O ESPÍRITO EM CRISTO.
O Novo Testamento introduz a Dispensação do Espírito, cumprindo-se a
promessa de que Deus derramaria do seu Espírito sobre toda a carne, que
poria seu Espírito no coração de seu povo, e assim escrevendo suas leis em
seu interior. Isso seria feito nos dias do Messias, o qual seria ungido com o
Espírito Santo. Por conseguinte, verificamos no Novo Testamento que o
Espírito Santo é descrito como: operando sobre, dentro, e por meio de Jesus
Cristo. Os títulos, "Espírito de Cristo" e "Espírito de Jesus Cristo", indicam
uma relação entre Cristo e o Espírito Santo na qual não participaram os seus
discípulos. Por exemplo, não nos atreveríamos a falar do "Espírito de Paulo".
Desde o princípio até ao fim de sua vida terrena, o Senhor Jesus esteve
intimamente ligado ao Espírito Santo. Tão íntima foi esta relação que Paulo
descreve a Cristo como "um Espírito vivificante". O significado não é que Jesus
é o Espírito, e, sim, que ele dá o Espírito, e através do mesmo Espírito
exerce onipresença. O Espírito é mencionado em conexão com as seguintes
crises e aspectos do ministério de Cristo:
1. Nascimento.
O Espírito Santo é descrito como o agente na milagrosa concepção
de Jesus (Mat. 1.20; Luc. 1:35). Jesus esteve relacionado com o Espírito de
Deus desde o primeiro momento da sua existência humana. O Espírito Santo
desceu sobre Maria, o Poder do Altíssimo cobriu-a com sua sombra, e àquele
que dela nasceu foi dado o direito de ser chamado santo, Filho de Deus. Para
João, o precursor, foi suficiente que fosse cheio do Espírito desde o ventre de
sua mãe, ao passo que Jesus foi concebido pelo poder do Espírito no ventre, e
por essa razão levou tais nomes e títulos que não podiam ser conferidos a
João. Deus, operando pelo Espírito, é o Pai da natureza humana de Jesus, no
sentido de que sua origem proveniente da substância da Virgem mãe foi um
ato divino. O efeito dessa intervenção divina revela-se no estado imaculado
de Cristo, sua perfeita consagração, e seu senso permanente da Paternidade
de Deus. Enfim, o poder do pecado foi destruído, e Um nascido de mulher, ao
mesmo tempo que era homem e santo, era também o Filho de Deus. O
segundo Homem é do céu (1 Cor. 15:47). Sua vida era de cima (João 8:23); sua
passagem pelo mundo representa a vitória sobre o pecado, e os resultados de
sua vida foram a vivificação da raça (1 Cor. 15:45). Aquele que
nenhum pecado cometera e que salva o seu povo dos seus
pecados, necessariamente teria que ser gerado pelo Espírito Santo.
2. Batismo.
Com o passar dos anos, começou uma nova relação com o Espírito.
Aquele que havia sido concebido pelo Espírito e que era cônscio da morada do
Espírito divino em sua pessoa, foi ungido com o Espírito. Assim como o
Espírito desceu sobre Maria na concepção, assim também no batismo o
Espírito desceu sobre o Filho, ungindo-o como Profeta, Sacerdote e Rei. A
primeira operação santificou sua humanidade; a segunda consagrou sua vida
oficial. Assim como sua concepção foi o princípio da sua existência humana,
assim também seu batismo foi o princípio de seu ministério ativo.
3. Ministério.
Logo foi levado pelo Espírito ao deserto (Mar. 1:12) para ser tentado por
Satanás. Ali ele venceu as sugestões do príncipe deste mundo, as quais o
teriam tentado a fazer sua obra duma maneira egoísta, vangloriosa e num
espírito mundano, e a usar seu poder conforme o curso de ação da ordem
natural. Ele exerceu seu ministério com o conhecimento íntimo de que o poder
divino habitava nele. Sabia que o Espírito do Senhor Deus estava sobre ele
para cumprir o ministério predito acerca do Messias (Luc. 4:18); e pelo dedo
de Deus expulsou demônios. (Luc. 11:20; vide Atos 10:38.) Ele testificou do
fato que o Pai, que estava nele, era quem operava as obras milagrosas.
4. Crucificação.
O mesmo Espírito que o conduziu ao deserto e o sustentou ali, também
lhe deu força para consumar seu ministério sobre a cruz, onde, "pelo Espírito
eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus" (Heb. 9:14). Ele foi à cruz
com a unção ainda sobre ele. O Espírito manteve diante dele as exigências
inflexíveis de Deus e o inflamou de amor para com o homem e zelo para com
Deus, para prosseguir, apesar dos impedimentos, da dor e das dificuldades,
para efetuar a redenção do mundo. O Espírito Santo encheu-lhe a mente de
ardor, zelo e amor persistentes, os quais o conduziram a completar seu
sacrifício. Seu espírito humano estava de tal modo saturado e elevado pelo
Espírito de Deus que vivia no eterno e invisível, e pôde "suportar a cruz,
desprezando a afronta" (Heb. 12:2).
5. Ressurreição.
O Espírito Santo foi o agente vivificante na ressurreição de Cristo. (Rom.
1:4; 8:11.) Alguns dias depois desse evento, Cristo apareceu a seus discípulos,
soprou sobre eles, e disse: "Recebei o Espírito Santo" (João 20:22; vide Atos
1:2). Essas palavras não podem significar o revestimento de poder pelo qual o
Senhor, antes de sua ascensão, lhes havia mandado que esperassem. Alguns
eruditos crêem que esse sopro foi meramente um símbolo daquilo que havia de
ocorrer cinqüenta dias depois, isto é, um lembrete do Pentecoste vindouro.
Outros crêem que algo de positivo foi concedido aos discípulos, nesse ato.
Uma comparação com Gên. 2:7 indica que o sopro divino simboliza um ato
criador. Mais tarde Cristo é descrito como um espírito vivificante, ou o que dá
vida. (1 Cor. 15:45.) é de supor que nessa ocasião o Senhor da vida fizesse
conhecer a seus discípulos, por experiência, "o poder de sua ressurreição"? Os
onze discípulos seriam enviados ao mundo para cumprirem uma nova missão;
continuariam a obra de Cristo. Em si mesmos eram incapazes para tal missão,
assim como um corpo inanimado é incapaz de efetuar as funções dum homem
vivo. Dai inferimos a necessidade do ato simbólico de dar a vida. Assim como a
humanidade antiga recebeu o sopro do Senhor Deus, assim também a nova
humanidade recebeu o sopro do Senhor Jesus. Se concedermos que nessa
ocasião houve uma verdadeira concessão do Espírito, devemos lembrar,
porém, que não foi a Pessoa do Espírito Santo que foi comunicada, mas a
inspiração de sua Vida. O Dr. Westcott assim frisa a distinção entre o Dom da
Páscoa e o "Dom do Pentecoste": "O primeiro corresponde ao poder
da Ressurreição, e o outro ao poder da Ascensão." Isto é, o primeiro é a graça
vivificante; o outro é a graça de dotação.
6. Ascensão.
Notem os seguintes três graus na concessão do Espírito a Cristo:
1) Na sua concepção, o Espírito de Deus foi, desde esse momento,
o Espírito de Jesus, o poder vivificante e santificador, pelo qual ingressou na
sua carreira de Filho do homem e pelo qual viveu até o fim.
2) Com o passar dos anos começou uma nova relação com o Espírito. O
Espírito de Deus veio a ser o Espírito de Cristo no sentido de que descansava
sobre ele para exercer seu ministério messiânico.
3) Depois da ascensão, o Espírito veio a ser o Espírito de Cristo no
sentido de ser concedido a outros. O Espírito veio para habitar em Cristo, não
somente para suas próprias necessidades, mas também para que ele o
derramasse sobre todos os crentes. (Vide João 1:33 e note-se especialmente
a palavra "repousar".) Depois da ascensão o Senhor Jesus exerceu a grande
prerrogativa messiânica que lhe foi concedida — enviar o Espírito sobre
outros. (Atos 2:33; vide Apo. 5:6.) Portanto, ele concede a bênção que ele
mesmo recebeu e desfruta, e nos faz co-participantes com ele mesmo. Assim é
que não somente lemos acerca do dom, mas também da "comunhão" do
Espírito Santo, isto é, participando em comum do privilégio e da bênção de ser
o Espírito de Deus concedido a nós, não somente comunhão dos crentes uns
com os outros mas também com Cristo; eles recebem a mesma unção que ele
recebeu; é como a unção preciosa sobre a cabeça de Arão, que desceu sobre a
barba e até à orla de seus vestidos. Todos os membros do corpo de Cristo,
como reino de sacerdotes, participam da unção do Espírito que mana da sua
cabeça, nosso grande Sumo Sacerdote que subiu aos céus.
Editora Vida, 2006
ISBN 8573671440
Título original: Knowing the Doctrines of the Bible
Tradução: Lawrence Olson
Reeditado por SusanaCap, a partir de arquivo txt encontrado na web. *
Agradecimentos ao Dumane pela digitalização do Cap.VIII, que faltava.
www.semeadores.net
* Obs.: Algumas referências bíblicas estavam ilegíveis e não puderam ser recuperadas
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