QUINHENTISMO no BRASIL LITERATURA DE INFORMAÇÃO http://www.youtube.com/watch?v=15jjLaMzMt8 A Carta de Pêro Vaz de Caminha, é o documento no qual Pero Vaz de Caminha registrou as suas impressões sobre a terra que posteriormente viria a ser chamada de Brasil. É o primeiro documento escrito da história do Brasil sendo, portanto, considerado o marco inicial da obra literária no país. http://www.youtube.com/watch?v=EFdSbOSGhBU http://www.youtube.com/watch?v=MuPUW2D_d1g&playne xt=1&list=PLBB228259EDE221B9&feature=results_main LITERATURA DE CATEQUESE Cordeirinha linda, Como folga o povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume novo. Cordeirinha santa, De Jesus querida, Vossa santa vida O Diabo espanta. Por isso vos canta Com prazer o povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume novo. Nossa culpa escura Fugirá depressa, Pois vossa cabeça Vem com luz tão pura. Vossa formosura Honra é do povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume novo...(José de Anchieta) BARROCO, alma do Brasil El Brasil tiene alma barroca. Alma culturalmente forjada a partir de la Ratio studiorum de los jesuítas, cuando, em las primeiras décadas de las classes de teologia e latim, el método pregonado por el Concilio de Trento, para reaccionar a los excesos del humanismo renascentista. Por idealizar la fusion del carácter divino de la creación com el proyecto humano de ocupación del universo.Por superar, y dar continuidade por la renovación, al humanismorenascentista que promovió el descubrimento de um mundo nuevo, com uma visión centrada em el hombre, em la geografia de la tierra nueva y, al mismo tempo, em Dios, el creador de maravilhas. Barrueco o título é um vocábulo espanhol que designa pérola irregular, defeituosa. • Segundo outras opiniões, porém, o termo tem origem na fórmula mnemotécnica BAROCO, usada pelos escolásticos para designar um dos modos do silogismo, o que daria ao termo um sentido pejorativo de raciocínio estranho, tortuoso, que confunde o falso com o verdadeiro. O SILOGISMO: Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas premissas, delas se tira uma terceira, nelas logicamente implicada, chamada conclusão. Assim, temos como exemplo: Todo homem é mortal (premissa maior); ora, eu sou homem (premissa menor); logo, eu sou mortal (conclusão). Observe a construção dos tercetos finais de um soneto sacro de Gregório de Matos que, referindo-se ao amor de Cristo diz: Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, de vossa alta clemência me despido; porque quanto mais tenho delinqüido, vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado, a abrandar-vos sobeja um só gemido: que a mesma culpa, que vos há ofendido, vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma orelha perdida e já cobrada, glória tal e prazer tão repentino vos deu, como afirmais na sacra história, eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, cobrai-a; e não queirais, pastor divino, perder na vossa ovelha a vossa glória. Estes versos encobrem a formulação silogística, como segue: Premissa maior: Toda ovelha arrependida é salva. Premissa menor: Eu sou uma ovelha arrependida. Conclusão: Logo, eu espero salvar-me. O SOFISMA: É o argumento que parte de premissas verdadeiras e que chega a uma conclusão inadmissível, que não pode enganar ninguém, mas que se apresenta como resultante de regras formais do raciocínio, não podendo ser refutado. É um raciocínio falso, elaborado com a função de enganar. Ex.: Todo comunista lê Marx. Davi lê Marx. Logo, Davi é comunista. Cultismo e Conceptismo são dois aspectos do Barroco que não se separam; antes, superpõem-se como as duas faces de uma mesma moeda. Às vezes, o autor trabalha ao nível de palavra, da imagem; busca mais argumento, o conceito. Nada impede que o mesmo texto tenha, simultaneamente, aspectos Cultistas e Conceptistas. Com os riscos inerentes às generalizações abusivas, diz-se, didaticamente, que o Cultismo é predominante na poesia e o Conceptismo, predominante na prosa. BARROCO: a arte da indisciplina O Barroco- a arte do séc. XVII- registra um momento de crise espiritual na cultura ocidental. O homem desse período divide-se entre duas mentalidades, entre duas formas de ver o mundo: de um lado o paganismo e o sensualismo do Renascimento, em declínio; de outro, a forte onda de religiosidade que faz lembrar o teocentrismo medieval. 1517: a reforma divide a igreja entre católicos e protestantes; 1540: é fundada a companhia de Jesus, ordem religiosa que envia missionários a vários continentes; 1563: a igreja dá início ao movimento da ContraReforma, tentando impedir a expansão protestante. Assim, a arte barroca, que vigora durante todo o século XVII e chega às primeiras décadas do séc. XVIII, registra o espírito CONTRADITÓRIO de uma época que se divide entre as influências do Renascimento - o materialismo, o paganismo e o sensualismo- e da onda de religiosidade trazida sobretudo pela CONTRAREFORMA. BARROCO= expressão das contradições e do conflito espiritual da época. Em Portugal, o Barroco ou Seiscentismo tem seu início em 1580 com a unificação da Península Ibérica, o que acarretará um forte domínio espanhol em todas as atividades, daí o nome Escola Espanhola, também dado ao Barroco lusitano. O Seiscentismo se estenderá até 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana.No Brasil, o Barroco tem seu marco inicial em 1601 com a publicação do poema épico Prosopopéia, a primeira obra, propriamente literária, escrita entre nós, da autoria do português, radicado no Brasil, Bento Teixeira. O final do Barroco brasileiro só concretizou em 1768, com a publicação das Obras poéticas de Cláudio Manuel da Costa . No entanto, como o Barroco no Brasil só foi mesmo reconhecido e praticado em seu final (entre 1720 e 1750), quando foram fundadas várias academias literárias, desenvolveu-se uma espécie de Barroco tardio nas artes plásticas, o que resultou na construção de igrejas de estilo barroco durante o século XVIII. O Barroco no Brasil foi um estilo literário que durou do século XVII ao começo do século XVIII, marcado pelo uso de antíteses e paradoxos que expressavam a visão do mudo barroco numa época de transição entre o teocentrismo e o antropocentrismo Lisboa era considerada a capital mundial da pimenta, a agricultura lusa era abandonada. Com a decadência do comércio das especiarias orientais observa-se o declínio da economia portuguesa. Paralelamente, Portugal vive uma crise dinástica: em 1578 D. Sebastião desaparece em Alcácer-Quibir, na África; dois anos depois, Felipe II da Espanha consolida a unificação da Península Ibérica. A perda da autonomia e o desaparecimento de D. Sebastião originam em Portugal o mito de Sebastianismo (crença segundo qual D. Sebastião voltaria e transformaria Portugal no Quinto Império). O mais ilustre sebastianista foi sem dúvida o Pe. Antônio Vieira, que aproveitou a crença surgida nas "trovas" de um sapateiro chamado Gonçalo Anes Bandarra. A unificação da Península veio favorecer a luta conduzida pela Companhia de Jesus em nome da Contra-Reforma: o ensino passa a ser quase um monopólio no campo científico-cultural. Enquanto a Europa conhecia um período de efervescência no campo científico, com as pesquisas e descobertas de Francis Bacon, Galileu, Kepler e Newton. Com o Concílio de Trento (1545-1563), o Cristianismo se divide. De um lado os estados protestantes (seguidores de Lutero – introdutor da Reforma) que propagavam o "espírito científico", o racionalismo clássico, a liberdade de expressão e pensamento. De outro, os redutos católicos (a Contra-Reforma) que seguiam uma mentalidade mais estreita, marcada pela Inquisição (na verdade uma espécie de censura) e pelo teocentrismo medieval. O quadro brasileiro se completa, no século XVII, com a presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as transformações ocorridas no Nordeste em consequência das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a decadência da cana-de-açúcar. Características O culto da forma manifesta-se tanto na literatura quanto nas artes plásticas do Barroco. Neste detalhe de um grupo de esculturas de Aleijadinho que representa a Última Ceia, não há lugar para a expressão serena das imagens religiosas; os apóstolos revelam intensa agitação, traduzida nos gestos e olhares que trocam a respeito do que acabaram de ouvir de Cristo. Algumas características da linguagem barroca merecem especial atenção pela sua peculiaridade e pelo uso que sendo feito de algumas delas em escolas posteriores. Arte da Contra-Reforma: a ideologia do Barroco é fornecida pela Contra-Reforma. A arte deve ter como objetivo a fé católica. Conflito espiritual: O homem barroco sente-se dilacerado e angustiado diante da alteração dos valores, dividindo-se entre o mundo espiritual e o mundo material. As figuras que melhor expressam esse estado de alma são a antítese e o paradoxo. LÍRICA FILOSÓFICA À instabilidade das cousas no mundo. Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol e na luz, falta a firmeza, Na formosura não se crê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. Gregório de Mattos O tema da fugacidade do tempo, da incerteza da vida, é desenvolvido por meio de um jogo de imagens e ideias que se contrapõem, num sistema de oposições: nasce x não dura; luz x noite escura; tristes sombras x formosura; acaba x nascia. O espírito Barroco é cabalmente expresso no célebre dilema do 3º ato de Hamlet, de Shakespeare: "To be or not to be, that is the question". ("Ser ou não ser, eis a questão...") Temas contraditórios: Há o gosto pela confrontação violenta de temas opostos. Efemeridade do tempo e carpe diem: O homem barroco tem consciência de que a vida terrena é efêmera, passageira, e por isso, é preciso pensar na salvação espiritual. Mas já que a vida é passageira, sente, ao mesmo tempo, desejo de gozá-la antes que acabe, o que resulta num sentimento contraditório, já que gozar a vida implica pecar, e se há pecado, não há salvação. http://www.youtube.com/watch?v=mozu_zZANAI http://www.youtube.com/watch?v=K5nDbjtmcNQ Discreta e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo claramente, Na vossa ardente vista o sol ardente, E na rosada face a aurora fria: Enquanto pois produz, enquanto cria Essa esfera gentil, mina excelente No cabelo o metal mais reluzente, E na boca a mais fina pedraria: Gozai, gozai da flor da formosura, Antes que o frio da madura idade Tronco deixe despido, o que é verdura. Que passado o zênith da mocidade, Sem a noite encontrar da sepultura, É cada dia ocaso da beldade. (Gregório de Mattos) Cultismo: é caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela valorização do pormenor mediante jogos de palavras, com visível influência do poeta espanhol Luís de Gôngora; daí o estilo ser também conhecido como Gongorismo. O aspecto exterior imediatamente visível no Cultismo ou Gongorismo é o abuso no emprego de figuras de linguagem como as metáforas, antítese, hipérboles, hipérbatos, anáforas, paronomásias, etc... "O todo sem a parte não é o todo; A parte sem o todo não é parte; Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Não se diga que é parte, sendo o todo. Em todo o Sacramento está Deus todo, E todo assiste inteiro em qualquer parte, E feito em partes todo em toda a parte, Em qualquer parte sempre fica todo..." (Gregório de Matos) Conceptismo: é marcado pelo jogo de idéias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. Um dos principais cultores do conceptismo foi o espanhol Quevedo, de onde deriva o termo Quevedismo. Os Conceptistas pesquisavam a essência íntima dos objetos, buscando saber o que são, visando à apreensão da face oculta, apenas acessível ao pensamento, ou seja, ao conceitos; assim a inteligência, a lógica e o raciocínio ocupam o lugar dos sentidos, impondo a concisão e a ordem, onde reinavam a exuberância e o exagero. Assim, é usual a presença de elementos da lógica formal. Barroco – As Origens da Cultura Brasileira O nosso primeiro e decisivo estilo artístico e literário foi o Barroco. É contemporâneo dos alicerces mais antigos da sociedade e da cultura brasileira, ou seja, da formação da família patriarcal nos engenhos de cana de Pernambuco e da Bahia, da economia apoiada no tríptico monoculturalatifúndio-trabalho escravo, bem como dos primórdios da educação brasileira, nos colégios jesuíticos. Daí sua importância, e daí, também, as projeções que esse período subsequentes, até os nossos dias. O Barroco é originário da Itália e da Espanha e sua expansão para o Brasil deu-se a partir da Espanha, centro irradiador desse estilo, para a Península Ibérica e América Latina. Para isso contribuíram, decisivamente, os seguintes fatos: • • • • • A Espanha foi potência hegemônica no séc. XVII, transformando-se no centro da Contra-Reforma e na sede da Companhia de Jesus, a ordem religiosa mais atuante no período; Em 1580, ocorre a união das coroas ibéricas, e Portugal, incluindo as suas colônias ultramarinas, fica até 1640 sob domínio espanhol (domínio filipino); Com isso, a mentalidade católica espanhola, revigorada pelo Concílio de Trento (1545 a 1563), atuou fundamentalmente em Portugal, especialmente pelo fortalecimento da Santa Inquisição, já estabelecida definitivamente desde 1540; Paralelamente, houve o extraordinário fortalecimento da Compainha de Jesus ou Jesuítas, mentores intelectuais e guardiões do espírito contra-reformista. Foram exatamente esses padres, os primeiros educadores que tivemos, que transplantaram para o Brasil a formação Ibérico-jesuítica e o gosto artístico vigente na Europa; O ensino ministrado em Portugal e nos colégios jesuíticos brasileiros era profundamente verbal. Um de seus principais objetivos era o de adestrar os estudantes no desempenho lingüístico, de tal modo que tivessem facilidade verbal de defender ou "provar" as verdades dogmáticas da Igreja. Não havia estímulo ao espírito crítico, nem a nenhum tipo de investigação intelectual pessoal. Nasceu daí o gosto, ainda vigente entre nossa elite, pelo estilo pomposo, retórico, pelo jogo de palavras, tão comum entre nossos tribunos e políticos, perpetuando na opulência verbal de Rui Barbosa, Coelho Neto e Euclides da Cunha, para ficarmos em apenas três desdobramentos mais recentes do estilo Barroco. Os limites cronológicos do Barroco no Brasil são: • INÍCIO: 1601 – com PROSOPOPÉIA, poema épico de autoria do português, radicado no Brasil, Bento Teixeira Pinto. É a primeira obra, propriamente literária, escrita entre nós. • TÉRMINO: 1768 – com a publicação das OBRAS POÉTICAS de CLAÚDIO MANUEL DA COSTA, obra inicial do Arcadismo no Brasil. Representantes Padre Antônio Vieira • Vieira nasceu em Lisboa, em 1608. Com sete anos vem para a Bahia; em 1623 entra para a Companhia de Jesus. Quando Portugal se liberta da Espanha (1640), retorna à terra natal, saudando o rei D. João IV, de quem se tornaria confessor. Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã, por defender o capitalismo judaico e os cristãos-novos; os pequenos comerciantes, por defender um monopólio comercial; os administradores e colonos, por defender os índios. Essas posições, principalmente a defesa dos cristãos-novos, custam a Vieira uma condenação pela Inquisição: fica preso de 1665 a 1667. Falece em 1697, no Colégio da Bahia. Podemos dividir sua obra em: • Profecias – constam de três obras: História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis prophetarum, em que se notam Sebastianismo e as esperanças de Portugal se tornar o Quinto Império do Mundo, pois tal fato estaria escrito na Bíblia. • Cartas – são cerca de 500 cartas, que versam sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a Inquisição e os cristãos-novos. • Sermões – são quase 200 sermões. De estilo barroco conceptista o pregador português joga com asa idéias e os conceitos, segundo os ensinamentos da retórica dos jesuítas. Um de seus principais sermões é o Sermão da sexagésima (ou A palavra de Deus), pregado na Capela Real de Lisboa em 1655. "... Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregdores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, da outra há de estar negro; se de um parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta, que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário? ..." (Fragmento do Sermão da Sexagésima do Padre Antônio Vieira • Dentre sua obras mais conhecidas, destacamse ainda: Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda e o Sermão de Santo Antônio. Antigo interior da igreja de Nossa Senhora da Ajuda (Salvador, Bahia), onde vieira proferiu seu Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as Holandas O escritor Gregório de Matos Guerra, nascido na Bahia, provavelmente a 20 de dezembro de 1633, firma-se como o primeiro poeta brasileiro. Após os primeiros estudos no Colégio de Jesuítas, vai para Coimbra, onde se gradua em Direito. Formado, vive alguns anos em Lisboa exercendo a profissão; por suas sátiras, é obrigado a retornar à Bahia. Em sua terra natal, é convidado a trabalhar com o jesuítas no cargo de tesoureiromor da Companhia de Jesus. Ainda por sua sátiras, abandona os padres e é degredado para Angola; já bastante doente volta ao Brasil, mas sob duas condições: estava proibido de pisar em terras baianas e de apresentar sua sátiras. Morreu em Recife, no ano de 1696. • Apesar de ser conhecido como poeta satírico – daí o apelido "Boca do Inferno" –, Gregório também praticou, e com esmero, a poesia religiosa e a lírica. Cultivou tanto o estilo cultista como o conceptista, apresentando jogo de palavras ao lado de raciocínios sutis, sempre como o uso abusivo de linguagem. • Sua obra permaneceu inédita até o século XX, quando a Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933, publicou seis volumes, assim distribuídos: I. Poesia sacra; II. Poesia lírica; III. Poesia graciosa; IV e V. Poesia satírica; e VI. Últimas. Poeta religioso: Gregório coloca-se diante de Deus, como um pecador, pedindo perdão por seus erros e confiante na misericórdia divina. Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade, É verdade, meu Deus, que hei delinqüido, Delinqüido vos tenho, e ofendido, Ofendido vos tem minha maldade. Maldade, que encaminha à vaidade, Vaidade, que todo me há vencido; Vencido quero ver-me, e arrependido, Arrependido a tanta enormidade. Arrependido estou de coração, De coração vos busco, dai-me os braços, Abraços, que me rendem vossa luz. Luz, que claro me mostra a salvação, A salvação pertendo em tais abraços, Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus. ÉS TERRA Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te, Te lembra hoje Deus por sua Igreja; De pó te faz espelho, em que se veja A vil matéria, de que quis formar-te. Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te E como o teu baixel sempre fraqueja Nos mares da vaidade, onde peleja, Te põe à vista a terra, onde salvar-te. Alerta, alerta, pois, que o vento berra. Se assopra a vaidade e incha o pano, Na proa a terra tens, amaina e ferra. Todo o lenho mortal, baixel humano, Se busca a salvação, tome hoje terra, Que a terra de hoje é porto soberano Poeta satírico: criticava os letrados, os políticos, a corrupção, o relaxamento dos costumes, a cidade da Bahia. A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar a cabana, e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um freqüentado olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, Para a levar à Praça, e ao Terreiro. Muitos Mulatos desavergonhados, Trazidos pelos pés os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia. Estupendas usuras nos mercados, Todos, os que não furtam, muito pobres, E eis aqui a cidade da Bahia. EPILOGO Que falta nesta cidade?................Verdade Que mais por sua desonra?...........Honra Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha. O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, numa cidade, onde falta Verdade, Honra, Vergonha. Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio Quem causa tal perdição?.............Ambição E o maior desta loucura?...............Usura. Notável desventura de um povo néscio, e sandeu, que não sabe, que o perdeu Negócio, Ambição, Usura. Quais são os seus doces objetos?....Pretos Tem outros bens mais maciços?.....Mestiços Quais destes lhe são mais gratos?...Mulatos. Dou ao demo os insensatos, dou ao demo a gente asnal, que estima por cabedal Pretos, Mestiços, Mulatos. Quem faz os círios mesquinhos?...Meirinhos Quem faz as farinhas tardas?.........Guardas Quem as tem nos aposentos?.........Sargentos. Os círios lá vêm aos centos, e a terra fica esfaimando, porque os vão atravessando Meirinhos, Guardas, Sargentos. E que justiça a resguarda?.............Bastarda É grátis distribuída?......................Vendida Que tem, que a todos assusta?.......Injusta. Valha-nos Deus, o que custa, o que El-Rei nos dá de graça, que anda a justiça na praça Bastarda, Vendida, Injusta. Que vai pela clerezia?..................Simonia E pelos membros da Igreja?..........Inveja Cuidei, que mais se lhe punha?.....Unha. Sazonada caramunha! enfim que na Santa Sé o que se pratica, é Simonia, Inveja, Unha. E nos frades há manqueiras?.........Freiras Em que ocupam os serões?............Sermões Não se ocupam em disputas?.........Putas. Com palavras dissolutas me concluís na verdade, que as lidas todas de um Frade são Freiras, Sermões, e Putas. O açúcar já se acabou?..................Baixou E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu Logo já convalesceu?.....................Morreu. À Bahia aconteceu o que a um doente acontece, cai na cama, o mal lhe cresce, Baixou, Subiu, e Morreu. A Câmara não acode?...................Não pode Pois não tem todo o poder?...........Não quer É que o governo a convence?........Não vence. Que haverá que tal pense, que uma Câmara tão nobre por ver-se mísera, e pobre Não pode, não quer, não vence. SÁTIRA PORNOGRÁFICA A MESMA MARIA VIEGAS SACODE AGORA O POETA ESTRAVAGANTEMENTE PORQUE SE ESPEYDORRAVA MUITO Dizem, que o vosso cu, Cota, assopra sem zombaria, que parece artilharia, quando vem chegando a frota: parece, que está de aposta este cu a peidos dar, porque jamais sem parar este grão-cu de enche-mão sem pederneira, ou murrão está sempre a disparar. De Cota o seu arcabuz apontado sempre está, que entre noite, e dia dá mais de quinhentos truz-truz:: não achareis muitos cus tão prontos em peidos dar, porque jamais sem parar faz tão grande bateria, que de noite, nem de dia pode tal cu descansar. Cota, esse vosso arcabuz parece ser encantado, pois sempre está carregado disparando tantos truz: arrenego de tais cus, porque este foi o primeiro cu de Moça fulieiro, que tivesse tal saída para tocar toda a vida por fole de algum ferreiro. VENDO-SE FINALMENTE EM HUMA OCCASIÃO TAM PERSEGUIDA ESTA DAMA DO POETA, ASSENTIO NO PREMIO DE SUAS FINEZAS; COM CONDIÇÃO POREM, QUE SE QUERIA PRIMEYRO LAVAR; AO QUE ELLE RESPONDEO COM A SUA COSTUMADA JOCOSERIA A BARBORA O lavar depois importa, porque antes em água fria estarei eu noite, e dia batendo-vos sempre à porta: depois que um homem aporta, faz bem força por entrar, e se hei de o postigo achar fechado com frialdade, antes quero a sujidade, porque enfim me hei de atochar. Não serve o falar de fora, Babu, vós bem o sabeis, dai-me em modo, que atocheis, e esteja ele sujo embora: e se achais, minha Senhora, que estes são os meus senãos, não fiquem meus gostos vãos, nem vós por isso amuada, que ou lavada, ou não lavada cousa é, de que levo as mãos. Lavai-vos, minha Babu, cada vez que vós quiseres, já que aqui são as mulheres lavandeiras do seu cu: juro-vos por Berzabu, que me dava algum pesar vosso contínuo lavar, e agora estou nisso lhano, pois nunca se lava o pano, senão para se esfregar. A que se esfrega amiúdo se há de amiúdo lavar, porque lavar, e esfregar quase a um tempo se faz tudo: se vós por modo sisudo o quereis sempre lavado, passe: e se tendes cuidado de lavar o vosso cujo por meu esfregão ser sujo, já me dou por agravado. Lavar a carne é desgraça em toda a parte do Norte, porque diz, que dessa sorte perde a carne o sal, e graça: e se vós por esta traça lhe tirais ao passarete o sal, a graça, e o cheirete, em pouco a dúvida topa, se me quereis dar a sopa, dai-ma com todo o sainete. Se reparais na limpeza, ides enganada em suma, porque em tirando-se a escuma, fica a carne uma pureza: fiai da minha destreza, que nesse apertado caso vos hei de escumar o vaso com tal acerto, e escolha, que há de recender a olha desde o Nascente ao Ocaso. As Damas, que mais lavadas costumam trazer as peças, e disso se prezam, essas são Damas mais deslavadas: porque vivendo aplicadas a lavar-se, e mais lavar-se deviam desenganar-se, de que se não lavam bem, porque mal se lava, quem se lava para sujar-se. • Poeta lírico: seu lirismo amoroso se define pelo erotismo, revelando uma sensualidade ora grosseira, ora de rara fineza. Gregório de Matos foi o primeiro poeta que admirou e glorificou a mulata. Não vi em minha vida a formosura, Ouvia falar nela cada dia, E ouvida me incitava, e me movia A querer ver tão bela arquitetura. Ontem a vi por minha desventura Na cara, no bom ar, na galhardia De uma Mulher, que em Anjo se mentia, De um Sol, que se trajava em criatura. Me matem (disse então vendo abrasar-me) Se esta a cousa não é, que encarecer-me. Sabia o mundo, e tanto exagerar-me. Olhos meus (disse então por defender-me) Se a beleza hei de ver para matar-me, Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me. Minha rica mulatinha, desvelo e cuidado meu, eu já fora todo teu, e tu foras toda minha; Juro-te, minha vidinha, se acaso minha qués ser, que todo me hei de acender em ser teu amante fino pois por ti já perco o tino, e ando para morrer. A D. ÂNGELA Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser flor e Anjo juntamente: Ser Angélica flor e Anjo florente, Em quem, senão em vós, se uniformara? Quem vira uma tal flor que a não cortara De verde pé, da rama florescente; E quem um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus o não idolatrara? Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu Custódio e a minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas vejo, que por bela, e por galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo que me tenta, e não me guarda. O Amor é finalmente um embaraço de pernas, uma união de barrigas, um breve tremor de artérias. Uma confusão de bocas, uma batalha de veias, um rebuliço de ancas; quem diz outra coisa, é besta. Ardor em firme coração nascido; Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de água disfarçado; Rio de neve em fogo convertido: Tu, que em um peito abrasas escondido; Tu, que em um rosto corres desatado; Quando fogo, em cristais aprisionado; Quando cristal, em chamas derretido. Ardor em firme coração nascido; pranto por belos olhos derramado; incêndio em mares de água disfarçado; rio de neve em fogo convertido: tu, que em um peito abrasas escondido; tu, que em um rosto corres desatado; quando fogo, em cristais aprisionado; quando crista, em chamas derretido. Se és fogo, como passas brandamente, se és fogo, como queimas com porfia? Mas ai, que andou Amor em ti prudente! Pois para temperar a tirania, como quis que aqui fosse a neve ardente, permitiu parecesse a chama fria. Bento Teixeira Pinto (1565 – 1600) É autor de Prosopopéia, poema épico em decassílabos, dispostos em oitava rima, publicado em 1601. Apesar da deficiência, o texto é visto por alguns críticos como iniciador do Barroco no Brasil. Durante muito tempo pensou-se que fosse natural de Recife, cidade descrita no poema, que narra um naufrágio sofrido por Jorge Albuquerque Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco. Hoje se admite que teria nascido em Portugal, embora tivesse morado a maior parte da vida no Recife.