HISTÓRIA DO ENSINO ESCOLAR DE MATEMÁTICA NO MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO – RS Luiz Henrique Ferraz Pereira Mariane Giareta Universidade de Passo Fundo –RS Palavra-chave: matemática, ensino. O presente trabalho de pesquisa se refere a uma atividade que está no seu segundo ano de desenvolvimento e busca, principalmente, resgatar aspectos que tornem o ensino de matemática escolar no município de Passo Fundo – RS conhecidos e possíveis de serem analisados com referências as metodologias utilizadas pelos professores, formas e conteúdos de avaliação, provas aplicadas, entrevistas com alunos e ex – professores , bem como tornar seqüencial a história de uma disciplina que participa intensamente do currículo escolar e que, no caso do município de Passo Fundo, em função da importância que esta cidade exerce na região, poderá revelar dados a contribuir para o ensino e aprendizagem desta disciplina nos dias atuais. Palavras chaves: história da matemática, matemática, matemática escolar. A matemática como ciência estruturada ao longo dos séculos, esteve sempre presente no cotidiano do homem, mostrando-se como útil nos processos de contagem, produção de grãos, construção de calendários, medições de terras e tantas quantas outras atividades de características úteis e práticas ligadas ao dia a dia desse homem. Com o desenvolvimento das sociedades, ao longo do tempo, novas tecnologias se fizeram necessárias e avanços na matemática ocorrem, de forma que esta sai do campo limitado do utilitário e avança para elucubrações mais abstratas, construção de sistemas que por si só não se efetivam na prática diária percebível para o homem mas, gradativamente vão se integrando a outros ramos do saber de forma a produzir novos conhecimentos, novas tecnologias e novos ramos na própria matemática. Entender esse permear da matemática ao longo dos séculos, como idéias foram geradas e evoluíram no decorrer da caminhada da humanidade, que personagens sistematizaram suas idéias principais nos campos da álgebra, aritmética, cálculo e outros, os processos e interesses que justificaram o ensino da matemática em diferentes épocas e lugares, constituem o que se denomina História da Matemática. Entender esse permear da matemática ao longo dos séculos, como idéias foram geradas e evoluíram no decorrer da caminhada da humanidade, que personagens sistematizaram suas idéias principais nos campos da álgebra, aritmética, cálculo e outros, os processos e interesses que justificaram o ensino da matemática em diferentes épocas e lugares, constituem o que se denomina História da Matemática. A História da Matemática, enquanto objeto de investigação, é imprescindível na formação de professores de matemática, na perspectiva que é um recurso significativo para o ensino dessa ciência pois, ao se enfocar a evolução das idéias matemáticas, o desenvolvimento de conceitos em diferentes áreas dessa ciência bem como ao se mostrar que a matemática é resultado de múltiplas colaborações e que, este conhecimento foi sendo gradativamente produzido, modificado, estruturado, reestruturado, de tal forma que veio conferir a matemática um caráter de dinâmica, longe da idéia de estanque e acabada que normalmente se atribuí a ela, “... a matemática tem que ser vista como uma ciência dinâmica, em construção pelos homens, seres sociais e históricos. Portanto, esta ciência tem que ser apropriada como reflexo cultural de toda a história da humanidade construída durante séculos.” (Ferreira, 1996) Entendemos que o professor de matemática, ao ter ciência dessa perspectiva histórica, poderá aprimorar sua prática pedagógica ao buscar enfocar determinado tópico do conteúdo matemático partindo da evolução de determinada teoria, ou ainda desenvolver mecanismos para que o próprio aluno consiga, por si só, mas mediado por este professor, chegar a idéias atuais sobre um conteúdo determinado, partindo de concepções históricas anteriores e, principalmente, entendemos que esse professor, poderá compreender as dificuldades dos alunos, seus questionamentos e também limitações que podem ser muito similares às dos matemáticos, em outras eras, no decorrer de suas descobertas matemáticas, pois “... pelo estudo da matemática do passado, podemos perceber como a matemática de hoje insere-se na produção cultural humana e alcançar uma compreensão mais significativa de seu papel, de seus conceitos e de suas teorias, uma vez que a matemática do passado e a atual engendram-se e fundamentam-se mutuamente.”(Miguel e Brito, 1996) Por outro lado, com o advento do Movimento da Matemática Moderna, principalmente nas décadas de 1960 e 1970, a História da Matemática ficou em segundo plano em relação aos conteúdos propostos por tal movimento. Caracteriza-se essa época por uma mudança no ensino da matemática no mundo e, também no Brasil, sendo que somente nos meados dos anos 1980 a percepção da História da Matemática como campo fértil a pesquisas e potencialidades para o ensino da matemática ganha novo fôlego, como bem afirmam Miguel e Brito ao dizerem que o Movimento da Matemática Moderna, nos diferentes grupos que a formaram, adotaram uma concepção estruturalista da matemática junto com uma concepção tecnicista da organização do ensino, sendo que “na década de 1980, com o refluxo desse movimento, assiste-se também um reavivamento do interesse pela história e à tentativa de tornar explícitas as suas potencialidades pedagógicas.” No Brasil, tal reavivamento é percebível principalmente pela realização dos Seminários Nacionais de História da Matemática (Recife-PE – 1995, Rio Claro- SP – 1997, Vitória-ES – 1999, Natal- RN – 2001 e Rio Claro- SP – 2003) e nos inúmeros debates ocorridos em encontros que tem na Educação Matemática seu foco de atenção, como o Encontro Nacional de Educação Matemática – ENEM e o Encontro Gaúcho de Educação Matemática – EGEM, apenas para citar alguns exemplos; da mesma forma surgem publicações em português de livros, dissertações, teses e resultados de pesquisas sobre o tema. Da mesma forma, é necessário destacar que tal vitalidade com que a História da Matemática volta ao cenário da Educação Matemática abre um leque de proposições para sua abordagem ou, na forma de desdobramentos, tais como Etnomatemática (D’Ambrósio, 1993), História da Matemática e metodologia da pesquisa (Miguel,1999), História da Matemática e relações políticas (Dynnikov,2001) e tantas outras, que se não houvesse a quase impossibilidade de cita-las poderia, com certeza, a possibilidade do esquecimento de algum item. Nessa perspectiva, nos trabalhos de Chervel (1990), Martins (1984) e Miorim (1998) a História da Matemática ganha a perspectiva de ser compreendida partindo-se da averiguação da matemática no currículo escolar, entendendo-se o que foi constituído num saber específico do ambiente da escola. Com maiores relevâncias está o trabalho de Valente (1999b, 2001, 2002), onde esse pesquisador da História da Matemática sustenta a importância da busca da história presente no ensino da matemática, em diferentes períodos da história da educação, bem como em diferentes realidades ou sistemas educacionais. No pensamento do referido autor, embasado pelas idéias de Belhoeste a priori, a matemática não pode ser separada das condições de sua reprodução, o estudo da circulação dos textos e das práticas no tempo e no espaço social e geográfico deve ser acessada por aqueles que buscam pela História da Matemática, pois de acordo com Valente (2001), “... as operações através dos quais o sentido é localmente produzido, é parte integrante da atividade de produção/invenção do saber matemático.” Também é sustentado pelo autor que a produção científica está sempre envolvida em contextos específicos, responsáveis pelo seu desenvolvimento, sendo parte integrante dessa produção, a sua reprodução. Com tais considerações, e no caso da matemática, o seu ensino torna-se uma de suas modalidades. Entende Valente que, a análise dessa modalidade de reprodução revela não somente o caráter destacado da transmissão do saber, mas também e com a referida importância, o papel que o ensino tem, na própria constituição da matemática enquanto ciência, associada ao fato que a busca por suas raízes pode levar a desvelamentos sobre a profissionalização do meio matemático, análise da história da estruturação didática que conforma o campo intelectual da produção intelectual matemática e, finalmente, a contribuição das atividades didático-pedagógicas ao desenvolvimento das práticas matemáticas. Com tais referencias em mente, entendemos que buscar reconstituir a história do ensino de matemática escolar em um determinado contexto pode em muito fazer com que ao focalizarmos professores de matemática e matemáticos na forma de um estudo mais acurado de sua inserção histórica ganharíamos a possibilidade de enxergarmos com maior nitidez as práticas do fazer matemático em nossa história cultural. Nessa perspectiva, ao associarmos a busca por desvelar a história do ensino de matemática escolar no município de Passo Fundo, acreditamos poder explicitar elementos e dados a contribuir para reflexões sobre a prática do ensino atual dessa disciplina. Não obstante, há de se considerar que o histórico do município de Passo Fundo, tem suas primeiras referências já nos anos de 1827 e 1828, com a chegada dos primeiros moradores brancos ao território hoje sede do município. Em 07 de agosto de 1857 ganha emancipação política e administrativa e, passados quase 150 anos, destaca-se por um crescimento populacional econômico e cultural que a faz destaque a níveis nacional e internacional. Atualmente possui mais de uma centena de estabelecimentos escolares na rede municipal, estadual e particular de ensino, bem como possui, em maior destaque a nível superior, a Universidade de Passo Fundo, como grande pólo aglutinador do ensino na região. Por tais referências e considerações, entendemos que o histórico do ensino de matemática escolar no município de Passo Fundo possui grande potencial de elementos a serem trazidos à tona, explicitados, desvelados e sistematizados na busca de dados mais consistentes que mostrem sua trajetória ao longo da história do município. A execução do presente projeto de pesquisa consistirá no desenvolvimento de um conjunto de atividades que serão descritas a seguir: a) Coleta de dados relativos à criação e história da rede escolar de Passo Fundo junto ao Arquivo Histórico Municipal, Secretaria Municipal de Educação, Biblioteca Pública Municipal e Coordenadoria Regional de Educação. b) Compilação dos dados obtidos, junto aos órgãos citados no item a, referentes ao objeto de pesquisa. c) Estudo e busca de subsídios teóricos em bibliografia própria. d) Redação dos primeiros apontamentos vindos dos dados coletados. e) Elencar novas fontes de pesquisa para coleta de outros dados, se necessários, sobre o tema. f) Sistematização das informações para elaboração de texto final. g) Elaboração das conclusões finais e publicação dos resultados da pesquisa h) Previsão de encontros semanais da equipe executora acompanhamento e execução das etapas anteriormente descritas. para Nosso trabalho de pesquisa tem como objetivo principal investigar, pesquisar, descrever e analisar o ensino de matemática escolar no município de Passo Fundo, desde sua criação, de forma a se reconstituir a trajetória histórica do ensino dessa ciência. Bem como desejamos poder ao final do trabalho atingir as seguintes metas: a) Reconstituir elementos que explicitem o histórico do ensino escolar no município de Passo Fundo. b) Descrever práticas pedagógicas, bem como elencar professores, alunos e administradores envolvidos com o ensino de matemática escolar na rede de ensino escolar de Passo Fundo. c) Compilar as informações coletadas, a fim de se obter uma visão detalhada e devidamente fundamentada de como se deu o ensino de matemática nas escolas de Passo Fundo, desde a criação do referido município. Bibliografia CHERVEL, A. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & educação, n. 02, Porto Alegre. D’AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática: um programa. A Educação Matemática em Revista, Blumenau, Sociedade brasileira de educação matemática, ano 1, n. 1, 1993. D’AMBROSIO, Ubiratan. História da matemática e educação. Cadernos Cedes. História e educação matemática. Campinas: Papirus, 1996 a. D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação matemática – Da teoria à prática. 4. ed. Campinas: Papirus, 1996 b D’AMBROSIO, Ubiratan. O fazer matemático: uma perspectiva histórica. In: III seminário nacional de história da matemática. Anais, Vitória: Ufes, 1999a. D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação para uma sociedade em transição. Campinas: Papirus, 1999b. DYNNIKOV, Circe Mary Silva da Silva. Matemática Brasileira: História e relações políticas. IV Seminário Nacional de História da Matemática. Anais, Natal, 2001. FERREIRA, Eduardo Sebastiani. Apresentação. Caderno Cedes. História e educação matemática. Campinas: Papirus, 1996 . FIORENTINI, Dario. A questão dos conteúdos e métodos no ensino da matemática. II Egem. Anais, Porto Alegre, 1993. FIORENTINI, Dario. Alguns modos de ver e conceber o ensino da matemática no Brasil. Revista Zetetiké, Campinas, ano 3, n. 4, 1995. FONSECA, Vitor da. Aprender a aprender. A educabilidade cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 1998 MACHADO, Nilson José. 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