PERIODOS LITERARIOS
A divisão da literatura em períodos literários (ou movimentos, escolas,
fases) busca estabelecer uma ordenação dos fenômenos literários no tempo. No
entanto, esta divisão está sujeita a diferentes abordagens para poder conciliar os
critérios cronológicos com os critérios estéticos. Segundo Ligia Cademartori, na
obra Períodos literários (1986: 8), “o desafio da periodologia literária consiste em,
não podendo se afastar da história, ter de superá-la para dar conta daquilo que é
especificamente literário, ou seja, do sistema de normas estéticas que dominam a
literatura num dado momento histórico.”
A divisão não pode ser compreendida em blocos estanques, isolados,
considerados apenas em uma sucessão. Ao contrário, as características de um
período subsistem em outro, havendo limites tênues, que dificultam a sua
classificação. O estilo de época não se manifesta da mesma maneira na obra de
todos os escritores. É necessário compreender o período dentro de um sistema de
normas que desvenda o tipo de homem de uma determinada época: o homem
renascentista, o homem barroco, o homem romântico.
BARROCO
Apogeu: século XVII
O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte;
Não se diga que é parte, sendo o todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda parte,
Em qualquer parte sempre fica todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em parte todo,
Assiste em cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço lhe acharam, sendo parte,
Nos diz as partes todas deste todo.
MATOS, Gregório de. In: WISNIK, José Miguel
A denominação barroco refere-se genericamente a todas as manifestações
artísticas de 1600 a início de 1700, estendendo-se também à pintura, à musica, à
escultura e à arquitetura da época. A estética barroca surge na Espanha e
caracteriza toda a Europa do século XVII, recebendo diferentes denominações:
gongorismo, na Espanha; marinismo, na Itália; preciosismo, na França; eufuísmo,
na Inglaterra. As palavras que podem sintetizar o barroco são conflito e tensão. O
termo é posterior à época que denomina, surgindo no século seguinte com
conotação pejorativa em relação à arte renascentista: uso exagerado de
ornamentos, ausência de clareza e elegância de linhas. Esta concepção é
reformulada por Heinrich Wolfflin na obra Conceptos fundamentales de la historia
del arte, passando o Barroco a ser visto como um desenvolvimento e não como
degenerescência do Classicismo.
O estilo barroco nasce da crise de valores renascentistas, ocasionada pelas
lutas religiosas e pela crise econômica vivida em consequência da falência do
comércio com o Oriente. Surge na época da reação católica contra a reforma
protestante e contra a falta de religiosidade do Renascimento. À racionalidade da
linguagem renascentista, o Barroco contrapõe a representação do mundo através
do uso da metáfora, da hipérbole, da antítese, do paradoxo para expressar a
atitude conflitante entre desejo e pecado, prazer pagão e religiosidade,
antropocentrismo e teocentrismo. É possível representar o homem barroco como
quem vive um estado de tensão e desequilíbrio do qual tenta evadir-se: joga com
palavras e com ideias, fugindo à expressão direta. Graça Paulino (1988: 135)
assim o define: “é um homem que usa uma infinidade de formas para fugir da
angústia e acaba expressando-a em tudo o que faz (...) os prazeres o atraem, mas
o medo dos infernos o apavora (...) tenta transformar a vida num espetáculo, mas
este espetáculo fica repleto de contrastes e absurdos.”
O barroco, devido as suas particularidades, floresce nos países de fé
católica como Espanha, Portugal, França, Itália e Brasil. Dentre os expoentes,
temos Góngora, Quevedo, Cervantes, Lope de Vega, Calderón de la Barca,
(Espanha); Corneille, Racine, Boileau (França); Sóror Mariana de la Cruz,
(América espanhola) e Padre Antônio Vieira, Gregório de Matos Guerra (Brasil). A
poesia barroca do Brasil Colônia está representada por Gregório de Matos, que
vivia em Salvador, maior centro cultural brasileiro da época. A obra do poeta
baiano, embora influenciada por Gôngora e Camões, apresenta um estilo próprio,
manifestado na temática e na linguagem, em especial nas manifestações satíricas
que criticam a sociedade baiana e seus algozes. Em Gregório, a sátira que
denuncia - a mulher, o clero, a aristocracia - também busca moralizar. Com a
sátira, coexistem também a poesia lírica e a poesia religiosa. Segundo Alfredo
Bosi (1995:45), “em toda a sua poesia o achincalhe e a denúncia encorpam-se e
movem-se à força de jogos sonoros, de rimas burlescas, de uma sintaxe apertada
e ardida, de um léxico incisivo, quando não retalhante; tudo o que dá ao estilo de
Gregório de Matos uma verve não igualada em toda a história da sátira brasileira
posterior. Na época, embora ainda não houvesse no Brasil um sistema literário
sustentado por um público leitor, o poeta “maldito”, conhecido na Bahia como
“boca do inferno” é considerado o verdadeiro fundador de nossa literatura pelo
nível artístico que atingiu.
NEOCLASSICISMO
Apogeu: século XVIII
LIRA I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, de expressões grosseiro,
Dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
GONZAGA, Tomás Antonio. Marília de Dirceu.
O termo Neoclassicismo refere-se à tentativa de retorno, no sécullo XVIII,
aos padrões greco-latinos. Segundo Cademartori (1986: 31), há neste século
várias tendências ideológicas e estéticas concomitantes que dificultam uma
cômoda definição do estilo de época. A autora refere-se ao Iluminismo
(enciclopedistas), ao Arcadismo (vida pastoril) e ao próprio Neoclassicismo
(imitação dos clássicos em contraposição à exuberância barroca). “As tendências
setecentistas diversificam-se, mas têm em comum a fé na razão e na ciência, o
culto à racionalidade e à sensibilidade clássicas. (...) Apoiada nas teorias poéticas
de Aristóteles e Horácio, a estética neoclássica considera verossímil o crível, o
possível e o provável.” (1986:32) A arte deve se regular sempre pelo entendimento
racional e pelas regras da natureza. Alguns autores que se destacaram nesse
período foram Montesquieu (1689-1755), Voltaire, Choderlos de Laclos (17411803), Marquês de Sade (1740-1814), Restif de la Bretonne (1734-1806), Daniel
Defoe (1660-1731) e Jonathan Swift (1667-1731).
O Arcadismo no Brasil foi um movimento sem arcádias, havendo apenas
poetas que adotavam pseudônimos de pastores e compunham poemas pastoris,
seguindo as convenções do gênero. O poeta árcade pode ser definido como um
poeta-pastor, herói da virtude, contra a violência, sujeito do seu próprio destino. A
sua amada é representada por uma singela pastora em um ambiente campestre
com gado, feno, prado e flauta, recanto ideal com o equilíbrio e a harmonia
desejados. As academias literárias constituíam-se principalmente com finalidade
social, com produção incipiente e distante da produção neoclássica européia. Em
meio ao marasmo intelectual, um grupo se destacou: o grupo mineiro, cujos
principais representantes foram Claudio Manuel da Costa e Tomás Antonio
Gonzaga. Além da literatura marcada pelo lirismo amoroso e a sátira, havia a
intencionalidade política, pois seus representantes participavam ativamente da
Inconfidência Mineira, sendo alguns deles, por este envolvimento, presos, mortos
ou desterrados.
ROMANTISMO
Apogeu: século XIX
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras’
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
DIAS, Gonçalves. Primeiros cantos.
O Barroco se caracteriza essencialmente por marcar o nascimento da
literatura brasileira. No Neoclassicismo inaugura-se a formação da consciência
nacional na literatura. Já o Romantismo tem o mérito de ser o primeiro movimento
que se constituiu no Brasil com motivos próprios, nacionais.
O movimento romântico surge da preocupação dos poetas e ficcionistas
pelo resgate da liberdade na forma e nas idéias em relação à literatura
propriamente dita e à realidade circundante. A atitude predominante dos autores é,
sem dúvida, o individualismo. Num período pós-Revolução Francesa (1789) e pós
- Independência dos Estados Unidos (1776) em que houve um colapso dos
sistemas morais, religiosos e psíquicos, em que a razão e o progresso perdem o
sentido, os românticos buscam no eu a inspiração. Acreditam no conhecimento
puramente intuitivo e subjetivo da realidade, procurando a expressão direta e
espontânea dos sentimentos – a expressividade. “Sua imaginação criadora era
capaz de construir mundos ideais, maravilhosos ou fantásticos. Não havia limites
para sua sensibilidade e imaginação.” (ABDALA, 1985: 71)
O romântico, em geral, não procura enxergar a sociedade em que
vive. Ele foge da realidade que o cerca. Foge no tempo, para o
passado, ou para o futuro. Foge no espaço, para lugares
distantes, exóticos, diferentes. A natureza, para o romântico, é
um reflexo de seu próprio eu. A ideia da natureza como ordem
racional, tão cara aos árcades, desaparece no Romantismo. Este
a quer tumultuada, tristonha. Afinal, a melancolia foi o grande mal
dos românticos, e os levou, várias vezes, até o suicídio.
(PAULINO, 1988:177)
As origens do movimento estão localizadas na Alemanha através do
movimento Sturm und Drang composto por Schiller e Goethe (Werther), de 1770 e
na Inglaterra, através da publicação do Lyrical Ballads, por William Wordsworth e
Coleridge, em 1891. A Inglaterra, por ser berço da Revolução Industrial, tornou-se
um espaço ideal para a proliferação de vários gêneros românticos, com destaque
para Lord Byron e sua poesia ultra-romântica e Walter Scott com seus romances
históricos. Se foram a Alemanha e a Inglaterra as pioneiras da nova tendência,
coube à França a disseminação do estilo romântico entre nós.
O Romantismo brasileiro define-se em momento histórico de afirmação da
nacionalidade – a Independência, assim como na França. “Foi um estilo que
cultivou a natureza exótica, e nesse aspecto a nossa natureza selvagem era ideal.
Foi um estilo que cultivou heróis míticos, e aqui estava o índio. Pátria, natureza e
índio formam o grande trio temático do Romantismo brasileiro”. (PAULINO,
1988:178). A prosa romântica tem em José de Alencar um dos seus autores mais
prestigiados, cujo legado se caracteriza por um romantismo de cor local. Além dos
romances que fornecem um panorama dos costumes da vida carioca no século
XIX, Alencar foi também um escritor que se preocupou com o passado que se
traduz nos seus romances classificados como indigenistas, em especial Iracema,
O Guarani e Ubirajara. Na poesia, a poética romântica tem em Gonçalves Dias e
Castro Alves seus maiores representantes.
REALISMO / PARNASIANISMO / NATURALISMO
Apogeu: Século XIX
Um homem alto, com ar de estróina, adiantou-se e
entregou-lhe uma folha de papel.
João Romão, um pouco trêmulo, abriu-a defronte dos olhos
e leu-a demoradamente. Um silêncio formou-se em torno dele; os
caixeiros pararam em meio do serviço, intimados por aquela cena
em que entrava a polícia.
- Está aqui com efeito... disse afinal o negociante. Pensei
que fosse livre...
- É minha escrava, afirmou o outro. Quer entregar-me?
- Mas imediatamente.
- Onde está ela?
- Deve estar lá dentro. Tenha a bondade de entrar...
(...)
Atravessaram o armazém, depois de um pequeno corredor
que dava para um pátio calçado, chegaram finalmente à cozinha.
Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava de
cócoras no chão, escamando peixe, para a ceia do seu homem,
quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.
Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo
senhor, e um calafrio percorreu-lhe o corpo. Num relance de
grande perigo compreendeu a situação; adivinhou tudo com a
lucidez de quem se vê perdido para sempre; adivinhou que tinha
sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que
o seu amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao
cativeiro.
(...)
Os policiais, vendo que ela não se despachava,
desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com
ímpeto de anta bravia, recuou de um salto, e antes que alguém
conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara
o ventre de lado a lado.
E depois emborcou para a frente, rugindo e esfocinhando
moribunda numa lameira de sangue.
AZEVEDO, Aluisio de. O cortiço.
Na segunda metade do século XIX ocorrem importantes transformações
econômicas e sociais que provocam o surgimento de uma nova estética – o antiromantismo.
Segundo Gonzaga (2004:83) “uma nova revolução industrial, caracterizada
pelo avanço tecnológico e progresso científico, modifica não apenas os processos
de produção, mas a própria estrutura econômica”. O capitalismo se estrutura em
moldes modernos, com o surgimento de grandes indústrias, mas, de outro lado, a
massa operária urbana se avoluma, formando uma população marginalizada que
não usufrui dos benefícios deste progresso. O mundo exige nova mentalidade: já
não há lugar para a fantasia, o individualismo ou os mitos. Do artista é exigida a
participação, que se dá a partir de um exame minucioso com base em teorias
biológicas, sociológicas e psicológicas.
Os estilos pós-românticos de antes do modernismo – o realismo, o
naturalismo, o parnasianismo, o impressionismo, o simbolismo –
foram mais simultâneos do que sucessivos; nenhum deles se
afirmou, como havia acontecido com o romantismo, no conjunto
dos
grandes
gêneros
literários.
Na
verdade,
entre
aproximadamente 1860 a 1910, nenhum estilo chegou a exercer
uma hegemonia semelhante à que tiveram, em seu tempo, o
romantismo e o neoclassicismo. A pluralidade de estilos (...) é o
aspecto mais ostensivo do segundo Oitocentos. (MERQUIOR,
1979;67)
A doutrina estética denominada Realismo tem como premissa a reprodução
da realidade e como precursores, Honoré de Balzac (França), Stendhal (França),
Gustave Flaubert (França), Eça de Queiroz (Portugal), Machado de Assis (Brasil).
“Durante seu apogeu, predominou no pensamento ficcional uma concepção de
mundo singular, narrada através de uma linguagem coloquial não artificiosa que
tinha como meta a objetividade crítica na descrição da história dos personagens.
Para o autor realista, os universos físicos e sociais deveriam ser analisados em si
mesmos, sem a idealização, o sentimentalismo ou o tom confessional
encontrados nas histórias do romantismo”. (BRODBECK, 2009:36).
Por sua vez, o Naturalismo, desenvolvido na França por Émile Zola, tem
como características principais a convicção de que o indivíduo é produto da
hereditariedade e que suas atitudes são decorrentes do meio em que vive e sobre
o qual age. Os personagens dos romances naturalistas não estão sujeitos à
análise introspectiva do narrador, pois são vistos não como indivíduos, mas como
elementos de um grupo social. Essa feição anônima do personagem naturalista
faz com que a ação se baseie na luta pela sobrevivência: mais do que seres
humanos, os personagens se transformam em tipos a serem analisados pela fria
lente do escritor. Os maiores expoentes do naturalismo foram Guy de Maupassant
(França), Aluisio de Azevedo (Brasil), José Antônio dos Reis Dâmaso (Portugal).
O Parnasianismo europeu abrange quatro décadas – final do século XIX e
início do século XX
SIMBOLISMO
CÁRCERE DAS ALMAS
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades’
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!
SOUSA, Cruz e. Últimos sonetos. 1905
O Simbolismo “define-se pelo anti-intelectualismo. Propõe a poesia pura,
não racionalizada, que use imagens e não conceitos. É uma poesia difícil,
hermética, misteriosa, que destrói a poética tradicional.” (GONZAGA, 2004:126)
O Simbolismo nasceu na França em torno de 1870, e floresceu,
em quase toda a Europa, juntamente com as correntes
‘decadentistas’, nos anos 80 e 90. A poética simbolista teve sua
maior fonte em Baudelaire, e seus principais modelos em
Stéphane Mallarmé (1842-1898), Paul Verlaine (1844-96) e Arthur
Rimbaud (1854-91). Partilhou com a poesia parnasiana o antisentimentalismo, a repulsa à egolatria romântica, o gosto pela
palavra rara (...) e o culto da forma, substituindo a mística da
inspiração, dominante no baixo romantismo, pelo lavor do verso
ou da frase artística. (...) (MERQUIOR, 1979:79)
Segundo o mesmo autor, (1979:79) “os simbolistas opuseram à estética
plástica do Parnaso um constante anelo de musicalidade. ‘De la musique avant
toute chose’, pediu Verlaine; e, de fato, o simbolismo suavizou e fluidificou os
metros ‘esculturais’ dos parnasianos.” “A música antes de qualquer coisa”. Para
sugerir sensações aos leitores, os simbolistas aproximam a poesia da música.
“Não se trata de poesia com fundo musical, mas poesia com musicalidade em si
mesma, através do manejo especial de ritmos da linguagem, esquisitas
combinações de rimas, repetição intencional de certos fonemas, etc.” (GONZAGA,
2004:127).
No Brasil, o Simbolismo se manteve longe do grande público em razão da
popularidade da poesia parnasiana, ganhando espaço somente mais tarde,
durante o Modernismo. Cruz e Sousa (complexidade sonora e vocabular) é
considerado o fundador e o grande nome do Simbolismo brasileiro. Também com
obra densa e significativa, Alphonsus de Guimaraens (eficiência artesanal) e
Pedro Kilkerry (sintaxe inovadora para os padrões da época).
MODERNISMO
PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinte e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três.
- Respire.
(...)
- O Sr. tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.
O termo Modernismo e tudo que o envolve devem ser vistos em dois
âmbitos: internacional e nacional. Em nível internacional, na primeira metade do
século XX, a Europa e, consequentemente, todo o mundo ocidental, protagonizam
duas grandes guerras mundiais que tiveram como saldo milhões de mortos e
profundas mudanças nos países que foram palco das batalhas. “Após esses
acontecimentos, o homem moderno experimenta a sensação de um profundo
desamparo diante de um mundo que não oferece proteção, nem certezas.”
(BRAGA, 2009:160) A estética realista não consegue mais dar conta desse
sentimento de impotência e ceticismo que tomava conta das pessoas, surgindo
assim o modernismo na literatura e nas artes.
Segundo Abdala (1985:199), o Modernismo desencadeia um processo de
ruptura criativa em relação ao passado literário, sendo necessária uma base
artística anterior para que ocorra a transformação. “As formas tradicionais foram
vistas então de maneira crítica e, ao serem ultrapassadas pelas produções
inovadoras do modernismo, acabaram incorporadas naquilo que poderiam ter de
experiência literária válida, como foi o caso de certas recorrências ao Barroco e ao
Romantismo, num jogo entre tradição e ruptura, que, nessa perspectiva, coexiste
dialeticamente com tal tradição”.
No Brasil, o movimento de 22, a Semana de Arte Moderna, mostra-se pela
originalidade de sua proposta estética, mas também insere-se na literatura
européia através de sua adesão às vanguardas. “Os movimentos vanguardistas
provocaram constrangimentos e desconfortos por parte do público literário
brasileiro da época.” (BRAGA, 2009:163) Hoje, vemos que as vanguardas
provocaram reflexões sobre a arte e sua prática, desencadeando novas
perspectivas que mobilizaram produtivamente o novo século.
Alguns expoentes do modernismo foram: James Joyce (Irlanda), Virginia
Woolf (Inglaterra), Franz Kakfa (Tchecoslováquia), William Faulkner (Estados
Unidos), Guimarães Rosa (Brasil), Clarice Lispector (Brasil), Mário de Andrade
(Brasil), Manuel Bandeira (Brasil).
Os estilos de época não se esgotam no século que constituiu seu apogeu.
Acompanhe na obra Literatura: participação e prazer, da autora Graça Paulino, os
capítulos que referem a herança de cada período: herança barroca, romântica,
realista-naturalista etc. É possível perceber a coexistência de traços de vários
estilos de época, sem, no entanto, descaracterizar o predomínio dos novos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABDALA JUNIOR, Benjamin; CAMPEDELLI, Samira Youssef. Tempos da
literatura brasileira. São Paulo: Ática, 1985.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3 ed. São Paulo: Cultrix,
1995.
BRAGA, Maria Alice da Silva. Modernismo. In: Literatura brasileira II. Curitiba:
Ibpex, 2009.
BRODBECK, Jane Thompson. Evolução histórica da poesia. In: Estruturas do
texto literário. Curitiba: Ibpex, 2009.
CAVALHEIRO, Edgard. Panorama da poesia brasileira: o Romantismo. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1959.v.2.
CADEMARTORI, Ligia. Períodos literários. 2 ed. São Paulo: Ática,1986.
GONZAGA, Sergius. Curso de literatura brasileira. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004.
MATOS, Gregório de. In: WISNIK, José Miguel (org.) Poemas escolhidos. São
Paulo: Cultrix, 1976. p. 307
MERQUIOR, José Guilherme. Os estilos históricos da literatura ocidental. In:
PAULINO, Graça. Literatura: participação e prazer. São Paulo: FTD, 1988.
PORTELLA, Eduardo (coord). Teoria literária. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1979.
PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de época na literatura. 11 ed. São Paulo:
Ática, 1989.
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