conselho de defesa das mulheres e a continuidade das ações e de seu financiamento. Portanto, através dos objetivos específicos, pode- se verificar que a dificuldade mais apontada para implantação de um espaço para as mulheres no município foi a falta de incentivo financeiro, principalmente no que tange a contratação de recursos humanos. Sendo um fator que é apontado pelos três entrevistados, salientando que outros municípios do mesmo porte deste já possuem alguma estrutura que trate de temas relacionados á mulher. 38 REFERÊNCIAS ACEVEDO, Cláudia Rosa; NOHARA, Jouliana Jordan. Monografia no curso de Administração: guia completo de conteúdo e forma. 2 ed. São Paulo: Atlas 2006. BASSANEZI, Carla; PRIORI, Mary Del. História das Mulheres no Brasil. 9. Ed. São Paulo: Contexto, 2007. BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: Fundamentos e história. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2010. BRASIL, Presidência da República. Secretaria Especial de Políticas para a Mulher. Disponível em htpp://www.sepm.gov.br//. Acesso em: 11 de mai. 2011. 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MULHER E PODER, Pernambuco: Secretaria de Políticas para mulheres/Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, 2010. Edição Especial. as PEREIRA, José Matias. Manual da gestão pública contemporânea. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2009. PFEIFFER, Peter. Planejamento abordagem. Brasília: ENAP, 2000. Estratégico no Município: uma nova RAMPAZZO, Lino. Metodologia Cientifica: para alunos dos cursos de graduação e pós- graduação. 2. Ed. São Paulo: Loyola, 2004, p.110. 39 SAFFIOTI, Heleith Iara B. A mulher na sociedade de Classes: mito e realidade. 1. Ed. Vozes, 1976. SANTOS, Clezio Saldanha dos. Introdução à gestão pública. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. SMITH, Bonnie G. Gênero e História: Homens, Mulheres e a Prática Histórica. Bauru-SP: EDUSC, 2003. TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve História do Feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 2003. TRINDADE, Joana Maria. A mulher na sociedade: entre sempre e jamais. Revista Mundo Jovem, Porto Alegre, n. 384, p.11, março, 2008. VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de Pesquisa em Administração. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2006. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2000. APÊNDICE A- ENTREVISTA APLICADA AO CHEFE DE GABINETE 1) Quais as políticas públicas a prefeitura vem trabalhando junto as Secretarias com ênfase ao público feminino do município? 2) Como é realizado o trabalho pela Prefeitura para identificar quais as maiores necessidades do público feminino no município? 3) Existe parceria com entidades não governamentais para implantação e efetivação das ações que beneficiem o público feminino no município? Em caso positivo como ocorre essas parcerias? 4) Quais ações e/ou projetos a Prefeitura desenvolve para beneficiar o público feminino do município? 5) A gestão considera necessário um espaço (órgão) para trabalhar as questões relativas á mulher ou a prefeitura junto com as demais secretarias já conseguem atender as demandas femininas? 6) O governo estadual e Federal concede incentivos aos municípios que se propõem ou já tem algum órgão para trabalhar as políticas públicas voltadas para a mulher? Quais são esses incentivos? 7) As políticas públicas para as mulheres integram os planos estratégicos do governo? De que forma? 8) No artigo 219 da Lei Orgânica Municipal reza o seguinte: o município obriga- se a implantar e manter órgão específico para tratar das questões relativas à mulher, que terá sua composição, organização e competências fixadas em lei, garantida a participação de mulheres representantes da comunidade com atuação comprovada na defesa de seus direitos. Quais motivos impedem a implantação deste órgão no município? APÊNDICE B- ENTREVISTA APLICADA A SECRETÁRIA DE SAÚDE 1) Quais as políticas públicas estão sendo trabalhadas pela Secretaria de Saúde para atendimento ao público feminino? 2) De que forma a Secretaria identifica quais as maiores necessidades do público feminino no município? 3) Quais projetos a secretaria vem desenvolvendo ara beneficiar as demandas femininas? 4) Existe parceria com entidades não governamentais para implantação e efetivação das políticas que beneficiem o público feminino no município? Caso positivo como ocorre essa parceria? 5) A falta de um espaço (órgão) para trabalhar as questões relativas à mulher compromete o trabalho realizado por esta secretaria? Se existisse esse espaço como você acha que o trabalho de atendimento as demandas ocorreria? 6) A secretaria de saúde considera necessário um espaço para trabalhar as questões relativas à mulher ou a secretaria já consegue atender as demandas femininas? 7) Do ponto de vista como secretária de saúde quais as maiores dificuldades para efetivação das políticas públicas para as mulheres no município? APÊNDICE C- ENTREVISTA REALIZADA COM A ASSISTENTE SOCIAL 1) Quais as políticas públicas estão sendo trabalhadas pela Secretaria de Assistência Social para atendimento as demandas femininas no município? 2) De que forma a Secretaria identifica quais as maiores necessidades do público feminino no município? 3) Quais projetos a Secretaria de Assistência Social desenvolve para beneficiar o público feminino do município? 4) Existe parceria com entidades não governamentais para implantação e efetivação das ações que beneficiem o público feminino no município? Caso positivo como ocorre essa parceria? 5) A gestão considera necessário um espaço para trabalhar as questões relativas à mulher ou a Secretaria já consegue atender as demandas femininas do município? 6) O governo Estadual e Federal concede incentivos aos municípios que se propõem ou já tem algum órgão para trabalhar as políticas públicas voltadas para a mulher? Quais são esses incentivos? 7) No artigo 219 da Lei Orgânica Municipal reza o seguinte: o município obriga- se a implantar e manter órgão específico para tratar das questões relativas à mulher, que terá sua composição, organização e competências fixadas em lei, garantida a participação de mulheres representantes da comunidade com atuação comprovada na defesa de seus direitos. Quais motivos impedem a implantação deste órgão no município?