UNOVIDA: AÇÕES DE EXTENSÃO, ENSINO E PESQUISA DA UNOCHAPECÓ
NA ÁREA DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Geni Portela Gamborgi 1; Altamir Dutra 2; Éverton Pimmel 3; Ana Fávero 3; Letícia Frozza3
1 Profª. Msc.Geni Portela Gamborgi. Universidade Comunitária da Região de Chapecó –
UNOCHAPECÓ, Área de Ciências da Saúde, CEP: 89809-000, Chapecó, Santa Catarina, Brasil.
[email protected]
² Prof. MsC Altamir Dutra.Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ, Área
de Ciências da Saúde, CEP: 89809-000, Chapecó, Santa Catarina, Brasil.
3Acadêmicos bolsistas do projeto UNOVIDA. Universidade Comunitária da Região de Chapecó –
UNOCHAPECÓ, Área de Ciências da Saúde, CEP: 89809-000, Chapecó, Santa Catarina, Brasil.
Resumo: Trata-se de um projeto de extensão na área da dependência química, envolvendo os cursos
de Farmácia, Educação Física e Odontologia da UNOCHAPECÓ. O Objetivo deste estudo é
apresentar o projeto Unovida como forma de promover atividades acadêmicas para a vida, junto à
dependentes químicos em tratamento, do sexo masculino, no município de Chapecó-SC. A
metodologia inclui atividades que estão articuladas com o projeto terapêutico desenvolvido por uma
comunidade terapêutica, com ênfase nas ações de educação em saúde. As atividades realizadas em
2010 consolidaram a articulação entre os cursos e a comunidade terapêutica e o princípio da
indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão da UNOCHAPECÓ. Foram realizados dois TCCs:
A elaboração de um protocolo de ação para a assistência de enfermagem; As ações de
responsabilidade do professor de Educação Física no projeto terapêutico. A Odontologia iniciou uma
ação de saúde bucal. O curso de Farmácia iniciou um processo de aproximação com os familiares,
com ações de assistência farmacêutica. Foram realizadas três oficinas e participação efetiva do
PRÓ-SAÚDE. O projeto de extensão UNOVIDA está articulado com o ensino e a pesquisa. As ações
interdisciplinares e multiprofissionais buscam incentivar e promover uma mudança de comportamento
e um projeto de vida mais saudável. Estamos iniciando um processo de aproximação com os
familiares, de forma articulada às atividades dos trabalhadores do CETER.
Palavras-chaves: Dependência. Promoção de saúde. Assistência ao Paciente.
1. Introdução
O projeto UNOVIDA está inscrito como Programa Permanente de apoio às
Ações Comunitárias, da UNOCHAPECÓ, como uma atividade de extensão
universitária, que tem como público alvo pessoas dependentes do uso abusivo de
substâncias psicoativas, do sexo a partir de 18 anos, do município de Chapecó e
demais regiões do Brasil, cadastradas comunidade terapêutica: Centro Terapêutico
Dilso Cecchin - CETER. As comunidades terapêuticas são regulamentadas pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária, através da RDC nº 101, de 30 de maio de
2001 que estabelece regulamento técnico disciplinando as exigências mínimas para
o funcionamento de serviços de atenção a pessoas com transtornos decorrentes do
uso ou abuso de substâncias psicoativas. São que têm por função a oferta de um
ambiente protegido, técnica e eticamente orientados, que forneça suporte e
tratamento aos usuários abusivos e/ou dependentes de substâncias psicoativas,
durante período estabelecido de acordo com programa terapêutico adaptado às
necessidades de cada caso. É um lugar cujo principal instrumento terapêutico é a
convivência entre os indivíduos. Oferece uma rede de ajuda no processo de
recuperação das pessoas, resgatando a cidadania, buscando encontrar novas
possibilidades de reabilitação física social, moral, familiar e psicológica. Pois o
indivíduo passará por avaliações constantes, tanto médicas, psicológicas quanto de
comportamento (TCC, DUTRA, A, OLIVEIRA,M, 2010).
No projeto UNOVIDA são desenvolvidas ações de apoio ao projeto terapêutico
do CETER desde fevereiro de 2004. É composto por uma equipe de professores e
acadêmicos bolsistas dos cursos de Farmácia, Odontologia e Educação Física, que
se propõe a desenvolver ações de apoio ao tratamento ao uso/abuso de substâncias
psicoativas (álcool, drogas e auto-medicação), assim como a promoção e proteção da
saúde dos internos do CETER. Outros cursos participam de forma articulada às
propostas do projeto: Psicologia, Nutrição, Fisioterapia, Enfermagem. O projeto
Unovida tem como objetivo promover atividades acadêmicas para a vida, junto à
dependentes de uso de substâncias químicas (álcool e drogas) em tratamento, do
sexo masculino a partir de 18 anos, do Município de Chapecó e as demais Regiões
do Brasil, a partir de ações interdisciplinares de incentivo à prática de atividades de
educação
para saúde. As ações realizadas serão extensivas aos familiares, de
forma articulada as atividades dos trabalhadores do CETER.
2. Referências Teóricas
O uso de drogas é considerado hoje, por muitos pensadores, como mais um
sintoma da contemporaneidade, associando-o como resultante do que eles chamam
de uma inflação narcísica própria da nossa sociedade (LASCH, 1983; LIPOVETSKY,
1989; BAUMAN, 1998). Para estes, esse posicionamento justifica-se pelas
características individualistas e hedonistas que regem a nossa época.
A cada dia, somos testemunhas da grande visibilidade alcançada pelo
fenômeno do uso de drogas na nossa sociedade ocidental capitalista contemporânea.
Médicos, educadores, assistentes sociais e psicólogos são quase que diariamente
convocados pela mídia para tratar desta temática, de forma que o consumo de tais
substâncias, chamadas psicoativas', é hoje considerado, ao mesmo tempo, um
problema de saúde mental e de segurança pública. As comunidades terapêuticas
devem ser vistas como estratégia não só de apoio à saúde, mas também de
prevenção social ao crime e reorganização da vida do dependente, além de ajudar
na reinserção na sociedade.
Embora os estudos sobre a prevenção do uso abusivo de drogas lícitas e
ilícitas sejam ainda escassos, algumas pesquisas, nacionais e internacionais, têm
mostrado que os programas voltados para prevenir tais abusos, devem abordar a
dimensão socioeconômica e política deste fenômeno, assim como as representações
e práticas da população relativas aos diversos aspectos desse tema. Apoiados na
contextualização histórica do fenômeno das drogas, tais análises assinalam o
fracasso das políticas de prevenção centradas apenas na repressão e a necessidade
de se propor visões alternativas (Bucher, 1992; Inem & Acselrad,1993;
Bastos,
1995).
Estudos realizados por Sandra Rebello et al, (2001), em: “A visão de
escolares sobre drogas no uso de um jogo educativo”, mostram os resultados sobre
a visão dos jovens acerca dos temas abordados no Jogo da Onda e sugerem a
relevância da percepção do usuário na avaliação do alcance das mensagens
veiculadas em recursos de educação. A partir de grupos focais, observação das
partidas e questionários foi observada que a iniciação ao uso de drogas está
relacionada à: pressão social de grupo, fácil acesso às drogas e ao não
reconhecimento de que o consumo pessoal, mesmo descontínuo, pode levar à
dependência química. Foi salientado também que as tecnologias educacionais (jogos,
livros, vídeos, entre outros) são instrumentos que complementam, mas não
substituem a ação do educador. Neste sentido, é fundamental investir na formação
continuada de profissionais das áreas de ensino e saúde, formal e informal.
Pode-se esperar um maior sucesso dos programas prevenção que
explicitamente maximizam o ajuste adaptativo entre indivíduos e contextos. Para tal,
é necessário ter sensibilidade para compreender e valorizar a história pessoal, o
estágio de vida do indivíduo, as normas culturais, as crenças e práticas no que
concerne ao uso de drogas (Johnson et al.,1984; Coie et al., 1993), bem como os
contextos sociais e da comunidade onde esse uso ocorre ou é proscrito (Wallace Jr.,
1999).
Um programa compreensivo e voltado à promoção da saúde precisa entender
essa quase inevitabilidade com a qual convive o ser humano de buscar algum tipo
de prazer em substâncias que produzem algum tipo de sensação. E entender
também que a prevenção do abuso de drogas é sinônimo de vida saudável,
empreendimento tão importante para os jovens que deve incluir a família, a escola, o
grupo de pares, a comunidade e a mídia. Tal abordagem requer uma difícil, mas
factível articulação do serviço social, educacional e de saúde, numa visão
multidisciplinar e como responsabilidade, também, da sociedade
3. Material e Metodologia
As atividades são desenvolvidas em uma comunidade terapêutica: O
CENTRO TERAPÊUTICO DILSO CECCHIN – CETER
O projeto Unovida participa e está articulado com o CETER, desenvolvendo
as ações de apoio ao tratamento. Apresentamos a seguir as atividades realizadas.
1.1 Atendimento médico: Apoio de Profissionais voluntários da área, Hospital
Regional do Oeste, Secretaria Municipal da Saúde (Através das Policlínicas);
1.2 Atendimento Odontológico: Membros do Lyons Clube Chapecó
Integração que são profissionais da área, atividades do projeto e clínica escola da
UNOCHAPECÓ;
1.3 LABORTERAPIA: Os doze Passos do AA e NA (Alcoólicos e Narcóticos
Anônimos) Espiritualidade, Disciplina e muito AMOR;
1.4 Desintoxicação: Quando necessário internamento no Hospital Regional de
Chapecó e encaminhamento para hospitais da Região.
1.5 Limpeza e higiene de todos os cômodos internos do CETER: (Esquema
de rodízio entre os internos, cronograma elaborado pelos mesmos junto a
Administração);
1.6 Atividades de horta: Lavoura e jardinagem (Orientação do Agente
Comunitário junto com os internos, e apoio da Epagri e horto Municipal com doação
de mudas quando necessário);
1.7 Aprendizagem de artesanato: Voluntários da comunidade instrutores
internos com habilidades de curso e agente comunitário contratado pelo CETER;
1.8 Reunião de terapia em grupo e individual com Psicóloga uma vez por
semana;
1.9 Atendimento em grupo com terapia, pelas estagiárias em Psicologia aos
internos uma vez por semana;
1.10 Dinâmica de grupo com monitoramento de Plano de Prevenção de
recaídas;
1.11 Dinâmica de grupo: (Preparo de como enfrentar situações de risco,
quando retornarem para a convívio familiar e social);
1.12 Momento de Espiritualidade: Horário em que cada um é livre para suas
orações dentro da Espiritualidade individual dos mesmos;
1.13 Práticas corporais;
1.14 Visitas dos familiares: Uma vez por mês, no 2º domingo, onde o CETER
proporciona almoço de Integração do interno com a família, sempre com a
participação de membros do Lions Clube Integração e convidados da comunidade
para conhecerem e se integrarem nas atividades do CETER. As visitas de familiares
apenas uma vez por mês fazem parte da orientação de recuperação, pois a família
pode ocasionar interferência emocional no interno;
1.15 Etapas de recuperação: Os quatro primeiros meses, o interno recebe
apenas a visita mensal de familiares próximos (pai, mãe, esposa, filhos, irmão...). No
5º e 6º mês de internamento, o interno é liberado uma vez por mês para passar uma
semana no convívio familiar (ressocialização) retornando posteriormente ao CETER.
1.16 No final do 6º ou 9º mês o interno que está preparado e recuperado
receberá alta, mas ele continua ainda sob os cuidados por três meses para depois
receber o certificado de conclusão do tratamento. No CETER é outorgada a
graduação de conquista na presença dos demais colegas internos, convidados da
comunidade, familiares e imprensa, sendo que a partir desta data o mesmo
encontra-se preparado para retornar ao convívio familiar e social;
1.17 Apoio do CETER Pós-Recuperação. Acompanhamento do ex-interno,
depois da saída definitiva do CETER, durante ainda três meses, através de contato
da administração e Psicóloga. É avaliado o retorno do convívio familiar e social.
Através de contatos o Lyons Clube Chapecó, estudantes e professores orientadores
buscam-se a integração e alternativas junto a sociedade para encaminhamento do
interno recuperado (dentro das habilidades de cada um) a integração do mesmo no
mercado de trabalho.
As atividades dos cursos da Unochapecó estão articuladas com todas as
atividades descritas acima, realizadas de acordo com conceitos de Experimentação,
uso, abuso e dependência de drogas; Redes sociais; Prevenção, Promoção da
saúde.
PREVENÇÃO AO USO: No sentido de educar a pessoa para assumir
atitudes responsáveis na identificação e no manejo de situações de risco que possam
ameaçar a opção pela vida. Educação como um processo contínuo de aprendizagem
voltado ao desenvolvimento de habilidades psicossociais que permitam um
crescimento social e afetivo equilibrado a pessoa. (SENAD, 2010, p. 157).
PROMOÇÃO DE SAÚDE: Processo de capacitação da comunidade para
atuar na melhoria da qualidade de vida e de saúde( MS. Cartas de promoção de
saúde, 2002).
REDE SOCIAL: Conjunto de relações interpessoais concretas que vinculam
indivíduos a outros indivíduos. Influência de grupos como elementos decisivos para a
manutenção do sentimento de pertinência e de valorização pessoal. A rede seguirá os
princípios de cooperação, solidariedade e parceria. Prevenção ao uso indevido de
drogas. (Apostila CURSO de Capacitação para conselheiros e lideranças
comunitárias, 2010).
4. Resultados e Discussões
Os principais resultados obtidos do projeto é o reconhecimento do CETER,
em 2007, com o Prêmio “Mérito pela valorização da Vida”, recebido pela SENAD
(Secretaria Nacional de políticas sobre Drogas) em Brasília. A construção de uma
academia de musculação e aquisição de equipamentos para uso da comunidade
terapêutica. O nível de satisfação dos internos e dos familiares, a participação efetiva
dos professores e estudantes no apoio ao projeto terapêutico, através de ações que
modificam a qualidade de vida dos internos, como palestras educativas, orientação
física e atenção farmacêutica, a aprovação de quatro trabalhos científicos, produzidos
a partir das atividades realizadas no CETER, apresentados no XX Congresso
Brasileiro da ABEAD, que ocorreu em outubro de 2009, na cidade Bento
Gonçalves/RS. A elaboração de seis Trabalhos de Conclusão de curso.
A articulação e o sistema de referência e contra-referência da CETER com o
CAPS-AD avançou muito.
Os avanços observados na comunidade terapêutica vêm ao encontro do que
alguns autores identificam na sociedade, ou seja, que o envolvimento das famílias
no tratamento dos dependentes, é fundamental, pois na maioria das vezes a busca
por prazeres/fugas através das drogas, resulta do relacionamento familiar
conflitivo/difícil, onde pode culminar na dependência. O resgate dos valores
familiares, envolvendo a questão da espiritualidade, a responsabilidade, a
afetividade, bem como o aprendizado relativo aos riscos/danos tanto fisiológico
como psicológico, são ações promocionais e educativas que são desenvolvidas pela
equipe multiprofissional e interdisciplinar, que atua no Centro Terapêutico Dilso
Cecchin. No estudo de Sandra Rebello, foi salientado que as tecnologias
educacionais
(jogos,
livros,
vídeos,
entre
outros)
são
instrumentos
que
complementam, mas não substituem a ação do educador. Neste sentido, é
fundamental investir na formação continuada de profissionais das áreas de ensino e
saúde, formal e informal.
As ações educativas não são necessariamente as únicas ferramentas
disponíveis para tentar resolver o problema da drogadição. A situação vai mais além,
pois envolve a questão sociocultural, econômica e de repressão. Há a necessidade
da criação de políticas públicas voltadas às ações de promoção e educação nesta
área.
5. Conclusão
O Projeto UNOVIDA promove atividades acadêmicas para a vida, junto à
dependentes químicos em tratamento, articulado ao projeto terapêutico de uma
comunidade terapêutica. O grande desafio é o planejamento de ações integradas de
forma interinstitucional e intersetoriais. A dependência química é uma questão de
saúde pública, organizada pelas políticas públicas em nível federal, estadual e
municipal. A articulação do CETER com o CPAS-AD, em um sistema de referência e
contra-referência avançou muito com o projeto Unovida.
Outro desafio é descrever, de forma efetiva, a participação de cada
profissional, em equipe multiprofissional, para o apoio ao tratamento. Muitas vezes
há diferentes formas de compreensão de como as ações de responsabilidade de
cada profissional deveriam ser desenvolvidas. Para a equipe de profissionais do
CETER a noção de equipe multiprofissional, que nos parece estar evidente vem de
encontro com a possibilidade de existir uma interação entre os profissionais e
pessoas em tratamento na construção do conhecimento, mas também o tratamento
de pessoas visando à recuperação da saúde, ampliando assim as possibilidades em
desenvolver
o
tratamento.
Partindo
então
da
necessidade
de
atuação
multiprofissional para o apoio ao tratamento, algumas das ações são de
responsabilidade de profissionais específicos de cada área do conhecimento.
O projeto de extensão Unovida está articulado com o ensino e a pesquisa.
As ações interdisciplinares e multiprofissionais buscam incentivar e promover uma
mudança de comportamento e um projeto de vida mais saudável. Participa
efetivamente de um processo de articulação entre da melhoria da imagem das
comunidades terapêuticas diante dos serviços públicos. Estamos iniciando um
processo de aproximação com os familiares, de forma articulada as atividades dos
trabalhadores do CETER.
5. Referências
ANVISA. Resolução RDC ANVISA 101-01 publicada no Diário Oficial da
União
em
31/05/2001.
Disponível
em:
http://elegis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=1188. Acesso em 16/09/09.
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