QUINHENTISMO no BRASIL
LITERATURA DE INFORMAÇÃO
http://www.youtube.com/watch?v=15jjLaMzMt8
A Carta de Pêro Vaz de Caminha, é o
documento no qual Pero Vaz de
Caminha registrou as suas impressões sobre a
terra que posteriormente viria a ser chamada
de Brasil. É o primeiro documento escrito
da história do Brasil sendo, portanto,
considerado o marco inicial da obra literária
no país.
http://www.youtube.com/watch?v=EFdSbOSGhBU
http://www.youtube.com/watch?v=MuPUW2D_d1g&playne
xt=1&list=PLBB228259EDE221B9&feature=results_main
LITERATURA DE CATEQUESE
Cordeirinha linda,
Como folga o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo...(José de Anchieta)
BARROCO, alma do Brasil
El Brasil tiene alma barroca. Alma culturalmente forjada a partir de la
Ratio studiorum de los jesuítas, cuando, em las primeiras décadas de
las classes de teologia e latim, el método pregonado por el Concilio de
Trento, para reaccionar a los excesos del humanismo renascentista.
Por idealizar la fusion del carácter divino de la creación com el
proyecto humano de ocupación del universo.Por superar, y dar
continuidade por la renovación, al humanismorenascentista que
promovió el descubrimento de um mundo nuevo, com uma visión
centrada em el hombre, em la geografia de la tierra nueva y, al mismo
tempo, em Dios, el creador de maravilhas.
Barrueco o título é um vocábulo espanhol que
designa pérola irregular, defeituosa.
•
Segundo outras opiniões, porém, o termo tem
origem na fórmula mnemotécnica BAROCO,
usada pelos escolásticos para designar um dos
modos do silogismo, o que daria ao termo um
sentido pejorativo de raciocínio estranho,
tortuoso, que confunde o falso com o
verdadeiro.
O SILOGISMO: Dedução formal tal que, postas
duas proposições, chamadas premissas, delas
se tira uma terceira, nelas logicamente
implicada, chamada conclusão. Assim, temos
como exemplo: Todo homem é mortal
(premissa maior); ora, eu sou homem
(premissa menor); logo, eu sou mortal
(conclusão).
Observe a construção dos tercetos finais de um
soneto sacro de Gregório de Matos que,
referindo-se ao amor de Cristo diz:
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
de vossa alta clemência me despido;
porque quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto um pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido,
vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma orelha perdida e já cobrada,
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na sacra história,
eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
perder na vossa ovelha a vossa glória.
Estes versos encobrem a formulação silogística,
como segue:
Premissa maior: Toda ovelha arrependida é
salva.
Premissa menor: Eu sou uma ovelha
arrependida.
Conclusão: Logo, eu espero salvar-me.
O SOFISMA: É o argumento que parte de
premissas verdadeiras e que chega a uma
conclusão inadmissível, que não pode enganar
ninguém, mas que se apresenta como
resultante de regras formais do raciocínio, não
podendo ser refutado. É um raciocínio falso,
elaborado com a função de enganar.
Ex.:
Todo comunista lê Marx.
Davi lê Marx.
Logo, Davi é comunista.
Cultismo e Conceptismo são dois aspectos do
Barroco que não se separam; antes,
superpõem-se como as duas faces de uma
mesma moeda. Às vezes, o autor trabalha ao
nível de palavra, da imagem; busca mais
argumento, o conceito. Nada impede que o
mesmo texto tenha, simultaneamente,
aspectos Cultistas e Conceptistas. Com os
riscos inerentes às generalizações abusivas,
diz-se, didaticamente, que o Cultismo é
predominante na poesia e o Conceptismo,
predominante na prosa.
BARROCO: a arte da indisciplina
O Barroco- a arte do séc. XVII- registra um
momento de crise espiritual na cultura
ocidental. O homem desse período divide-se
entre duas mentalidades, entre duas formas
de ver o mundo: de um lado o paganismo e o
sensualismo do Renascimento, em declínio;
de outro, a forte onda de religiosidade que
faz lembrar o teocentrismo medieval.
1517: a reforma divide a igreja
entre católicos e protestantes;
1540: é fundada a companhia
de Jesus, ordem religiosa que
envia missionários a vários
continentes;
1563: a igreja dá início ao
movimento da ContraReforma, tentando impedir a
expansão protestante.
Assim, a arte barroca, que vigora durante
todo o século XVII e chega às primeiras
décadas do séc. XVIII, registra o espírito
CONTRADITÓRIO
de uma época que se divide entre as
influências do Renascimento - o materialismo,
o paganismo e o sensualismo- e da onda de
religiosidade trazida sobretudo pela CONTRAREFORMA.
BARROCO= expressão das contradições e do
conflito espiritual da época.
Em Portugal, o Barroco ou Seiscentismo tem seu início em
1580 com a unificação da Península Ibérica, o que acarretará
um forte domínio espanhol em todas as atividades, daí o
nome Escola Espanhola, também dado ao Barroco lusitano. O
Seiscentismo se estenderá até 1756, com a fundação da
Arcádia Lusitana.No Brasil, o Barroco tem seu marco inicial em
1601 com a publicação do poema épico Prosopopéia, a
primeira obra, propriamente literária, escrita entre nós, da
autoria do português, radicado no Brasil, Bento Teixeira. O
final do Barroco brasileiro só concretizou em 1768, com a
publicação das Obras poéticas de Cláudio Manuel da Costa .
No entanto, como o Barroco no Brasil só foi mesmo
reconhecido e praticado em seu final (entre 1720 e 1750),
quando foram fundadas várias academias literárias,
desenvolveu-se uma espécie de Barroco tardio nas artes
plásticas, o que resultou na construção de igrejas de estilo
barroco durante o século XVIII.
O Barroco no Brasil foi um estilo literário que durou do século XVII ao começo do
século XVIII, marcado pelo uso de antíteses e paradoxos que expressavam a
visão do mudo barroco numa época de transição entre o teocentrismo e o
antropocentrismo
Lisboa era considerada a capital mundial da
pimenta, a agricultura lusa era abandonada.
Com a decadência do comércio das especiarias
orientais observa-se o declínio da economia
portuguesa. Paralelamente, Portugal vive uma
crise dinástica: em 1578 D. Sebastião
desaparece em Alcácer-Quibir, na África; dois
anos depois, Felipe II da Espanha consolida a
unificação da Península Ibérica.
A perda da autonomia e o desaparecimento de D.
Sebastião originam em Portugal o mito de Sebastianismo
(crença segundo qual D. Sebastião voltaria e transformaria
Portugal no Quinto Império). O mais ilustre sebastianista
foi sem dúvida o Pe. Antônio Vieira, que aproveitou a
crença surgida nas "trovas" de um sapateiro chamado
Gonçalo Anes Bandarra. A unificação da Península veio
favorecer a luta conduzida pela Companhia de Jesus em
nome da Contra-Reforma: o ensino passa a ser quase um
monopólio no campo científico-cultural. Enquanto a
Europa conhecia um período de efervescência no campo
científico, com as pesquisas e descobertas de Francis
Bacon, Galileu, Kepler e Newton.
Com o Concílio de Trento (1545-1563), o Cristianismo se
divide. De um lado os estados protestantes (seguidores de
Lutero – introdutor da Reforma) que propagavam o
"espírito científico", o racionalismo clássico, a liberdade
de expressão e pensamento. De outro, os redutos
católicos (a Contra-Reforma) que seguiam uma
mentalidade mais estreita, marcada pela Inquisição (na
verdade uma espécie de censura) e pelo teocentrismo
medieval.
O quadro brasileiro se completa, no século XVII, com a
presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as
transformações ocorridas no Nordeste em consequência
das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a
decadência da cana-de-açúcar.
Características
O culto da forma manifesta-se tanto na literatura quanto nas
artes plásticas do Barroco. Neste detalhe de um grupo de
esculturas de Aleijadinho que representa a Última Ceia, não
há lugar para a expressão serena das imagens religiosas; os
apóstolos revelam intensa agitação, traduzida nos gestos e
olhares que trocam a respeito do que acabaram de ouvir de
Cristo.
Algumas características da linguagem barroca merecem
especial atenção pela sua peculiaridade e pelo uso que
sendo feito de algumas delas em escolas posteriores.
Arte da Contra-Reforma: a ideologia do Barroco é
fornecida pela Contra-Reforma. A arte deve ter como
objetivo a fé católica.
Conflito espiritual: O homem barroco sente-se
dilacerado e angustiado diante da alteração dos
valores, dividindo-se entre o mundo espiritual e o
mundo material. As figuras que melhor expressam esse
estado de alma são a antítese e o paradoxo.
LÍRICA FILOSÓFICA
À instabilidade das cousas no mundo.
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol e na luz, falta a firmeza,
Na formosura não se crê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
Gregório de Mattos
O tema da fugacidade do tempo, da incerteza da vida, é
desenvolvido por meio de um jogo de imagens e ideias
que se contrapõem, num sistema de oposições: nasce x
não dura; luz x noite escura; tristes sombras x formosura;
acaba x nascia.
O espírito Barroco é cabalmente expresso no célebre
dilema do 3º ato de Hamlet, de Shakespeare: "To be or
not to be, that is the question". ("Ser ou não ser, eis a
questão...")
Temas contraditórios: Há o gosto pela confrontação
violenta de temas opostos.
Efemeridade do tempo e carpe diem: O homem barroco tem
consciência de que a vida terrena é efêmera, passageira, e por isso, é
preciso pensar na salvação espiritual. Mas já que a vida é passageira,
sente, ao mesmo tempo, desejo de gozá-la antes que acabe, o que
resulta num sentimento contraditório, já que gozar a vida implica
pecar, e se há pecado, não há salvação.
http://www.youtube.com/watch?v=mozu_zZANAI
http://www.youtube.com/watch?v=K5nDbjtmcNQ
Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo claramente,
Na vossa ardente vista o sol ardente,
E na rosada face a aurora fria:
Enquanto pois produz, enquanto cria
Essa esfera gentil, mina excelente
No cabelo o metal mais reluzente,
E na boca a mais fina pedraria:
Gozai, gozai da flor da formosura,
Antes que o frio da madura idade
Tronco deixe despido, o que é verdura.
Que passado o zênith da mocidade,
Sem a noite encontrar da sepultura,
É cada dia ocaso da beldade. (Gregório de Mattos)
Cultismo: é caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela
valorização do pormenor mediante jogos de palavras, com visível influência do
poeta espanhol Luís de Gôngora; daí o estilo ser também conhecido como
Gongorismo.
O aspecto exterior imediatamente visível no Cultismo ou Gongorismo é o abuso no
emprego de figuras de linguagem como as metáforas, antítese, hipérboles,
hipérbatos, anáforas, paronomásias, etc...
"O todo sem a parte não é o todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica todo..."
(Gregório de Matos)
Conceptismo: é marcado pelo jogo de idéias, de
conceitos, seguindo um raciocínio lógico,
racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada.
Um dos principais cultores do conceptismo foi o
espanhol Quevedo, de onde deriva o termo
Quevedismo. Os Conceptistas pesquisavam a
essência íntima dos objetos, buscando saber o
que são, visando à apreensão da face oculta,
apenas acessível ao pensamento, ou seja, ao
conceitos; assim a inteligência, a lógica e o
raciocínio ocupam o lugar dos sentidos, impondo
a concisão e a ordem, onde reinavam a
exuberância e o exagero. Assim, é usual a
presença de elementos da lógica formal.
Barroco – As Origens da Cultura Brasileira
O nosso primeiro e decisivo estilo artístico e literário foi o
Barroco. É contemporâneo dos alicerces mais antigos da
sociedade e da cultura brasileira, ou seja, da formação da
família patriarcal nos engenhos de cana de Pernambuco e
da Bahia, da economia apoiada no tríptico monoculturalatifúndio-trabalho escravo, bem como dos primórdios da
educação brasileira, nos colégios jesuíticos. Daí sua
importância, e daí, também, as projeções que esse período
subsequentes, até os nossos dias.
O Barroco é originário da Itália e da Espanha e sua expansão
para o Brasil deu-se a partir da Espanha, centro irradiador
desse estilo, para a Península Ibérica e América Latina.
Para isso contribuíram, decisivamente, os seguintes fatos:
•
•
•
•
•
A Espanha foi potência hegemônica no séc. XVII, transformando-se no centro da
Contra-Reforma e na sede da Companhia de Jesus, a ordem religiosa mais atuante
no período;
Em 1580, ocorre a união das coroas ibéricas, e Portugal, incluindo as suas colônias
ultramarinas, fica até 1640 sob domínio espanhol (domínio filipino);
Com isso, a mentalidade católica espanhola, revigorada pelo Concílio de Trento
(1545 a 1563), atuou fundamentalmente em Portugal, especialmente pelo
fortalecimento da Santa Inquisição, já estabelecida definitivamente desde 1540;
Paralelamente, houve o extraordinário fortalecimento da Compainha de Jesus ou
Jesuítas, mentores intelectuais e guardiões do espírito contra-reformista. Foram
exatamente esses padres, os primeiros educadores que tivemos, que
transplantaram para o Brasil a formação Ibérico-jesuítica e o gosto artístico vigente
na Europa;
O ensino ministrado em Portugal e nos colégios jesuíticos brasileiros era
profundamente verbal. Um de seus principais objetivos era o de adestrar os
estudantes no desempenho lingüístico, de tal modo que tivessem facilidade verbal
de defender ou "provar" as verdades dogmáticas da Igreja. Não havia estímulo ao
espírito crítico, nem a nenhum tipo de investigação intelectual pessoal. Nasceu daí
o gosto, ainda vigente entre nossa elite, pelo estilo pomposo, retórico, pelo jogo
de palavras, tão comum entre nossos tribunos e políticos, perpetuando na
opulência verbal de Rui Barbosa, Coelho Neto e Euclides da Cunha, para ficarmos
em apenas três desdobramentos mais recentes do estilo Barroco.
Os limites cronológicos do Barroco no Brasil são:
• INÍCIO: 1601 – com PROSOPOPÉIA, poema
épico de autoria do português, radicado no
Brasil, Bento Teixeira Pinto. É a primeira obra,
propriamente literária, escrita entre nós.
• TÉRMINO: 1768 – com a publicação das
OBRAS POÉTICAS de CLAÚDIO MANUEL DA
COSTA, obra inicial do Arcadismo no Brasil.
Representantes
Padre Antônio Vieira
• Vieira nasceu em Lisboa, em 1608. Com sete anos vem para
a Bahia; em 1623 entra para a Companhia de Jesus.
Quando Portugal se liberta da Espanha (1640), retorna à
terra natal, saudando o rei D. João IV, de quem se tornaria
confessor. Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena
burguesia cristã, por defender o capitalismo judaico e os
cristãos-novos; os pequenos comerciantes, por defender
um monopólio comercial; os administradores e colonos,
por defender os índios. Essas posições, principalmente a
defesa dos cristãos-novos, custam a Vieira uma condenação
pela Inquisição: fica preso de 1665 a 1667. Falece em 1697,
no Colégio da Bahia.
Podemos dividir sua obra em:
• Profecias – constam de três obras: História do futuro, Esperanças de
Portugal e Clavis prophetarum, em que se notam Sebastianismo e
as esperanças de Portugal se tornar o Quinto Império do Mundo,
pois tal fato estaria escrito na Bíblia.
• Cartas – são cerca de 500 cartas, que versam sobre o
relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a Inquisição e os
cristãos-novos.
• Sermões – são quase 200 sermões. De estilo barroco conceptista o
pregador português joga com asa idéias e os conceitos, segundo os
ensinamentos da retórica dos jesuítas. Um de seus principais
sermões é o Sermão da sexagésima (ou A palavra de Deus), pregado
na Capela Real de Lisboa em 1655.
"... Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas,
como os pregdores fazem o sermão em xadrez
de palavras. Se de uma parte está branco, da
outra há de estar negro; se de um parte dizem
luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma
parte dizem desceu, da outra hão de dizer
subiu. Basta, que não havemos de ver num
sermão duas palavras em paz? Todas hão de
estar sempre em fronteira com o seu
contrário? ..."
(Fragmento do Sermão da Sexagésima do Padre Antônio Vieira
• Dentre sua obras mais conhecidas, destacamse ainda: Sermão pelo bom sucesso das armas
de Portugal contra as de Holanda e o Sermão
de Santo Antônio.
Antigo interior da igreja de Nossa Senhora da
Ajuda (Salvador, Bahia), onde vieira proferiu
seu Sermão pelo bom sucesso das armas de
Portugal contra as Holandas
O escritor Gregório de Matos Guerra, nascido na
Bahia, provavelmente a 20 de dezembro de 1633,
firma-se como o primeiro poeta brasileiro. Após
os primeiros estudos no Colégio de Jesuítas, vai
para Coimbra, onde se gradua em Direito.
Formado, vive alguns anos em Lisboa exercendo a
profissão; por suas sátiras, é obrigado a retornar
à Bahia. Em sua terra natal, é convidado a
trabalhar com o jesuítas no cargo de tesoureiromor da Companhia de Jesus. Ainda por sua
sátiras, abandona os padres e é degredado para
Angola; já bastante doente volta ao Brasil, mas
sob duas condições: estava proibido de pisar em
terras baianas e de apresentar sua sátiras.
Morreu em Recife, no ano de 1696.
• Apesar de ser conhecido como poeta satírico – daí o
apelido "Boca do Inferno" –, Gregório também
praticou, e com esmero, a poesia religiosa e a lírica.
Cultivou tanto o estilo cultista como o conceptista,
apresentando jogo de palavras ao lado de raciocínios
sutis, sempre como o uso abusivo de linguagem.
• Sua obra permaneceu inédita até o século XX, quando
a Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933,
publicou seis volumes, assim distribuídos: I. Poesia
sacra; II. Poesia lírica; III. Poesia graciosa; IV e V. Poesia
satírica; e VI. Últimas.
Poeta religioso: Gregório coloca-se diante de Deus, como um pecador,
pedindo perdão por seus erros e confiante na misericórdia divina.
Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
É verdade, meu Deus, que hei delinqüido,
Delinqüido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.
Maldade, que encaminha à vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz.
Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pertendo em tais abraços,
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.
ÉS TERRA
Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,
Te lembra hoje Deus por sua Igreja;
De pó te faz espelho, em que se veja
A vil matéria, de que quis formar-te.
Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te
E como o teu baixel sempre fraqueja
Nos mares da vaidade, onde peleja,
Te põe à vista a terra, onde salvar-te.
Alerta, alerta, pois, que o vento berra.
Se assopra a vaidade e incha o pano,
Na proa a terra tens, amaina e ferra.
Todo o lenho mortal, baixel humano,
Se busca a salvação, tome hoje terra,
Que a terra de hoje é porto soberano
Poeta satírico: criticava os letrados, os políticos, a corrupção, o
relaxamento dos costumes, a cidade da Bahia.
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar a cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos Mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.
EPILOGO
Que falta nesta cidade?................Verdade
Que mais por sua desonra?...........Honra
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.
Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio
Quem causa tal perdição?.............Ambição
E o maior desta loucura?...............Usura.
Notável desventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.
Quais são os seus doces objetos?....Pretos
Tem outros bens mais maciços?.....Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos?...Mulatos.
Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal,
que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos?...Meirinhos
Quem faz as farinhas tardas?.........Guardas
Quem as tem nos aposentos?.........Sargentos.
Os círios lá vêm aos centos,
e a terra fica esfaimando,
porque os vão atravessando
Meirinhos, Guardas, Sargentos.
E que justiça a resguarda?.............Bastarda
É grátis distribuída?......................Vendida
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa,
o que El-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.
Que vai pela clerezia?..................Simonia
E pelos membros da Igreja?..........Inveja
Cuidei, que mais se lhe punha?.....Unha.
Sazonada caramunha!
enfim que na Santa Sé
o que se pratica,
é Simonia, Inveja, Unha.
E nos frades há manqueiras?.........Freiras
Em que ocupam os serões?............Sermões
Não se ocupam em disputas?.........Putas.
Com palavras dissolutas
me concluís na verdade,
que as lidas todas de um Frade
são Freiras, Sermões, e Putas.
O açúcar já se acabou?..................Baixou
E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu
Logo já convalesceu?.....................Morreu.
À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.
A Câmara não acode?...................Não pode
Pois não tem todo o poder?...........Não quer
É que o governo a convence?........Não vence.
Que haverá que tal pense,
que uma Câmara tão nobre
por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence.
SÁTIRA PORNOGRÁFICA
A MESMA MARIA VIEGAS SACODE AGORA O
POETA ESTRAVAGANTEMENTE PORQUE SE
ESPEYDORRAVA MUITO
Dizem, que o vosso cu, Cota,
assopra sem zombaria,
que parece artilharia,
quando vem chegando a frota:
parece, que está de aposta
este cu a peidos dar,
porque jamais sem parar
este grão-cu de enche-mão
sem pederneira, ou murrão
está sempre a disparar.
De Cota o seu arcabuz
apontado sempre está,
que entre noite, e dia dá
mais de quinhentos truz-truz::
não achareis muitos cus
tão prontos em peidos dar,
porque jamais sem parar
faz tão grande bateria,
que de noite, nem de dia
pode tal cu descansar.
Cota, esse vosso arcabuz
parece ser encantado,
pois sempre está carregado
disparando tantos truz:
arrenego de tais cus,
porque este foi o primeiro
cu de Moça fulieiro,
que tivesse tal saída
para tocar toda a vida
por fole de algum ferreiro.
VENDO-SE FINALMENTE EM HUMA OCCASIÃO
TAM PERSEGUIDA ESTA DAMA DO
POETA, ASSENTIO NO PREMIO DE SUAS FINEZAS;
COM CONDIÇÃO POREM, QUE
SE QUERIA PRIMEYRO LAVAR; AO QUE ELLE
RESPONDEO COM A SUA
COSTUMADA JOCOSERIA A BARBORA
O lavar depois importa,
porque antes em água fria
estarei eu noite, e dia
batendo-vos sempre à porta:
depois que um homem aporta,
faz bem força por entrar,
e se hei de o postigo achar
fechado com frialdade,
antes quero a sujidade,
porque enfim me hei de atochar.
Não serve o falar de fora,
Babu, vós bem o sabeis,
dai-me em modo, que atocheis,
e esteja ele sujo embora:
e se achais, minha Senhora,
que estes são os meus senãos,
não fiquem meus gostos vãos,
nem vós por isso amuada,
que ou lavada, ou não lavada
cousa é, de que levo as mãos.
Lavai-vos, minha Babu,
cada vez que vós quiseres,
já que aqui são as mulheres
lavandeiras do seu cu:
juro-vos por Berzabu,
que me dava algum pesar
vosso contínuo lavar,
e agora estou nisso lhano,
pois nunca se lava o pano,
senão para se esfregar.
A que se esfrega amiúdo
se há de amiúdo lavar,
porque lavar, e esfregar
quase a um tempo se faz tudo:
se vós por modo sisudo
o quereis sempre lavado,
passe: e se tendes cuidado
de lavar o vosso cujo
por meu esfregão ser sujo,
já me dou por agravado.
Lavar a carne é desgraça
em toda a parte do Norte,
porque diz, que dessa sorte
perde a carne o sal, e graça:
e se vós por esta traça
lhe tirais ao passarete
o sal, a graça, e o cheirete,
em pouco a dúvida topa,
se me quereis dar a sopa,
dai-ma com todo o sainete.
Se reparais na limpeza,
ides enganada em suma,
porque em tirando-se a escuma,
fica a carne uma pureza:
fiai da minha destreza,
que nesse apertado caso
vos hei de escumar o vaso
com tal acerto, e escolha,
que há de recender a olha
desde o Nascente ao Ocaso.
As Damas, que mais lavadas
costumam trazer as peças,
e disso se prezam, essas
são Damas mais deslavadas:
porque vivendo aplicadas
a lavar-se, e mais lavar-se
deviam desenganar-se,
de que se não lavam bem,
porque mal se lava, quem
se lava para sujar-se.
• Poeta lírico: seu lirismo amoroso se define
pelo erotismo, revelando uma sensualidade
ora grosseira, ora de rara fineza. Gregório de
Matos foi o primeiro poeta que admirou e
glorificou a mulata.
Não vi em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura.
Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma Mulher, que em Anjo se mentia,
De um Sol, que se trajava em criatura.
Me matem (disse então vendo abrasar-me)
Se esta a cousa não é, que encarecer-me.
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me.
Olhos meus (disse então por defender-me)
Se a beleza hei de ver para matar-me,
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.
Minha rica mulatinha,
desvelo e cuidado meu,
eu já fora todo teu,
e tu foras toda minha;
Juro-te, minha vidinha,
se acaso minha qués ser,
que todo me hei de acender
em ser teu amante fino pois
por ti já perco o tino,
e ando para morrer.
A D. ÂNGELA
Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara?
Quem vira uma tal flor que a não cortara
De verde pé, da rama florescente;
E quem um Anjo vira tão luzente
Que por seu Deus o não idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo que me tenta, e não me guarda.
O Amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um rebuliço de ancas;
quem diz outra coisa, é besta.
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido.
Ardor em firme coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido:
tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado;
quando fogo, em cristais aprisionado;
quando crista, em chamas derretido.
Se és fogo, como passas brandamente,
se és fogo, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse a neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria.
Bento Teixeira Pinto (1565 – 1600)
É autor de Prosopopéia, poema épico em
decassílabos, dispostos em oitava rima, publicado
em 1601. Apesar da deficiência, o texto é visto
por alguns críticos como iniciador do Barroco no
Brasil. Durante muito tempo pensou-se que
fosse natural de Recife, cidade descrita no
poema, que narra um naufrágio sofrido por Jorge
Albuquerque Coelho, donatário da Capitania de
Pernambuco. Hoje se admite que teria nascido
em Portugal, embora tivesse morado a maior
parte da vida no Recife.
Download

Apresentação do PowerPoint