UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA Institu uto Sup perior d de Servviço So cial dee Lisbo a Messtrado em Serrviço Social S Parttilhand do a comuniidade:: satisffação reside encial e pa articipa ação ccomun nitária nos b airros de hab bitaçã ão social Realizado R p por: Susana Isabel Pinnto de Almeida Mesquita p Orientado por: Maria João Lopes Fre eitas Prof.ª Doutora M Constituiçã C ão do Júrii: Presidente P : Orientador O ra: Arguente: A Prof.ª P Douttora Marina a Manuela Santos Anntunes Prof.ª P Douttora Maria João Lope es Freitas Prof.ª P Douttora Berta Pereira Grranja Dissertação D o aprovada a em: 29 2 de Outu ubro de 201 12 Lisboa a 2012 Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Dissertação apresentada ao Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Lusíada de Lisboa para a obtenção do grau de Mestre em Serviço Social. Orientadora: Prof.ª Doutora Maria João Lopes Freitas Lisboa Julho 2012 Ficha Técnica Autora Orientadora Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Prof.ª Doutora Maria João Lopes Freitas Título Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Local Lisboa Ano 2012 Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação MESQUITA, Susana Isabel Pinto de Almeida, 1972Partilhando a comunidade : satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social / Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita ; orientado por Maria João Lopes Freitas. - Lisboa : [s.n.], 2012. - Dissertação de Mestrado em Serviço Social, Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Lusíada de Lisboa. I - FREITAS, Maria João Lopes, 1964LCSH 1. Habitação social - Satisfação residencial - Portugal - Sintra 2. Habitação social - Aspectos socials - Portugal - Sintra 3. Comunidade - Desenvolvimento - Portugal - Sintra 4. Universidade Lusíada de Lisboa. Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa - Teses 5. Teses - Portugal - Lisboa 1. 2. 3. 4. 5. Public housing - Resident satisfaction - Portugal - Sintra Public housing - Social aspects - Portugal - Sintra Community development - Portugal - Sintra Universidade Lusíada de Lisboa. Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa - Dissertations Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon LCC 1. HD7352.A3 M47 2012 Ao meu Pai, pela gratuidade do dom da minha Vida e por me iluminar sempre o caminho de lá, onde se encontra. AGRADECIMENTOS Este é um caminho que só é possível trilhar com o apoio de todos os que fazem parte da nossa vida… Dos tais “outros” que nos acompanham e apoiam em cada momento, especialmente nos de dúvida, angústia, indecisão, cansaço, mas que também dão um sabor diferente à alegria, à descoberta, ao entusiamo, à esperança e à conquista! A todos os que direta ou indiretamente se fizeram presentes nesta etapa tão importante para mim, tanto pessoal como profissionalmente, quero expressar o meu profundo e sentido agradecimento, e em especial: À Professora Doutora Maria João Freitas, ser humano excecional, pelo percurso que fizemos em conjunto, pela total disponibilidade desde o primeiro momento, por toda a sua sabedoria e generosidade que me permitiram abrir horizontes e crescer como pessoa e como profissional, pela confiança que depositou em mim e por cada abraço que me ofereceu com genuína afetividade. Aos Professores Doutores Marina Antunes e Jorge Ferreira que ao longo do ano curricular facilitaram as aprendizagens para chegar até aqui. À Ana Figueiredo pela amizade, confiança e reconhecimento do esforço em cada etapa e pelo apoio incondicional que tornou este processo possível. Aos colegas da Divisão de Habitação da Câmara Municipal de Sintra, Patrícia, Cristina e Elisabeth pela disponibilidade e participação no estudo, pela troca de ideias, de saberes e pelo carinho que sempre demonstraram no dia-a-dia do nosso trabalho e, ao João Brandão pela planta dos bairros em Mira Sintra. Às colegas da Rede Social (CMS), em especial à Tânia Tobias pela empatia e colaboração na aprendizagem de novas ferramentas, que permitiram dar um novo olhar a esta investigação, à Isabel Lacerda da Divisão de Saúde e Ação Social pelo “brilharete” que fizemos as três juntas na apresentação preliminar dos resultados da SPIRAL e à Maria João, pela ajuda imprescindível e total disponibilidade nas formatações do trabalho. À Marta e à Casa Seis pela colaboração prestada, pela simplicidade e delicadeza na forma de estar e pelo empenho sempre disponível. Também à colega da Junta de Freguesia de Mira Sintra pela sua participação. Aos moradores do bairro Fundação D. Pedro IV, em Mira Sintra, que prontamente se dispuseram a participar neste estudo permitindo-me perscrutar mundos que eu desconhecia e a acreditar que vale a pena o desafio de melhorar cada vez mais. A todos os amigos por me motivarem e estarem sempre presentes, mesmo à distância, em especial à Luísa Oliveira pelo reforço e confiança sempre disponíveis, à Susana Ramalho pelos colóquios na fase inicial onde, ainda perdida foi (e continua a ser) amparo, discernimento, relação e amizade e, à Mónica Cunha pela tradução do resumo. Ao Fernando, meu amor, por todo o apoio incondicional, que cobriu todas as ausências e tudo onde eu não fui capaz de chegar ao longo deste processo tão exigente. Aos meus queridos filhos Pedro e Miguel, pela ternura com que me presenteiam, pela felicidade que trazem à minha vida e pelo reconhecimento da importância desta conquista para mim. À minha Mãe pelo exemplo de perseverança e dedicação, pelo incentivo, apoio concreto, cuidado e reforço positivo que sempre me ofereceu ao longo da vida, em especial neste processo e, pela revisão do texto. Agradecer também pelos meus 40 anos de vida, onde cheguei recentemente com a concretização de mais este sonho, e pelos quais tenho vindo a atravessar o “mistério e escuridão de tantos outros, de carne e osso” que me desinstalam, desafiam, ajudam e permitem ser profundamente feliz! A todos, muito obrigada! «Eu por ti, acertaria o meu passo ao teu caminhar. Eu por ti, o teu problema arcaria sobre mim, E abraçaria o horizonte que trazes dentro do teu olhar…. Eu por ti, buscar-te-ia no mar da tua solidão (…) Eu por ti, suportaria a tua fragilidade, E ancorar-te-ia à minha mão Se fosses arrastado na maré (…). Eu por ti, daria voz às tuas mil razões…» Gen Rosso – Movimento dos Focolares (1997) APRESENTAÇÃO Partilhando a Comunidade: Satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Os problemas sociais vivenciados no início deste século exigem uma nova abordagem a nível socioeconómico, político e até filosófico, assumindo o Serviço Social um papel indispensável como parceiro do conhecimento público enquanto profissão de direitos humanos e de justiça social. Os sistemas económicos ao centralizarem-se em relações contratuais e anónimas desvalorizam a relação de cooperação entre os indivíduos bem como os processos participativos das comunidades. Importa assim questionar o modelo da sociedade de mercado e do papel do Estado, colocar a ênfase no Homem e na humanização das relações e apelar à função das políticas públicas no desenvolvimento de sistemas de governança colaborativa. Este trabalho descreve o estudo de caso sobre a população residente no bairro camarário Fundação D. Pedro IV em Mira Sintra e pretendeu relacionar os conceitos de satisfação residencial, participação comunitária e qualidade de vida, delineando um modelo de intervenção social na área da habitação social. Optando-se pela triangulação de dados, a investigação realizou-se junto da comunidade residente e da comunidade técnica, utilizando três instrumentos de recolha: mini focus group, escala de satisfação residencial adaptada (Freitas et al, 2008) e metodologia SPIRAL. Os resultados apurados confirmam os elevados níveis de satisfação residencial desta comunidade e permitem concluir sobre a relação entre satisfação residencial e participação comunitária. Esta relação é mediada pelo grau de controlo dos indivíduos sobre as suas capacidades de ação na comunidade, pelo tipo de necessidades básicas a satisfazer e pelo capital relacional existente em função do reconhecimento e confiança nos “outros”. Palavras-chave: Satisfação residencial, participação comunitária e qualidade de vida. PRESENTATION Sharing the community: Residential satisfaction and community participation in social housing neighborhoods Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita The social problems experienced in the beginning of this century demand a new approach on the socioeconomic, political and even philosophical levels, where the Social Service assumes a core role as a partner in public knowledge while being a profession of human rights and social justice. Economic systems, having focus on anonymous contractual relations, underrate the cooperative relationship between individuals as well as the participative processes of the communities. It is important, therefore, to question the model of a market society and the role of the State, to put emphasis in Men and in the humanization of the relations and to appeal to public policies for the development of systems of collaborative governance. This work describes the case study of the population residing in public housing neighborhood of Fundação D. Pedro IV in Mira Sintra and aimed to relate the concepts of residential satisfaction, community participation and quality of life, outlining a model of social intervention in the public housing area. Having opted by the triangulation of data, this research took place within the resident and technical communities, using three instruments of data collection: mini focus group, residential satisfaction scale (Freitas et al, 2008) and the SPIRAL methodology. The results obtained confirm the high levels of residential satisfaction within this community and allow us to conclude on the relationship between social satisfaction and community participation. This relationship is measured through the degree of individuals’ control over their capability of intervening in the community, by the level of basic need to be fulfilled, and by the existing relational capital towards the reckoning and trust in the “other”. Key-words: Residential satisfaction, community participation and quality of life. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1 - Modelo analítico proposto .................................................................. 49 Ilustração 2 - Componentes da Gestão da Habitação ............................................. 50 Ilustração 3 - Valores médios por categoria ............................................................ 70 Ilustração 4 - Síntese do Grupo “Jovens” ................................................................ 74 Ilustração 5 - Síntese do grupo “Mulheres Ciganas”................................................ 76 Ilustração 6 - Síntese do grupo “Mulheres Realojadas” ........................................... 78 Ilustração 7 - Modelo de Intervenção Social proposto ............................................. 84 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Grelha de análise das questões da habitação ………………………………56 Tabela 2 – Interligação das ações propostas com o modelo de intervenção …………87 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS CAF CECD – Comissão de Acompanhamento às Famílias (de Mira Sintra) – Centro de Educação para o Cidadão Deficiente de Mira Sintra CMS – Câmara Municipal de Sintra DHAB – Divisão de Habitação DSAS – Divisão de Saúde e Assuntos Sociais ESPOIR FFH IGAPHE – Élaborer le Progrès Sociétal par l’Organisation d’Indicateurs Raisonnés – Fundo de Fomento da Habitação – Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social JFMS – Junta de Freguesia de Mira Sintra PER – Plano Especial de Realojamento PIB – Produto Interno Bruto PIMP – Projeto de Intervenção a Médio Prazo SAAL – Serviço de Apoio Ambulatório Local SPIRAL – Societal Progress Indicators and Responsibilities for All SUMÁRIO 1. Introdução ........................................................................................................... 23 2. Contextualização do tema e objeto da pesquisa ................................................. 27 3. 4. 5. 6. 2.1. O direito à Habitação .................................................................................... 27 2.2. Evolução das políticas sociais de Habitação em Portugal ............................ 28 2.3. O papel das autarquias e do Serviço Social no Alojamento social ................ 33 2.4. Âmbito e Pertinência..................................................................................... 34 Enquadramento teórico ....................................................................................... 37 3.1. O problema ................................................................................................... 37 3.2. Os conceitos do problema ............................................................................ 40 3.2.1. Participação ........................................................................................... 40 3.2.2. Qualidade de Vida ................................................................................. 43 3.2.3. Satisfação Residencial .......................................................................... 45 Metodologia ........................................................................................................ 49 4.1. Modelo Analítico Proposto ............................................................................ 49 4.2. Pergunta de Partida e Questões da Investigação ......................................... 51 4.3. Objetivos de Investigação ............................................................................. 52 4.3.1. Objetivos Gerais .................................................................................... 52 4.3.2. Objetivos Específicos ............................................................................ 52 4.4. Opções Metodológicas ................................................................................. 52 4.5. Técnicas de recolha de dados ...................................................................... 55 4.5.1. Análise documental ............................................................................... 55 4.5.2. Fichas de Observação Técnica ............................................................. 55 4.5.3. Grelha de Análise .................................................................................. 55 4.5.4. Questionário Sociodemográfico e Escala de Satisfação Residencial ..... 57 4.5.5. SPIRAL - Societal Progress Indicators and Responsibilities for All ....... 59 Análise e interpretação dos dados ...................................................................... 61 5.1. Caracterização social e urbanística do bairro Fundação D. Pedro IV............ 61 5.2. Caracterização da população entrevistada ................................................... 62 5.3. Resultados da Grelha de Análise das Questões da Habitação ..................... 65 5.4. Resultados do estudo sobre a satisfação residencial .................................... 68 5.5. Resultados do estudo sobre o bem-estar – SPIRAL ..................................... 73 Discussão dos resultados e conclusões .............................................................. 81 6.1. Discussão dos resultados ............................................................................. 81 6.2. Para o desenho de um modelo de intervenção social ................................... 84 Referências ................................................................................................................ 89 Bibliografia .................................................................................................................. 93 Apêndices Apêndice A – Resultados do estudo sobre a satisfação residencial Anexos Lista de anexos ANEXO A – Modelo de relação entre os conceitos de qualidade de vida ANEXO B – Fenómeno “Efeito sandwich” ANEXO C – Termo de consentimento informado ANEXO D – Resultados da grelha analítica sobre as questões da habitação ANEXO E – Ficha de caracterização sociodemográfica ANEXO F – Escala de satisfação residencial adaptada ANEXO G – Síntese das 8 dimensões e 6 componentes de bem-estar ANEXO H – Planta do concelho de Sintra ANEXO I – Planta da freguesia de Mira Sintra ANEXO J – Síntese dos preditores de satisfação residencial ANEXO K – Notícia do jornal da Região ANEXO L – Síntese dos critérios dos grupos homogéneos Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social 1. INTRODUÇÃO O processo de investigação, sendo um caminho que se vai construindo na busca de um melhor conhecimento sobre determinada realidade, faz-se acompanhar de hesitações, algumas angústias, por vezes impasses os quais, se não nos detiverem, serão um estímulo para avançar e chegar a bom porto. Este trabalho é o culminar do estudo exploratório realizado sobre a satisfação residencial, a participação comunitária e a qualidade de vida em bairros de habitação social sob gestão autárquica, nomeadamente o estudo de caso do bairro Fundação D. Pedro IV, em Mira Sintra. Embora algumas pesquisas refiram não existir uma inter-relação entre os conceitos de satisfação residencial e participação comunitária, pois o facto de uma comunidade apresentar elevados níveis de satisfação residencial não significa que seja uma comunidade mais disponível para participar, mais coesa, que se mobiliza para a resolução dos seus problemas, considerou-se que através da análise da satisfação residencial poderiam encontrar-se indicadores que permitissem facilitar a mobilização para a participação das comunidades nos seus contextos habitacionais e territoriais. Nas últimas décadas tem-se vindo a verificar que a mobilização para a participação é cada vez mais difícil em praticamente todos os contextos da sociedade (político, escolar, comunitário, redes de vizinhança, etc.), porque é vista como sendo uma responsabilidade dos outros. Esta posição prende-se com outros conceitos como a cidadania ou a coesão social, os quais estão intimamente ligados à disciplina do Serviço Social e que cada vez mais nos transportam para novos paradigmas. Por outro lado, o estigma por se viver em habitação social muitas vezes sentido pelos próprios beneficiários desta política, mas também pela população em geral, contribui para o sentimento de exclusão social, limitando à partida os recursos e capacidades destas populações para exercerem uma cidadania ativa. Utilizar estratégias de coesão social, reconhecendo os cidadãos como um contributo válido para a construção das políticas sociais, é a via mais eficiente para encontrar respostas ao novo paradigma da pós-modernidade, o qual deverá garantir o progresso e a sustentabilidade assegurando o bem-estar/qualidade de vida de todos. Susana de Almeida Mesquita 23 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Também os serviços da administração têm dificuldade em desburocratizar os seus procedimentos e utilizar uma linguagem aberta e acessível aos seus clientes, que os envolva nas tomadas de decisão e na assunção de responsabilidades nos assuntos que afetam as suas vidas, tendo dificuldade em promover o seu empoderamento (empowerment). Assim, neste trabalho tentou conciliar-se as diversas perspetivas dos atores sociais envolvidos (tanto a comunidade residencial como a comunidade técnica que opera no terreno), por acreditarmos que só conjugando as diversas perspetivas de uma mesma realidade seria possível produzir novo conhecimento e mudança social. No desenho metodológico procurou-se combinar as abordagens quantitativa e qualitativa de forma complementar, nomeadamente ao nível dos instrumentos de recolha e análise de dados, não se tratando de uma simples soma de técnicas mas tentando complementar as fragilidades de cada abordagem. O facto de a investigadora exercer a sua atividade profissional junto da população em estudo (o que à partida poderia ser uma limitação), exigiu o esforço de romper com ideias pré-existentes e procurar na literatura um quadro teórico de referência que servisse de base ao fenómeno em estudo e que permitisse definir um plano de pesquisa, a metodologia e os resultados esperados. Partindo dessa base, subdividiu-se este documento em cinco capítulos, em que no primeiro é apresentada a contextualização do tema e objeto da pesquisa, bem como uma abordagem ao direito à habitação, à evolução das políticas de habitação em Portugal e ao papel das autarquias e do Serviço Social no alojamento social. Também são apresentadas as motivações para a escolha do tema. Na segunda parte é apresentada a construção do problema e definidos os principais conceitos-chave inerentes: Participação Comunitária, Satisfação Residencial e Qualidade de Vida. No terceiro capítulo apresenta-se o desenho metodológico, onde é feita a apresentação do modelo analítico proposto; a justificação das opções metodológicas, a apresentação das técnicas de recolha e tratamento de dados utilizados. No capítulo IV é feita a análise e interpretação dos dados recolhidos, a caracterização social e urbanística do bairro, da população entrevistada, bem como os resultados da Susana de Almeida Mesquita 24 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social grelha de análise das questões da habitação, do estudo quantitativo sobre a satisfação residencial e do estudo qualitativo sobre o bem-estar. A discussão dos resultados e respetivas conclusões, bem como a proposta de um modelo de intervenção na área da habitação social são apresentados no V e último capítulo. Susana de Almeida Mesquita 25 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Susana de Almeida Mesquita 26 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social “Imaginem… uma cidade sem prédios barulhentos nem bairros conflituosos, onde cada família tem a sua própria moradia isolada acusticamente, e protegida da vista dos outros, para que nenhum vizinho a possa incomodar. Onde os poucos arranha-céus existentes foram construídos de modo a evitar qualquer encontro nas escadas ou nos patamares. (…) Uma cidade “ideal”, onde os conflitos foram realmente eliminados, porque se diminuiu até a pré-condição do conflito, que é insistir que haja um espaço comum, uma communitas”. (L. Bruni, 2010) 2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E OBJETO DA PESQUISA 2.1. O DIREITO À HABITAÇÃO A habitação é um direito instituído pela Constituição da República Portuguesa, a qual prevê desde a sua primeira redação no artigo 65º, que “todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar”1. Embora se trate de um direito constitucional, a problemática da habitação relaciona-se com aspetos sociais, políticos, económicos, culturais e espaciais, que não só a tornam numa área complexa como a relacionam diretamente com outras problemáticas. Ao longo dos tempos, as cidades têm vindo a sofrer uma constante transformação através da reestruturação dos tecidos urbanos com consequências a diversos níveis e, face às exigências que se vivem nesta mudança de século, a atualidade das questões da habitação é hoje incontestável. A Área Metropolitana de Lisboa é disso exemplo, tendo sofrido nas décadas de 70 e 80 um crescimento exponencial, com a chegada de grandes aglomerados de população, o que gerou diversos problemas tanto ao nível da quantidade e qualidade de habitação construída, como do acesso à mesma. Para além destas dimensões, o referido artigo 65º da Constituição da República faz depender o direito à habitação do planeamento e ordenamento do território apoiado em planos de urbanização “(…) que garantam a existência de uma rede adequada de transportes e de equipamento social”2. Também define as competências e responsabilidades para a sua resolução envolvendo o poder central, autarquias, 1 In, Constituição da República Portuguesa, Revisão 1989, Ed. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, p.5253. 2 Ibidem. Susana de Almeida Mesquita 27 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social privados, cooperativas, outras organizações e iniciativas das comunidades locais e as próprias populações. O Estado pressupõe a participação de todos na efetivação de um direito que é de todos, embora a sua intervenção nesta matéria se caracterize pela perceção de que “a habitação é um direito cuja garantia depende do encontro de interesses gerais, no pressuposto de uma lógica de funcionamento de mercado em que um determinado bem se disputa”, e de que “(…) existe um pressuposto de liberdade e universalidade (…) ao funcionamento desse mercado” (Freitas, 2001, p.175), tanto no que respeita à procura como à oferta. Assim, através da leitura destes pressupostos, verifica-se que o Estado tem assumido um papel orientador e regulador, mais do que promotor ou intervencionista neste setor, pois apenas faz depender de si a programação e execução de uma política baseando-se a restante intervenção em parcerias. Devido aos desequilíbrios que se têm verificado no funcionamento do mercado da habitação, ao nível da oferta e da procura nos últimos 20 anos, a produção de habitação nova praticamente se reduziu ao regime de venda com o aumento constante dos preços, quase contrariando as regras básicas de funcionamento de mercado, ao mesmo tempo que se verificou a estagnação e o congelamento do mercado de arrendamento, aliado à estratégia de alienação do parque de arrendamento público promovida pelo poder central. O Estado evitou sempre a intervenção direta nesta área, mantendo o seu estatuto de regulador através de legislação e, é apenas em 1993 que se assiste ao maior financiamento para a promoção de habitação social, com a criação do Plano Especial de Realojamento (PER). Neste programa, as competências são partilhadas com as autarquias com vista à sua execução. 2.2. EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS DE HABITAÇÃO EM PORTUGAL 3 Ao fazer-se uma breve retrospetiva sobre a evolução das políticas de habitação em Portugal, na Europa e no mundo, pretende-se enquadrar a problemática em questão e conhecer a intervenção na área da habitação nos diversos contextos políticos, sociais e económicos. 3 Poderá ser consultada uma cronologia da evolução dos programas de habitação social entre 1960-1980 no artigo de M. Gros (1994), «Pequena» História do Alojamento Social em Portugal, Sociedade e Território nº 20, p.84. Susana de Almeida Mesquita 28 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social O período entre 1880 e 1940 caracterizou-se em Portugal, e na maior parte dos países europeus pela “(…) consciência plena da crise habitacional nas cidades e a elaboração de estratégias para resolver o problema da habitação das famílias de baixos recursos.” (Teixeira, 1992, p.65). Porém, nem as câmaras municipais nem o Estado consideravam como uma responsabilidade sua a construção de habitação a baixo custo. No que respeita a legislação que implica diretamente o Estado no domínio da habitação só se verifica a partir de 1918 com a publicação do Decreto n° 4137, de abril de 1918 pelo governo de Sidónio Pais, através do qual se “(…) afirmava a sua vontade de fazer um esforço decisivo para erradicar os bairros insalubres de Lisboa e do Porto através da construção de casas baratas para os sectores mais pobres da população” (Ibidem, p.77). Porém, apenas em 1933 é clarificado conceito de “habitação social” assumindo-se a necessidade de intervenção do Estado no campo habitacional. No mesmo ano da Constituição Portuguesa é publicado o Decreto-Lei nº 23052, de 23 de setembro de 1933 que cria o Programa das Casas Económicas. Neste programa a preocupação fundamental não foi a resolução das carências habitacionais, mas sim dar sustentação e visibilidade à doutrina corporativista e “(…) o novo regime tornou a dar aos senhorios os seus privilégios perdidos (…) e a sua política habitacional era dirigida às classes médias” (Ibidem, p.79). Os efeitos da Revolução Industrial potenciaram o aumento das indústrias nas principais cidades do país, obrigando ao êxodo rural e à consequente procura de habitação na cidade, por famílias em busca de melhores condições de vida. Esta ação levou consequentemente à sobreocupação das cidades e ao aparecimento daquilo a que se chamavam de “ilhas” e criação de bairros de barracas. Estas “ilhas começaram a ser construídas em 1850 e “(…) consistiam em filas de pequenas casas de um único piso, geralmente com áreas que não excediam os 16m2, construídas nos quintais de antigas habitações burguesas” (Ibidem, p.67). A forte concentração espacial de população levou ao surgimento de comportamentos desviantes e de estigmas sociais com consequências a diversos níveis, tornando-se assim o problema do realojamento um problema social, que levantava outras questões ao nível económico, cultural e político. Susana de Almeida Mesquita 29 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Nos anos 40 e 50 foram implementadas outras medidas legislativas muito embora a política de habitação do Estado Novo se tenha baseado fundamentalmente no Programa das Casas Económicas “(…) mas sem conseguir acompanhar as carências crescentes nas grandes cidades (…) e era fundamentalmente dirigida às classes médias.” (Ibidem, p.79). O resultado desta política promoveu o desenvolvimento dos bairros de barracas nas décadas de 40 e 50 e dos bairros clandestinos nas principais cidades nos anos 60 e 70. A nível mundial no período pós guerra colonial, a doutrina política e as respostas habitacionais basearam-se na reconstrução de novas cidades, políticas de restrição e repressão, levadas a cabo pelos governos nacionais (Kedogo et al, 2010). A década de 60 caracterizou-se pela modernização e crescimento da habitação pública, cujos atores chave continuaram a ser os governos nacionais. Adotou-se a postura de não interferir nas crises urbanas, sendo consideradas uma situação temporária que desapareceria com o crescimento económico e com a modernização. Em Portugal, as políticas sociais de habitação desenvolvidas foram pouco eficientes tanto ao nível do modelo arquitetónico, como nas soluções urbanísticas devido à densificação, à desintegração, ao inacabamento dos projetos e à forma de definição dos requisitos para a atribuição dos fogos (Guerra, 1994). No que respeita à participação da população “(…) se bem que desordenada e por vezes considerada demasiado conflitual era, mais ou menos, evidente” a sua existência (Ibidem, p.14). Em 1969 é criado o Fundo de Fomento de Habitação (FFH) através do Decreto-Lei nº 49033 de 28 de maio de 1969, tendo sido construídos cerca de 100.000 fogos os quais foram alienados passando para propriedade privada. Porém, esta resposta também foi insuficiente face às diferentes formas de pressão do problema. O Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) foi criado após o 25 de abril de 1974, desenvolveu projetos de habitação social prestando apoio técnico às populações residentes em barracas nas grandes cidades de Lisboa, Porto e Setúbal. Nestas duas décadas (60 e 70), a noção de participação “estava indissoluvelmente ligada ao poder (…) e a questão central é a de saber quem o detém” (Guerra, 1994, p.14). Mundialmente é nesta década que se instala a crise económica e urbana global, cujas políticas e respostas habitacionais se centram nas necessidades básicas e onde são envolvidos não só os governos mas também as organizações internacionais e os próprios beneficiários (Kedogo, et al, 2010). Susana de Almeida Mesquita 30 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Mais tarde, na década de 80, embora em Portugal a democracia se tenha consolidado e houvesse estabilidade política, ainda assim não se conseguiu definir uma política de habitação coerente e eficaz. Ao nível da participação já se fazia sentir o “«individualismo pós-moderno» que levava a um desinvestimento no social e a um contínuo «déficit de participação» (…) que se vai desvanecendo ao longo dos anos 80” (Guerra, 1994, p.15). Nesta altura, a noção de participação estava intimamente ligada ao aparecimento das Associações de Moradores, as quais eram consideradas como parceiros sociais já que conheciam de perto os problemas das populações e assumiam o estatuto de interlocutores privilegiados junto das entidades de gestão. A nível internacional este é considerado o período do neo-liberalismo, em que o papel dos governos passou para um segundo plano, dando-se primazia ao setor privado de habitação (Kedogo, et al, 2010). Em Portugal, o Projeto de Intervenção a Médio Prazo (PIMP) teve grande importância ao nível de operações de realojamento levadas a cabo pela Câmara Municipal de Lisboa e o Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado (IGAPHE) estabeleceu acordos com os municípios para construção de habitações sociais destinadas à população que residia em barracas. Porém, foi insuficiente para acabar com os bairros de barracas existentes, tendo para isso sido criado, através do Decreto-Lei nº 163/93 de 7 de maio (última alteração através do Decreto-Lei n.º 271/2003, de 28 de outubro), o Programa Especial de Realojamento (PER) o qual veio contribuir significativamente para a melhoria da qualidade de vida da população e de áreas específicas desqualificadas dos concelhos de Lisboa e Porto. Este programa veio valorizar a habitação como um meio de integração plena dos cidadãos, defendendo que essa integração deverá ser a todos os níveis – social, cultural, psicológico e económico. A nível social, nesta década verificaram-se formas de participação menos positivas por toda a Europa como comportamentos de revolta de alguns grupos excluídos, a desvitalização das Associações de Moradores deixando de existir entidades formais, constituídas pelas próprias comunidades, que conciliassem os diversos interesses e mediassem os conflitos. A nível mundial, em plena era da globalização (década de 90), o tema central passa a ser a sustentabilidade do desenvolvimento urbano e a consciência de que o setor privado e as forças de mercado necessitam de regulamentação. Os protagonistas Susana de Almeida Mesquita 31 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social passam a ser a sociedade civil, o setor privado, os governos nacionais e as organizações internacionais (Kedogo et al, 2010). Na Europa, o enfoque é dado às políticas sociais de desenvolvimento social urbano com intervenção em zonas problemáticas específicas, mais do que às políticas de habitação (Guerra, 2008). Embora a União Europeia não tenha definido uma política de habitação comum delegando a responsabilidade nos Estados-Membro, criou os programas URBAN I (1994-2000); URBAN II (2001-2006) e URBAN AUDIT (este último ainda se encontra em vigor) com o objetivo de monitorizar a qualidade de vida nas cidades europeias. Sinteticamente, as políticas de habitação dos Estados-Membro podem subdividir-se em 4 grupos: - Os países Baixos, a Suécia e o Reino Unido são os que têm maior intervenção estatal e são dos países com maiores sectores de alojamento social da União Europeia, com um investimento de cerca de 3% do PIB nas suas políticas de habitação; - Na Áustria, Dinamarca, França e Alemanha o sector privado para aluguer impera e a despesa pública destinada à habitação ronda 1 a 2% do PIB; - Na Irlanda, Itália, Bélgica, Finlândia e Luxemburgo predominam as habitações próprias, sendo o sector de aluguer de caracter social reduzido. A despesa pública com a habitação ronda 1% do PIB. - Por último, em Portugal, Espanha e Grécia predominam as habitações próprias, sendo o aluguer de caracter social diminuto, tal como a despesa pública com a habitação que é inferior a 1% do PIB (Parlamento Europeu,1996). No novo milénio (a partir do ano 2000) os problemas da habitação começam a ter outra visibilidade a nível mundial e em Portugal, tanto ao nível governamental como das autarquias, é reconhecida a necessidade do estabelecimento de parcerias, a realização de trabalho em rede que envolva todos os atores públicos e privados (Estado, autarquias, parceiros locais, entidades privadas), bem como a sociedade civil (todas as partes interessadas), a fim de dar resposta aos novos desafios urbanos que se colocam. Susana de Almeida Mesquita 32 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social 2.3. O PAPEL DAS AUTARQUIAS E DO SERVIÇO SOCIAL NO ALOJAMENTO SOCIAL O conceito de Política de Habitação contempla um conjunto de medidas adaptadas e postas em prática pelo Estado com o objetivo de garantir o equilíbrio no acesso a respostas habitacionais (Ferreira, 1994). Essas respostas aos problemas de habitação têm vindo, cada vez mais, a ter como preocupação a garantia de acesso a uma habitação condigna por parte de todos os estratos socioeconómicos da sociedade, mas também a plena inclusão dos indivíduos alvo de realojamento, baseando-se a intervenção nas parcerias entre o setor público e privado, organizações sem fins lucrativos e comunidades locais. Assim, os desafios na área da Habitação prendem-se não só com o acesso à habitação social, mas à habitação em geral. Também alertam para as questões da gestão do pós-realojamento e das questões residenciais urbanas, o que exige a implementação de políticas sociais adaptadas à realidade social de cada autarquia. Após a Revolução de Abril de 1974 com a institucionalização do poder local, as autarquias ampliaram a dimensão das políticas sociais, surgindo o Serviço Social em muitas delas como serviço de administração dessas mesmas políticas, na maior parte dos casos ligado ao alojamento através dos Serviços Municipais de Habitação. É neste contexto que os Assistentes Sociais assumem a função de mediadores entre os decisores e a população, utilizando nessa mediação a política social, a política organizacional e também o referencial teórico-metodológico, cultural e ético próprio. Para A. Negreiros (1995) as autarquias ainda não conseguiram conceber uma gestão que permita questionar a ação política e assim viabilizar novas formas de participação na vida local, mantendo-se ainda hoje uma atitude imediatista da ação camarária. Importa pois definir objetivos claros e, consequentemente, um programa de ação concreto que sirva de suporte à gestão habitacional e que possibilite a partilha de recursos, saberes e poderes, viabilizando a particularização da intervenção com a população de cada bairro, permitindo que as repercussões dessa intervenção sejam sentidas pela própria comunidade e pela sociedade onde está inserida. Nos tempos de mudança que se vivem na atualidade, em que se verifica que os objetivos do milénio estão em retrocesso, confirmando-se a crise do Estado Social (com a persistência e o agravamento das desigualdades, a mercantilização do bem- Susana de Almeida Mesquita 33 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social estar, a escassez do recursos), os desafios globais tornam-se cada vez mais prementes (Rodrigues, 2011), assumindo o Serviço Social um papel indispensável como parceiro do conhecimento público, por se tratar de uma profissão de Direitos Humanos e de Justiça Social. Só assim será possível garantir a coesão social, a qual é definida pelo Conselho da Europa (Prignachi, 2007) como a capacidade que as sociedades têm de garantir o bem-estar de todos indivíduos, reduzindo as desigualdades, evitando a marginalização e assegurando a participação plena dos vários atores que as compõem. Para isso, também as organizações devem repensar as suas práticas de modo a potenciar a participação dos indivíduos, tornando-os cidadãos “(…) mais informados e conscientes dos seus direitos e deveres” (Madeira, 1996, p.5), de forma a adquirirem plenamente o estatuto de cidadania, “(…) o qual se constrói e encontra o seu fundamento na relação que os indivíduos estabelecem entre si e com instâncias que regulam a vida coletiva em que se apoiam” (Freitas, 2001, p.83). É essencial a tomada de consciência de que todos - moradores, atores sociais, organizações, dirigentes e responsáveis políticos - influenciam e contribuem para a construção das situações residenciais através das suas práticas e intervenções (Bonetti, 1998, apud Freitas (2001); Guerra, (2006a)). Daqui surge a pertinência de promover cada vez mais a participação dos indivíduos na sociedade a todos os níveis, inclusive nos serviços e nas estruturas em se encontram inseridos, tendo o Serviço Social um papel fundamental na agilização desse pressuposto. 2.4. ÂMBITO E PERTINÊNCIA Sendo esta investigação uma aproximação ao conhecimento da realidade social, pretende-se que se assuma como estratégia de repensar e possibilitar a renovação das práticas sociais (Martins, 1996). A experiência de trabalho nesta problemática suscitou diversas indagações, as quais não foram respondidas através da pesquisa bibliográfica, pois verificou-se não existir uma interligação dos estudos existentes sobre satisfação residencial e participação comunitária. Através da intervenção social que a investigadora realiza, no âmbito das suas funções profissionais na Divisão de Habitação (DHAB) da Câmara Municipal de Susana de Almeida Mesquita 34 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Sintra (CMS), concretamente junto dos moradores do bairro Fundação D. Pedro IV, em Mira Sintra, verifica-se que existem diferentes perceções sobre a satisfação residencial e uma baixa predisposição para participação comunitária, considerando-se importante estabelecer uma relação entre as duas variáveis. Ao aprofundar-se o conhecimento desta realidade específica, com traços comuns a todos os bairros de realojamento, pretendeu-se definir um modelo de intervenção social nestes problemas, que contribua para o crescimento do conhecimento em Serviço Social, para as boas práticas da intervenção social e para beneficiar a comunidade envolvida. Através da metodologia de investigação-ação pretendeu-se elevar o nível e a qualidade da intervenção profissional que se realiza e também produzir conhecimento específico, ajudando a progredir e a atualizar o quadro conceptual e analítico da disciplina. O objeto de estudo desta pesquisa incidiu assim, nas questões ligadas à satisfação residencial e à participação dos indivíduos residentes em bairros sociais sob gestão municipal, especificamente no bairro Fundação D. Pedro IV, no concelho de Sintra, na medida em que ao aprofundar o conhecimento nesta área, a autarquia poderá promover estratégias participativas que promovam a coesão social e consequentemente, a qualidade de vida destas comunidades. A conceção de um modelo de intervenção nos bairros de habitação social, promotor da satisfação residencial, da participação comunitária e da qualidade de vida dos indivíduos é um fator decisivo para a promoção da coesão social das comunidades alvo de processos de realojamento, para o próprio funcionamento dos serviços gestores de habitação social e para o sucesso da intervenção social nestes contextos residenciais. Susana de Almeida Mesquita 35 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Susana de Almeida Mesquita 36 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social “Durante a era glaciar os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram juntar-se em grupos, para se agasalharem e protegerem mutuamente, mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor. Por isso decidiram-se afastar uns dos outros e começaram de novo a morrer congelados. Então precisaram fazer uma escolha: ou desapareciam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros. Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima pode causar, já que o mais importante era o calor do outro. E assim sobreviveram.” (Autor desconhecido) 3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 3.1. O PROBLEMA As várias crises e recessões económicas que transitaram do século XX para o século XXI têm contribuído para o aparecimento de novas formas de pobreza, desigualdade e exclusão social graves, para as quais as formas de leitura e possibilidades de resolução exigem novas discussão no plano socioeconómico, político e até filosófico. A situação que se vive atualmente e que sucede do final do Século XX é, como sugere Boaventura Sousa Santos (apud Freitas, 2001) uma “situação de transição”, que se fundamenta “(…) na realização do Homem em liberdade, igualdade e solidariedade. Destes princípios têm emergido conceitos como o de cidadania, democracia, coesão e mudança (sustentabilidade)” (Ibidem, p.59). Cada vez mais se tem questionado o papel do Estado bem como a primazia dada aos sistemas económicos, ao seu domínio e à sua auto-regulação, estando “o conceito de bem comum (…) ausente da teoria económica contemporânea, que o substituiu pelos conceitos de «bem público» ou common (bem colectivo)” (Bruni, 2010, p.102). Estes dois conceitos acabam por se tornar opostos na medida em que os bens públicos sustentam-se numa perspetiva individualista, centrada nas coisas, onde não é feita a separação de competências entre atores públicos e não públicos, enquanto no bem comum a focalização não está nos bens mas sim nas pessoas e na relação entre elas, apelando à função das políticas públicas no desenvolvimento de sistemas de governança colaborativa (governance) (Freitas, 2001; Guerra, 2006a). Susana de Almeida Mesquita 37 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Na verdade, as sociedades de mercado, baseadas na crença de que é possível uma boa coexistência sem o encontro arriscado com o “outro”, atravessam na atualidade uma crise ao nível das relações entre os indivíduos, o que dificulta os processos de participação aos mais diversos níveis. Nas relações de mercado não é valorizada a cooperação e entreajuda gratuita, pelo contrário, existe uma “hierarquia”, em que o “outro” é alguém que “(…) está «acima» ou «abaixo» de mim, e não «ao lado», como um igual” (Bruni, 2010, p.42), com base numa relação contratual e anónima, o que tem contribuído para um crescente sentimento de solidão, exclusão e negativamente para a qualidade de vida dos indivíduos e para a coesão social. Conforme sugere Freitas (2001), torna-se necessária a compatibilização de interesses individuais e coletivos, tornando-se difícil distinguir lugares e globalização, indivíduo e sistema, liberdade e solidariedade, nós e outros, pois esse antagonismo agrava a dificuldade de entendimento dos processos. As formas de abordagem desta complexa realidade requerem uma nova visão que se baseie mais na partilha de proximidades do que nas oposições, de contrário continuará a verificar-se insatisfação face aos diversos níveis de tentativa de resposta a estas questões. Ao questionar-se o modelo da sociedade de mercado e do papel do Estado, as sociedades contemporâneas colocam o valor do Homem e da humanização das relações num lugar de relevo, descentralizando do “ter” para o “ser”, valorizando a humanização dos processos e as identidades, passando o bem-estar individual a sustentar as discussões relativas ao bem-estar social. Urge então uma renovação do debate sobre as questões da democracia, que implica a articulação entre a democracia representativa e a democracia participativa (Guerra, apud Freitas, 2001), pois a participação dos indivíduos “(…) parece inversamente proporcional à sua valorização nos discursos e nos documentos e são bem conhecidas as dificuldades de participação dos jovens e populações excluídas” (Guerra, 2006a, p.8). Na verdade, alguns estudos (McMillan e Chavis, 1986; Amaro, 2007; Elvas e Moniz, 2010) referem que a questão da participação, ativa e positiva dos indivíduos na sociedade e especificamente em contextos residenciais, contribui de forma significativa para o aumento da sua qualidade de vida e para a coesão social. A qualidade de vida relacionada com o bem-estar, passou a ser entendida de forma mais abrangente começando-se a dar mais relevo à sua dimensão relacional. Revelam-se Susana de Almeida Mesquita 38 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social assim outros conceitos relacionados, como a sustentabilidade, o empowerment, a emancipação, a globalização, entre outros. No que respeita especificamente às questões da habitação, verifica-se uma crítica profunda às políticas sociais desenvolvidas nos anos 90, questionando-se o papel do Estado na regulação da sociedade e da economia, especialmente no que concerne às populações mais vulneráveis. Essas políticas tiveram dificuldade em promover uma cidadania responsável tendo a habitação social mantido a mesma posição, caracterizando-se pelo peso burocrático e pelo distanciamento em relação às especificidades comunitárias e das populações, tendo criado locais onde se concentravam situações de pobreza e de exclusão social. Este último conceito, mais do que se referir apenas à pobreza pressupõe a acumulação de outras privações tais como a não participação na vida social, a ausência de oportunidades de trabalho e de acesso à educação, entre outras. As transformações provocadas pela globalização também tiveram repercussões relevantes nas questões do alojamento, nomeadamente pelo aumento de mobilidades, transformações sociodemográficas, diversificação dos modos de vida, transformações identitárias e pelos processos de individualização, que se refletem nas identidades “do lugar” e “da casa” (Guerra, 2008). Por estarmos numa época de grandes mobilidades espaciais, a coabitação de diferentes culturas é inevitável, obrigando a repensar as definições de cidadania e os limites à liberdade, exigindo uma discussão ética e orientações para a ação política e pública na gestão destas novas proximidades. Torna-se então imprescindível refletir sobre quais os contributos das políticas para a resolução dos problemas das pessoas e para a sua autonomização, sendo que essa autonomização só é possível com a concretização de uma cidadania plena, a qual exige a cada pessoa “(…) o desenvolvimento de um papel activo na história colectiva, que fosse fruto do encontro com a sua liberdade e autonomia, mas assegurasse o pleno desenvolvimento dessa liberdade na e com a relação com os seus pares.” (Freitas, 2001, p. 65) Para o ser humano se realizar e as nossas sociedades se tornarem verdadeiramente humanas, importa contrapor o ideal transmitido pela sociedade de mercado contemporânea que prometeu “uma boa convivência sem sofrimento e fraternidade” Susana de Almeida Mesquita 39 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social (Bruni, 2010, p.196), assumindo-se todos os «espinhos dolorosos» que a proximidade da relação com os outros pode gerar, como garantia da subsistência do bem-estar coletivo e da coesão social. 3.2. OS CONCEITOS DO PROBLEMA 3.2.1. PARTICIPAÇÃO Após a contextualização do problema em estudo, constata-se que a habitação detém um enorme potencial tanto na construção como na destruição da participação dos indivíduos, tal como na relação desse conceito com os de satisfação residencial e qualidade de vida. Porém, para se compreender concretamente o que se pretende com cada um destes conceitos foi necessário aprofundar a sua definição. O termo Participação não é claro, nem existe um consenso sobre o seu significado. No artigo 48º da Constituição da República Portuguesa (1989) está previsto que “todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direcção dos assuntos públicos do país, directamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos”4. Participar significa tomar parte em, associar-se, solidarizar-se com, compartilhar5; implicando uma mudança de paradigma e respeito pelos direitos dos outros. É comummente aceite que a participação é um valor, de tal forma que tem vindo a ser defendida, do ponto de vista político, como uma estratégia para enfrentar diversas situações, tendo até sido criado ao nível da União Europeia o programa Progress (Comissão Europeia, 2012), cuja finalidade é divulgar conhecimentos e boas práticas em matéria de participação, como objetivo fundamental das políticas de inclusão. Por se manifestar de diferentes formas (como pressão junto de instituições, como partilha de informações e ou responsabilidades, etc.), não é consensual a interpretação sobre o seu significado. Também poderá ser entendida como a inserção consciente e ativa das pessoas, grupos e organizações em processos sociais e políticos que lhes dizem respeito. Alguns estudos (Rich, R., et al, 1995) identificaram duas formas de participação comunitária: a participação nas organizações e movimentos sociais organizados pelos 4 5 Constituição da República Portuguesa, 2ª Revisão 1989, p. 42. Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora. Susana de Almeida Mesquita 40 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social cidadãos, como o associativismo, os quais identificam os seus próprios objectivos e métodos (Grass-roots), e a participação comunitária formal onde se prevê a possibilidade dos membros de uma comunidade influenciarem as decisões políticas (Government-mandated). Porém, considera-se que mesmo a participação nas organizações e movimentos sociais não consiste apenas na oferta voluntária de tempo ou recursos, pressupõe a reivindicação e contribuição da população no levantamento de problemas e de soluções alternativas a nível local, regional e até nacional. Contudo, frequentemente as populações não incorporam esse conceito, acabando por permitir a formação de uma elite, deixando de haver um processo pelo qual os indivíduos tomam parte nas tomadas de decisão das instituições, dos programas e nos ambientes que os afetam. As populações residentes nos bairros sociais sentem-se impotentes para encontrar soluções para as suas preocupações concretas tais como combater a criminalidade, a violência ou a intolerância. Levanta-se assim a questão de como se consegue envolver os elementos de determinada comunidade nos processos de decisão, já que ao nível da gestão habitacional do parque público também se tem verificado um conflito de interesses entre os indivíduos e o Estado, tanto no levantamento dos problemas como na busca das soluções, sendo esses interesses muitas vezes antagónicos. De forma a ultrapassar os interesses e visões opostas, as teses interacionistas oferecem pistas que se baseiam nas capacidades e contributos que ambas as partes apresentam. Mais do que olhar para as diferenças, importa ressaltar os processos relacionais subjacentes como sugere Freitas (2001), substituindo a participação passiva por projetos dinâmicos que ponham ao mesmo nível as relações entre atores. Torna-se necessário dar um novo sentido ao discurso da participação “(…) tanto em termos académicos como no âmbito da intervenção, que exige a análise dos conflitos e uma valorização dos contextos locais, mais do que dar centralidade à eficácia técnica” (Guerra, 2006a, p.8). Só através de uma gestão de proximidade, que inclua a gestão das diferenças e dos conflitos baseada nos “territórios relacionais” (Freitas, 2001), é que será possível promover uma participação ativa que promova a construção de autonomia e poderes, que gere regras e/ou estratégias flexíveis decorrentes de uma dinâmica de reflexão entre os atores, mas sempre conscientes de que a “(…) «participação» não é sinal de Susana de Almeida Mesquita 41 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social consenso e não tem significado de per si, se não se atender aos actores em presença, aos conteúdos em discussão e às suas relações com o contexto sistémico em que se inserem” (Guerra, 2006a:9). Para que haja sucesso nesse processo de gestão social a participação e implicação das populações em todo o processo é condição fundamental (…). A organização e auto-responsabilização dos moradores (…) na gestão e conservação dos bairros é obrigatória (…)”, implicando uma profunda alteração de mentalidades “(…) e da forma de funcionamento dos serviços de administração habitacional, criando novas formas de gestão dos processos de concepção, construção, ocupação e gestão dos bairros. (Ferreira, 1994, p.10) Para além do envolvimento das populações, quando olhamos para as comunidades verifica-se que tem de haver co-responsabilização, devendo todos os atores envolvidos fazer parte da solução. É necessário a importação do conceito “estratégia de atores” para a intervenção social (Guerra, 2006), reforçando as capacidades desses mesmos atores e as lógicas informais de sociabilidade e de interação, fazendo a articulação entre a satisfação das necessidades e a realização das capacidades dos indivíduos, “(…) criando condições para a participação, autonomia, solidariedade e para a igualdade” (Augusto, 1998, p.71). Trata-se assim de um processo solidário, cujos poderes são condição e garantia do desenvolvimento das autonomias necessárias à gestão de proximidade (Freitas, 2001), permitindo organizar intervenções sociais que facilitem a criação de comunidades competentes e saudáveis, onde se produza mudança social, com o objetivo de melhorar o bem-estar e a qualidade de vida dessa população através da participação ativa e positiva. É nesta perspetiva que a participação se torna num instrumento imprescindível da gestão social, que permitirá trabalhar tanto ao nível individual como coletivo o desenvolvimento das populações (Santos, 1991; Ornelas, 1998; Elvas e Moniz, 2010, Calheiros, 2012), bem como a consequente libertação dos processos muito burocratizados e rígidos, com base nos quais o Estado não consegue responder a alguns dos problemas quotidianos com que os indivíduos se deparam. De facto, o envolvimento dos indivíduos nos próprios serviços permite alterar as práticas nas estruturas organizacionais, bem como desenvolver novas estratégias de tomadas de decisão e de políticas públicas. Susana de Almeida Mesquita 42 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social A mobilização para a participação implica uma construção coletiva (Abbott, 1996) por parte dos atores institucionais e não institucionais que passe por: Focalização no problema evitando assim a desmobilização e o desperdício de energia que é necessário colocar nos processos participativos; Mobilização de vontades para a sua resolução, nomeadamente das vontades que implicam investimento do próprio (institucional e outros); Reconhecimento coletivo quer do objetivo que se pretende, quer do processo que tem de ser desencadeado nomeadamente através da, Definição das regras e dos papéis dos participantes no processo. Alguns autores confirmam que “a participação activa na comunidade, o envolvimento efectivo em organizações políticas e a mobilização comunitária em torno dos problemas sociais, afastam por completo níveis baixos de satisfação de vida” (Elvas e Moniz, 2010, p.462), pelo que se considera a participação como uma das várias componentes que englobam o conceito de qualidade de vida, como elemento fundamental para a melhoria da mesma, junto de uma comunidade de um bairro residencial. 3.2.2. QUALIDADE DE VIDA A qualidade de vida engloba diversos aspetos, que vão das questões materiais ligadas às necessidades básicas do ser humano, até às questões imateriais como a segurança, a participação cívica, relacionamentos de vizinhança, entre outros. Tal como a participação, trata-se de um conceito pouco claro e com diferentes leituras, consoante o contexto em que é utilizado. Nos anos 60 é pela primeira vez definido o conceito de qualidade de vida e estava intimamente ligado ao desenvolvimento económico das sociedades (Freitas, 2001; Santos, 2002; Freitas et al, 2008). Só mais tarde na década de 90, se passou a associar o conceito de qualidade de vida às questões imateriais e subjetivas como a segurança, a participação cívica, as perceções e o bem-estar dos indivíduos e das comunidades, numa perspetiva mais abrangente. Susana de Almeida Mesquita 43 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Assim, segundo Santos (2002) podem ser considerados três níveis de análise interdependentes e indissociáveis da qualidade de vida, a saber: - Os aspetos materiais de natureza física (condições de habitação, acesso à saúde e ao dinheiro, ambiente, património e bem-estar); - Os aspetos imateriais individuais (família, relações pessoais e familiares) e coletivos (vizinhanças, participação cívica) e, por último, - Os aspetos subjetivos (perceções) e objetivos (indicadores quantitativos) da qualidade de vida. Quando a qualidade de vida é abordada no contexto das relações do indivíduo com o meio, muitas vezes esse conceito encontra-se relacionado com outros como o de bem-estar, satisfação e felicidade. A relação que se estabelece entre esses conceitos pode ser utilizada numa perspetiva macrossocial - em que bem-estar e qualidade de vida “(…) remetem para processos de socialização da felicidade (…)” - ou numa perspetiva mais subjetiva - quando “(…) remetem para a satisfação em função de necessidades ou operacionalização de aspirações” (Weidemann e Andersen apud. Freitas et al, 2008) 6. Por outro lado, alguns estudos na área da psicologia comunitária (Elvas e Moniz, 2010) associam o conceito de qualidade de vida ao de sentimento de comunidade, nomeadamente quando se estudam contextos comunitários de vizinhança. Este conceito consiste, em primeiro lugar, na identificação e interdependência que determinado indivíduo tem com uma comunidade relacional específica, estando unido aos outros membros por interesses comuns como a religião ou a profissão (Amaro, 2007). Também pode ser aplicado quando se trata de comunidades geográficas, embora seja importante não confundir comunidade com vizinhança pois, embora haja partilha do mesmo contexto geográfico, não significa que haja interação, partilha de recursos ou o reconhecimento de que são parte de uma mesma comunidade (relacional). A influência do sentimento de comunidade na participação comunitária torna-se assim óbvia pois “o sentimento de (…) pertença em relação a uma vizinhança, a preocupação demonstrada pelos outros e o acreditar que alguém se preocupa com 6 No anexo A pode visualizar-se o Modelo de Relação entre os Conceitos de Qualidade de Vida de Weidemann & Andersen (apud. Freitas et al, 2008). Susana de Almeida Mesquita 44 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social o(a) próprio(a) são atitudes cruciais que podem apoiar ou desencorajar a participação.” (Ornelas, 2002, p.11) Nesses casos, são as relações de vizinhança que dão um maior contributo para a promoção da qualidade de vida, prevenindo assim a solidão e o isolamento social. Neste estudo centrar-nos-emos nas relações de vizinhança como contributo efetivo para a qualidade de vida e para a participação comunitária da população de um contexto geográfico específico. 3.2.3. SATISFAÇÃO RESIDENCIAL O que significa estar satisfeito ao nível residencial? É ter assegurado apenas os aspetos físicos do alojamento, do edifício, da rua, do bairro? Existirão outras qualidades intrínsecas à habitação, essenciais para que seja reconhecida e sentida a satisfação residencial? O conceito de satisfação residencial é, também ele, ambíguo e pouco consensual na medida em que pode ser visto numa perspetiva micro - ao nível da casa - ou macro quando se relaciona com um bairro ou cidade. É igualmente um indicador subjetivo de qualidade de vida e de bem-estar, pois relaciona-se com as perceções, os anseios, as crenças, os valores e as atitudes, que são essenciais para uma avaliação mais profunda da satisfação num ambiente específico, que neste caso incide no bairro, na habitação, no edifício, nos espaços públicos, nos equipamentos existentes e nas relações de vizinhança (Freitas et al, 2008). Alguns estudos mais recentes defendem que a satisfação residencial está mais associada às atitudes dos indivíduos relativamente ao local onde vivem e, segundo Amérigo (1995), é através da interação pessoa-ambiente que o espaço é construído. Aqui, a ênfase é colocada nas dimensões sociais e relacionais, as quais interferem diretamente no bem-estar e na qualidade de vida, sendo que “é ao descentrar a leitura das necessidades e motivações dos objectos habitacionais e ao recentrá-la nas dimensões relacionais que as questões da habitação passam a assumir precisamente um estatuto intervencionável e político (…).” (Freitas, 2001, p.445) Susana de Almeida Mesquita 45 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Relativamente aos bairros de habitação social municipal verifica-se que o facto de existir uma elevada concentração de populações socioeconomicamente desfavorecidas e de diferentes origens culturais no mesmo local, cria obstáculos que levam à desidentificação do indivíduo com o bairro (Guerra, 2008) e geram sentimentos de insatisfação residencial. A simples atribuição de uma casa como solução das necessidades habitacionais, parece não ser suficiente para assegurar a satisfação residencial e a qualidade de vida individual e coletiva. As condições sociais e económicas em que vive a maioria das famílias realojadas, as quais apresentam diversas fragilidades tais como baixos recursos económicos, baixa escolarização, baixa qualificação profissional e empregos precários; o facto de os bairros serem muitas vezes construídos nas periferias, sem infraestruturas de apoio; de os processos de conceção e construção serem limitados por diversos condicionalismos (que levam, nalguns casos, a construções mais frágeis e mais facilmente degradáveis), e ainda a burocratização da gestão dos processos (e portanto, o distanciamento das populações), são aspetos que contribuem para o estigma existente relativamente à habitação social (Pereira e Cassis, 1994). Assim, em muitos casos, a habitação social demonstrou dificuldade em desenvolver o seu potencial de promoção do espaço relacional, bem como a apropriação social desse mesmo espaço, estando essa dificuldade muitas vezes associada às representações sociais existentes sobre esses territórios, isto é, às imagens colectivas (…), a importância do valor social ou imagem pública que esses contextos adquirem, (…) que acabam por definir as posições relativas dos indivíduos, das suas identidades e das suas sensações e manifestações de bem-estar, em sistemas colectivos de acção socio-territorial. (Freitas, 2001, p.108) Estas populações deparam-se assim com uma dupla pressão, denominada por Freitas (2001) como “Efeito Sandwich”7 que consiste numa pressão de topo provocada pelas representações sociais negativas e estigmatizantes sobre estes territórios e, numa pressão de base decorrente da vulnerabilidade social tanto a nível individual como coletivo, tendo estes indivíduos dificuldade em organizar estratégias de afirmação. Por outro lado, a satisfação residencial também não é suficiente para assegurar a motivação para a participação pois esta não é apenas uma questão da população, pelo contrário, precisa de se apoiar num objetivo comum. 7 Ilustração do fenómeno “Efeito Sandwich” proposto por Freitas, (2001) no anexo B. Susana de Almeida Mesquita 46 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Consideramos porém, que através da avaliação da satisfação residencial poderão ser encontradas pistas que fundamentem as dificuldades dos processos participativos e que possam ser revelados os aspetos a trabalhar junto das populações residentes em bairros de habitação social municipal. Susana de Almeida Mesquita 47 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Susana de Almeida Mesquita 48 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social “Não há estrada real para a ciência e só têm possibilidade de chegar aos seus cumes luminosos aqueles que não temem fatigar-se a escalar as suas veredas escarpadas”. (Karl Marx, in “Capital”, 24/01/1873) “O termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, factos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível.” (Chizzotti, 2003:221) A estratégia de triangulação ajuda a aumentar a fiabilidade da abordagem qualitativa, as diferentes perspetivas complementam-se, podendo ser uma forma de compensar as fraquezas de cada método. (Flick, 2005) 4. METODOLOGIA 4.1. MODELO ANALÍTICO PROPOSTO No que respeita à leitura que se pretende fazer dos conceitos de satisfação residencial, participação e qualidade de vida, estes enquadram-se na área da habitação social, a qual é complexa, dinâmica e nem sempre contribuiu para uma lógica de integração e inserção urbana das populações mais desfavorecidas. A ilustração1 representa a leitura que se pretende fazer da Satisfação Residencial e da Participação em relação com a Qualidade de Vida, na perspetiva das questões da Habitação, num contexto territorial específico. Contexto Territorial Satisfação Residencial Participação Comunitária Ques tões da habit ação Ilustração 1 - Susana de Almeida Mesquita Modelo analítico proposto, ilustração nossa 49 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Pretende-se analisar quais as questões suficientemente abrangentes da Habitação que, ao serem trabalhadas, poderão viabilizar e otimizar as vantagens da introdução de processos participativos que promovam a qualidade de vida das pessoas, num contexto territorial específico, que neste caso será o bairro Fundação D. Pedro IV em Mira Sintra. Porém, como já foi referido, a Habitação engloba muitas vertentes na sua gestão, sendo por isso imprescindível focalizar o estudo numa das suas áreas específicas. Através da ilustração 2 é possível reconhecer a complexidade e abrangência das questões ligadas à habitação. GESTÃO MERCADO GESTÃO FINANCEIRA GESTÃO POLITICA GESTÃO SOCIAL (de proximidade num território específico) GESTÃO PATRIMONIAL GESTÃO JURIDICA (Todo o parque habitacional) GESTÃO TERRITORIAL Ilustração 2 - Componentes da Gestão da Habitação, ilustração nossa No caso presente, pretende-se focalizar o estudo na gestão social, pelo que se destaca o item a amarelo. As linhas de conexão pretendem chamar a atenção para o facto de todas as outras componentes se ligarem com a gestão social, não se podendo dela dissociar. Ao relacionar-se a satisfação residencial com a participação comunitária, tendo como ponto de partida as questões da habitação - as quais não só influenciam estas variáveis, mas também nas quais o Assistente Social tem uma intervenção direta no âmbito da gestão social - interessava identificar as principais dimensões da gestão, se existem e como são realizadas internamente pela Divisão de Habitação. Por outro lado, importava aferir quais são os aspetos que integram o conceito de qualidade de vida no âmbito habitacional e, em que medida a intervenção social facilita ou não o acesso dos indivíduos a essas dimensões. Susana de Almeida Mesquita 50 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Num primeiro momento foi realizado o levantamento das atribuições do Assistente Social nesta área, tendo-se destacado os aspetos abrangentes da intervenção social ao nível da gestão os quais, em termos gerais, se podem sintetizar em três áreas abrangentes a saber, Planeamento, Comunicação e Mediação. Estas três dimensões da gestão são realizadas ao nível interno (com o próprio serviço e restantes unidades orgânicas da autarquia) e externo (com os clientes e parceiros institucionais). São dimensões da intervenção que têm implicações concretas nas questões da qualidade de vida dos indivíduos e que foram subdivididas em questões físicas, perceções, questões relacionais, participação individual e participação coletiva. Num segundo momento levantou-se a questão da função da gestão habitacional e a forma como tem sido realizada. Mais uma vez se destaca que, neste estudo, a participação é vista como um processo que visa “empoderar” os indivíduos habilitandoos a tomar iniciativas, a organizarem-se, dando-lhes mais autonomia e menos dependência dos serviços camarários. Para responder a cada uma destas questões construiu-se a grelha de análise que se apresenta no ponto 4.5.3, onde se explicita a metodologia utilizada. 4.2. PERGUNTA DE PARTIDA E QUESTÕES DA INVESTIGAÇÃO Tentando congregar os conceitos teóricos referidos no capítulo anterior foram-se percorrendo várias etapas reflexivas, até se chegar à construção de uma pergunta de partida, que transmitisse com clareza o que se pretendeu aprofundar neste estudo, a saber: Em que medida a satisfação residencial permite identificar e consolidar uma estratégia participativa, que concorra para o desenvolvimento da qualidade de vida das comunidades, especificamente no bairro Fundação D. Pedro IV (Mira Sintra)? Pretendeu-se dar resposta às seguintes questões da investigação: QI 1. Qual o nível de satisfação residencial dos indivíduos alvo de realojamento social no bairro Fundação D. Pedro IV? QI 2. Através da variável satisfação residencial é possível identificar pistas para a participação comunitária dos residentes no bairro em estudo? QI 3. A satisfação residencial e a motivação para a participação são sinónimos de bem-estar/qualidade de vida e coesão social junto desta comunidade? Susana de Almeida Mesquita 51 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social 4.3. OBJETIVOS DE INVESTIGAÇÃO 4.3.1. OBJETIVOS GERAIS Através deste estudo procurou-se sistematizar as perceções de satisfação residencial dos moradores do bairro Fundação D. Pedro IV (Mira Sintra) e identificar as dimensões da gestão social que podem contribuir para a consolidação de uma estratégia participativa, base essencial para a criação de um modelo de intervenção social neste âmbito. 4.3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS A partir do objetivo geral apresentado, definiram-se os seguintes objetivos específicos: a) Avaliar o nível de satisfação residencial desta comunidade específica; b) Estabelecer uma relação entre satisfação residencial, participação comunitária e qualidade de vida; c) Identificar características sociodemográficas passíveis de influenciar a participação comunitária dos moradores; d) Identificar e sistematizar categorias que sirvam de base à criação de um modelo analítico da realidade e de intervenção social. 4.4. OPÇÕES METODOLÓGICAS Em todos os processos de pesquisa levantam-se questões éticas que importa reconhecer, tais como os aspetos afetivo-relacionais (por se tratar de uma relação intimista entre investigador e entrevistados), devido ao número de sujeitos envolvidos (com a consequente possibilidade de quebra do compromisso de confidencialidade), sendo para isso importante garantir a neutralidade e o controlo dos juízos de valor, a confidencialidade, a clareza de ideias e a devolução dos resultados. A participação no estudo pressupôs-se voluntária e foi salvaguardada a obtenção do consentimento informado dos participantes (Anexo C), protegendo assim os seus interesses e garantindo a integridade do processo de pesquisa. Susana de Almeida Mesquita 52 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Optou-se no presente estudo, pelo paradigma crítico-social o qual se assume como um processo participativo tanto do investigador como dos atores sociais, em que ambos partilham responsabilidades e tomam decisões, numa lógica abdutiva (mais ligada à eficiência do que à eficácia). Atendendo a que se trata de uma pesquisa de cariz misto com incidência nas questões qualitativas, pretendeu-se compreender o mundo social tal como ele é percebido e vivido pelos indivíduos, e não pelo investigador, ao nível da sua experiência subjetiva (Guerra, 2006), compreendendo amplamente o fenómeno em estudo sem pretender controlá-lo. Por outro lado, considerou-se importante dar ênfase aos aspetos do mundo simbólico, à forma como os indivíduos constroem significados na sua interação com os outros, às suas próprias ações e ao seu contexto (Flick, 2005). Ao optar-se por esta forma de compreender a realidade, pretendeu-se dar sentido ao que é apreendido pelos indivíduos diretamente envolvidos no estudo, assumindo que só através do aprofundamento dessa subjetividade seria possível objetivar o problema em análise. Se o positivismo mantém a separação entre investigador e investigado, desumanizando os indivíduos, que são vistos mais como objetos do que como pessoas, ao contrário do que acontece na ciência tradicional positivista, a investigação-ação valoriza a participação das pessoas com quem se trabalha, envolvendo-as no processo de investigação e humanizando-as (Martins, 1996). Para efetivar esta ligação entre a teoria e a prática profissional, o trabalho pretendeu analisar “(…) o real como um conjunto de subsistemas interactivos que não são inteiramente dependentes dos seus elementos constitutivos” (Guerra, 2000, p.63). O método do estudo de caso permitiu uma investigação mais profunda do problema em análise reforçando a importância do contexto, no qual estão simultaneamente envolvidos diversos fatores para a compreensão e explicação dos fenómenos estudados (Yin, 1994). Trata-se de uma estratégia bastante utilizada quando o campo de investigação se concentra num fenómeno natural e dentro de um contexto de vida real. Embora este método, regra geral, não permita generalizações a outros contextos, o que se pretendia era generalizar proposições teóricas (modelos) e não proposições sobre populações (Guerra, 2006). Ainda que neste tipo de investigação seja mais comum utilizarem-se as metodologias de cariz qualitativo, alguns autores defendem a complementaridade dos métodos Susana de Almeida Mesquita 53 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social qualitativos e quantitativos (Carmo e Ferreira, 1998; Flick, 2005; Guerra, 2006), o que se conjugou neste trabalho. Ao ter-se optado por utilizar diversas fontes de evidência foi possível, não só assegurar as diferentes perspetivas dos participantes no estudo, mas também a triangulação dos dados durante a fase de análise dos mesmos. Neste sentido, para além da análise documental, recorremos a dois tipos de interlocutores: a comunidade técnica (através da aplicação de uma grelha de análise) e a comunidade residente (através da aplicação de uma escala de satisfação e de focus groups). Relativamente à comunidade técnica, a aplicação da grelha de análise das questões da habitação pretendeu operacionalizar as dimensões da gestão social e a sua interferência na qualidade de vida dos indivíduos, nos diversos níveis definidos. O esclarecimento dessas dimensões possibilitou uma leitura diagnóstica do contexto estudado, identificar as áreas problemáticas a melhorar e as potencialidades a desenvolver tanto a nível interno da autarquia como junto da população estudada. No que respeita à população residente, o instrumento quantitativo (escala de satisfação residencial) tinha como objetivo medir os níveis de satisfação residencial dos moradores do bairro Fundação D. Pedro IV, enquanto a recolha qualitativa (SPIRAL) pretendeu captar outras dimensões da satisfação residencial e da participação, aprofundando o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas em estudo. Assim, foi possível ouvir e compilar informações de duas comunidades relevantes (normalmente não consideradas em conjunto neste tipo de estudos) para o desenvolvimento do territórios, de modo a compreender como estes vários atores sentem ou pensam o território, o que não teria sido possível conhecer de outra forma. Face à opção metodológica tomada, o universo constituiu-se pelos bairros sociais municipais, incidindo o estudo na população residente no núcleo de realojamento PER do bairro Fundação D. Pedro IV, em Mira Sintra, sob gestão da Câmara Municipal de Sintra (CMS). Susana de Almeida Mesquita 54 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social 4.5. TÉCNICAS DE RECOLHA DE DADOS A escolha de determinadas técnicas de recolha de dados está diretamente ligada com as opções teóricas e metodológicas adotadas e com os objetivos de pesquisa previamente definidos. Assim, utilizaram-se as seguintes técnicas: 4.5.1. ANÁLISE DOCUMENTAL O material recolhido através da análise documental permitiu validar evidências de outras fontes e/ou acrescentar informações. Baseou-se em documentos existentes sobre a freguesia de Mira Sintra, onde o bairro de realojamento se encontra implantado, em relatórios e outras fontes bibliográficas/documentais existentes na Divisão de Habitação, artigos de jornais e revistas. 4.5.2. FICHAS DE OBSERVAÇÃO TÉCNICA Preenchidas aquando das visitas ao bairro, com registos sobre a envolvente, levantamento das infraestruturas, equipamentos e serviços existentes no bairro e na zona na envolvente, observação da vivência quotidiana dos espaços, das zonas públicas e semipúblicas, e recolha de imagens. 4.5.3. GRELHA DE ANÁLISE Foi igualmente criada a grelha que se apresenta de seguida (Cf. Tabela 1) para recolha de dados, e que constitui um instrumento de avaliação diagnóstica das componentes da gestão social ao nível da autarquia, que influenciam a qualidade de vida dos indivíduos residentes em determinado contexto territorial. Susana de Almeida Mesquita 55 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Tabela 1 - Grelha de Análise das Questões da Habitação elaborada pelo autor Qualidade de Vida Dimensões Planeamento da Gestão Questões Físicas - Existência e tipo de intervenções físicas planeadas. Perceções - Nível de informação e conhecimento sobre Planos Atividade das diferentes entidades que operam no terreno. Questões Relacionais - Incidência de ações orientadas para a melhoria das relações de vizinhança. - Caraterização das ações em função dos objetivos. Comunicação - Tipo de relações de vizinhança predominantes; - Caracterização do espaço em termos de viabilização de comunicação entre moradores e outros. - Reconhecimento dos interlocutores, meios e códigos de comunicação com a autarquia. - Tipo de relações c/ vizinhança próxima; - Tipo de comunicação c/ serviços; Mediação - Tipo de relação entre serviços. - Função dos espaços semipúblicos e públicos - Espaço utilizado p/ atividades de mediação técnica. - Tipo de atividades de mediação no território: - CMS - Associações - Líder local. - Tipo de mediação solicitada; - Tipo de mediação autónoma. Participação individual Participação coletiva Envolvimento dos moradores: Envolvimento dos moradores: -awarness (consciência dos problemas do bairro); -awarness (consciência dos problemas do bairro); - implicação - implicação - decisão - decisão - implementação - implementação - Caracterizar as iniciativas por parte dos moradores e por parte dos serviços; - Caracterizar as iniciativas por parte dos moradores e por parte dos serviços; - Tipos de comunicação existentes. - Tipos de comunicação existentes. Postura de empowerment. Postura de empowerment. Numa breve explicação da grelha, relativamente ao Planeamento pretendia-se aferir se este existe quanto às intervenções físicas no bairro, qual o nível de informação por parte dos técnicos, associações locais e população sobre esses mesmos planos. Por outro lado, se os planos de atividade das diversas entidades que operam no terreno são partilhados e se neles existem ações específicas orientadas para a melhoria das relações de vizinhança e para a participação. Nas questões da participação individual e coletiva, será que a população tem consciência (awarness) dos problemas do bairro? Depois de conscientes, estão implicados? Estão envolvidos nas decisões e na implementação da própria ação? No que respeita à Comunicação, importava reconhecer o tipo de comunicação que é feito através do espaço (questões físicas), tanto por parte da população como da autarquia e como é feita a apropriação do espaço no bairro. Será que há o Susana de Almeida Mesquita 56 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social reconhecimento dos interlocutores e dos meios de comunicação com a autarquia, qual o feed-back e quais os canais existentes? Quais são os códigos e expressões utilizados? E os meios de comunicação informal? Avaliar também o tipo de relação entre as várias entidades, a regularidade e a intensidade da comunicação com parceiros e população, bem como caraterizar as relações de vizinhança próxima e alargada. Relativamente à Mediação, aferir se a população reconhece o Assistente Social enquanto mediador, que tipo de mediação – familiar, de vizinhança, comunitária – e até que ponto essa relação de mediação é importante para promover a participação individual e coletiva. Por outro lado, através da mediação a população reconhece o trabalho da CMS? Qual o tipo de mediação existente, é centralizada na resolução de problemas ou vocacionada para a participação? Qual o potencial de participação coletiva que a população tem? De referir que, pela pertinência demonstrada, esta grelha de análise poderá ser um instrumento de trabalho extensível a outros contextos territoriais residenciais, a qual permitirá fazer uma leitura diagnóstica dos aspetos da gestão social a privilegiar, com vista a uma intervenção mais eficaz junto das comunidades residentes em habitação social. Em torno da grelha analítica constituiu-se um mini focus-group8 com três das Assistentes Sociais que fazem a gestão social de núcleos de realojamento da Divisão de Habitação da Câmara Municipal de Sintra, bem como foram realizadas duas entrevistas semiestruturadas separadas às Assistentes Sociais que também trabalham com esta população, representantes da Junta de Freguesa de Mira Sintra (JFMS) e da associação local Casa Seis (IPSS) respetivamente9. 4.5.4. QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO RESIDENCIAL E ESCALA DE SATISFAÇÃO O questionário dividiu-se em duas secções, em que a primeira continha a caracterização sociodemográfica da população em estudo e é um instrumento já utilizado na Divisão de Habitação da Câmara Municipal de Sintra (anexo C). Na segunda secção as questões pretendiam analisar a satisfação residencial e foram 8 9 No presente texto optou-se por manter a denominação inglesa de técnica de focus group. Os resultados do preenchimento da grelha analítica podem consultar-se no anexo D. Susana de Almeida Mesquita 57 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social construídas com base no modelo proposto por Maria João Freitas, et al (2008), com as necessárias adaptações. Importa referir que a escala original apresentou um elevado grau de consistência e fidelidade, tendo sido posteriormente aplicada noutros contextos com resultados igualmente muito positivos. A escala adaptada era composta por 95 itens organizados em 5 grandes grupos de indicadores: Alojamento (32 itens), Edifício e Espaços Comuns (14 itens), Espaço exterior/Envolvente/Equipamentos (15 itens), Vizinhança próxima/alargada (28 itens), Organização/Gestão do bairro (6 itens). Trata-se de uma escala ordinal de 4 pontos (1 a 4) que permite a classificação de nada satisfeito (1) até muito satisfeito (4) em cada item considerado. Foram acrescentadas questões sobre o percurso residencial, tempo de residência no bairro, satisfação quanto ao valor da renda, quanto ao processo de atribuição do fogo e desejo de mudar de casa/bairro ou ambos, pois consideraram-se necessárias para o estudo em questão. O questionário e escala foram alvo de um pré-teste a cinco arrendatários, com o objetivo de verificar se os itens eram claros e percetíveis, tendose chegado à versão final (anexo F) aplicada aos participantes. O instrumento foi reconhecido pela autarquia como boa prática e recentemente inserido no Manual de Procedimentos de Gestão da Qualidade da Divisão de Habitação. Foram administrados em contexto de atendimento social, nas instalações da Divisão de Habitação da CMS, no âmbito do processo de atualização de rendas para 2012. Não se definiu obrigatoriedade de resposta pelos titulares do arrendamento, sendo apenas obrigatório o facto de o respondente residir no agregado familiar e ter mais de 18 anos. Os inquiridos residiam nos 6 edifícios que constituem o núcleo de realojamento, situados em duas ruas – Fundação D. Pedro IV nº1, 2, 3, 5 e 6, e na Av. Timor Loro Sae nº 11. Foram esclarecidos os objetivos do estudo a todos os respondentes e assegurada a confidencialidade da informação prestada. Pretendeu-se assegurar que todos os indivíduos na população tivessem a mesma oportunidade de seleção, nomeadamente os representantes de todas as frações habitacionais sob gestão municipal (N=91). Assim, responderam um total de 79 indivíduos, residentes no bairro Fundação D. Pedro IV, em Mira Sintra, o que corresponde a 86,8% do total de fogos existentes. Não foi possível aplicar à totalidade Susana de Almeida Mesquita 58 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social dos titulares do arrendamento porque, nessa data, encontravam-se 3 fogos devolutos e 9 dos moradores fizeram-se representar por amigos ou familiares não residentes no fogo camarário, inviabilizando assim a aplicação do questionário aos mesmos. A análise dos dados foi realizada através do programa Excel. 4.5.5. SPIRAL - SOCIETAL PROGRESS INDICATORS AND RESPONSIBILITIES 10 FOR ALL Permitiu aprofundar as questões relacionadas com o bem-estar, do qual fazem parte as questões da participação e a forma de a promover, tanto ao nível dos procedimentos internos da autarquia como do envolvimento da população deste bairro. Trata-se de uma ferramenta desenvolvida pelo Conselho da Europa com o objetivo avaliar as questões do bem-estar e da coesão social, sendo esta entendida enquanto medida de política que visa “(…) «a promoção do desenvolvimento social» e que deverá basear o seu trabalho em metodologias participativas (…). A SPIRAL, partindo da premissa de que a definição de bem-estar de todos deve ser construída a partir da visão dos próprios cidadãos, assenta na realização de reuniões com pequenos grupos homogéneos, organizados segundo se pretende conhecer” (Tobias, 2011, p.6). Os grupos homogéneos são formados por pessoas com características idênticas (idade, profissões, género, minorias, etc.) que, ao interagirem entre pares, têm mais facilidade em participar no diálogo e representam um grupo específico da comunidade em estudo. Assim, e dos resultados decorrentes do estudo quantitativo sobre a satisfação residencial foram definidos três grupos homogéneos, a saber: - Mulheres realojadas, representantes de todos os edifícios que constituem o núcleo de realojamento, já que são quem tem uma participação mais ativa na vida do bairro; - Mulheres ciganas que residem em barracas nos fundos vazados dos prédios, dadas as características socioculturais desta população e por serem apontadas pela restante população como parte do problema; 10 De referir que a investigadora frequentou duas ações de formação sobre a aplicação e tratamento de dados sobre a SPIRAL e ESPOIR, promovidas pelo Conselho Local de Ação Social (CLAS) / Rede social do Departamento de Ação Social, Saúde e Habitação (DAH), da Câmara Municipal de Sintra. Susana de Almeida Mesquita 59 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social - Jovens (18 aos 22 anos) filhos de arrendatários, especificamente os que fazem parte do grupo problemático identificado pela restante população. Por se tratar da análise compreensiva sobre uma população definida, a escolha dos participantes foi intencional baseando-se nos critérios teóricos referidos em detrimento de critérios probabilísticos, bem como nas pistas lançadas pelo estudo quantitativo sobre a satisfação residencial, num total de 28 indivíduos. Ao invés de se privilegiar a representatividade estatística interessava antes garantir a representatividade social, conforme já foi referido. A vantagem desta ferramenta é já ser utilizada desde 2005 e estar devidamente testada, tendo sido integrada em 2010 no Plano de Ação para a Coesão Social do Conselho da Europa. É idêntica ao Focus Group ou Nuvem de Problemas, tem vindo a ser utilizada por toda a Europa, com a vantagem de se poderem comparar os dados com os de outros territórios. A recolha foi realizada em grupos que variaram de 7 a 11 elementos, num total de 28 participantes aos quais foram explicitados os objetivos das reuniões e do estudo. Realizaram-se duas reuniões com cada grupo, sendo que na primeira foram lançadas as três perguntas que constituem esta ferramenta, a saber – “O que é para si o bemestar?”; “O que é para si o mal-estar?”; “O que faz ou pode fazer para melhorar o seu bem-estar e o bem-estar de todos?” As opiniões são expressas, num primeiro momento com o registo de palavras ou pequenas frases em post-it, depois são apresentados e discutidos em grupo. Os participantes podem sempre acrescentar os seus contributos durante a sessão. Na segunda reunião, foram devolvidos os resultados e lançada uma quarta questão – “Você definiu o bem-estar no seu território como aparece na síntese. Acha que devem ser acionados outros critérios para que as gerações futuras possam ter acesso ao bem-estar?”, tendo-se procedido de forma idêntica à primeira. Os dados recolhidos foram trabalhados através do programa ESPOIR – Élaborer le Progrés Sociétal par l’Organisation d’Indicateurs Raisonnés, e foram codificados com base nas 8 dimensões e 60 componentes de bem-estar pré-definidas pela SPIRAL (anexo G). Susana de Almeida Mesquita 60 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social “«(…)o melhor caminho para que as diversidades se transformem de embate em encontro, é compreender profundamente o outro, sem, no entanto, renunciar às nossas certezas (…) e, juntos, encontrar caminhos novos.»” (Maria Emaús apud Zambonini, 2010) 5. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Antes de se passar à análise e interpretação dos dados obtidos considerou-se pertinente fazer a caracterização do bairro camarário em estudo, bem como do contexto de intervenção, através da grelha de análise das questões da habitação. Por outro lado, caracterizar a população entrevistada ali residente, dados esses obtidos através da ficha de caraterização sociodemográfica já referida. 5.1. CARACTERIZAÇÃO SOCIAL E URBANÍSTICA DO BAIRRO FUNDAÇÃO D. PEDRO IV O bairro Fundação D. Pedro IV situa-se na freguesia de Mira Sintra, uma das vinte que fazem parte do concelho de Sintra (anexo H), recentemente desanexada da antiga freguesia Agualva-Cacém, sendo a menor no que respeita à área geográfica com 115,47 hectares e à sua população, com 5.280 habitantes (Censos, 2011). O nome "Mira Sintra" deve-se à localização privilegiada onde é possível vislumbrar a vista da serra de Sintra. Nos anos 70 e 80 existia apenas o "Bairro de Mira Sintra", cujos terrenos eram propriedade do Estado e, onde o Fundo de Fomento à Habitação (FFH) construiu, a custos controlados, habitações destinadas a famílias com baixos rendimentos em regime de propriedade resolúvel e arrendamento. Portanto na sua génese, o bairro de Mira Sintra era todo ele de habitação social. Em termos sociais Mira Sintra destaca-se das restantes da cidade do Cacém pelos baixos índices de criminalidade registados. Hoje em dia a freguesia estende-se por uma área da qual fazem parte 4 núcleos de habitação social sob gestão da Divisão de Habitação da CMS (anexo I), um dos quais o bairro em estudo. O bairro Fundação D. Pedro IV foi construído no âmbito do PER, constitui-se por 112 fogos dos quais 91 foram adquiridos pela Câmara Municipal de Sintra (CMS) e 21 Susana de Almeida Mesquita 61 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social mantêm-se sobre tutela da IPSS - Fundação D. Pedro IV. Especificamente o núcleo de realojamento camarário (91 fogos) detém 6 edifícios com 3 a 5 pisos (no caso dos que têm caves) sem elevador, cujas tipologias dos fogos variam de T1 a T4. As famílias foram realojadas em 2001, tinham origem cultural predominantemente africana e, provieram dos bairros de barracas localizados nos “Quatro Caminhos”, “Azinhaga da Abelheira”, “Bairro Alegre” e “Gama Barros”, no Cacém. Previamente ao realojamento foi desenvolvido um trabalho em pareceria com a Equipa de Apoios Educativos do Ministério da Educação, com o Centro Educação do Cidadão Deficiente de Mira Sintra (CECD) e com a Santa Casa da Misericórdia de Sintra. Após o realojamento das famílias, a CMS disponibilizou um espaço destinado ao Observatório Local que desde o início tem vindo a ser gerido pela IPSS Casa Seis, a qual já detinha a sua sede junto ao bairro de barracas da Azinhaga da Abelheira11. 5.2. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ENTREVISTADA A população que respondeu ao questionário sobre a satisfação residencial, num total de 79 indivíduos, situava-se no escalão etário entre os 25 e 64 anos. De referir que a subdivisão dos escalões etários é a que se encontra definida nas grelhas de caracterização sociodemográfica utilizadas pelo município de Sintra, pelo que se mantiveram os critérios aí definidos. A maioria dos respondentes era do sexo feminino com 68% do total, em oposição a 32% do sexo masculino. Relativamente a este dado importa referir que, regra geral são as mulheres quem detém maior proatividade para gerir a vida doméstica e as questões relacionadas com a habitação, filhos, apoios sociais, etc., sendo quem mais recorre aos serviços camarários. Mais do que caracterizar a naturalidade e/ou nacionalidade da população em estudo, considerou-se importante descrever a origem cultural, na medida em que essa variável sociodemográfica pode ser determinante para explicar determinadas questões. Na verdade, se se definisse por exemplo a nacionalidade, no caso da portuguesa não se faria a distinção necessária da população de etnia cigana ou dos filhos de emigrantes de origem africana que detêm nacionalidade portuguesa. Assim, verifica-se que 60% da população respondente é de origem africana ou afrodescendente, com especial 11 Fonte: Ficha nº 7 de caracterização dos bairros de realojamento PER/Sintra- Urbanização Camarária da Fundação D. Pedro IV, Divisão de Habitação da CMS. Susana de Almeida Mesquita 62 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social destaque a oriunda de Cabo Verde (49%), seguindo-se a de origem portuguesa com 39% do total, dos quais 8% são de etnia cigana. Ao cruzarem-se as variáveis origem cultural e habilitações literárias constata-se que se trata de uma população com baixos níveis de escolaridade e grande incidência de analfabetismo. A maioria desta população detém apenas a 4ª classe (37,9%), tendo 16,4% completado o 3º ciclo do ensino básico (9º ano), 8,8% o ensino secundário e apenas 1 dos respondentes detém um curso superior. Importa ressaltar que enquanto na população de etnia cigana todos os respondentes são analfabetos, na população de origem africana é onde se verificam níveis mais altos de habilitações literárias (4 com ensino secundário e 1 com ensino superior) embora também apresentem 10,1% de analfabetos. Na população de origem portuguesa a maioria dos respondentes (10%) detém o 1º ciclo do ensino básico (4ª classe), seguindo-se os que detêm o 6º ano (7,5%). Com o 9º ano constatam-se apenas 6,3% dos indivíduos e ainda 5% sem qualquer grau de escolaridade. Tratando-se de uma população relativamente jovem, cuja maioria tem entre 25 e 64 anos, o facto de deterem baixos níveis de escolaridade dificulta a sua inserção no mercado de trabalho e potencia as baixas qualificações profissionais destes indivíduos. Ao caracterizar-se o tipo de ocupação dos respondentes, constatou-se que cerca de 35% exerce uma atividade profissional com vínculo contratual, seguindo-se os reformados por invalidez ou velhice (15%) e os beneficiários de Rendimento Social de Reinserção (RSI) com 13% do total. Os desempregados sem subsídio de desemprego representam 12% total de respondentes, tal como os que trabalham sem vínculo contratual (biscates), enquanto os que recebem subsídio de desemprego são apenas 7%. O trabalho sem vínculo contratual (biscates) tem a mesma incidência que o desemprego com 13,9% cada. De referir que na população de etnia cigana os números apresentados não são reais, na medida em que praticamente a totalidade da população dedica-se à pequena venda ambulante, embora não o declare. Susana de Almeida Mesquita 63 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Quanto aos rendimentos auferidos, verificaram-se apenas dois escalões de rendimentos, sendo o mais relevante (78%) até um salário mínimo12 e 22% do total aufere rendimentos até 2 remunerações mínimas nacionais. As baixas qualificações escolares e profissionais para além de dificultarem o acesso ao mercado de trabalho, também condicionam o nível de rendimentos que estas famílias conseguem atingir. Se atendermos ao facto dos agregados familiares terem em média 4 elementos, verifica-se que o rendimento per capita é extremamente baixo, com cerca de 120€/mês. Conclui-se com estes dados que a maioria da população em estudo sobrevive com muito baixos rendimentos e naquilo que se pode considerar no limiar de pobreza. Relativamente ao tipo de família, 39,5% dos respondentes está integrado em famílias nucleares, sendo o tipo de família com maior representatividade em todas as origens culturais. Seguem-se as famílias extensas com 20,9%, onde residem várias gerações na mesma habitação, com maior número na população de origem africana. Estas conclusões só não são visíveis nas famílias de etnia cigana porque, neste bairro concreto, sempre que um dos filhos casa (ainda adolescente) constrói uma barraca nos fundos vazados dos prédios camarários, deixando assim de fazer parte do agregado familiar inicial que reside nos fogos municipais. As famílias monoparentais femininas representam 18,5% do total e só se verificam nas de origem cabo-verdiana e portuguesa. Esta característica poderá significar maior dificuldade na gestão financeira, na medida em que apenas um adulto é a fonte de rendimento para o agregado. Mães que têm a seu cargo filhos menores, sem um cônjuge que apoie nas despesas da família, apresentam situações de pobreza grave e por vezes de negligência para com os filhos, nomeadamente pela incapacidade de conciliar a vida profissional com a vida familiar. Associando este facto ao exercício de profissões não qualificadas e por isso com remunerações baixas, pode afirmar-se que são famílias com dificuldade em progredir favoravelmente ao nível da sua mobilidade social. 12 Salário Mínimo Nacional definido para o ano de 2011 no montante de 485€, com base no Decreto-Lei n.º 143 /2010 de 31 de Dezembro. No ano 2012 não houve alteração desse valor mantendo-se ainda em vigor. Susana de Almeida Mesquita 64 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Apenas um apontamento relativamente aos isolados, em que se verifica que a maioria tem uma rede de suporte familiar e/ou social que lhes serve de apoio, o que é um aspeto positivo para assegurar o bem-estar destes indivíduos. No que respeita à situação de saúde, verifica-se que os problemas com mais relevo apontados pelos respondentes são as doenças crónicas (especialmente na população do sexo feminino). Essas patologias variam entre mais e menos graves (doença oncológica, doença cardíaca, hérnias, osteoporose, diabetes, etc.), algumas delas incapacitantes para o trabalho e correspondem a 17,3% dos inquiridos. Os indicadores “gravidez não planeada” na população feminina e “alcoolismo” na população masculina representam, cada um deles, 6% do total da população em estudo. Relativamente às problemáticas da família destaca-se a dificuldade no exercício da parentalidade com a percentagem mais elevada de 32%. Com 22% surge a questão da “ingestão de bebidas alcoólicas”, que também já tinha sido referido anteriormente como problema de saúde, com destaque para a população masculina. Este indicador está intimamente associado aos 22% de situações em que se verificam “conflitos no agregado familiar” e aos 11% de “exposição de menores a modelos parentais desviantes”. A “dificuldade de conciliação do trabalho/família” representa 11% das situações e, está relacionada, na maioria dos casos, com a monoparentalidade feminina, como já foi referido anteriormente. Este tipo de problemáticas familiares tem consequências diretas no comportamento das crianças e jovens que fazem parte destes agregados familiares, com situações de negligência e responsabilização precoce, compreendendo-se assim alguns aspetos que são referidos ao nível da avaliação da satisfação residencial e que são descritos mais à frente. 5.3. RESULTADOS DA GRELHA DE ANÁLISE DAS QUESTÕES DA HABITAÇÃO A resposta a cada uma das questões apresentadas na grelha permitiu, por um lado, fazer a análise da intervenção desenvolvida pela Divisão de Habitação, os seus circuitos internos e externos de comunicação, a forma de planeamento da atividade dos técnicos, a partilha de informação entre si e com os seus clientes, (i.e., os munícipes e arrendatários residentes nos bairros de habitação municipal). Por outro, clarificou o tipo de relação e comunicação existente entre os vários serviços que Susana de Almeida Mesquita 65 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social operam no terreno e o tipo de atividades promovidas, tanto ao nível do planeamento, como da mediação, da comunicação e do conhecimento das mesmas por parte dos diversos atores sociais. Porém, constatou-se que não era possível dar resposta a todas as questões apresentadas, nomeadamente as que se prendiam com o tipo de relações de vizinhança predominantes, bem como alguns dos aspetos proposto nas colunas participação individual e coletiva, por isso a necessidade de utilizar uma conjugação de técnicas de recolha de dados conforme a descrita. Da grelha ressaltam como aspetos positivos a existência de intervenções planeadas por parte da CMS ao nível das questões físicas, com o levantamento de necessidades, estabelecimento de prioridades e planificação das execuções, embora seja negativa a circulação de informação tanto ao nível dos técnicos com a gestão social, como junto da população, que muitas vezes não compreende nem se revê nas prioridades definidas. Conclui-se assim que é necessário melhorar os aspetos relativos à divulgação e circulação da informação sobre o Planeamento das questões físicas, tanto a nível interno (da DHAB) como externo (para a população). No que respeita ao Planeamento, especificamente aos Planos de Atividade e divulgação dos mesmos, denota-se que não existe uma partilha real e eficaz entre as várias entidades, havendo um baixo nível de conhecimento sobre os mesmos por parte das entidades parceiras e da própria população residente no bairro. Relativamente à ação camarária e conforme os resultados obtidos da escala de satisfação, a “informação” ou neste caso a falta dela, é um aspeto menos positivo referido pela maioria dos respondentes. Assim, a divulgação dos planos de atividade das várias entidades que trabalham no terreno deve ser mais efetiva junto da população a quem se destinam e entre todos os parceiros, sob pena dos destinatários não terem uma participação mais ativa por desconhecimento dos mesmos. No que respeita às questões relacionais, apenas a Divisão de Habitação promove atividades continuadas com o objetivo de promover a melhoria das relações de vizinhança (Festa dos Vizinhos, Assembleias de Moradores, etc.), tendo a Casa Seis atividades muito pontuais com este objetivo, tal como a Junta de Freguesia pois não estabelece este aspeto como uma prioridade na sua intervenção. Ressalta assim a Susana de Almeida Mesquita 66 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social necessidade de haver um maior investimento nas ações orientadas para a melhoria das relações de vizinhança. Sobre a participação individual e coletiva, a perceção recolhida através do preenchimento da grelha revela que a população delega nos vários serviços as decisões e a implementação das atividades, bem como se disponibiliza pontualmente para alguma participação quando solicitado e com baixo nível de responsabilização. O aprofundamento desta questão junto da população só foi possível através da aplicação do instrumento de recolha qualitativo SPIRAL. Na dimensão “Comunicação”, constata-se a necessidade de melhoria da mesma tanto a nível interno da autarquia como para com os arrendatários, nomeadamente através de códigos de comunicação e terminologias mais acessíveis aos cidadãos. Por outro lado, a inexistência de um espaço formal e adequado, que permita a reunião dos moradores tanto para eventos formais como informais no contexto do bairro, é uma necessidade reconhecida por todos. Importa referir que está prevista a criação (pela CMS) de uma sala polivalente para o efeito no espaço dos fundos vazados dos prédios, com a criação de um Centro de Recursos, a médio/longo prazo. Apesar dos aspetos a melhorar, há um reconhecimento dos interlocutores representantes das diversas entidades, dos canais de comunicação com a autarquia (nos quais as entidades parceiras também têm um papel importante), bem como a partilha de informação entre parceiros através da Comissão de Acompanhamento as Famílias (CAF) de Mira Sintra. Por último, no que respeita à “Mediação”, os espaços utilizados pela DHAB para a mediação técnica passam pela utilização dos gabinetes da associação local e Junta de Freguesia, na própria rua (para o contato informal) nas entradas dos prédios (para as reuniões de moradores), nas habitações (aquando das visitas domiciliárias) e nas instalações da Divisão de Habitação (atendimentos sociais e reuniões). Os espaços semipúblicos (espaços comuns dos prédios) são utilizados para reunião dos jovens para convívio em grupo, consumos, etc., sendo os espaços públicos utilizados preferencialmente pela população de etnia cigana. O tipo de mediação solicitada à Divisão de Habitação e Casa Seis é maioritariamente centrada nos conflitos de vizinhança e por isso, baseia-se na resolução de problemas, não se orientando para a participação da população. Relativamente à Junta de Susana de Almeida Mesquita 67 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Freguesia de Mira Sintra a principal mediação com esta população é feita com a comunidade cigana e entidades oficiais, tratando-se de uma área prioritária de intervenção por parte desta entidade. Através do planeamento será possível alterar a perspetiva da intervenção (…) passando-se do paradigma da «resolução de problemas» para a atenção aos problemas dos processos de interacção múltipla com foco nas formas de gestão e decisão, acreditando que os problemas são «uma construção social» num contexto complexo. (Guerra, 2006a, p.9) Para isso, a mesma autora considera que é exigido ao planeador a utilização de técnicas de planeamento mais operativas dando primazia à mediação, à “ (…) identificação de interesses para discussão e decisão, de gestão de conflitos e desenvolvimento de estratégias comunicativas, etc.” (Ibidem, p.10) como forma de se conseguirem equilíbrios efetivos e legítimos no que respeita às dimensões do empowerment e dos constrangimentos gerados pelos interesses contraditórios. Relativamente à postura de emporwerment dos moradores, conceito esse que envolve a componente controlo, consciência crítica e participação (Ornelas e Moniz, 2007) este é pontual e apenas de alguns elementos específicos da população. Apesar dos resultados apurados não serem representativos permitiram constatar a necessidade de utilização de outras fontes complementares de informação que permitissem responder a todos as dimensões definidas e de forma mais aprofundada. 5.4. RESULTADOS DO ESTUDO SOBRE A SATISFAÇÃO RESIDENCIAL O presente estudo13 pretendeu avaliar o nível de satisfação residencial dos moradores do bairro Fundação D. Pedro IV em Mira Sintra. Para além da qualidade ao nível dos espaços construídos (dimensão física), considerou-se fundamental conhecer a perspetiva dos moradores ao nível da sua satisfação, sentimentos de bem-estar e dimensões simbólicas das vivências do espaço residencial, numa vertente abrangente. Reconhece-se assim a relação direta que existe entre os comportamentos, as dinâmicas sociais e o meio ambiente, numa perspetiva transacional 13 Pode ser consultado no apêndice 1 os resultados pormenorizados deste estudo, com a respetiva representação gráfica e imagens ilustrativas das realidades descritas. Susana de Almeida Mesquita 68 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social (…) em que da confluência de pessoas, espaço e tempo emergem compostos de múltiplos aspectos que simultânea e conjuntamente definem o todo de relações entre processos, actividades ou pessoas fazendo coisas e o meio ambiente físico, social e cultural em que estes se inscrevem. (Freitas et al, 2008, p.1). Também era objetivo deste estudo enunciar as dimensões mais importantes a trabalhar na intervenção social, que permitam potenciar a elevação dos níveis de satisfação residencial e, consequentemente, de qualidade de vida e bem-estar dos moradores. Analisar e avaliar a satisfação residencial é um processo complexo, que deve relacionar diferentes componentes, como nos propõem Weidermann e Anderson (apud Freitas, 2008) a saber, atributos objetivos do meio ambiente; crenças acerca desses atributos; atitudes, afetos e comportamento relativamente ao meio ambiente. Por seu turno, Maria Amérigo (1995), propõe uma síntese de alguns dos preditores de satisfação residencial14 corelacionando-os através de dois vetores: um de carater subjetivo que se justapõe a outro de carater objetivo, e outro vetor que contrapõe preditores de carater físico a preditores de carater social, que permitem analisar as variáveis definidas. Foi com base nestes pressupostos que a escala de avaliação utilizada (adaptada de Freitas et al, 2008) integrava 4 níveis de satisfação, considerando-se resultados positivos os que se situam acima do 2,5 e negativos os que estão abaixo desse valor. Assim, constata-se (Cf. ilustração 3) que relativamente a todas as varáveis estudadas, no geral as médias são positivas, podendo afirmar-se que existe um elevado grau de satisfação residencial junto dos moradores do bairro Fundação D. Pedro IV, em Mira Sintra. 14 Síntese dos preditores de satisfação residencial proposta por Amérigo (1995) no anexo J. Susana de Almeida Mesquita 69 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Ilustração 3 - Valores médios por categoria Na mesma linha de outros autores (Freitas, 1994; Pinto, 1994; Augusto, 1998; Almeida e Castro, 2002) verifica-se uma maior satisfação com o alojamento e uma apreciação sobre o bairro mais negativa, nomeadamente ao nível da imagem sobre o mesmo. O indicador com avaliação mais elevada é “Espaço exterior/Equipamentos” (M=3,7) o que se justifica pelo facto de Mira Sintra ser a freguesia do concelho de Sintra que apresenta o melhor rácio entre número de respostas sociais/equipamentos existentes e o número de habitantes. Relativamente perto do bairro de realojamento existem os diversos serviços básicos (educação, saúde, segurança, etc.), bem como uma rede de transportes viários eficiente e outros serviços como o comércio. Ainda no que respeita ao espaço exterior, embora os respondentes tenham apontado como uma vantagem o bairro localizar-se no final de uma avenida e desembocar num impasse, isto é, num terreno baldio e numa rua sem saída considera-se que estes aspetos contribuem para a desintegração daquela zona face à restante freguesia em que só se desloca aquele local quem ali habita. Este isolamento também promove um conjunto de hábitos de vida quotidiana que prejudicam uma adequada integração cívica e contribuem negativamente para as relações de vizinhança alargada (Coelho, 1994). Por outro lado, dificultam o controlo por parte das forças de segurança, quando há necessidade de intervir face a situações de delinquência ou crime (embora com baixos índices nas freguesia, mas existente especialmente neste núcleo de realojamento). Susana de Almeida Mesquita 70 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Outro aspeto a ressaltar é o facto da maioria dos moradores já residir no bairro há cerca de 10 anos, permitindo assim que já tenha sido ultrapassado o processo de readaptação ao novo local e que se tenha estabelecido uma vinculação com o mesmo (ao contrário do que outros estudos apontam), podendo mesmo afirmar-se que a maioria se encontra bastante identificada com o local. Por esse motivo foi possível o estabelecimento de laços de amizade e pertença com as vizinhanças próximas, registando-se um valor médio de 3,6 nesse indicador. Registam-se positivamente as variáveis relativas ao alojamento (M=3,5) e ao edifício (M=3,1) sendo o realojamento encarado como uma conquista e uma promoção no estatuto residencial. Pelo grau de satisfação apurado pode concluir-se que esta população se encontra num processo de afirmação e de mobilidade social, embora se confronte em termos sociodemográficos com baixas qualificações escolares, profissionais e baixos rendimentos. A avaliação ao nível do processo e do relacionamento com a CMS apresenta o valor M=3,4, sendo de destacar a necessidade de melhoria na prestação de informação à população residente. Considera-se que a este nível, o número e especificidade das questões realizadas não nos possibilita fazer uma análise do serviço prestado pela Divisão de Habitação, sendo uma área onde se justifica um investimento mais pormenorizado que englobe as diferentes áreas da gestão habitacional municipal. Os aspetos apontados sobre os quais a satisfação dos respondentes não é tão positiva (embora com rácios acima do ponto médio da escala) prendem-se com a imagem que têm sobre o bairro perante a população em geral que consideram mais negativa (M=2,7), e com a vizinhança alargada (M=2,8) que, no caso em estudo se refere especificamente às famílias de etnia cigana dos fundos vazados15 e ao grupo de jovens que permanece nos espaços comuns, contribuindo para a sua vandalização (M=2,9). Após esta análise levanta-se então a primeira grande questão: perante tão elevados níveis de satisfação residencial em geral, onde se encontra o problema deste bairro? O paradoxo sobre as vizinhanças (próxima e alargada) tem causas e motivações concretas, algumas reconhecidas pela população, outras menos explícitas, mas que concorrem para a sua explicação. 15 Consultar notícia do Jornal Região Sintra no anexo K. Susana de Almeida Mesquita 71 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Por um lado, constatam-se relações de vizinhança fortes entre os vizinhos mais próximos que contrastam com o sentimento de desconfiança e insegurança (M=2,6) relativamente à vizinhança alargada (M=2,8), concretamente para com as famílias de etnia cigana que se encontram a residir nos fundos vazados dos prédios deste bairro. Outro problema referido que contribui para o descontentamento da população residente, refere-se ao grupo de jovens, filhos de arrendatários, que apresenta comportamentos desviantes (pequeno tráfico, furtos, consumo de estupefacientes, vandalização dos edifícios, etc.). São dois grupos da população que ocupam de forma ostensiva o espaço público, contribuindo para a proliferação de um sentimento de insegurança (um dos aspetos apontados como menos positivo) e para uma imagem negativa do bairro (M=2,7) junto da restante população de Mira Sintra (pontualmente denominado como o “bairro dos ciganos”, apesar da sua fraca expressão percentual no total da população residente). Para além disso, estes também aparecem como os dois principais motivos apontados para a vontade de sair do bairro (“Má vizinhança”; “Mau ambiente”; “Estigma por viver em habitação social”; “Insegurança”). Esta comunidade depara-se com o estigma existente na população em geral face aos bairros de realojamento camarário e, com o seu efeito “tampão” (Freitas, 2001) através das vivências ali experimentadas com os “outros” com os quais não se identificam. Na verdade, o problema do realojamento é, antes de mais, um problema social e não um problema de edifícios (…). Do ponto de vista social, os «efeitos perversos» (…) provocaram um crescimento (…) de comportamentos desviantes e estigmas sociais (…). Os moradores destes bairros sentem com intensidade este estigma social (…) porque interiorizam essa imagem pública socialmente desvalorizada atribuindo-a a determinados elementos do próprio bairro. (Guerra, 1994, p.11) O capital relacional que se reforça dentro das relações de proximidade no bairro acaba por ser anulado pelo negativo das relações com a vizinhança alargada. A insatisfação a este nível funciona como um bloqueio para a capacidade de participação comunitária desta população, a qual poderia ser mais positiva com a minimização destas situações. Ao nível da intervenção social constata-se que perante uma comunidade muito satisfeita a nível residencial mantém-se a dificuldade em envolver esses mesmos indivíduos em estratégias participativas, as quais são fundamentais para o Susana de Almeida Mesquita 72 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social desenvolvimento coletivo das comunidades e têm um efeito positivo na qualidade de vida e bem-estar dos indivíduos. Apesar de aparentemente não existir uma relação direta entre satisfação residencial e participação comunitária, já que elevados níveis de satisfação residencial podem não significar maior envolvimento cívico no bairro, pareceu-nos importante aprofundar a relação existente entre as duas variáveis, através da triangulação de dados de natureza quantitativa e qualitativa. Constata-se que essa relação tem sido pouco explorada na teoria, e consideramos que ao compreender a satisfação foi possível encontrar pistas que facilitem a mobilização à participação dos indivíduos. Como referem diversos estudos (Almeida e Castro, 2002; Ornelas e Moniz, 2007; Elvas e Moniz, 2010) a participação comunitária contribui para a integração plena das populações e para o aumento do sentimento de pertença a uma comunidade, trazendo benefícios individuais ao nível do bem-estar e qualidade de vida e maior mobilização e participação na mudança social. Assim, através da recolha qualitativa com a SPIRAL foi possível aprofundar as questões relacionadas com a participação comunitária e a forma de a promover, tanto ao nível dos procedimentos internos da autarquia, como do envolvimento da população deste bairro, incluindo os grupos identificados como problemáticos (famílias dos fundos vazados e grupo de jovens afrodescendentes), completando desta forma a grelha analítica proposta neste estudo. 5.5. RESULTADOS DO ESTUDO SOBRE O BEM-ESTAR – SPIRAL Após a recolha dos dados junto dos grupos homogéneos, procedeu-se à codificação da informação recolhida, nomeadamente à classificação das respostas de cada grupo dentro dos vários critérios de bem-estar, que se encontram subdivididos em 8 dimensões e 60 componentes. Através do programa ESPOIR é facilitada a classificação sistemática dos dados, evitando-se omissões e a dupla atribuição de critérios. Para além desta virtualidade também permite obter uma síntese dos resultados obtidos, na qual se encontram a totalidade dos critérios referidos pelos diferentes grupos homogéneos (anexo L). As sínteses obtidas da primeira reunião com os grupos foram posteriormente apresentadas na segunda sessão, a fim de que o grupo sugerisse as modificações Susana de Almeida Mesquita 73 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social que entendesse ou adicionasse critérios que considerasse em falta. Por fim, após colocar-se a quarta questão foi possível obter as sínteses finais, as quais foram igualmente discutidas com cada um dos grupos e cujos resultados se apresentam de seguida. Verifica-se que cada um dos três grupos homogéneos apresenta características muito específicas, centrando o bem-estar em dimensões distintas, conforme se explicita de seguida. Para o grupo homogéneo dos “Jovens” o bem-estar está mais associado aos “Equilíbrios sociais/Vida social” (39%) e às “Relações Pessoais” (19%) conforme espelhado na ilustração 4. Acesso aos meios de vida Quadro de vida 20% 1% 4% 10% 0% 7% Relações com as instituições 19% Relações pessoais Equilibrios sociais/Vida social 39% Equilibrios pessoais Sentimentos de bem/mal-estar Atitudes e iniciativas Ilustração 4 - Síntese do Grupo “Jovens” As expressões verbalizadas refletem que o que incómodo sentido e a concretização do bem-estar está mais dependente dos outros do que de si próprios: “ter o apoio das outras pessoas quando preciso”, “viver no bairro sem confusão”, “não ser incomodado”, “discriminação da polícia”, “crianças ciganas partem e estragam”, “somos vistos como marginais”, “saírem as famílias debaixo dos prédios”. Focalizam o seu mal-estar nas atitudes da polícia, considerando-as exageradas e discriminatórias, centralizando todo discurso praticamente nessa questão, “ser abordado de forma não humana pela polícia”, “discriminação pela polícia e pelos moradores”, “falta de liberdade, é como se estivéssemos presos”, “abordagem dos polícias”, “discriminação da polícia aos ciganos e a nós”, “atuação da polícia”. Também são apontadas expressões que revelam a indisponibilidade e desresponsabilização destes jovens na procura de soluções para o mal-estar sentido Susana de Almeida Mesquita 74 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social nomeadamente, “esperar que caia do céu”, “se ninguém faz nada porque faço eu?”, “não posso fazer nada”, “viver à custa dos pais”, “ganhar o euromilhões”. Apesar dessa constatação, verifica-se uma percentagem significativa na dimensão Atitudes e Iniciativas (20%), a qual é um indicador positivo de predisposição à participação, sendo referidos aspetos tais como “ajudar os outros com dificuldades”, “organizar convívio para todos”, “ser honesto”, “voluntariado”, “ser um bom exemplo para os mais novos”, “melhorar o comportamento”, embora se considere que o objetivo era fornecer a resposta socialmente esperada, já que as facilitadoras da sessão eram representantes de duas instituições reconhecidas pelos jovens (Câmara Municipal de Sintra e Casa Seis). Para este grupo as dimensões relacionadas com o Quadro de Vida/Habitat (8%), Acesso aos Meios de Subsistência (8%) e as Relações com as Instituições (0%) não são aspetos relevantes ou reconhecidos como necessários para melhorar os níveis de bem-estar e qualidade de vida individual e coletiva. Por último, no que se refere ao bem-estar para as gerações futuras este grupo focaliza-se nas questões da Segurança/Insegurança relacionada com a “Atuação da Polícia” e da “Discriminação”, demonstrando o imediatismo do seu estilo de vida, sem grandes projetos, ideais ou perspetivas futuras a longo prazo, muito centrados em si próprios e pouco disponíveis para os aspetos comunitários. Os comportamentos que adotam revelam uma destruturação ao nível do comportamento individual destes jovens, encontrando-se os mesmos pouco permeáveis a qualquer tipo de intervenção, tanto por parte da comunidade como das instituições que operam no terreno (das quais acabam por apresentar fracas expetativas ou mesmo experiências negativas, como é o caso da relação com as forças policiais). Por seu lado, no grupo das mulheres ciganas a valorização de cada uma das dimensões é bastante diferente da dos jovens, conforme se visualiza na ilustração 5. Susana de Almeida Mesquita 75 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Acesso aos meios de vida 5% 14% Quadro de vida 27% 7% Relações com as instituições 9% 16% 18% 4% Relações pessoais Equilibrios sociais/Vida social Equilibrios pessoais Sentimentos de bem/mal-estar Atitudes e iniciativas Ilustração 5 - Síntese do grupo “Mulheres Ciganas” Relativamente a este grupo, e atendendo ao facto de que se trata de famílias a residir nos fundos vazados dos prédios sem quaisquer condições de habitabilidade, é óbvia a importância que a dimensão Acesso aos Meios de Subsistência assume para este grupo (27%) para assegurar o seu bem-estar, tal como refletem as expressões utilizadas: “Casa”, “higiene”, “dinheiro e bens essenciais”, “não ter casa, viver em barraca”, “não ter boas condições de vida”, “ter pulgas e ratos”. Aliás, é basicamente neste tema que centram o discurso também por reconhecerem na CMS a única possibilidade de resolverem a sua situação habitacional. Também neste caso se considera haver o condicionalismo da resposta social esperada. A segunda dimensão com maior percentagem é a das Relações Pessoais (18%), o que se justifica pelo facto de, na cultura cigana, ser dada primazia ao sistema familiar (relação conjugal e filial). É nesse contexto que estas mulheres centralizam aquilo que fazem para garantir o seu bem-estar e o dos outros, referindo “tratar dos filhos”, “filhos irem à escola”, “tomar banho”, “dar banho aos filhos”, “arrumar a casa”, “dar educação aos meus filhos”. Com algum peso surgem os Equilíbrios Sociais (16%) em que as respostas estão ligadas às questões da Coabitação Social (“não invadir o espaço dos outros”) Equidade e Mobilidade Social (“bem-estar”, “tratar os outros como iguais”), Violência e Paz (“paz no bairro”, “paz com os vizinhos”, “paz no país”), Inclusão/ Exclusão (“discriminação”, “não discriminar ninguém”). Os resultados do estudo sobre a satisfação residencial dos moradores apontavam como um dos focos de insatisfação a situação das famílias ciganas que residem nos Susana de Almeida Mesquita 76 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social fundos vazados dos prédios. Também o grupo dos “Jovens” refere o mesmo desconforto pelo facto destas famílias ocuparem um espaço que é público, de todos. É interessante constatar que o grupo das “Mulheres Ciganas” ao sentir a discriminação por parte da restante população, reconhece que essa discriminação tem alguma razão de ser, na medida em que “não invadir o espaço dos outros” é condição essencial para assegurar o bem-estar de todos, conforme referido pelas próprias. Por outro lado, não estando garantidas as necessidades básicas de existência, também se denota menor investimento nas outras dimensões, tais como as Atitudes e Iniciativas (14%) e Relações com as Instituições (4%). Ainda mais marcado do que no grupo dos “Jovens”, também este se apresenta como um grupo fechado, pouco disponível para a participação, pouco “empoderado” e não reconhecendo em si a capacidade de mudança, a possibilidade de contributo ativo para a melhoria do bem-estar coletivo. No que respeita ao bem-estar das gerações futuras, as possibilidades de melhoria são claramente dependentes de terceiros, como refletem as expressões: “A Troika tira tudo”, “Os políticos mentem”, não apontando nem reconhecendo outro tipo de soluções mais dependentes de si próprias. Por fim, o grupo das “Mulheres Realojadas” apresenta resultados distintos dos dois primeiros, em que as dimensões Equilíbrios Sociais (25%) e Atitudes Iniciativas (24%) são as que têm maior representatividade. Neste grupo o Acesso aos meios de Subsistência (8%) e Quadro de Vida (8%) parecem estar minimamente satisfeitos pois as percentagens apuradas não têm grande relevância. Pelo contrário, as Relações Pessoais (17%) e os Equilíbrios Pessoais (14%) são dimensões importantes do bem-estar (Cf., ilustração 6) e, estão muito relacionadas com as relações familiares e de vizinhança próxima e alargada: “Ter uma família unida”, “Vizinhança unida”, “União dos moradores”, “Saudade”, “Família longe”, “Falta de convívio com os vizinhos”, “Vizinhos mal educados”, “Minorias étnicas (ciganos)”, “Ajudar os vizinhos”. Susana de Almeida Mesquita 77 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Acesso aos meios de vida 24% 8% 3% 8% Quadro de vida/Habitat Relações com as instituições 1% 17% 14% 25% Relações pessoais Equilibrios sociais/Vida social Equilibrios pessoais Sentimentos de bem/mal-estar Atitudes e iniciativas Ilustração 6 - Síntese do grupo “Mulheres Realojadas” Através dos resultados obtidos nas dimensões Equilíbrios Sociais e Atitudes e Iniciativas pode afirmar-se que este é o grupo com maior disponibilidade para a participação comunitária, para intervir ao nível do bem-estar coletivo, demonstrando ter um percurso minimamente resolvido e, por isso, estarem mais conscientes e disponíveis para fazerem algo pelos outros. De facto, quando questionadas sobre o que fazem ou podem vir a fazer para o bem-estar de todos, apresentam uma listagem de sugestões e ideias que gostariam de concretizar e que depende das próprias, como por exemplo, “Atividades cívicas”, “Voluntariado”, “Organizar caminhadas”, “Criar espaços para ocupar os jovens”, “Colaborar com a comunidade onde estamos”. No que respeita às gerações futuras também aí são apresentadas propostas concretas de melhoria, tanto ao nível do bairro em si como da freguesia com a “Criação de postos de trabalho na zona”, “Espaços verdes (no bairro) ”, “Lixo estraga o bairro”, “Trabalho comunitário para quem está desempregado”. Ao contrário dos outros dois grupos, neste as “Mulheres Realojadas” estão mais conscientes dos seus deveres de cidadania e do contributo efetivo que podem dar para a melhoria do bem-estar coletivo, estando mais disponíveis para se envolver na busca de soluções para os problemas sentidos por todos. Apesar de também este grupo sentir o desconforto na gestão de uma relação de proximidade com o outro que é diferente, é o único que identifica dimensões controláveis e menos dependentes dos outros para concretizar a sua participação e dar um contributo efetivo para o bem-estar da comunidade onde reside. Susana de Almeida Mesquita 78 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Os outros dois grupos homogéneos condicionam a sua disponibilidade para participar em mudanças dos outros, necessárias à prossecução dos seus próprios objetivos. No caso das “Mulheres Ciganas” o que as mobiliza são os interesses internos, com interações instrumentais muito focalizadas na família e no grupo. Denota-se pela sua postura serem um grupo fechado e por isso pouco “empoderado”, em que tudo se justifica por um mundo externo que só depende dos outros. Relativamente à satisfação (residencial e de vida), é o único grupo em que esta não está minimamente assegurada. Por seu lado, os “Jovens” partilham com as “Mulheres Ciganas” a perceção de um mundo “madrasto” e o facto de estarem muito focalizados no “eu” e no grupo de pares e, portanto mais fechados em si. Para estes, bastaria que os outros mudassem para que os problemas se resolvessem, demonstrando estarem dependentes de um locus de controlo muito externo, sendo o bairro também algo externo para os próprios. Para o grupo das “Mulheres Realojadas”, as dependências são dirigidas para o bairro, o que significa uma maior disponibilidade de saída da sua linha de conforto para se focalizarem no coletivo. São estas quem detém mais sensibilidade e maior disponibilidade para participar, pois reconhecem aspetos concretos do que depende de si e da sua iniciativa individual. Por outro lado, identificam aquilo que precisam dos outros, estando mais abertas a uma ação coletiva de mobilização, não com o objetivo de mudar o mundo mas apenas de mudar o bairro, o local onde vivem. A insatisfação sentida por este grupo é por não encontrarem um feedback nos outros dois grupos ao nível da focalização no bairro, e na constatação da falta da partilha de um espaço e valores comuns por todos, ou seja, na perplexidade de constatarem que os outros não sentem como elas e não se mostram tão conscientes e envolvidos num projeto comum como “Ser alguém com quem se possa contar”, “Colaborar com a comunidade onde estamos inseridos”, “Ajudar as crianças conversando com elas para escolherem um futuro longe das drogas e do crime”, “Tolerância”, “Ter harmonia com os vizinhos”. Susana de Almeida Mesquita 79 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Susana de Almeida Mesquita 80 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social «O tempo (de proximidade ou de distância) produz experiências e sobretudo solidifica-as nos sentimentos e atitudes que lhe são associadas.» (Freitas, 2001: 448) 6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES 6.1. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Com a conjugação dos diversos instrumentos utilizados para analisar a realidade do bairro Fundação D. Pedro IV em Mira Sintra, foi possível percorrer um caminho que permitiu compreender de forma aprofundada os níveis de satisfação residencial e as dinâmicas comunitárias da população ali residente no que respeita à participação e, concluir que se pode estabelecer uma relação entre os três conceitos-chave: satisfação residencial, participação comunitária e qualidade de vida. Os resultados apurados através da grelha de análise junto da comunidade técnica permitiram identificar aspetos relacionados com a gestão social promovida pela autarquia que podem e devem ser melhorados, com vista a promover estratégias participativas junto desta comunidade, que contribuirão de forma significativa para o aumento da sua satisfação residencial e qualidade de vida. Conclui-se que, para que haja uma gestão participativa eficaz é necessária a reflexão de todos os atores envolvidos, das próprias comunidades e das suas organizações, através da redefinição dos seus papéis e relacionamentos, tal como outros autores já evidenciaram (Abbott, 1996, Bonetti apud Freitas (2001); Guerra, 2006a). Relativamente às questões da qualidade de vida ligadas às questões habitacionais, através da escala de satisfação podemos afirmar que esta população detém elevados níveis de satisfação a todos os níveis, centrando-se o desconforto sentido no sentimento de insegurança e nas relações de vizinhança alargada, à semelhança de outros estudos realizados sobre estas matérias (Guerra, 1994; Pinto, 1994, Freitas, et al, 2008). O que o presente estudo permitiu aprofundar e identificar, face a estudo anteriores, foi a diferença nas perceções e na disponibilidade para a participação nomeadamente através dos resultados obtidos dos diferentes grupos homogéneos definidos para o estudo sobre o bem-estar. Estes grupos foram definidos em função de características sociodemográficas e culturais e, não obstante as diferentes disponibilidades para a Susana de Almeida Mesquita 81 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social participação, apresentaram raízes sobretudo no seu posicionamento relativo face à satisfação de necessidades básicas e nos limites que cada grupo equacionava na configuração do seu campo de possibilidades de ação na comunidade. Na verdade, quando se trata de grupos de população que vivem em situação de precariedade (como é o caso das mulheres de etnia cigana que participaram no estudo), as condições de negociação para a participação são mais difíceis e menos produtivas, porque se baseiam mais na mobilização e acesso aos recursos (Giddens, apud. Freitas, 2001). É possível concluir sobre a relação entre satisfação residencial e participação. No entanto ela é mediada pelo grau de controlo dos indivíduos sobre as suas capacidades de ação na comunidade, quer em função das necessidades a satisfazer, quer da “confiança” e do estatuto atribuídos aos “outros” membros da comunidade. Neste sentido foi possível verificar que quando há maior satisfação residencial há mais disponibilidade para a participação e o reconhecimento da força do seu potencial, como no caso do grupo das “Mulheres Realojadas”. No entanto, também se constatou que a insatisfação e incómodo são partilhados igualmente pelos três grupos, embora os dois grupos “Mulheres Ciganas” e “Jovens” não tenham nem resolvido nem sob “controlo” os problemas de satisfação. O seu locus de controlo é fortemente externo, o que retira visibilidade ao potencial da comunidade como coletivo transformador. Por seu lado, embora o grupo das “Mulheres Realojadas” não revele tanto a vida “madrasta”, são o único grupo que reconhece a importância da força da proximidade e da comunidade nas suas vidas, funcionando esse aspeto como um locus de controlo interno mais alargado, mais positivo e mobilizador com maior potencial para a participação e focalização na comunidade, embora não compreendam a indisponibilidade dos outros dois grupos para fazerem algo em comum. Conclui-se portanto que, apesar de existir um elevado nível de satisfação residencial nesta população, existem necessidades diferenciadas nos diferentes grupos, que geram motivações para participação diferentes. Todos os grupos acreditam que se os “outros” mudassem a comunidade seria melhor, considerando a comunidade como um território espontâneo que decorre da ação individual de cada um. Mas esta ideia é uma falácia, já que a comunidade não se Susana de Almeida Mesquita 82 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social constrói de forma espontânea e só o é, quando é reconhecida e construída pela ação coletiva (Guerra, 2006a; Ornelas e Moniz, 2007). Compreende-se assim que a participação a este nível não é apenas um acto individual, é essencialmente um acto coletivo de reconhecimento de uma comunidade e das dependências que cada um tem face a ela. Se o empowerment é um conceito imprescindível para a capacitação individual, trabalhar na comunidade exige mais do que o somatório de empowerment individuais, é necessário o reconhecimento da ação coletiva, de algo que responda a todos. Ou seja, para que haja mais poder no coletivo é necessário o reconhecimento da necessidade de relacionamento com o outro, relacionamento esse muitas vezes “espinhoso” e difícil, mas capaz de construir algo em comum (Freitas, 2001; Bruni, 2010). Há nesta interligação uma relação proporcional entre autonomia e inter-dependência (quanto mais autonomia, mais inter-dependência), que só sendo reconhecida e assumida é “capaz de transformar as diversidades de embate em encontro” (Zambonini, 2010; Freitas, 2001) “gerando uma nova ligação social” entre os indivíduos (Bruni, 2010) Também se constata que a própria implicação e participação dos indivíduos na busca e concretização de soluções para os problemas, contribui de forma positiva para o aumento da sua qualidade de vida e bem-estar (Ornelas, 1998; Amaro, 2007; Elvas, 2010). Pode concluir-se assim que, quando se analisa a qualidade e satisfação residencial, o que está subjacente é a “qualidade relacional e comunicacional dos territórios socio-espaciais” (Freitas, 2001, p.449). As dinâmicas geradas pela aplicação da SPIRAL no decorrer desta investigação confirmam isso mesmo, na medida em que alguns elementos do grupo homogéneo das “Mulheres Realojadas” organizaram posteriormente uma atividade comunitária no bairro com bastante autonomia, tendo tido o cuidado de envolver o grupo de jovens que fizeram parte do grupo homogéneo estudado na concretização dessa mesma atividade, com resultados muito positivos, para os próprios e para a população em geral. Assim, o presente estudo permitiu compreender as dinâmicas e obstáculos à mobilização da participação, mesmo em contexto de satisfação residencial tendencialmente positivo. Susana de Almeida Mesquita 83 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social 6.2. PARA O DESENHO DE UM MODELO DE INTERVENÇÃO SOCIAL Através da metodologia utilizada foi possível atingir os objetivos propostos, em termos de aprofundamento das ligações entre satisfação residencial e mobilização para a participação, bem como identificar um modelo e uma metodologia de intervenção social na área da habitação social. Tendo em consideração os resultados apurados e revelados, tanto por parte da comunidade residente como da comunidade técnica, é possível propor um desenho de modelo de intervenção para a mobilização da participação, que passe sobretudo por trabalhar os três elementos de intermediação entre a manifestação da satisfação e a mobilização da capacitação para a ação (Cf. Ilustração 7), a saber: a) perceções da capacidade de ação dos indivíduos; b) o tipo e nível de necessidades básicas a satisfazer; c) o capital relacional existente em função do grau de “reconhecimento” e “confiança” nos “outros”. Perceção das capacidades de ação dos indivíduos Satisfação residencial Participação Tipo de necessidades “Outros” (segurança, imagem, vizinhança) Ilustração 7 - Modelo de Intervenção Social proposto, ilustração nossa Sem que haja um conhecimento concreto e um levantamento das necessidades básicas a satisfazer junto de uma comunidade (e especificamente dos diferentes grupos de população), dificilmente se conseguirão percecionar as capacidades reais Susana de Almeida Mesquita 84 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social de ação dos indivíduos, pois a sua disponibilidade para a ação participativa é condicionada por esta variável (Giddens apud Freitas, 2001). Por outro lado, importa reconhecer as capacidades de ação dos indivíduos, tanto a nível individual como coletivo, não só pelos próprios e pela comunidade residente, mas também pela comunidade técnica, a fim de potenciar as estratégias participativas (Moniz e Morgado, 2010) que contribuem de forma decisiva para o elevar os níveis de satisfação residencial e de qualidade de vida. A interligação de cada um dos elementos referidos terá um impacto positivo nos “outros” ou seja, no capital relacional da comunidade e consequentemente, nas imagens/representações sociais sobre a mesma, nas vizinhanças próxima e alargada, no sentimento de segurança e de pertença desses indivíduos. Estas dimensões devem ser trabalhadas tanto junto dos vários grupos que compõem a comunidade residente como da comunidade técnica, na medida em que o que está em causa é a qualidade relacional entre os vários atores em presença e que importa mobilizar para o desenvolvimento do território. A metodologia prosseguida neste estudo também pode sugerir uma metodologia possível de intervenção social na área da habitação social, para a consolidação e identificação de ações concretas nas várias dimensões a considerar, nomeadamente: Realização da avaliação diagnóstica de um núcleo de realojamento através da Grelha de Análise das Questões da Habitação, tendo em consideração cada uma das categorias identificadas, tanto a nível interno dos serviços que fazem a gestão social, como a nível externo com os parceiros locais; Aplicação da escala de satisfação residencial proposta para medição dos níveis de satisfação das populações residentes nas habitações municipais, e descoberta de pistas de intervenção; Dinamização de sessões SPIRAL junto de grupos homogéneos específicos da população, a definir com base nos resultados obtidos na grelha de análise e/ou da escala de satisfação residencial, com vista a envolver e motivar os moradores para a participação nas questões habitacionais e residenciais, promovendo uma postura positiva de empowerment individual e coletivo. Susana de Almeida Mesquita 85 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Importa trabalhar as perceções e capacidades individuais através da resolução das necessidades que bloqueiam estes indivíduos, mas sobretudo trabalhar a forma como veem os outros através de experiências positivas entre eles. De realçar que esta metodologia permite ainda identificar acções concretas a desenvolver. No caso em estudo, considera-se essencial o desenvolvimento por parte do município de Sintra das seguintes ações, com vista à melhoria dos aspetos referidos pela população deste núcleo habitacional específico: 1- Proceder ao encerramento dos fundos vazados dos prédios camarários e à consequente regularização da situação das famílias ali residentes (realojamento e/ou despejo). 2- Definir com a população um conjunto de regras sobre a utilização dos espaços semi-públicos (dentro dos prédios) e dos espaços públicos, a fim de promover a melhoria das condições e segurança das zonas comuns e de evitar que os fundos vazados voltem a ser ocupados indevidamente. 3- Reforçar a interlocução da população com a CMS através da sinalização de situações irregulares e colaboração, nomeadamente através dos representantes de prédio. 4- Promover o controlo da titularidade das habitações, bem como do pagamento das rendas. 5- Disponibilizar um espaço para a população se poder reunir e dinamizar as suas próprias iniciativas, festas, etc., (após o encerramento dos fundos vazados). 6- A associação local em parceria com a CMS mobilizar o grupo de jovens referenciado como problemático e, trabalhar com o mesmo a organização e dinamização do espaço a disponibilizar à comunidade. 7- A CMS e parceiros locais promoverem atividades no bairro com o objetivo de trabalhar as relações de vizinhança, valorizando a interculturalidade, o reconhecimento e respeito pela diferença, bem como a estabilização de regras de convivência através de ações pontuais. Susana de Almeida Mesquita 86 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Por outro lado, é possível fazer uma indexação substantiva e compreensiva da interligação das ações concretas identificadas e o modelo de intervenção proposto, (Cf. Tabela 2). Tabela 2 - Interligação das ações propostas com o modelo de intervenção, elaborado pelo autor Ações a desenvolver Encerramento dos fundos vazados dos prédios camarários Definir com a população conjunto de regras utilização dos espaços semi-públicos e públicos Reforçar a interlocução da população com a CMS, sinalização situações irregulares através dos representantes de prédio. Promover o controlo da titularidade das habitações, bem como do pagamento das rendas. Disponibilizar um espaço para a população se poder reunir e dinamizar as suas próprias iniciativas. Em parceria mobilizar o grupo de jovens referenciado como problemático, trabalhar com o mesmo a organização e dinamização do espaço a disponibilizar à comunidade Atividades para trabalhar a interculturalidade, reconhecimento e respeito pela diferença, estabilização de regras de convivência Participação Satisfação Perceção capacidades X X X X X Necessidades “Outros” X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X De futuro, seria importante a realização de estudos idênticos noutros bairros sociais, que permitissem o cruzamento de dados e, fornecessem uma imagem mais completa das realidades vivenciadas em diferentes contextos territoriais. Também o Modelo proposto poderá ser testado em futuros estudos a fim de ser validado e incorporado como modelo de intervenção social na área da habitação social. Susana de Almeida Mesquita 87 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social As conclusões a que foi possível chegar, fruto do modelo analítico e estratégia metodológica definidos, só produzirão os efeitos esperados se forem protagonizados e incorporados nos vários níveis da gestão habitacional municipal. A grande mais-valia desta experiência consistiu na possibilidade de aprofundar as relações com os vários intervenientes no processo através das opções metodológicas assumidas, perscrutar mundos desconhecidos e na descoberta de que (…) a única condição é não ter medo de “atravessar” o mistério e a escuridão que o outro, em carne e osso, traz consigo. (…) Só a aceitação da ferida que este combate nos pode trazer, podem restabelecer uma nova ligação social (…) que ainda não somos capazes de entrever. O desafio é difícil, mas absolutamente vital para a qualidade dos seres humanos do terceiro milénio. Seremos capazes de o enfrentar? (Bruni, 2010, p.189-198). Creio que sim! Susana de Almeida Mesquita 88 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social REFERÊNCIAS ABBOTT, John (1996) - Sharing the City: Community Participation in urban Management. London : Earthscan Publications Lda. ALMEIDA, Inês; CASTRO, Paula (2002) – Realojamento : satisfação residencial e identidade local [em linha]. In 1º Colóquio Psicologia Espaço e Ambiente. Évora : Universidade de Évora. [Consult. 15 Abr.2011]. Disponível em WWW : <a.gncdn.com/pfa/.../InesAlmeida.pdf?dl=1 > AMARO, João Paulo (2007) - Sentimento psicológico de comunidade : uma revisão. Análise Psicológica. Lisboa. ISSN 0870-8231. 25, 1 (Janeiro-Março 2007) 25-33. AMÉRIGO, María (1995) - Satisfacción residencial : un análisis psicológica de la vivienda y su entorno. Madrid : Ed. Alianza Universidad. 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Pedro IV, em Mira Sintra Resumo O presente estudo pretendeu sistematizar as perceções de satisfação residencial dos moradores do bairro Fundação D. Pedro IV (Mira Sintra) e identificar as dimensões da gestão social que podem contribuir para a consolidação de uma estratégia participativa, base essencial para a criação de um modelo de intervenção social neste âmbito Contou com a participação de 79 indivíduos moradores nos diversos edifícios que constituem o bairro e, de forma a medir a Satisfação Residencial utilizou-se a uma adaptação da Escala de Avaliação da Satisfação Residencial proposta por Maria João Freitas (2001). Através deste instrumento pode avaliar-se o bem-estar percebido compreendendo-se que este conceito não está relacionado com a satisfação face a determinada dimensão espacial, mas antes, encontra-se associado a um conjunto de perceções “(…) que se desenvolvem em função de um seu valor de uso socialmente definido, reconhecido ou positivamente cotado” (Freitas, 2009: 111). Para a caracterização sociodemográfica da população em estudo, utilizou-se o questionário de caracterização utilizado pela Divisão de Habitação da Câmara Municipal de Sintra. Muitas vezes, o estigma por se viver em habitação social sentido pelos beneficiários desta política, mas também pela população em geral, contribui para o sentimento de exclusão social, limitando à partida os recursos e capacidades destas populações para exercerem uma cidadania ativa. Por outro lado, também os serviços da administração têm dificuldade desburocratizar os seus procedimentos e utilizar uma linguagem aberta e acessível seus clientes, que os envolva nas tomadas de decisão e na assunção responsabilidades nos assuntos que afetam as suas vidas, tendo dificuldade promover o seu empoderamento (empowerment). em aos de em A análise dos resultados obtidos indica existir um elevado grau de satisfação residencial junto destes moradores, pesando como aspeto menos positivo as relações de vizinhança alargada, especificamente sobre dois grupos específicos da população. O sentimento menos positivo face a essa vizinhança surge como condicionante ao bem-estar desta população e, consequentemente, à sua participação cívica no contexto residencial. O presente estudo pretende ser um contributo para a construção de um modelo de intervenção social, partindo da avaliação da satisfação residencial para fundamentar as estratégias participativas adequadas à consolidação da coesão social nestes contextos habitacionais. Palavras-Chave: Habitação Social, Satisfação Residencial, Participação Comunitária, Coesão Social. Enquadramento Teórico Habitação Social As políticas de habitação dos anos 90 (do século XX) basearam-se essencialmente na concretização do Programa Especial de Realojamento (PER), criado em 1993, com o objetivo de erradicar os bairros de barracas existentes no país, em especial nas periferias das cidades de Lisboa e Porto. Atualmente, no novo milénio, tem-se verificado uma crítica às políticas sociais da geração anterior, nomeadamente sobre o papel do Estado face às populações que apresentam maior vulnerabilidade. Guerra (1994) sugere que essas políticas não providenciaram um apelo à cidadania responsável, surgindo a habitação social na mesma lógica, pesada e burocrática, distante das populações e das suas especificidades, não contribuindo muitas vezes para uma lógica de integração das populações mais desfavorecidas. Os núcleos de realojamento foram construídos, na maioria dos casos, longe dos centros urbanos, de forma concentrada, em altura, com características arquitetónicas específicas e onde se juntaram populações sócio economicamente desfavorecidas, potenciando assim diversas barreiras que dificultam a identificação do indivíduo com o local fazendo com que não o promova nem o defenda, tendo dificuldade em gerar lógicas de ação coletiva (Guerra, 1994). O facto dos bairros sociais alojarem uma população sociocultural heterogénea mas socioeconomicamente homogénea, “dá-lhe grande visibilidade no interior da cidade, embora se trate de uma visibilidade negativa que leva à estigmatização e segregação dos seus residentes” (Augusto, 2000:17). Vários estudos apontam para o gosto pela casa e o desgosto pelo bairro, o que leva a um certo desinvestimento a este nível, sendo muitas vezes esse “desgosto” agravado pela estigmatização externa. O peso do “olhar” de quem não vive no bairro, o estigma da habitação social para a sociedade em geral, são aspetos que contribuem para a desidentificação do indivíduo com o local, dificultando ações coletivas que promovam o convívio, a satisfação residencial e, consequentemente, o bem-estar. Por outro lado, o individualismo típico da modernidade contribuiu para o isolamento dos indivíduos, para a falta de participação cívica e comunitária e para um sentimento de impotência face aos problemas quotidianos com que se vão deparando. Os pressupostos da sociedade de mercado, que valoriza mais o ter do que o ser, concorreu para o isolamento das populações, centralizou as questões do bem-estar e da satisfação nos aspetos materiais, desvalorizando os espaços de encontro e a solidariedade entre os indivíduos. Pelo contrário, as sociedades contemporâneas têm vindo a valorizar cada vez mais a humanização dos processos e as identidades locais, na perspetiva do desenvolvimento social urbano, passando o bem-estar individual a ser condição essencial para o bemestar social (Freitas, 2001). Realojamento “As políticas de realojamento conduziram ao gueto? A casa nova, de que se reclamou incessantemente o direito adquirido, não é afinal a “sua casa”, mas (…) uma esmola que ao invés de colmatar a exclusão a confirma.” (Fernanda Câncio, 2006) Apesar dos processos de realojamento visarem a melhoria das condições de habitabilidade dos indivíduos, o corte com as vivências e condições passadas obriga a uma readaptação e vinculação com o novo lugar. Esta vinculação depende da forma como o espaço habitacional (casa, prédio e bairro) é avaliado e do modo como os indivíduos se inserem e participam na vida social desse espaço. O facto de muitas das famílias realojadas provirem de bairros de barracas, faz com que, a par das vantagens da nova casa face à anterior, se percam sociabilidades e o uso dos espaços secundários (os espaços imediatamente exteriores aos alojamentos), onde se proporcionava o encontro entre as pessoas e se prolongava a vida doméstica. Esta vivência comunitária acaba por se perder quando a maioria das construções é feita em altura, os espaços comuns são mais inseguros contribuindo para o isolamento e solidão. Estes são alguns dos paradoxos dos processos de realojamento, que ao contribuírem para uma melhoria efetiva das condições habitacionais das populações, não conseguiram muitas vezes assegurar uma integração positiva das mesmas, não obstante as parcerias e o trabalho em rede desenvolvido. Satisfação residencial O conceito de satisfação residencial pode ser analisado sob duas perspetivas, a da unidimensionalidade e da multidimensionalidade. Atendendo aos objetivos deste estudo, o conceito de satisfação será analisado na perspetiva multidimensional, uma vez que se apresenta “(…) como indicador subjectivo de qualidade e bem-estar, na medida em que remete para domínios como o da identificação, preferências, percepções, (…) crenças, valores, atitudes e afectos, para além de subentender a existência de processos (…) adaptativos aos contextos” (Freitas et al, 2008:2). Maria João Freitas (2009) aponta, como explicação para a satisfação residencial, razões relacionadas com as características dos indivíduos; com a qualidade dos espaços residenciais em análise e razões ligadas aos processos relacionais entre os indivíduos e os contextos onde residem. No modelo explicativo por si proposto, demonstra que as perceções e representações sociais dos indivíduos são os aspetos que imprimem valor e qualidade, ou seja, “o valor das coisas ultrapassa assim as qualidades intrínsecas dessas coisas (…) em que os indivíduos e espaços valem pelas posições relativas que nele conquistam e desenvolvem” (Freitas, 2001: 108). Participação Comunitária O conceito participação não é consensual e pode ter diferentes definições, por vezes até contraditórias. Participar significa tomar parte em, associar-se, solidarizar-se com, compartilhar1; implicando uma mudança de paradigma e respeito pelos direitos dos outros. Alguns estudos (Rich, R., et al, 1995) identificaram duas formas de participação comunitária: a participação nas organizações e movimentos sociais organizados pelos cidadãos, como o associativismo, os quais identificam os seus próprios objectivos e métodos (Grass-roots), e a participação comunitária formal onde se prevê a possibilidade dos membros de uma comunidade influenciarem as decisões políticas (Government-mandated). Contudo, frequentemente as populações não incorporam esse conceito, acabando por permitir a formação de uma elite, deixando de haver um processo pelo qual os indivíduos tomam parte nas tomadas de decisão das instituições, dos programas e nos ambientes que os afectam. Coesão Social Por coesão social entende-se a “capacidade que uma sociedade tem para assegurar o bem-estar de todos os seus membros, reduzindo as disparidades ao mínimo e evitando a marginalização dos mesmos”2. As estratégias de coesão social promovem a participação activa e positiva de todos os indivíduos num processo de desenvolvimento democrático e sustentável. Objetivos Gerais: Os objetivos definidos pretendem sistematizar as perceções de satisfação residencial dos moradores do bairro Fundação D. Pedro IV (Mira Sintra) e identificar as dimensões da gestão social que podem contribuir para a consolidação de uma estratégia participativa, base essencial para a criação de um modelo de intervenção social neste âmbito. Objetivos Específicos: 1- Avaliar o nível de satisfação residencial desta comunidade específica; 2- Estabelecer uma relação entre satisfação residencial, participação comunitária e qualidade de vida; 3- Identificar e sistematizar categorias de participação que sirvam de base à criação de um modelo de intervenção social. 1 2 In, Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora. In, Guide Guide Méthodologique, Edition Conseil de L’Europe, 2010. Metodologia A amostra probabilística recolhida para este estudo pretendeu assegurar que todos os indivíduos na população tivessem a mesma oportunidade de seleção na amostra, num total de 79 indivíduos, residentes no bairro Fundação D. Pedro IV, em Mira Sintra, o que corresponde a 86,8% do total de fogos existentes (91). Os inquiridos residem nos 6 edifícios que constituem o núcleo de realojamento, situados em duas ruas – Fundação D. Pedro IV nº1, 2, 3, 5 e 6, e na Av. Timor Loro Sae nº 11. Instrumento Esta pesquisa utilizou a aplicação de um questionário composto por duas secções, em que a primeira continha a caracterização sociodemográfica da população em estudo e é um instrumento já utilizado na Divisão de Habitação da Câmara Municipal de Sintra (anexo 1). Na segunda secção as questões pretendiam analisar a satisfação residencial e foram construídas com base no modelo proposto por Maria João Freitas et al (2008), com as necessárias adaptações (anexo 2). São os resultados obtidos com destes dois instrumentos que se apresentam de seguida. O segundo, trata-se de uma escala composta por 95 itens organizada em 5 grandes grupos de indicadores: Alojamento (32 itens), Edifício e Espaços Comuns (14 itens), Espaço exterior/Envolvente/Equipamentos (15 itens), Vizinhança próxima (28 itens), Organização/Gestão do bairro (6 itens). É uma escala ordinal de 4 pontos (1 a 4) que permite a classificação de nada satisfeito (1) até muito satisfeito (4) em cada item considerado. A escala original proposta por Freitas et al (2008) apresentou um elevado grau de consistência e fidelidade, tendo sido posteriormente aplicada noutros contextos com resultados igualmente muito positivos. Procedimento Os questionários foram administrados em contexto de atendimento social, nas instalações da Divisão de Habitação da CMS, no âmbito do processo de atualização de rendas para 2012, levado a cabo nos meses de junho e julho de 2011. Não se definiu obrigatoriedade de resposta pelos titulares do arrendamento, sendo apenas obrigatório o facto de o respondente residir no agregado familiar e ter mais de 18 anos. Não foi possível aplicar à totalidade dos moradores porque, nessa data, encontravam-se 3 fogos devolutos e 9 dos moradores fizeram-se representar por familiares (não residentes no fogo camarário) ou amigos, inviabilizando assim a aplicação do questionário aos mesmos. Foram esclarecidos os objetivos do estudo a todos os respondentes e assegurada a confidencialidade da informação prestada. O questionário de caracterização habitacional e satisfação residencial contemplava respostas do tipo “sim” “não” e uma escala de satisfação que variava entre 4 níveis de ponderação - “nada satisfeito”, ”pouco satisfeito”, “satisfeito” e “muito satisfeito”. Resultados Parte I – Caracterização sociodemográfica Relativamente caracterização da população que respondeu ao questionário sobre a satisfação residencial, verifica-se no gráfico nº 1 que a grande maioria se situa no escalão etário entre os 25 e 64 anos. De referir que a subdivisão dos escalões etários é a que se encontra definida nas grelhas de caracterização sociodemográfica utilizadas pelo município de Sintra, pelo que se mantiveram os critérios aí definidos. Gráfico nº 1 - Escalões etários 50 40 30 20 10 0 2.1. FEM 2.2. MAS 1.4. 16 a 24 1.5. 25 a 64 1.6. '+ 65 anos anos anos Ainda com base neste gráfico, denota-se que a maioria dos respondentes é do sexo feminino com 68% de respondentes, em oposição a 32% do sexo masculino. Regra geral, são as mulheres quem detém maior proatividade para gerir toda a vida doméstica e as questões relacionadas com a habitação, apoios sociais, etc. Mais do que caracterizar a naturalidade e/ou nacionalidade da população em estudo, considera-se importante descrever a origem cultural, na medida em que esse facto pode ser determinante para explicar determinadas questões. Na verdade, se se definisse por exemplo a nacionalidade, no caso da portuguesa não se faria a distinção necessária da população de etnia cigana ou dos filhos de emigrantes de origem africana que detêm nacionalidade portuguesa. Gráfico nº 2 - Origem cultural 8% 11% 1% 31% 49% 4.1. Portugal 4.2.2. África - Angola 4.4. Outras origens 4.2.1. África - Cabo Verde 4.3. Etnia Cigana Assim, no gráfico nº 2 constata-se que 60% da população respondente é de origem africana, com especial destaque a oriunda de Cabo Verde (49%). Segue-se a população de origem portuguesa com 39% do total, dos quais 8% são de etnia cigana. Embora estes dados digam respeito apenas aos respondentes dos questionários sobre a satisfação residencial, verifica-se que a tendência se mantém quando se estuda toda a população residente neste núcleo de realojamento. Ao cruzarem-se as variáveis origem cultural e habilitações literárias constata-se que se trata de uma população com baixos níveis de escolaridade e grande incidência de analfabetismo, especialmente junto da população cabo-verdiana (8) e de etnia cigana (6), conforme ilustra o gráfico que se segue. Gráfico nº 3 - Grau de escolaridade 19 20 15 10 8 8 6 5 4 5 6 5 3 2 4 3 1 1 4 1 1 0 4.1. Portugal 4.2.1. África - Cabo Verde 4.2.2. África Angola 4.3. Etnia Cigana 4.4. Outras origens 7.1. Analfabeto 7.2. 1º Ciclo (1º ao 4ºano) 7.3. 2º Ciclo (5º ao 6º ano) 7.4. 3º Ciclo (7º ao 9º ano) 7.5. Secundário (10º ao 12º ano) 7.7.Superior A maioria desta população detém apenas a 4ª classe (30), 13 completaram o 3º ciclo do ensino básico, 7 o ensino secundário e apenas 1 dos respondentes detém um curso superior. Importa ressaltar que enquanto na população de etnia cigana todos os respondentes são analfabetos, na população de origem africana é onde se verificam níveis mais altos de habilitações literárias (4 com ensino secundário e 1 com ensino superior) em oposição a um elevado número de analfabetos (8). Na população de origem portuguesa a maioria dos respondentes (8) detém o 1º ciclo do ensino básico (4ª classe), seguindo-se os que detêm o 6º ano (6), com o 9º ano que é a escolaridade obrigatória constatam-se apenas 5 indivíduos, e ainda 4 sem qualquer grau de escolaridade. Tratando-se de uma população relativamente jovem, cuja maioria tem entre 25 e 64 anos, o facto de deterem baixos níveis de escolaridade dificulta a sua inserção no mercado de trabalho e potencia as baixas qualificações profissionais destes indivíduos. O questionário não incluía o tipo de atividade profissional exercida mas, pelo conhecimento que se detém da população residente, verifica-se que um número significativo de homens trabalha na construção civil (área em declínio na atualidade) enquanto muitas das mulheres exercem a sua atividade ao nível das limpezas. No gráfico nº 4 caracteriza-se o tipo de ocupação dos respondentes, constatando-se que cerca de 35% exerce uma atividade profissional com vínculo contratual, seguindo-se os reformados por invalidez ou velhice (15%) e os beneficiários de Rendimento Social de Reinserção (RSI) com 13% do total. Gráfico nº 4 - Ocupação 13% 36% 15% 7% 12% 5% Trabalho c/ vínculo Estudante Subsidio de desemprego 12% Trabalho s/ vínculo Desemprego Reforma Os desempregados sem subsídio de desemprego representam 12% total de respondentes, tal como os que trabalham sem vínculo contratual (biscates), enquanto os que recebem subsídio de desemprego são apenas 7%. Por último, os estudantes representam 5% da população em estudo. Apesar das baixas qualificações escolares e profissionais, verifica-se nos que trabalham que a grande maioria exerce uma atividade com vínculo contratual, conforme ilustra o gráfico nº 5, nomeadamente a população de origem africana. Gráfico nº 5 - Atividade profissional e Origem cultural 25 20 20 15 10 5 8 8 3 1 3 4 4 1 2 2 0 4.1. Portugal 4.2.1. África - Cabo Verde 4.2.2. África Angola 4.3. Etnia Cigana 4.4. Outras origens 10.1. Trabalho c/ vinculo contratual 10.2. Trabalho s/ vinculo contratual (biscates) 10.6. Act. prof. c/ carga horária reduzida ou irregular 10.7. Desemprego Em segundo lugar surge o trabalho sem vínculo contratual (biscates) com a mesma incidência que o desemprego (11 indivíduos/cada). De referir que na população de etnia cigana os números apresentados não são reais, na medida em que praticamente a totalidade da população dedica-se à pequena venda ambulante, embora não o declare e por isso não esteja representada neste gráfico. Quanto aos rendimentos auferidos, verificam-se apenas dois escalões de rendimentos, sendo o mais relevante (78%) até uma remuneração mínima (que para o ano de 2011 foi definida em 485€), e 22% do total aufere rendimentos até 2 remunerações mínimas nacionais, conforme se pode ver no gráfico seguinte. As baixas qualificações escolares e profissionais para além de dificultarem o acesso ao mercado de trabalho, também condicionam o nível de rendimentos que estas famílias conseguem atingir. Gráfico nº 6 - Rendimentos auferidos 0% 22% 78% 12.1. Até 1 RMN 12.2. De 1 RMN a 2 RMN Se atendermos ao facto dos agregados familiares terem em média 4 elementos, verificase que o rendimento per capita é extremamente baixo, com cerca de 120€/mês por elemento. Conclui-se com estes dados que a maioria da população em estudo sobrevive com muito baixos rendimentos e naquilo que se pode considerar o limiar de pobreza. Relativamente ao tipo de família, no gráfico nº 7 constata-se que 39,5% dos respondentes está integrado em famílias nucleares, sendo o tipo de família com maior representatividade em todas as origens culturais. Seguem-se as famílias extensas com 20,9%, onde residem várias gerações na mesma habitação, com maior número na população de origem africana. Gráfico nº 7 - Tipo de família 16 14 12 10 8 6 4 2 0 15 15.1. Nuclear 15.1.1. Monoparental feminina 9 9 15.1.2. Monoparental masculina 8 6 4 1 2 1 2 3 1 4 22 15.2. Recomposta/Reconstituída 3 3 11 1 2 15.3. Extenso 1 15.4.1. Isolado S/ suporte familiar ou social 4.1. Portugal 4.2.1. África 4.2.2. África - Cabo Verde - Angola 4.3. Etnia Cigana 4.4. Outras origens 15.4.2. Isolado C/ suporte familiar 15.4.3. Isolado C/ suporte social Estas conclusões não são visíveis nas famílias de etnia cigana porque, neste bairro concreto, sempre que um dos filhos casa (ainda adolescente), constrói uma barraca nos fundos vazados dos prédios camarários, deixando assim de fazer parte do agregado familiar inicial. As famílias monoparentais femininas representam 18,5% do total e só se verificam nas de origem cabo-verdiana e portuguesa. Esta característica poderá ser sinónimo de maior dificuldade na gestão financeira, na medida em que apenas um adulto é a fonte de rendimento de todo o agregado. Mães que têm a seu cargo filhos menores, sem um cônjuge que apoie nas despesas da família, apresentam situações de pobreza grave e por vezes de negligência para com os filhos, nomeadamente pela incapacidade de conciliar a vida profissional com a vida familiar. Associando este facto ao exercício de profissões não qualificadas e por isso com remunerações baixas, pode afirmar-se que são famílias com dificuldade em progredir favoravelmente ao nível da sua mobilidade social. Apenas um apontamento relativamente aos isolados, em que se verifica que a maioria tem uma rede de suporte familiar e/ou social que lhes serve de apoio, o que é um aspeto positivo para assegurar o bem-estar destes indivíduos. No que respeita à situação de saúde (gráfico nº 8), verifica-se que os problemas com mais relevo apontados pelos respondentes são as doenças crónicas (especialmente na população do sexo feminino). Essas patologias variam entre mais e menos graves (doença oncológica, doença cardíaca, hérnias, osteoporose, diabetes, etc.), algumas delas incapacitantes para o trabalho e correspondem a 17,3% dos inquiridos. Gráfico nº 8- Situação de saúde 9,5, Outras doenças crónicas 35 9,6, Dependência de terceiros 30 9.1. Deficiência física 25 9.3. Doença mental 20 15 10 5 9.4. Doença Infecto-contag. crónica 9.7.1. Gravidez precoce (adolescentes até 20 anos) 9.7.2. Gravidez não planeada 12 5 1 1 1 1 5 2 1 1 1 1 1 9.7.3. Ausência de planeamento familiar 9.8. Alcoolismo 0 2.1. FEM 2.2. MAS Ainda sobre a saúde merece destaque o indicador “gravidez não planeada” na população feminina e “alcoolismo” na população masculina, representando cada um deles 6% do total da população em estudo. Por último, relativamente às problemáticas da família no gráfico nº 9 pode visualizar-se que a dificuldade no exercício da parentalidade é a que apresenta a percentagem mais elevada com 32%. Gráfico nº 9 – Problemáticas da família 0% 11% 16.1. Conflitos no agregado familiar 22% 34% 16.19. Ingestão de bebidas alcoólicas 22% 11% 16.3. Exp. menores a modelos parentais desviantes 16.6. Dif. conciliação trabalho/familia 16.7. Dif. exercício da parentalidade Com 22% surge a questão da “ingestão de bebidas alcoólicas”, que também já tinha sido referido anteriormente como problema de saúde, com destaque para a população masculina. Este indicador está intimamente associado aos 22% de situações em que se verificam “conflitos no agregado familiar” e aos 11% de “exposição de menores a modelos parentais desviantes”. A “dificuldade de conciliação do trabalho/família” representa 11% das situações e, está relacionada com a monoparentalidade feminina, como já foi referido anteriormente. Este tipo de problemáticas familiares tem consequências diretas no comportamento das crianças e jovens que fazem parte destes agregados familiares, compreendendo-se assim alguns aspetos que são referidos ao nível da avaliação da satisfação residencial e que são descritos de seguida. Parte II – Satisfação Residencial Bem-estar percebido Na avaliação do bem-estar percebido foram analisadas as variáveis relacionadas com o alojamento, a segurança no edifício, ambiente, segurança e vizinhança próxima, privacidade, processo de entrega do fogo e relacionamento com os serviços camarários. Nos dados recolhidos verifica-se que a avaliação do alojamento é ainda mais positiva (M=3,5) do que com o edifício (M=3,07), embora ambos os indicadores apresentem médias positivas, conforme ilustra o gráfico nº 10. Gráfico nº 10 – Satisfação quanto ao alojamento e edifício 3,07 Edifício 3,5 Alojamento 2,8 3 3,2 3,4 3,6 No gráfico nº11 pode constatamos que a maioria das pessoas se encontra muito satisfeita com a segurança na entrada do fogo, com o sistema de recolha de lixo e com a vista a partir do alojamento. Gráfico nº 11 – Segurança no Edifício O único item que apresenta maior insatisfação junto da população é a falta de segurança no edifício, encontrando-se 31,6% dos respondentes pouco ou nada satisfeitos, o que se prende com o facto da maioria destes prédios terem as portas de entrada e campainhas avariadas/vandalizadas (estando por isso sempre abertas), não obstante as inúmeras reparações promovidas pela CMS, como se pode visualizar na imagem nº 1. Imagem 1 No que respeita à privacidade em relação aos vizinhos, a maioria dos residentes refere estar “muito satisfeito”, conforme ilustra o gráfico nº 12. Gráfico nº 12 – Privacidade Apenas quando se aborda a questão do conforto acústico as opiniões são diferentes, havendo 29,1% do total que se mostra pouco (15) ou nada satisfeito (8) com o barulho provocado pelos vizinhos. Os espaços exteriores foram avaliados na perspetiva da segurança das zonas de recreio das crianças, da manutenção dos espaços verdes, da existência, qualidade e proximidade dos equipamentos de lazer, da segurança contra roubos e atos de vandalismo e da imagem do bairro em geral. Relativamente à primeira verifica-se que no espaço do bairro não existe qualquer equipamento ou zona destinada ao espaço de recreio das crianças, pelo que as mesmas brincam junto à estrada e ou rotunda que atravessam o bairro (Imagem 2 e 3). Imagem 2 e 3 Conforme se visualiza no gráfico nº 13, 70% dos moradores encontram-se pouco ou nada satisfeitos relativamente a este aspeto. Gráfico nº 13 – Segurança espaços de recreio crianças 2% 24% 28% 46% Nada satisfeito Pouco satisfeito Satisfeito Muito satisfeito Os 28% de respondentes que demonstram alguma satisfação, referiram recorrer aos espaços de recreio existentes na freguesia, mas que se localizam fora do bairro, não deixando os filhos brincar na rua sozinhos. No que concerne aos equipamentos de lazer, 63% dos respondentes está satisfeito ou muito satisfeito com os existentes na freguesia, conforme ilustram a imagem 4 e o gráfico nº 14. Imagem 4 Parque Urbano de Mira Sintra Gráfico nº 14 – Equipamentos de lazer 8% 34% 29% 29% Nada satisfeito Pouco satisfeito Satisfeito Muito satisfeito No bairro de realojamento propriamente dito, não existe qualquer equipamento de lazer, pelo que os restantes moradores que demonstram algum descontentamento (37%) referiram que deveria existir um ringue ou campo de jogos para as crianças e, outro tipo de respostas para as pessoas mais idosas. As zonas verdes da freguesia de Mira Sintra são uma mais-valia e um investimento importante por parte da Junta de Freguesia (Imagem 5 e 6) que, para manter esses espaços com boa manutenção, estabeleceu um protocolo de colaboração com o Centro de Educação para o Cidadão Deficiente de Mira Sintra (CECD), através do qual os seus utentes asseguram a manutenção desses espaços no âmbito dos cursos de formação em jardinagem. Imagem 5 e 6 Através do gráfico nº 15 denota-se que 77% da população residente no bairro está satisfeita ou muito satisfeita ao nível das zonas verdes. Gráfico nº 15 – Zonas verdes 8% 33% 15% 44% Nada satisfeito Pouco satisfeito Satisfeito Muito satisfeito O descontentamento de 23% dos moradores prende-se com o facto de, ao nível do bairro, os espaços verdes que circundam os edifícios se encontrarem degradados, não só pela falta de cuidado de alguns dos moradores, mas também das famílias de etnia cigana que se encontram a residir nos fundos vazados dos prédios. Pesa negativamente a falta de manutenção e investimento nesses espaços por parte da Junta de Freguesia (Imagem 7 e 8). Imagem 7 e 8 Ainda dentro da variável bem-estar percebido, importa avaliar a perceção dos moradores ao nível da segurança contra roubos e atos de vandalismo, verificando-se ser este um dos aspetos que gera mais descontentamento junto da população. Como se pode constatar no gráfico nº 16, 66% da população está pouco ou nada satisfeita, mostrando-se insegura quanto ao local de residência. Gráfico nº 16 – Segurança contra roubos e atos de vandalismo 5% 28% 29% 38% Nada satisfeito Pouco satisfeito Satisfeito Muito satisfeito Este facto prende-se com a ocorrência de roubos na via pública e assaltos a habitações que se tem vindo a verificar e, está associado a um grupo de jovens delinquentes filhos de arrendatários, que permanece sem qualquer ocupação nos espaços comuns dos prédios ou junto às janelas do Rés-do-chão do prédio Nº 2 (Imagem nº 9). Imagem 9 Por outro lado, também é recorrente a pintura de paredes com grafitis e a vandalização dos espaços comuns dos prédios por parte deste grupo (Imagem 10 e 11), o que gera descontentamento e sentimentos de insegurança junto dos moradores. Imagem 10 e 11 Recentemente, no Dia do Voluntariado, a Associação Casa Seis, cuja sede se localiza no prédio Nº 6, procedeu a uma ação de requalificação da entrada desse edifício com os jovens que frequentam o Clube de Jovens (Imagem 13), na sequência das paredes terem sido grafitadas propositadamente pelo referido grupo de delinquentes, após uma rusga feita pela polícia ao bairro (Imagem 12). Imagem 12 e 13 Em termos gerais, uma percentagem considerável de moradores (46%) está pouco ou nada satisfeita com a imagem do bairro, contra 57% que a considera positiva ou muito positiva, conforme se pode verificar no gráfico nº 17. Gráfico nº 17 – Imagem do bairro 15% 32% 28% 25% Nada satisfeito Pouco satisfeito Satisfeito Muito satisfeito Embora se tratasse de uma questão fechada, alguns dos moradores referiram que a imagem geral do bairro é menos positiva pelo facto de se encontrarem famílias de etnia cigana a residirem nos fundos vazados dos prédios de realojamento (Imagens 14 e 15), em barracas de madeira, sem quaisquer condições de habitabilidade, o que criou a denominação de “bairro dos ciganos” junto da população da freguesia de Mira Sintra. A maioria destas famílias são constituídas por filhos de arrendatários da CMS realojados inicialmente nos fogos camarários, que se apossaram de forma ilegal do referido espaço quando casaram, alegando não ter outra alternativa habitacional. Está previsto o realojamento destes agregados a médio prazo, bem como o encerramento definitivo dos fundos vazados e sua requalificação através da criação do Centro de Recursos de Mira Sintra. Imagem 14 e 15 No gráfico seguinte podem visualizar-se os valores médios obtidos nos indicadores de bem-estar percebido, confirmando-se que é ao nível da segurança contra roubos (M=2,1) e dos espaços de recreio das crianças (M=2,09) que se verifica maior insatisfação, com médias muito próximas dos 2 valores. Gráfico nº 18 – Média de satisfação quanto ao bem-estar percebido 2,9 Equipamentos lazer 2,73 Imagem do bairro 2,11 Segurança contra roubos 3,03 Zonas verdes 2,09 Seg. recreio crianças 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 Também se verifica que a imagem do bairro é percecionada de forma menos positiva, sendo a média registada de 2,7 valores. Satisfação com imagem para o exterior O segundo grupo de questões analisadas pretendia avaliar a satisfação com a imagem para o exterior e englobava o conforto visual, as acessibilidades, as proximidades e o conforto dos espaços comuns. Relativamente ao conforto visual pode verificar-se no gráfico nº 19 que 61% dos moradores estão muito satisfeitos, contra 14% que não estão nada satisfeitos. Gráfico nº 19 – Conforto visual 3% 61% Nada satisfeito Pouco satisfeito 11% 25% Satisfeito Mto. Satisfeito O bairro encontra-se no final de uma rua, é circundado por terrenos baldios sem construções em altura, o que lhe confere boas condições de luminosidade e vista desafogada, conforme ilustram as imagens seguintes. Imagem nº 16 e 17 Relativamente ao grau de satisfação com as acessibilidades e proximidades, a grande maioria dos respondentes encontra-se muito satisfeita ou satisfeita com a proximidade em relação ao local de trabalho e aos acessos ao bairro, conforme ilustra o gráfico nº 20. Gráfico nº 20 – Acessibilidades e Proximidades 100 Nada satisfeito 73 67 55 Pouco satisfeito 50 0 1 11 0 0 6 15 2 7 Satisfeito 0 Proximidade trabalho Acesso ao bairro Calma e tranquilidade Muito satisfeito Na verdade, a freguesia de Mira Sintra tem uma rede de transportes adequada, sendo possível a utilização de autocarro ou comboio (imagem 18). Para além disso, muitos dos moradores conseguem trabalhar nas freguesias vizinhas ou em zonas cujos transportes públicos permitem um acesso facilitado. Imagem 18 – Estação ferroviária de Mira Sintra - Meleças Ao nível da calma e tranquilidade sentidas pelos moradores, 88,6% dos indivíduos referiu estar satisfeito ou muito satisfeito com este aspeto, registando-se apenas 11,4% pouco ou nada satisfeitos. Mais uma vez, pelo facto do bairro ter apenas uma ligação viária ao resto da urbanização, por se encontrar numa rua sem saída e por ter como envolvente terrenos baldios sem qualquer construção (Imagens nº 19 e 20), esta perspetiva é valorizada por parte dos moradores. Nesse local deambulam animais de grande porte (cavalos) e existem pequenas construções de barracas que dão apoio às hortas cultivadas no local. Imagem nº 19 e 20 Satisfação com o edifício e equipamentos A avaliação da entrada do prédio, o aspeto da entrada e a manutenção dos espaços comuns, são dos indicadores que apresentam as percentagens mais elevadas de descontentamento junto dos respondentes. Ainda assim, a grande maioria encontra-se satisfeita e muito satisfeita com estes itens, conforme se verifica no gráfico nº 21. As entradas dos prédios são avaliadas de forma mais negativa com cerca de 38% dos respondentes pouco ou nada satisfeitos, seguindo-se o aspeto da entrada com 26,2% de respostas negativas, e a manutenção dos espaços comuns com 21,5%. Gráfico nº 21 – Satisfação com a entrada do prédio, aspeto da entrada e manutenção dos espaços comuns 40 27 30 20 13 17 31 22 30 32 27 Nada satisfeito 9 12 10 12 5 0 Entrada do prédio Aspecto entrada Manutenção esp. Comuns Pouco satisfeito Satisfeito Muito satisfeito A imagem nº 21 ilustra o aspeto da entrada de um dos prédios (Nº 6) cuja porta em alumínio foi substituída por uma porta em ferro, mas mesmo assim neste momento o trinco não funciona, encontrando-se a mesma sempre aberta. Na imagem nº 22 podem visualizar-se as caixas de correio de outro prédio (Nº 1), encontrando-se algumas delas vandalizadas. Imagem nº 21 e 22 Entrada do Nº 6 Caixas do correio do Nº 1 Importa referir que a manutenção dos espaços comuns é da responsabilidade dos moradores, tendo-se criado escalas de limpeza para o efeito, embora uma parte significativa dos mesmos não as cumpra. Por outro lado, nos prédios onde residem agregados familiares com crianças pequenas e ou jovens, é onde se verifica pior manutenção dos espaços comuns, motivada pela dificuldade de controlo parental (Imagens 23 a 25). Aquando da caracterização da população referenciou-se este aspeto como uma das problemáticas familiares sentidas (gráfico nº 9). Imagens nº 23, 24 e 25 Apesar de tudo, regra geral, não se verifica lixo acumulado nos espaços de circulação comuns. No que concerne ao edifício, foram analisados os indicadores apresentados no gráfico nº 22, no qual se pode constatar que em todos eles, a maioria dos respondentes se encontra muito satisfeita. Trata-se de um bairro cujos prédios têm 3 pisos, onde em apenas dois deles (nº 6 e nº 4) existem caves, residindo apenas 3 ou 4 famílias por piso, num total de cerca de 16 famílias por prédio. Gráfico nº 22 – Satisfação com o edifício 80 60 40 20 0 Nº Pisos Nada satisfeito Nº Habitações Andar em que por piso está Pouco satisfeito Satisfeito Aspecto exterior edifício Muito satisfeito O aspeto exterior dos edifícios do bairro é bom e não se denota qualquer diferença arquitetónica relativamente à restante urbanização (imagens 26 e 27), o que permite uma maior satisfação e integração para quem ali vive. Imagem 26 e 27 O grau de satisfação com os equipamentos existentes na vizinhança próxima também é elevado, conforme representado no gráfico nº 23. Gráfico nº 23 – Satisfação com equipamentos 74 74 78 80 68 60 40 20 0 0 0 6 0 1 1 0 28 23 22 1 4 4 1 10 Estabelecim. comerciais Estabelecim. Saúde Escolas Equipamentos lazer 0 Locais culto Nada satisfeito Pouco satisfeito Satisfeito Muito satisfeito A maioria dos respondentes está muito satisfeita quanto à proximidade do bairro com os estabelecimentos comerciais, já que na mesma rua existem dois cafés, um cabeleireiro, um talho, uma papelaria, uma loja chinesa e um supermercado Lidl (imagem 28 e 29), bem como uma caixa automática multibanco. Imagem 28 e 29 A escola D. Domingos Jardo, uma das escolas primárias deste agrupamento, a PSP e a extensão do Centro de Saúde distanciam-se a poucos metros do bairro, tal como a Junta de Freguesia que está implantada junto à rotunda (imagens nº 30 a 33). Imagem 30 e 31 Instalações da Junta de Freguesia, indicação de PSP e Escola Imagem 32 e 33 Instalações da PSP e extensão do Centro de Saúde do Cacém em Mira Sintra O fator que revela maior descontentamento refere-se aos equipamentos de lazer, em que 35,4% do total de indivíduos está pouco ou nada satisfeito, o que se justifica na medida em que no espaço do bairro e nas suas imediações, não existe qualquer equipamento de lazer. Inclusivé os moradores apontam e reconhecem esse aspecto como uma necessidade, através da criação zonas adequadas para crianças e idosos (Mapa de localização - anexo 3). De qualquer modo a avaliação destes indicadores é bastante positiva, como se pode verificar no gráfico nº 24, encontrande-se as médias quase no valor máximo. Gráfico nº 24 – Média da satisfação com equipamentos e acessibilidades 3,56 Calma e tranquilidade 3,92 Acesso ao bairro Proximidade trabalho 3,84 Locais culto 3,85 2,92 Equipamentos lazer 3,99 Escolas Estabelecim. Saúde 3,92 Estabelecim. comerciais 3,92 0 1 2 3 4 Relações de Vizinhança Considera-se que esta variável tem um peso considerável na perceção da satisfação residencial, na medida em que “a satisfação residencial revela-se então como uma possível tradução para os sistemas espaciais do que é o produto do que os indivíduos conseguem ser na relação com os outros (…)” (Freitas, 2009:115). Importa referir que houve o cuidado de colocar as questões sempre pela positiva, inclusive na escala proposta, para que houvesse a menor influência do inquiridor na resposta obtida, garantindo a sua fiabilidade. Assim, verifica-se que a grande maioria dos moradores conhece os seus vizinhos, conforme ilustra o gráfico nº 25. Gráfico nº 25 - Conhece os seus vizinhos? 8% Sim Não 92% Quando questionados sobre a perceção que têm desses vizinhos, a esmagadora maioria dos respondentes está muito satisfeita com a vizinhança próxima considerando os vizinhos simpáticos, pacíficos, reservados, prestáveis e educados. O único aspeto que tem uma avaliação menos positiva é sobre o sossego/barulho, em que 12,7% dos moradores considera os vizinhos pouco sossegados (gráfico nº 26). Gráfico nº 26 - Perceção da vizinhança próxima N… E… R… P… S… Si… 0 61 16 56 20 3 0 56 18 4 1 1 1 55 19 5 0 P… 49 29 01 44 21 10 4 49 27 12 10 20 30 40 Muito Sati. Satisfeito 50 Pouco satisf 60 70 Nada satisf Uma vez que os moradores se conhecem entre si e têm, no geral, uma perceção positiva dos vizinhos, importa caracterizar quem são as pessoas com quem mais se relacionam no bairro. Embora houvesse várias hipóteses de resposta, pediu-se aos respondentes que escolhessem aquela que era mais representativa das suas relações, conforme se ilustra no gráfico seguinte. Gráfico nº 27 - Com quem mais se relaciona no bairro? 0% 0% Familiares 21% Amigos 9% Vizinhos 70% Antigos vizinhos Colegas trabalho Como se pode verificar 70% dos moradores estabelece relações com os vizinhos, regra geral com os vizinhos mais próximos. Uma vez que existem diversos agregados familiares que fazem parte da mesma família, registam-se 21% de respondentes que apontaram os familiares como as pessoas com quem mais se relacionam no bairro. Porém, nalguns casos esses familiares são os que residem na habitação camarária, o que significa que não se dão com os vizinhos. Os 9% que referiram “amigos” também incluem neste grupo alguns vizinhos, com os quais estreitaram laços de amizade. Estas conclusões poderão estar relacionadas com o tempo de residência no local, verificando-se que 78,5% dos moradores habita há vários anos (entre 6 a 10), contra apenas 21,5% dos respondentes habita há menos de 5 anos no bairro. No geral a perceção dos vizinhos é muito positiva, pese embora se registem 6% de indivíduos pouco ou nada satisfeitos em relação aos vizinhos, conforme representado no gráfico nº 28. Gráfico nº 28 - Perceção geral dos vizinhos 1% 5% 27% 67% Nada satisf Pouco satisf Satisfeito Muito Sati. Os valores médios obtidos relativamente as relações de vizinhança próxima também são muito positivos - 3,6 - valor esse muito próximo do valor máximo (4), como se pode visualizar no gráfico nº 29. Gráfico nº 29 – Média de satisfação quanto à vizinhança próxima 3,61 No geral Educados 3,63 Prestáveis 3,63 3,73 Reservados 3,67 Pacíficos 3,33 Sossegados 3,57 Simpatia 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5 3,6 3,7 3,8 O espaço de encontro entre os vizinhos ocorre preferencialmente em casa (do próprio ou do vizinho), pontualmente na rua e muito raramente fora do bairro, tal como ilustra o gráfico nº 30. Gráfico nº 30 – Local de encontro 60 50 57 47 47 Nunca 40 Raras vezes 30 20 13 11 8 10 13 7 12 7 As vezes 12 Sempre 3 0 Na rua Em casa Fora do bairro Um número considerável de moradores refere a necessidade da autarquia disponibilizar um espaço que possa ser utilizado a nível comunitário para convívio, festas, considerando não existir qualquer alternativa para esse efeito no bairro. Pareceu-nos importante avaliar o desejo de sair do bairro ou de mudar de casa como indicador de satisfação ou insatisfação em relação ao local onde vivem, sendo questões separadas que possibilitavam diferentes respostas. No gráfico nº 31 verifica-se que 43% dos moradores não quer mudar de casa nem de bairro, ou seja, praticamente metade dos respondentes estão satisfeitos com o local onde vivem. Porém, praticamente outra metade (44%) quer mudar de casa e de bairro, sendo que 9% só quer mudar de casa (por ser pequena ou muito húmida) mas manter-se no mesmo bairro e, 4% estão satisfeitos com a casa mas gostariam de mudar de bairro. Gráfico nº 31 - Quer mudar de casa/bairro? 44% 43% 9% 4% Não quer mudar Mudar só de casa Mudar só de bairro Mudar de casa e de bairro Estes dados demonstram que um número considerável de moradores gosta de viver naquele local (52%). Quando questionados sobre os motivos para quererem mudar de casa, os respondentes apontam os aspetos enunciados no gráfico nº 32. Gráfico nº 32 – Motivos para querer mudar de casa 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 16 11 7 3 4 1 1 2 1 1 1 1 Nº Como se pode verificar no gráfico o principal motivo apontado para o desejo de mudar de casa é a má vizinhança (16), seguindo-se a falta de espaço (11) e o mau ambiente (7). Estes indicadores estão relacionados com a insatisfação sentida para com o bairro em geral e não com questões relacionadas especificamente com a fração habitacional (à exceção da falta de espaço). Denota-se um paradoxo entre estes e os resultados obtidos quando se questionava sobre a satisfação quanto à vizinhança próxima (gráficos nº 25 a 28) e de facto, vários estudos dão nota desta contradição (Pinto, 1994; Augusto, 1998; Freitas, 2008). As relações de pertença estabelecem-se essencialmente com os vizinhos mais próximos (no mesmo patamar, ou até do mesmo prédio), ao passo que a vizinhança alargada é vista com desconfiança e como o “outro” com quem não se identificam. Há assim uma clara diferença em como é vista a vizinhança próxima e a vizinhança alargada. Este aspeto é mais vincado no bairro em estudo, pelo facto de se encontrarem famílias de etnia cigana a ocupar o espaço público dos fundos vazados dos prédios (tendo construído barracas), agravando assim o estigma já existente relativo à habitação social, tanto por parte dos moradores como da restante população de Mira Sintra. Por último, foi também avaliado o processo de entrega dos fogos e a satisfação quanto ao valor de renda pago, por se considerar importante a opinião dos moradores sobre a intervenção dos serviços de habitação. Apesar de não ter sido uma questão aprofundada, sendo para tal necessária a criação de um instrumento específico de avaliação da qualidade, pretendia-se obter alguma informação sobre a perceção dos moradores sobre este aspeto. Assim, foram apresentadas apenas seis questões fechadas, cujas possibilidades de resposta também eram representadas pela mesma escala. Os itens analisados referiam-se ao grau de satisfação quanto à forma como o processo foi conduzido, à participação do inquirido no processo de atribuição, ao relacionamento com os Técnicos da Câmara, à informação recebida sobre o bairro, ao processo de entrega da habitação e quanto ao tempo que decorreu entre o pedido de habitação e a atribuição do fogo. No gráfico nº 33 verifica-se que a nível geral a maioria dos inquiridos encontra-se satisfeita ou muito satisfeita no que concerne ao processo de atribuição, à sua participação e ao processo de entrega do fogo. Gráfico nº 33 – Grau de satisfação quanto ao processo 50 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 44 38 40 38 33 33 36 37 35 28 26 12 8 0 2 1 2 0 1 2 Condução Participação Relação com Informação do processo no processo Técnicos sobre bairro Nada satisfeito Pouco satisfeito Satisfeito 1 3 Processo entrega 4 Tempo de espera Muito satisfeito Onde se verifica maior insatisfação (12) é no tempo de espera entre o pedido de habitação e a entrega da mesma. Tendo em conta que a maioria destas famílias foi realojada no âmbito do Programa Especial de Realojamento (PER), foi necessário aguardar vários anos para que as habitações ficassem concluídas. O recenseamento foi realizado em 1993 e a atribuição das habitações ocorreu cerca de uma década depois, em 2001/2002. Também os agregados que foram realojados posteriormente ao PER consideram que o tempo de espera foi prolongado, o que está relacionado com o número total de fogos gerido pela CMS ser diminuto (cerca de 1.300), face às carências habitacionais registadas no concelho. Também pesa o facto de muitas habitações serem vandalizadas e deixadas sem quaisquer condições de habitabilidade, o que condiciona a capacidade de resposta habitacional por parte da autarquia. Os restantes indicadores apresentam uma avaliação muito positiva nomeadamente, no que respeita à participação no processo de atribuição (em que a autarquia tenta promover que o realojamento se dê em zonas próximas à residência anterior ou que haja proximidade com o local de trabalho). A relação com os Técnicos também regista uma ponderação muito positiva (50), embora se verifique algum descontentamento quanto à informação prestada sobre o bairro (8). Coloca-se a questão de os circuitos de informação da autarquia com a população ainda serem demasiado burocráticos e morosos, sendo um aspeto da gestão a melhorar. Importa ainda referir que a média geral quanto a este indicador é de 3,4, valor esse que pode ter sido inflacionado pelo facto do questionário ter sido aplicado pelo Técnico que faz a gestão social do bairro. Por fim, relativamente aos valores de renda cobrada no gráfico nº 34 constata-se que 86% dos moradores estão satisfeitos (25%) ou muito satisfeitos (61%) com o valor de renda cobrada, contra apenas 14% dos respondentes que referem estar pouco ou nada satisfeitos. Gráfico nº 34 - Satisfação com a renda 3% 11% 61% Nada satisfeito Pouco satisfeito 25% Satisfeito Mto. Satisfeito Este facto justifica-se na medida em que o valor de renda médio cobrado em 2011 foi cerca de 60 euros, valor esse consideravelmente baixo quando comparado com o valor das rendas cobradas no mercado de arrendamento privado. Apesar de algumas famílias reclamarem dos valores pagos, a maioria reconhece e sente-se satisfeita com o valor de renda apoiada cobrado pela autarquia. Conclusões O presente estudo pretendeu avaliar o nível de satisfação residencial dos moradores do bairro Fundação D. Pedro IV em Mira Sintra, uma vez que não existiam dados sobre esta matéria na Divisão de Habitação (DHAB), serviço que faz a gestão social dos fogos habitacionais municipais. Para além da qualidade ao nível dos espaços construídos (dimensão física), considerouse fundamental conhecer a perspetiva dos moradores ao nível da sua satisfação, sentimentos de bem-estar e dimensões simbólicas das vivências do espaço residencial, numa vertente holística. Reconhece-se assim a relação direta que existe entre os comportamentos, as dinâmicas sociais e o meio ambiente, numa perspetiva transacional “(…) em que da confluência de pessoas, espaço e tempo emergem compostos de múltiplos aspectos que simultânea e conjuntamente definem o todo de relações entre processos, actividades ou pessoas fazendo coisas e o meio ambiente físico, social e cultural em que estes se inscrevem” (Freitas et al, 2008:1). Também era objetivo deste estudo enunciar as dimensões mais importantes a trabalhar na intervenção social, que permitam potencializar a elevação dos níveis de satisfação residencial e, consequentemente, de qualidade de vida dos moradores. Deste modo, este capítulo debruçar-se-á sobre os resultados mais relevantes, fará referência às limitações do estudo e a possíveis implicações práticas do mesmo em termos futuros. Integração e discussão dos resultados Analisar e avaliar a satisfação residencial é um processo complexo, que deve relacionar diferentes componentes, como nos propõem Weidermann e Anderson (1985, in Freitas, 2008) a saber, atributos objetivos do meio ambiente; crenças acerca desses atributos; atitudes, afetos e comportamento relativamente ao meio ambiente. Por seu turno, Maria Amérigo (1995, in Freitas et al, 2008), propõe uma síntese de alguns dos preditores de satisfação residencial corelacionando-os através de dois vetores: um de carater subjetivo que se justapõe a outro de carater objetivo, e outro vetor que contrapõe preditores de carater físico a preditores de carater social, que permitem analisar as variáveis definidas. Foi com base nestes pressupostos que a escala de avaliação utilizada integrava 4 níveis de satisfação, considerando-se resultados positivos os que se situam acima do 2 e negativos os que estão abaixo desse valor. Assim, constata-se (gráfico nº 34) que no geral, as médias são bastante elevadas, podendo afirmar-se que existe um elevado grau de satisfação residencial junto dos moradores do bairro Fundação D. Pedro IV, em Mira Sintra. Gráfico nº 34 – Valores médios por categoria 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 3,5 3,1 3,7 3,5 2,9 3,6 2,8 3,4 2,7 Na mesma linha de outros estudos (Freitas, 1994; Pinto, 1994; Augusto, 1998; Almeida, 2011) verifica-se uma maior satisfação com o alojamento e uma apreciação sobre o bairro mais negativa, nomeadamente ao nível da imagem sobre o mesmo. O indicador com avaliação mais elevada é “Espaço exterior/Equipamentos” (M=3,7) o que se justifica pelo facto de Mira Sintra ser a freguesia do concelho de Sintra que apresenta o melhor rácio entre número de respostas sociais/equipamentos e o número de habitantes. Como foi descrito anteriormente, relativamente perto do bairro de realojamento existem os diversos serviços básicos (educação, saúde, segurança, etc.), bem como uma rede de transportes viários eficiente e outros serviços como o comércio. Ainda no que respeita ao espaço exterior, embora os respondentes tenham apontado como uma vantagem o bairro localizar-se no final de uma avenida e desembocar num terreno baldio e numa rua sem saída, considera-se que estes aspetos contribuem para a desintegração daquela zona face à restante freguesia, em que só se desloca aquele local quem ali habita. Este isolamento também promove um conjunto de hábitos de vida quotidiana que prejudicam uma adequada integração cívica e contribuem negativamente para as relações de vizinhança alargada. Por outro lado, dificultam o controlo por parte das forças de segurança, quando há necessidade de intervir face a situações de delinquência ou crime. Outro aspeto a ressaltar é o facto da maioria dos moradores já residir no bairro há cerca de 10 anos, permitindo assim que já tenha sido ultrapassado o processo de readaptação ao novo local e que se tenha estabelecido uma vinculação com o mesmo, podendo mesmo afirmar-se que a maioria se encontra bastante identificada com o local. Por esse motivo foi possível o estabelecimento de laços de amizade e pertença com as vizinhanças próximas, registando-se um valor médio de 3,6 neste indicador. Registam-se positivamente as variáveis relativas ao alojamento (M=3,5) e ao edifício (M=3,1) sendo o realojamento encarado como uma conquista e uma promoção no estatuto residencial. Pelo grau de satisfação apurado pode concluir-se que esta população se encontra num processo de afirmação e de mobilidade social. A avaliação ao nível do processo e do relacionamento com a autarquia apresenta o valor 3,4, sendo de destacar a necessidade de melhoria na prestação de informação à população residente. Considera-se que a este nível o número e especificidade das questões realizadas não possibilita fazer uma análise do serviço prestado pela Divisão de Habitação, sendo uma área onde se justifica um investimento mais pormenorizado que englobe as diferentes áreas da gestão habitacional municipal. Os aspetos apontados sobre os quais a satisfação dos respondentes não é tão positiva prendem-se com a imagem que têm sobre o bairro e que consideram negativa perante a população em geral (M=2,7), a vizinhança alargada (M=2,8) que, no caso em estudo se refere especificamente às famílias de etnia cigana e ao grupo de jovens que vandaliza e permanece nos espaços comuns, contribuindo para a sua vandalização (M=2,9). Após esta análise levanta-se então a primeira grande questão: Perante tão elevados níveis de satisfação residencial, onde se encontra o problema deste bairro? O paradoxo sobre as vizinhanças (próxima e alargada) tem causas e motivações concretas, algumas reconhecidas pela população, outras menos explícitas, mas que concorrem para a sua explicação. Por um lado constatam-se relações de vizinhança fortes entre os vizinhos mais próximos que contrastam com o sentimento de desconfiança e insegurança relativamente à vizinhança alargada, concretamente para com as famílias de etnia cigana que se encontram a residir nos fundos vazados dos prédios deste bairro. Outro problema referido que contribui para o descontentamento da população residente, refere-se ao grupo de jovens que apresenta comportamentos desviantes (pequeno tráfico, furtos, consumo de estupefacientes, vandalização dos edifícios, etc.). Trata-se de dois grupos da população que ocupam indevidamente e de forma ostensiva o espaço público, contribuindo para a proliferação de um sentimento de insegurança (um dos aspetos apontados como menos positivo) e para uma imagem negativa do bairro junto da restante população de Mira Sintra (pontualmente denominado como o “bairro dos ciganos”). Para além disso, estes também aparecem como os dois principais motivos apontados para a vontade de sair do bairro (“Má vizinhança”; “Mau ambiente”; “Estigma por viver em habitação social”; “Insegurança”). Esta comunidade depara-se com o estigma existente na população em geral face aos bairros de realojamento camarário e, com as vivências ali experimentadas com os “outros” com os quais não se identificam. De facto, conclui-se que “o problema do realojamento é, antes de mais, um problema social e não um problema de edifícios (…). Do ponto de vista social, os «efeitos perversos» (…) provocaram um crescimento (…) de comportamentos desviantes e estigmas sociais (…). Os moradores destes bairros sentem com intensidade este estigma social (…) porque interiorizam essa imagem pública socialmente desvalorizada atribuindo-a a determinados elementos do próprio bairro” (Guerra, 1994:11). A insatisfação a este nível funciona como um bloqueio para a capacidade de participação comunitária desta população, a qual poderia ser mais positiva com a minimização destas situações. Ao nível da intervenção social constata-se que perante uma comunidade muito satisfeita a nível residencial mantém-se a dificuldade em envolver esses mesmos indivíduos em estratégias participativas, as quais são fundamentais para o desenvolvimento coletivo das comunidades e têm um efeito positivo na qualidade de vida e bem-estar dos indivíduos. Apesar de aparentemente não existir uma relação direta entre satisfação residencial e participação comunitária, já que elevados níveis de satisfação residencial não significam maior envolvimento cívico no bairro, pareceu-nos importante aprofundar a relação existente entre as duas variáveis. Se por um lado essa relação tem sido pouco explorada na teoria, consideramos que compreender a satisfação é importante para encontrar pistas que facilitem a mobilização à participação dos indivíduos. Como referem diversos estudos (Amaro, 2007, Ornelas, 2002; Elvas, 2010) a participação comunitária contribui para a integração plena das populações e para o aumento do sentimento de pertença a uma comunidade, trazendo benefícios individuais ao nível do bem-estar e qualidade de vida e maior mobilização e participação na mudança social. Propostas e implicações práticas Assim, importa aprofundar as questões relacionadas com a participação comunitária e a forma de a promover, tanto ao nível dos procedimentos internos da autarquia, como do envolvimento da população deste bairro, incluindo os grupos identificados como problemáticos (famílias dos fundos vazados e grupo de jovens). Sugere-se a realização de uma análise da intervenção desenvolvida pela Divisão de Habitação, os seus circuitos internos e externos de comunicação, a forma de planeamento da atividade dos Técnicos, a partilha de informação entre si e com os seus clientes, (i.e., os munícipes e arrendatários residentes nos bairros de habitação municipal), através da criação de uma grelha diagnóstica que posteriormente possa ser aplicada noutros contextos outros técnicos desta área. Para o estudo dos grupos sinalizados anteriormente como “problemáticos” propõe-se a utilização da ferramenta SPIRAL (Societal Progress Indicators and Responsabilities for All), a qual é entendida enquanto medida de política que visa “(…) «a promoção do desenvolvimento social» e que deverá basear o seu trabalho em metodologias participativas (…). A SPIRAL, partindo da premissa de que a definição de bem-estar de todos deve ser construída a partir da visão dos próprios cidadãos, assenta na realização de reuniões com pequenos grupos homogéneos, organizados segundo se pretende conhecer” (SPIRAL, Guia do Facilitador, 2010: 6). Assim, serão criados 3 grupos homogéneos com um mínimo de 7 e um máximo de 10 indivíduos, a saber: - Mulher jovens adultas representantes de todos os edifícios que constituem o núcleo de realojamento, já que são quem tem uma participação mais ativa na vida do bairro; - Mulheres das famílias de etnia que residem nos fundos vazados dos prédios, dadas as características socioculturais desta população; - Jovens (15 aos 20 anos) filhos de arrendatários que façam parte do grupo identificado pela restante população. Apenas são apresentadas 3 questões: - O que é para si o bem-estar; - O que é para si o mal-estar; - O que é que você faz ou pode fazer para assegurar o seu bem-estar e o bem-estar de todos? As ideias, frases ou expressões que servem de resposta a estas questões são registadas em post-it, que posteriormente serão classificadas com base nos critérios de bem-estar previamente definidos pelo Programa ESPOIR que fará o tratamento dos dados. Desse tratamento resultarão “sínteses” na qual surge a totalidade dos critérios emitidos pelos diferentes grupos homogéneos. A síntese deverá ser apresentada numa segunda reunião com os mesmos grupos, sendo cada grupo convidado a sugerir as modificações que entender e adicionar critérios que julgue faltar. A quarta questão (facultativa) que poderá ser colocada nesta reunião é “Você definiu o bem-estar no seu território tal como aparece na síntese. Acha que devem ser adicionados outros critérios para que as gerações futuras possam ter acesso ao bem-estar?” A vantagem desta ferramenta é já ser utilizada desde 2005 e estar devidamente testada, tendo sido integrada em 2010 no Plano de Acção para a coesão social do Conselho da Europa. É idêntica ao Focus Group ou Nuvem de Problemas, mas com a vantagem de se poder comparar os dados com os de outros territórios e tem vindo a ser utilizada por toda a Europa. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Inês e CASTRO, Paula (2011), “Realojamento – Satisfação Residencial e Identidade Local”, 1º Colóquio Psicologia Espaço e Ambiente, Universidade de Évora. http://www.eventos.uevora.pt/cpea/inesalmeida.pdf AMARO, J.P. (2007), “Sentimento Psicológico de Comunidade: Uma revisão”, in Análise Psicológica nº 1 (XXV), Pp. 25-33. AUGUSTO, Nuno (1998), Apropriação do Espaço e Desenvolvimento em Bairros Sociais – um estudo de caso, Tese de Mestrado, Universidade de Évora. ELVAS, Susana, MONIZ, Mª João (2010), “Sentimento de Comunidade, Qualidade e Satisfação de Vida”, in Análise Social nº 3 (XXVIII), Pp. 451-464. FERREIRA, A. F. (1994), “Habitação Social: Lições e Prevenções para o PER”, in Sociedade e Território nº 20, Ed. Afrontamento. FREITAS, Maria João (1994), “Os Paradoxos do Realojamento”, in Sociedade e Território nº 20, Ed. Afrontamento, Pp. 26-34 FREITAS, Maria João (2001), “Habitação e Cidadania: no trilho da complexidade de processos relacionais generativos”, Tese de Doutoramento, Lisboa, ISCTE. FREITAS, Maria João et al (2008), “Contributos Sociológicos para a Análise e Definição da Qualidade Residencial”, in Actas do III Congresso Português de Sociologia, Lisboa, Celta Editora. http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR492abea138282_1.pdf FREITAS, Maria João (2009), “Por onde passa a satisfação residencial”, in Actas do V Congresso Português de Sociologia, Lisboa. http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR461181df8 Guide Méthodologique, Construir le progrès sociétal pour le bien-être de tous avec les citoyens et les communautés”, Edition Conseil de L’Europe, Septembre 2010. https://spiral.cws.coe.int/tiki-index.php?page=processus+locaux GUERRA, Isabel (1994), “As Pessoas não são Coisas que se Ponham em Gavetas”, in Sociedade e Território nº 20, Ed. Afrontamento, Pp. 11-16. GUERRA, Isabel (2008) “Europa e Políticas Habitacionais, Mudanças em curso”, in Cidades: Comunidades e Territórios, nº17, Dezembro de 2008, Lisboa, ISCTE. ORNELAS, José (2002), “Participação, empowerment e liderança comunitária”, III Conferência Desenvolvimento Comunitário e Saúde Mental, ISPA, Lisboa, Pp. -13. PINTO, Teresa (1994) “A Apropriação do Espaço em Bairros Sociais: o Gosto pela Casa e o Desgosto pelo Bairro”, in Sociedade e Território nº 20, Ed. Afrontamento, Pp. 36-43. RICH, R., EDELSTEIN, M., HALLMAN, W., & WANDERSMAN, A. (1995). Citizen participation and empowerment: The case of local environmental hazards. In, American Journal of Community Psychology, nº 23 (5), 657-676. Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXOS Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social LISTA DE ANEXOS Anexo A – Modelo de Relação entre os conceitos de qualidade de vida de Weidenamm e Anderson, 1985, (cit. Freitas et al, 2008) Anexo B – Imagem do fenómeno “Efeito sandwich” proposto por Freitas (2001). Anexo C – Termo de consentimento informado. Anexo D – Resultados da grelha analítica sobre as questões da habitação. Anexo E – Ficha de caracterização sociodemográfica. Anexo F – Escala de satisfação residencial adaptada. Anexo G – Síntese das 8 dimensões e 60 componentes de bem-estar exprimidas pelos cidadãos (Guia SPIRAL, 2012:25). Anexo H – Planta do concelho de Sintra. Anexo I – Planta da freguesia de Mira Sintra com sinalização das habitações sob gestão camarária. Anexo J – Síntese dos preditores de satisfação residencial (Amérigo, 1995). Anexo K – Notícia do Jornal da Região de Sintra Anexo L – Sínteses de critérios dos grupos homogéneos. Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO A Modelo de Relação entre os conceitos de qualidade de vida de Weidemann e Anderson, (1985:160 cit. Freitas et al, 2008) Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Características pessoais Atributos objetivo do meio ambiente - Físicos - Sociais Perceções/ crenças acerca dos atributos objetivos do meio ambiente - Físicos -Sociais Atitudes /afetos relativamente ao meio ambiente - Físicos -Sociais Declaraçã o de intenções relativamente ao meio ambiente Fonte: Weidemann e Anderson, (1985:160 cit. Freitas et al, 2008) Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Comporta mento relativamente ao meio ambiente Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO B Fenómeno do “Efeito Sandwich” proposto por Freitas (2001) Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social “Efeito sandwich” Imagens negativas e estigmatizantes Que conduzem a situações segregativas Estratégias individuais Problemas e dificuldades sentidas ao nível individual e coletivo na consolidação de estratégias de afirmação Fonte: Freitas, 2001 Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO C Termo de consentimento informado Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Termo de consentimento informado A sua participação neste estudo, no âmbito de um Mestrado em Serviço Social, consiste em realizar reuniões com grupos homogéneos sobre o bem-estar e a coesão social. Nestas reuniões serão apresentadas apenas 3 questões, a saber: - O que é para si o bem-estar? - O que é para si o mal-estar? - O que pode fazer para assegurar o seu bem-estar e o bem-estar de todos (e das gerações futuras) no seu território? Cada participante expressará de forma livre e anónima a sua opinião, registando palavras, expressões ou pequenas frases em post-it, que depois serão apresentadas ao grupo e discutidas entre todos. Posteriormente, numa segunda reunião, serão devolvidos os resultados obtidos para que se chegue a consenso sobre os mesmos, onde podem ser acrescentadas informações de modo a assegurar que o resultado obtido corresponde a visão do grupo. A sua participação é completamente voluntária. As respostas individuais são confidenciais e manter-se-ão anónimas, não havendonenhuma informação identificável nos materiais utilizados. Não existem desconfortos ou riscos conhecidos por participar neste estudo. Se quiser algum esclarecimento sobre este estudo contacte Susana Mesquita pelo email [email protected], ou pelo telefone nº 219236000. Assim, declaro que tenho 18 anos ou mais, que li e entendi a declaração acima e que concordo em participar neste estudo. Assinatura do participante ________________________________________________ Data __/__/____ Responsável pela aplicação ______________________________________________ MUITO OBRIGADO PELA SUA PARTICIPAÇÃO! Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO D Resultados da grelha analítica sobre as questões da habitação Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Preenchimento da grelha com base nos resultados obtidos dos focus-group com comunidade técnica: Dimensões da gestão social PLANEAMENTO Questões físicas Existem intervenções planeadas pela DHAB e outros serviços da CMS com levantamento de necessidades, estabelecimento de prioridades e planificação das execuções. Porém, esse planeamento não é conhecido pelos AS nem pela população, não tendo ambos qualquer participação no processo. Está previsto projecto de requalificação urbana dos bairros (arquitectura) em todos os bairros e neste também. Percepções * Baixo nível de informação e conhecimento sobre os planos de atividades (PA) das diferentes entidades que operam no terreno. *Os PA da DHAB não são partilhados entre as várias instituições ou com a população. * JFMS partilha PA apenas na Assembleia de Freguesia. O PS da CSF é divulgado junto dos parceiros que a compõem e da qual a DHAB não faz parte. *Casa 6 - “O PA é um documento aberto à comunidade e possível de consulta quando solicitado (…) apresentado a todos os sócios”. * Satisfação – o nível de satisfação face a este indicador é baixo, tanto por parte da população (estudo) como da CMS e parceiros locais. Qualidade de Vida Questões relacionais Incidência de ações orientadas para a melhoria das relações de vizinhança e vizinhança próxima *DHAB – Festa dos Vizinhos (anual) e reuniões de inquilinos com caracter anual). *Muito pontualmente, festas comunitárias, grupo de batuques com mulheres cabo-verdianas e actividades para famílias (passeios) pela Casa 6. *JFMS não tem nenhuma ação específica nesta área, apenas pontualmente ao nível da Comissão Social de Freguesia (CSF). Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Participação Individual Participação coletiva - Envolvimento dos moradores: - Envolvimento dos moradores: - Awarness (Consciência), pouca ou nenhuma. Existe algum (pouco) trabalho de planeamento a nível individual, que é feito com os representantes de prédio, ao nível da manutenção e reparação dos espaços comuns e depois trabalhado nas reuniões de moradores por prédio. - Implicação - pontual por alguns dos moradores. Facilidade no discurso “acho bem, mas eu não!”Desresponsabilização - Decisão – delegam na CMS e na Casa Seis. - Implementação – participação pontual se solicitado e em atividades de caracter pontual (ex: Festa Vizinhos) - Awarness – relativa por parte dos representantes de prédio - Implicação – pontual de alguns elementos - Decisões - delegam na CMS e na Casa Seis. - Implementação – falta de autonomia e coesão Não demonstram espírito de iniciativa, especialmente a nível da participação coletiva. Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Dimensões da gestão social COMUNICAÇÃO Questões físicas - Por não terem conhecimento nem serem informados das intervenções a realizar, não valorizam nem reconhecem a importância dessas intervenções, sentindo que não vai ao encontro das suas necessidades. Nalguns casos é o AS que faz a ponte entre os serviços e os moradores para marcar dia e hora. - Não existe um espaço formal adequado para os moradores se reunirem, tendo como alternativa apenas espaços da associação local ou Junta de Freguesia para reuniões ou encontros “formais”. - No espaço do bairro apenas é possível nas entradas dos prédios ou na rua (junto à rotunda) - Está previsto (a longo prazo) a criação de uma sala polivalente no centro recursos a construir. Percepções - Denota-se um reconhecimento dos interlocutores tanto da autarquia (CMS – AS, Tesoureiro, Mediador Cigano) como da JFMS e da Associação Local implantada no bairro. Os meios também são conhecidos e reconhecidos através dos Técnicos das instituições locais, na DHAB, na Tesouraria Móvel, telefone, afixação de informação nos prédios. - Os códigos de comunicação com a autarquia são, muitas vezes de difícil compreensão, especialmente quando se trata de informação escrita. Terminologia muito específica e técnica (fogos, mobilidades, mudança de titularidade, etc.) Qualidade de Vida Questões relacionais *Tipo de relações e vizinhança predominantes – elevado número de conflitos entre vizinhos (vizinhança alargada) reportados à DHAB e Casa 6. *Tipo de relações entre vizinhança próxima – muito positiva e de entreajuda, com vinculação forte. *Tipo de comunicação c/ serviços - Escrita, telefónica, atendimento social. *Tipo de relação entre serviços – Alguma partilha de informação e trabalho em rede na gestão de casos, nomeadamente na CAF Fora destas reuniões mensais há pouco espaço e disponibilidade para reunir. Apesar de tudo, alguma proximidade na comunicação entre CMS e parceiros locais (Casa 6 e JFMS). Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Participação Individual Caracterizar as Iniciativas por parte dos moradores e por parte dos serviços Participação coletiva Caracterizar as Iniciativas por parte dos moradores e por parte dos serviços Tipos de comunicação existentes – Tipos de comunicação existente DHAB – escrita (ofícios), oral (,atendimentos social e telefónico). DHAB - afixação de informação, reuniões de moradores. População – escrita através da formalização de pedidos); oral (telefone e atendimento), via entidades locais. População - Grafitis (jovens) Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Dimensões da gestão social MEDIAÇÃO Questões físicas Espaços semi-publicos – usados por grupos de jovens que se reúnem nas escadas para pequeno tráfico e consumo, etc. Espaços públicos – para reunião e encontro especialmente da população de etnia cigana. Espaço utilizado para mediação técnica – Gabinete na associação local (atendimentos/reuniões individuais), rua (contacto informal) entradas dos prédios (reuniões moradores), habitações dos moradores (visitas domiciliárias), na DHAB (atendimentos sociais e reuniões). Percepções Mediação centrada na resolução de problemas e não orientada para a participação (tanto pela DHAB como entidades locais). * Tipo de actividades de mediação no território: - CMS – Assembleias de inquilinos, festas comunitárias (Festa dos Vizinhos), Tesouraria Móvel, Equipa de manutenção (imagem negativa), - mediador para a comunidade cigana (DSAS). Qualidade de Vida Questões relacionais *Tipo de mediação solicitada – gestão de conflitos (vizinhança), administração de inquilinos (DHAB e Casa 6) - No caso da JFMS a mediação entre comunidade cigana e instituições (Seg.Social, CMS, etc.). *Tipo de mediação autónoma (?) – apenas na comunidade cigana existe alguma mediação entre si para a resolução de conflitos - Associações – Incidência das actividades com crianças e jovens integradas nas valências existentes (ATL, Programa Escolhas). - Líder local diluído e apenas na comunidade cigana. Nas outras não há o reconhecimento de um líder. Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Participação Individual * Postura de empowerment – pontual por parte de alguns moradores e/ou representantes de prédio. Participação coletiva * Postura de empowerment – pontual por parte de alguns moradores e/ou representantes de prédio. Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO E Ficha de caracterização sociodemográfica Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social GRELHA DE CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-FAMILIAR BAIRRO CAMARÁRIO DE N.º morador: Cód. Tipologia: Data N.º elementos agregado: / / NOMES T O T A L CATEGORIAS (Registar sem pre na prim eira coluna dos nom es o inquirido ) Situação profissional Saúde Percurso escolar Habilitações literárias Infância (1ª e 2ª) Origem Cultural Natural. Sexo Idade 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 2.1 2.2 3.1 3.2 3.3 4.1 4.2.1 4.2.2 4.2.3 4.2.4 4.3 4.4 5. Imigrante 6.1 6.2 6.3 7,1 7,2 7,3 7,4 7,5 7,6 7,7 8,1 8,2 8,3 8,4 8,5 9,1 9,2 9,3 9,4 9,5 9,6 9.7.1 9.7.2 9.7.3 9,8 9,9 9;10 10,1 10,2 10,3 10,4 10,5 10,6 10,7 - 1 ano 1 a 5 anos 6 a 15 anos 16 a 24 anos 25 a 64 anos + 65 anos Feminino Masculino Do concelho De outros concelhos do país Fora do país Portugal África - Cabo Verde África - Angola África - Guiné-Bissau África - outros Etnia Cigana Outras origens não legal Casa com familiar Ama Equipamento Analfabeto 1º Ciclo (1º ao 4ºano) 2º Ciclo (5º ao 6º ano) 3º Ciclo (7º ao 9º ano) Secundário (10º ao 12º ano) Técnico-profissional Superior Dificuldades de aprendizagem Absentismo Insucesso Abandono Hab. inferiores escolaridade obrigatória Deficiência física Deficiência mental Doença mental Doença Infecto-contag. crónica Outras doenças crónicas Dependência de terceiros Gravidez precoce (adolescentes até 20 anos) Gravidez não planeada Ausência de planeamento familiar Alcoolismo Toxicodependência Outros consumos aditivos Trabalho c/ vinculo contratual Trabalho s/ vinculo contratual (biscates) Duplo emprego/sobrecarga horária Jornada repartida Emprego deslocalizado Act. prof. c/ carga horária reduzida ou irregular Desemprego Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 6 7 7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 8 9 9 9 9 9 9 10 10 10 10 10 10 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 8 8 9 10 11 12 13 14 9 10 11 12 13 14 1 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 6 6 6 7 7 7 8 8 8 9 10 11 12 13 14 9 10 11 12 13 14 9 10 11 12 13 14 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 6 6 6 7 7 7 7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 8 8 8 9 9 9 9 9 9 9 9 1 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 6 6 6 7 7 7 8 8 8 9 10 11 12 13 14 9 10 11 12 13 14 9 10 11 12 13 14 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 6 6 7 7 7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 8 8 9 9 9 9 9 9 9 10 10 10 10 10 10 10 11 11 11 11 11 11 11 12 12 12 12 12 12 12 13 13 13 13 13 13 13 14 14 14 14 14 14 14 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 9 9 9 9 9 10 10 10 10 10 11 11 11 11 11 12 12 12 12 12 13 13 13 13 13 14 14 14 14 14 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 6 7 7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 8 9 9 9 9 9 9 10 10 10 10 10 10 11 11 11 11 11 11 12 12 12 12 12 12 13 13 13 13 13 13 14 14 14 14 14 14 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 6 7 7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 8 9 9 9 9 9 9 10 10 10 10 10 10 11 11 11 11 11 11 12 12 12 12 12 12 13 13 13 13 13 13 14 14 14 14 14 14 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 6 6 7 7 7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 8 8 9 9 9 9 9 9 9 10 10 10 10 10 10 10 11 11 11 11 11 11 11 12 12 12 12 12 12 12 13 13 13 13 13 13 13 14 14 14 14 14 14 14 10 10 10 10 10 10 10 10 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 14 14 14 14 14 14 14 14 14 14 14 14 14 14 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO F Escala de Satisfação residencial adaptada Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social GRELHA DE CARACTERIZAÇÃO HABITACIONAL E SATISFAÇÃO RESIDENCIAL Nº Morador: Bairro: Data: ___/___/___ Morada: ção da casa anterior ao realojamento 20. HABITAÇÃO ACTUAL 19.Caracteriza- Tem po residência Bairro Anos: 19.1 19.2 19.3 19.4 19.5 20.1 20.2 20.3 20.4 20.5 20.6 20.7 andar num prédio antigo (+ 50 anos) andar num prédio recente (- 50 anos) moradia barraca ou similar Outro tipo Grau satisfação quanto ao nº pisos do prédio Grau satisfação quanto ao conforto visual Grau satisfação quanto ao conforto acústico Grau de conforto quanto ao nº de quartos Grau satisf. quanto à facilidade de mobilar casa Grau satisfação quanto à privacidade 20.8 20.9 21. Melhorias na habitação 24. Agradabilidade 23.Tipo de acesso 22. EDIFÍCIO 6 e 10 Grau de satisfação quanto ao conforto 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 Grau de satisfação quanto à luminosidade 1 2 3 4 Grau satisf. quanto à calma e tranquilidade 1 2 3 4 1 2 3 4 20.10 Renda 21.1 21.2 21.3 21.4 21.5 21.6 21.7 21.8 22.1 23.1 23.2 23.3 23.4 24.1 24.2 24.3 24.4 24.5 24.6 24.7 24.8 24.9 Menos 5 Substituiu / aumentou armários da cozinha Sim Substituiu loiças instalações sanitárias Sim Substituiu chão Sim Dividiu compartimento Sim Substituiu azulejos da cozinha ou inst. sanitária Sim Mudou porta de entrada Sim Pintou compartimentos Sim Não realizou nenhuma alteração/melhoria Sim Nº Habitações que englobam o edifício 1 2 Directo Escada Escada e galeria Escada e elevador Existência de iluminação natural na escada Sim Nº habitações por piso 1 2 Grau satisfação qto. arranjo entrada prédio 1 2 Grau satisf. qto.ao andar em que habitação está 1 2 Grau satisf. qto.ao aspecto entrada e zonas circulação 1 2 Grau satisf. qto.ao aspecto exterior do edifício 1 2 Grau satisf. qto. condições de segurança no edifício 1 2 Grau satisf. qto. condições de segurança na habitação 1 2 Grau satisf. manutenção espaços comuns 1 2 Não Não Não Não Não Não Não Não 3a8 3 3 3 3 3 3 3 3 25. CASO FOSSE POSSÍVEL GOSTARIA DE MUDAR DE HABITAÇÃO NO PRÓXIMO ANO? 25.1 - Se sim, qual o PRINCIPAL motivo para a mudança de habitação? 25.1.2. 25.1.3. 25.1.4 25.1.5 25.1.6 Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Mais de 10 9 a 20 21 a 40 40 ou + Não 4 5 ou + 4 4 4 4 4 4 4 Sim Não 25.1.1 Ter falta de espaço Estigma por viver em habitação social Aumento da família Diminuição da família Distância estabelecimentos educação Distância local de trabalho Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social 29. Relações que mantém com os vizinhos 28. Classificação da vizinhança mais próxima 27. VIZINHANÇA PRÓXIMA 26. ESPAÇO EXTERIOR Qual? 25.1.7 Má vizinhança 25.1.8 Outro 26.1. Grau satisfação com iluminação nocturna 1 2 3 4 26.2 Grau satisfação com recolha do lixo 1 2 3 4 26.3 Grau de satisf. c/ limpeza e manutenção espaço público 1 2 3 4 26.4 Grau satisfação com a imagem/prestígio do bairro 1 2 3 4 26.5 Grau satisf. do local onde vive c/ proximidade do trabalho 1 2 3 4 26.6 Grau satisfação c/ a facilidade de acesso ao bairro 1 2 3 4 27.1 Nº aprox. habitações que compõem vizinhança próxima menos 40 27.2 27.3 27.4 27.5 27.6 27.7 28.1 28.2 28.3 28.4 28.5 28.6 28.7 Nº pisos dos edifícios da viz.próxima Térreo 2 a 4 5 a 9 Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não 29.1. 29.2 29.3 29.4 29.5 29.6 29.7 29.8 29.9 29.10 29.11 29.12 Conhece todos os vizinhos que moram nas habitações do mesmo piso? Sair para compras Sim Não Ficar com os filhos Sim Não Conversar Sim Não Visitas ao domicilio Sim Não Passear Sim Não Troca de géneros Sim Não Entreajuda Sim Não Contacto formal (bom dia/boa tarde) Sim Não É frequente estar com os vizinhos na rua 1 2 3 4 É frequente estar com os vizinhos em casa 1 2 3 4 É frequente estar com os vizinhos fora do bairro 1 2 3 4 Consegue ver movimento da rua? Consegue ver aspessoas a aproximarem-se? Consegue ver as áreas de estacionamento? Consegue ver as áreas onde crianças brincam? 41 a 80 81a 120 121 + 10 ou + Sim Simpáticos Sossegados Pacíficos Reservados Prestáveis Educados Positiva Antipáticos Barulhentos Conflituosos Mexeriqueiros Não prestáveis Malcriados Negativa 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 Sim 33. Satisfação relativamente ao processo de atribuição 31. Contexto 30. Com quem mais se relaciona no bairro? Familares Amigos Vizinhos Antigos vizinhos Colegas de trabalho 31.1 Grau de satisf. qto à segurança contra roubos, vandalismo na área de resid. 31.2 Grau satisfação quanto à segurança dos espaços de recreio das crianças 31.3 Grau satisf. qto. quantidade, qualidade e proximidade dos estab. comerciais 31.4 Grau satisf. qto. quantidade, qualidade e proximidade estab. saúde 31.5 Grau satisf. qto. quantidade, qualidade e proximidade equipamentos escolares 31.6 Grau satisf. qto. quantidade, qualidade e proximidade equipamentos lazer 31.7 Grau satisf. qto. quantidade, qualidade e proximidade zonas verdes 31.8 Grau satisf. qto. quantidade, qualidade e proxidade igrejas e locais de culto 32. Caso fosse possível gostaria de mudar de bairro? Sim Não 33.1 Grau de satisf. quanto à forma como procº foi conduzido 1 2 3 4 33.2 Grau satisf. qto. à de participação no procº de atribuição 1 2 3 4 33.3 Grau satisf. quanto ao relacionamento c/ Técnicos da CMS 1 2 3 4 33.4 33.5 33.6 Não Filhos costumam brincar c/ crianças outras famílias q constituem a vizinh. próxima? Grau satisfação quanto à informação sobre bairro Grau satisfação quanto ao processo entrega da casa Intervalo de tempo entre o pedido e a atribuição OBS: Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita 1 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 4 Não 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO G Síntese das 8 dimensões e 60 componentes de bem-estar exprimidas pelos cidadãos (Guia SPIRAL, 2011) Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO H Planta do concelho de Sintra Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Fonte: www.cm-sintra.pt Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO I Planta da freguesia de Mira Sintra com sinalização das habitações sob gestão camarária Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO J Síntese dos preditores de satisfação residencial proposta por Amérigo (1995) Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Síntese dos preditores de satisfação residencial Subjetivos Grau de manutenção do Bairro Aspeto do lugar Qualidade da casa Gestão do bairro Físicos Segurança Amizade/solidariedade Relações de vizinhança/sociabilidade Attachement (apego) Sentido de pertença Homogeneidade Sociais Morfologia dos fogos Infraestruturas Ruído Regime de propriedade Tempo de residência (antiguidade) Idade Ciclo de vida Presença de familiares no bairro Objetivos Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO K Notícia Jornal Região de Sintra Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social ANEXO L Síntese dos critérios dos grupos homogéneos Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social (Jovens) Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social (Mulheres Ciganas) Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita Partilhando a comunidade: satisfação residencial e participação comunitária nos bairros de habitação social (Mulheres Realojadas) Susana Isabel Pinto de Almeida Mesquita