GESTÃO DA MANUTENÇÃO E DO CONHECIMENTO COMO ESTRATÉGIA NA
INSTALAÇÃO DE UNIDADES GERADORAS DE ENERGIA ELÉTRICA
Enon Laércio Nunes1
Angelise Valladares2
RESUMO
Em um contexto altamente turbulento, novas concepções de trabalho exigem a adoção de
modelos gerenciais que contemplem uma intenção estratégica fundamentada em conceitos
como os de competitividade e de flexibilidade. Nesse âmbito, a gestão da manutenção tem
assumido uma dimensão estratégica, considerando-se a sua importância para a obtenção
de vantagens comparativas, em face do papel crescente da disponibilidade operacional para
o resultado global das organizações. Uma visão contemporânea da gestão da manutenção
considera que essa função deva englobar todo o ciclo de vida dos equipamentos, iniciandose desde a etapa de concepção do projeto, passando pela etapa de montagem, até a sua
operacionalização. Dessa forma, a partir da aplicação da gestão do conhecimento nas
atividades de instalação do conjunto de equipamentos associados às unidades geradoras
adicionais da Central Hidrelétrica de Itaipu Binacional pretende-se adotar uma estratégia
direcionada para a melhoria da qualidade dos futuros serviços de manutenção,
representando um investimento que se reverterá em ganhos de confiabilidade e
desempenho operacional dos novos equipamentos e sistemas a serem instalados.
Palavras-chave: Gestão da Manutenção, Gestão do Conhecimento, Gerência da
Produção; Gestão de Negócios.
1
Itaipu Binacional. E-mail: <[email protected]>.
2
Fae Business School. E-mail: <[email protected]>.
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1 INTRODUÇÃO
As transformações no mundo empresarial, características das últimas décadas,
têm demandado a aplicação de novos métodos de estruturação e organização dos
trabalhos, mais adequados à constante busca por maior capacidade competitiva. De modo
geral, na formulação de estratégias, priorizam-se soluções criativas e eficazes, na procura
de nichos de mercado para identificar novos negócios. O desenvolvimento da capacitação
tecnológica torna-se, portanto, elemento chave na definição das políticas e diretrizes a
serem dotadas.
Uma estratégia deliberada, por exemplo, depende não apenas do exame das
condições ambientais específicas, como também da capacidade inventiva dos membros
organizacionais em perceber e analisar as oportunidades e as ameaças latentes, incluindo o
estabelecimento de ações consistentes ao longo do tempo. O pleno entendimento da
dinâmica organizacional requer a gestão integrada dos ativos, da tecnologia, do capital
intelectual e dos sistemas produtivos para viabilizar a geração, o armazenamento e a
disseminação eficaz do conhecimento.
A gestão do conhecimento, nesses termos, tem recebido interesse crescente de
estudiosos e analistas dos diversos ramos de atuação profissional pela necessidade e
importância da interação do homem com a máquina para o sucesso empresarial. Entendese conhecimento como o conjunto de práticas, mecanismos e processos estruturados para
capturar, gerenciar e compartilhar os dados e informações existentes, com base em um
quadro referencial que inclui tecnologia e pessoas, técnica e comportamento humano.
O objetivo deste artigo é descrever as principais atividades de instalação de duas
unidades geradoras adicionais da Central Hidrelétrica de Itaipu Binacional, sistematizando
os procedimentos de montagem dos equipamentos, com a finalidade de resgatar
informações técnicas relevantes, como o levantamento de desenhos, do acervo fotográfico e
de imagens gravadas, disponibilizando esse conhecimento em ambientes computacionais
adequados.
A investigação realizada envolveu uma revisão bibliográfica, com uma pesquisa
de campo, de natureza qualitativa, fundamentada no método de estudo de caso. A coleta de
dados compreendeu análise documental, entrevistas semi-estruturadas e observação livre
assistemática. Todas as informações obtidas foram classificadas e tratadas com o intuito de
melhor sistematizar e interpretar os resultados.
A relevância deste estudo é reforçada, principalmente, para o caso de uma usina
hidrelétrica, que se caracteriza pela peculiaridade de contar com projetos únicos com
predominância de tecnologia intensiva. Essa iniciativa está focada na otimização da
engenharia e gestão dos processos de manutenção, diretamente associada a ganhos de
disponibilidade e confiabilidade dos equipamentos e sistemas.
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2 GESTÃO DA MANUTENÇÃO
O termo ‘manutenção’, na literatura especializada, tem origem no vocabulário
militar, cujo sentido é manter, nas unidades de combate, o efetivo e o material em um nível
constante. Já a definição sobre ‘manter’ é indicada, em vários dicionários, como causar
continuidade ou reter o estado atual. Isto sugere que ‘manutenção’ significa preservar algo.
A esse respeito, Monchy (1989) apresenta a conceituação da Associação Francesa de
Normatização, na qual a “manutenção é o conjunto de ações que permite manter ou
restabelecer um bem, dentro de um estado específico ou na medida para assegurar um
serviço determinado” (p.1).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, na norma TB-116 de 1975,
definiu manutenção como o conjunto de todas as ações necessárias para que um item seja
conservado ou restaurado de modo a poder permanecer de acordo com uma condição
especificada. Já em uma versão revisada de 1994, designada NBR-5462, a manutenção foi
indicada como a combinação de todas as ações técnicas e administrativas, incluindo as de
supervisão, destinadas a manter ou recolocar um item em um estado no qual possa
desempenhar uma função requerida.
De forma mais abrangente, o termo manutenção engloba os conceitos de
prevenção (manter) e correção (restabelecer). Sendo assim, o estado específico ou serviço
determinado implica na predeterminação do objetivo esperado, com quantificação dos níveis
característicos. Monchy (1989) comenta ainda sobre a lacuna deixada por grande parte das
definições, ao não fazerem referência ao aspecto econômico envolvido na realização de
uma manutenção eficiente, que deveria assegurar que suas atividades conduzissem a um
custo global otimizado.
Sobre o assunto, cabe também observar o posicionamento de Moubray (2000).
Para o autor, ‘manter’ significa continuar em um estado existente, ou seja, a manutenção é o
conjunto de técnicas de atuação para que os ativos físicos (equipamentos, sistemas,
instalações) cumpram ou preservem sua função ou funções específicas.
Autores como Slack et al. (1997), por sua vez, observam que a ‘manutenção’ é o
termo usado para abordar a forma pela qual as organizações tentam evitar as falhas,
cuidando de suas instalações físicas. Esta abordagem enfatiza a prevenção e a recuperação
de falhas, uma importante área de atuação da manutenção, embora se entende que não
envolve a sua completa amplitude. Pode-se afirmar ainda, que as causas e os efeitos das
falhas merecem atenção especial e permanente, assim como o desenvolvimento de ações
pró-ativas, com vistas a minimizar a ocorrência e as conseqüências das falhas, caso ocorram.
Como pode ser observado, existem muitas definições e conceitos apresentados
para o termo ‘manutenção’. Na maioria dos casos são enfocados os aspectos de prevenção
do estado de funcionamento e a recuperação, no caso da ocorrência de falhas. Além disso,
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constata-se que, mais recentemente, os aspectos de custos e a dimensão humana das
equipes de manutenção têm sido crescentemente considerados nessas definições.
Mais recentemente, as grandes transformações experimentadas pelo setor
tecnológico e industrial exigiram uma atenção muito mais intensa aos efeitos dos períodos
de paralisação da produção, por exemplo, em face da tendência mundial de se trabalhar
com estoques reduzidos (técnicas associadas ao just-in-time). Aliado a isso, a complexidade
cada vez maior dos equipamentos, com a aceleração da automação, transformou a
confiabilidade e a disponibilidade em fatores primordiais para o desempenho operacional,
refletidos diretamente nas atividades de manutenção.
Por sua vez, uma visão contemporânea da gestão estratégica no âmbito da
função manutenção deve considerar que sejam prioritariamente atendidos três clientes,
quais sejam:
a) os proprietários dos ativos físicos, ou seja, dos equipamentos e instalações,
que esperam que esses ativos gerem retorno financeiro do investimento
realizado;
b) os usuários dos ativos que esperam que esses ativos mantenham um padrão
esperado de desempenho;
c) a sociedade que estará satisfeita se esses ativos não falhem colocando em
risco o meio ambiente.
Dessa forma, os padrões de qualidade, tanto nos serviços quanto nos produtos,
passaram a ser extremamente exigentes e a análise das falhas e, principalmente, de suas
conseqüências para a segurança e o meio-ambiente, representaram, em muitos casos, a
garantia de sobrevivência das empresas, tamanha é a vigilância e a cobrança da sociedade.
Nesse sentido, na gestão da manutenção, o aspecto econômico, sempre presente na vida
das organizações, deve ainda ser enfocado, considerando-se o compromisso com o retorno
do capital investido, com montantes cada vez maiores e escassos.
Em linhas gerais, pode-se afirmar que toda evolução tecnológica dos
equipamentos, processos e técnicas de manutenção, a necessidade de controles cada vez
mais eficientes e de ferramentas de apoio à decisão, o desenvolvimento de estudos relativos
ao desgaste e controle das falhas e suas conseqüências, a dependência de equipes
treinadas e motivadas para enfrentar estes desafios, o desenvolvimento de novas técnicas
e, conseqüentemente, os custos de manutenção em termos absolutos e proporcionalmente
as despesas globais, transformaram a gestão da manutenção em um segmento estratégico
para o sucesso empresarial.
3 CONHECIMENTO E ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAIS
De acordo com Krogh, Ichijo e Nonaka (2001), dentre outros, embora se
reconheça a relevância do conhecimento, como elemento intrínseco da aprendizagem e do
desenvolvimento organizacional, sua especificação é tarefa difícil, uma vez que “[...]
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nenhuma definição se aplica a todas as disciplinas [...] o conhecimento em si é mutável e
pode assumir vários aspectos em diferentes organizações” (p.15). Nesses termos, pode-se
inferir que o conhecimento tem origem e sobrevivência no pensamento e nas crenças das
pessoas, quando compartilham estratégias de ação e práticas em ambientes de trabalho,
que costumam variar conforme a formação, a experiência ou mesmo os tipos de
competências requeridas.
As relações interpessoais associadas à interação do homem com a máquina para
gerenciar o conhecimento, também denominado como o capital intelectual, é abordado por
Serafim Filho (1999), ao destacar que a gestão do conhecimento compreende uma série de
atividades que costuma envolver procedimentos sistematizados e estruturados para a
criação, utilização, retenção e medição de processos de trabalho compartilhados pelos
diversos colaboradores em um dado período de tempo.
Em conformidade com esse posicionamento, Terra (2000) comenta que, embora
seja inegável o papel das novas tecnologias de informação e de comunicação, a criação do
conhecimento, em grande parte, origina-se “[...] do contato humano, da intuição, do
conhecimento tácito, da cooperação, da explicitação de modelos mentais, da diversidade de
opiniões e do pensamento sistêmico” (p.157). Portanto, a gestão do conhecimento pressupõe
uma visão estratégica e integrada da gestão de tecnologias e pessoas no trabalho.
Configurando-se, portanto, em uma atividade lógica de identificação e análise de
sistemas, processos e recursos materiais, técnicos, financeiros e administrativos
disponíveis, cuja implantação precisa resultar de um planejamento participativo eficiente e
efetivo, como também da capacidade inventiva dos membros organizacionais em perceber e
priorizar ações, frutos da aprendizagem coletiva e do conhecimento compartilhado.
Dessa forma, a gestão do conhecimento compreende um conjunto de práticas
estruturadas para capturar, gerenciar e compartilhar os dados e informações existentes, a
partir da consideração de alguns dos princípios fundamentais para o sucesso da gestão do
conhecimento empresarial, como os apresentados no quadro 1, a seguir.
QUADRO 1 - PRINCÍPIOS DA GESTÃO DO CONHECIMENTO
– O conhecimento tem origem e reside no conhecimento das pessoas.
– O compartilhamento do conhecimento exige confiança.
– A tecnologia possibilita novos comportamentos ligados ao conhecimento.
– O compartilhamento do conhecimento deve ser estimulado e recompensado.
– Suporte da direção e recursos são fatores essenciais.
– Iniciativas ligadas ao conhecimento devem começar com um programa-piloto.
– Aferições quantitativas e qualitativas são necessárias para se avaliar as iniciativas.
– O conhecimento é criativo e deve ser estimulado a se desenvolver de formas inesperadas.
FONTE: Davenport e Prusak (1998, p.28)
A prática da gestão do conhecimento nas empresas, ao englobar a criação, a
utilização, a retenção e a medição do conhecimento pressupõe o comprometimento de toda
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a empresa, de modo estratégico e abrangente. Por exemplo, organizar as atividades
antecipadamente, coletando as informações relevantes sobre a situação atual (diagnóstico
interno e externo) visa a formalizar e a disseminar o conhecimento sobre os vários
processos envolvidos com a produção para assim garantir maior previsibilidade e sucesso
para as ações a serem executadas.
O conhecimento e a estratégia, considerando-se esses referenciais, constituem
elementos complementares essenciais para a revitalização dos sistemas produtivos. Em
outras palavras, diante das diferentes circunstâncias pelas quais as organizações passam
ao longo do tempo, a valorização da gestão da manutenção aliada à gestão estratégica do
conhecimento tende a se configurar como um modelo organizacional sistêmico interativo
eficaz na busca por maior capacidade competitiva.
4 ITAIPU E AS NOVAS UNIDADES GERADORAS DE ENERGIA ELÉTRICA
A Usina Hidrelétrica de Itaipu, a maior usina hidrelétrica em operação no mundo, é
um empreendimento binacional, localizada em Foz do Iguaçu-Pr. A Usina foi projetada para
o aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná, desde e inclusive o Salto Grande de Sete
Quedas até a foz do Rio Iguaçu, conforme o Tratado Internacional de 26 de abril de 1973,
celebrado entre o Brasil e o Paraguai.
A importância estratégica da Usina Hidrelétrica de Itaipu na geração de energia
elétrica para o Sistema Interligado Brasileiro e Paraguaio é confirmada pela participação
percentual nos mercados de produção de energia. Nos últimos anos, de forma sistemática,
em cada um dos sistemas elétricos nacionais que a central atende, sua participação foi de
aproximadamente 24% da energia produzida no Brasil, sendo 30% consumida na região
Sul-Sudeste e Centro-Oeste, e 91% no Paraguai. No ano 2000, por exemplo, produziu 93,4
bilhões de KWhora, um recorde de geração jamais alcançado por outra hidrelétrica.(ITAIPU
BINACIONAL, 2002)
A primeira etapa de instalação dos equipamentos da Usina iniciou-se em 1975,
tendo sido concluída em 1984. Daquele período aos dias de hoje experimentou-se um
expressivo avanço tecnológico na concepção do projeto dos equipamentos. A Usina conta
atualmente com uma potência instalada de 12,6 milhões KW, com 18 unidades geradoras
com potência nominal de 700 MW cada. Em sua configuração final, a Usina foi projetada
para abrigar a instalação de 20 unidades geradoras. Assim, para o ano de 2005, está
prevista a entrada em operação de mais duas unidades geradoras, com a mesma potência
unitária das demais, ou seja, 700 MW. Tal fato representará a ampliação de sua potência
total instalada para 14 milhões de KW. (ITAIPU BINACIONAL, 1994)
Deve-se ainda, considerar que as instalações de geração hidrelétrica, bem como
o sistema de transmissão associado, são compostas por um número muito grande de
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equipamentos e sistemas mecânicos, elétricos, eletrônicos e estruturas civis, com
tecnologia bastante variada, constituindo conjuntos altamente complexos, diversificados e
interdependentes.
Ao analisar este panorama, fica evidente a necessidade de adoção de uma
sistemática de manutenção eficaz, que otimize a exploração dos recursos hídricos para
geração de energia elétrica, garantindo a continuidade do fornecimento com qualidade e
confiabilidade, firmemente comprometida com a minimização das interrupções imprevistas.
O processo de implantação dos equipamentos e sistemas para uma instalação
hidrelétrica é desenvolvido, em grande parte, sob encomenda, ou seja, com características
específicas para uma determinada solução técnica, como uma única aplicação para cada
usina. Além disso, os sistemas são constituídos por diferentes partes ou componentes,
fabricadas em diferentes materiais e processos, o que envolve uma gama muito grande de
conhecimentos técnicos.
Vale observar ainda que a grandiosidade das instalações envolvidas e a
complexidade do processo de montagem de duas unidades geradoras de 700 MW, com
seus respectivos equipamentos periféricos, como serviços auxiliares mecânicos, elétricos e
eletrônicos, sistema de supervisão, proteção e controle das unidades geradoras, dentre
outros, exige um período de quase três anos ininterruptos de obra.
Dessa forma torna-se extremamente importante o resgate dos dados e as
informações técnica durante a etapa de montagem e instalação dos equipamentos e
sistemas, atividade básica da metodologia de gestão do conhecimento. Assim, o conjunto
de documentos gerados representa o resgate e a preservação de um capital intelectual de
grande valor para a área de manutenção, considerando-se também o conhecimento e as
experiências acumuladas pelos profissionais envolvidos no processo de montagem dos
equipamentos.
O processo de resgate e preservação do conhecimento foi viabilizado a partir do
levantamento de desenhos técnicos, fotos e imagens estrategicamente gravadas. Todo esse
acervo será disponibilizado em ambiente computacional amigável, utilizando-se técnicas de
mídia eletrônica na apresentação de inúmeras atividades e detalhes técnicos associados à
montagem e instalação dos equipamentos, perfazendo atualmente um total de 13 filmes
editados e aproximadamente 6000 fotos, englobando 154 procedimentos definidos para registro.
Além disso, a continuidade do desempenho das equipes pode ser garantida, uma
vez que esse conhecimento resgatado é útil na formação e treinamento de novos
profissionais da área de manutenção, que gradualmente venham a substituir os atuais, em
função do processo natural de rotatividade de pessoas no trabalho.
Portanto, a adoção de uma política voltada para a gestão do conhecimento nas
atividades de instalação de novos equipamentos em uma instalação hidrelétrica em muito
pode contribuir para a melhoria contínua do desempenho técnico dos equipamentos e da
performance
das
equipes
de
manutenção,
resultando
em
maior
disponibilidade,
confiabilidade e, como conseqüência, otimização dos custos operacionais.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que uma visão contemporânea da gestão de sistemas produtivos
condiciona o escopo das atividades de manutenção, de forma a englobar todo o ciclo de vida
dos equipamentos, iniciando-se no acompanhamento da concepção do projeto e de
montagem dos equipamentos, em contraposição a idéia que a atividade de comissionamento
se caracterizava como a primeira atividade da área de manutenção. A gestão manutenção,
nesse escopo, tem assumido presença significativa nas decisões estratégicas das empresas,
em segmentos como segurança, integridade ambiental, eficiência energética, qualidade do
produto, disponibilidade, confiabilidade e custos operacionais.
Como resultado, a gestão do conhecimento nas empresas corresponde a uma
estratégia de suporte adequada à área de manutenção, em seu compromisso de
acompanhar e registrar as informações técnicas necessárias para o pleno conhecimento das
máquinas ou equipamentos em sua etapa de instalação, bem como de desenvolvimento de
ações práticas preventivas e corretivas. Assim, os ganhos de produtividade obtidos pela
gestão empresarial, com foco na gestão de manutenção, de modo particular no setor
elétrico, priorizam a minimização dos custos operacionais associada a uma alta
disponibilidade e confiabilidade dos equipamentos e sistemas.
No caso de empresas geradoras de energia elétrica, este aspecto é ressaltado já que
o sucesso na adoção dessas ações requer a interação dos diversos segmentos produtivos que
costumam ter características técnicas muito particulares e específicas, ou seja, grande parte do
conhecimento é novo uma vez que os equipamentos, elaborados por encomenda, têm pouca
similaridades com outros do gênero, como é o caso da Usina de Itaipu.
O processo de resgate do conhecimento das atividades de instalação e
montagem das novas unidades geradoras de Itaipu tem ainda o propósito de registrar,
passo a passo, as principais modificações e ajustes de eventuais não conformidades, sejam
de fabricação ou mesmo de montagem, que naturalmente ocorrem ao longo de um trabalho
dessa magnitude. A partir do registro dessas informações pretende-se subsidiar as
atividades futuras de manutenção para uma avaliação sistemática dos possíveis reflexos
dessas ocorrências para o desempenho operacional dos equipamentos.
Mesmo defendendo-se o argumento de que o ambiente de trabalho pode e deve
ser controlado, deve-se buscar a complementação de informações técnicas, identificando-se
as oportunidades de registros de todos os tipos de riscos ou eventuais falhas, que podem ou
não ter como conseqüências incidentes ou acidentes do trabalho, bem como as respectivas
ações corretivas realizadas ou a serem realizadas, enriquecendo ainda mais o acervo
técnico-gerencial com informações que subsidiarão o planejamento das futuras atividades
de manutenção.
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A importância de um trabalho como o aqui descrito também se justifica pelo fato
das atividades de montagem ocorrerem com baixa freqüência, em geral associadas a
equipamentos de grande porte. Nesse momento, a área de manutenção necessita de
informações técnicas detalhadas para possibilitar uma desmontagem e remontagem segura
dos equipamentos. Em muitas das oportunidades em face ao logo intervalo de tempo
decorrido entre a instalação e a necessidade de acesso ao equipamento desmontado, não é
mais possível se contar com a equipe de profissionais experientes que realizaram a tarefa
inicial de montagem, perdendo-se dados relevantes e comprometendo o processo de
realização da manutenção.
Nesse sentido, acredita-se que para o desenvolvimento de competências
essenciais duradouras, uma empresa precisa conhecer aquilo que ela coletivamente sabe, a
eficiência com que ela usa o que sabe e a prontidão com que ela adquire e usa novos
conhecimentos. Portanto, as soluções de gestão do conhecimento tendem a ser específicas
para cada empresa, uma vez que essa forma de gestão trabalha com os processos
administrativos, bem como aspectos culturais, estratégicos e tecnológicos das organizações.
REFERÊNCIAS
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Rio de Janeiro: ABNT, 1994.
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ITAIPU BINACIONAL. Itaipu Hydroletric Project. Curitiba: Itaipu Binacional, 1994.
KROGH, G. Von; ICHIJO, K.; NONAKA, I. Facilitando a criação do conhecimento: reinventando a
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MOUBRAY, J. RCM II: a manutenção centrada em confiabilidade. Grã Bretanha: Biddles Ltd., Guilford
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SLACK, N. et al. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 1997.
TERRA, J. C. C. Gestão do conhecimento: o grande desafio empresarial. São Paulo: Negócio
Editora, 2000.
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XXIV ENEGEP – Florianópolis, SC, Brasil, 03 a