Origem e formação da Língua Portuguesa
2010/11
Origem e formação da Língua Portuguesa
2010/11
O HOMEM, SER COMUNICATIVO E SOCIAL
•
A linguagem é uma das características maiores do homem.
•
Desde a pré-história que a necessidade de comunicação se fazia
presente.
•
Antes da línguagem oral, o homem desenvolveu outras linguagens como
gestos, sinais e símbolos pictóricos, amuletos, tudo isto profundamente
relacionado com o mítico (deus).
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A LINGUAGEM VERBAL
•
Acredita-se que as primeiras articulações de sons produzidos pelo nosso
aparelho fonador com significados distintos para cada ruído,
convencionados em código, foram celebradas na Língua Indo-europeia,
numa região incerta da Europa oriental, a 3000 a.C.
•
A partir de então, o Indo-europeu foi levado a diversas regiões, desde o
Oriente Próximo até a Grã-Bretanha.
•
Justamente pela grande propagação dessa língua em territórios tão
distantes, o Indo-europeu evolui na forma de diversas novas línguas, como
o grego, o eslavo e o itálico.
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DO INDO-EUROPEU, PASSANDO PELO ITÁLICO,
ATÉ O LATIM
•
A Língua Latina surgiu na região do Lácio (da Itália ao sul do Rio Tibre) ,
por volta do século VII a.C., dois milénios depois do Indo-europeu.
•
A capital do Lácio era Roma, a mesma do futuro Império Romano.
O LATIM E O IMPÉRIO ROMANO
•
Apropriando-se da língua utilizada pelos povos itálicos (fundadores de
Roma) que ainda sofriam invasões bárbaras, os romanos tornaram o Latim
a língua oficial do Império.
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Esta era a área dominada
pelo Império Romano em
116 d.C., bem no seu
auge.
Como aconteceu ao Indo-europeu, o Latim não pôde permanecer o mesmo em
tão diferentes lugares e tão longínquas regiões e assim foi sofrendo
alterações, devido, sobretudo, a factores locais (cultura, folclore, invasões) ,
até se fragmentar.
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LATIM VULGAR, UM USO “CLANDESTINO”
(VII A.C. – IX D.C)
•
Ainda no Império Romano, as pessoas eram obrigadas a falar Latim,
mesmo não sendo sua língua local.
•
Os romanos conquistaram a Península Ibérica em 218 a.C. A partir de
então, o Latim falado na Galícia e na Lusitânia (províncias ibéricas)
adquiriu traços peculiares próprios da Península. Essa época é
chamada pré-histórica porque não há documentos escritos:
lembrem-se, o Latim Vulgar era apenas falado, mas oficialmente (nos
documentos e registos escritos) só se podia usar o Latim Canónico.
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•O povo queria usar a língua de uma maneira mais próxima de suas
tradições culturais, na pronúncia e na escolha das palavras, na
organização e na sintaxe da frase. Por isso, em todas as situações
domésticas, não se usava outra variante senão a do Latim Vulgar, e
Vulgar porque era do povo.
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“PRIMEIRAS LETRAS” DO LATIM VULGAR
(IX D.C. – XII D.C.)
•
No século IX, começa a escritura dos primeiros documentos em Latim
“bárbaro”, ou seja, com traços de uma nova língua que se anunciava entre
o povo. Dessa forma, trata-se de registos de pequena importância na
hierarquia de poder (testamentos, contratos, documentos jurídicos de
pequena monta).
•
Note-se que esses documentos de cartórios faziam parte da vida privada
do povo, que dava a mão-de-obra para as instituições de baixo escalão.
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O LATIM JÁ ESTÁ TÃO VULGAR QUE JÁ NÃO É MAIS LATIM:
É O GALEGO-PORTUGUÊS
(ÚLTIMAS DÉCADAS DO SÉCULO XII AO XIV)
•
A partir do final do século XII (1150-1200) , na Península Ibérica já não se
fala o Latim, nem mesmo o latim Vulgar. As características do Latim não se
identificavam com a vida e o pensamento do povo.
•
O latim torna-se, aos poucos, língua morta, e cada vez mais se usa o
Galego-português, uma evolução do Latim totalmente de acordo com o
que o povo queria, pois que o Latim tinha sido uma língua imposta pelos
romanos as povos ibéricos.
Fonte: Oficina Literária Ivan Cavalcanti Proença
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A primeira poesia escrita em Galego-português,
“Ca moiro por vós”, de Paio Soares de Taveirós,
conhecida como “Canção da Ribeirinha”,
concorre como primeiro texto escrito nessa
moderna língua galaico-portuguesa, por ser do
final do século XII (1189?)
Origem e formação da Língua Portuguesa
No mundo nom me sei parelha,
Mentre me vai
Ca moiro por vós, e ai
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraia
Quando vos vi em saia?
Mau dia me levantei
Que vos enton non vi feia.
E, ma senhor, dês aquel’ dia,
ai,Me foi a mi mui mal.
E vós, filha de Dom Pai
Muniz, bem vos semelha
D’aver eu por vós g (u) arvaia
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
valia d’huma correia.
Fonte: Oficina Literária
Ivan Cavalcanti Proença
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No mundo não sei de coisa igual
Se continuar do jeito que vai
Porque morro por vós, e ai
Minha senhora, de branco e
vermelho
Quereis que vos envergonhe
Quando vos vir de pijama?
Maldito dia me levantei
Para então não mais te ver feia.
E, minha senhora, desde aquele dia,
ai,
Me tem sido a mim muito ruim.
E vós, filha de Dom Paio
Muniz, vos parece correto
De eu ter por vós sentimento
Pois eu, minha senhora, em troca
Nunca de vós tive, nem tenho,
Valor sequer de uma correia.
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• Nesse período, a língua de Portugal e da Galícia era a mesma. A
separação dos idiomas português e galego dá-se somente no
século XIV .
• Na passagem do século XIII ao XIV, o principal poeta foi D. Dinis,
rei de Portugal. Ele escreveu muitos versos trovadorescos que
marcaram a história do Trovadorismo Português, sob forma de
cantiga d’amor (de voz masculina dirigida à amada) ou d’amigo (de
voz feminina dirigida a uma confidente).
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Aqui temos um exemplo de uma cantiga de amor.
POEMA DE D. DINIS (1261-1325)
Preguntar-vos quero por Deus,
Senhor fremosa, que vos fez
mesurada e de bom grado e de bom
prez,
que pecados foron os meus
que nunca tevestes por ben
De nunca mi fazerdes ben.
Des que vos vi, sempr’ o mayor
bem que vos podia querer
vos quigi, a todo meu poder,
e pero quis Nstro Senhor
que nunca tevestes por ben
De nunca mi fazerdes ben.
Pero sempre vos soub’amar,
des aquel dia que vos vi,
mays que os meus olhos em mi,
e assy o que quis Deus guisar,
que nunca tevestes por ben
De nunca mi fazerdes ben.
Mays, senhor, ainda com ben
Se cobraria bem por bem.
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A LÍNGUA PORTUGUESA NO SÉCULO XV
• A partir do século XIV, o Galego-português é cada vez mais
substituído pelos dialectos regionais da Lusitânia e da Galícia, até
que o Português se dissocia do Galego.
• Vejamos como este fragmento de uma crónica de Fernão Lopes
(1380?-1460?) marca bem esse período em que os traços do
Português já se evidenciam.
• Os anos entre 1425 e 1450 parecem ter assistido às
transformações mais acentuadas.
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Extracto da CRÓNICA DE FERNÃO LOPES
“Razoões desvairadas, que alguuns fallavam sobre o casamento delRei Dom
Fernamdo Quamdo foi sabudo pello reino, como elRei reçebera de praça Dona
Lionor por sua molher, e lhe beijarom a maão todos por Rainha, foi o poboo de
tal feito mui maravilhado, muito mais que da primeira; por que ante desto nom
enbargando que o alguuns sospeitassem, por o gramde e honrroso geito que
viiam a elRei teer com ella, nom eram porem çertos se era sua molher ou nom;
e muitos duvidamdo, cuidavom que se emfa daria elRei della, e que depois
casaria segundo perteemçia a seu real estado: e huuns e outros todos
fallavam desvairadas razõoes sobresto, maravilhamdose muito delRei nom
emtemder quamto desfazia em si, por se comtemtar de tal casamento.”
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O texto anterior em português actual:
Razões desvairadas, aquelas que alguns falavam sobre o casamento de
El-rei Dom Fernando. Quando foi sabido por todo o reino como El-rei
recebera depressa Dona Leonor por sua mulher, e todos lhe beijaram a
mão como Rainha, foi o povo de tal feito muito maravilhado, muito mais do
que da primeira; porque, antes disto, não embargando que alguns
suspeitassem, pelo grande e honroso jeito que viam El-rei ter com ela, não
eram, porém, certos se era sua mulher ou não; e muitos duvidando,
cuidavam que se enfadaria El-rei dela, e que depois casaria segundo
pertencesse a seu real estado; e uns e outros falavam desvairadas razões
de sobre, maravilhando-se muito de El-rei não entender quanto se desfazia
de si, por se contentar com tal casamento.
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A LÍNGUA PORTUGUESA NO SÉCULO XVI
A Língua já está muito perto do uso que dela fazemos hoje. O
Português começa a dar seus primeiros passos.
Ainda há resquícios do galaico-português, principalmente na
ortografia, que é sempre cambiante. Entretanto, o predomínio das
características do Português é evidente.
Leia-se esse trecho de um roteiro de Gil Vicente, que representa bem
esse período de consolidação entre o Galaico-português e a Língua
Portuguesa, a fim de se observar a proximidade do Português do
século XVI com o Português de nossos dias:
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TEATRO DE GIL VICENTE (1465-1537)
Fidalgo
A estoutra barca me vou.
— Hou da barca! Para onde is?
Ah, barqueiros! Não me ouvis?
Respondê-me! Houlá! Hou!
Par Deus, aviado* estou!
Quant’a isto é já pior.
Que girinconcis, salvanor!
Cuidam que são eu grou**?
Anjo
Que queres?
Fidalgo.
Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do paraíso
é esta em que navegais.
Anjo.
Esta é; que me demandais?
Fidalgo.
Que me leixês*** embarcar;
sô fidalgo de solar
é bem que me recolhais.
Anjo.
Não se embarca tirania
neste batel divinal.
Fidalgo.
Não sei por que haveis por mal
que entr’a minha senhoria.
(VICENTE, Gil. O auto da barca do
inferno
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A LÍNGUA PORTUGUESA NO SÉCULO
XVII ATÉ A ACTUALIDADE.
1600 é o século da glória de Camões, em que o Português finalmente
atinge sua fase moderna. A diferença maior, relativamente á língua
usada hoje em dia, encontra-se sobretudo na grafia, vingando as
semelhanças.
Camões, após sua morte, será o poeta do idioma nacional. Os
Lusíadas (1572) tornam-se o grande épico de Portugal e referência
cultural a partir do século XVII. Já na fase moderna da Língua
Portuguesa, a escolha vocabular e a sintaxe seguem padrões idênticos
aos actuais.
Deleitemo-nos com um poema seu, de todos conhecido.
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Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que doe e não se sente,
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer,
É um andar solitário entre a gente,
É nunca contentar-se de contente,
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade,
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
Camões
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FASES HISTÓRICAS DO PORTUGUÊS
• Fase proto-histórica
Anterior ao século XII, com textos escritos em latim bárbaro (modalidade
do latim usado apenas em documentos e por isso também chamado de
latim tabaliónico ou dos tabeliões).
• Fase do português arcaico
Do século XII ao século XVI, corresponde a dois períodos:
a) do século XII ao século XIV, com textos em galego-português;
b) do século XIV ao século XVI, com a separação do galego e o
português.
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•Fase do português moderno
A partir do século XVI, quando a língua portuguesa se uniformiza e
adquiri as caracteristicas do português actual.
A rica literatura renascente portuguesa, produzida por Camões, teve
papel fundamental nesse processo. As primeiras gramáticas e
dicionários da língua portuguesa também surgiram do século XVI.
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As palavras em Português vieram todas do Latim?
 A maior parte do vocabulário da Língua Portuguesa tem sua
origem no Latim: pater (pai); mater (mãe); filius (filho); manus (mão);
aqua (água); bonus (bom); fortis (forte); viridis (verde); dicere (dizer);
cadere (cair); amare (amar); avis (ave).
 Não obstante, a estas palavras se somam outras provenientes do
Latim Vulgar (termos populares): bellus (belo); caballus (cavalo); cattus
(gato); casa (casa); grandis (grande)
 Também há de se considerar a sobrevivência de várias palavras
oriundas da língua local, antes da invasão romana: barro, manteiga,
veiga, sapo, esquerdo
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 Algumas palavras germânicas foram incorporadas a muitas línguas
românicas, inclusive o Português. Na maioria dos casos, foram
introduzidas por ocasião das invasões bárbaras, das quais estas são
provenientes: guerra; guardar; trégua; ganso; lua; roubar; espiar; fato
(roupa); ataviar; estaca; espeto; marta; agasalhar; gana; branco; brotar
 A última observação recai na longa permanência dos mouros na
Península, facto que se reflectiu na Língua. Até hoje, a presença dos
árabes na Ibéria pode ser notada pela região de Andaluzia, onde existe
uma grande quantidade de ciganos e outros povos bárbaros ou
nómadas. Dentre as palavras de uso corrente na Língua Portuguesa,
citem-se: arroz; azeite; azeitona; bolota; açucena; javali; azulejo; açúcar;
refém, arrabalde; mesquinho; baldio; até,…
Dentre elas, pode-se destacar o grupo de palavras que se iniciam por al,
que é o artigo da língua árabe: alface; alfarrábio; alfinete; albarda;
alicerce; almofada; alfaiate; almocreve; almoxarife; alfândega; aldeia,…
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O PORTUGUÊS é a língua que os portugueses, os brasileiros, muitos
africanos e alguns asiáticos aprendem no berço, reconhecem como
património nacional e utilizam como instrumento de comunicação, quer
dentro da sua comunidade, quer no relacionamento com as outras
comunidades lusofalantes.
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A língua portuguesa foi transportada para os territórios colonizados
durante a expansão extra-europeia, sendo um dos principais instrumentos
desse processo.
Quando a expansão começou no início do séc. XV, a língua acabava de
sair de uma outra fase de expansão territorial, que a transportara até ao
Algarve desde o seu berço: as terras galegas e nortenhas.
O português é uma língua nascida no norte e que cresceu para sul. Tal
como aconteceu com o castelhano e com o francês, começou por ser um
conjunto de dialectos provinciais (galego-portugueses), passou a língua
de uma nação e depois a veículo de um império.
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Esta língua não dispõe de um território contínuo (mas de vastos
territórios separados, em vários continentes) e não é privativa de uma
comunidade (mas é sentida como sua, por igual, em comunidades
distanciadas). Por isso, apresenta grande diversidade interna,
consoante as regiões e os grupos que a usam. Mas, também por isso,
é uma das principais línguas internacionais do mundo.
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Fontes utilizadas para este trabalho e outras de interesse:
http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/15.htm
http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bases-tematicas/historia-dalingua-portuguesa.html
http://www.linguaportuguesa.net/principal.htm
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