Uma Visão “Principialista” Bioética e Principialismo Fritz Jahr foi um filósofo alemão, pastor protestante e educador que, em Halle an der Saale, publicou, em 1927, um artigo, no nº 24 da revista Kosmos, intitulado “Bio-Ética: uma Revisão das Relações Éticas dos Seres Humanos, com os Animais e as Plantas” onde propôs um Imperativo Bioético, como extensão do Imperativo Categórico de Kant a todas as formas de vida. Foi ele, portanto, o primeiro a cunhar o termo. _______________________________________________ Bio-Ethik. Eine Umschau über die ethischen Beziehungen des Menschen zu Tier und Pflanze. Kosmos. Handweiser für Naturfreunde 1927, 24(1): 2-4 Bioética e Principialismo Martin Bormann: Secretário de Hitler, Chefe da Chancelaria do Partido Nazista Karl Doenitz: Comandante em Chefe da Marinha Alemã Hans Frank: Governador Geral da Polônia Ocupada Wilhelm Frick: Ministro do Interior Hans Fritzsche: Chefe da Difusão de Notícias (radio produzida pelo Reich) Walther Funk: Ministro da Economia Hermann Goering: Segundo em Comando para Hitler, Chefe da Luftwaffe (Força Aérea), Presidente do Reichstag Rudolf Hess: Substituto de Hitler, Líder do Partido Nazista Alfred Jodl: Chefe de Operações para o Alto Comando Alemão (Exército) Ernst Kaltenbrunner: Chefe da Polícia de Segurança, Chefe da RSHA (organização contendo, entre outras coisas, os braços austríacos da SS e da Gestapo) Wilhelm Keitel: Chefe de Staff do Alto Comado Alemão Erich Raeder: Comandante da Marinha Alemã (antes de Doenitz) Alfred Rosenberg: Ministro dos Territórios do Leste Ocupado, Filósofo do Partido Nazista Fritz Sauckel: Chefe de Recrutamento do Trabalho Escravo Hjalmar Schacht: Ministro da Economia (antes da Guerra), Presidente do Reichsbank Arthur Seyss-Inquart: Chanceler da Austria, Comissário do Reich para os Países Baixos Albert Speer: Ministro de Armamentos e Munições, Arquiteto e amigo de Hitler Julius Streicher: Editor do Der Sturmer (publicação Antisemita) Konstantin von Neurath: Ministro do Exterior, Chefe do Protetorado da Bohemia e Moravia Franz von Papen: Chanceler do Reich antes de Hitler, Vice Chanceler sob Hitler. Joachim von Ribbentrop: Ministro do Exterior, Embaixador para a Grã-Bretanha Baldur von Schirach: Chefe da Juventude Hitlerista Bioética e Principialismo 1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. 2. O experimento deve ser de tal modo a resultar benefícios para o bem da sociedade. 3. O experimento deve ser projetado e baseado em experiências com animais, bem como no conhecimento da história natural da doença. 4. O experimento deve ser conduzido de modo a evitar qualquer sofrimento físico e mental desnecessário ou lesão. 5. Nenhum experimento deve ser conduzido quando existir uma razão a priori para acreditar que a morte ou lesão incapacitante poderá ocorrer. 6. O grau de risco a ser corrido jamais deverá exceder aquele determinado pela importância humanitária do problema a ser resolvido pela experiência. 7. Preparativos e facilidades adequadas devem ser fornecidos, para proteger o sujeito da experiência contra mesmo remotas possibilidades de lesão, incapacidade ou morte. 8. O experimento deve ser conduzido somente por pessoas cientificamente qualificadas. 9. Durante o curso da experiência a pessoa deve estar livre para não mais participar da mesma. 10. Durante o curso da experiência o cientista encarregado deve estar preparado para encerra-la, em qualquer estágio, se tiver motivo plausível para acreditar, no exercício da boa fé, habilitação superior e julgamento cuidadoso, dele exigido, que a continuação da experiência provavelmente resultará em lesão, incapacidade ou morte do sujeito da experimentação. Bioética e Principialismo Adotada pela 18ª Assembleia Geral da WMA, Helsinki, Finlandia, Junho 1964, com emendas subsequentes: 29ª Assembleia Geral da WMA, Tokyo, Japão, Outubro 1975 35ª Assembleia Geral da WMA, Veneza, Italia, Outubro 1983 41ª Assembleia Geral da WMA, Hong Kong, Setembro 1989 48ª Assembleia Geral da WMA, Somerset West, Republica da Africa do Sul, Outubro 1996 52ª Assembleia Geral da WMA, Edinburgo, Escócia, Outubro 2000 53ª Assembleia Geral da WMA, Washington 2002 (Nota de esclarecimento no parágrafo 29 adicionada) 55ª Assembleia Geral da WMA, Tokyo, Japão 2004 (Nota de esclarecimento no parágrafo 30 adicionada) 59ª Assembleia Geral da WMA, Seul, Coreia, October 2008 Bioética e Principialismo BIOÉTICA: neologismo usado pelo bioquímico e oncologista americano Van Rensselaer Potter em 1971, para se referir às ciências biológicas utilizadas para a melhoria da qualidade da vida, recriando o vocábulo. Potter, V. R. (ed.), Bioethics: Bridge to the Future. (Englewood Cliffs - N. J.: Prentice Hall, 1971). Bioética e Principialismo BIOÉTICA é o estudo continuado e sistematizado da conduta humana na área das ciências da vida e dos cuidados à saúde, examinada à luz de valores e princípios morais. Warren T. Reich (ed.), Encyclopaedia of Bioethics New York: The Free Press; London: Collier Macmillan Publishers, 1978. Bioética e Principialismo Estudos sobre a Hepatite Viral foram conduzidos na Willowbrook State School, para crianças com retardo mental, em Staten Island, NY, de 1956 até 1971. A hepatite era um grande problema em Willowbrook. Dadas às condições sanitárias, era virtualmente inevitável que as crianças contraíssem hepatite. Muitas dessas crianças tornavam-se portadoras e, muitas delas, eram mais tarde reintegradas à sociedade. Krugman, o investigador principal, propôs uma pesquisa aparentemente promissora, para distinguir entre tipos diferentes de hepatite e para o desenvolvimento de uma vacina. No entanto, seu protocolo envolvia expor crianças recém-chegadas, a cepas locais de vírus vivo. Ou seja, deliberadamente infecta-las! Bioética e Principialismo Condado de Macon, Alabama A enfermeira Eunice Rivers que, valendo-se do fato de ser também afrodescendente, recrutava negros para participarem dos testes em Tuskegee. Ao final do estudo, apenas 74 dos 390 sujeitos da pesquisa ainda estavam vivos. 28 dos indivíduos morreram diretamente da sífilis, 100 morreram de complicações a ela relacionadas, 40 de suas mulheres haviam sido infectadas e 19 de seus filhos, nasceram com sífilis congênita. Esse suplício, a despeito do surgimento da cura (penicilina), disponível a partir da década de 40, perdurou de 1932 até 1972. Bioética e Principialismo Belmont Report: Ethical Principles and Guidelines for the Protection of Human Subjects of Research, Report of the National Commission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research. 30 de setembro de 1978. São seus 3 princípios fundamentais: Respeito pelas pessoas Beneficência Justiça Esboçado no Centro de Conferência Belmont, em Elkridge, Condado de Howard, Maryland, USA. Bioética e Principialismo Beauchamp COMPAIXÃO NÃO MALEFICÊNCIA BENEFICÊNCIA AUTONOMIA JUSTIÇA ALTERIDADE CUIDADOS CRITÉRIOS DE VERDADE RESPONSABILIDADE VULNERANILIDADE TOLERÂNCIA Childress Insuficientes Indispensáveis Bioética e Principialismo Lealdade a princípios Profissionais Sociais Jurídicos Convicções religiosas Família Há que estabelecer uma hierarquia de lealdades, segundo as circunstâncias. “Mas veja você, não sou um homem muito consistente; recuso, veementemente carne e, no entanto, adoro ovos !...” Albert Schweitzer, ao discutir seu princípio de reverência pela vida. Bioética e Principialismo Este é o sábio da tribo. Tudo que ele diz está certo. Nada que ele diz está errado. Para falar a verdade ele nunca diz coisa alguma NÃO MALEFICÊNCIA é a crença, segundo a qual, independentemente da escolha e decisão das pessoas, deve-se sempre agir de acordo com o que nós julgamos correto e melhor para elas; isto é, nunca causar-lhes o mal. É o princípio hipocrático do “primum non nocere”. Risco: “primum non agere” Bioética e Principialismo “Realize seus deveres correta e calmamente, ocultando a maioria das coisas do paciente, enquanto o estiver atendendo. Dê as ordens necessárias, de modo direto e sincero, distraindo sua atenção do que estiver sendo executado; algumas vezes repreenda dura e enfaticamente, em outras conforte com solicitude e atenção, sem revelar nada da condição presente ou futura do paciente.” HIPPOCRATES - Decorum, in Hippocrates (Vol.2) W.S.Jones(trans), Harvard Unversity Press, Cambridge (1967) Bioética e Principialismo BENEFICÊNCIA é a crença segundo a qual é correto comandar a vida das outras pessoas para o “bem” delas, independentemente de suas próprias vontades ou julgamento. Padmapani, deusa da beneficência e da infinita compaixão Bioética e Principialismo Dworkin, G . “Paternalismo”, in Gorovitz, S. et al. (ed.), Moral Problems in Medicine (Englewwod Cliffs, N.Jersey; Prentice-Hall, 1976) Bioética e Principialismo Lembre-se, só é assédio se o cara for feio MORALISMO é a crença segundo a qual é correto comandar a vida das outras pessoas independentemente de seus desejos e juízos, de modo a que a “moralidade” possa ser preservada. Bioética e Principialismo AUTONOMIA é a capacidade de pensar, decidir e agir, com base em tal pensamento e decisão, de modo livre e independente. O princípio da autonomia é o requisito moral do respeito pela autonomia dos outros. Bioética e Principialismo “O objetivo deste ensaio é afirmar um princípio muito simples, destinado a governar, de modo absoluto, as relações da sociedade com o indivíduo, à maneira de compulsão e de controle. Esse princípio é aquele, segundo o qual, o único pretexto em nome de quem a humanidade está autorizada, individual ou coletivamente, a interferir com a liberdade de ação de qualquer um dos seus membros, é a proteção da própria sociedade. A única razão, em nome da qual, o poder pode ser de modo correto exercido sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, é prevenir dano aos demais. O bem dele próprio, quer físico, quer moral, não é um motivo suficiente.” John Stuart Mill (1806-1873), in “On Liberty” (1859) Bioética e Principialismo • De pensamento • De vontade • De ação Bioética e Principialismo 1) Defeitos na habilidade individual de controlar quer seus desejos, quer suas ações (ou ambos). 2) Defeitos de raciocínio do indivíduo. 3) Defeitos na informação disponível ao indivíduo e sobre a qual ele fundamenta sua escolha. 4) Defeitos na estabilidade dos próprios desejos do indivíduo. Bioética e Principialismo FATORES Existencial Desenvolvimento Posse Bioética e Principialismo JUSTIÇA é o princípio segundo o qual, as decisões a serem tomadas, o serão conforme postulados, normas e leis, acordados previamente pela maioria dos componentes de uma comunidade ou sociedade considerada. Tal princípio seria prevalente quando houvesse dúvida quanto a adoção de regras autonômicas ou beneficentes. Bioética e Principialismo Justiça como equidade 1. A cada pessoa, uma cota e uma oportunidade igual. 2. A cada pessoa, de acordo com a necessidade individual. 3. A cada pessoa, de acordo com o esforço individual. 4. A cada pessoa, de acordo com a contribuição social. 5. A cada pessoa, de acordo com o mérito. Na medida em que nenhum sistema científico se sustenta sem o aval da verdade, da mesma forma nenhum sistema de leis se sustenta sem que seja, de fato, justo. Bioética e Principialismo Quando tratamos qualquer princípio como pressuposto inviolável, estamos voltando nossas costas para os critérios de verdade que devem necessariamente embasar qualquer sistema de moralidade. É como nunca nos questionarmos se um princípio, em determinadas circunstâncias, está de fato certo, simplesmente por medo de descobrir que ele não está !!! Bioética e Principialismo “Palavras de verdade sempre se afiguram como paradoxais, mas nenhuma outra forma de ensino é capaz de substituí-las”. Lao-Tse “Sede vossas próprias luzes Sede vosso próprio apoio Conservai-vos fiéis à verdade que há dentro de vós como sendo a única luz”. Buda Quem, pois, são os reais filósofos? Aqueles que amam contemplar a verdade. Platão Bioética e Principialismo “A verdade alivia mais do que machuca e estará sempre acima de qualquer falsidade como o óleo sobre a água” Miguel de Cervantes de Saavedra (29 de setembro de 1547 (data suposta) em Alcalá de Henares. Madri, em 22 de abril de 1616. O TEMPO (Chronos) salvando a VERDADE, da FALSIDADE e da INVEJA, François Lemoyene 1737 Bioética e Principialismo Ma’at, a deusa egípcia da verdade “A Verdade é uma deusa luminosa, sempre envolta em um véu, invariavelmente distante, e nunca suficientemente ao nosso alcance, mas merecedora de toda a devoção de que o espírito humano seja capaz.” Bertrand Russel (1872-1970) « La Vérité », 1870, por Jules Joseph Lefebvre Bioética e Principialismo “A questão moral de se você está ou não mentindo, não fica resolvida estabelecendo a verdade ou falsidade do que você diz. De modo a resolver definitivamente a questão, é preciso saber se você tenciona que a sua declaração leve ao engano” Sissela Bok, “Truth-telling II”, in Warren T. Reich (ed.), Encyclopaedia of Bioethics - ( New York: Free Press, 1978 Bioética e Principialismo “A LEI faz a exigência: aja corretamente, de modo a que sua liberdade possa coexistir com a liberdade de todos os outros. Enquanto isso a ÉTICA demanda, não apenas um ato correto, mas igualmente um motivo correto” Immanuel Kant (1724/1804) IMANNUEL KANT, in “The Kantian Philosophy of Space”, C.B.Gahret ed. Oxford University Press. (New York and Oxford, 1939) Bioética e Principialismo Não maleficência Beneficência Autonomia Justiça Praga atual da humanidade: FUNDAMENTALISMO Bioética e Principialismo TOLERÂNCIA é a capacidade de, mesmo discordando da postura moral dos outros, entender essas diferenças, não para aceitá-las, mas para tentar harmonizá-las, dentro de um sistema que possa permitir a convivência de todos em um terreno comum. Bioética e Principialismo Como disse Daisaku Ikeda em 2003: “Uma ética de coexistência. Ela é um ethos que procura criar harmonia a partir do conflito, união a partir da ruptura, e que se baseia mais no nós do que no eu.” Bioética e Principialismo “Méfiez-vous, mes amis, des grands mots qu’on écrits avec des majuscules” Paul Rivet – Ética e análise lógica, in “Persuasive Definitions” – Hook, S. – Criterion Books, ed. 1956. Bioética e Principialismo "Não acredito que quaisquer grupos profissionais tenham, hoje em dia, a objetividade ou a capacidade para funcionar como controles sociais coerentes e humanos. Os membros de um grupo profissional compartilham as estreitas paredes de sua disciplina, e o sucesso individual é medido pelo grau de profundidade e pelo grau de estreiteza que ele consegue de sua pesquisa; não há recompensa para atividades ou percepções que se estendam além da disciplina ou se relacionem com problemas mais gerais. Seus membros, portanto, não são nem motivados, nem treinados para relacionar sua atividade profissional com problemas sociais de amplitude maior". BARAM, M.S. - Social Control of Science and Technology - Science. 172: 535-539 (1971) Bioética e Principialismo QUALQUER DECISÃO, para ser considerada moral deve ser, SEMPRE, embasada em três elementos: 1) O máximo de conhecimento que se possa adquirir sobre a questão. 2) Isenção para decidir. 3) Total liberdade para fazer a escolha. Os 3 - adicionam predicado humano à estatura moral - conferem responsabilidade real à escolha Bioética e Principialismo MANDO IMPOSIÇÃO OBEDIÊNCIA Bioética e Principialismo Teologicamente herética Subversiva da dignidade humana Moralmente injustificada Obscurantista Espiritualmente opressiva Bioética e Principialismo