Apontamentos da história da Escola
Texto elaborado para o Projeto Educativo de Escola, com base na documentação, escrita e gravada, recolhida desde
2006 ( com vista à edição de um livro no ano lectivo 2014/15), nas seguintes fontes: imprensa local, regional e nacional,
dossiers e actas do Arquivo Histórico da Câmara Municipal do Seixal, arquivos do Ministério da Educação, arquivos da
nossa escola e da Escola Secundária Emídio Navarro de Almada e testemunhos de antigos alunos, funcionários, professores e direções, incluindo o primeiro diretor e a primeira contínua.
A criação da nossa escola deve-se à persistência de uma forte vontade local que encontramos
refletida, desde finais dos anos 50, na imprensa, nas atas da Câmara Municipal do Seixal e do Conselho Municipal, num abaixo-assinado e em testemunhos pessoais.
O desenvolvimento industrial, que já era considerável, pedia mão-de-obra qualificada, num
tempo em que apenas as crianças com capacidade económica podiam deslocar-se diariamente às escolas de ensino pós-primário em Almada, Setúbal ou Barreiro.
E foi a própria Câmara Municipal que veio a tomar a decisão, na sessão de 1 de Setembro de
1960, de criar “um estabelecimento de ensino secundário municipal de caráter técnico, atendendo à
extrema necessidade da existência de um estabelecimento deste género neste conselho”, com a intenção de que as aulas começassem ainda nesse ano letivo.
À procura de casa
Não se tratando de uma iniciativa do governo, que até então construía os grandes e sólidos
edifícios escolares que conhecemos, teve o Município que responsabilizar-se pelas necessárias condições físicas.
Inicialmente a escola esteve para ser instalada na antiga Fábrica de Conservas de Sardinha do
Seixal, tendo chegado a ser publicado o aviso de concurso público para adjudicação das obras de
adaptação.
Mas esta solução vem a ser abandonada, decidindo a CMS assumir a construção de um edifício novo em terrenos prometidos gratuitamente ao Município para este fim. Para instalação provisória da Escola, a empresa Mundet & Companhia, Lda disponibiliza a Casa de Infância da sua fábrica
no Seixal, tendo sido feito também um projeto de adaptação e ampliação.
Porém, esta solução vem a ser inviabilizada pela própria Mundet por ter decidido transferir de
Lisboa para aquele edifício os seus escritórios centrais.
Em contrapartida, a D. Paula Mundet cedeu a Creche da fábrica da Amora, entretanto encerrada.
Foi neste edifício que a Escola veio finalmente a abrir, no dia 11 de Novembro de 1964,
com 245 alunos (142 rapazes e 103 raparigas) dos
dois anos do ciclo preparatório.
E desde o começo ganhou marcas no seu
ADN: o ambiente de solidariedade e familiaridade, a dinâmica e inovação pedagógica (com o seu
diretor profundamente implicado), que têm reconhecimento e visibilidade, por exemplo, na participação em várias emissões do programa TV Educativa (apenas com três meses de aulas) ou no testemunho de uma mãe numa carta ao jornal “Tribuna do Povo” de 16.7.67: “…os garotos têm encontrado a
maior assistência, o maior carinho e compreensão …o diretor preocupa-se com os problemas dos seus alunos, como por
exemplo: arranjar maneira de terem desconto nas camionetas, de fornecer em 2 e 3 prestações os livros necessários,
chegar a emprestar uma pequena quantia no caso de não terem na altura …as crianças sentem-se ali como na sua própria casa … É que o ambiente faz o homem…”
Nascimento, crescimento…
E aí ficou instalada enquanto decorriam as obras, em terreno cedido pela empresa construtora
A. Silva & Silva no Bairro das Cavaquinhas, da construção da sua casa própria em pavilhões prefabricados (que duraram até serem demolidos em 2004).
O tão aguardado acontecimento
deu-se no dia 26 de Abril de
1965. A Escola já tinha “poiso”
certo… e muito espaço ao lado
para crescer.
Estas instalações iniciais foram desde cedo, nos anos de 1966/68, sucessivamente acrescentadas, destacando-se os pavilhões oficinais, sempre a expensas do município e com o apoio de “Os
Silvas”, para garantir a oferta dos cursos industriais e comerciais que a comunidade local reivindicava.
Em 1968, em virtude da reforma
que criou o Ciclo Preparatório do Ensino
Secundário, a Escola divide-se em duas:
a Escola Preparatória Paulo da Gama, que
fica instalada nos pavilhões iniciais, e a
nossa Escola que, continuando com os ciclos seguintes das escolas técnicas, fica
com as restantes instalações, acabadas de
construir, às quais serão acrescentados pavilhões prefabricados para aulas normais.
… e “formação da personalidade”
Inicialmente criada por iniciativa municipal, a Escola acabou por surgir como secção da Escola Industrial e Comercial Emídio Navarro, de Almada, de acordo com o estipulado no Decreto
n.º 45980 de 20 de Outubro de 1964. Mas na fachada do seu modesto edifício ficou marcada a inscrição ESCOLA TÉCNICA DO SEIXAL. Em toda a região, “a nossa Escola Técnica” ficou sempre
conhecida (e continua a ser) como Escola das Cavaquinhas.
Em 1969, a Escola autonomizase, passando a ser, oficialmente, a Escola Industrial e Comercial do Seixal.
Na sequência da unificação do
ensino secundário, a Escola Industrial e
Comercial do Seixal dá lugar à Escola
Secundária do Seixal. Esta nova realiO pátio (até 2003) - o espaço social, o coração da
dade não impediu que a escola mantivida da escola, onde estava tudo e todos interagiam.
vesse, ao nível curricular, a sua identidade,
continuando a oferta de cursos industriais e comerciais (mecânica, eletricidade, secretariado) e, simultaneamente, se abrisse às áreas artísticas e da comunicação.
Finalmente, em 1993, a escola, em homenagem ao professor-poeta-cantor e resistente antifascista, adotou a designação de Escola Secundária Dr. José Afonso. A resposta positiva do Ministério
da Educação ao nome proposto pela escola em 1991, com o acordo da Câmara Municipal do Seixal,
demorou dois anos a chegar. Foi neste período que a CMS, antecipando-se à decisão do ME, atribuiu
à rua o nome de Avenida José Afonso (até então Rua da Escola Técnica).
A História desafia o Presente
Atualmente, a escola continua instalada no seu “chão” original, diríamos histórico – o Bairro
das Cavaquinhas. Em 2004 foi dotada de edifícios novos e de pavilhão gimnodesportivo, após muitos
anos de lutas contra condições provisórias e degradadas.
Apesar das condições físicas, gerações de alunos, professores e funcionários, construíram sonhos, viveram experiências educativas e humanas ímpares, criaram projetos e dinâmicas internas e
de relação com o meio que têm merecido o reconhecimento - e por vezes o “prémio” a nível nacional. Realidade que, ainda hoje, constitui uma marca de identidade desta comunidade educativa.
Pela “Escola das Cavaquinhas” passaram milhares de jovens e de adultos para quem ela ficou
como uma referência e a ela se sentem ligados pelo reconhecimento e pela emoção, como frequentemente explicitam, inclusivé nas redes sociais onde existem vários grupos de antigos alunos.*
Passou a fase do «Feia por fora/Bonita por dentro», na expressão consagrada pelo seu jornal
Nova Maré.
Guardemos a memória do que fomos e descubramos o que de melhor ela nos inspira. Ficanos a responsabilidade de continuarmos a construí-la por dentro em cada gesto, quer na sala de aula,
quer em todo o espaço educativo. A cidadania e o relacionamento humano bem sucedido entre os diversos atores educativos continuarão a ser condição para todos os outros sucessos.
Faixa já colocada na fachada da escola
* Grupos do facebook escola das cavaquinhas
Facebook do cinquentenário da José Afonso https://www.facebook.com/joseafonsocavaquinhas50
Blogue da biblioteca http://bibliozeca.blogspot.pt/
Site da escola http://esjoseafonso.com/wp/
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Breve história da Escola - Escola Secundária Dr. José Afonso