O HUMANISTA ANTONIO GARCIA FILHO José Anderson Nascimento RESUMO O médico, professor, poeta, compositor, literato, agente cultural, intelectual Antonio Garcia Filho, foi uma personalidade impar da sociedade sergipana. Teve militância na medicina, em especial no Hospital de Cirurgia, dirigido pelo inolvidável médico Augusto César Leite, na política, atuando no Partido Socialista Brasileiro, que na época acenava com um programa de combate ao capitalismo e da exploração do homem pelo homem. Jornalista, contista, teatrólogo e compositor e destacado agente cultural. A História da Faculdade de Medicina de Sergipe registra de forma indelével a participação de Antonio Garcia Filho, como o seu formador de maior relevo, projetando-o à criação da Universidade de Sergipe e à difusão cultural através da Academia Sergipana de Letras, desde os anos 60 do século passado. Palavras chave: Antonio Garcia Filho, Faculdade de Medicina, Universidade Federal, Conselho de Cultura e Academia Sergipana de Letras. Antônio Garcia Filho nasceu em Rosário do Catete (SE), a 29 de maio de 1916, filho de Antônio Garcia Sobrinho e de D. Antônia Menezes Garcia. Aprendeu as primeiras letras na sua cidade natal, pelas mãos das professoras Rosa Garcia e Laudelina Fraga, exímias educadoras, que forjavam as personalidades das crianças rosarenses. Depois, em Aracaju, estudou no Grupo Barão de Maruim e no Colégio Tobias Barreto, dirigido pelo incansável professor José de Alencar Cardoso, um dos símbolos do ensino e, portanto, responsável pela formação de gerações de sergipanos. Em 1928, no antigo Ateneu Sergipense, passou a receber ensinamentos de outras grandes personalidades da educação, como Costa Filho, Santos Melo, Artur Fortes, Abdias Bezerra, Franco Freire, José Augusto da Rocha Lima, entre outros de igual porte moral e intelectual. 2 Vocacionado para a Ciência Médica submeteu-se a vestibular na Faculdade de Medicina na Bahia, onde ingressou em 1936, como anota Eduardo Antonio Garcia1. Em Salvador, durante o curso de Medicina, já voltado para as contendas políticas, participou dos movimentos estudantis, sendo eleito presidente do Diretório Acadêmico da Escola de Medicina. Orador eloqüente já conquistava o público com a sua palavra candente, erudita e de grande poder dialético. Amante das musas, compositor, musicista e intérprete de canções românticas, especialmente latinas, Antônio Garcia viveu a sua juventude na Soterópolis2, arrebatando corações apaixonados, num ambiente cheio de misticismo, de arte, de cultura e de ciência. Médico graduado pela Escola de Medicina da Bahia, em 1941, iniciou as suas atividades em Laranjeiras, transferindo-se depois para Aracaju. Firmou-se como clínico. Dirigiu o Hospital Santa Isabel e fez parte do corpo médico do Hospital de Cirurgia, a convite do Dr Augusto Leite, referencial da medicina em Sergipe. Estudioso, aprofundou-se nos meandros da Ciência Médica, elevando cada vez mais o seu conceito no meio profissional e a admiração do povo sergipano. Dedicou-se, também, à anestesiologia, tendo publicado vários trabalhos científicos, merecendo destaque especial o que intitulou de “Conduta Pré-anestésica na Criança”3. A partir de 1959, começou a tomar parte com maior frequência de conclaves internacionais voltados para a área médica, mantendo estreito relacionamento com cientistas do Velho e do Novo Mundo, entre os quais: Max Sadowe, Siney Orth, Paulo Bittencourt e Cecil Gray. Na área médica, especializou-se, também, em Reabilitação e Coordenação Motora, cujos estudos aplicou no Centro de Reabilitação Ninota Garcia, inaugurado quando exercia o cargo de Secretário de Educação, Cultura e Saúde, no Governo de Luiz Garcia. Antonio Garcia Filho foi vereador em Aracaju e Presidente da Câmara Municipal. Militante do Partido Socialista Brasileiro, que na época acenava com um programa de combate ao capitalismo e da exploração do homem pelo homem. Jornalista, contista, teatrólogo e compositor. Teve atuação destacada no campo cultural do Estado editando e colaborando em jornais O Nordeste, Correio de Aracaju, Gazeta Socialista, Letras Sergipanas e Revista Sergipana de Cultura; foi Presidente do Centro 1 GARCIA, Eduardo Antonio Conde. Antonio Garcia Filho e a Faculdade de Medicina de Sergipe: criador e criatura. Aracaju: SERCORE Artes Gráficas, 2008, p.23. 2 Soterópolis, designação dada à cidade de São Salvador (BA). 3 NASCIMENTO, José Anderson. Homenagem póstuma ao Dr. Antonio Garcia Filho. Aracaju: Revista da Academia Sergipana de Letras, 2000, p. 157. 3 de Estudos do Hospital de Cirurgia; Presidente da Liga Universitária Católica, Presidente da Sociedade Médica de Sergipe, da Associação Franco Brasileira de Cultura (Alliance Française), do Clube Sergipano de Poesia e membro destacado do Lions Clube Aracaju Atalaia. Para Luiz Antonio Barreto4, [...] Poucos homens construíram um perfil tão múltiplo, tanto na compreensão da realidade, quanto na criação de linguagens, como Antonio Garcia Filho [...] Antonio Garcia Filho aparece com maior relevo no quadro da vida educacional de Sergipe a partir de 1960, com a fundação da Faculdade de Medicina de Sergipe, da qual foi o primeiro diretor por oito anos consecutivos e da Universidade Federal de Sergipe. O seu filho e biógrafo Eduardo Antonio Conde Garcia5, desta que: [...] A fundação da Faculdade de Medicina de Sergipe, durante o Governo Luiz Garcia, foi um “divisor de águas” no que se refere ao ensino superior do Estado, pois além de ter sido o principal motivo para a grande transformação da Medicina do Estado, permitiu que a Universidade Federal de Sergipe fosse criada. O esforço para vencer barreiras, contornar dificuldades e a obstinada decisão para que a escola nascesse, foi liderado pela figura ímpar do médico, professor, poeta, compositor, literato, agente cultural, intelectual Antonio Garcia Filho. A ele devemos nós, os seus ex-alunos e ex-alunos da Faculdade de Medicina, como também devem os sergipanos, pela enorme transformação que esta Faculdade propiciou às Ciências Médicas do Estado de Sergipe.[...] Inegavelmente, a fundação da Faculdade de Medicina em Sergipe constitui um marco da História da Medicina e da educação superior no estado, pois possibilitou a criação da própria Universidade Federal, com a efetiva participação do médico, professor e acadêmico Antonio Garcia Filho. Ao ingressar na Academia Sergipana de Letras, no dia 8 de agosto de 1961, foi recepcionado pelo poeta Freire Ribeiro, que destacou a sua personalidade de homem público e de intelectual de vanguarda, registrando as suas obras literárias, citando especialmente os poemas: Mancha no mar, cheio de ternura e de lirismo; Pesca do maçunim, em que espelha a paisagem do mangue e do lamarão, onde os pescadores buscam a sobrevivência, e Menino do além, um poema de amor, de fraternidade e de reencontro com as cousas amadas. 4 BARRETO, Luiz Antonio. http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=75046&titulo=Luis_Antonio _Barreto 5 Ob., cit., p. 111. 4 O seu livro A reabilitação em Sergipe é um livro documentário sobre a chamada 3ª fase da Medicina. O outro, Um pensamento na praça, é um livro aberto com uma peça teatral, onde demonstra toda a sua versatilidade criativa e literária, não faltando conceitos sobre temas ainda atuais, apesar de ter sido escrito nos anos 50, do século passado. Na segunda parte do livro reúne excertos de pronunciamentos e trabalhos sobre personalidades do seu tempo e vários outros temas. No poema Acorda Laranjeiras, sobressai-se o conteúdo histórico e social, sempre presente na obra do poeta Antônio Garcia Filho Na presidência do Conselho Estadual de Cultura, criou o Encontro Cultural de Laranjeiras, voltado para o estudo da Cultura Popular, cuja instalação se deu em 28 de maio de 1976, no adro da Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus, em Laranjeiras (SE), ocasião em que fez uma retumbante oração, Acorda Laranjeiras. Na presidência da Academia Sergipana de Letras desempenhou um trabalho invulgar, colocando o Sodalício em posição de destaque no meio da sociedade cultural do país, incentivando a produção acadêmica dos seus confrades. Criou um movimento cultural para apoiar as ações da Academia, reunindo intelectuais residentes em Aracaju, buscando o agenciamento e a difusão da Cultura Sergipana. Este órgão foi denominado, posteriormente, de Movimento Cultural Antônio Garcia Filho, como uma homenagem póstuma ao seu idealizador. Faleceu em Aracaju, Sergipe, a 22 de junho de 1999, deixando um extraordinário legado moral. O seu nome permanecerá na galeria dos brasileiros ilustres, pelo seu talento, pela sua cultura, pelo seu caráter e pelo seu coração cheio de ternura e de bondade. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GARCIA, Eduardo Antonio Conde. Antonio Garcia Filho e a Faculdade de Medicina da Bahia: criador e criatura. Aracaju: SERCORE Artes Gráficas, 2008. NASCIMENTO, José Anderson. Homenagem póstuma ao Dr. Antonio Garcia Filho. Aracaju: Revista da Academia Sergipana de Letras, 2000. BARRETO, Luiz Antonio. Antonio Garcia Filho. Aracaju, 28 out 2008. Disponível em: >http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=75046&titulo=Luis_Antonio _Barreto