UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Síntese de zeólitas tipo ton utilizando um sal de imidazólio como agente direcionador de estrutura Christian Wittee Lopes ____________________________________ Dissertação de Mestrado Natal/RN, maio de 2014 Christian Wittee Lopes SÍNTESE DE ZEÓLITAS TIPO TON UTILIZANDO UM SAL DE IMIDAZÓLIO COMO AGENTE DIRECIONADOR DE ESTRUTURA Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Química. Orientadora: Dra. Sibele B. C. Pergher Co-orientador: Dr. Marcelo L. Mignoni NATAL, RN 2014 UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede. Catalogação da Publicação na Fonte. Lopes, Christian Wittee. Síntese de zeólitas tipo ton utilizando um sal de imidazólio como agente direcionador de estrutura. / Christian Wittee Lopes. – Natal, RN, 2014. 104 f.; il. Orientadora: Profª. Drª. Sibele B. C. Pergher. Co-orientador: Prof. Dr. Marcelo L. Mignoni. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Instituto de Química. Programa de Pós-Graduação em Química. 1. Zeólitas - Dissertação. 2. 1-butil-3 metilimidazolio - Dissertação. 3. Síntese - Dissertação. I. Pergher, Sibele B. C. II. Mignoni, Marcelo L. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/UF/BCZM CDU 549.67 À minha família, a base de tudo. À minha esposa Francine, pelo amor, dedicação e incentivo. AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço à minha família, pelos valores a mim ensinados, pelo investimento, incentivo, confiança e apoio em todos os momentos. Sem um pouco de cada uma dessas coisas acredito que não teria chegado aonde cheguei. À minha esposa, Francine Bertella, por tudo que fez por mim desde o momento em que nos conhecemos. Se hoje sou o que sou, tanto como pessoa, quanto profissionalmente, saiba que tens uma parcela muito grande nisso. Muito obrigado. À minha orientadora e mãe nas horas vagas, Profª. Sibele B. C. Pergher, por ter me iniciado na pesquisa, pelos ensinamentos e conselhos quase que diários, pelas risadas compartilhadas, pelas conversas de corredor (que, acredito eu, tenham me ensinado muitas coisas que possivelmente não teria aprendido em sala de aula) e tudo aquilo que me proporcionou e tem proporcionado em minha vida. Ao meu co-orientador Marcelo L. Mignoni, que além da amizade, apoio e incentivo, me iniciou na síntese de zeólitas, área até então desconhecida pra mim e que hoje me encanta. Obrigado por sempre manter as portas abertas em todos meus retornos à URI. À profª Kátia B. Gusmão e ao prof. João Henrique Z. dos Santos pelas análises realizadas nos laboratórios da UFRGS. Aos meus colegas de LABPEMOL, pela amizade, pelas trocas de conhecimento, pelas risadas de todos os dias, pelos “chimarrões” e cafés, jantas, açaís e almoços. Aos meus companheiros de LAQAM, Anderson Parodia e Pedro H. Finger, principalmente pela amizade e pelas análises realizadas que contribuíram muito para este trabalho. Aos amigos que deixei em Erechim. Cada vez que volto à cidade, me acolhem de maneira indescritível. Aos professores Antonio Chica do ITQ – Valencia e Eledir V. Sobrinho pelas sugestões dadas no exame de qualificação. À banca de defesa por ter aceitado o convite. Ao Instituto de Química, PPGQ e a UFRN pela oportunidade de realizar o mestrado. À CAPES e ao CNPq pela(s) bolsa(s) concedida(s). À todos que, de alguma maneira contribuíram para este trabalho, meu muito obrigado! "Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida" Confúcio RESUMO Este trabalho relata a síntese de zeólitas de diferentes composições (puramente silícicas, Si/Ti e Si/Al), via meio básico e fluorídrico, utilizando o cátion 1-butil-3metilimidazólio como agente direcionador de estrutura. Inicialmente o cátion foi sintetizado e utilizado na forma de cloreto para as sínteses em meio básico e uma troca aniônica (Cl - para OH-) foi necessária para as sínteses em meio fluorídrico. Diferentes reagentes foram empregados para a formação dos géis de síntese, resultando na cristalização das fases MFI e TON, esta última predominante em muitas composições de gel testadas. O cátion sintetizado e as zeólitas obtidas foram caracterizados por diferentes técnicas, como RMN, TG/DTG, DRX, MEV, adsorção e dessorção de N2, DRS e EPMA. Além de caracterizar o cátion e as zeólitas, a água-mãe das sínteses em meio básico foi caracterizada e foi possível verificar uma modificação do cátion nas condições de síntese empregadas. Os materiais sintetizados neste trabalho podem ser aplicados em reações catalíticas e de adsorção Palavras chave: zeólitas, 1-butil-3-metilimidazólio, síntese. ABSTRACT This work reports the synthesis of zeolites with different compositions (pure silica, Si/Ti and Si/Al), via hydroxide and fluoride medium using the cation 1-butyl-3methylimidazolium as structure directing agent. Initially, the cation was synthesized in chloride form and used for the synthesis in hydroxide medium. An anion-exchange (Cl- for OH-) was required for the synthesis in fluoride medium. Different reactants were used for the formation of gels synthesis, resulting in the crystallization of MFI and TON phases, the latter predominant in many compositions. The cation and synthesized zeolites obtained were characterized by different techniques such as NMR, TG/DTG, XRD, SEM, N2 adsorption and desorption, DRS and EPMA. Besides characterizing the cation and zeolites, the mother liquor of hydroxide synthesis was characterized and it was possible to observe a modification of the cation in the synthesis conditions employed. The materials synthesized in this work can be applied in catalytic reactions and adsorption. Keywords: zeolites, 1-butyl-3-methylimidazolium, synthesis. LISTA DE FIGURAS Figura 3.1: Esquema estrutural da zeólita, onde X representa o cátion de compensação................................................................................. 19 Figura 3.2: Unidades secundárias de construção (SBU)................................. 20 Figura 3.3: Formação de materiais zeolíticos a partir de um tetraedro e sistemas de poros das respectivas zeólitas.................................... Figura 3.4: Síntese hidrotérmica de zeólitas. Transformação de reagentes amorfos em produtos zeolíticos cristalinos.................................. Figura 3.5: 20 24 Especificidade cátion/cavidade entre a zeólita ZSM-18 e o respectivo template utilizado na síntese....................................... 27 Figura 3.6: Cátions imidazólio utilizados no trabalho de Rojas..................... 30 Figura 3.7: Cátions imidazólio utilizados no trabalho de Archer................... 31 Figura 3.8: Projeção da estrutura da zeólita ZSM-22 ao longo do eixo c....... 33 Figura 3.9: Morfologias de diferentes zeólitas TON (ZSM-22, Nu-10, Theta-1 e KZ-2)............................................................................ 34 Figura 3.10: Estrutura da titanossilicalita (TS-1).............................................. 35 Figura 3.11: Esquema da transformação da estrutura MWW para YNU......... 37 Figura 3.12: Tipos de seletividade com peneiras moleculares.......................... 39 Figura 3.13: Transporte com “bomba molecular”: (i) reagentes apolares são adsorvidos por uma zeólita hidrofóbica; (ii) a reação catalítica ocorre no interior das cavidades e, finalmente, (iii) os produtos polares são expelidos da zeólita.................................................... 40 Figura 4.1: Obtenção do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio....................... 43 Figura 4.2: Fluxograma das sínteses realizadas neste trabalho....................... 54 Figura 5.1: RMN de 1H e 13C do composto sintetizado.................................. 56 Figura 5.2: Análise termogravimétrica do [C4MI]Cl...................................... 57 Figura 5.3: Difratogramas de raios X das amostras obtidas em meio básico com composição puramente silícica............................................. Figura 5.4: Microscopia eletrônica de varredura da amostra PS3Ac.............. Figura 5.5: Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 58 59 25. (a) Diferentes tempos de cristalização, em modo agitação e estático. (b) Presença da reflexão relativa à anatase..................... Figura 5.6: Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 25.................................................................................................. Figura 5.7: 61 Espectros de refletância difusa na região do UV-vis das zeólitas obtidas na razão Si/Ti igual a 25.................................................. Figura 5.8: 60 62 Imagem de microscopia eletrônica de varredura (acima) e mapeamento químico dos elementos O, Si e Ti (abaixo) da amostra 25ST1Ac......................................................................... Figura 5.9 Espectros de 13 C RMN da amostra 25ST3A (acima) e do [C4MI]Cl (abaixo)......................................................................... Figura 5.10: 67 Espectros de refletância difusa na região do UV-vis das zeólitas obtidas na razão Si/Ti igual a 50.................................................. Figura 5.14: 66 Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 50 em 4, 8 e 16 h........................................................................... Figura 5.13: 65 Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 50.................................................................................................. Figura 5.12: 64 Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 50.................................................................................................. Figura 5.11: 63 67 Microscopia eletrônica de varredura das amostras: (a) 50ST3Ac (b) 50ST3Ec (c) 50ST7Ac (d) 50ST7Ec...................................... 68 Figura 5.15: Isoterma de adsorção e dessorção de N2 da amostra 50ST1Ac.... 69 Figura 5.16: Análise termogravimétrica da amostra 50ST1Ac......................... 71 Figura 5.17: Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 100................................................................................................ Figura 5.18: Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 100................................................................................................ Figura 5.19: 73 Microscopia eletrônica de varredura das amostras: (a) 100ST1Ec (b) 100ST3Ec (c) 100ST3Ac (d) 100ST7Ec.............. Figura 5.21: 73 Espectros de refletância difusa na região do UV-vis das zeólitas obtidas na razão Si/Ti igual a 100................................................ Figura 5.20: 72 74 Curvas termogravimétricas (acima) e derivadas (abaixo) do líquido iônico utilizado nas sínteses e do composto gerado póssíntese........................................................................................... Figura 5.22: Espectros de RMN de 13 C do composto obtido da água-mãe (abaixo) e do [C4MI]Cl (acima).................................................... Figura 5.23: 77 78 Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas utilizando o 1,8diaminoctano como agente direcionador de estrutura.................. 79 Figura 5.24: Análise termogravimétrica da amostra TIZA3A.......................... 80 Figura 5.25: Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas utilizando o [C4MI]Cl como agente direcionador de estrutura......................... Figura 5.26: Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas pelo método comparativo.................................................................................. Figura 5.27: 81 Espectros de 13 82 C RMN da amostra TLI3A (acima) e do [C4MI]Cl (abaixo)......................................................................... 82 Figura 5.28: Análise termogravimétrica da amostra TLI3A............................. 83 Figura 5.29: Microscopia eletrônica de varredura das amostras TIZA3Ac (acima) e TLI3Ac (abaixo): (a) 1000x, (b) 5000x, (c) 5000x, (d) 10000x.......................................................................................... 84 Figura 5.30: Difratogramas de raios X das amostras obtidas na razão Si/Al = 50.................................................................................................. Figura 5.31: Cristalinidades relativas das amostras obtidas no método comparativo.................................................................................. Figura 5.32: 86 Microscopia eletrônica de varredura das amostras: (a) 50SA3Ac (5000x) e (b) 50SA3Ec (1000x)................................. Figura 5.33: 85 87 Difratogramas de raios X das zeólitas puramente silícicas obtidas em meio fluorídrico utilizando o [C4MI]Cl como agente direcionador de estrutura.............................................................. Figura 5.34: 89 Microscopia eletrônica de varredura da amostra FPS13E: (a) 1000x (b) 3000x............................................................................ 90 Figura 5.35: Difratograma de raios X da amostra obtida no experimento 4..... 91 Figura 5.36: Microscopia eletrônica de varredura da amostra obtida em 18 dias, no experimento 4: (a) 1000x (b) 3000x................................ 92 LISTA DE TABELAS Tabela 3.1: Classificação de materiais quanto ao tamanho de poro......................... 21 Tabela 3.2: Moléculas orgânicas utilizadas na síntese de zeólitas............................ 29 Tabela 3.3: Características estruturais de zeólitas de topologia TON...................... 32 Tabela 3.4: Técnicas de caracterização empregadas na identificação de titânio em peneiras moleculares.............................................................................. 38 Tabela 3.5: Quantidade (%) de contaminante adsorvido em testes de laboratório com a zeólita Y, ZSM-5, a mistura das duas e em sucessão.................. Tabela 3.6: Alguns processos comerciais que empregam 41 zeólitas como catalisadores........................................................................................... 41 Condições empregadas para cristalização de zeólitas Ti-TON.............. 51 Tabela 5.1: Valores de área específica das amostras calcinadas da série Si/Ti = 64 Tabela 4.1 25............................................................................................................ Tabela 5.2: Valores de área específica das amostras calcinadas da série Si/Ti = 70 50............................................................................................................ Tabela 5.3: Valores de área específica das amostras calcinadas da série Si/Ti = 75 100.......................................................................................................... Tabela 5.4: Valores em porcentagem de cristalinidade relativa das amostras sintetizadas com o 1,8-diaminoctano..................................................... 80 Tabela 5.5: Dados de cristalinidade das amostras dentro da própria série e entre todas as amostras.................................................................................... 88 LISTA DE SIGLAS [C4MI]Cl Cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio AlPO’s Aluminofosfatos BET Brunauer-Emmet-Teller DAO 1,8 – diaminoctano DR Dubinin-Radushkevich DRS UV-Vis Espectroscopia de refletância difusa na região do ultravioleta-visível DRX Difração de raios X DTG Termogravimetria derivada EPMA Electron Probe Microanalyzer EPR Espectroscopia de ressonância paramagnética electrônica EXAFS Extended X-Ray Absorption Fine Structure FT-IR Espectroscopia na região do infravermelho com transformada de Fourier IZA Associação internacional de zeólitas M41S Família de materiais mesoporosos sintetizados pela Mobil RMN Ressonância magnética nuclear SAPO’s Silicoaluminofosfatos TEOS Tetraetilortosilicato TEOT Tetraetilortotitanato TG Análise termogravimétrica TMA Tetrametilamônio XANES X-ray Absorption Near Edge Structure XPS Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO................................................................................................ 16 2 – OBJETIVOS..................................................................................................... 17 2.1.1 – Objetivos Específicos.................................................................................. 17 3 – REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................. 3.1 – Zeólitas........................................................................................................... 3.1.1 – Definição..................................................................................................... 3.1.2 – Estrutura e classificação das zeólitas.......................................................... 3.2 – Síntese de zeólitas.......................................................................................... 3.2.1 – Histórico...................................................................................................... 3.2.2 – Aspectos sobre síntese de zeólitas.............................................................. 3.2.3 – Razão Si/Al................................................................................................. 3.2.4 – Água............................................................................................................ 3.2.5 – Tempo e temperatura de cristalização......................................................... 3.2.6 – Agitação do sistema.................................................................................... 3.2.7 – Concentração de OH................................................................................... 3.2.8 – Moléculas orgânicas na síntese de zeólitas................................................. 3.3 – Cátions imidazólio como direcionadores de estrutura................................... 3.4 – Zeólitas de topologia TON............................................................................. 3.5 – Catalisadores contendo titânio....................................................................... 3.6 – Aplicações das zeólitas.................................................................................. 18 18 18 18 22 22 23 24 25 25 26 26 26 29 32 35 39 4 – MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................. 4.1 - Síntese do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio [C4MI]Cl............................. 4.2 - Síntese em meio básico das zeólitas puramente silícicas............................... 4.3 - Síntese em meio básico das zeólitas contendo Ti........................................... 4.4 - Síntese em meio básico das zeólitas contendo Al – Método IZA.................. 4.5 - Síntese em meio básico das zeólitas contendo Al – Método comparativo..... 4.6 - Obtenção do hidróxido de 1-butil-3-metilimidazólio para as sínteses em meio fluorídrico...................................................................................................... 4.7 - Síntese em meio fluorídrico das zeólitas puramente silícicas........................ 4.8 - Sínteses em meio fluorídrico das zeólitas contendo Ti.................................. 4.9 - Parâmetros de calcinação dos materiais sintetizados..................................... 4.10 - Caracterizações do cátion e das zeólitas obtidas.......................................... 43 43 43 44 46 47 5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 5.1 - Obtenção do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio......................................... 5.2 - Síntese das zeólitas de composição puramente silícica em meio básico........ 5.3 - Síntese das zeólitas de composição Si/Ti em meio básico............................. 5.3.1 - Zeólitas de composição Si/Ti = 25.............................................................. 5.3.2 - Zeólitas de composição Si/Ti = 50.............................................................. 5.3.3 - Zeólitas de composição Si/Ti = 100............................................................ 5.3.4 - Considerações gerais sobre a síntese........................................................... 5.3.5 - Estado do cátion pós-síntese (água-mãe)..................................................... 5.4 - Síntese das zeólitas de composição Si/Al em meio básico – Método IZA..... 55 55 57 59 59 65 71 75 76 79 48 49 50 51 51 5.5 - Síntese das zeólitas de composição Si/Al em meio básico – Método comparativo............................................................................................................. 5.6 - Comparação das cristalinidades relativas das zeólitas obtidas em todas as composições de meio básico................................................................................... 5.7 - Síntese em meio fluorídrico das zeólitas puramente silícicas........................ 5.8 - Síntese em meio fluorídrico das zeólitas de composição Si/Ti...................... 6 – CONCLUSÕES................................................................................................ 84 87 89 90 93 7 – REFERÊNCIAS................................................................................................ 94 16 Christian Wittee Lopes 1 - INTRODUÇÃO As zeólitas fazem parte de uma família de materiais porosos inorgânicos com poros/canais na faixa dos microporos (≤ 2 nm) que podem ser de origem natural ou sintética. A estrutura zeolítica em si é baseada em unidades TO4, onde T (Si, Al, Ti, Ge, etc) está coordenado a quatro oxigênios em geometria tetraédrica. Além da propriedade de peneiramento molecular conhecida das zeólitas, a presença de distintos metais na estrutura zeolítica pode conferir diferentes propriedades às zeólitas, tais como, acidez, troca iônica, propriedades redox, entre outras. Algumas zeólitas necessitam de moléculas orgânicas (agentes direcionadores de estrutura) para tornar sua cristalização termodinamicamente favorável e diversos grupos de moléculas têm sido estudadas ao longo dos anos. Dependendo das características destas moléculas (tamanho, flexibilidade, hidrofobicidade), zeólitas com características estruturais distintas podem ser obtidas. Os cátions do tipo imidazólio têm ganhado atenção nos últimos anos devido a sua estrutura ser semelhante à estrutura dos agentes direcionadores de estrutura comumente utilizados e devido à possibilidade de modificação destes cátions. As zeólitas de topologia TON, as quais geralmente necessitam o uso de uma molécula direcionadora de estrutura, são zeólitas de poro médio (5,5 x 4,5Å), ricas em silício, caracterizadas por um sistema de canais unidimensionais. Neste trabalho, foi unido o interesse em sintetizar zeólitas de topologia TON de diferentes composições (puramente silícicas, aluminosilicatos e titanosilicatos) com o interesse em aprofundar os conhecimentos em torno dos efeitos direcionadores de estrutura de um cátion imidazólio, no caso, o cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio. 17 Christian Wittee Lopes 2 - OBJETIVOS O objetivo geral da presente dissertação foi sintetizar zeólitas de estrutura TON com diferentes composições utilizando o cátion 1-butil-3-metilimidazólio como agente direcionador de estrutura. 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Os objetivos específicos da dissertação foram: - Estudar diferentes composições das zeólitas de estrutura TON (Si/Ti, Si/Al e puramente silícicas); - Estudar o meio de síntese (meio básico e meio fluorídrico) na síntese de zeólitas de estrutura TON; - Estudar o comportamento do cátion 1-butil-3-metilimidazólio durante a síntese das zeólitas de estrutura TON, caracterizando-o ao final das sínteses. 18 Christian Wittee Lopes 3 - REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 ZEÓLITAS A origem do termo zeólita se deu em 1756 quando Alex F. Cronsted, um mineralogista sueco, reparou que ao aquecer um mineral (estilbita) vapores eram liberados. Cronsted nomeou esta família de minerais como zeólitas, do grego, pedra que ferve (onde zeo significa “que ferve” e lithos significa “pedra”)1. 3.1.1 Definição A mais apropriada definição para o termo zeólita é tema de debate, porém a IZA (Associação Internacional de Zeólitas), entidade máxima na área de materiais zeolíticos, diz que qualquer estrutura de rede tridimensional composta de átomos tetraedricamente coordenados, unidos entre si por átomos de oxigênio e com uma densidade estrutural menor que 21 átomos coordenados tetraedricamente (átomos-T) por 1000Å3 podem ser considerados materiais zeolíticos2. Essa definição foi expandida, ao fato que, materiais estruturalmente semelhantes, mas com outros elementos além de Si e Al fossem classificados. Assim, silicatos, aluminofosfatos, silicoaluminofosfatos e aluminofosfatos contendo metais, além de outros sistemas similares são considerados zeólitas3. 3.1.2 Estrutura e classificação das zeólitas Estruturalmente as zeólitas são compostas por tetraedros de TO4 (T = Si, Al, entre outros), unidos entre si pelo átomo de oxigênio, ou seja, cada átomo de oxigênio é compartilhado por dois tetraedros. Em uma estrutura composta apenas por tetraedros de silício, a combinação das unidades de TO4 (T = Si) leva à formação de uma sílica (SiO2) neutra, por exemplo, o quartzo. Entretanto, a substituição de um átomo de Si+4 da estrutura da sílica por átomos de Al+3, cria um desequilíbrio eletrônico, deixando a estrutura carregada negativamente. Para preservar a neutralidade eletrônica da estrutura é necessária a presença de cátions compensadores de carga. Para cada átomo de Al substituído estará sendo criada uma carga negativa que será neutralizada pela carga positiva de um cátion de compensação (Na+, Ca2+, K+, TMA+, etc) que se mantém 19 Christian Wittee Lopes eletrostaticamente preso à estrutura da zeólita, conforme a Figura 3.1. É graças a este desequilíbrio eletrônico que as zeólitas, têm propriedades de troca catiônica. Figura 3.1. Esquema estrutural da zeólita, onde X representa o cátion de compensação4. De forma genérica, a fórmula estrutural das zeólitas e a composição da malha elementar são: M x/n [(AlO2)x(SiO2)y] mH2O Onde: M = cátion de valência n n = valência do cátion M m = número de moléculas de água x + y = número total de tetraedros por malha elementar y/x = razão atômica Si/Al, que pode variar de 1 até infinito (regra de Loewenstein) Segundo a regra de Loewenstein não existem ligações Al-O-Al na rede cristalina, portanto apenas 50 % dos átomos de Si da estrutura cristalina podem ser substituídos por átomos de Al5. Isto é reflexo da repulsão entre as cargas negativas geradas. Porém existem algumas exceções, tais como zeólitas obtidas por métodos de alta temperatura e também o mineral bicchulita, com estrutura do tipo sodalita, que contém mais Al que Si6. Em suma, o processo de crescimento estrutural das zeólitas parte de apenas um tetraedro TO4 (unidade primária de construção) até a estrutura final. A união de um pequeno número de tetraedros gera as unidades secundárias de construção (Figura 3.2)4. 20 Christian Wittee Lopes Figura 3.2. Unidades secundárias de construção (SBU)7. A união dessas unidades secundárias de construção entre si podem gerar unidades poliédricas. Um exemplo é a cavidade sodalita que quando unida de forma repetitiva, porém de diferentes maneiras, originará diversas estruturas, tais como a da Sodalita (SOD), a zeólita A (LTA) e a Faujasita (FAU). Exemplos de formação de zeólitas a partir de unidades secundárias de construção e poliedros estão ilustrados na Figura 3.3, onde também se observa o sistema dos poros formados. Figura 3.3. Formação de materiais zeolíticos a partir de um tetraedro e sistemas de poros das respectivas zeólitas8. 21 Christian Wittee Lopes Na classificação dos materiais zeolíticos o trabalho da comissão de estrutura da Associação Internacional de Zeólitas (IZA) é valioso. Composta por cristalógrafos experientes, uma comissão examina regularmente propostas de novas estruturas zeolíticas. Uma vez que a estrutura tenha sido reconhecida como inédita pela comissão, à estrutura é atribuído um código de três letras (FAU de faujasita para as zeólitas X e Y; MTW para a zeólita ZSM-12; MFI para a zeólita ZSM-5 e silicalita-1; TON para zeólitas Theta-1 e ZSM-22)8. No último comunicado da IZA, em Outubro de 2012, existiam 206 diferentes códigos referentes a topologias de zeólitas9. Na Tabela 3.1, encontra-se um resumo da classificação de alguns materiais (zeólitas, mesoporosos e macroporosos). Tabela 3.1. Classificação de materiais quanto ao tamanho de poro10,11. Tamanho do poro (Å) Átomos na Definição Material Código abertura do poro poro (Å) >500 Macroporos Pedra-pomes 20-500 Mesoporos MCM-41 M41S <20 Microporos Cloverita -CLO 20 13,2 x 4,0 VPI-5 VFI 18 12,1 AlPO4-8 AET 14 7,9 x 8,7 XeY FAU 12 7,4 AlPO4-5 AFI 12 7,3 β BEA 12 ~6 x ~7 ZSM-5 MFI 10 5,3 x 5,6 ZSM-22 TON 10 4,5 x 5,5 MCM-22 MWW 10 5,5 x 4,0 A LTA 8 4,1 Poro extralargo Poro largo Poro médio Poro pequeno - Diâmetro do 15-100 22 Christian Wittee Lopes 3.2 SÍNTESE DE ZEÓLITAS 3.2.1 Histórico A síntese de zeólitas é um tema estabelecido há muito tempo dentro do meio científico, sendo que, a primeira zeólita sintetizada em laboratório data de 1862, sendo chamada de Levynita, sintetizada por Claire Deville12. Tempos depois, em 1948, o professor Richard M. Barrer sintetizou a zeólita mordenita utilizando aluminato de sódio, ácido silícico e carbonato de sódio13. Já na década de 50, Donald Breck e os pesquisadores da Union Carbide Company sintetizaram zeólitas a partir de géis preparados de soluções de aluminato de sódio e silicato de sódio. Isto levou a descoberta de duas importantes zeólitas sintéticas, a zeólita A14 e a zeólita X15, obtidas em razões Si/Al diferentes. Mais tarde, a zeólita Y, importante catalisador de craqueamento, foi sintetizada16. A zeólita A foi enquadrada na classe LTA e as zeólitas X e Y foram enquadradas na classe FAU, e a descoberta destas zeólitas causou um grande impacto industrial devido as suas propriedades, levando os pesquisadores a realizarem mais estudos na área de síntese de zeólitas8. Até o momento citado acima, a síntese de zeólitas pelos pesquisadores era realizada utilizando géis compostos inteiramente por reagentes inorgânicos. Em 1961, o professor Barrer substituiu parcialmente os cátions de metais alcalinos e alcalinos terrosos da síntese da zeólita A por cátions TMA+ e conseguiu obter a zeólita com uma razão Si/Al igual a 1,217. Em 1967, químicos da Mobil Oil Company iniciaram o primeiro grupo de pesquisa visando à síntese de novas zeólitas utilizando moléculas orgânicas. Duas novas zeólitas foram então obtidas, as zeólitas beta e ZSM-5, as primeiras zeólitas sintéticas com razão Si/Al maior que 5. Esta nova abordagem levou os pesquisadores da Mobil e outros grupos a sintetizarem diversas novas zeólitas8. O emprego de íons F- na síntese de zeólitas, como agente mineralizante, foi primeiramente utilizado em 1978 por Flanigen e pesquisadores, na síntese da zeólita MFI puramente silícica (silicalita)18 e se mostrou uma alternativa mais viável ao hidróxido comumente utilizado12. Na década de 90, Camblor e colaboradores descobriram uma série de novas zeólitas, como, ITE19, IFR20, ISV21, ITW22, ITH23 e BEC24 e também foram capazes de obter pela primeira vez algumas zeólitas já conhecidas em outras composições (CHA25, BEA26 e MTF27)28. 23 Christian Wittee Lopes A substituição do Si e Al por outros elementos levou a descoberta de outros tipos de zeólitas, ou zeotipos, como por exemplo, os AlPO’s (Aluminofosfatos), onde um elemento trivalente (Al) e um elemento pentavalente (P), se ligam em uma estrutura de tetraedros TO4, em uma razão Al/P igual a 129. A introdução de silício nos AlPO’s gerou os silicoaluminofosfatos (SAPO’s)30, onde a combinação de tetraedros de Si, Al e P é tal que a razão Al/P é maior que 1 e portanto, a estrutura apresenta cargas negativas, as quais são contrabalanceadas por cátions de compensação, ao contrário dos AlPO’s que tem a rede zeolítica neutra7. A síntese de zeotipos adicionando metais (Co, Fe, Ga, Mn, Zn, B, etc) aos AlPO’s e SAPO’s gerou novos materiais com propriedades catalíticas interessantes7, como por exemplo, propriedades redox. 3.2.2 Aspectos sobre síntese de zeólitas A síntese de zeólitas pode ocorrer normalmente por três métodos, o método hidrotérmico (utiliza água como solvente), o método solvotérmico (utiliza geralmente um orgânico como solvente) e método ionotérmico (utiliza um líquido iônico como direcionador de estrutura e solvente). Os reagentes comumente usados são uma fonte de sílica, uma fonte de alumínio (ou fonte de heteroátomo), um agente mineralizante (OH ou F-) e um agente direcionador de estrutura, que pode ser uma molécula orgânica para zeólitas com alta razão Si/Al ou a molécula de Na+, por exemplo, para algumas zeólitas com baixa razão Si/Al. Cátions inorgânicos, como Na+ e K+, oriundos do agente mineralizante ou inseridos na síntese tem a função de compensar a deficiência de carga da rede zeolítica gerada pela introdução do alumínio na rede. No trabalho de revisão de Cundy12, é mostrado como pode ser resumida uma síntese hidrotérmica de zeólitas, exemplificado na Figura 3.4 e descrito abaixo: 1. Fontes amorfas de Si e Al são misturadas com a fonte de um cátion, em geral a pH’s elevados (meio básico). 2. A mistura aquosa é aquecida, geralmente a temperaturas maiores que 100 oC em uma autoclave selada. 3. Durante algum tempo, após elevar a temperatura de síntese, os reagentes permanecem amorfos. 24 Christian Wittee Lopes 4. Após o tempo de indução (tempo entre o início da reação e o ponto onde o produto cristalino é observado pela primeira vez), produtos zeolíticos já podem ser detectados. 5. Ao final do processo, a massa de material amorfo inicial é transformada em uma massa aproximadamente igual de produto zeolítico (o qual é recolhido por filtração, lavagem e secagem). Figura 3.4. Síntese hidrotérmica de zeólitas. Transformação de reagentes amorfos em produtos zeolíticos cristalinos12. Como a síntese de zeólitas e zeotipos é um processo complexo, existem alguns fatores que influenciam nesta etapa. O modo de preparo, a natureza dos reagentes químicos empregados (fontes de silício, fonte de alumínio e etc) e outros fatores influenciam na síntese de zeólitas, porém é difícil dizer quais os fatores que influenciam mais ou menos na síntese, então somente alguns serão abordados. Estes fatores serão comentados abaixo. 3.2.3 Razão Si/Al A razão Si/Al é um parâmetro que determina uma sequência de fatores, como, estrutura zeolítica a ser produzida (existem zeólitas que só são sintetizadas numa faixa 25 Christian Wittee Lopes muito estreita de razão Si/Al), estabilidade química e térmica, propriedades de adsorção e catalíticas. Antes de uma síntese de zeólita, a razão Si/Al é calculada, porém nem sempre esta razão é alcançada no produto final. O aumento da razão Si/Al gera zeólitas mais estáveis termicamente e resistentes a ácidos, propriedades necessárias na catálise. Em contrapartida, a diminuição dessa razão faz com que mais alumínio esteja presente e consequentemente, mais cátions trocáveis presentes, tornando o material passível a uma aplicação como trocador iônico. O aumento/diminuição do teor de alumínio nas zeólitas influi fortemente na acidez do produto final7. Como dito anteriormente, algumas zeólitas são sintetizadas em uma faixa estreita de composição de silício e alumínio, mas outras nem tanto. É o caso da zeólita ZSM-5, a qual pode ser sintetizada em uma faixa de Si/Al entre 20 e infinito7. 3.2.4 Água A água é um constituinte essencial na síntese hidrotérmica (como o próprio nome já diz). Além de solubilizar a maioria dos reagentes, a mesma produz um aumento na reatividade do meio e proporciona uma diminuição na viscosidade do gel, aumentando a mobilidade/transporte das espécies presentes no mesmo. A água preenche os canais e cavidades contribuindo através de interações com os cátions e elementos estruturais para a construção da estrutura zeolítica7. Existe uma regra chamada de Regra de Villaescusa, para sínteses de zeólitas puramente silícicas em meio fluorídrico, que relata o papel da água na síntese de zeólitas. Como a água altera a concentração do gel, diferentes estruturas podem ser obtidas somente pelo aumento ou diminuição da concentração do gel, onde fases mais densas são obtidas a concentrações baixas e fases menos densas são obtidas a concentrações altas6. 3.2.5 Tempo e temperatura de cristalização O tempo e a temperatura de cristalização são fenômenos que interferem diretamente na síntese de zeólitas e os dois fatores podem estar relacionados. Por exemplo, aumentando a temperatura, uma fase zeolítica pode ser obtida em menor tempo. No trabalho de Rojas28, a zeólita HPM-1 é obtida em menor tempo aumentando 25 ºC a temperatura de cristalização. Outro fator que deve ser levado em conta é o fato 26 Christian Wittee Lopes das zeólitas serem fases metaestáveis e com o aumento do tempo podem sofrer modificações, via regra das transformações sucessivas de Ostwald, onde o produto final seria a fase termodinamicamente estável31. 3.2.6 Agitação do sistema A agitação é importante para manter a temperatura homogênea no sistema, porém em nem todos os casos é interessante utilizá-la. Existem algumas fases zeolíticas obtidas em modo estático9. A agitação pode acarretar num aumento na cinética de cristalização, ajudando no transporte de massa dos reagentes, auxiliando então num processo de cristalização mais rápido7. 3.2.7 Concentração de OH- Para ocorrer à solubilização das espécies de silício e alumínio é necessária à presença de um agente mineralizante, o mesmo pode ser o ânion OH- ou o ânion F-. O OH- é considerado um bom complexante, e aumenta significativamente o caráter mineralizador da água dissolvendo as espécies de alumínio e sílica, formando ânions aluminatos e silicatos7. 3.2.8 Moléculas orgânicas na síntese de zeólitas A síntese de zeólitas pode ser considerada uma arte, e as moléculas orgânicas, fazem parte disto. Sem a presença destas moléculas, algumas estruturas zeolíticas não são sintetizadas. Ainda não é conhecido com exatidão o real mecanismo de atuação de tais compostos, mas sabe-se que na maioria das vezes preenchem os poros/cavidades. Normalmente utilizam-se moléculas orgânicas na síntese de zeólitas com baixo teor de alumínio (High-Silica Zeolites), porém, a ZSM-5, é uma zeólita que pode ser sintetizada sem o uso de moléculas orgânicas em uma faixa muito estreita de concentrações de Na+ e alumínio32. É necessário deixar claro que o termo template e o termo agente direcionador de estrutura não são equivalentes. A noção que se tinha de template era que essas moléculas orgânicas ajudavam a cristalizar zeólitas por um efeito de preenchimento de 27 Christian Wittee Lopes cavidade supondo que o tamanho e forma da molécula correspondiam ao tamanho dos canais/poros da zeólita. Hoje em dia, se reserva a terminologia template a casos onde existe uma grande especificidade no efeito direcionador de estrutura, com uma forte interação do cátion com a estrutura e uma alta correspondência cátion-cavidade28. No geral, os agentes direcionadores de estrutura estabilizam a zeólita, tendo como forças predominantes as de van der Waals33. Um exemplo clássico de template é a utilização de tensoativos na síntese do material mesoporoso MCM-41, onde ocorre a formação de micelas e a sílica é construída em torno destas micelas34,35. No caso das zeólitas, um caso muito particular é o da zeólita ZSM-18 (Figura 3.5), onde se utiliza um cátion orgânico quaternário com carga +3 e apesar de ser difícil de ser sintetizado, o tamanho e forma do cátion se enquadram perfeitamente aos canais da zeólita36,37. Figura 3.5. Especificidade cátion/cavidade entre a zeólita ZSM-18 e o respectivo template utilizado na síntese12. Na revisão sobre síntese de zeólitas e peneiras moleculares, Davis e Lobo38 citam que existem no mínimo 22 e 13 diferentes moléculas orgânicas capazes de levar a 28 Christian Wittee Lopes síntese das zeólitas ZSM-5 e ZSM-48, respectivamente, e classificaram moléculas orgânicas em três tipos: True Templates (verdadeiros templates), Structure Directing Agents (agente direcionadores de estrutura) e Space-Filling Species (Espécies de preenchimento). Segundo os autores, os verdadeiros templates são os que a estrutura zeolítica adota as configurações geométricas e eletrônicas da molécula, os agentes direcionadores de estrutura levam a somente uma determinada estrutura sem adotar as configurações geométricas/eletrônicas da molécula e as espécies de preenchimento podem levar a diferentes estruturas com uma mesma molécula. Apesar destas abordagens sobre a dúvida entre o real papel das moléculas orgânicas, se atuam como template, agente direcionador ou simplesmente como preenchedor de poro/cavidade, existem algumas estruturas zeolíticas que podem cristalizar de uma maneira inespecífica. Quando as condições são adequadas para a cristalização de uma zeólita, porém os efeitos diretores de estrutura são pouco específicos, se obtém as estruturas por defeito ou default structures28,39. Nestes casos a molécula simplesmente ocupa o poro sem proporcionar uma grande interação e se forma uma zeólita que é muito estável28. Existem alguns fatores que podem influenciar no efeito de direcionador de algumas moléculas orgânicas, como: Tamanho e forma do agente direcionador de estrutura e a temperatura33, flexibilidade da molécula40-42, hidrofobicidade da molécula28 e também as cargas28. Um fato, é que em muitas vezes a molécula orgânica é utilizada na síntese de zeólitas na forma de hidróxido. Em sínteses em meio fluorídrico, é necessário evitar a presença de cátions alcalinos ou alcalinos terrosos nos quais os fluoretos e hexafluorsilicatos apresentam baixa solubilidade. A baixa solubilidade pode levar a uma possível precipitação e consequentemente uma diminuição da quantidade de Fdisponível para mineralização das espécies de sílica. A basicidade é compensada ao adicionar o ácido fluorídrico (fonte de F-) em proporções equimolares para que a síntese ocorra em pH’s próximos a 7, evitando uma possível competição entre o OH- e o F- 28. Em muitos casos, a molécula na forma de hidróxido é utilizada como direcionador de estrutura e agente mineralizante ao mesmo tempo. 29 Christian Wittee Lopes A Tabela 3.2 apresenta algumas moléculas orgânicas utilizadas na síntese de zeólitas (dados retirados da sessão de síntese da IZA9). Tabela 3.2. Moléculas orgânicas utilizadas na síntese de zeólitas. Molécula Zeólita obtida Topologia Hidróxido de Tetraetilamônio β BEA Etilenodiamina ZSM-35 FER Hidróxido de Tetrapropilamônio ZSM-5 MFI Pirrolidina ZSM-23 MTT Brometo de Metiltrietilamônio ZSM-12 MTW Hexametilenoimina MCM-22 MWW Diaminooctano ZSM-22 TON Quinuclidina Levyne LEV 3.3 CÁTIONS IMIDAZÓLIO COMO DIRECIONADORES DE ESTRUTURA Quando se trata do termo cátions imidazólio, é fácil remeter tais compostos aos líquidos iônicos e consequentemente, falando de síntese de zeólitas, a síntese ionotérmica, onde um líquido iônico atua como agente direcionador de estrutura e solvente ao mesmo tempo. Porém, nos últimos anos, os cátions imidazólio estão sendo utilizados para síntese de zeólitas via método hidrotermal (atuando somente como direcionadores de estrutura ou templates), pois a síntese de aluminosilicatos com estrutura zeolítica via rota ionotérmica fica dificultada pela baixa solubilidade das espécies de silicato nos líquidos iônicos43. O anel imidazólio é um sistema aromático, plano e rígido do ponto de vista conformacional e em diversos trabalhos na literatura, são introduzidos diferentes substituintes para variar seu tamanho, forma e flexibilidade28. Abaixo, será relatada uma série de trabalhos em que foram utilizados cátions imidazólio como direcionadores de estrutura, via rota hidrotermal, na síntese de peneiras moleculares. Rojas e colaboradores, em uma série de trabalhos, sintetizaram diferentes fases zeolíticas empregando diferentes cátions imidazólio em meio fluorídrico e variando a razão H2O/SiO2. As fases obtidas foram TON44, MFI44, MTW45,46, ITW45,46, MTF47. Porém o trabalho que mais chama atenção é a síntese da zeólita HPM-148(estrutura 30 Christian Wittee Lopes STW), que apresenta um poro helicoidal de dimensões moleculares e excelentes estabilidades química, térmica e hidrotérmica. Tal zeólita abre a possibilidade de futuramente realizar no interior de seus poros processos enantiosseletivos de adsorção (para a separação de enantiômeros) ou de catálise enantiosseletiva (para favorecer produtos de somente um enantiômero). Devido as características próprias da zeólita HPM-1 (alto teor de SiO2 e a presença de anéis duplos de 4 tetraedros SiO4/2) as sínteses realizam-se por meio fluorídrico49 e utiliza-se em princípio, o cátion 2-etil-1,3,4trimetilimidazólio como agente direcionador de estrutura. Este cátion é o único conhecido capaz de produzir este tipo de estrutura zeolítica na ausência de germânio50, enquanto que o ânion fluoreto é necessário para produzir anéis duplos de 4 membros. Na Figura 3.6 estão apresentados os cátions imidazólio utilizados na tese de doutorado de Rojas28. Figura 3.6. Cátions imidazólio utilizados no trabalho de Rojas28. No trabalho realizado por Archer51, 11 estruturas zeolíticas conhecidas foram sintetizadas realizando um screening de cátions imidazólio (Figura 3.7) em diferentes 31 Christian Wittee Lopes composições (puro silício, borosilicatos e aluminosilicatos) utilizando OH- e F- como agentes mineralizantes. Além da zeólita SSZ-70, a qual era o foco do trabalho, as fases TON, MFI, MTT, MTW, BEA*, MOR, CFI, EUO, AFX, e STF também foram sintetizadas. Figura 3.7. Cátions imidazólio utilizados no trabalho de Archer51. As zeólitas β e ZSM-5 foram sintetizadas utilizando o cloreto de 1-butil-3metilimidazólio (mesmo sal utilizado no presente trabalho), variando a composição do gel de síntese precursor, temperatura e em modo agitação. Na razão Si/Al igual a 20, a 150 oC, a fase β é obtida e na razão Si/Al igual a 50, a 180 oC, a fase ZSM-5 é obtida. A zeólita β obtida neste trabalho, devido ao diâmetro de poro superior ao da zeólita ZSM5, foi utilizada como suporte de complexos Ni-diimina e aplicada em reações de oligomerização de eteno, resultando numa maior atividade e seletividade aos compostos de interesse do que o complexo em meio homogêneo52. No trabalho realizado por Blanes53, utilizando um sal de imidazólio semelhante, com o mesmo cátion (1-butil-3-metilimidazólio), porém utilizando o ânion 32 Christian Wittee Lopes metanosulfonato, as zeólitas ZSM-5 e β também foram obtidas. Os autores verificaram a influência da fonte de silício, da natureza do contra-íon do sal de imidazólio e estudaram o efeito do sal na obtenção das fases zeolíticas. Para a síntese da zeólita ZSM-5, foi utilizado TEOS como fonte de sílicio, e para a síntese da zeólita β foi utilizado sílica aerosil. Todas as razões molares foram iguais para as sínteses com as duas fontes de silício, porém os autores relataram que a liberação do etanol referente ao TEOS, causa uma interação etanol-água-sal de imidazólio gerando um empacotamento entre essas moléculas, responsável pela formação de uma zeólita de poro menor (ZSM5). No caso da zeólita β, como não existe etanol no meio, esse empacotamento acaba não existindo e uma zeólita de poro maior é gerada. Além disso, os autores verificaram que alterando o contra-íon do sal de imidazólio para cloreto, as mesmas fases zeolíticas eram obtidas. Na ausência do sal de imidazólio, nas mesmas condições de síntese, não foi possível sintetizar as fases ZSM-5 e β. 3.4 ZEÓLITAS DE TOPOLOGIA TON O termo TON, deriva da primeira zeólita sintetizada dentro desta classe, a zeólita Theta-1 (Theta One)9. As zeólitas deste grupo (Theta-154, ZSM-2255, ISI-1, KZ256 e Nu-1057) são zeólitas de poro médio (5,5 x 4,5Å), ricas em silício (alta razão Si/Al), caracterizadas por um sistema de canais unidimensionais. Sua estrutura apresenta anéis de 5, 6 e 10 membros, porém apenas os 10 de membros dão origem ao sistema de poros, já que canais pequenos não permitem o acesso e a difusão de moléculas, portanto, não sendo considerados poros58. A Tabela 3.3 apresenta as características referentes à topologia TON. Tabela 3.3. Características estruturais de zeólitas de topologia TON9. Célula Unitária Ortorrômbica Parâmetros de rede a = 14,105Å α = 90 º b = 17,842Å β = 90 º c = 5,256Å γ = 90 º Densidade de rede 19,7 T/1000 Å3 Sistema de canais Unidimensional 33 Christian Wittee Lopes A Figura 3.8 apresenta a estrutura de uma das zeólitas de topologia TON (ZSM22) ao longo do eixo c. Figura 3.8. Projeção da estrutura da zeólita ZSM-22 ao longo do eixo c58. Como são zeólitas de sistema de poros unidimensionais, normalmente a morfologia destes materiais é bem característica e o cristal cresce em uma direção, em forma de agulhas, bastonetes e etc. Na Figura 3.9 estão apresentados exemplos de morfologias de zeólitas TON. 34 Christian Wittee Lopes Figura 3.9. Morfologias de diferentes zeólitas TON (ZSM-22, Nu-10, Theta-1 e KZ2)59. . Na literatura, as zeólitas de topologia TON são aplicadas em diversas reações, como, por exemplo, Metanol-to-Olefins60, hidrogenação61, separação de isômeros em fase líquida62, decomposição de nitrogenados63, oligomerização de olefinas64, porém a reação onde estas zeólitas são mais aplicadas é a reação de isomerização, onde encontram-se inúmeros trabalhos na literatura65-67. Geralmente a síntese de zeólitas desta classe emprega moléculas orgânicas como direcionadores de estrutura. Wang e colaboradores sintetizaram uma zeólita de topologia TON, a qual deram o nome de ZJM-4, utilizando sementes de ZSM-22 e sem a adição de uma molécula orgânica como direcionador de estrutura. Apesar de a primeira síntese ter sido realizada com um direcionador de estrutura, foi possível sintetizar tal zeólita empregando sementes e em temperaturas de 140 ºC, 20 ºC a menos do que geralmente é empregado nas sínteses de zeólitas desta classe68. 35 Christian Wittee Lopes 3.5 CATALISADORES CONTENDO TITÂNIO Pela teoria da ligação química de Pauling69, a substituição de um átomo metálico circundado por quatro átomos de oxigênio no retículo zeolítico só é passível de acontecer se a razão entre o raio do cátion metálico e o raio do ânion for maior que 0,225 e menor que 0,414, na teoria. Porém na prática, a incorporação destes cátions metálicos pode ocorrer mesmo se essa razão exceder esse limite, como acontece no caso do titânio, no qual a razão cátion/ânion é de 0,41570. A Figura 3.10 mostra um exemplo, da titanossilicalita, a primeira peneira molecular com propriedades redox contendo átomos de titânio isomórficamente substituídos na rede cristalina11. Figura 3.10. Estrutura da titanossilicalita (TS-1)9. A presença de titânio em zeólitas recebeu considerável atenção na academia nas últimas décadas. Isso se deve ao potencial de aplicação tanto em reações de fotocatálise quanto em reações de oxidação em fase líquida ou gasosa. O interesse em catalisadores de titânio para reações de oxidação se dá pela necessidade de substituição de reagentes 36 Christian Wittee Lopes agressivos e de difícil recuperação como também encontrar catalisadores mais seletivos71. Quando se fala em reações de fotocatálise empregando catalisadores de titânio, é necessário citar a difícil recuperação do óxido de titânio comumente utilizado pelo fato do mesmo possuir partículas nanométricas72. Após o descobrimento da TS-173, zeólita de topologia MFI com excelentes propriedades catalíticas, muitos estudos iniciaram para encontrar outros materiais com propriedades semelhantes ou melhoradas. Um dos desafios era realizar a oxidação de moléculas que não difundiam nos poros da TS-1, uma zeólita de poro médio. A partir disso muitas zeólitas, de tamanhos de poros variados, foram sintetizadas, são elas: TS-2 (MEL)74, Ti-β75, Ti-ZSM-4876, Ti-MWW77, Ti-ZSM-1278, Ti-MOR79, Ti-ITQ-780, TiITQ-1781, entre outras. Para superar a dificuldade de oxidar moléculas maiores, foram estudadas as peneiras moleculares mesoporosas Ti-MCM-4182, Ti-MCM-4883, Ti-SBA1584, entre outras. Nos últimos anos, os materiais com dois tipos de sistema de poros viraram opção para as reações de oxidação e se mostravam promissores, podendo resultar em atividades e seletividades únicas, devido ao seu sistema de poro85. A zeólita Ti-ITQ3986, zeólita com dois tipos de tamanhos de poros (médio e grande), se apresentou muito ativa e com seletividades intermediárias aos materiais TS-1 e Ti-β em reações de oxidação. A zeólita Ti-MCM-6887 é uma peneira molecular com poros multidimensionais formados através de um canal constituído de anéis de 12 membros interligado a dois canais de anéis de 10 membros. Uma vez que essa zeólita só é sintetizada em uma faixa muito estreita de composições, é difícil sintetizá-la com titânio por métodos diretos, é necessário um tratamento pós-síntese de desaluminação e posterior tratamento em fase gasosa para inserção do titânio. Esse material apresentou atividade muito superior a TS-1 e aos outros catalisadores Ti-β e Ti-MWW, e uma seletividade a compostos para-substituídos devido ao seu sistema diferenciado de poros e ausência de grandes cavidades. A zeólita SSZ-33 é um borossilicato com poros multidimensionais formados pela intersecção de canais de anéis de 10 membros e 12 membros. A obtenção da Ti-SSZ-3388 é realizada utilizando um tratamento pós-síntese para remoção de B e inserção dos átomos de Ti. Este material apresentou atividades catalíticas intermediárias aos materiais TS-1 e Ti-β. Corma e colaboradores utilizaram uma classe interessante de materiais, que são as zeólitas deslaminadas, para sintetizar as zeólitas Ti-ITQ-6 e Ti-ITQ-2. A zeólita TiITQ-689 apresentou atividades semelhantes a Ti-β na epoxidação de 1-hexeno. Porém, a 37 Christian Wittee Lopes zeólita Ti-ITQ-290, apresentou elevadas atividades em reações de epoxidação de olefinas utilizando hidroperóxidos. Em contrapartida, em meio aquoso, a atividade catalítica diminui, isso provavelmente devido aos numerosos grupos silanóis hidrofílicos criados após o processo de deslaminação. Wu e colaboradores91, deslaminaram a zeólita Ti-MWW e aplicaram na epoxidação de alcenos, e obtiveram resultados muito interessantes, com atividades muito superiores aos titanossilicatos TS1, Ti-β e Ti-MCM-41. Fan e colaboradores92 sintetizaram um titanossilicato análogo à estrutura MWW, porém expandido, e denominaram Ti-YNU-1. Esse novo material apresentou atividade superior a outros catalisadores de titânio (TS-1, Ti-β, Ti-MOR e Ti-MWW). Ruan e colaboradores93 realizaram uma série de caracterizações para tentar elucidar este novo material e chegaram à conclusão que a zeólita Ti-YNU-1 tinha uma estrutura tridimensional expandida e que o titânio poderia estar conectando as laminas formando uma abertura de poro maior, ficando muito mais disponível para a reação do que o titânio na estrutura da Ti-MWW, tendo aí uma possível explicação pra o aumento na atividade catalítica. A Figura 3.11 apresenta um esquema relativo à transformação da estrutura MWW a estrutura YNU. Figura 3.11. Esquema da transformação da estrutura MWW para YNU93. A Tabela 3.4 apresenta algumas técnicas para caracterizar a inserção e a geometria do titânio em zeólitas, porém a maioria das referencias na literatura se concentra na caracterização da TS-1 (titanossilicato de topologia MFI). 38 Christian Wittee Lopes Tabela 3.4. Técnicas de caracterização empregadas na identificação de titânio em peneiras moleculares. Técnica Difração de raios X FT-IR Raman DRS UV-Vis EXAFS/XANES EPR XPS Informação Quantificação de titânio na rede e extrarede (TiO2) Coordenação do titânio na rede zeolítica Detecção de titânio extra-rede (TiO2) Quantificação de titânio extra-rede (TiO2) e coordenação do titânio Coordenação do titânio Coordenação do titânio Composição elementar, estado de oxidação e em casos favoráveis, dispersão de uma fase em outra Referência [94] [95] [95] [95] [95] [95] [71] Na síntese de titanossilicatos, deve-se ter um cuidado em relação aos compostos que são utilizados como fonte de titânio. Em meio básico, a condensação das espécies de titânio hidrolisadas é muito rápida, levando facilmente a formação de fases de TiO2 muito estáveis que não são incorporadas na rede de tetraedros da zeólita. Então, em virtude disso, a hidrólise e condensação dos alcóxidos comumente utilizados como fonte de titânio, devem ser controladas com muito cuidado. A ausência total de cátions de metais alcalinos deve ser garantida96. Um meio de controlar a formação de TiO2 é adicionando peróxido de hidrogênio a fonte de titânio, o que leva a formação de peroxocomplexos mais estáveis, que ajudam a evitar a formação de fases de TiO296. O óxido de titânio (TiO2) é um sólido branco, quimicamente e biologicamente inerte4, apresenta baixo custo comercial e é o fotocatalisador mais utilizado para estudo na academia97,98. É estável ao ar e insolúvel em água. Quando digerido por HF concentrado, dá lugar ao ácido hexafluortitânico (H2TiF6). Os três polimorfos do óxido de titânio mais importantes são a anatase, a brookita e o rutilo. Em titanossilicatos, a fase anatase surge geralmente como material extra-rede, podendo obstruir os poros dos catalisadores, e consequentemente, diminuir sua atividade catalítica, ou ainda atuar como um agente decompositor do peróxido de hidrogênio quando presente livre em catalisadores para oxidação71. Um fator determinante é que as zeólitas não absorvem luz na região do UV e visível, o que torna possível irradiar materiais que estão no interior dos seus poros99, o 39 Christian Wittee Lopes que torna interessante estudar tais materiais como suporte pra fases ativas em fotocatálise. 3.6 APLICAÇÕES DAS ZEÓLITAS Quando o tema aplicação de zeólitas vem à tona, é conveniente retomar alguns fatores referentes às zeólitas. Para cada aplicação é necessária uma característica específica como, área específica compatível com a reação, propriedades de adsorção que variam de hidrofílicas a hidrofóbicas, tamanho de canais e cavidades com dimensão apropriada, sítios ativos (cuja força e concentração possam ser controladas de acordo com a aplicação) e uma rede complexa de canais que confere diferentes tipos de seletividade geométrica, como mostrado na Figura 3.12. Figura 3.12. Tipos de seletividade com peneiras moleculares100. 40 Christian Wittee Lopes O fenômeno da seletividade nas zeólitas pode ser usado para conduzir uma reação catalítica na direção do produto desejado, evitando reações paralelas indesejadas. A seletividade ao reagente ocorre quando somente uma parte das moléculas de uma mistura são suficientemente pequenas para difundir através dos poros da zeólita. A seletividade ao produto, se produz quando alguns dos produtos que se formam dentro dos poros são muito volumosos para que difundam, obtendo-se somente o produto que difunda no poro. A seletividade ao estado de transição se produz quando o volume de certos produtos intermediários situados dentro do canal da zeólita é tal, que somente alguns dos possíveis estados de transição podem formar-se, o que determina a seletividade global da reação28. A Figura 3.13 apresenta o esquema de “bomba molecular”, onde, por exemplo, a zeólita TS-1, cujos poros são hidrofóbicos, é apropriada para oxidação de substratos apolares como o cicloexano, usando peróxido de hidrogênio como oxidante101. Nesse caso, tanto o substrato apolar (C6H6) quanto o oxidante pouco polar (H2O2) são seletivamente adsorvidos pelos canais hidrofóbicos da TS-1, onde se transformam nos produtos água, cetona e álcool. Tais produtos, por sua vez, são expulsos dos canais porque são compostos polares, dessa forma, a interação entre a polaridade da zeólita e dos reagentes e produtos funciona como uma bomba molecular, sugando moléculas de substrato para os sítios ativos no interior da zeólita, e expelindo os produtos11. Figura 3.13. Transporte com “bomba molecular”: (i) reagentes apolares são adsorvidos por uma zeólita hidrofóbica; (ii) a reação catalítica ocorre no interior das cavidades e, finalmente, (iii) os produtos polares são expelidos da zeólita11. 41 Christian Wittee Lopes As zeólitas também podem ser aplicadas na remoção de contaminantes, como benzeno, tolueno e xileno. O uso de zeólitas com diferentes características se mostrou eficiente, levando a uma remoção quase que total dos contaminantes. Para isso foi utilizada uma combinação de duas zeólitas em sucessão, uma com poro grande com alta capacidade de adsorção (zeólita Y, utilizada para remover os contaminantes até um nível de concentração médio) e outra zeólita de poro médio (ZSM-5). Na Tabela 3.5 estão expostos alguns resultados de porcentagem de remoção de contaminantes em zeólitas Y e ZSM-5 individualmente, em uma mistura das duas zeólitas e em sucessão. Tabela 3.5. Quantidade (%) de contaminante adsorvido em testes de laboratório com a zeólita Y, ZSM-5, a mistura das duas e em sucessão102. Contaminante (ppm) Benzeno (70) Tolueno (60) m-Xileno (40) Clorobenzeno (40) Tricloroetileno (40) Tetracloroetileno (80) Y 70 62 86 96 92 94 ZSM-5 15 20 72 77 80 90 Mistura 20 30 75 83 82 92 Sucessão 98 99 99,95 99,98 99,5 99,94 Apesar de uma gama de possíveis aplicações para as zeólitas, é na aplicação em processos de refino, petroquímica e manufatura de produtos químicos que as zeólitas sempre tiveram mais impacto e muitas pesquisas voltadas a essas áreas foram realizadas. A Tabela 3.6 apresenta algumas reações na área petroquímica e refino em que as zeólitas são empregadas. Tabela 3.6. Alguns processos comerciais que empregam zeólitas como catalisadores103. Processo FCC Hidrocraqueamento Dewaxing Oligomerização de olefinas Isomerização de olefinas Isomerização de xileno Desproporcionamento de tolueno Aromatização de nafta Tipo de zeólita FAU/ZSM-5 FAU ZSM-5 MWW/MFI FER MFI MOR/MFI LTL Acilação FAU/BEA Oxidação MFI Área Refino/Petroquímica Manufatura de produtos químicos 42 Christian Wittee Lopes Como visto no referencial teórico, os materiais zeolíticos podem ser sintetizados com diferentes composições, empregando diversas moléculas orgânicas para auxiliar na cristalização zeolítica, entre outras condições de síntese. No nosso trabalho, nos propusemos a estudar a cristalização de zeólitas TON de diferentes composições e com diferentes condições de síntese, empregando o cátion 1-butil-3-metilimidazólio e a partir dos materiais sintetizados, caracterizar e vislumbrar possíveis aplicações. 43 Christian Wittee Lopes 4 - MATERIAIS E MÉTODOS A seguir serão apresentadas as rotas sintéticas utilizadas para a obtenção do agente direcionador de estrutura utilizado posteriormente em diferentes sínteses da zeólita TON. Adicionalmente serão apresentadas as técnicas utilizadas para identificação e caracterização dos materiais obtidos. 4.1 SÍNTESE DO CLORETO DE 1-BUTIL-3-METILIMIDAZÓLIO [C4MI]Cl O líquido iônico [C4MI]Cl utilizado nas sínteses das zeólitas foi preparado por um método tradicional de síntese104. Numa reação típica, 1-metilimidazol (SigmaAldrich) e 1-clorobutano (Sigma-Aldrich) em uma razão molar 1:1,1 foram dissolvidos em acetonitrila (P.A., Vetec) e submetidos a agitação por 48 h a 80 ºC sob refluxo. A cristalização do líquido iônico foi realizada adicionando a solução que contém o [C4MI]Cl em um balão contendo acetato de etila (P.A., Vetec), o qual posteriormente foi colocado no freezer por 24 h. A secagem do sólido foi realizada sob pressão reduzida por dois dias, para garantir a retirada dos solventes (acetato de etila e acetonitrila), ou até massa constante. O líquido iônico foi cristalizado para facilitar o manuseio. O rendimento médio obtido é de 75%. A Figura 4.1 abaixo exemplifica a síntese do composto acima descrito. Figura 4.1. Obtenção do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio. 4.2 SÍNTESE EM MEIO BÁSICO DAS ZEÓLITAS PURAMENTE SILÍCICAS O gel de síntese foi obtido utilizando sílica (SiO2, Aerosil 200, Degussa) como fonte de silício, hidróxido de sódio (NaOH, ≥99% Vetec) como agente mineralizante, e o líquido iônico cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio, [C4MI]Cl, como agente direcionador de estrutura e água como solvente. 44 Christian Wittee Lopes O preparo do gel de síntese foi realizado da seguinte maneira: i) Inicialmente, 2,44 g de NaOH foram solubilizados em 100 mL de água e adicionados a 18 g de SiO2 cuidadosamente. Tal mistura foi submetida à agitação mecânica por 30 min, obtendo-se a mistura A; ii) Decorrido este tempo, adicionou-se na mistura A 8,16 g de agente direcionador de estrutura previamente solubilizado em 130 mL de água, obtendo-se a mistura B; iii) Posteriormente a mistura foi mantida sob agitação por mais 30 min para total homogeneização dos reagentes. Após o término deste tempo, o gel formado foi dividido e transferido para autoclaves de aço inox (revestidas internamente com teflon de 60 mL de capacidade) e mantido em estufa a 160 ºC, com e sem agitação mecânica. Os tempos de cristalização para esta síntese foram de 1 e 3 dias em agitação e 1, 3 e 7 dias em estático. Após o período de cristalização, os sólidos foram filtrados, lavados abundantemente com água e 30 mL de acetona e foram secos por 24 h a 100 ºC. A composição final dos géis de síntese é a seguinte: SiO2 : 0,15 SDA : 0,2 NaOH : 24 H2O As amostras desta síntese foram nomeadas da seguinte maneira: PSYZc Onde: PS = Puramente silícicas Y = tempo em dias (1, 3 ou 7) Z = agitação (A) ou estático (E) c = amostra calcinada a 600 ºC Exemplo: PS1Ac - material sintetizado em composição puramente silícica em 1 dia de cristalização sob agitação e calcinado. 4.3 SÍNTESE EM MEIO BÁSICO DAS ZEÓLITAS CONTENDO Ti O gel de síntese foi obtido utilizando sílica (SiO2, Aerosil 200, Degussa) como fonte de silício, hidróxido de sódio (NaOH) como agente mineralizante, óxido de titânio (TiO2, P25, Degussa) como fonte de titânio, o cátion 1-butil-3-metilimidazólio ([C4MI]Cl) como agente direcionador de estrutura e água como solvente. 45 Christian Wittee Lopes Para o preparo do gel, 2,44 g de NaOH foram dispersas em 50 mL de água para solubilização e posteriormente a massa de TiO2 (a qual foi variada dependendo a razão Si/Ti desejada) foi adicionada, permanecendo por 30 min sob agitação magnética. Esta mistura foi então adicionada a 18 g de SiO2 e agitada manualmente até formação de um gel branco e viscoso, o qual foi colocado sob agitação mecânica, permanecendo por 30 min. Então, 18,6 g do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio foram solubilizadas em 80 mL de água e adicionado ao gel, o qual permaneceu em agitação mecânica por mais 30 min. Após o tempo em agitação, o gel foi dividido e transferido para autoclaves de aço inox (revestidas internamente com teflon de 60 mL de capacidade) e mantido em estufa a 160 ºC, com e sem agitação mecânica. Para as zeólitas de razão Si/Ti igual a 50, foi realizada uma síntese com períodos de cristalização de 4, 8, 16 h e os fixados 1, 3 e 7 dias. Para as demais razões Si/Ti (25 e 100) os períodos de cristalização foram somente de 1, 3 e 7 dias. Após o período de cristalização, os sólidos foram filtrados, lavados abundantemente com água e 30 mL de acetona e foram secos por 24 h a 100 ºC. A composição final dos géis de síntese é a seguinte: SiO2 : x TiO2 : 0,15 SDA : 0,2 NaOH : 24 H2O Onde x pode ser igual a 0,04, 0,02 ou 0,01 que levam a razões Si/Ti de 25, 50 e 100 respectivamente. As amostras desta síntese foram nomeadas da seguinte maneira: XSTYZc Onde: X = razão molar Si/Ti (25, 50, 100) ST = silício/titânio Y = tempo em dias (1, 3 ou 7) Z = agitação (A) ou estático (E) c = amostra calcinada a 600 ºC As amostras com tempos de cristalização menores foram nomeadas: 4 horas, 8 horas e 16 horas. Exemplo: 25ST1Ac - material sintetizado com razão molar Si/Ti igual a 25 em 1 dia de cristalização sob agitação e calcinado. 46 Christian Wittee Lopes 4.4 SÍNTESE EM MEIO BÁSICO DAS ZEÓLITAS CONTENDO Al – MÉTODO IZA Esta síntese foi desenvolvida seguindo a metodologia proposta pela IZA para a estrutura zeolítica ZSM-22 (topologia TON). Além do composto 1,8-diaminoctano (98%, Aldrich), utilizado na síntese IZA, foi realizada uma síntese nas mesmas condições, mas empregando o cátion 1-butil-3-metilimidazólio na forma de cloreto. Para a formação do gel de síntese foram utilizados sílica LUDOX (AS-30) como fonte de silício, sulfato de alumínio decaoctahidratado (98 %, Sigma-Aldrich) como fonte de alumínio, hidróxido de potássio (P.A., Vetec) como agente mineralizante, água como solvente e o agente direcionador de estrutura (1,8-diaminoctano ou cloreto de 1butil-3-metilimidazólio). A sequência de passos para a realização desta síntese está descrita abaixo: (1) 18,2 g água + 1,76 g sulfato de alumínio; (2) 18,2 g água + 4,0 g hidróxido de potássio; (3) 72,8 g água + 1,8-diaminoctano ou [C4MI]Cl; (4) 26,95 g água + 47,65 g sílica LUDOX (AS-30); (5) Mistura-se a solução (1) com a solução (2); (6) Adiciona-se a solução (3) à (5) e agita-se; (7) Adiciona-se a solução (4) à (6) e agita-se por 30 min. Após a formação do gel de síntese, o mesmo foi envelhecido por 24 h e após este período foi dividido em partes e transferido para autoclaves de inox revestidas internamente com teflon (capacidade de 60 mL) as quais foram mantidas em estático e sob agitação mecânica a 160 ºC. Os tempos de cristalização foram de 1, 2, 3 e 7 dias. Na síntese empregando o [C4MI]Cl não foi realizada a etapa de envelhecimento. Após o período de cristalização, os sólidos foram filtrados, lavados com água em abundância e foram secos por 24 h a 100 ºC. A composição final dos géis de síntese é a seguinte: SiO2 : 0,011 Al2O3 : 0,098 K2O : 0,033 K2SO4 : 0,303 SDA : 39,86 H2O Onde SDA pode ser igual o [C4MI]Cl ou 1,8-diaminoctano. 47 Christian Wittee Lopes As amostras desta síntese foram nomeadas da seguinte maneira: TAYZc Onde: T = Síntese tradicional A = IZA (1,8-diaminoctano) ou LI (cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio) Y = tempo em dias (1, 2, 3 ou 7) Z = agitação (A) ou estático (E) c = amostra calcinada a 600 ºC Exemplo: TIZA1Ac - material sintetizado seguindo a metodologia tradicional da IZA em 1 dia de cristalização sob agitação e calcinado. 4.5 SÍNTESE EM MEIO BÁSICO DAS ZEÓLITAS CONTENDO Al – MÉTODO COMPARATIVO Este procedimento de síntese é o mesmo empregado para a síntese em meio básico das zeólitas contendo titânio (item 4.3). A única mudança entre as sínteses é a fonte de heteroátomo, que neste caso foi o aluminato de sódio. O gel de síntese foi obtido utilizando sílica (SiO2, Aerosil 200, Degussa) como fonte de silício, hidróxido de sódio (NaOH) como agente mineralizante, aluminato de sódio como fonte de alumínio, o cátion 1-butil-3-metilimidazólio ([C4MI]Cl) como agente direcionador de estrutura e água como solvente. Para o preparo do gel, 2,44 g de NaOH foram dispersas em 50 mL de água para solubilização e posteriormente 0,5 g de aluminato de sódio foi adicionado, permanecendo por 30 min sob agitação magnética. Esta solução foi então adicionada a 18 g de SiO2 e agitada manualmente até formação de um gel branco e viscoso, o qual foi colocado sob agitação mecânica, permanecendo por 30 min. O [C4MI]Cl foi solubilizado em 80 mL de água e adicionado ao gel, o qual permaneceu em agitação mecânica por mais 30 min. Após o tempo em agitação, o gel foi dividido e transferido para autoclaves de aço inox (revestidas internamente com teflon de 60 mL de capacidade) e mantido em estufa a 160 ºC, com e sem agitação mecânica. A razão Si/Al calculada foi igual a 50 e os períodos de cristalização foram de 1, 3 e 7 dias. 48 Christian Wittee Lopes Após o período de cristalização, os sólidos foram filtrados e lavados com 50 mL de água e 30 mL de acetona e foram secos por 24 h a 100 ºC. A composição final dos géis de síntese é a seguinte: SiO2 : 0,02 NaAlO2 : 0,15 SDA : 0,2 NaOH : 24 H2O As amostras desta síntese foram nomeadas da seguinte maneira: XSAYZc Onde: X = razão molar Si/Al (50) SA = silício/alumínio Y = tempo em dias (1, 3 ou 7) Z = agitação (A) ou estático (E) c = amostra calcinada a 600 ºC Exemplo: 50SA1Ac - material sintetizado com razão molar Si/Al igual a 50 em 1 dia de cristalização sob agitação e calcinado. 4.6 OBTENÇÃO DO HIDRÓXIDO DE 1-BUTIL-3-METILIMIDAZÓLIO PARA AS SÍNTESES EM MEIO FLUORÍDRICO Nas sínteses em meio fluorídrico é apropriado que se utilize o cátion agente direcionador de estrutura na forma de hidróxido (por exemplo, hidróxido de 1-butil-3metilimidazólio) pelos motivos já citados no referencial teórico. Para a obtenção do cátion na forma de hidróxido foi realizada uma troca do Cldo cátion por OH- utilizando a resina de troca aniônica Dowex Monosphere 550A (OH) com capacidade de troca de 1,1 mEq/mL (Sigma-Aldrich). Antes da troca aniônica, a resina foi lavada com água sucessivas vezes para retirar o odor característico. O composto na forma de cloreto foi então colocado em contato com água (1 g de sólido : 10 g de água) e depois adicionado a ~100 mL de resina. A troca ocorre à temperatura ambiente, sob agitação magnética, overnight. A resina apresenta baixa resistência mecânica, então a agitação não deve ser vigorosa28. A solução de hidróxido foi recuperada por filtração e lavagem da resina e foi concentrada em rotavapor até a concentração adequada. A concentração de hidróxido foi estimada por titulação com 49 Christian Wittee Lopes ácido clorídrico (37%, Vetec) 0,1 mol/L antes e após a concentração da solução de hidróxido, utilizando fenolftaleína como indicador ácido-base (pH na faixa de viragem: 8-10). Um rendimento acima de 90 % indica que o processo foi satisfatório, sem decomposição do composto na etapa de troca aniônica e/ou concentração da solução. As trocas deste trabalho tiveram sempre rendimentos acima de 90%. 4.7 SÍNTESE EM MEIO FLUORÍDRICO DAS ZEÓLITAS PURAMENTE SILÍCICAS O gel de síntese foi preparado utilizando tetraetilortosilicato (TEOS, ≥99 %, Merck) como fonte de silício, uma solução do hidróxido de 1-butil-3-metilimidazólio como direcionador de estrutura/agente mineralizante, ácido fluorídrico como agente mineralizante e água como solvente. Primeiramente o TEOS foi hidrolisado na solução do hidróxido de 1-butil-3metilimidazólio sob agitação, utilizando um béquer de plástico, até a evaporação do etanol liberado na hidrólise do TEOS e evaporação da água necessária para cumprir a composição do gel desejada. Este processo foi acompanhado por pesagem do béquer mais o gel. Então foi adicionado o ácido fluorídrico (40 %, Cinética) e agitou-se o gel com uma espátula de metal por 10 min, aproximadamente. O gel então foi dividido e transferido para autoclaves de inox revestidas internamente com teflon (capacidade de 60 mL) as quais foram mantidas em estático a 160 ºC por 4, 5 e 13 dias. Após o período de cristalização, os sólidos foram filtrados, lavados com água em abundância e foram secos por 24 h a 100 ºC. A composição final dos géis de síntese é a seguinte: SiO2 : 0,5 SDA : 0,5 HF : 14 H2O As amostras desta síntese foram nomeadas da seguinte maneira: FPSYE Onde: F = Meio fluorídrico PS = Puramente silícicas Y = tempo em dias (4, 5 ou 13) E = Estático 50 Christian Wittee Lopes Exemplo: FPS5E - material sintetizado em meio fluorídrico com composição puramente silícica em 5 dias de cristalização em modo estático. 4.8 SÍNTESES EM MEIO FLUORÍDRICO DAS ZEÓLITAS CONTENDO Ti Para estas sínteses foram utilizados TEOS como fonte de silício, tetraetilortotitanato (TEOT, ~95 %, Merck) como fonte de titânio, ácido fluorídrico como agente mineralizante, uma solução do hidróxido de 1-butil-3-metilimidazólio como agente direcionador de estrutura/agente mineralizante e água como solvente. Em alguns casos foi adicionado peróxido de hidrogênio (0,333 mols em relação a SiO2) ao gel de síntese para evitar a formação de anatase95. Em uma síntese foram adicionadas sementes, para induzir a formação da estrutura TON. O gel de síntese foi preparado seguindo a metodologia anterior (item 4.7), porém hidrolisando o TEOS juntamente com o TEOT. O gel foi então dividido e transferido para autoclaves de inox revestidas internamente com teflon (capacidade de 60 mL) as quais foram mantidas em estático a 160 ºC por diferentes tempos. Após o período de cristalização, os sólidos foram filtrados, lavados com água em abundância e foram secos por 24 h a 100 ºC. A composição final dos géis de síntese é a seguinte: (1-x) SiO2 : x TiO2 : 0,5 SDA : 0,5 HF : y H2O Onde x = 0,02 e 0,014 relativo a Si/Ti igual a 50 e 70 respectivamente y = 7, 14, 17 e 27 Estas sínteses foram divididas em experimentos (Ex: 1, 2, 3, etc) e as condições serão detalhadas na Tabela 4.1. O controle da razão H2O/SiO2 foi monitorado por diferença de massa. 51 Christian Wittee Lopes Tabela 4.1. Condições empregadas para cristalização de zeólitas Ti-TON. Experimento Si/Ti H2O/SiO2 H2O2 Sementes 1 50 14 Não Não 2 50 17 Sim Sim (2%)a 3 70 27 Sim Não 4 50 7 Sim Não 5 50 7 Não Não Tempo (dias) 4 8 15 9 19 24 9 19 18 13 31 a = porcentagem em relação ao massa de sílica 4.9 PARÂMETROS DE CALCINAÇÃO DOS MATERIAIS SINTETIZADOS Para a eliminação do composto orgânico ocluído nos poros das zeólitas sintetizadas, as amostras foram submetidas à calcinação em forno mufla com as condições: da temperatura ambiente, a temperatura foi elevada 1 ºC/min até 150 ºC, permanecendo 150 min nesta temperatura; de 150 à 350 ºC a taxa de aquecimento foi de 2,2 ºC/min, permanecendo 180 min em 350 ºC; e de 350 à 600 ºC a taxa de aquecimento foi de 0,6 ºC/min, permanecendo 180 min em 600 ºC3. 4.10 CARACTERIZAÇÕES DO CÁTION E DAS ZEÓLITAS OBTIDAS O sal cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio e as zeólitas obtidas nas sínteses descritas acima foram caracterizados pelas seguintes técnicas: - Ressonância Magnética Nuclear de 13C e 1H (RMN); - Ressonância Magnética Nuclear de 13C no estado sólido; - Análise termogravimétrica (TG); - Difração de raios X (DRX); - Espectroscopia de refletância difusa na região do UV-Vis (DRS); - Adsorção e dessorção de N2; - Morfologia das amostras e análise química por EPMA (Electron Probe Micro Analyzer); 52 Christian Wittee Lopes - Microscopia eletrônica de varredura (MEV) por elétrons secundários e elétrons retroespalhados. O [C4MI]Cl sintetizado foi caracterizado por ressonância magnética nuclear de hidrogênio e carbono em um espectrômetro Varian Inova operando a 300 MHz. Os deslocamentos químicos foram expressos em valores de δ = ppm tendo o TMS (tetrametilsilano) como padrão interno de referência para 1H RMN (δ = 0,00 ppm) e o sinal central do tripleto do clorofórmio deuterado (CDCl3) para o 13C RMN (δ = 77,00 ppm). Os espectros de RMN de 13 C no estado sólido foram coletados em um espectrômetro Agilent 500 MHz modelo DD2 operando a 125,7 MHz e utilizando as condições abaixo: Pulso: 2,55 ms Giro: 10 kHz Tempo de Espera: 5 s Tempo de contato: 7 ms Rotores: 4 mm As análises termogravimétricas foram realizadas em um TGA Q500 V20.10 Build 36 sob atmosfera de N2 (25 mL/min) com rampa de aquecimento de 10 ºC/min, utilizando um porta amostra de alumina. Para o [C4MI]Cl e demais compostos orgânicos a análise foi realizada da temperatura ambiente até 600 ºC. Para as zeólitas foram realizadas análises da temperatura ambiente até 900 oC. As análises de difração de raios X foram realizadas em um aparelho Bruker D2 Phaser utilizando radiação CuKα (λ=1,54Å) no intervalo 2θ = 3-50º. A amostra ficou sob rotação de 15 rpm. Foi utilizado um tamanho de passo de 0,02º, tempo de acumulação de 0,1s por passo, fenda divergente de 0,2 mm, anti-airscatteringscreen de 1 mm. A corrente utilizada foi de 10 mA e voltagem de 30kV. Os valores de lower discrimination e upper discrimination foram de 0,11V e 0,25V respectivamente. Os sinais foram coletados em um detector Lynxeye (192 canais). A cristalinidade relativa das amostras de estrutura TON foi calculada através do somatório da integral de três reflexões do difratograma (2θ = 20,3º, 24,1º, 24,6º). Para as zeólitas de estrutura MFI foi utilizada a faixa de 2θ = 22,5 – 25º. Foi estipulado dois padrões de amostra, um padrão dentro de cada grupo de amostras (levando em conta que foram sintetizadas em 53 Christian Wittee Lopes diferentes composições) e um padrão para todas as amostras sintetizadas. Para ambos os padrões foi considerada a amostra com maior área integrada. As análises de espectroscopia de refletância difusa na região do UV-vis foram realizadas em um equipamento Varian (Cary 100). O acessório DRA-CA-301 (Labsphere) acoplado foi utilizado para a análise das amostras em modo de reflectância. Uma pequena quantidade de amostra foi espalhada sobre uma célula com janela de quartzo confeccionada para análise de DRS. A caracterização textural da amostra 50ST1Ac foi realizada utilizando um Autosorb-iQ (Quantachrome Instruments). A amostra foi desgaseificada a 250 °C por 10 h e então foi analisada com N2 a -196 ºC e o tempo de análise foi de 92 h e 41 min. A área específica foi determinada utilizando o método BET (Brunauer-Emmett-Teller) na faixa de pressões relativas (p/p0) de 0,001 a 0,01. O volume de microporos (VμP) foi determinado utilizando a equação de Dubinin-Radushkevich (DR) na faixa de p/p0 de 5,3x10-6 a 2,5x10-4 para a adsorção de N2. Finalmente, o volume total de poro (VTP) foi determinado utilizando a regra de Gurvich a uma p/p0 de 0,95. As demais amostras caracterizadas por adsorção de N2, foram realizadas em um aparelho Micromeritics TriStar II 3020 V1.03. Antes da análise, as amostras foram desgaseificadas durante 16 h a 300 °C, sob vácuo. As áreas específicas foram obtidas pelo método BET. As análises de microscopia eletrônica de varredura das amostras de composição Si/Ti e puramente silícicas sintetizadas em meio básico foram realizadas utilizando uma microssonda EPMA, modelo 1720H, Shimadzu, com voltagem de aceleração de 15kV e BC variando de 50nA a 0,01nA. Para esta análise as amostras foram dispersas em uma fita de carbono e metalizadas com ouro. Neste mesmo aparelho foi realizado o mapeamento químico da amostra 25ST1Ac. As demais análises de microscopia eletrônica de varredura foram realizadas em um aparelho Hitachi TM3000 TableTop Microscope (elétrons retroespalhados). Um resumo das sínteses realizadas neste trabalho foi realizado para uma melhor compreensão e está apresentado na Figura 4.2 abaixo. 54 Christian Wittee Lopes Figura 4.2. Fluxograma das sínteses realizadas neste trabalho. 55 Christian Wittee Lopes 5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO Nesta parte do trabalho estão apresentados os resultados e respectivas discussões sobre a síntese do cátion imidazólio e sua utilização como agente direcionador de estrutura na síntese de zeólitas de diferentes composições. Em uma primeira etapa será discutida a obtenção do cloreto de 1-butil-3metilimidazólio e caracterização do mesmo. Após serão discutidos os resultados referentes às sínteses de zeólitas em meio básico puramente silícicas e com titânio, e logo em seguida com alumínio. Finalmente serão discutidos os resultados das sínteses em meio fluorídrico. 5.1 OBTENÇÃO DO CLORETO DE 1-BUTIL-3-METILIMIDAZÓLIO Para utilização nas sínteses das zeólitas deste trabalho, o cátion 1-butil-3metilimidazólio foi sintetizado primeiramente na forma de líquido iônico (cloreto de 1butil-3-metilimidazólio). As caracterizações a seguir foram realizadas para confirmar a obtenção do composto desejado. Na Figura 5.1 estão apresentados os espectros de RMN de 1H e 13 C para o composto sintetizado. A análise de RMN de 1H do [C4MI]Cl apresentou os seguintes deslocamentos químicos: RMN 1H (300 MHz, CDCl3): δ/ppm: 0,96 (t, 3H, J = 7,3 Hz), 1,38 (m, 2H), 1,91 (m, 2H), 4,14 (s, 3H), 4,34 (t, 2H, J = 7,4 Hz), 7,57 (s, 1H), 7,74 (s, 1H), 10,6 (s, 1H). Os resultados experimentais estão de acordo com os resultados encontrados na literatura3. Através da análise dos espectros, é possível concluir que o composto sintetizado é de fato o 1-butil-3-metilimidazólio. Esses resultados são condizentes com os encontrados na literatura104. 56 Christian Wittee Lopes Figura 5.1. RMN de 1H e 13C do composto sintetizado. 4 1 12 11 5 6 8 3 2 7 10 9 8 7 6 1 5 4 3 2 TMS 1 0 -1 H, ppm 2 1 3 6 7 5 8 140 4 CDCl3 120 100 80 13 60 40 20 0 C, ppm Como a síntese de zeólitas ocorre em temperaturas moderadas (100-200 ºC), é possível que nesta faixa de temperatura algumas moléculas orgânicas utilizadas como agentes direcionadores de estrutura na síntese de zeólitas se degradem. Com a finalidade de verificar a estabilidade térmica do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio sintetizado, a análise de termogravimetria foi realizada. Na Figura 5.2, estão expostos os resultados de termogravimetria (TG) e termogravimetria derivada (DTG) do [C4MI]Cl. A termogravimetria do [C4MI]Cl mostra que o composto apresenta dois eventos de perda de massa, o primeiro evento entre 40 oC e 150 oC é relativo a desidratação da amostra e/ou liberação de algum solvente remanescente da síntese do composto. O segundo evento é referente à degradação do [C4MI]Cl, que tem sua temperatura inicial em 200 ºC, com o pico de velocidade de degradação máxima em 280 ºC, terminando a degradação do composto em 315 o C. Estes resultados demonstram a elevada 57 Christian Wittee Lopes estabilidade térmica do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio e estão condizentes com dados da literatura105. De acordo com estes resultados, espera-se que não ocorra decomposição térmica do 1-butil-3-metilimidazólio nas sínteses realizadas, as quais utilizaram temperatura de 160 oC. Figura 5.2. Análise termogravimétrica do [C4MI]Cl. 0,5 100 o 200 C 0,0 80 60 -1,0 40 dM/dT Massa (%) -0,5 -1,5 20 o -2,0 280 C 0 -2,5 0 100 200 300 400 500 600 o Temperatura ( C) 5.2 SÍNTESE DAS ZEÓLITAS DE COMPOSIÇÃO PURAMENTE SILÍCICAS EM MEIO BÁSICO Na Figura 5.3, estão expostos os resultados de difração de raios X dos materiais obtidos na síntese em meio básico das zeólitas de composição puramente silícicas, em modo agitação e estático, utilizando 160 ºC como temperatura de cristalização. É possível observar, através dessa figura, que a síntese em composição puramente silícica, utilizando o cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio como direcionador de estrutura, resultou em material zeolítico somente a partir do terceiro dia de síntese, tanto em modo agitação quanto em modo estático. A fase zeolítica detectada é a fase TON9 (isoestruturas zeolíticas ZSM-22 e Theta-1), cujas reflexões características encontramse em ângulos 2θ de: 8,17º, 10,15º, 12,8º, 16,3º, 19,4º, 20,3º, 24,2º, 24,6º, 25,7º. Entretanto, em nenhum difratograma foi detectada a presença de uma fase zeolítica pura. Os círculos em preto, assinalados nos difratogramas, são relativos à fase zeolítica MRE (ZSM-48). Araya e Lowe106 relatam a presença de misturas TON/ZSM-48 em 58 Christian Wittee Lopes composições puramente silícicas. Na amostra sintetizada em 7 dias em condições estáticas (PS7Ec) foi detectada a presença de cristobalita (quadrado verde, 2θ = 21,5º), sugerindo que em tempos mais longos ocorre o aparecimento de fases densas (em comparação a zeólitas) de SiO2. Isso pode ser explicado pelo fato de zeólitas serem metaestáveis (como já exposto no referencial teórico31), e com tempos de cristalização maiores tendem a formar uma fase termodinamicamente mais estável (Ex: cristobalita). Figura 5.3. Difratogramas de raios X das amostras obtidas em meio básico com composição puramente silícica. Intensidade (u.a.) PS1Ac PS3Ac 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 Intensidade (u.a.) PS1Ec PS3Ec PS7Ec 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 Para verificar a morfologia dos materiais sintetizados, análises de microscopia eletrônica de varredura foram realizadas para a amostra PS3Ac e a imagem está apresentada na Figura 5.4. A imagem mostra claramente a presença de cristais com duas morfologias distintas, uma em forma de cristais elípticos (grãos de 59 Christian Wittee Lopes arroz/bastonetes), referentes a fase TON e a outra em forma de aglomerados de placas, referentes a fase ZSM-48. Williams e colaboradores107 realizaram um estudo de síntese de zeólitas ZSM-22 e ZSM-48 de cristais grandes e obtiveram zeólitas com morfologias semelhantes às obtidas neste trabalho. Figura 5.4. Microscopia eletrônica de varredura da amostra PS3Ac. 5.3 SÍNTESE DAS ZEÓLITAS DE COMPOSIÇÃO Si/Ti EM MEIO BÁSICO Para a realização das sínteses das zeólitas contendo titânio, foram calculadas três razões molares Si/Ti (25, 50 e 100) e os tempos de cristalização foram fixados em 1, 3 e 7 dias, com exceção da razão Si/Ti igual a 50, onde também foram estudados tempos de 4, 8 e 16 h, além dos tempos fixados. 5.3.1 Zeólitas de composição Si/Ti = 25 Os sólidos obtidos na síntese das zeólitas de razão Si/Ti = 25 foram primeiramente caracterizados por difração de raios X (Figura 5.5). 60 Christian Wittee Lopes Figura 5.5. Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 25. (a) Diferentes tempos de cristalização, em modo agitação e estático. (b) Presença da reflexão relativa à anatase. Intensidade (u.a.) a) 25ST1Ac 25ST3Ac 25ST7Ac 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Intensidade (u.a.) 2 25ST1Ec 25ST3Ec 25ST7Ec 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 b) 2000 Intensidade (u.a.) 1500 TiO2 1000 500 0 22 23 24 25 26 27 28 29 30 2 Como é possível visualizar pela Figura 5.5a, os difratogramas mostram a presença de reflexões bem definidas, características de materiais cristalinos. Comparando os difratogramas com dados da literatura, conclui-se que em 1 dia de síntese, tanto em agitação como em estático, a fase TON é obtida9, permanecendo a fase até o sétimo dia de cristalização. Nota-se no difratograma da amostra 25ST7Ec a presença de uma reflexão em 21,5º, característica da fase cristobalita. O aparecimento da cristobalita nas zeólitas obtidas só ocorre em algumas amostras, em tempos de 61 Christian Wittee Lopes cristalização mais elevados (3 e 7 dias), como ocorre na síntese das zeólitas de composição puramente silícicas. A única diferença entre a síntese descrita no item 5.2 e a síntese que está sendo discutida, é a presença do TiO2, e é notável a influência do mesmo na cristalização das zeólitas. A síntese das zeólitas puramente silícicas (sem o TiO2) levou a materiais com mistura de fases zeolíticas e obtidos somente ao terceiro dia de cristalização, ao contrário da síntese com o TiO2. Na Figura 5.5b é possível visualizar um “ombro” (reflexão) relativo ao pico mais intenso da anatase, uma das fases cristalinas do TiO2 (CIF 9852 – ICSD), o que pode ser um indício de material extra-estrutural. Tal reflexão é muito pouco intensa, quase imperceptível, provavelmente pela pequena quantidade em relação à fase zeolítica. Os dados de cristalinidade relativa das amostras estão na Figura 5.6. A cristalinidade calculada para a amostra 25ST1Ec foi de 100%, a qual foi tomada como padrão para esta série. Figura 5.6. Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 25. 100 90 Cristalinidade relativa (%) 80 70 60 50 40 30 20 Agitação Estático 10 0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo (dias) Os valores de cristalinidade apresentados na Figura 5.6 demonstram que independente do modo de síntese (agitação ou estático) os sólidos apresentaram altas cristalinidade >80%. 62 Christian Wittee Lopes Para verificar o real estado de coordenação do titânio nas zeólitas sintetizadas (na rede zeolítica ou extra-rede), visto que para esta razão Si/Ti (25) foi detectada uma reflexão relativa à anatase, análises de espectroscopia de refletância difusa na região do UV-Vis foram realizadas, tais resultados estão expostos na Figura 5.7. Figura 5.7. Espectros de refletância difusa na região do UV-vis das zeólitas obtidas na razão Si/Ti igual a 25. 2500 25ST1Ec 25ST3Ec 25ST7Ec R (%) 2000 1500 1000 500 0 200 250 300 350 400 450 500 550 600 Comprimento de onda (nm) 3000 25ST1Ac 25ST3Ac 25ST7Ac R (%) 2500 2000 1500 1000 500 0 200 250 300 350 400 450 500 550 600 Comprimento de onda (nm) Analisando a Figura 5.7, pode-se notar a presença de duas bandas em todos os espectros das zeólitas obtidas, uma entre 190-210 nm e outra na região entre 250-350 nm. O cátion Ti+4 não possui elétrons d, então transições d-d não ocorrem neste estado de oxidação. Entretanto, transições metal-ligante podem gerar bandas referentes ao Ti em diferentes ambientes químicos108. A primeira banda, é referente à transferência de carga ligante (O-2) para espécies isoladas de Ti tetracoordenado e a segunda banda, é relativa ao titânio extra-rede (TiO2 - anatase)109,110. Prakash e colaboradores111 sugerem que o TiO2 pode fornecer uma banda entre 250 e 300 nm, englobando assim uma grande faixa de bandas no espectro. Para verificar a morfologia das zeólitas sintetizadas e ter informações sobre a dispersão do titânio nos cristais zeolíticos, uma análise de EPMA foi realizada. A 63 Christian Wittee Lopes Figura 5.8 apresenta a imagem de microscopia eletrônica de varredura e o mapeamento químico (Si, Ti e O), respectivamente, da amostra 25ST1Ac. Figura 5.8. Imagem de microscopia eletrônica de varredura (acima) e mapeamento químico dos elementos O, Si e Ti (abaixo) da amostra 25ST1Ac. A Figura 5.8 mostra quatro imagens, sendo as três abaixo a mesma imagem, porém com as diferentes colorações, cada uma relativa a um elemento químico (O, Si e Ti). Na parte superior da imagem pode-se notar uma morfologia homogênea dos cristais, em forma elíptica (bastonetes, grãos de arroz), com tamanho de partículas na faixa de 5 a 30 μm, tal morfologia característica da fase TON65,112. Pelo mapeamento químico realizado (três imagens abaixo), percebe-se uma boa distribuição do titânio, não apresentando aglomerados do elemento (que poderia ser relativo a TiO2). Visto que o material sintetizado é formado essencialmente por Si e O, uma boa densidade de cor, relativa à presença desses elementos, foi observada. Em relação à porosidade destes materiais, a Tabela 5.1 apresenta as áreas específicas calculadas através do método BET. 64 Christian Wittee Lopes Tabela 5.1. Valores de área específica das amostras calcinadas da série Si/Ti = 25. Área Específica (m2/g) 236 267 288 261 276 228 Amostra 25ST1Ac 25ST3Ac 25ST7Ac 25ST1Ec 25ST3Ec 25ST7Ec As áreas específicas das zeólitas sintetizadas estão condizentes com as áreas de zeólitas com estrutura TON113,114. Mesmo com a presença de cristobalita em algumas amostras e óxido de titânio extra-rede, acredita-se que tal fato não aumentou/diminuiu as áreas das zeólitas. As discussões referentes ao tipo de isoterma e demais parâmetros texturais serão relatadas mais adiante (item 5.3.2). A integridade da molécula do 1-butil-3-metilimidazólio foi verificada por RMN de 13 C no estado sólido. A amostra analisada foi a 25ST3A (não calcinada) e seu respectivo espectro está apresentado na Figura 5.9. É possível observar os mesmos sinais nas duas análises de RMN, sugerindo que a molécula ocluída nos poros da zeólita está intacta. Figura 5.9. Espectros de 13 C RMN da amostra 25ST3A (acima) e do [C4MI]Cl (abaixo). 25ST3A [C4MI]Cl 200 180 160 CDCl3 140 120 100 13 C, ppm 80 60 40 20 0 65 Christian Wittee Lopes 5.3.2 Zeólitas de composição Si/Ti = 50 Os sólidos obtidos na síntese das zeólitas de razão Si/Ti = 50 foram primeiramente caracterizados por difração de raios X (Figura 5.10). É possível notar a presença de materiais cristalinos devido à existência de reflexões bem definidas. Comparando as reflexões com dados da literatura é possível concluir que a fase obtida é referente à estrutura TON9, mesma fase obtida para as zeólitas de razão Si/Ti = 25. A fase é obtida já em 1 dia de síntese e permanece até o sétimo dia, tanto em agitação como em estático. Não foi possível visualizar a mesma reflexão referente à anatase vista nas amostras de razão Si/Ti = 25, nem a presença de fases densas, como a cristobalita. Intensidade (u.a.) Figura 5.10. Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 50. 50ST1Ac 50ST3Ac 50ST7Ac 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Intensidade (u.a.) 2 50ST1Ec 50ST3Ec 50ST7Ec 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 Os dados de cristalinidade relativa das amostras estão na Figura 5.11. A cristalinidade calculada para a amostra 50ST1Ac foi de 100%, a qual foi tomada como padrão para esta série. 66 Christian Wittee Lopes Figura 5.11. Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 50. 100 90 Cristalinidade relativa (%) 80 70 60 50 40 30 20 Agitação Estático 10 0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo (dias) Visualizando as cristalinidades relativas da Figura 5.11, é possível ver que, da mesma forma que as zeólitas da razão Si/Ti igual a 25, tanto as zeólitas obtidas em agitação quanto em estático apresentaram altas cristalinidades >95%. Até então sabe-se que a fase TON, nas condições de síntese acima apresentadas, cristaliza em 1 dia de síntese (24 h). Com a finalidade de saber em quanto tempo já se observam reflexões referentes à fase TON, um estudo com tempos menores de cristalização foi realizado e está apresentado na Figura 5.12. Analisando os dados de difração de raios X, observa- se que em 16 h já nota-se a presença de reflexões bem intensas referentes à fase TON, porém com uma porcentagem amorfa, caracterizada pela elevação da linha base na faixa entre 15 a 30º (2θ). Esses resultados só reforçam que a presença do titânio no gel de síntese favorece a formação da fase TON, o que não acontece na síntese de composição puramente silícica. 67 Christian Wittee Lopes Figura 5.12. Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 50 em 4, 8 e 16 h. 4 horas Intensidade (u.a.) 8 horas 16 horas 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 Para verificar a geometria do titânio (tetraedricamente coordenado e/ou extrarede) nas zeólitas de topologia TON sintetizadas na razão Si/Ti = 50, análises de DRS foram realizadas. Os resultados de DRS estão apresentados na Figura 5.13. Figura 5.13. Espectros de refletância difusa na região do UV-vis das zeólitas obtidas na razão Si/Ti igual a 50. 2500 50ST1Ec 50ST3Ec 50ST7Ec R (%) 2000 1500 1000 500 0 200 250 300 350 400 450 500 550 600 Comprimento de onda (nm) 50ST1Ac 50ST3Ac 50ST7Ac R (%) 2000 1500 1000 500 0 200 250 300 350 400 450 Comprimento de onda (nm) 500 550 600 68 Christian Wittee Lopes Como já visto nas zeólitas de razão Si/Ti = 25, os espectros de DRS para a série Si/Ti = 50 apresentaram as mesmas duas bandas, uma entre 190-210 nm e outra na região entre 250-350 nm. A primeira, referente à transição eletrônica com transferência de carga ligante (O-2) para espécies isoladas de Ti tetracoordenado e a segunda banda, relativa ao titânio extra-rede (TiO2 - anatase)109,110. Na Figura 5.14 estão apresentadas as imagens de microscopia eletrônica de varredura das zeólitas sintetizadas nesta razão. É possível observar a morfologia em forma de elipse, comportamento já relatado para as amostras de razão Si/Ti = 25. Os tamanhos dos cristais têm em torno de 5 a 30 μm de comprimento e não se nota a presença de morfologias distintas. O aumento do tempo de síntese, de 1 a 7 dias, não acarretou em mudanças na morfologia ou em um aumento/diminuição do tamanho dos cristais. Tais morfologias são características da fase zeolítica TON65,112. Figura 5.14. Microscopia eletrônica de varredura das amostras: (a) 50ST3Ac (b) 50ST3Ec (c) 50ST7Ac (d) 50ST7Ec. a) b) c) d) A amostra 50ST1Ac foi analisada por adsorção e dessorção de N2 e a isoterma está apresentada na Figura 5.15. Observa-se que a amostra 50ST1Ac apresenta uma 69 Christian Wittee Lopes isoterma do tipo I115 característica de materiais microporosos, onde o volume adsorvido aumenta significativamente a baixas pressões. A área específica foi calculada aplicando o método BET e resultou em um valor de 290 m2/g, o qual está em concordância com a literatura113,114. O volume de microporos e o volume total de poros foram de 0,1 cm3/g e 0,12 cm3/g, os quais foram determinados utilizando a equação de DubininRadushkevich (DR) e a regra de Gurvich, respectivamente. A partir destes dados é possível concluir que os microporos tem uma contribuição praticamente total na área específica do material. Figura 5.15. Isoterma de adsorção e dessorção de N2 da amostra 50ST1Ac. 100 Adsorção Dessorção 90 80 60 50 3 Vads [cm STP/g] 70 40 30 20 10 0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 p/p0 É importante relatar que somente nesta amostra foi realizada uma isoterma completa (nas demais amostras deste trabalho foram realizados somente os pontos necessários para calcular a área específica pelo método BET) devido a restrições operacionais. A molécula de N2 tem seu tamanho próximo ao do poro da zeólita em questão, e como a estrutura possui canais unidirecionais, problemas difusionais são evidentes, além da molécula de N2 possuir momento quadrupolar. Para contornar este problema pode ser utilizado argônio como adsorvato, ou aumentar o tempo de equilíbrio 70 Christian Wittee Lopes na análise. Além do mais, baseado na isoterma da amostra 50ST1Ac, é visto que o ponto B (região onde ocorre o preenchimento de uma monocamada de adsorvato e faixa para cálculo da área BET) encontra-se em regiões de baixíssimas pressões p/p0 (0,003), o que acarreta num elevado tempo de análise. As áreas específicas calculadas através do método BET para as demais amostras estão expostas na Tabela 5.2. Tabela 5.2. Valores de área específica das amostras calcinadas da série Si/Ti = 50. Amostra 50ST1Ac 50ST3Ac 50ST7Ac 50ST1Ec 50ST3Ec 50ST7Ec Área Específica (m2/g) 290 202 193 183 182 172 Observando os dados da Tabela 5.2, acredita-se que tais valores possam estar subestimados (com exceção da amostra 50ST1Ac que foi medida com tempo mais longo de analise), não estando de acordo com os dados da literatura, os quais apresentam áreas específicas normalmente superiores a 200 m2/g114,116. As zeólitas não apresentam diferenças estruturais significativas, olhando para os dados de cristalinidade, o que justificaria uma mudança nas propriedades texturais dos materiais. Acredita-se então, que as diferenças encontradas nos valores de área podem ter ocorrido devido as análises terem sido realizadas em tempos menores, o que não levaria a um equilíbrio da adsorção e nem evitaria problemas de difusão da molécula de nitrogênio nos canais unidirecionais da estrutura TON. Através da análise termogravimétrica da amostra 50ST1A foi possível determinar o percentual de incorporação do cátion 1-butil-3-metilimidazólio na estrutura zeolítica obtida. Este resultado pode ser observado na Figura 5.16. A análise mostra inicialmente uma perda de massa referente à desidratação da amostra, seguido de um evento referente à decomposição do 1-butil-3-metilimidazólio ocluído na estrutura da zeólita, na faixa de 350 a 500 oC (vide DTG), e numa última etapa ocorre a desidroxilação da zeólita (>500 oC), restando somente os óxidos ao final da análise. Em comparação com a TG do [C4MI]Cl (item 5.1), a temperatura de decomposição do cátion orgânico é deslocada para maiores temperaturas devido à molécula estar ocluída 71 Christian Wittee Lopes nos poros da zeólita, sendo consequentemente “protegida”. A porcentagem de material orgânico calculado pela DTG foi de aproximadamente 7 %. Figura 5.16. Análise termogravimétrica da amostra 50ST1A. 100 0,00 -0,03 98 H2O Óxidos -0,09 94 dM/dT Massa (%) -0,06 96 -0,12 92 -0,15 90 -0,18 Orgânico 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 o Temperatura ( C) 5.3.3 Zeólitas de composição Si/Ti = 100 Os sólidos obtidos na síntese das zeólitas de razão Si/Ti = 100 foram caracterizados inicialmente por difração de raios X (Figura 5.17). Analisando os difratogramas de raios X, é possível notar a presença de materiais cristalinos devido à existência de reflexões bem definidas. Comparando as reflexões com dados da literatura é possível concluir que a fase obtida é referente à estrutura TON9, mesma fase obtida para as zeólitas de razão Si/Ti = 25 e 50. A fase TON é obtida tanto em agitação como em estático, independente do tempo de cristalização empregado. Não foi possível visualizar a mesma reflexão referente à anatase vista nas amostras de razão Si/Ti = 25. A amostra 100ST7Ac apresentou uma reflexão em ~21,6º (2θ) referente a fase cristobalita. 72 Christian Wittee Lopes Intensidade (u.a.) Figura 5.17. Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 100. 100ST1Ac 100ST3Ac 100ST7Ac 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Intensidade (u.a.) 2 100ST1Ec 100ST3Ec 100ST7Ec 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 Os dados de cristalinidade relativa das amostras estão na Figura 5.18. A cristalinidade calculada para a amostra 100ST1Ac foi de 100 %, a qual foi tomada como padrão para esta série. As zeólitas sintetizadas nesta razão apresentam valores altos de cristalinidade e o modo de síntese (agitação ou estático) não mostra ter forte influência nos resultados. A amostra 100ST7Ac, apresentou cristalinidade relativa de 39%, podendo este resultado estar relacionado a grande quantidade de cristobalita formada ou relativo a um erro experimental. 73 Christian Wittee Lopes Figura 5.18. Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 100. 100 90 Cristalinidade relativa (%) 80 70 60 50 40 30 20 Agitação Estático 10 0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo (dias) Na Figura 5.19 estão apresentados os espectros de DRS das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 100. Os materiais apresentaram as mesmas duas bandas que as zeólitas das outras razões Si/Ti discutidas acima. Figura 5.19. Espectros de refletância difusa na região do UV-vis das zeólitas obtidas na razão Si/Ti igual a 100. 2000 100ST1Ec 100ST3Ec 100ST7Ec R (%) 1500 1000 500 0 200 250 300 350 400 450 500 550 600 Comprimento de onda (nm) 2000 100ST1Ac 100ST3Ac 100ST7Ac R (%) 1500 1000 500 0 200 250 300 350 400 450 Comprimento de onda (nm) 500 550 600 74 Christian Wittee Lopes Para verificar a morfologia das amostras sintetizadas na razão Si/Ti = 100, análises de microscopia eletrônica de varredura foram realizadas e estão apresentadas na Figura 5.20. Pelas imagens das amostras em diferentes ampliações, é possível observar a morfologia em forma de grãos de arroz (forma elíptica), comportamento já relatado para as amostras das outras razões Si/Ti. Os tamanhos dos cristais têm em torno de 5 a 30 μm de comprimento e não nota-se a presença de outras morfologias. O aumento do tempo de síntese, de 1 a 7 dias, não levou a mudanças na morfologia ou em um aumento/diminuição do tamanho dos cristais. Tais morfologias são características da fase zeolítica TON65,112. Figura 5.20. Microscopia eletrônica de varredura das amostras: (a) 100ST1Ec (b) 100ST3Ec (c) 100ST3Ac (d) 100ST7Ec. a) b) c) d) 75 Christian Wittee Lopes A porosidade dos materiais zeolíticos foi avaliada através do método BET e as áreas específicas estão expostas na Tabela 5.3. Tabela 5.3. Valores de área específica das amostras calcinadas da série Si/Ti = 100. Amostra 100ST1Ac 100ST3Ac 100ST7Ac 100ST1Ec 100ST3Ec 100ST7Ec Área Específica (m2/g) 233 274 120 268 257 257 Os valores de área específica apresentados na Tabela 5.3 estão em concordância com os valores da literatura para zeólitas de estrutura TON113,114, com exceção da amostra 100ST7Ac, que teve um valor de área de 120 m2/g, valor discrepante em relação as demais amostras. Isso é explicado pela baixa cristalinidade do material, já discutida acima. 5.3.4 Considerações gerais sobre a síntese Foram realizadas sínteses das três razões Si/Ti sem a presença do cloreto de 1butil-3-metilimidazólio e nenhum produto zeolítico foi obtido, confirmando o papel do cátion como agente direcionador de estrutura (dados não apresentados). A fase TON já havia sido sintetizada anteriormente utilizando cátions imidazólio em alguns trabalhos44,45,117,118, porém, ao nosso conhecimento, na forma de titanossilicato ainda não há relatos na literatura, o que torna explícito a inovação do trabalho. É conhecido que para a formação de nanotubos de titânia é necessário tratar o óxido de titânio com NaOH (altas concentrações) em condições hidrotermais (>100 oC). Quando em contato com a solução aquosa de NaOH, as ligações Ti-O-Ti se rompem e ligações Ti-O-Na e Ti-O-OH são formadas119. Acredita-se que a solução de hidróxido utilizada na nossa síntese de zeólitas não é suficientemente concentrada para romper mais ligações Ti-O-Ti, deixando uma quantidade considerável de TiO2 extra-rede nos materiais finais. O fato de as zeólitas terem anatase como TiO2 extra-rede dificulta sua aplicação em reações de oxidação, pois a mesma consome peróxido de hidrogênio, agente 76 Christian Wittee Lopes oxidante comumente utilizado, diminuindo a eficiência dos catalisadores 71. Porém as zeólitas podem ser aplicadas para reações de fotocatálise, onde a anatase é a fase ativa120. Uma vantagem em relação ao óxido de titânio comercial (P25), comumente utilizado em reações fotocatalíticas, é o fato de que o P25 é nanométrico e difícil de ser recuperado. Em compensação, as zeólitas obtidas no presente trabalho, possuem partículas na escala micro, podendo ser recuperadas por filtração. 5.3.5 Estado do cátion pós-síntese (água-mãe) Ao final das sínteses, a água mãe e os sólidos resultantes apresentavam coloração amarelada e tal fato poderia estar vinculado a uma modificação do líquido iônico durante a síntese ou a uma possível degradação do mesmo. Em estudos da literatura, foi visto que alguns autores “sintetizavam” o hidróxido de 1-butil-3metilimidazólio numa reação do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio com hidróxido de sódio em proporções equimolares, gerando um composto marrom e viscoso ao final. Porém no trabalho de Yuen, tal reação é contestada e o autor indica que não é possível dizer se o composto é de fato o hidróxido de 1-butil-3-metilimidazólio ou um carbeno heterocíclico121. Na nossa tentativa de recuperar o cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio da águamãe por rotaevaporação, um composto viscoso e marrom é obtido, dando indícios que ocorre a mudança no composto durante a síntese. Tal comportamento ocorreu para todas as sínteses, independente do tempo decorrido. No trabalho de Zones, é realizada a síntese de zeólitas pentasil utilizando cátions imidazólio na forma de iodeto. Na cristalização da zeólita ZSM-22, utilizando o cátion 1,3-dimetilimidazólio, os valores de pH ao final da síntese decrescem com o aumento no tempo de cristalização. Tal comportamento é devido à decomposição do organocátion (pelo carbono entre os nitrogênios no anel imidazol) que não foi incorporado na zeólita via degradação de Hoffmann, onde na presença de uma base e temperatura elevada, o hidróxido do meio reacional é consumido, diminuindo o pH. Ainda neste trabalho, o autor relata que 120 oC seria a temperatura ideal para a cristalização da zeólita, o que minimizaria a degradação do direcionador de estrutura, e que acima de 120 oC as soluções de água mãe apresentavam coloração marrom-escuro (como no nosso trabalho)118. 77 Christian Wittee Lopes Análises de termogravimetria do composto obtido da água-mãe foram realizadas no intuito de verificar seu comportamento térmico. A termogravimetria do cloreto de 1butil-3-metilimidazólio foi utilizada para fins de comparação. Ambas curvas termogravimétricas estão apresentadas na Figura 5.21. Figura 5.21. Curvas termogravimétricas (acima) e derivadas (abaixo) do líquido iônico utilizado nas sínteses e do composto gerado pós-síntese. 100 Composto pós-síntese Massa (%) 80 [C4MI]Cl 60 40 20 0 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 o Temperatura ( C) 0,5 0,0 Composto pós-síntese dM/dT -0,5 -1,0 -1,5 [C4MI]Cl -2,0 -2,5 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 o Temperatura ( C) Analisando os resultados das análises de termogravimetria, nota-se que o composto obtido da água-mãe (pós-síntese) ainda apresenta uma alta estabilidade térmica, em torno de 310 ºC, semelhante ao “precursor” cloreto de 1-butil-3- 78 Christian Wittee Lopes metilimidazólio. O pico relativo à perda de água no DTG não está presente para o composto gerado pós-síntese. Uma análise de RMN de 13C do composto obtido da água-mãe foi realizada para sustentar a ideia em relação à modificação do cátion discutida acima. Foi utilizado o espectro do 1-butil-3-metilimidazólio como comparação. Os mesmos estão apresentados na Figura 5.22. Figura 5.22. Espectros de RMN de 13C do composto obtido da água-mãe (abaixo) e do [C4MI]Cl (acima). Desblindado Blindado [C4MI]Cl CDCl3 Pós-síntese CDCl3 200 175 150 125 100 13 75 50 25 0 C, ppm É possível observar através dos espectros da Figura 5.22, que a maioria dos sinais do composto obtido da água-mãe são correspondentes aos sinais do [C4MI]Cl, com exceção do sinal centrado em δ = 170 ppm. Acredita-se que o deslocamento deste sinal (de 140 ppm no espectro do cátion para 170 ppm no espectro do composto póssíntese) seja referente a desprotonação do carbono entre os nitrogênios no anel imidazol, desblindando-o e consequentemente deslocando-o para esquerda (campo baixo). A partir destes dados, acredita-se que o cátion mantém sua estrutura, porém sua configuração eletrônica é modificada. Estudos futuros se fazem necessários para provar se é possível obter estruturas TON a partir da molécula recuperada da água-mãe. 79 Christian Wittee Lopes 5.4 SÍNTESE DAS ZEÓLITAS DE COMPOSIÇÃO Si/Al EM MEIO BÁSICO – MÉTODO IZA Nesta parte do trabalho será discutida a influência do direcionador de estrutura utilizado (1,8-diaminoctano ou cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio) na síntese proposta pela IZA para a zeólita ZSM-22. Ambas as sínteses foram realizadas utilizando uma razão Si/Al de 45. Na ausência de direcionador de estrutura, nenhum produto zeolítico foi obtido. Na Figura 5.23 está presente os difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na síntese utilizando o 1,8-diaminoctano como agente direcionador de estrutura, tanto em agitação como em estático. Figura 5.23. Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas utilizando o 1,8- Intensidade (u.a.) diaminoctano como agente direcionador de estrutura. TIZA1Ec TIZA2Ec TIZA3Ec 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Intensidade (u.a.) 2 TIZA1Ac TIZA2Ac TIZA3Ac 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 É possível observar pelos difratogramas da Figura 5.23, que existe diferença entre os dois meios de cristalização (agitação e estático) na formação das zeólitas. Utilizando agitação, em dois dias é possível observar a presença de reflexões relativas à estrutura zeolítica TON, sem a presença de fases concorrentes. Na síntese em estático, somente ao terceiro dia de síntese é possível verificar a presença de reflexões indexáveis. Na metodologia proposta pela IZA para esta zeólita é relatado que em condições estáticas a fase MEL pode ser cristalizada como fase concorrente. Os dados de cristalinidade relativa das amostras estão na Tabela 5.4. A cristalinidade calculada para a amostra TIZA3Ac foi de 100 %, a qual foi tomada como padrão para esta série. 80 Christian Wittee Lopes Tabela 5.4. Valores em porcentagem de cristalinidade relativa das amostras sintetizadas com o 1,8-diaminoctano. Amostra TIZA1Ec TIZA2Ec TIZA3Ec TIZA1Ac TIZA2Ac TIZA3Ac Cristalinidade (%) Amorfo Amorfo Não calculadoa Amorfo 96% 100% a = silicato de potássio A partir dos valores de cristalinidade relativa apresentados na Tabela 5.4 é possível observar que na síntese em agitação, as cristalinidades das amostras obtidas em 2 e 3 dias são quase idênticas, não demonstrando uma mudança de cristalinidade em função do aumento de somente 1 dia. As cristalinidades relativas das amostras obtidas em estático não serão discutidas devido ao caráter amorfo dos materiais. A análise termogravimétrica da amostra TIZA3A, representada na Figura 5.24, mostra inicialmente uma perda de massa referente à desidratação da amostra, com três eventos posteriores referentes à decomposição do agente direcionador de estrutura (150 a 550 oC) e em seguida ocorre a desidroxilação da zeólita a temperaturas elevadas (>500 o C). A porcentagem de material orgânico calculado pela DTG foi de aproximadamente 6,7 %. Figura 5.24. Análise termogravimétrica da amostra TIZA3A. 0,00 100 -0,02 -0,04 96 H2O -0,06 Óxidos 94 -0,08 92 -0,10 Orgânico 0 100 200 300 400 500 600 o Temperatura ( C) 700 800 900 dM/dT Massa (%) 98 81 Christian Wittee Lopes A síntese utilizando o [C4MI]Cl e empregando a etapa de envelhecimento não resultou em produtos zeolíticos. Por essa razão a etapa de envelhecimento foi retirada e os resultados estão apresentados na Figura 5.25. Figura 5.25. Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas utilizando o [C4MI]Cl como Intensidade (u.a.) agente direcionador de estrutura. TLI7Ec TLI3Ec TLI2Ec TLI1Ec 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Intensidade (u.a.) 2 TLI3Ac TLI2Ac TLI1Ac 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 Pelos difratogramas de raios X da Figura 5.25 é possível observar um comportamento diferente na cristalização das zeólitas em comparação com a síntese empregando o 1,8-diaminoctano. Em estático, ao segundo dia de síntese é possível visualizar a presença de reflexões referentes à fase TON, as quais se mantêm até o sétimo dia de síntese sem o aparecimento de outras reflexões referentes a outras fases. Quando a agitação do sistema é empregada, em um dia de síntese a fase TON já é obtida. Tais resultados mostram que quando o [C4MI]Cl é empregado como direcionador de estrutura, a fase TON cristaliza mais rapidamente, tanto em agitação como em estático e sem a etapa de envelhecimento prévio do gel de síntese. Porém, na metodologia proposta pela IZA é posto em dúvida se a etapa de envelhecimento é realmente benéfica. Os dados de cristalinidades relativas das amostras sintetizadas com o [C4MI]Cl estão apresentados na Figura 5.26. A cristalinidade calculada para a amostra TLI2Ac foi de 100%, a qual foi tomada como padrão para esta série. Pelos dados de 82 Christian Wittee Lopes cristalinidades relativas, é possível observar a influência da agitação na cristalização das zeólitas. Em agitação, no primeiro dia de síntese já se tem um material com 98 % de cristalinidade. Já em estático, no sétimo dia de síntese o material apresenta cristalinidade de 73 %, valor abaixo de todas as mostras obtidas em agitação. Figura 5.26. Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas pelo método comparativo. 100 90 Cristalinidade relativa (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 Agitação Estático 0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo (dias) Para verificar a integridade da molécula do [C4MI]Cl ocluído na zeólita, a análise de RMN de carbono no estado sólido foi realizada e está representada na Figura 5.27. Figura 5.27. Espectros de 13C RMN da amostra TLI3A (acima) e do [C4MI]Cl (abaixo). TLI3A CDCl3 [C4MI]Cl 200 180 160 140 120 100 13 C, ppm 80 60 40 20 0 83 Christian Wittee Lopes A amostra analisada foi a TLI3A (não calcinada) e foi utilizado o espectro de RMN de carbono do [C4MI]Cl para fins de comparação dos sinais. Através do espectro da amostra TLI3A, em comparação com o espectro do [C4MI]Cl é possível verificar a presença dos sinais característicos do cátion em estudo, indicando uma manutenção na estrutura da molécula, como já visto na síntese de composição Si/Ti igual a 25 discutida acima. Para verificar os eventos relativos à perda de massa em função da temperatura da amostra TLI3A, uma análise termogravimétrica foi realizada (Figura 5.28). Observa-se inicialmente uma perda de massa referente à desidratação da amostra (até 200 oC), com três eventos posteriores referentes a decomposição do agente direcionador de estrutura (250 a 550 oC) e em seguida, em temperaturas mais elevadas, ocorre a desidroxilação da zeólita e perda de orgânico ocluído em partes do cristal unidas por defeitos de stacking. (>600 o C). A porcentagem de material orgânico calculado pela DTG foi de aproximadamente 8 %. 100 0,00 98 -0,01 96 -0,02 H2O 94 -0,03 Orgânico/Óxidos dM/dT Massa (%) Figura 5.28. Análise termogravimétrica da amostra TLI3Ac. -0,04 92 90 -0,05 Orgânico 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 o Temperatura ( C) Com a finalidade de verificar as morfologias dos cristais zeolíticos obtidos pela metodologia da IZA, utilizando os diferentes direcionadores de estrutura, imagens de microscopia eletrônica de varredura foram realizadas e estão presentes na Figura 5.29. 84 Christian Wittee Lopes Através das imagens, é possível observar que os cristais zeolíticos possuem a morfologia de agulhas, característico da fase zeolítica obtida59, e são levemente maiores que 1 μm, independente da molécula orgânica utilizada na cristalização. Figura 5.29. Microscopia eletrônica de varredura das amostras TIZA3Ac (acima) e TLI3Ac (abaixo): (a) 1000x, (b) 5000x, (c) 5000x, (d) 10000x. (a) (b) (c) (d) 5.5 SÍNTESE DAS ZEÓLITAS DE COMPOSIÇÃO Si/Al EM MEIO BÁSICO – MÉTODO COMPARATIVO Esta síntese foi realizada a fins de comparação ao método proposto pela IZA para zeólitas Al-TON. A metodologia utilizada foi a mesma para as sínteses de zeólitas de composição Si/Ti em meio básico, porém alterando o heteroátomo (Ti por Al). As diferenças entre esta síntese e a síntese proposta pela IZA são a fonte de Si (mudança de Ludox para Aerosil), fonte de alumínio (mudança de sulfato de alumínio para aluminato de sódio) e agente mineralizante (KOH para NaOH). Os difratogramas dos produtos obtidos estão expostos na Figura 5.30. 85 Christian Wittee Lopes É possível notar que o modo de cristalização (agitação ou estático) influi na fase zeolítica obtida. Para as zeólitas obtidas em estático, a fase MFI é obtida e para as zeólitas obtidas em agitação é obtida a fase TON. Com esta mesma composição do gel de síntese, utilizando o cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio como agente direcionador de estrutura, Mignoni3 obteve a fase MFI a 180 oC. É possível que o 1-butil-3metilimidazólio possa estar se acomodando de diferentes formas nos diferentes modos de síntese, gerando duas fases zeolíticas diferentes. Trabalhando em meio F-, Rojas28 verificou que utilizando um determinado cátion imidazólio, a fase MFI era metaestável a fase TON. Baseado nisso, outra possível explicação é que em estático a cristalização ocorra mais lentamente e a fase menos estável (MFI) cristalize, sendo possível a cristalização da fase TON em tempos maiores. Já em agitação, a cristalização ocorre mais rapidamente e a fase mais estável (TON) cristalize. Intensidade (u.a.) Figura 5.30. Difratogramas de raios X das amostras obtidas no método comparativo. 50SA7Ac 50SA3Ac 50SA1Ac 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Intensidade (u.a.) 2 50SA7Ec 50SA3Ec 50SA1Ec 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 As cristalinidades relativas das amostras sintetizadas nesta série estão expostas na Figura 5.31. A amostra 50SA7Ac foi tomada como padrão para as zeólitas de estrutura TON e a amostra 50SA3Ec foi tomada como padrão para a estrutura MFI. As amostras obtidas no primeiro dia de síntese, apesar de apresentarem pequenas reflexões relativas as respectivas fases TON e MFI, foram contabilizadas como 0% de 86 Christian Wittee Lopes cristalinidade devido a dificuldade de obter as áreas necessárias para o cálculo. Nota-se que do terceiro dia de síntese ao sétimo, não ocorrem mudanças significativas de cristalinidade relativa tanto para as amostras obtidas em estático, como as obtidas em agitação. Figura 5.31. Cristalinidades relativas das amostras obtidas no método comparativo. 110 100 90 Cristalinidade relativa (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 Agitação Estático 0 -10 1 2 3 4 5 6 7 Tempo (dias) Para obter dados sobre a morfologia dos cristais das zeólitas sintetizadas, imagens de microscopia eletrônica de varredura foram realizadas e estão presentes na Figura 5.32. Na Figura 5.32a visualiza-se um aglomerado de cristais zeolíticos em forma de agulhas, morfologia já obtida para as zeólitas TON sintetizadas pelo método da IZA. Já na Figura 5.32b, a imagem é relativa à zeólita MFI, onde é possível observar materiais com morfologia de microesferas regulares e uniformes, com diâmetros entre 10 e 15 μm. A zeólita ZSM-5 com a mesma morfologia (microesferas) já foi sintetizada por Mignoni3, com microesferas de 35 μm de diâmetro. O mesmo autor ainda relata que com uma maior ampliação é possível visualizar que as esferas são formadas por aglomerados de prismas hexagonais (característicos da fase MFI), porém no nosso caso, devido a limitações instrumentais não foi possível captar imagens com maior ampliação. 87 Christian Wittee Lopes Figura 5.32. Microscopia eletrônica de varredura das amostras: (a) 50SA3Ac (5000x) e (b) 50SA3Ec (1000x). (a) (b) 5.6 COMPARAÇÃO DAS CRISTALINIDADES RELATIVAS DAS ZEÓLITAS OBTIDAS EM TODAS AS COMPOSIÇÕES DE MEIO BÁSICO Na Tabela 5.5 observa-se a cristalinidade de todos os materiais por série, tomando como mais cristalina uma amostra de cada série e fazendo uma comparação de todas as amostras, tomando para a fase TON a amostra TIZA3Ac como mais cristalina e para a fase MFI a amostra 50SA3Ec como mais cristalina. Observa-se que ao aumentar a razão Si/Ti obtêm-se materiais mais cristalinos, o que é coerente uma vez que as amostras são mais silícicas e materiais com maiores teores de titânio tiveram mais titânio extra-rede. Quando se compara a síntese com Al tradicional (método IZA) com o método empregando liquido iônico, percebe-se que o liquido iônico promove a cristalização em estático (o que não ocorria com o 1,8-diaminoctano), porém com cristalinidades abaixo das amostras obtidas em agitação, empregando tanto o 1,8diaminoctano como o 1-butil-3-metilimidazólio. Empregando as condições usadas para as amostras Ti-TON, entretanto usando o Al como heteroátomo (método comparativo), observa-se a formação da fase TON e MFI. Este resultado, como resultados anteriores obtidos por Mignoni3 empregando este liquido iônico com composições de Si e Al indicam que pequenas variações de composições e parâmetros de síntese quando se empregam o 1-butil-3-metilimidazólio e Al podem levar a diferentes estruturas tais como, MFI, ZSM-35, Beta e etc. 88 Christian Wittee Lopes Tabela 5.5. Dados de cristalinidade das amostras dentro da própria série e entre todas as amostras. Amostra Si/Ti = 25 1 dia – Agitação 3 dias – Agitação 7 dias – Agitação 1 dia – Estático 3 dias – Estático 7 dias – Estático Si/Ti = 50 1 dia – Agitação 3 dias – Agitação 7 dias – Agitação 1 dia – Estático 3 dias – Estático 7 dias – Estático Si/Ti = 100 1 dia – Agitação 3 dias – Agitação 7 dias – Agitação 1 dia – Estático 3 dias – Estático 7 dias – Estático TIZA 1 dia – Agitação 2 dias – Agitação 3 dias – Agitação 1 dia – Estático 2 dias – Estático 3 dias – Estático TLI 1 dia – Agitação 2 dias – Agitação 3 dias – Agitação 1 dia – Estático 2 dias – Estático 3 dias – Estático 7 dias - Estático Método comparativo 1 dia – Agitação 3 dias – Agitação 7 dias – Agitação 1 dia – Estático 3 dias – Estático 7 dias – Estático Somatório da integração dos picos % Dentro da própria série %Total 669 716 706 727 678 580 92 98 97 100 93 80 78 83 82 84 79 67 779 742 771 758 768 769 100 95 98 97 98 98 90 86 90 88 89 89 801 780 438 778 774 764 100 97 54 97 96 95 93 91 51 90 90 89 Amorfo 829 857 Amorfo Amorfo Amorfo Amorfo 96 100 Amorfo Amorfo Amorfo Amorfo 96 100 Amorfo Amorfo Amorfo 816 829 820 Amorfo 327 580 607 98 100 99 Amorfo 39 70 73 95 96 95 Amorfo 38 67 70 Amorfo 804 815 Amorfo 665 644 Amorfo 98 100 Amorfo 100 96 Amorfo 93 95 Amorfo 100 96 89 Christian Wittee Lopes 5.7 SÍNTESE EM MEIO FLUORÍDRICO DAS ZEÓLITAS PURAMENTE SILÍCICAS Nesta parte do texto será relatada a síntese das zeólitas puramente silícicas obtidas via meio fluorídrico utilizando o cátion 1-butil-3-metilimidazólio na forma de hidróxido. A partir dos difratogramas da Figura 5.33 é possível observar as reflexões características da estrutura TON, fase predominantemente obtida com o cátion em estudo. A razão H2O/SiO2 utilizada para esta síntese (H2O/SiO2 = 14), foi escolhida mediante trabalho da literatura117 para obter a estrutura TON, o que de fato acontece. A fase TON possui uma densidade de rede igual a 19,7 átomos T por 1000 Å3, sendo uma das fases mais densas (menos porosas) entre as fases presentes na classificação da IZA9. Nada impede que, ao diminuir a razão H2O/SiO2, uma fase mais porosa seja cristalizada, vide Regra de Villaescusa6. Figura 5.33. Difratogramas de raios X das zeólitas puramente silícicas obtidas em meio Intensidade (u.a.) fluorídrico utilizando o [C4MI]Cl como agente direcionador de estrutura. FPS13E FPS5E FPS4E 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 Para verificar a morfologia dos cristais zeolíticos, imagens de microscopia eletrônica de varredura foram realizadas e estão presentes na Figura 5.34. É possível notar cristais com morfologia regular em forma de rods (bastões/varetas), característica da fase TON, com comprimento dos cristais maior >30μm. 90 Christian Wittee Lopes Figura 5.34. Microscopia eletrônica de varredura da amostra FPS13E: (a) 1000x (b) 3000x. (a) (b) 5.8 SÍNTESE EM MEIO FLUORÍDRICO DAS ZEÓLITAS DE COMPOSIÇÃO Si/Ti A série de sínteses relatada a seguir foi realizada com o intuito de inserir titânio na rede zeolítica de estruturas TON, visto que é possível sintetizar tal estrutura puramente silícica por essa rota (meio F-). As sínteses com suas respectivas mudanças e condições foram relatadas na seção de Materiais e Métodos como experimento 1, 2, 3, 4 e 5. A zeólita Ti-TON foi sintetizada via meio básico neste trabalho, porém com uma quantidade de titânio extra-rede considerável devido a fonte de Ti utilizada. Um dos motivos escolhidos para inserção de Ti na zeólita TON por essa via (meio F-) é que o ácido fluorídrico é conhecido por mineralizar o TiO271, e possivelmente não ocorreria a formação de óxido de titânio extra-rede. Além disso, em alguns trabalhos os pesquisadores adicionam peróxido de hidrogênio ao gel de síntese, o qual reage com a fonte de titânio formando peroxotitanatos76,80, os quais evitam a formação de titânio extra-rede. No experimento 1, o qual foi utilizado a mesma razão H2O/SiO2 que na síntese das zeólitas TON puramente silícicas (via meio F-), até o décimo quinto dia de síntese em estático, nenhum material zeolítico foi cristalizado. Baseado nos resultados do experimento 1, no experimento 2 foram adicionadas sementes recém sintetizadas da zeólita TON puramente silícica (sintetizada via meio F-). A razão H2O/SiO2 utilizada foi 17, devido a adição do peróxido de hidrogênio durante a formação do gel de síntese, o qual se tornou uma “pasta”, o que impossibilitou a 91 Christian Wittee Lopes evaporação da água até a razão desejada (que seria 14). Ao início pensava-se que a presença do peróxido de hidrogênio (utilizado para evitar a formação de anatase) e das sementes ia favorecer a cristalização da Ti-TON, porém não foi o observado, visto que nenhum produto zeolítico foi obtido e somente uma reflexão no difratograma de raios X é notada (provavelmente relativa à semente). O experimento 3 foi realizado com uma razão Si/Ti igual a 70 e presença de peróxido de hidrogênio, o qual foi adicionado durante a formação do gel de síntese, fazendo com que ocorresse a formação de uma pasta e impedindo a evaporação da água até a razão desejada (H2O/SiO2 = 14). Neste procedimento de síntese, nenhum produto zeolítico foi obtido. No experimento 4, foi mantida a razão Si/Ti igual a 50 (como no experimento 1), foi adicionado peróxido de hidrogênio e a razão H2O/SiO2 foi diminuída para 7. Com a diminuição da razão H2O/SiO2, ocorreu a formação da zeólita TS-1, de estrutura MFI (já sintetizada com este cátion), cujo difratograma de raios X está presente na Figura 5.35. Figura 5.35. Difratograma de raios X da amostra obtida no experimento 4. 2500 Experimento 4 - 18 dias H2O2 Intensidade (u.a.) 2000 1500 1000 500 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 A cristalização de uma estrutura ou de outra com a mudança na razão H2O/SiO2 está também relacionada a estrutura da molécula do agente direcionador de estrutura. Moléculas que possam se acomodar de diferentes maneiras podem levar a diferentes 92 Christian Wittee Lopes estruturas. O cátion 1-butil-3-metilimidazólio possui centros de rotação N-C-C e C-C-C na sua cadeia lateral e pode ter inúmeras conformações. Rojas28, utilizando cátions bis(metilimidazólio) em razões H2O/SiO2 próximas a 7 obteve estruturas TON, o que mostra que não somente a razão H2O/SiO2 influencia, como também a estrutura da molécula. A morfologia da TS-1 obtida no experimento 4 está apresentada na Figura 5.36. Figura 5.36. Microscopia eletrônica de varredura da amostra obtida em 18 dias, no experimento 4: (a) 1000x (b) 3000x. (a) (b) É possível observar na Figura 5.35 cristais aglomerados de maneira peculiar, em forma de “flocos de neve”, porém como não foi possível realizar a análise com uma maior aproximação, é difícil dizer se os cristais possuem morfologia característica da estrutura MFI. No experimento 5, onde foi retirado o peróxido de hidrogênio do gel de síntese e mantidos os outros parâmetros do experimento 4, a mesma zeólita é obtida, em todos os tempos de síntese. A importância ou não do peróxido de hidrogênio só pode ser discutida mediante análise de DRS, onde a coordenação do titânio é verificada. Do ponto de vista da aplicabilidade das zeólitas obtidas neste trabalho, as zeólitas de composição Si/Ti com titânio extra-rede possam ser aplicadas em reações de fotocatálise, já que a anatase é ativa para tal reação. As zeólitas com alumínio podem ser aplicadas em reações de catálise ácida. E a TS-1 obtida via meio fluorídrico é um catalisador muito difundido para reações de catálise redox. 93 Christian Wittee Lopes 6 - CONCLUSÕES Neste trabalho foram obtidos materiais zeolíticos de diferentes composições (Si/Ti, Si/Al e puramente silícicas) empregando o cátion 1-butil-3-metilimidazólio como agente direcionador de estrutura, tanto em meio básico como em meio fluorídrico. Apesar da cristalização predominante da fase TON, a fase MFI também é obtida com variação de algumas condições de síntese. A zeólita Ti-TON obtida em meio básico neste trabalho, ao nosso conhecimento, não havia sido relatada na literatura até então com nenhum direcionador de estrutura, inclusive os imidazólios. Verificou-se que independente da quantidade de TiO2 no gel de síntese, todos os materiais apresentaram titânio extra-rede, devido a difícil solubilização da fonte de titânio utilizada, mesmo em condições básicas e hidrotermais. A partir do estado da água-mãe e de dados da literatura, foi sugerido que o cátion imidazólio não incorporado na zeólita se degrada via decomposição de Hoffmann. Tais observações são válidas para todas as sínteses que utilizaram o cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio. Pode-se verificar que o cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio quando utilizado como direcionador de estrutura na síntese proposta pela IZA para zeólitas TON, teve influência positiva no tempo de cristalização da fase quando comparado ao direcionador de estrutura comumente utilizado. A fase Al-TON também foi sintetizada empregando um método comparativo ao proposto pela IZA. Através dos espectros de RMN de 13 C no estado sólido foi verificado que o cátion 1–butil-3-metilimidazólio se apresenta intacto dentro dos poros das zeólitas. Esforços foram realizados com a finalidade de sintetizar uma zeólita Ti-TON sem titânio na forma extra-rede via meio fluorídrico e somente a zeólita TS-1 (MFI) foi obtida. Acredita-se que de todas as condições empregadas, o modo estático utilizado tenha sido o responsável da não obtenção da Ti-TON, visto que na literatura a maioria dos catalisadores zeolíticos de titânio são obtidos em agitação. 94 Christian Wittee Lopes 7- REFERÊNCIAS 1. Mascarenhas, A.J.S.; Oliveira, E.C.; Pastore, H.O.; Peneiras Moleculares: Selecionando as moléculas por seu tamanho. Química Nova na Escola, Caderno Temático nº 2 – Novos Materiais, 25-34, 2001. 2. Baerlocher, C.; McCusker, L.B.; Olson, D.H.; Atlas of Zeolite Framework Types. 6 ed., Elsevier, Amsterdam, 2007. 3. 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