CP V z^ 22 m 1^3 HA' UM OOGftiDOÍ ÍÇiWc KX \\ ft>Í.ÍAA SÍM! wo Rüfeírc CORRUPTO' 4 • CPI - A CUT NÃO DEVE E NÃO TEME • DESEMPREGO E DESAGREGAÇÃO CULTURAL DOS TRABALHADORES • A QUESTÃO AGRÁRIA, A FOME E A MISÉRIA • DESENVOLVIMENTa ECONÔMICO. PARA QUE? • A ESQUERDA E A LUTA PELO PODER • PERSPECTIVAS PARA OS SANDINISTAS 175 20 DEZ 93 Custo Unitário desta Edição: CRS 230,00 Folha de São Paulo - 04.12.93 PO INFORMA -n>70- Novembro 1993 Extras dificultam movimento sindical A vida do trabalhador, principalmcntc na área metropolitana, uma das maiores economias do país, está cada dia mais difícil. E a indústria e comercio diminuindo o número de empregados. Com salários arrochados pela inflação e, aumento substancia] de desemprego, o trabalhador começa procurar saídas c uma delas é a chamada hora extra. Sem contar que 25% dos trabalhadores em 1985 ganhavam um valor em media de 1,5 salário mínimo, c hoje esse mesmo valor, atualizado, atinge cerca de ,44,5%. Ou seja: mais traballiadores ganhando menos. Somente no mês de setembro a indústria eliminou cerca de 11 mil trabalhadores. Essa mesma indústria cm 1985 oferecia trabalho para mais de 30% dos empregados (No Plano Cruzado, representando cerca de 36% dos ocupados), hoje, absorve apenas 24,8% dos ocupados. (Fonte; pesquisa Scade - Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados e Dicesc Departamento Intersindical de Estatística c Estudos Sócb-Econôirjujs). Atentado contra o trabalhador? Para fugir de uma inflação corrosiva o trabalhador se submete à As horas extras têm sido a saída que os trabalhadores são obrigados a se submeter para melhorar o orçamento no final do mês. Embora elas sejam responsáveis pela nâo instalação de milhares de novos postos de trabalho. chamada hora extra, encontrando aí, uma forma de reforçar o salário no final do mês. A CLT prevê o máximo de 2 toras por dia, mas os números apontam que essa lei não c cumprida. Estimativas feitas pelos sindicatos dos Mctalúipeos ABC, costureiras SP e químicos SP, apontam que mais de 59 mil novos postos de trabalhos foram engolidos pelas horas extras. Para o presidente da CUT Regional da Grande São Paulo, Luiz Gonçalves, uma forma de burlar a legislação c praticada pelos empresários de transporte coletivos. "O motorista recebe as horas extras diretamente no caixa. Não entra no holerite. Existe também a dupla pegada onde o motorista fica à disposição da empresa o dia todo, faz duas pegadas (manhã c tarde), e c considerado apenas uma jornada, explica. Sindicalistas afirmam encontrar dificuldades, em convencer os traballiadorcs a não fazerem horas extras, pois estas representam um maior orçamento no final do mês. Pesquisa de Diecsc/Scadc indica que mais de 46% dos trabalhadores cm atividade fazem todos os meses jornada superior às 44 horas semanais de trabalho. Pesquisa do Dieese/Seade indica que mais de 46% dos trabalhadores em atividade fazem horas-extras. ASSINATURAS: Individuai Cr$ 2,400,00 (6 meses) e Cr$ 4.800,00 (12 meses) Entidades sindicais e outros Cr$ 2.700,00 (6 meses) eCr$ 5.400,00 (12 meses) Exterior (via aérea) US$ 50,00 (6 meses) e US$ 100,00 (12meses) O pagamento deverá ser feito em nome do CPV - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro em cheque nominal cruzado, ou vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO BELA VISTA - CEP 01390-970 - Código da Agenda 403.300. QUINZENA - Publicação do CPV - Caixa Postal 65.107 - CEP 01390-970 - São Paulo • SP Fone (011)285-6288 Betíiúio lança campanha que ataca o desemprego Idéia é abrir o debate sobre como gerar empregos Da Reportagem Local O sociólogo Herbert de Souza lançou ontem em São Paulo a Campanha Nacional do Emprego. Ela representa a segunda fase da Ação da Cidadania contra a Miséria e a Fome. ■'A fome resulta do desemprego e ela só vai acabar com empregos e salários'', disse Betinho, ao deflagar a campanha no último dia do 30? Fórum de Secretarias dó Trabalho. A campanha contra a fome fecha o ano com mais de 3.000 comitês de arrecadação. "Isso mostra que 93 foi o ano do despertar e 94 será o do emprego", disse Betinho, que estima existirem no país 9 milhões de famílias vivendo na indigência. A idéia da campanha é abrir o debate sobre formas de geração de empregos. O ministro do Trabalho, Walter Barelli, afirmou que uma das prioridades do governo em 94 será combater o desemprego. Citou como uma das iniciativas a releitura do Orçamento sob a perspectiva do emprego. O governador Luis Antônio Fleury contabiliza 2,2 milhões de desempregados no Estado. A QUINZENA divulga o debate do movimento, contudo coloca algnmas condições para tanto. Publicamos teses, argumentaçães e réplicas que estejam no-mesmo nível de linguagem e companheirismo, evitando-se os ataques pessoais. Nos reservamos o direito de divulgarmos apenas as partes significativas dos textos, seja por imposição de espaço, seja por solução de redação. iiilii:iii:isiiip;| Quinzena W Trabalhadores Cartilha -A Luta dos Trabalhadores pela Vida em Tempo de Desemprego Dezembro 1993 Desemprego e Desagregação Cultural dos Trabalhadores O extraordinário grau de miséria a que o capitalismo tem submetido a maioria esmagadora da população brasileira (e também no restante do mundo) faz com que associemos imediatamente a palavra desemprego às crescentes dificuldades de ordem material porque passam os trabalhadores de diversas inserções no processo produtivo, formal e informal. Nada mais justo que pensar assim. De fato, é necessário que o trabalhador saiba que o desemprego é o resultado da própria lógica da produção capitalista, cada vez mais concentradora de renda e poder político, e, obviamente, cada vez mais excludente em face às maiorias sociais. Essa exclusão se materializa, aos olhos desses despossuídos, pela carga cada vez mais acentuada de dificuldades para assegurar a sobrevivência. É preciso enfatizar, então, que o desemprego não é apenas uma "questão política" abstrata (como pretendem muitos): o desemprego é, também, uma questão existencial e cultural. Nem só de pão vive o homem, diz, com sabedoria, o provérbio popular. O homem é, acima de tudo, um criador, o único ser em toda a história do planeta Terra capaz de converter seus sonhos em matéria poética. A ideologia burguesa tem tentado, ao longo do tempo, distanciar o trabalhador da questão cultural. Para isso, procura inscrever, no imaginário popular, a concepção de cultura como algo " sofisticado", "bonito", feito exclusivamente pelas pessoas "educadas". Nada mais falso: todos os seres, por mais humildes que sejam, criam cultura. Existem, de fato, manifestações diversas da cultura, mas, acima de tudo, aquilo que o ser humano cria com suas mãos e seu espírito é cultura: uma dança, um canto, as estórias que conx-:v:v>:-:-:v:-:-:-:-:-::v;';:v:v:-::-;-::v:-::-:-:::o::-::-::v::::-;::::-: ta para os filhos, a mesa posta para o almoço, a peça criada pelo trabalhador na fábrica, etc. Todas essas formas de expressão da cultura correspondem a visões de mundo, a modos diversos de ler a realidade e recriá-la. Ao transformar o mundo que o cerca, o trabalhador cria uma cultura que é, ao mesmo tempo, universal e, ao mesmo tempo, específica. Essa especificidade acha-se presente em cada país, em cada região, no campo e na cidade, em cada classe social, em cada indivíduo. A cultura é infinita como as ondas do mar e como as estrelas do céu. Toda essa cultura, com seus milhões de rostos, indica o estágio evolutivo em que se encontra um determinado segmento da humanidade. Faz-se necessário que a classe trabalhadora confira absoluta prioridade à questão cultural em seu fazer diário. É pela cultura que se transmitem concepções de vida, valores, processos que moldam nosso dia-a-dia e as formas pelas quais compreendemos o mundo e buscamos transformá-lo. É, portanto, através de um "cultura" artificialmente produzida que o capitalismo procura se apossar dos desejos e sonhos dos trabalhadores (via, p,. ex., a mídia eletrônica e o pesado bombardeio diário da publicidade). Tudo isso com o objetivo de acumular sempre mais capital e poder político, estabelecendo, as regras para o funcionamento da sociedade. Por essa razão, a questão cultural assume, hoje, papel decisivo no campo da dominação, "mostrando" a "morte" do socialismo e a "vitória total" de um capitalismo em permanente crise e decadência. Desmistificar o projeto neoliberai significa trabalhar a questão cultural, para que se chegue a valores reais e se reescreva a história segundo a visão das maiorias sociais (e mmmmmmmmsm: -tmmm não o contrário, como sucede hoje). E por esse conjunto de razões que os proprietários do capital promovem o desemprego sistemático, na medida em que este apresenta uma série muito profunda de conseqüências para a produção da cultura dos trabalhadores, cultura que também é memória e relato vivido nos confrontos para pôr fim à exploração. Essas conseqüências são também expressas pelo infindável dclo das migrações, que os trabalhadores realizam em sua busca de trabalho. Essas migrações se dão primeiro no interior das cidades e, logo a seguir, no interior deste imenso e complexo país, percorrido em todos os sentidos por grupos cada vez maiores de desempregados à cata de novas ocupações produtivas. Somos, afinal de contas, um país de migrantes porque somos um país sem reforma urbana e sem reforma agrária, com 10% da população concentrando em suas mãos 50% da riqueza; onde o desemprego crônico, o sub-emprego e o desemprego "disfarçado" constituem a realidade diária de milhões de seres humanos sem raízes, varridos pelo vento da incerteza, de um lugar para outro, sem paradeiro. Falamos, no título deste pequeno ensaio, em "desagregação cultural": o que tem isto a ver com o desemprego, cujo processo perverso imposto ao trabalhador foi acima estudado? A desagregação cultural dá-se, a nosso ver, em dois pontos: em primeiro, a desagregação da cultura técnica do trabalhador, o conhecimento acumulado ao longo de anos de experiência, que desaparece com grande rapidez com a imposição de novas tecnologias sem negociação com o trabalhador, sem um período efetivo de transição da etapa anterior para a nova. Assim, o metalúrgico especializado, que detém uma rela- Quinzena ção bastante aprofundada com o ambiente fabril onde desempenha sua atividade, abandona forçadamente sua qualificação e passa a se tomar "vigia" do computador que agora desempenha a "função produtiva". Juntamente com essa desagregação cultural (que pode ser parcial ou totalmente revertida em muitos casos, em outros, não), vem a desagregação do saber político, das relações pessoais e de produção estabelecidas com grande sacrifício ao longo do tempo. Outra forma de desagregação cultural é aquela determinada, como vimos acima, pelo processo migratório, que impede (ou ao menos dificulta) a compreensão, assimilação e visão critica de processos centrados em culturas regionais, com todo o seu riquíssimo conjunto de valores, linguagem, gestos, literatura oral, relações afetivas, etc. Pense-se, p.ex., no trabalhador da cana-de-açúcar da Zona da Mata, em Pernambuco. Este ser humano, não raro uma criança, trabalha no campo metade do ano, na cidade, a outra metade. Não é trabalhador urbano nem rural, não estabelece vínculos ou lealdades, afetos ou relações, permanece partido em pedaços, fragmentado, incapaz de plenamente compreender a estupidez da violência capitalista que desaba sobre sua cabeça e a de sua família. Esta destruição "sem W violência" física do trabalhador, com a destruição de sua história e memória coletiva, é o sonho da dominação "sem dor" do capital sobre o trabalho. A brutalidade das condições de vida impostas às massas trabalhadoras escreve o sofrimento em seus rostos. A luta dos trabalhadores contra a exploração do capital escreve também em seus rostos uma história que livro algum conta, escreve em seus rostos a esperança da vida melhor que se constrói apesar da estupidez da sociedade capitalista dita neoliberal. O capitalismo procura reduzir os trabalhadores a produtores automatizados de bens e serviços, bem como consumidores robotizados do lixo produzido pelas indústrias e pela mídia eletrônica. Busca, assim, esvaziar as emoções genuínas dos trabalhadores, substituindo-as pelos enlatados de todos os tipos. Apesar de tudo isso, a resistência dos trabalhadores segue reconstruindo a história e construindo uma cultura verdadeira, mural das lutas e das conquistas, memória do passado e livro aberto para o futuro. Lutar contra d desemprego significa, por fim, lutar pela conquista da mais alta qualidade de vida para milhões de trabalhadores. Significa a conquista do tempo livre para o afeto, a alegria, o amor, a camaradagem, sementes de uma sociedade socialista que acolhe de braços aber- Trabalhadores tos a diversidade, a pluralidade, a democracia e se constrói tendo por norte não objetivos obscuros tirados de algum livro empoeirado mas, ao contrário, tendo como objetivo permanente o assegurar da felicidade plena a todos aqueles que estiverem empenhados na construção da Justiça e da Paz. Sem esse norte, a cultura perde sua vitalidade. Sem a estrela do socialismo a orientar os caminhantes, a busca perde sentido. Os trabalhadores constróem a cultura e a riqueza. Devem desfrutá-las generosamente, incessantemente, por todos os dias de suas existências. José Fernandes Dias Pesquisador e Assessor no CEDAC-RJ. SUGESTÃO: Faça um levantamento entre os membros do seu grupo para saber quantos desempregados existem na família de cada um deles. Converse com estas pessoas e procure saber como elas se sentem sem emprego, como a família reage, o que elas pretendem fazer para sair desta situação, etc. Junte essas informações e discuta no seu grupo. APROFUNDE ESTAS QUESTÕES: 1. Por que o trabalhador(a) tem tanto medo de perder o emprego? 2. Que vícios o desemprego alimenta no trabalhador(a)? 3. Como é a vida de um trabalhador desempregado? CUT INFORMA - W 227 - 27.09 a 03.10.93 O sistema de relações trabalhistas: as propostas em debate Nos anos 80, após o surgimento do novo sindicalismo, as possibilidades de implementação de um novo sistema de relações trabalhistas foram rechaçadas pela atitude conservadora e autoritária do empresariado e do aparato do Estado e, por outro lado, entorpecidas pela resistência cultural das organizações sindicais. Nos anos 90, diferentemente, íoma-se cada vez mais marcante a tendência de mudanças no sistema de relações industriais e, no entanto, esse se dará num quadro francamente desfavorável para os trabalhadores. mmmÊmêm A precipitação do país num longo período de recessão e retrocesso econômico e social colocou com mais força o anacronismo do sistema de relações trabalhistas existente. Hoje setores do Executivo e do empresariado - que no passado resistiram às mudanças - querem a reformulação do sistema, com base no modelo neoliberal, que terá como resultado o afastamento do Estado e a desregulamentação dos direitos sociais. O avanço dessa discussão passa por questões fundamentais como: o papel do Estado em relação à sociedade civil; a questão da cidadania; o modelo econômico de desenvolvimento e dentro dele o papel das empresas públicas; quais as áreas estratégicas e de estrita competência do Estado; a inserção na economia globalizada e a regionalização da economia como uma fator de desenvolvimento do mercado e a reformulação do sistema de relações trabalhistas. 0 posicionamento da CUT O movimento sindical está frente a um confronto, onde não pode defender o "velho" modelo corporativo w ■:■:■:•:■:■:;;•:■:■:■:':■:■; Quinzena e terá que lutar para que as mínimas garantias individuais e coletivas sejam mantidas, o que náo ocorrerá com a implementação de um sistema de relações industriais descodificado e descentralizado. A realidade sindical brasileira apresenta ainda um quadro de transição, onde os sindicatos não conseguiram superar o burocratismo e continuam premidos por pautas e calendários previamente determinados, recorrendo ainda ao Estado, através da Justiça do Trabalho, para a solução dos conflitos rnstalados. Isto coloca para a CUT uma difícil situação: continuar propondo a democratização das relações sindicais e, ao mesmo tempo, defender-se de uma modernização "liberal" que pretende a flexibilização dos direitos trabalhistas, em adaptando-os às novas formas de gerenciamento e à reestruturação produtiva. A CUT deve construir uma política que combine a defesa de uma proposta de modernização e democratização do sistema de relações trabalhistas, combinando a ampliação e articulação do sistema contratual, com graus de descentralização, mas com um patamar mínimo nacional e setorial, embasado na manutenção de um corpo normativo que contemple os principais direitos. Para tanto, é fundamental que tenhamos claro qual a proposta da CUT e quais as propostas que as organizações empresariais apresentaram ao governo em dezembro passado à respeito do tema. CUT - Proposta de um Sistema Democrático de Relações Trabalhistas 1. Estabelecimento de um processo de transição, com a manutenção dos direitos sociais estabelecidos pela Constituição; a regulamentação do sistema de relações coletivas, tendo como pressupostos as Convenções Internacionais da OIT - 87, 98, 135, 151 e 154 e legislação de sustento. 2. Reconhecimento da representação sindical existente e convalidação das convenções coletivas já firmadas. ■ organização sindical - convenção 87, liberdade e autonomia sindical. Reconhecimento das centrais sindicais como representativas em todos os âmbitos. ■ negociação coletiva - estabelecer um sistema permanente e articu- ■ ■ ■ ■ ■ lado, assentado em alguns princípios básicos: acesso à informação, represenlatividade das partes, direito de greve e direito à organização nos locais de trabalho; reconhecimento da representatividade das partes. instrumentos de contratação Contrato Coletivo Nacional (setorial e intersetorial). Convenção Coletiva (categoria profissional) e Acordo Coletivo (empresa) como instrumentos de contratação articulada; centrais sindicais, confederações e federações nacionais podem negociar. solução de conflitos coletivos auto-composição dos conflitos (sem a intermediação compulsória do Estado); fim do poder normativo da Justiça do Trabalho. representação dos trabalhadores na empresa - garantia do direito na. legislação. direito de greve - aplicação do direito constitucional direitos individuais - manutenção dos direitos atuais durante o período de transição, ir incorporando aos contratos coletivos os direitos fundamentais dos trabalhadores, promovendo-se posteriormente uma revisão da Legislação. Direitos sociais constitucionais e regulamentação legislativa dos direitos individuais prevalecem sobre os convênios coletivos (esses só podem ser a mais do que a Legislação). Trabalhadores A proposta de livre negociação, sem intervenção do Estado, é uma meta importante para a construção de um sindicato democrático e mais representativo. Mas é preciso pensar como desenvolver esse processo e como chegar a esse objetivo. Significa repensar a prática sindical sob dois pontos de vista: sua organização e sua relação com a própria Justiça do Trabalho. É preciso também analisar a situação dos trabalhadores que ainda têm seu salário regulado pelo salário mínimo e não dispõem de proteção da convenção coletiva de trabalho se principalmente que o poder de negociação dos sindicatos menores (a maioria) não é o mesmo que os dos grandes sindicatos, portanto necessitam de garantias normalizadas. Foi com esse espírito e principalmente para enfrentar o modelo fiexibilizador, que em nosso país significará a legalização da fraude e a perda de direitos mínimos, que a Direção Nacional da CUT aprovou o projeto de um Sistema Democrático de Relações Trabalhistas. Estas devem ser as bases políticas de nossa intervenção no Fórum Nacional de Contrato Coletivo e Relações de Trabalho, instalado pelo Ministério do Trabalho no dia 22 de setembro e, que deverá realizar um diagnóstico sobre a realidade das relações trabalhistas e as diferentes propostas colocadas. Comentários sobre as propostas da CUT Empresários • As propostas para um novo sistema de relações trabalhistas A organização e representação no local de trabalho não pode ser encarada apenas como uma bandeira democrática, ela terá papel decisivo na conformação da reinstitucionalização sindical. Outra questão relevante neste debate sobre o modelo sindical futuro diz respeito à contratação coletiva que, por sua vez, não pode ser pensada de forma divorciada da forma de organização. O nosso sistema de negociações coletivas é bastante fcentraiizado e apenas os sindicatos têm o poder de representar os trabalhadores nesse processo. Não conta com a garantia de bases mínimas de sustentação da açào sindical no processo negociai e o direito de greve é limitado. Além disso, está sujeito a uma série de normas e limitado pelo poder de interferência da Justiça do Trabalho. Interferirá decisivamente na reinstitucionalização do modelo sindical o processo de mudança na organização do trabalho: um novo trabalhador está sendo pensado, em face de exigências do novo modelo de produção que já está em instalação. Esse implica numa nova organização do trabalho e novas formas de gerenciamento, como o trabalho participativo, polivalente, qualidade total, etc, que, entre outras coisas, permitem o estabelecimento de uma estratégia de cooptação por parte dos empresários. Neste momento, todos os segmentos empresariais brasileiros estão de acordo que um dos requisitos do processo de modernização do sistema de relações trabalhistas é o estabelecimento de mecanismos que permitam a sua flexibilização. Trabalhadores Quinzena Confederação Nacional da Indústria - CNI • Declaram sua preferência por um sistema de relações de trabalho baseado mais na negociação do que na Legislação. Propõe um "sistema de relações de trabalho que seja mais negociai e mais flexível do que o atual", sendo favorável ao contrato coletivo de trabalho se ele for baseado nessa concepção. A redução da legislação trabalhista e a supressão do poder normativo da Justiça do Trabalho precedem a adoção do contrato coletivo de trabalho. Alegam que, em face da aplicação do contrato coletivo de trabalho, haveria a derrogação de diversos direitos constitucionais e da CLT (excepcionalidade - apenas para os que não tenham contrato coletivo). A posição da CNI foi tomada com base no documento apresentado pelo dr. José Pastore, que defende a desregulamentação das relações de trabalho, a priorização da negociação e a adoção do contrato coletivo de trabalho por empresa. Confederação Nacional da Agricultura - CNA Critica a Constituição que igualou os trabalhadores rurais que trabalham no extrativismo e em todas as culturas e regiões e ao trabalhador urbano; garantiu os mesmos direitos aos trabalhadores menores de 18 anos ("quando na roça o menor de 12 anos já começa a trabalhar..."). Propõe uma legislação rural diferenciada e a supremacia da negociação sobre a lei, que seria suplementaria. ■ instrumentos de contratação propõe a seguinte ordem: Io acordo coletivo; 2o convenção coletiva; 3o contrato coletivo de trabalho; 4o só em caso de lacunas se aplicaria a lei. Legitimidade da Confederação, Federação e Sindicatos para negociarem. ■ negociação coletiva - As Confederações apenas negociariam os princípios gerais do trabalho; as Federações detalhariam essas condições para a região; os sindicatos detalhariam as condições de trabalho de acordo com a atividade e sua base tenitorial. ■ solução de conflitos coletivos comissão de arbitragem para a mediação. Em caso de não haver acordo entre as partes, não poderá se recorrer ao dissídio ou à greve, sem que antes haja uma com- posição direta entre os trabalhadores e a empresa, sem a participação do sindicato. ■ Confederação Nacional do Comércio - CNC Não apresentam nenhuma proposta, mas tecem algumas considerações sobre o tema. Entendem que o contrato coletivo somente poderá ser implantado mediante emenda constitucional. São indispensáveis alguns pressupostos para a sua adoção: estabilidade econômica e inflação baixa. Sendo incompatível com a Justiça do Trabalho, na vigência do mesmo essa seria dispensada. Caracterizam o contrato coletivo como um instrumento centralizador e monopolista, incompatível com a extensão e diversidade geográfica brasileira. ■ ■ ■ Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP Também consideram que a lei é omissa e que, portanto, o contrato coletivo só poderia vir a ser instituído por meio de Reforma Constitucional e posterior regulamentação ordinária. Como pressuposto para a adoção do contrato coletivo colocam a redução da legislação de amparo ao trabalho, reduzindo-a ao mínimo possível, deixando que as partes através da livre negociação "criem tudo aquilo que fosse de seus recíprocos interesses, como direitos e obrigações". Também são contrários a negociação articulada a nível nacional, tendo em vista as dimensões do país e disparidades regionais. Além disso, a FIESP entende que a "negociação a nível nacional eliminaria o objetivo maior de flexibilização, criando verdadeiro engessamenlo em detrimento da economia das empresas e, conseqüentemente, do país". Para a implantação do contrato coletivo de trabalho propõem a realização de um debate nacional e a revisão da Constituição Federal e de toda a legislação esparsa. ■ organização sindical - reestudo da atual estrutura sindical, limitação do número de dirigentes sindicais com garantia de emprego; ■ negociação coletiva - inexistência de política salarial, salvo para o salário mínimo; prevalência do que for estabelecido pela con- ■ ■ tratação coletiva sobre os direitos individuais; instrumentos de contratação supressão do princípio da cumulatividade de concessões anteriores (de lei ou de normas coletivas) nos contratos de trabalho; duração a ser estabelecida pelas partes, sendo vedado o prazo indeterminado; solução de conflitos coletivos pelo menos a limitação do poder normativo da Justiça do Trabalho; faculdade das partes recorrerem à mediação e arbitragem; representação dos trabalhadores na empresa - não obrigatoriedade de representação sindical na empresa; direito de greve - suspensão do contrato de trabalho para todos os efeitos durante o período de greve e ressarcimento de danos ou prejuízos nas greves abusivas ou com ocupação; direito de lockout (paralisação defensiva das empresas); direitos individuais - a legislação deveria abarcar apenas: salário mínimo, duração anual do trabalho; férias; segurança e medicina do trabalho; identificação profissional; rescisão contratual. Pensamento Nacional das Bases Empresariais - PNBE São fundamentais duas alterações significativas: reduzir o peso e o papel que o Estado exerce nas relações entre trabalho e capital; liberalizar a forma de organização patronal e de trabalhadores. É fundamental a simplificação de todo aparato legal, com uma Constituição que defina grandes princípios e direitos e com leis ordinárias que privilegiem a negociação. A transição entre a legislação atual e a desejada não deve impedir que os setores e regiões que assim desejarem pratiquem a contratação coletiva de modo flexível. ■ princípios constitucionais - livre organização e associação sindical; relação formal de trabalho; salário mínimo de subsistência; direito de greve e privilegiar a negociação e a contratação coletiva; M Quinzena m direitos individuais - regulamentação da relação formal de trabalho (jomada anual; prescrição de direitos; seguro desemprego; repouso semanal e férias; trabalho do menor e aposentadoria); salário mínimo regional; saúde, higiene e segurança do trabalho; ■ organização sindical - liberdade e autonomia, pressupostos mínimos de representatividade; ■ negociação coletiva - definição de instâncias (nacional/setorial, regional/setorial, unidades de trabalho); definição dos negociadores (Confederação, Federação, Comissões de unidade de trabalho); extensão do acordo para os não sindicalizados; ■ solução dos conflitos trabalhistas - comissões paritárias para solução de conflitos em 1n instância; fim do poder normativo da Justiça do Trabalho e sua utilização para os conflitos individuais, desde que não prevista sua solução no contrato coletivo de trabalho; Comentários sobre as propostas dos empresários "Não poderá existir o contrato só com flexibilização de relacionamento entre as partes sem que houvesse também a flexibilização dos direitos." Esta frase tirada de uma das propostas patronais ilustra bem sua concepção de um novo sistema de relações trabalhistas; a desregulamentação de direitos mínimos e a vigência da livre negociação. l instrumentos de contratação contrato coletivo de trabalho; No Brasil, com o alto índice de fraude trabalhista existente e a sonegação do recolhimento das verbas sociais, essa proposta é no mínimo indecente. Na verdade, a desregulamentação dos direitos serviria para "legalizar" a fraude trabalhista e deixar ao mercado a regulação das relações sociais. Seria a vigência de um sistema liberal, onde trabalhadores de alguns setores e de algumas empresas poderiam obter ganho, os demais viveriam uma situação semelhante à do início do século, quando não existia nem contrato de trabalho e nem a limitação da jornada de trabalho. ' l representação dos trabalhadores na empresa - reconhecer o direito. Além disso vale ressaltar alguns aspectos das propostas patronais apresentadas anteriormente. Trabalhadores A proposta do PNBE é coincidente com nossas concepções no que diz respeito à liberdade e autonomia sindical. Mas, ao propor a prevalência do contrato coletivo sobre a legislação (ou seja a legislação só teria validade para quem não tivesse contrato coletivo de trabalho), cria a possibilidade de que os direitos sejam flexibilizados e reduzidos via acordo coletivo, pois as negociações não partiriam de um patamar mínimo estabelecido garantido com a vigência da legislação. A proposta da FIESP é no mínimo escandalosa. Prega a desregulamentação no tocante aos direitos fundamentais, mas quer a interferência da lei (do Estado) quando se tratar de direitos sindicais. A portaria do MTb de 1985 já havia acabado com o estatuto padrão, a FIESP quer agora reeditá-lo. E finalmente vale comentar a proposta da CNA que, além de propor questões semelhantes aos demais, prega na verdade o afastamento do sindicato do processo de negociação.Q Diário Popular - 27.11.93 Sem temer as mudanças Vicente Paulo da Silva A Justiça do Trabalho tem de ser repensada. Do jeito que está, não pode ficar. Somente no ano passado, aproximadamente dois milhões de novas ações foram propostas às juntas trabalhistas espalhadas pelo País. São milhões e milhões de trabalhadores que esperam anos, algumas vezes quase uma década, por uma decisão sempre tardia que, quando favorável, acaba inviabilizada pelo longo tempo decorrido. Além de toda ineficiência, ela ainda envolve enormes interesses corporativos e representa alto custo para o País. Apenas a Justiça do Trabalho consome da União verba anual estimada hoje em US$ 500 milhões. É preciso mudar esta realidade. Todos concordam, mas nada se faz neste sentido. E, se alguém tem medo das mudanças, não somos nós, os trabalhadores. Exemplo disso é a riqueza de propostas sobre reestruturação da Justiça trabalhista que surgem em encontros, seminários e congressos de trabalhadores. Entre os metalúrgicos do ABC não é diferente. "Nosso l2 Congresso, encerrado na primeira quinzena deste mês, é ura exemplo. Durante 40 dias, aproximadamente 600 delegados discutiram os mais variados temas: questões internacionais, problemas brasileiros, dilemas da classe trabalhadora e até preocupações com sua própria organização no chão da fábri- ca. Entre estes tonas, no entanto, a questão da Justiça do Trabalho mereceu atenção especial. Nós acabamos de enfrentar aqui em São Bernardo, um debate bastante interessante com a Autolatina sobre reclamações trabalhistas relativas a perdas dos Planos Bresser e Verão. O resultado foi um acordo exemplar para todo o País. Retiramos da Justiça do Trabalho reclamações de 30 mil trabalhadores. Em assembléias democráticas eles aprovaram a proposta de receber estes direitos já e agora, em vez de continuarem esperando da Justiça uma incerta decisão favorável. Para quase 30% deles, aliás, já existiam sentenças negativas. Quinzena Trabalhadores Foi no eco deste debate que os metalúrgicos do ABC voltaram a discutir a questão em seu congresso. Para nós, a raiz dos problemas da Justiça do Trabalho está no modelo fascista do ditador Benito Mussolini, que a inspirou durante o Estado Novo. Está claro que a forma na qual está estruturada a Justiça do Trabalho só interessa aos maus empregadores, que preferem continuar desrespeitando os direitos mínimos dos trabalhadores. Não podemos ter um serviço público congestionado, ^moroso, ineficiente e atrelado, em que as ações penam anos e anos sem solução.' Na prática, a lentidão da Justiça acaba transformando os códigos de leis em letras mortas. De quase nada vale ao trabalhador ter um direito que não pode ser exercido quando dele se necessita. Nossos advogados testemunham a freqüência com que a demora da Justiça se constitui em verdadeira forma de negação de justiça. Esta demora es- timula acordos nunosos e gera, ao mesmo tempo, descrença nas instituições e revolta contra a ordem social vigente. Por tudo isto, nossa Justiça do Trabalho, da mesma forma que toda a estrutura judiciária do País, precisa urgentemente de mudanças estruturais. Elas passam, sem dúvida, pela reorganização dos poderes e funções de suas diferentes instâncias, e, sobretudo, pelo reestudo do instituto do juiz classista, cujas contradições são flagrantes. Mas há uma outra grande distorção que é preciso corrigir. Ela também nasce na concepção paternalista que inspirou a fundação da nossa Justiça do Trabalho. Toda vez que nos defrontamos com algum conflito trabalhista, seja ele individual ou coletivo, a primeira providência é correr à Justiça. Este conceito tem de ser superado. Por isso os metalúrgicos do ABC há alguns anos vêm trabalhando cora propostas inovadoras no campo das relações capital/trabalho. Temos discutido com nossos empregadores a criação de Conselhos Paritários de Empresa e a instituição da figura da arbitragem. Estes institutos, que independem de legislação de qualquer natureza, já começam a aparecer no ABC. Dois estatutos de comissões de fábrica, o da Autopeças Sachs e o da fábrica de embalagens industriais Van Leer, são exemplos que mostram como é possível descarregar a Justiça do Trabalho e ao mesmo tempo modernizar a relação capital/trabalho. É nesta direção que trabalham as teses aprovadas pelo l2 Congresso dos Metalúrgicos do ABC sobre a reestruturação da Justiça do Trabalho. Sem corporativismo e sem medo de mudar o Brasil. Vicente Paulo da Silva é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O Estado de São Paulo - 03.12.93 O fim dos tributos sindicais Sérgio Amad Costa Existe, agora, com a revisão constitucional, a possibilidade de põr fim aos malfadados tributos sindicais. A idéia de acabar com tais contribuições não e nova. Durante os debates da Constituinte, em 1988, esperava-se que iria ser enterrado o imposto sindical (contribuição sindical), porém isso não aconteceu. O imposto sindical foi regulamentado em 1940, por intermédio do Decreto-Lei 2.377. A primeira controvérsia sobre o assunto teve início logo nos anos 40 e prosseguiu até meados da década de 60. Isto é, na vigência da Carta de 1937 e também na da Constituição de 1946 houve pronunciamentos pela inconstitucionalidade do imposto sindical. Mas eles foram vencidos pela corrente oposta. Entretanto, o Decreto-Lei 27, de 14 de novembro de 1966, acrescentando um artigo ao Código Tributário'Nacional (Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966), determinou que o imposto sindical passasse a denominar-se contribuição sindical. Porém, a nova nomenclatura não modifica, mas apenas disfarça a sua natureza. O fato é que esta contribuição sindical já assalta o bolso do assalariado há 50 anos, independentemente de ele ser sócio ou não do sindicato. No mês de março são descontados do salário, compulsoriamente, 3,6% da remuneração, o equivalente a um dia de trabalho no ano. Esta verba, arrecadada, é distribuída da seguinte forma: 60% vão para os sindicatos; 15%, pra as federações; 5%*, para as confederações sindicais; e 20%, para a conta "empregos e salários", junto ao Ministério do Trabalho. Pois bem, apesar de toda a critica histórica, contra esse imposto, ele não desapareceu com a Constituição de 1988. Paradoxalmente, ele permaneceu em nossa Carta Magna e ainda acompanhado de mais duas novas contribuições. Uma delas, a Assistencial, oriunda da antiga taxa assistencial, tem seu percentual sobre os salários decidido em assembléia sindical, cuja média hoje gira em tomo de 10% da remuneração. Tal contribuição é cobrada no mês em que os sindicatos concluem o acordo coletivo, mas ela não é obrigatória à medida que o des- conto pode ser contestado pelos trabalhadores. A outra contribuição, a Confederativa, também surgiu com a Constituição de 1988: "A assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para o custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independente da cobrança prevista em lei". Há quem alegue que o fato de a Carta Magna permitir ser facultativa a associação sindical gera, como conseqüência, a desobrigação, dos não sócios, do pagamento da contribuição confederativa. Entretanto, apesar da polêmica, ela tem sido cobrada normalmente de todos os trabalhadores, independentemente de serem sócios ou não dos sindicatos. O agravante disso tudo é que se por um lado esperávamos que, com a Constituição de 1988, iria ser dado fim ao imposto sindical, que desconta 3,6% do salário, por outro lado ele permaneceu e paradoxalmente acompanhado de novas contribuições, cujo percentual é determinado, não pela :■::•*::¥:*■■:■:: Quinzena Trabalhadores lei, mas por força da vontade da assembléia sindical. Portanto, em vários casos o valor estipulado, para a cobrança, é maior do que o da antiga contribuição. A revisão constitucional poderá corrigir esta distorção, eliminando os tributos sindicais. Entretanto, temos sérias dúvidas quanto à vontade política de boa parte dos sindicalistas de aceitar que suas entidades vivam financeiramente apenas das mensalida- des dos sócios. É mais cômodo, para eles, obter o sustento das entidades, via tributos, mesmo que esse procedimento contrarie os interesses dos assalariados. Sérgio Amad Costa é professor da FGV-SP. Olho Vivo - N' 105- 1' Quinzena/Dez. 1993 Plastíluta - Sindttuta -30.11 a 03.12.93 A CPI do abafa Jair MenegueUi ACUTnâodeveenãotemeaCPIqueestá sendo articulada contra ela, ;x)rnáo ter nada a esconder perante a sociedade brasileira. Tal disposição já foi amplamente demonstrada em 18 de agosto deste ano, quando entregamos ao presidente do Congresso Nacional nossos livros contábeis, balanços anuaiseextratosde movimentação bancária dos últimos cinco anos. É evidente, no entanto, que por trás da tentativa de criar a "CPI da CUT* está a tentativa de abafar as investigações que têm posto a nu, desde o depoimento de José Carlos Alves dos Santos, as.bases corrompidas em que se sustenta o poder conservador. A manobra foi admitida pelo próprio presidente da Câmara, deputado Inocêncio deOliveira, no dia 20. Ele revelou à imprensa que vem negociando com lideranças conservadoras do Congresso uma fórmula para encerrar a CPI do orçamento. Os trabalhos desta CPI, que atingem diretamente lideres empresariais e representantes políticos destacados das elites, iriam apenas até 23 de dezembro, o que frustraria qualquer investigação aprofundada. As averiguações ficariam restritas aos integrantes da Comissão de Orçamento do Congresso. Empreiteiras, bancos e demais parlamentares seriam poupados sob promessa de que serão investigados em "CPIs futuras". Alguns bagrinhos do Congresso seriam atingidos. Não com a cassação dos mandatos, no entanto, apenas com uma suspensão que deixa aberta a esperança de um acordo no futuro e evita que os punidos falem o que sabem Proposta porumpartido(oPPR) envolvido em escândalos notórios de corrupção, z "CPI da CUT' permite ocupar as atenções da opinião pública enquanto se conclui a manobra. O próprio pedido de instauração da Comissão está, no entanto, repleto de irregularidades. .r.TTTTTTTTTTTT Fere frontalmeníe a autonomia sindical. Volta-se, de modo sectário, apenas contra a CUT, que jamais recebeu dotações orçamentárias. Poupa, enquanto isso, a Força Sindical que recebeu dezenas de milhões de dólares do governo Collor, sobre os quais pairam inúmeras suspeitas. O pedido desrespeita a própria Constituição, já que não se baseia ern nenhum fato concreto, apenas nas acusações do senador Espiridião Amim contra a Central. E tem, por fim, caráter claramente eleitoreiro. O próprio requerente, senador Espiridião, disse à Folha de S. Paulo, no dia 19, que "quanto mais próximo da'eleição for instalada a CPI, melhor". A CUT não aceita que as elites tenten colocar os trabalhadores na vala comum dos que usurpam o dinheiro público para benefícios pessoais, e dos que se utilizam das instituições públicas para aumentar seus lucros, como fazem grandesempresários. Certa de que quem não deve, não teme, rejeita a manobra do abafa e exige investigação para iodo» Jair Menegueili é presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) Ot artífM dota coluna nfto refletem, ■ect tiariamente, a oplnllo 4» diretoria A CPI da CUT Lula com 33 % das intenções de voto e o primeiro candidato da direita com 16%. Esta á razão única da CPI da CUT. A burguesia está vendo que a vitória do Lula em 94 está se tomando cada vez mais inevitável. Esta CPI mostra novamente que a disputa de 94 já começou. A burguesia está sendo muito bombardeada pelas reais denúncias de corrupção. Maluf, Quércia, Fleury, Samey, Roriz... não sobra ninguém. Os partidos da direita estão se afundando na lama: PPR do Maluf, PFL do Fiúza, PTB de todos eles e especialmente o PMDB estão todos se acabando. A tática da CPI da CUT é desviar a atenção da direita centrando-a na esquerda. É a aplicação clássica do velho ditado "a melhor defesa é o ataque". Só o fato de falar da CPI para a CUT limpa a barra da direita. Com isso, a direita quer mostrar que "todos são corruptos". Se todos são, então todos são iguais... e ela se salva de quebra e mancha a trajetória do único candidato a 94 com possibilidade de efetivar um programa democrático e popular. Nossa resposta a essa CPI Antes de tudo precisamos denunciar firmemente a armação que a direita está fazendo. Temos que mostrar que essa é uma saída para ela esconder seu próprio rabo. Esta CPI é uma "CPI de exceção", como um julgamento sumário durante a guerra. Ela foi pedida sem nenhum fato concreto, ao contrário do que manda a lei. Foi pedida seletivamente só para a CUT, para acabar com a vitória do Lula. Ela foi montada para durar 180 dias. Por que 180 dias? A CPI do Collor/PC, que pela primeira vez na história do Brasil acabou tirando um presidente, foi de 45 dias. A CPI do Orçamento, que envolve bilhões e bilhões de dinheiro público e cen- Quinzena tenas de figuras da direita, está planejada para 45 dias. O objetivo político está claro. Por trás disso há upa intervenção do governo na vida sindical. É uma violação da liberdade sindical. Essa CPI é ilegal e ilegítima. Nós, da CUT não podemos admitir isso. A CUT não teme qualquer CPI, mas a questão vai muito além disso. Nós, da CUT, não devemos, mas acima disso não reconhecemos o direito do governo de se intrometer na vida dos sindicatos. Não admitimos que esse Congresso, majoritariamente corrompido e ® claramente a serviço dos interesses dos patrões, faça qualquer inferência em instâncias da classe trabalhadora. Quem deve fiscalizar isso são os trabalhadores. A CUT não pode responder pelos 2005 sindicatos filiados. Cada um tem seu CGC próprio. Se em algum sindicato houver malversação de verbas, isto é assunto dos trabalhadores e não de uma CPI em Brasília. A CUT não pode aceitar sentar no banco dos réus. Esse julgamento é pura perseguição política e não administrativa. Aceitar esse jogo é se dobrar à vontade da direita. Informa CUT-N* 230- 29.11.93 A CUT não deve e não teme a CPI IA CUT chama a atenção da sociedade e da opinião pública nacional para que fatos como este (pedido de CPI para a CUT) não desviem a atenção dos graves momentos que o país está passando com as denúncias da CPI do Orçamento (em que a CUT tem tido uma atuação destacada juntamente com as entidades do Movimento pela Ética na Política), os 32 milhões de miseráveis, a recessão, o desemprego, o arrocho salarial sem precedentes em nossa história, a inflação de 35% que corrói nossos salários e a nossa economia. 2 A CUT não deve e não leme a CPI que está sendo articulada contra ela, por não ter nada a esconder perante a opinião pública nacional. Tal disposição já foi amplamente demonstrada quando entregamos ao presidente do Congresso Nacional, senador Lucena, nossos livros contábeis, balanços anuais, bem como os extratos de nossa movimentação bancária, no dia 18 de agosto passado. 3 A CUT chama a atenção para o falo de que os lermos de requerimento desta CPI náo estão embasados nos princípios constitucionais que a regulam (artigo 58, parágrafo 3o da Constituição), que engem que ela seja instalada "para apuração de falo determinado...". O requerimento do solicilante não menciona nenhum "falo determinado" a despeito dos documentos entregues ao presidente do Senado e aos quais ele poderia ler tido o mais amplo acesso. Neste sentido a CUT alerta para os riscos institucionais que ela representa ao ser aprovada sem obedecer os preceitos constitucionais vigentes, estabelecendo a política do "vale-tudo", abrindo um grave e perigoso precedente para a democracia. Para o bem da democracia, exigimos que para sua confirmação ela seja adequada à legislação vigente e instalada imediatamente com o prazo habitual de 45 dias, como tem sido feito com todas as outras CPls instaladas no Congresso Nacional, e não os 180 dias solicitados que se configuraria um ato discriminatório por parle do Parlamento. Caso contrário reivindicamos sua retirada imediata da pauta do Congresso Nacional, por não preencher os requisitos mínimos legais. 4 Observamos nessa iniciativa uma atitude eleitoreira por parte do requerente que afirma não ter pressa na instalação da CPI e "quanto mais próximo da eleição melhor" (FSP 19.11.93), bem como uma manobra diversionista para distrair as atenções da opinião pública do envolvimento de vários parlamentares de seu partido (PPR) na CPI do Orçamento e das investigações da "caixinha" de campanha do prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, o famoso "Caso Pau Brasil", sob investigação da Polícia Federal. 5 A CUT entende também que esta solicitação é mais um ataque ao movimento e à organização sindical e à livre organização dos trabalhadores que tem se destacado na luta contra a corrupção no país e pela mais absoluta transparência no trato da coisa pública. Lembramos que os sindicatos foram Trabalhadores considerados como a terceira insliluição em credibilidade pela população, com 61 % de aprovação, conforme recente pesquisa do Ibope. 6 A CUT não aceita ser colocada na vala comum daqueles que usurpam do dinheiro público para benefícios pessoais, acostumados ao convívio da corrupção, ao tráfico de influências, à troca de favores bem como daqueles que se utilizam de espaços e instituições públicas para aumentar os seus lucros como fazem alguns grandes empresários hoje em investigação na CPI do Orçamento e tiram por sua medida Iodos os demais. A CUT náo tem medo da CPI porque acredita que ainda é possível fazer política, defender a democracia e os interesses dos trabalhadores sem os velhos costumes acima mencionados. São Paulo, 19 de novembro de 1993. EXECUTIVA NACIONAL DA CUT CPV CPI DA em ANTECEDENTES 0992-1993) Ccpv> A VENDA NO CPV VALORCR$ 2.600,00 Quinzena ® Trahaíhaãores Convergência SocíaBsta -N* 386-02 a 08.12.93 Congresso corrupto mo pode investigar CUT senador Esperidião Amin (PPR-SC) está empenhado em instalar uma CPI que investigue supostas irregularidades existentes na Central. Entre as acusações do senador a principal é o do financiamento, por pane da CUT, de candidaturas petistas. O novo paladino da "ética" já conseguiu as assinaturas necessárias para que o Congresso instale a Comissão. Com a tal CPI da CUT, Amim pretende matar três coelhos de uma só cajadada. Ele quer desviar as atenções de seu partido, o PPR de Maluf e João Alves, envolvido até o último fio de cabelo no escândalo do Orçamento e no da Paubrasil. Quer desacreditar a Central frente aos trabalhadores. E quer, finalmente, atingir a candidatura Lula, que já tem mais de 30% das intenções de votos e aparece como a única que não está envolvida com a corrupção. SINAL FECHADO E ASSASSINATO A proposta do senador, muito bem recebida pela grande imprensa, é de uma hipocrisia completa. Um líder do PPR apresentar-se como combatente anticorrupção é o máximo da carade-pau. Ainda mais se levarmos em conta que seis dos sete anões assinaram seu requerimento. Além do que, comparar as tais acusações feitas contra a CUT e o PT com a CPI do Orçamento é como dizer que atravessar um sinal fechado e matar alguém são a mesnpa céisa,, como bem lembrou o jornalista Clóvis Rossi {Folha de S. Paulo, 19/11/93) Duas considerações precisam ser feitas. A primeira delas é que o financiamento por parte dos sindicatos de candidaturas de trabalhadores, desde que aprovado de forma democrática pela base desses sindicatos, é completamente legítimo, embora seja considerado crime eleitoral. O dinheiro dos sindicatos é dos traba- lhadores e estes tem pleno direito de fazer o que bem entenderem com ele. Não só é legítimo financiar candidaturas de trabalhadores, como é correto. É uma demonstração de maturidade política e de consciência de dasse. O financiamento de candidatos por parte dos sindicatos é prática corrente em países de maior tradição sindical. No nosso próprio país existem casos que merecem ser divulgados, como o da Federação dos Metalúrgicos do Rio.Grande do Sul que aprovou em 1986 o apoio à candidatura de Paulo Paim, na época presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas. Ou o da própria CUT, que votou o apoio da Central à candidatura Lula na campanha de 1989. Em São José dos Campos os metalúrgicos aprovaram em 1989 o apoio à candidatura Lula e em 1990 o Sindicato, seguindo resolução de assembléia de base, ajudou na campanha dos candidatos da categoria, independentemente de sua corrente política. E o mesmo fizeram os companheiros dos metalúrgicos de Belo Horizonte. Não concordamos e desobedecemos conscientemente a legislação eleitoral que condena tal prática como crime. Limitar a liberdade e autonomia sindical e querer regulamentar onde os trabalhadores podem ou não gastar o seu dinheiro é que constitui crime. Mas também não concordamos com aqueles sindicatos, como os maiores do país, dirigidos pela ArUculação, que só apoiam candidaturas da sua fração, sem sequer consultar a base de seus sindicatos. Os mesmos sindicatos que hipocritamente votam, nos congressos e assembléias sindicais, numa cínica e atrasada proposta de neutralidade. AUSÊNCIA DE PRÉ-REQUISITOS A segunda consideração necessária é que o Congresso Nacional não tèm os pré-requisitos morais para julgar a Central Única dos trabalhadores. Não só é um antro de notórios corruptos, como está condenado pela opinião pública. Ninguém confia no Congresso. Como uma instituição patronal desacreditada pelos sucessivos escândalos pode se considerar capaz de julgar a Central sindical mais representativa.do país? Só mesmo na cabeça de Amim. E mesmo que tentasse fazê-lo; agiria com isenção? Como, se há 201 deputados que são empresários e portanto inimigos declarados da CUT? Se os congressistas que assinaram a declaração do senador Esperidião Amin estivessem realmente preocupados com as contas dos sindicatos deveriam prestar mais atenção rta Força Sindical. Recentemente diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, no ABC, romperam com presidente da entidade, Antônio Aparecido da Silva, o Cidão. Cidão também é presidente da Força Sindical Regional ABC-Baizada Santista. Os sindicalistas, um deles o 2o-tesoureiro da gestão passada, acusam Cidão de ter simulado dois assaltos ao Sindicato, para justificar a falta de dinheiro nos cofres da entidade. Afirmam também que os diretores tinham seus salários pagos pelo sindicato e não pelas fábricas, e que recebiam mais de CR$ 350 mil por mês. Mas os congressistas não estão preocupados com a integridade das contas dos sindicatos. Eles querem pegar Lula e a CUT. Se a CUT, ou qualquer entidade sindical, deve ser julgada só pode sê-lo pelas organizações dos trabalhadores. Eles é que devera ter acesso a sua contabilidade e decidir sobre os gastos que ela pode e deve fazer' e aqueles que ela não pode fazer c não agentes patronais com a intenção de desacreditar a Central e a candidatura de um trabalhador i presidência da República. Marco Antônio ÍSboIro m Desenvolvimento & Cidadania -WS- SeLOutNov. 1993 A QUESTÃO AGRAUIA, A FOME E A MISÉRIA A realização de uma efetiva e radical Reforma Agrária no país representa uma alternativa concreta para o desenvolvimento econômico. E uma condição básica para a redução em curto prazo da fome o da miséria no Brasil Eudoro Santana A luta pela Reforma Agrária, hoje no Brasil, muito além da questão social, se coloca como uma luta política e econômica que, em sua essência, questiona a forma como vem se organizando e desenvolvendo a agricultura na economia brasileira. A questão da terra representa, de fato, a real dimensão do problema global de modelo de desenvolvimento brasileiro. O que os movimentos populares no campo estão questionando não é apenas a forma de apropriação, mas também o uso e a gestão dos recursos naturais necessários à produção agrícola, agroindustrial e industrial. A interpretação errônea de setores da própria esquerda, de que cora a modernização no campo a Reforma Agrária representa um retrocesso no desenvolvimento da agricultura, fez com que os partidos políticos, inclusive o PT, se afastassem em termos de ação concreta da luta pela Reforma Agrária. No entanto, diante da evidência dos perversos custos sociais da modernização conservadora da agricultura, tais como o crescimento da concentração fundiária, o êxodo rural, a violência no campo, a superexploração dos empregados, até mesmo o trabalho escravo, os trabalhadores rurais vêm se organizando de forma crescente, quer seja a nível das próprias comunidades ou até em movimentos nacionais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Relegar a um plano secundário a luta pela Terra no Brasil é, no mínimo, ura descompasso cora a própria conjuntura político-econômica do campo. É um afastamento político dos movimentos populares que avança independente das análises acadêmicas, teóricas ou partidárias em contrário. O MODELO DE DESENVOLVIMENTO E A QUESTÃO AGRÁRIA Como o atual modelo de desenvolvimento brasileiro não se definiu a partir das necessidades nacionais, mas para atender às exigências internacionais, optou-se no campo, pelo apoio à grande agricultura, incentivando o seu desenvolvimento pela via da modernização tecnológica, através da intensificação do uso de implementos agrícolas (tratores, máquinas de beneficiamento etc), insumos químicos (fertilizantes, inseticidas etc) que compunham os "pacotes tecnológicos". A teoria das transformações sociais no campo, defendida po algumas correntes políticas, afirma que a entrada do capital no campo tem uma função revolucionária de retirar do atraso e da miséria milhares de camponeses. Isto de fato ocorreu em alguns países, em diferentes períodos históricos. Entretanto, não é o que temos constatado no caso brasileiro. A entrada das relações de produção capitalistas no campo, através das grandes empresas e agroindústrias, financiadas quase sempre por programas governamentais, expulsou os camponeses, os índios e posseiros do Norte e Nordeste, acabou com o morador e o posseiro do Sul e Sudeste; entretanto, em lugar destes, o que surgiram não foram apenas relações de trabalho modernas como o assalariamento, mas também a violência e até mesmo o trabalho escravo. É aviltante para a nossa condição de ser humano o acelerado cresci- mento do número de trabalhadores escravos no Brasil. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, em 1990 foram registrados 12 casos, envolvendo 1.559 pessoas escravizadas; em 1991 foram 27 casos envolvendo 4.883 pessoas; em 1992 foram 18 casos com 16.442 pessoas. O -mais grave é constatarmos que, além do crescimento brutal do número de trabalhadores escravizados nos últimos anos, a geografia do trabalho escravo no Brasil, aponta como área de concentração exatamente as regiões de acelerado crescimento capitalista ou de fronteiras agrícolas, onde as grandes empresas contam cora amplo apoio estatal, através de incentivos fiscais e se encontram inseridas numa economia "moderna" de mercado. O fato é que o Estado patrocinou no espaço agrário brasileiro a associação do capital (grandes grupos empresariais) à propriedade da terra, reforçando na burguesia seu caráter conservador e anti-reformista. Esta associação gerou novas atividades econômicas, vinculadas inclusive ao mercado internacional, e com isso os investimentos no campo têm agora a marca do capital, do banco, da indústria, do grande intermediário, em suma, do capital financeiro. Perdida a oportunidade histórica de se ter optado por um modelo econômico e político que de forma articulada e complementar desenvolvesse a agricultura e a indústria, que com certeza eliminaria a maior parte da miséria e da fome pelas quais passam milhões de brasileiros, as elites deste país ainda hoje resistem à realização da Reforma Agrária. Defendem a modernização econômica, sem que sejam- realizadas mudanças estruturais nas questões relativas à distribuição de terra. Os vários programas que foram desenvolvidos, a nível regional e nacional, na área agrária, não resultaram em alterações significativas da estrutura fundiária do país, porque nunca houve, de fato, decisão política para alterá-la. A apropriação de cinqüenta por cento das terras continua nas mãos de menos de um por cento dos detentores de imóveis rurais. Em termos de políticas agrícolas, privilegiou-se a modernização tecnológica, a implantação dos grandes complexos agroindustriais e a produção voltada para exportação, o que excluiu milhares de famílias do acesso à terra, ao emprego e aos benefícios do progresso. Como conseqüências mais atuais e abrangentes desta estratégia de desenvolvimento, verificamos que: 1) A expulsão do campo de milhares de trabalhadores por falta de terra e de condições para sobreviverem, e o concomitante incentivo à urbanização provocaram um fluxo migratório desordenado e acelerado que as cidades não puderam comportar. Foi inevitável o aumento do desemprego, da marginalidade e da violência urbana; 2) A manutenção dos altos índices de concentração de terra em poder de uma minoria intensificou os conflitos e a violência no campo; 3) A falta de uma política agrícola que apoie a produção de aumentos e matérias-primas para o mercado interno refletiu diretamente nos crescentes e descontrolados índices iníl acionários; 4) O privilegiamento da agricultura voltada para a exploração concentrou ainda mais a renda e o poder, levando à marginalização, milhares de trabalhadores rurais em todo o país; 5) O incentivo ao desenvolvimento dos complexos agroindustriais provocou o surgimento de verdadeiros "bolsões de miséria" e um exemplo evidente disto é a agroindústria sucroalcoeira, que mesmo tendo recebido enormes subsídios do Proálcool continua mantendo com seus trabalhadores relações de superexploraçao da mão-de-obra e até mesmo de escravidão. Em recente trabalho de pesquisa para elaboração de um livro sobre o tráfico de trabalhadores de trabalho escravo no Brasil, constatamos que 43% dos casos denunciados sobre trabalho escravo, no período de 86 a 91, ocorreram em agroindústrias do setor sucroalcoeiro. REFORMA AGRÁRIA - UMA ALTERNATIVA ECONÔMICA, POLÍTICA E SOCIAL Quando defendemos a realização de uma Reforma Agrária efetiva e radical, em nosso país, é bom que fique explícito, que muito além de uma luta ideológica ou por justiça social, estamos apontando uma alternativa concreta para o desenvolvimento econômico do país. Vale ressaltar que esta proposta encerra, em si, quatro aspectos essenciais: l2) Que a Reforma Agrária seja compreendida como um fator estratégico fundamental para o desenvolvimento econômico, político e social do país e, portanto, deverá ser implementada considerando toda a estrutura fundiária nacional. 2°) Que Reforma Agrária é um processo que deve garantir aos trabalhadores rurais, além da terra, políticas agrícolas adequadas à sua realidade, acesso ao crédito, aos recursos hídricos, à assistência técnica, apoio para construção de infra-estrutura produtiva e social nas áreas e capacitação de recursos humanos. 2 3 ) Que o imóvel não seja parcelado imediatamente, para garantir a autonomia dos assentados na discussão da melhor forma de potencializar todos os recursos naturais e humanos existentes, a partir da compreensão de que o imóvel é uma unidade produtiva e que deve estar integrado ao processo de desenvolvimento do município e da região onde está localizado; 42) Que a implementação do processo de Reforma Agrária conte com a co-responsabilidade dos poderes (federal, estadual e municipal). Desta forma, não teremos uma Reforma Agrária de faz de conta, que divide terras e miséria, e que resulta em pequenos proprietários isolados, descapitalizados e que se tomam im- potentes diante das regras do mercado capitalista e das condições naturais de cada região. Nesta concepção de Reforma Agrária, os projetos de assentamento tornam-se uma unidade produtiva integrada (internamente e com a economia de mercado), que através de uma organização cooperativa passa a ter uma identidade empresarial coletiva, com capacidade de contrair empréstimos, comercializar sua produção, firmar convênios e, o que é mais importante, reter a população ocupada e produtiva no campo, aumentando a produção para o mercado interno e/ou externo, e levando aos trabalhadores rurais a emancipação econômica de maneira muito mais rápida do que qualquer outra forma de exploração. Feitas estas considerações, constatamos que reverter o quadro de miséria de 32 milhões de pessoas e absorver no processo produtivo, via políticas de geração de emprego, mais de 1,5 milhão de pessoas que a cada ano ingressam no mercado de trabalho, é uma tarefa hercúlea, dado o contexto de uma ordem econômica que aprofunda o fosso entre ricos e pobres no planeta. Assim, as políticas de emprego têm que ser muito bem estudadas pela tecnocracia governamental, no sentido de estimular setores econômicos que geram mais empregos a custos mais baixos. Em 1992, o governo brasileiro contratou os serviços da FAO para fazer um levantamento da situação sócio-econôraica dos beneficiários do processo de Reforma Agrária, Os resultados destes estudos fornecem informações bastante interessantes, que podem ser traduzidas como recomendações para uma alternativa de política social no Brasil. O Programa Nacional de Reforma Agrária assentou 94.026 famílias entre 1985 a 1991, compreendendo uma área de 4.713.910 hectares. Foram estudados 10%' deste universo e 10% das famílias de cada assentamento participaram da amostra. Citamos alguns indicadores chaves que são bastante significativos da real situação sócio-econômica dos beneficiários da Reforma Agrária. a) Renda familiar em salários mínimos ® Quinzena A renda média familiar nos assentamentos pesquisados no Brasil, ficou em torno de 3,7 salários mínimos. Considerando-se que a linha de pobreza atualmente definida, estabelece 01 salário mínimo por família, os beneficiários da Reforma Agrária ficaram muito acima deste limite, mesmo os da região Nordeste, que obtiveram 233 salários mínimos por família. b) Fontes de renda Os beneficiários da Reforma Agrária, de uma maneira geral, obtêm 1,4 salários mínimos da venda dos seus produtos no mercado, 1,4 salários mínimos da atividade de auto consumo e mais''0,90 do assalariarnento de suas famílias e outras fontes, totalizando 3,70 salários mínimos. Verificamos, portanto, que as atividades agrícolas são as que mais contribuem para a geração da renda familiar. c) ocupação da força de trabalho A comparação entre a força de trabalho efetivamente empregada e a força de trabalho potencial revela a existência de uma capacidade ociosa média da mão-de-obra de apenas 3%, que é muito baixa, uma vez que são consideradas na força de trabalho potencial os filhos com idade superior a 10 anos. Este indicador revela a racionalização na utilização do fator mão-de-obra. d) Capitalização nos assentamentos Os beneficiários da Reforma Agrária, de uma maneira geral, conseguiram aumentar seu capital inicial em 206,49% se considerarmos os recursos próprios e 251,"85% se incluirmos os empréstimos e doações. Mesmo nos assentamentos da região Nordeste houve uma capitalização de quase 100%, ou seja, os mesmos quase duplicaram seu capital se computarmos os empréstimos e doações. É interessante observar que a principal fonte de capitalização tem sido os recursos próprios, que foram incorporados em meios de produção, significando que houve sucesso na garantia da reprodução ampliada da pequena produção das áreas de Reforma Agrária. e) Produção Com base nos dados de produção individual coletados pela pesquisa em 1991, estima-se que a produção de grãos das quase 100.000 famílias beneficiárias da Reforma Agrária totaliza 490.000 toneladas (arroz, feijão, milho). Se compararmos com a média da produção nacional de grãos, incluindo soja e trigo, ou seja, 59.000.000 toneladas, a produção dos assentados participa com 0,8% da mesma, dados que demonstram um certo impacto na produção nacional de alimentos. Muitos setores não justificam a Reforma Agrária do ponto de vista econômico porque alegam que a agricultura brasileira já produz em níveis satisfatórios no atendimento do consumo nacional de alimentos. Todavia, há se se reconhecer que esta produção está localizada significativamente (90%) nas regiões Sul e Sudeste e, prioritariamente, voltada para o mercado externo. TrobaOiadorcs Aqueles que são ideologicamente contra a Reforma Agrária não podem deixar de reconhecer que com muito menos recursos dos cofres públicos este programa gera muito mais emprego e renda, se comparado a qualquer outro setor da economia. Enquanto a geração de um emprego na área urbana no Brasil custa entre US$ 15.000 a US$ 90.000, o professor Sérgio Leite constatou, em recente tese de Mestrado, que o assentamento de uma família custou ao governo de São Paulo apenas US$ 4.330, custo este que o próprio Estado recebe de volta em apenas duas safras, através do recolhimento do ICMS. Em suma, podemos concluir que a Reforma Agrária apresenta-se como uma alternativa concreta e viável do ponto de vista técnico e econômico capaz de reduzir em curto prazo a miséria no Brasil, notadamente na área rural. Com estas reflexões, concluo que é impossível acreditar num plano efetivo e duradouro de combate à fome e à miséria, sem pensar em modificações no pagamento da dívida externa, sem incluir, como base fundamental, uma reforma estrutural do Estado, sem a Reforma Agrária, e sem, finalmente, repensar o país em cima de uma outra alternativa de desenvolvimento, que possa tirar da marginalização milhões de trabalhadores desta imensa e rica nação. Eudoro Santana, deputado estadual e presidente regional do PSB no Ceará. O Estado de São Paulo - 05.12.93 País tem 8 milhões de crianças trabalhando Apenas na Grande São Paulo, 460 nril menores têm trabalho e outros 267 mil buscam emprego, como forma de aumentar renda familiar, mas técnicos dizem que o mercado não se ajusta adequadamente Ana Cecília Americano Eles estão nas ruas, no campo, atrás do balcão da loja da esquina. Anônimos, perderam a infância muito antes da puberdade. Os trabalhadores mirins deste País somam hoje mais de 8 milhões de baixinhos - dos quais, 3 milhões pegam pesado na enxada. Suam a camisa em jornadas superiores a nove horas. Um pão de cada dia amargo, cujo préo é a reprodução do despreparo profissional de seus pais. Escola é mais um sonho distante. Ganham um terço da remuneração dos adultos, ainda que exerçam as mesmas funções, segundo o Ministério do Trabalho. Os dados disponíveis revelam as chagas da nona economia mundial. Reflexo do que ocorre com os filhos dos 60 milhões de brasileiros que sobrevivem com rendimentos inferiores a dois salários mínimos. Segundo a Fundação Estadual de Análise de Dados (Seade), em outu. ..;.:« Quinzena TrabaOuuUnrms bro, na Grande São Paulo, 460 mil menores trabalhavam - cerca de um terço do total de desempregados adultos. Outros 267 mil buscavam trabalho, sendo, assim, da População Economicamente Ativa (PEA). Estas mesmas crianças paulistanas ganharam em outubro uma média 1,1 salário mínimo por mês, de acordo com o Seade. Uma renda fundamental no sustento de suas famílias: de acordo com a Pesquisa de Condições de Vida (PVC) da fundação, a quantia corresponde a quase 30% dos rendimentos totais obtidos pelas famílias, mais pobres, a taxa de participação dos menores de dez a 17 anos no mercado de trabalho é cerca de quatro vezes superior à das que compõem o grupo A. Entre os mais pobres, de cada mil menores, 368 trabalham; entre os mais ricos, 97. Para os que acreditam que uma cnança trabalhando vale mais do que uma criança na rua, o Ministério do Trabalho sugere uma outra versão. Segundo Luiz Cláudio de Vasconcelos, coordenador de projetos especiais da Secretaria de Formação e Desenvolvimento Profissional do ministério, ela não aumenta a massa salarial das famílias pobres. "O menor que trabalha elimina postos de trabalho de outros pais de família ao se sujeitar a receber um terço da renda dos adultos", diz. Cada criança desemprega dois adultos pais de outras crianças, que serão forçadas a entrar mais cedo no mercado de trabalho. Uma lógica cruel. Para Annez Andraus Troyano, diretora-adjunta do Seade, o custo econômico de manter as crianças e adolescentes no mercado é o futuro de suas próprias famílias. "A criança de hoje será o animo de mais uma fa- mília de semi-analfabetos os quais, por sua vez, mais uma vez trabalharão em funções manuais ou de baixa qualificação", explica. "Este círculo vicioso só se quebra com crescimento econômico aliado à educação em massa." Segundo Annez, o mercado infantil possui características próprias: são as crianças as primeiras a serem demitidas, juntamente com outras categorias de mão-de-obra secundária, a exemplo dos trabalhadores não qualificados. E quando o ciclo econômico se inverte, os menores são reincorporados numa proporção menor que os adultos e de forma mais lenta. Em 1992, enquanto a média dos 12 meses indicava um índice de desemprego de 15,2% entre os adultos da Grande São Paulo. A taxa chegava a 43,9% para os-menores entre dez a 14 anos e 36,7%"para os menores entre 15 e 17 anos. GREVES lho, após 10 dias em greve pelo pagamento do 14- salário, acatando a sentença do TRT que condicionou a estabilidade de 90'dias ao retomo ao trabalho. Os trabalhadores conseguiram receber abono de 60 horas a título de 14^ salário. iniciada dia 7, nas creches, postos de saúde e serviços de água e esgoto, podendo se estender para as escolas. Os servidores reivindicam aumento real de 30% e gratuidade do convênio médico. A greve atinge 60% dos 640 trabalhadores. MINEIROS RUSSOS Líderes sindicais russos assinaram acordo de paz com o governo Russo e prometeram que os trabalhadores retomarão ao trabalho. Os mineiros da região setentrional de Vorkuta entraram em greve dia 6 protestando contra o não pagamento dos salários atrasados pelo governo. Os mais de 30 mil mineiros obtiveram a adesão de trabalhadores nos Urais e no norte da Sibéria. Os mineiros de carvão exigiam também um remanejamento governamental. Boris Yeltsin tradicionalmente recebia apoio dos mineiros. METALÚRGICOS DA CONFAB Os 700 trabalhadores da Confab de Pindamonhangaba-SP cruzaram os braços dia 2 passado para reivindicar o 14e salário. A Confab foi a única empresa metalúrgica na cidade a não querer negociar e pagar o 14- e por isso os trabalhadores entram em greve. OPERÁRIOS DA OTIS Os 800 operários da fábrica de elevadores Otis, em São Bernardo do Campo, resolveram retomar ao traba- AMPLIMATIC PARADA Os trabalhadores da Amplimatic de São José dos Campos entraram em greve em protesto contra o atraso no pagamento do 13- salário. O sindicato dos metalúrgicos disse que só não foi total a adesão porque os detentos do Presídio de Tremembé, que trabalhavam na fábrica, não aderiram à greve. CURTAS 2.290.000.000% DE INFLAÇÃO AO ANO Na república de Montenegro, Iugoslávia, troca-se um ovo por 1 kg de notas. Houve 40 emissões de moedas diferentes nos últimos 3 anos. Só a inflação de outubro foi de 2300%. METALÚRGICOS DE SÃO PAULO Terminou sem acordo a audiência de conciliação no TRT entre o Sindicato e as metalúrgicas Rio, Croy I, Croy II e Riotermo, fabricantes de metais sanitários. A greve dos trabalhadores começou dia 6 nas metalúrgicas Rio e Croy I porque a empresa descontou 15% no reajuste salarial concedido em arco. Dia 7 os trabalhadores! da Croy II e Riotermo aderiram à greve. Além da reposição dos 15%, os metalúrgicos reivindicam cesta básica e tiquete-refeição. VOLTA A PENA DE MORTE Nas Filipinas, o Congresso aprovou lei que restaura a pena de -morte para 13 crimes, entre eles a corrupção. A lei deverá ser aprovada brevemente pelo presidente Fidel Ramos que defendeu a pena de morte. De acordo com a nova lei, quem roubar acima de US$ 1^8 milhão dos cofres públicos será mandado para a câmara de gás. SERVIDORES MANTÉM GREVE Os servidores municipais de Vinhedo-SP decidiram -manter a greve. VW ALEMÃ ADOTA SEMANA DE 4 DIAS A Volkswagen fechou acordo com Quinzena o Sindicato dos Metalúrgicos IG Metall para adotar semana de trabalho de 4 dias em suas 6 fábricas na Alemanha como meio de evitar a demissão de 31 mil trabalhadores. A jornada de trabalho será reduzida de 36 horas semanais para 28,8 horas. Entretanto isto significará uma redução nos salários de 10%. A Confederação das Associações de Empresários protestou, insistindo que o plano de recuperação para a indústria automobilística deve ser levado a cabo sem contar com o dinheiro do Departamento Federal de Emprego. Ocorre que no acordo alguns dos 100 mil trabalhadores, após 9 meses, serão registrados como desempregados durante 3 meses, o que significa receber esse período do governo. FIAT ITALIANA VAI DEMITIR 8.000 Entre 1994 e 1996, a Fiat da Itália demitirá 8.000 trabalhadores alegando tratar-se de uma reorganização empresarial para enfrentar a queda nas vendas. 11 MIL DEMISSÕES NA CSN E COSIPA A CSN de Volta Redonda, depois da privatização, demitiu 6 mil trabalhadores e está demitindo mais 8 mil. A Cosipa, outra das privatizadas, anunciou que demitirá mais 3.500 trabalhadores. PRODUÇÃO INDUSTRIAL NACIONAL CRESCEU 8% Nos últimos 12 meses a produção industrial nacional cresceu 8%. Só em São Paulo, o crescimento foi de 10,5%, e de janeiro a agosto foi de 13,9%. As maiores altas foram verificadas na indústria de transporte (25,8%), bebidas (20,5%) e metalurgia (13,0%). Enquanto isto o salário mínimo subiu apenas para CR$ 18.760,00 em dezembro, 27% do valor do salário mínimo de 1940. CHAPA DA CUT GANHA NO SUL A chapa 2, formada pelo CSC e PT, ganhou as eleições do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do SulRS. A chapa 2 obteve 2.635 votos contra 2.308 votos da chapa 1, resultante de uma racha na diretoria ante- W iiiii rior. O sindicato tem 30 mil trabalhadores em sua base. RACHA NO SINDICATO DOS BANCÁRIOS A definição da Chapa 1, encabeçada pelo ex-Secretário Geral dos Bancários de São Paulo Ricardo Berzoini, confirmou o racha para as próximas eleições. João Francisco Ferreira Nascimento, ex-diretor do sindicato e integrante da oposição, informou que a chapa 2 também da CUT será definida dia 14, juntamente com a Convergência Socialista, PC do B, PPS, DS, Hora da Verdade e independentes. SINDICATO SUSPENDE ELEIÇÃO NA GM O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos-SP conseguiu suspender a eleição da CIPA na GM. A empresa não queria que participasse do processo eleitoral e ex-cipeiro Antônio Gonçalves de Pádua, demitido em maio por problemas políticos. COMISSÃO DE FÁBRICA FAZ 15 ANOS NA MWM Os metalúrgicos da MWM, em Santo Amaro na cidade de São Paulo, comemoraram 15 anos de criação da comissão de fábrica. Fundada em 1978', a comissão surgiu no início das lutas operárias da época, debaixo do nariz do então presidente do Sindicato dos'Metalúrgicos de São Paulo, Joaquinzão. COSTUREIRAS ESCRAVAS O Sindicato das Costureiras do ABC paulista estão acusando a Tedesa Indústria de Confecções de São Caetano do Sul, de escravizar 95 costureiras na produção, tendo demitido 6 pessoas depois de uma fiscalização. A Tedesa só permite que a costureira vá ao banheiro uma vez antes e uma vez depois do almoço, além de não poderem sair para beber água. As gestantes só podem usara o banheiro fora de hora com atestado médico. PEÃO DA SERRA NORTE MORRE NA AUTOLATINA O operário Osmar Batista dos Santos, trabalhador da Construtora Serra Norte, morreu dia 30 de novembro ao despencar de uma altura de 10 metros quando trabalhava no setor de Trahathadores usinagera da Autolatina, em São Bernardo do Campo. Jarbas Peixoto, que caiu junto, está internado em estado de coma. Os Sindicatos dos Metalúrgicos do ABC e da Construção Civil de São Bernardo e Diadema fizeram protesto dia 2 passado em frente à fábrica. LATIFUNDIÁRIO DERROTADO Osvaldo dos Reis Mutran, o "Vavá Mutran", ex-deputado e latifundiário, foi condenado a 9 anos de prisão pelo assassinato do Fiscal de Rendas Daniel Lira Mourão. Este fato só foi possível graças à organização dos Trabalhadores, através do Comitê Rio Maria do Pará. A avaliação do Comitê é a de este foi um passo importante na luta contra a violência no campo. O episódio serve inclusive para resgatar a luta por justiçanos casos pendentes como o de Expedito Ribeiro de Souza e Paulo Fontelles. POLÍCIA PRENDE LIDERANÇAS Dois padres, um sindicalista e dois labradores foram presos pela polícia em Itamaraju-BA, por liderarem 3 mil lavradores sem-terra que ocuparam em fms de novembro a fazenda da Fibrasa, de 5.000 hectares. Várias pessoas foram espancadas pelos policiais. Além dos padres Düson Batista Santiago e Venturine Ganes, foram presos também o diretor regional da CUT, João Crimério, e os lavradores Dejacira Maria de Oliveira e Silvio Bizoli. MORADORES EM CONFRONTO COM A PM Cerca de 50 pessoas, entre moradores e soldados, ficaram feridas dia 23 de novembro no Conjunto Habitacional Jardim Leopoldina, em Porto Alegre-RS. Os moradores montaranr barricadas, às quais atearam fogo, para resistir a uma ação de despejo. A PM usou bombas de gás lacrimogêneo, cães e cassetetes. Os 1.000 moradores, depois que os bombeiros jogaram água nas barricadas, revidaram com pedras. O resultado foi que apenas 5 imóveis foram desocupados. Pastoral Operária -N^lll- Dezembro 1993 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO PARA QUE? No Brasil fala-se que a década passada foi uma década perdida. Isso quer dizer que não houve crescimento econômico, ou seja, não cresceu o Produto Interno Bruto. Neste ano de 1993, com toda crise não só política e social, setores da economia estão crescendo. Nunca se vendeu tanto carro, cresce a produção de produtos químicos/petroquímicos, há recuperação das vendas em dezenas de setores, etc. Porém, esta recuperação econômica não significa necessariamente bem-estar do povo. Aliás, o povo está pagando a conta com o processo de reestruturação do parque industrial, enxugamento administrativo, terceirização, etc. As Nações Unidas usam os seguintes indicadores para classificar os países segundo o grau de desenvolvimento: * índice de mortalidade infantil * esperança de vida média * grau de dependência econômica externa * nível de industrialização * potencial tecnológico científico e * grau de alfabetização e instrução * condições sanitárias. Refletindo áobre estes indicadores dá para imaginar em que situação nos encontramos. O povo brasileiro vive num estado de pobreza quase absoluta. Embora não possamos negar que o Brasil de hoje é diferente do Bra- sil da década de 60, pois tivemos um golpe militar em 64, violenta repressão política, perseguição a qualquer movimento que buscasse esclarecer e formar opinião na população, etc. Não podemos deixar de negar que o Brasil de hoje é mais miserável que o Brasil de ontem. No início da década de 60, os salários tinham um peso de 66% na renda nacional; hoje, os salários pesam apenas 30%. Será que é este o desenvolvimento que queremos? Outrosagravantesestãoaícom a globalização econômica (Mercosul, CEE, Nafta, etc), acirrando o nível de competitividade e trazendo modismos como terceirização, flexibilização da mão de obra (CCQ, TQC, TQM, Kanban, Kaiser, parceria, etc) com o objetivo de reduzir custos, aumentar os lucros e melhorar a qualidade/produtividade. A palavra de ordem final é competitividade. Infelizmente, o trabalhador paga a conta. Uma massa de trabalhadores vai ser eliminada do setor produtivo da economia (hoje, em São Paulo, já são mais de 1,2 milhões de desempregados; no Brasil, mais de 7 milhões pelas estatísticas oficiais). Naturalmente, os salários são pressionados para baixo com uma maior concorrência pelo mesmo emprego. Porém, não é só o Brasil que está vivendo esta " crise capitalista". Na Comunidade Econômica Européia (CEE), são mais de 30 milhões de desempregados. Na Espanha, 22,3% da mão de obra está sem emprego -já estão falando de um novo Pacto Social. O Pacto de Moncloa não foi suficiente. Se a crise não é só brasileira, vai sobrar pouca coisa para salvar nossa economia e as chamadas economias do 3S mundo. As "sobras" dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Japão, etc. estão indo para sossegar o monstro que eles próprios criaram: a ex-União Soviética e seus satélites. Investimentos, fluxos de capital etc. vão ser coisas cada vez mais distantes do Brasil. Os países industrializados e suas empresas virão ao Brasil apenas para expoliar, tirar e não para acrescentar. Vamos viver um novo período de colonialismo, mais tecnológico e mais controlador. Quais seriam as perspectivas para nós brasileiros? Para não alongar mais e ficar no "mais principal de tudo", não há outra saída senão: 1. Trabalhar pela educação e formação do povo. Um povo mal formado, sem escolaridade, sem educação e ciência, sem política, vai ser sempre um povo submisso, um povo morto. Infelizmente, as entidades de classe (sindicatos, etc.) e movimentos populares ainda não avançaram suficientemente nesta área: 2. Lutar por uma melhor distribuição de renda no País. Isso significa em síntese o seguinte: sem alimentação e saúde não há movimento que resista. Observa-se que o "programa da fome" está sendo em parte manipulado pelas elites para evitar que a população se organize. A burguesia, as elites, o poder dominante quer "desenvolvimento econômico" e para isso é necessário manter a população nos níveis mínimos de consciên- cia (função essa entregue aos meios de comunicação) e níveis mínimos de subsistência (papel importante do desemprego, dos baixos salários, etc.) Aparecido Farias Economista-SP. Jornal da CUT-N* 130-Nov.Dez.1993 VOCÊ SABIA QUE... ... Pelo estardalhaço que fazem as elites brasileiras, os menos avisados poderiam pensar que realmente o capital estrangeiro é discriminado no Brasil e que, em função disto, teria sentido modificar a Constituição brasileira atual, pois nela estariam assentadas as bases legais da "xenofobia nacionalista". ... Os números dizem exatamente o contrário. Segundo estudo do economista Octávio de Barros, da Unicamp, o investimento direto externo no Brasil atinge US$ 72,5 bilhões (US$ 75,5 se consideradas as aplicações e reaplicações no mercado de capitais, ou seja, nas bolsas), o que permite afirmar que o Brasil detém o maior estoque de capital estrangeiro entre os países do chamado Terceiro Mundo. Um número quase que o dobro dos US$ 40 bilhões apresentados pelo Banco Central A tabela abaixo mostra a distribuição dos investimentos diretos, de acordo com Octávio de Barros. ... Da lista dos 50 maiores grupos internacionais publicada pela revista Fortune, 40 já estão no Brasil. O capital já está respondendo por 42,1% do faturamento das 50 'maiores empresas privadas no Brasil, num universo que abrange 8,576 empresas que detém algum grau de participação estrangeira. ... Vale notar que deste universo, apenas 4,2% são filiadas de empresas localizadas no exterior, o que demonstra o alto índice de associação entre o capital externo e o capital brasileiro. Este número -mostra, inequivocamente, que a burguesia não tem, nem poderia ter um projeto próprio para o desenvolvimento do país. Pelos seus próprios interesses, adota a postura de submissão total do país aos ditames da oligarquia financeira internacional/FMI. (por: Dilermando Toni, publicado em A Classe Operária.) INVESTIMENTO ESTRANOEntODOETO NO BRASIL (mi ieuotn <fe 92) PAlS USS BILHÕES PORCENTAGEM EUA ALEMANHA JAPÃO FRANÇA INGLATERRA CANADÁ ITALIA HOLANDA SUlÇA SUÉCIA OUTROS 23.42* 9,423 6.X30 4,143 ÁJKI 3,967 3,634 3,517 2^41 1,458 9,168 32^% 13.0% 9,5% 5.7% TOTAL 72,489 100% }.6S 5J% 3.0% 4,8% 3,9% 2,0% 12,7% Jornal do Brasi -07.1Z93 A (6mea9) culpa do Banco Mundial Herbert de Souza O mundo econômico, os governos, as instituições e a sociedade não podem mais aceitar ou permitir todas as tentativas que vêm sendo feitas de separação entre o econômico e o social. Separar um do outro é deixar o real com o econômico e o utópico com o social; é deixar a solução com o econômico e o problema com o social Esta é uma separação que inclui no mundo da economia a produção dos bens materiais, mas faz com que a dimensão social desta mesma produção fique restrita à conseqüência. Nesta divisão, fica combinado que o desenvolvimento é econômico e a pobreza é social, a visão é de um simplismo admirável, mas de uma força ideológica impressionante. Quando entram na fábrica, os trabalhadores são fatores econômicos; quando saem, são problemas sociais/Quando definem seus orçamentos, os governos são atores econômicos; quando tratam de saúde, educação, saneamento básico, os governos são incompetentes sociais sem recursos, verbas ou responsabilidades. Quem produz é o gerente do Capital, mas quem assiste é o bem-estar social. O primeiro tem dinheiro. O segundo, problema. O mundo hoje apresenta um quadro espetacular de concentração de riqueza. Nunca tão poucas nações - e tão poucas pessoas dentro dessas nações tiveram tanta riqueza e poder. O mapa mundial da riqueza se encolhe, enquanto o mapa mundial da pobreza, exclusão e indigência se expande. Os dados, o Banco Mundial tem. O que se produziu ao longo dos últimos 100 anos do chamado desenvolvimento foi um lado cada vez-mais econômico e excludente, como contrapartida de um lado cada vez-menos humano; o céu para uma minoria e o inferno para a maioria. Como se não bastasse, ainda se produziram dois tipos de inferno. O relativo para os pobres e excluídos dos sistemas ricos, o absoluto para os que, nos países pobres, não conse- Quinzena guem o mínimo para sobrevivência. Essa é a cara humana da modernidade. E fundamental colocar o desenvolvimento humano no centro de qualquer tipo de desenvolvimento, e particularmente no desenvolvimento econômico. Tíão existe econômico sem social, O social é fundante, determinante, enquanto o econômico é subordinado, derivado, resultado. O atual debate em que se tenta definir o papel do Estado e o papel do mercado - que determina o tamanho do público e do privado e o destino das estatais criadas nas últimas décadas - está diretamente ligado a esta divisão. Há quem queira acabar com o Estado para liberar a chamada energia do mercado. Como se, no Brasil, Estado e mercado não tivessem sempre andado juntos, servindo aos mesmos senhores. O Estado brasileiro sempre serviu às minorias brasileiras e internacionais e ao mercado que interessava a essas minorias. 'Na ditadura militar quese estabeleceu entre 1964 e 1985, o Estado serviu ao mercado dos grandes conglomerados. Agora, que a sociedade pretende tomar este Estado mais público, os defensores do mercado querem diminuir o poder do Estado para confiná-lo apenas a uma conotação social totalmente dissociada do econômico. Na ditadura, o Estado construía grandes barragens, era empresário, era nuclear, metal mecânico, planejador, interventor, forte e-militar. Agora, pretendem que ele seja esquálido, vazio, sem poder, ausente.'Mas logo agora que massas de pobres e indigentes batem à sua porta pedindo comida, casa, educação, saúde, saneamento básico. No tempo da ditadura, o Banco Mundial financiou a maioria dos 33 projetos que formaram o que o Estado brasileiro batizou de milagre do desenvolvimento e que custou ao país cerca de US$ 200 bilhões. Todo este dinheiro foi gasto num sonho de potência que enchia de orgulho o coração das elites civis e militares. Em Carajás, US$ 60 bilhões. Na Ferrovia do Aço, US$ 10 bilhões. Na energia nuclear, mais tantos -milhões de dólares. A ditadura acabou, grande parte desses projetos faliu ou está escandalosamente inacabada, a dívida de bilhões de dólares está para ser paga, a miséria cresceu e o social bateu às portas das grandes cidades. E onde estão os responsáveis? Os técnicos, os experts? E os responsáveis maiores? Os que aprovaram os projetos, financiaram, apoiaram? Por isso, quando o Banco Mundial propõe uma conferência para disciflir a miséria, a fome, a pobreza, não consigo esconder essas preocupações. O Banco Mundial foi parte ativa no processo de produção da pobreza e da miséria no Brasil e no mundo - pelas suas visões, propostas, esquemas, financiamentos e por todo tipo de silêncios e cumplicidades que caracterizam o mundo oficial. O que pensa o banco de suas responsabilidades? Que análise o BI mco Mundial faz da sua participação neste processo? Que novas propostas tem? Para falar de pobreza, o Banco Mundial deve um mea culpa indispensável diante da sua tremenda responsabilidade como um dos principais atores políticos existentes no mundo de hoje, aquele que tem a capacidade não só de financiar projetos de desenvolvimento, como de induzir e condicionar esses projetos. No mundo de hoje, nem o Estado nem o mercado tem condições de matar a fome do mundo e de acabar com a miséria, já que são prisioneiros de interesses particulares que fizeram do mundo este grande apartheid social. A solução, portanto, é mudar a direção do mercado e do Estado. É democratizar o mercado para que ele responda realmente à maioria e não à minoria, seja competitivo em vez de ser oligopolizado, seja balizado por critérios éticos e não por moralidades travestidas de racionalidade, seja-monitorado pela sociedade e pelo Estado sem deixar de ser -mercado, mas que seja um mercado humano e para humanos. A solução é democratizar o Estado para que ele deixe de ser apropriado por interesses dominantes da minoria e sirva de forma transparente à maioria, para que seja público e não privado. Ou o Estado passa a servir às maiorias ou estará fadado a desaparecer mais cedo do que pensa. Finalmente, é fundamental apostar fortemente na sociedade civil, nas Ongs, na cidadania, em novos atores da sociedade que tomam consciência de sua capacidade de intervir nos processos históricos modernos. Se o mercado e o Estado estão hoje em crise, a sociedade cresce, e é nesse crescimento que está o destino da democracia em todo o mundo. E, portanto, o destino da própria humanidade. Herbert de Souza é secretário executivo do Ibase e articulador nacional da Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida. TT obéc^ ALGUMAS ENTREVISTAS KMrtA A GRANDE IMPRENSA (1991-1993 rn^-s;;- À VENDA NO CPV VALORCR$ 2.400,00 À VENDA NO CPV VALORCRS 3 80,00 Folha de São Paulo - 04.12.93 Indústrias investem pouco em tecnologia Segundo estudo divulgado pela CNI, apenas as' empresas brasileiras consideradas 'top' de linha inovam SUZANA BARELU Free-bnce farj a Folha As indústrias brasileiras estão trabalhando para diminuir sua ineficiência produtiva em detrimento de investimentos em pesquisa e tecnologia. Ou seja, as empresas estão racionalizando sua produção para competirem em um mercado retraído. Mas a falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento pode levá-las a perder o bonde da história da competitividade industrial. Os investimentos em inovação tecnológica se limitam a poucas indústrias, consideradas 'top' de linha. Nas demais, preocupações com eficiência internacional ainda é uma realidade distante. De um total de 660 empresas, 36,7% desconhecem a ISO 9000, a norma que regulariza a qualidade internacionalda produção. Estas são as principais conclusões do "Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira" realizada pela Confederação Nacional da Indústria e divulgado ontem. A análise, que inclui 660 empresas consultadas no primeiro semestre deste ano, é baseada no Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira, feito pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Juros altos ''A falta de estabilização da economia' faz com que as empre- sas -fiquem no básico, sem investir em tecnologia. E isso é um sinal de alerta", diz o senador Albano Franco, presidente da CNI. O empresário Carlos Rocha, vicepresidente da Automática, associação que reúne as empresas da área de informática, diz que o governo tem uma grande parcela de culpa no atraso tecnológico brasileiro. "Incerteza econômica e o alto custo do capital inviabilizam investimentos em tecnologia", diz. Para ele, as indústrias estão tentando se adaptar ao mercado recessivo e competitivo, mas o governo ainda não fez a sua parte. Como exemplp. Franco diz que os empresários enumeram as altas taxas de juros (80%), os impostos (78,9%) e os encargos sociais (70,9%) como os principais empecilhos para o desenvolvimento competitivo de sua empresa. Automação O estudo mostra ainda que estão crescendo os gastos com automação —passou de 16,1% no período de 87/89 para 25,5% no ano passado— e com técnicas de controle de qualidade — 8,9% para 15,7% nos mesmos períodos. Esses investimentos, diz José Augusto Femandez, diretor-executivo da CNI, mostram que as companhias têm como prioridade resolver seu problema de ineficiência. "Só depois, irão investir em tecnologia", diz. A preocupação com a eficiência produtiva ganhou força no início dos anos 90. Deste então, fatores como retração do mercado (citado por 71,9% dos pesquisados), exigência dos consumidores (49,6%) e abertura comercial (21,8%) passaram a ser determinantes nas estratégias das empresas. Neste processo, também se destacaram a preocupação com a redução do custo dos estoques, a renovação da linha de produtos e a tercerização dos serviços. "Na busca pela eficiência, as indústrias estão mais enxutas, com funcionários terceirizados", disse Franco. Mercado Interno • Para atuarem no mercado interno, a pesquisa mostra qúe a estratégia é o binômio marca c preço baixo. Do total, 37,6% das empresas apostam na identificação da marca e 29,7% nos preços reduzidos. Para o mercado externo,' as indústrias se preocupam com o atendimento às especificações técnicas (48,4%) e com os preços (36%). As empresas exportam, prioritariamente, para o Mercosul e Nafta. Outra tendência, apontada pelo estudo, é que as empresas estão procurando tratar os fornecedores como parceiros. Para elas, seu sucesso competitivo depende ainda da escala de produção e do seu tamanho. Pelo estudo, é importante ter elevada capacidade de produção e ser de grande porte. PAULO FREIRE P0LÍÍICA E EDUCAÇÃO À VENDA NO CPV VALOR CR$ 1.180,00 à VENDA NO CPV VALOR CR$ 4.55000 ® Quinzena Política Nacional O Séo Paulo - ffi 1.953 - 18.11.93 Termina amanhã 9 a l Semana Social Começou na terça-feira, 16 a 1Semana Social do Regional Sul I da CNBB. O evento que tem como tema "Brasil: protagonistas e alternativas" reuniu pastorais, movimentos e entidades."Na abertura, o cardeal Âms enfatizou o crescente empobrecimento brasileiro e a necessidade de se "formar um Brasil construído pela ética, abençoado por Deus e apoiado por todos". O objetivo principal é a reflexão de quatro temas: o desenvolvimento econômico, o estado democrático, sujeito e valores emergentes e dominação política e cultural. No primeiro dia um debate sobre a conjuntura brasileira contou com as presenças do cardeal Ams, Rose Pavan, representante da CUT e substituta de Jair Menegueüi, e de Emerson Kapaz, do Pensamento'Nacional das Bases Empresariais (PNBE). Rose ressaltou que a crise brasileira é sentida de forma diferenciada pelas diversas classes existentes no país. "A estagnação econômica não atinge o empresariado e sim os setores populares", disse acrescentando que o grande vilão dos tempos atuais é a concentração de riqueza nas mãos da mi- noria. Numa retrospectiva da crise nacional. Rose, que é professora, frisou que a partir da década de 70 houve um esgotamento do modelo econômico concentrado no capital internacional. A década dCSO, então, foi considerada perdida. A partir de 90 rena ce a luta dos movimentos populares que aparece entre os bóias-frias, os sero-terra e outras classes oprimidas da sociedade. Hoje, segundo Rose, o Brasil está recuperando seus valores éticos. Outro valor que está sendo recuperado pelo brasileiro, conforme a representante da CUT, é a solidariedade "que esteve fora de nosso cotidiano durante algum tempo", disse. "Esses valores estão arraigando-se e terão grande importância, sobretudo para as eleições de 94, quando haverá uma disputa mais direta dos políticos com a sociedade que, por sua vez, já não se deixa iludir por falsas promessas", complementou. Na ocasião, o cardeal Ams ressaltou a migração da classe média, que obrigava a família em casas alugadas, para favelas e cortiços. Dom Paulo atribui o empobrecimento da classe média brasileira ao neoliberalismo, um sistema que, segundo ele, inicialmente surgiu como substituto do capitalismo, "com cara bonita". Porém, depois absorveu todos os "defeitos do capitalismo e outros mais", resultando, conforme o cardeal, na concentração de renda nas mãos de poucos. Dom Paulo denunciou algumas atitudes tomadas pelo governo, e que refletem diretamente na vida da população, sem o consentimento ou sequer consulta ao povo brasileiro. Como exemplo, o cardeal citou o Mercosul, acordo organizado pelo ex-presidente Fernando Collor e que permanece no governo Itaraar. Para Dom- Paulo, esse acordo firmado entre países da América do Sul, como Argentina, Uruguai e Paraguai, beneficia principalmente as elites daqueles países, que irão usufruir da economia paulista, uma das mais privilegiadas da América Latina. "E o povo nem foi consultado", lamentou o cardeal. Hoje e amanhã a Semana Social irá abordar o "Desenvolvimento econômico brasileiro", "Estado democrático", "Sujeitos e valores emergentes" e "Dominação política e cultural". Jornal do Brasl -29.11.93 A esquerdas a luta pelo poder Florestan Fernandes É essencial, para a luta de classes e a criação de uma sociedade nova, que cada partido de esquerda possua uma identidade política e ideológica fume. Essa questão foi, é e sempre será crucial. A democracia interna requer democracia externa, embora com outros partidos que às vezes apenas se autoproclamam "radicais" ou "populares". A prioridade política de esquerda incide na universalidade da cidadania. Ela não pode converter-se em campeã dessa causa e, ao mesmo tem- po, arcar com a condição de "cauda política" da burguesia. Em conseqüência, a esquerda precisa ser objetiva e versátil no reconhecimento das alterações dos rumos nacionais e internacionais do sistema de produção, de cultura e de poder da burguesia. Não isolar-se sobre si mesma e ignorar o quanto as referidas alterações fortalecem (ou não) a supremacia burguesa. O capital contém a sua lógica: ele se renova e se reproduz na medida em que consegue incrementar geometricamente ciência e tecnologia, centuplicando com velocidade o excedente econômico. Por isso, a esquerda tem de ficar alerta e ser apta a modificar de maneira mais fulminante suas técnicas sociais de organização e de luta política. O "emburguesamento" do socialismo na Europa e sua castração nos Estados Unidos romperam a articulação entre os princípios básicos do socialismo revolucionário e a inovação profunda e constante das estratégias e táticas de confrontação com a ordem social competitiva. A conciliação das Política Nacional Quinzena classes, segundo poisam, assumiu o porte de um meio de insurreição pacífica. A situação histórica da América Latina indica que semelhante evolução eqüivale, entre nós, a ceder vantagens difíceis de conquistar em troca de um prato de lentilhas. A opressão implacável do Estado subcapitalista e a tirania do capital, em todos os níveis, são tão arrasadoras para os de baixo e seus aliados ocasionais ou permanentes, que a "revolução dentro da ordem" acaba sendo um mal necessário: Graças a esse dilema, transformações capitalistas condicionam as lutas políticas dos de baixo e as tor- nam um processo lento, sinuoso e imprevisível. Coloca-se, assim, a reflexão. Que alianças fazer? A esquerda já superou a impotência crônica de massa de manobra das classes dominantes e seus partidos. Cumpre dar agora um salto mais ousado. Evitando compromissos espúrios com falsos partidos "socialderaocraías", tentar uma "união tática" de oposição frontal. Essa união, por suas origens e natureza, só pode ser transitória. Ela é, porém, a estreita vereda para chegar-se a entrechoques amplos e criativos. Ela poderá provocar uma radicalização socialista e re- volucionária de "inconíornristas moderados". Também poderá representar uma solução de como enfrentar forças desproporcionalmente poderosas na revisão constitucional e nas próximas eleições. Se a vitória ainda é inviável, que se procure a contestação política mais inteligente. Pois não basta ''marchar juntos". A esquerda deve proceder como antagonista da ordem existente, o que significa enlaçar a ótica socialista aos conflitos políticos decisivos. Florestan Fernandes escreve às segundas-feiras nesta coluna. O Estado de São Paulo -03.12.93 A íntegra da análise da CPI Esta é a íntegra da análise feita pelo CPI dos documentos da Odebrecbt: "Da análise preliminar dos documentos e também a partir de fatos já observados por esta subcomissão, e tendo como referência única, neste momento, a citação de nomes de parlamentares , temos a apresentar o seguinte: 1. Parlamentares citados por José Carlos Alves dos Santos, em última correspondência enviada à CPMI, e constantes na documentação analisaria. a) Dep. Jorge Tadeu Mudalen (PMDB-SP) Aparece nos documentos relacionado ao Fundo "Nacional de Saúde, onde está inscrito um percentual de 5%. Não encontramos, nesses documentos descrição de obras ou emendas. O deputado foi relator do setor 39 do OGU-92 (Ministério da Saúde Inamps - Fundação Nacional de Saúde). b) Dep.-José Carlos Aleluia (PFL-BA) Na documentação encontramos o nome do parlamentar relacionado a obras no Estado de Pernambuco. Não foi possível identificar, por ilegível, a obra: não estando identificado o órgão. O percentual a ele atribuído é de 0,5 a 1%. Há também uma relação de emendas onde se lê: 'Programas a Cargo do JCA' (Iniciais do parlamen- tar) onde o deputado é o proponente e outras onde não o é. c) Dep. Eraldo Tinoco (PFL-BA) Está relacionado à emenda apresentada ao OGU 93 no Ministério da Educação, para construção do Hospital Universitário de Teresina. Há um percentual atribuído de 04,%. O deputado foi o relator do setor 15, Ministério da Educação e do Desporto para esse OGU. 2. Parlamentares citados apenas na documentação autuada. a) Dep. Gedel V. Lima (PMDB-BA) Aparece vinculado à Sudene. Não encontramos obras relacionadas nos documentos. O percentual a ele vinculado é de 4%'. O parlamentar foi relator do setor 12 (Presidência da República - Secretaria de Desenvolvimento Regional - Sudene - Finor Instituto Brasileiro de Turismo e Fungetur) no OGU 92. h) Sen. Teotônio Vilela (PSDB-AL) O nome do parlamentar aparece vinculado a um percentual que varia de 2 a 2,5%. Embora não tenhamos encontrado obras ou órgãos nos documentos. Aparece ainda como autor de emendas na relação "Programas com JCA' e também citado como sendo um dos pontos-chave do esquema. c) Sen. Almir Gabriel (PSDB-PA) Nos documentos não foi encontrada vinculação a obras ou emendas. O parlamentar aparece relacionado a 'campanha/Belém'. d) Dep. Mussa Demes (PFL-PI) Está citado como relacionado ao MIR e com uma emenda parcial de uma adutora em Pedro II. A emenda foi apresentada, em nome da bafacada, para se executada pelo governo do Estado, no valor de US$ 417 mil. Aprovada pelo relator parcial, dep. Mussa Demes, e o relator-geral acrescentou US$ 9 milhões. Há um percentual vinculado de'0,27% para essa obra, além do percentual estipulado para o relator-geral. e) Sen. Dario- Pereira (PFL-RN) O parlamentar aparece vinculado à obra da barragem de Oitidca, com um percentual de 0,89% e a outra emenda do projeto de irrigação de Baixo Açu, com o percentual fe 0,28%". O senador foi sub-relator do Dnocs no OGU 93. A emenda do Plano de Irrigação de Baixo Açu foi acrescida em US$ 417 mil pelo relator parcial e US$ 2,6 milhões pelo relator-geral. As verbas para a barragem de Oitidca foram acrescidas em US$ 2,9 milhões e US$ 4,99 milhões pelos relatores parcial e geral, respectivamente. f) Dep. Valdomiro Lima ^DT-RS) Está relacionado com a emenda para o Porto de Natal, com um percen- tual de 1,86%. O deputado foi o subrelator do Ministério dos Transportes no OGU 93, g) O relator parcial do Fundo Nacional de Saúde O relator aparece vinculado a um percentual de 1,26% e relacionado à obra do Hospital do Câncer em MT. O relator parcial acresceu US$ 2,86 e o geral US$ 2,88 milhões. O relator do Fundo no OGU 93 foi o deputado Osmânio Pereira (PSDB-MG) h) Dep. Roseana Sarney (PFL-MA) A deputada está relacionada a ofício autuado na casa do sr. Airton, que foi encaminhado ao M6ES solitando a alteração do QDD do programa de trabalho relativo à ampücação do sistema de abastecimento de água em Imperatriz. Está relacionada em anotação da agenda do referido sr. indicando a data de 16/agosto/93 para uma reunião às 15 horas, na casa da parlamentar. Não encontramos indicação de percentual. í) Dep. Fátima Pellares (PFL-AP) Foram encontrados ofícios da deputada dirigidos ao MB ES, solicitando ampliação dos recursos e priorização dos programas de abastecimento de água de Laranjal do Jari eM acapá, de sua autoria. Posteriormente solicitou alteração do QDD para esses projetos. Esses programas foram aprovados pelo relator-geral, que concedeu US$ 1,9 milhões e US$ 1,1 inilhão, respectivamente. j) Sen. Marluce Pinto (PTB-RR) Foram encontrados ofícios enviados ao MBES apresentando projetos relativos ao programa de habitação popular em Roraima e solicitando a liberação de recursos para os mesmos. Um dos programas de trabalho relacionados não existe no Orçamento. k) Dep. Ivan Burity (PRN-PB) Também relacionados a ofícios solitando alteração dcQDD do programa de sistema de esgoto sanitário na periferia norte de João Pessoa-PB. 1) Dep. Manuel Castro (PFL-BA) e Sen. Josaphat Marinho (PFL-BA) Aparecem na 'Lista de Programas a Cargo do JCA' sendo relacionados a emendas do rol. m) Sen. Mansueto de Lavor (PMDB-PE) O senador aparece na relação de 'amigos apoiadores' que esperam por apoio nas eleições. Alan disso em todas as obras relacionadas acima, aparece um percentual ao relator-geral. O percentual varia entre l£% e 3%' dependendo da obra. n) Sen. Affonso Camargo (PTB-PR) Então Ministro dos Transportes, teria a empresa no sentido de não recorrer de decisão administrativa referente a um processo lidtatório até que fosse feita análise do contrato. 3. Deputados em Processo de Investigação pela CPMI - Orçamento que aparecem nos documentos analisados. a) Dep. José Luiz Maia (PPR-PI) O nome do parlamentar consta ao lado de emendas ao OGU, no MIR, com percentual de 0,27%, e Senir, com percentual de 0,23%. b) Dep. José Geraldo Ribeiro (PMDB-MG) Foi encontrado um fax a ele destinado, com relação de obras e valores em dólares, datado de setembro de 1993. Os valores totalizam US$ 119 miL r) Dep. Sérgio Guerra (PSB-PE) As iniciais do deputado constam ao lado do nome do deputado José Carlos Vasconcelos e ao lado da obra de Pirapama - a mesma para a qual o deputado Sérgio Guerra solicita por fax o aumento do valor concedido, após a aprovação do Orçamento. Ao lado das iniciais conta o valor de 27 bilhões. d) Dep. José Carlos Vasconcelos (PRN-PE) Aparece na lista no rol de amigos e ao lado do nome do deputado Sérgio Guerra. e) Dep. Cid Carvalho tPMBB-MA) Aparece como proponente de emendas que constam da relação de 'Programas a Cargo de JCA'. f) Dep. Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) Figura na agenda do sr. Ailton Reis para um encontro em 18/nov/93 às 18h. 4. Parlamentares que são considerados como pessoas-chave para relacionamento. Mansueto de Lavor José Geraldo Ribeiro Messias Gois Sérgio Guerra São citados contatos para os respectivos parlamentares acima. 5. Parlamentares relacionados no grupo 'deputados, amigos que nos apoiam em CPIs, projetos, emendas etc. sem cobrar e esperar por apoio nas eleições'. RN-Flávio Rocha João Faustino Lavoisier Maia PI - Jesus Tajra Hugo Napoleão PE- José MiScio Monteiro José Carlos Vasconcelos Salatiel Carvalho Roberto França Roberto Magalhães Mansueto de Lavor PB - Francisco Evangelista Evaldo Gonçalves José Luiz Clerot 6. Parlamentares relacionados como ocupantes de postos-chave no Congresso Nacional. PE - Roberto Freire Inocêncio de Oliveira PB«. Raimundo Lira Ifraim Moraes PI - José Luiz Màia AL - Guilherme Palmeira Teotônio Vilela P 7. Parlamentares elencados como necessários à composição com objetivo de reduzir áreas de agressão. Nilson Gibson Maurüio F. Lima &• Outras referências. A documentação refere-se ainda ao deputado Miguel Arraes como solicitante de recursos a sua campanha eleitoral. O orçamento mensal estipulado é de US$ 30 mil. O governador Antônio Carlos^Magalhães e o senador Rui Bacellar são citados como os instrumentos de 'pressão política necessária face aos interesses regionais de salvar a obra' da RFFSA." Política Nacional Quinzena Jorn* do Slntaema -N» 158-07 a 14.1Z 93 EMPREITEIRAS NA MIRA DA CPI A CPI do Orçamento continua surpreendendo o país. A novidade da semana passada foi o cartel das empreiteiras, descoberto a partir de documentos apreendidos na casa de um diretor da Norberto Odebrecht S/A. Segundo relatório preliminar da CPI havia um esquema dirigido por esta empresa e contava com, no mínimo, mais oito empreiteiras, que corrompiam parlamentares e funcionários dos ministérios. As propinas eram financiadas através dos acréscimos nos preços das obras públicas — que chegavam a 36% — e concedidas num simples roteiro bastante conhecido nos dias atuais: a empreiteira procura governadores e prefeitos, sugere a realização das obras e garante que conseguirá as verbas no Orçamento da Uniào. Com a ajuda de parlamentares e representantes do -c Executivo, a empreiteira faz lobby nos ministérios e obtém a liberação do dinheiro. Pois são os nomes dos envolvidos, bem como seus respectivos percentuais de propina, que fazem parte do conteúdo das 28 caixas de documentos apreendidos. As anotações são tão bombásticas que bastou para que a CPI decidisse investigar mais dez parlamentares e exigisse a quebra do sigilo bancário de mais vinte pessoas físicas e jurídicas. Aparecem novamente nomes como o de Ricardo Fiúza e diversos deputados. A Odebrecht, por sua vez, embora tenha passado o resto da semana negando, novamente está envolvida em irregularidades, subornos e superfaturamento. Ela já foi manchete de jornais no inesquecível caso Magri — que recebeu da empreiteira US$ 30 mil para liberar obras no Canal da Maternidade, no Acre — ou o caso de irrigação para o Peru, cuja descoberta das irregularidades derrubou o então ministro da Fazenda Eliseu Rezende. A descoberta do esquema Odebrecht coloca nas mãos da CPI outro vasto painel de corrupção no país. A partir das investigações — se levadas a sério e terminar em punição — é possível se deter definitivamente o poder das empreiteiras sobre o destino das verbas públicas, bem como a forma'^— já institucionalizada — que certos parlamentares, assessores e outros encontraram de enriquecer rápida e iUcitamcnte. "Em tempo: PC já está no Brasil, Collor já está dando entrevistas coletivas, Itamar já começa a ser acusado de envolvimento... É, muitas águas ainda vão rolar... Massas -N*61 -2' Quinzena -Nov. 19S3 Só as massas podem combater a corrupção Convocar os Tribunais Populares Os partidos e seus políticos burgueses não podem acabar com a corrupção porque são parte dela. Somente os explorados, na luta direta contra a opressão de classe, poderão investigar a fundo, julgar e eliminar a corrupção. Porém, não se trata das massas dispersas. É preciso construir uma organização de luta apropriada para a situação. Esses organismos são os Tribunais Populares. Os Tribunais Populares devera ser formados a partir das fábricas, bairros operários, campo, escolas e outros locais de trabalho. Através de assembléias se deve discutir a corrupção e seu vínculo com o domínio burguês do Estado. O que deve estar em julgamento não é apenas a responsabilidade individual de um ou outro parlamentar, mas os partidos, o Parlamento, os governos e os grupos econômicos. Deve se estabelecer o vínculo entre a corrupção, a exploração do trabalho, a política econômica an- tinacional e antipopular e a miséria dos trabalhadores. Aí está a razão porque somente os explorados têm interesse em apurar a corrupção com todas suas conseqüências e trabalhar por liquidá-la. Quem tem condições de mobilizar os oprimidos, convocar as assembléias e organizar os Tribunais Populares? Justamente a CUT, sindicatos, associações de bairro, UNE e o movimento camoonês. Entretanto, estas medidas não vêm sendo tomadas porque as direções destes organismos se encontram comprometidas com a democracia burguesa, ou seja, cora o parlamento corrupto e com o método eleitoral de fazer política. Tanto é que a bandeira levantada pelo PT, PCdoB e burocracia sindical reformista é a da "CPI para valer". O que significa manter as -massas como expectadoras passivas, à mercê do controle das informações pelo parlamento, das denúncias multiladas pela imprensa bur- guesa e, enfim, conservar o poder de decisão nas mãos dos partidos corruptos. Está colocado para a vanguarda proletária consciente denunciar a capitulação das direções que controlam os organismos das massas. Com a bandeira de convocação dos Tribunais Populares e de defesa das reivindicações dos trabalhadores, devemos lutar no interior do movimento operário e popular. O objetivo é o de ajudar os oprimidos a se emancipar das ilusões burguesas, alimentadas pelo reformismo e burocratas sindicais. É necessário que a classe operária passe a confiar em suas próprias forças e lute para fazer da CUT e de todos organismos classistas ura instrumento antümperialista e anticapitalista. Esta é a via concreta para se combater a exploração e a corrupção que dela advém. A T.POR vem levantando sistematicamente a bandeira dos Tribunais Populares, vinculados às reivindica- Quinzena ções vitais (salário mínimo real, escala móvel de reajustes, emprego a todos, etc), como meio de organização do movimento independente dos explorados e de combate à falsa via democratico-burguesa. O pequeno desenvolvimento do partido revolucionário ainda não permite potenciar uma fração do proletariado para projetar a luta da maioria oprimida. Chamamos todas as correntes, que se reivindicam do movimento operário, a romperem com o deiDocratismo ou com o palavreado esquerdista vazio e se colocarem por uma campanha pelos Tribunais Populares. As esquerdas que se mantém submissa ao refoimismo petista propõem como via a dissolução do Congresso e antecipação das eleições gerais. Ou @ seja, querem fazer crer que os mecanismos da democracia burguesa servem de instrumento para liquidar com a corrupção e com a situação de-miséria dos trabalhadores. Não têm como esconder que este caminho objetiva a eleição de Lula e a chegada do PT no poder do Estado. Justamente, os reformistas e burocratas do PT estão metidos até o pescoço no parlamento corrompido e na legalidade da CPI oligárquica. Estas correntes (PSTU, Causa Operária, O Trabalho, etc) defensoras das eleições gerais, nas condições de crise da própria democracia burguesa, substituem a luta direta das massas pelo mecanismo forma do voto. Esta política não leva o proletariado a emancipar da burguesia, confiar em Política Nacional suas próprias forças e se aglutinar em tomo de um programa de luta. Ao contrário, a bandeira dos Tribunais Populares se contrapõe as instituições burguesas e se constitui em organismos de luta de massa contra o Estado, seus partidos e a miséria. O rompimento destas conentes com as ilusões democráticas, mascaradas pelo esqueidismo, permitiria potencializar concretamente a bandeira dos Tribunais Populares, que poderia se transformar de bandeira propagandística em agitativa no meio operário e popular. Assim, a T.POR chama o PSTU, Causa Operária, O Trabalho, etc a se desvincularem do refoimismo petista e se lançarem pela formação dos comitês de luta pró-Tribunais Populares. Folha de SSo Paulo -3a 11.93 O fim de uma era José Dirceu A CPI do Orçamento é um acontecimento que marca o fim de uma era no BrasiL Ao atingir as principais lideranças do PMDB, PPR, PFL, PTB e do PP, a comissão decreta o fim da hegemonia de políticos que dominaram o cenário do país, e também o Congresso Nacional, nos últimos 30 anos. São os políticos que se abrigaram na Arena durante o regime militar, apoiaram Maluf no Colégio Eleitoral ou sustentaram a "Nova República" e o mandato de cinco anos paia Samey e, por fim, formaram o Centrãao na Constituinte e foram entusiastas do "BrasiTNovo" de Collor. Depois de superar a difícil fase de luta pela quebra do sigilo bancário e fiscal dos principais envolvidos, a CPI passou para a fase dos depoimentos. Agora cruza os indícios e provas obtidos com a análise das emendas ao Orçamento para determinar a sua relação com o aumento das contas bancárias e elevação patrimonial dos envolvidos. A comissão já tem elementos para propor a cassação de vários parlamentares, além do seqüestro dos seus bens obtidos ilegalmente. No entanto, a CPI vive um dilema. Precisa definir se será apenas uma operação "caça anão" ou o início de um amplo processo de limpeza na política brasileira. Para isso precisa am- pliar seu prazo por mais 45 dias; iniciar já o processo de cassação, investigar os governadores, ministros, empresas e bancos e criar condições para o início de reformas políticas. Para começar, é preciso impedir tanto a renúncia dos envolvidos como sua participação na revisão constitucional Precisamos rever a imunidade parlamentar, que não pode se transformar em passaporte para a impunidade, e aumentar o prazo de inelegibilidade dos parlamentares cassados por corrupção de 3 para 2) anos. Temos que lutar para que esse seja um momento de renovação profunda dos costumes e da estrutura política brasileira. Para isso, é preciso retomar a discussão sobre a legislação eleitoral e partidária, de forma a que se estabeleça a transparência sobre o financiamento das campanhas eleitorais e a instituição da fidelidade partidária. Esse último ponto pode ser incorporado à Lei Orgânica dos Partidos Políticos, que está em apreciação no Congresso. A questão do financiamento das campanhas recebeu um tratamento insatisfatório na lei eleitoral recentemente aprovada, pois permite o anomimato das doações para 'partidos e candidatos, não coloca teto para as doações de pessoas físicas e jurídicas e não pune os infratores que abusam do poder econômico. A nova lei, na verdade, vai permitir a legalização dos esquemas tipo PC/ColIor e João Alves. É preciso revogar essa legislação. Portanto a CPI é também o momento de lutarmos por uma ampla refoima política e institucional do país. Caso contrário, o que estará enriisco é a própria democracia, porque a corrupção, o tráfico de influência e a impunidade levam a que se fortaleçam na sociedade as tendências autoritárias e ditatoriais, ainda que a história já tenha demonstrado que o autoritarismo e a ditadura não são solução para nada e que a única saída é a democracia. O momento é ideal para uma ampla reforma administrativa, inclusive começando cem a extinção dos Ministérios da Ação Social e da Integração Regional e a descentralização dos recursos de assistência social e integração para os Estados e municípios. E momento também de uma ampla e total reformulação constitucional sobre o Orçamento - que deverá incluir a participação da sociedade, através do controle popular em todas as fases de sua elaboração e execução - e da criação da Secretaria de Controle Interno, além da reformulação total dos Tribunais de Contas. Toda a legislação penal deve ser reformulada e o Poder Judiciário reWfíMM formado, com a instituição do seu controle externo. Infelizmente, tanto na Constituinte quanto na CPI do PC e na luta pelo impeachment do Collor, o impulso reformador existente na sociedade brasileira, patrocinado principalmente por forças da sociedade civil, foi detido pelas elites, através de manobras e acordos de cúpula. É hora de não permitirmos novamente que as elites e os partidos conservadores façam na CPI do Orçamento o mesmo que fizeram na Constituinte e no impeachment do Collor. Mas isso só será possível se a UNE, CUT, CGT, OAB, CNBB, ABI, PNBE e as forças políticas e sociais que se uniram no movimento pela ética na política retomarem a ação e mobilizarem o país para sustentar e apoiar a CPI. Mas, agora, é preciso ir além. A sociedade civil deve impulsionar um amplo programa de reformas institucionais no país para pôr fim a uma época, a uma era e para iniciar uma nova democracia no Brasil José Dirceu é deputado federal pelo PT de São Paula Foi secreta no-geral do partida O AVANÇO DA ESQUERDA E A POLARIZAÇÃO DA SOCIEDADE Jaime Yovanovic Prieto As eleições na Polônia e Itália mostram um impressionante avanço dos votos de esquerda. As eleições na Rússia e em pauses latino-americanos demonstram uma clara tendência do eleitorado de preferência dos candidatos de esquerda para os próximos dias e meses. Os conservadores da Inglaterra, Estados Unidos, Grécia e Canadá perderam os governos para candidatos com maior base popular. O fato não é causai e não é tratado como fenômeno global pelos meios tradicionais de informação ocidental, ocupados em convencer a todo o mundo que as coisas vão pelo caminho certo: desestatização, neo-liberalismo, desemprego, aumento da marginalidade, etc. tentando mostrar que a tecnologia-moderna é a causa de todos os males. Por outra parte o aumento das correntes autoritárias, neo-fascistas, racistas e nacionalistas em diversos paí- ses -mostram uma tendência à polarização da sociedade, demonstrando assim que a luta de classes está viva e atual, que não é um fenômeno circunstancial. A crise do capitalismo caminha a passos agigantados a situações explosivas que era prazos breves estourarão. A classe dominante trata de conter o furacão apoiando candidatos que têm simpatias populares, socialdemocratizando os governos, estimulando as correntes legalistas e reformistas da esquerda, as quais, sem perceber o enorme potencial transformador da insatisfação popular, entram no jogo institucional cooptando os movimentos e disciplinando as massas populares dentro da camisa de força do sistema. Em tanto outros setores dominantes desenvolvem a linha de acumular força política e material direta para reprimir os anseios dos explorados e -marginalizados. Carandiru é apenas o começo. Frente ao fascismo crescente, ao desemprego cada dia maior, ao aumento da marginalidade, à falta de satisfação dos direitos do povo, e frente a um Estado cada dia mais desprestigiado (até pelos próprios neo-liberais, que acreditam mais na foiça direta do capital e das armas), a crise de representação, a crise ética, etc. é necessário levantar alternativas diferentes, que mobilizem o povo a partir da sua organização independente pela base. Se as instituições oficiais não dão respostas, é a hora de criar novas instituições populares. Se o Direito oficial não responde aos interesses do povo, é a hora de criar um novo Direito na rua, nas favelas, nas fábricas e campos. É a hora do novo, do "outro", do alternativo, a hora de potenciar a criatividade popular para levantar novas propostas de organização social Jaime Yovanovic Prieto é professor de Direito na UNIFEC e de Direito Alemafvo na U. São Francisco. Assessor Jurídico da Comissão Permanente pelos Direitos dos Marginalizados. Gazeta Mercantil-23.11.33 Sindicatos rejeitam proposta do governo Os principais Sindicatos espanhóis anunciaram ontem que estflo dispostos a convocar uma greve geral ante o previsível fracasso das negociações que mantém com o governo sobre a reforma do mercado de trabalho. A UniSo Geral dos Trabalhadores (UGT), de tendência socialista, e a Comissões Obreras (CCOO), de orientação comunista, consideram inaceitável a proposta apresentada ontem pelo governo espanhol para regular as normas sobre demissões. A oferta, segun- do os sindicatos, amplia os motivos que os empresários podem alegar para demitir seus empregados — atualmente circunscritos a moUvos econômicos e tecnológicos — a razoes de organização e produção. i Ante a rejeição dos representantes dos trabalhadores, o secretário-geral de Emprego, Marcos Pefia, advertiu que o governo está disposto a levar adiante suas propostas sobre contratações mediante um decreto de lei. Pefia afirmou que "nSo vê possibilidade de o governo modificar sua proposta", que tem o objetivo, segundo ele, de evitar demissões e criar novos postos de trabalho. Foi neste ambiente de confrontação e pessimismo que sindicatos e governo presidido pelo socialista Felipe González retomaram ontem as conversações sobre um pacto social destinado a ajudar o pais a sair da crise econômica. O Executivo, que fixou como data-limite para chegar a um acordo o último dia 9 deste mês, assegura que suas propostas entrarão em vigor com ou sem o aval dos sindicatos. Maioria Falante -N*30- Ago/Set. 1993 Liberdade para a terra dos bascos Um povo singular, cujas origens pré-históricas até hoje são desconhecidas, fisicamente diferentes dos outros povos europeus. Com um idioma sem parentesco com qualquer outro, sua nação étnica está implantada na dobra estratégica do continente, entre a França e a Península Ibérica1. Perseguidos e espoliadas por tiranos e invasores desde a antigüidade, a Hstóría do povo basco é tão heróica quanto trágica. Repeliram visigodos, francos, normandos, mouros e reduziram a frangalhos a retaguarda do exército de Carlos Magno, em 778 a.d.. Nunca foram uma nação independente. No máximo conseguiram um conjunto de bem-guardados fueros , no século XV, com limitada autonomia. Ainda no século XVIII só falavam a língua basca. Mas foi durante a guerra civil espanhola que tiveram o seu maior batismo de s a n gue, quando a perseguição étnica atingiu o nível de genocídio e culminou com o massacre da cidade de Guemica, em 15 de maio de 1937. Guemica, cidade santa dos bascos e ponto histórico de reunião desde a Idade Média, foi destruída pela aviação alemã, com o apoio dos fascistas de Francisco Franco - mais tarde ditador na Espanha -, diante do silêncio das "democracias" ocidentais e depois eternizada em quadro por Pabio Picasso. A idéia de um Estado independente, separado tanto da Espanha quanto da França, onde fosse preservada a cultura basca. surge já em 1894r'A partir daí a idéia de separatismo tomou sua forma atual e levou à criação daquela que é ainda hoje a sua maior instituição de defesa e luta política: o Movimento Euskadi Ta Askatasuna (ETA) pátria basca e liberdade. E difícil falar da luta do povo basco sem falar do E.T.A.. Foi criado no final dos anos 50 para resistir à política de extermínio da ditadura franquista, que fazia questão de persegir os bascos antes de todos. Tribunais militares de excessão, com julgamentos sumários e pelotões de fuzilamento, masmorras e câmaras de tortura estavam lotados não só de bascos, mas também de espanhóis que se opunham ao regime. Em 1970, um julgamento em especial causou grande comoção no exterior.. Dezesseis jovens membros do movimento nacionalista basco foram acusados de subversão. Nove foram condenados à morte e os sete restantes a um total de 519 anos de prisão. Foram acusados de múltiplos crimes contra o Estado fascista, desde reuniões ilegais e demonstrações públicas de assaltos a bancos, sabotagem e três assassinatos. Um fato novo, entretanto, veio mudar a situação da ditadura espanhola. Em 1973, a execução em uma rua de Madri, do almirante Carrero Blanco, primeiro-ministro e sucessor de Franco, cortando a continuidade do regime e causando danos irreparáveis à ditadura. Com a morte de Franco, em 1975, não restou outra saída à grande burguesia senão a abertura política. Com a abertura, tem início a farsa democrática. Em 1976 uma onda de repressão política a tingiu os bascos, com prisões indiscriminadas c torturas. Em 1979, o governo espanhol fez votar um'"Estatuto de Autonomia* que concedia um pouco oe tudo aos bascos, menos... autonomia. Um terço de abstenção popular não pôde impedir a consumação da farsa e o país Basco continua ligado a uma federação que repudia, agora com o statos de província. Com a chegada do P.S.O.E (Partido Social ista Obrero Espanhol) ao.Poder, uma nova forma de repressão política é implantada, quando colocaram em prática sua política de extermínio "branco", em sofisticados cárceres "antiterroristas", o que de certa forma desmascara a social-democracia burguesa e sua política de extermínio dos bascos. Francisco Artapalo ?-— r * f. ; K * \\ - 1 ^Y3\ 9$£ MM MMMMUA. WOa B UNMttUAI mmm Quinzena InUtmmeioMêU Folha de Sáo Paulo -06.12.93 Tenezuelaijos escolhem Caldera Eleição marca derrotado bipaftidarisnw; discurso anüüberal dá vitória a ex-presidente CLÓVIS ROSSI Enviado especial a Caracas O ex-presidente Rafael Caldera, 77, elegeu-se ontem presidente da Venezuela para o período 1994/1999, quebrou o bipartidarismo que marcou o país nos últimos 35 anos de democracia e impôs a primeira derrota eleitoral ao neolibcralismo. hegemônico na América Latina desde a falência do comunismo. "Meu triunfo significa devolver a todos os lares venezuelanos a alegria e a fé no país", disse Caldera, no discurso da vitória, a partir de 20hl5 (22hl5 em Brasília), pronunciado em tom fortemente populista. Cercado por toda a família (mulher, três filhos, seis netos), o presidente eleito atribuiu a vitória ao "chiripero", designação em tese pejorativa dos humildes, mas que ele resgastou como tema e símbolo de sua campanha. "Estou disposto a trabalhar por um acordo nacional sincero", anunciou também, antes de, com a voz trêmula, cantar "glória ai bravo pueblo", primeira estrofe do hino nacional. O discurso da vitória precedeu qualquer anúncio de resultados oficiais. Caldera baseou-se nas apurações de boca-de-urna de emissoras de TV que lhe deram, todas, o primeiro lugar, com cerca de 32% dos votos. Caldera, de 77 anos, foi fundador e patriarca do Copei (a democracia-cristã venezuelana) até romper com seu partido, este ano, para se candidatar pela Convergência Nacional. É uma coligação de 17 grupos políticos, que inclui o Partido Comunista e o Movimento ao Socialismo (MAS, grupo fundado pelos intelectuais que trocaram a guerrilha dos anos 60 pela via institucional). A campanha de Caldera teve dois eixos. Um, óbvio, a crítica à corrupção, que levou ao impeachment, em maio, do presidente Carlos Andrés Pérez, eleito em 1988 pela Ação Democrática (AD, a social-democracia local), e a um processo contra o antecessor de Pérez, Jaime Lusinchi, também daAD. O segundo eixo foi a crítica ao programa neoliberal que Pérez implantou ao assumir e que, uma semana após a posse, provocou um levante popular que deixou 300 mortos e destroçou irremediavelmente a popularidade do presidente. Na esteira do descontentamento, vieram duas tentativas de golpe militar, ambas em 1992, um fantasma que sobreviveu até a véspera da eleição de ontem. Por isso, antes de que se conhecessem os resultados .oficiais, a Venezuela festejou a preservação de seu sistema democrático, velho de 35 anos, o mais antigo da América Latina —se se excluir o México e sua peculiar democracia de partido único. Festejou também uma abstenção em padrões normais, quando se esperava que atingisse níveis re- cordes, fragilizando a democracia. "E um triunfo da civilização sobre a barbárie", exagerou Eduardo Fcrnández, ex-secretário geral do Copei, derrotado nas primárias do partido por Oswaldo AJvarez Paz. A crise venezuelana arrastou à derrota não apenas o partido governante, cujo candidato, Cláudio Fermín, ficou em terceiro lugar, mas também a oposição tradicional, o Copei, que terminou em quarto, segundo os resultados da Rádio Caracas Televisão (RCT). AD e Copei, somados, tiveram 93,3% dos votos na eleição presidencial anterior. Agora, Fermín estava com 23,5% e, o Copei, com 19%. Além da vitória de Caldera por uma nova e heterogênea agrupação, surgiu uma segunda força, a Causa Radical, nascida do movimento sindical e com leve parentesco com o PT.brasileiro. Seu candidato, Andrés Velásquez, tinha 25% dos votos, sempre segundo a RCT. A questão, agora, é saber se a democracia resistirá também às medidas que o novo governo terá que adotar para enfrentar uma crise que faz a Venezuela viver "o pior de dois mundos, a daninha mescla de recessão e aceleração infiacionária", como diz Francisco Vivancos, professor de Economia da Universidade Central da Venezuela. 1£% Jattn Gare A VENDA NO CPV A VENDA NO CPV VALOR CRS 3.020,00 VALOR CRS 6.750,00 íRííAS DA POLíTICA De volta à Estação Finlândia ClÒNtCA Dt UMA SOCIAlflMO tft VJACIM PlRDIUO AO \ < .-a-.^s^M Quinzena Internmeimuãi Inverta-Nt 21-1118 15.12.93 Comandante Tomás Borge INVERTA - Como está a situação atual da Nicarágua? TOMÁS BORGE - O atraso econômico do país se evidenciou com as cifras apontadas pelos organismos internacionais, como a Associação Internacional de Médicos e outras entidades. A Nicarágua retrocedeu 50 anos no seu desenvolvimento econômico. Há 60%' da população desempregada e os níveis de vida baixaram aos da década de 20, conseqüência fundamental da guerra patrocinada pelos Estados Unidos durante 8 anos, causando um prejuízo ao país de mais de vinte milhões de dólares. Perdas materiais, além das dezenas de milhares de vítimas mortais que a guerra ocasionou. Esta situação se agravou pelas políticas de ajuste econômico do atual governo, que distribuiu os escassos recursos com parcelas -minoritárias, além da corrupção administrativa, as vacilações do governo com as pressões do EUA que continuam intervindo nos assuntos internos da Nicarágua de uma forma descarada. Todo este panorama alimenta de novo as esperanças do povo nicaragüense que se volta para a FSLN Frente Sandinista de Libertação Nacional que é o organismo político mais desenvolvido, mais influente e mais coerente do país. Nos próximos meses acontecerá o Congresso da Frente Sandinista para examinar uma reorganização interna da Frente, traçar uma estratégia política, econômica e social, na busca de resposta aos dramáticos e surrealistas problemas do povo nicaragüense. O Congresso examinará a situação internacional e sobretudo a do país e os seus problemas, vamos traçar um programa adaptado às novas condições dramáticas do país e à busca da conciliação nacional que, em última instância, talvez seja a única forma para sair da gravíssima crise era que vive a Nicarágua. Creio que o projeto imediato será voltar a ser um paus pobre e sair da situação que estamos vivendo. Nicarágua é o país mais pobre da América Latina. I - Qual a perspectiva da volta dos sandinistas ao poder? TB - Creio que nesse momento a única opção possível é uma eleição popular e o retorno da Frente Sandinista ao poder. I - Violeta Chamorro foi pressionada^pelos contra-para tirar Humberto Ortega do comando do Exército? TB - Humberto Ortega saiu da chefatura do Exército de acordo com as leis da Nicarágua e não como fruto de pressão estrangeiras, que para nós é intolerável. Em conformidade com os próprios estatutos do Exército e as leis da Nicarágua há limite na chefia do Exército em mãos de um comandante-emchefe que será substituído por outro dirigente militar e não por capricho de alguém ou pressões. I - Há uma contra-revolução boje na América Latina que impede sua libertação frente ao imperialismo norte-americano. Quais as persepctivas do retorno dos sandinistas, a firmeza da Revolução Cubana-para uma mudança radical no Continente? TB - Cuba continua sendo ponto de referência para os revolucionários latino-americanos. A façanha histórica de Cuba, de sustentar a existência do regime socialista, continua sendo ura alento para os revolucionários da América Latina. Apesar dos prognósticos pessimistas, temos confiança na continuidade do regime socialista que em meio a tantas dificuldades, sobreviveu às medidas que tomou o governo de Cuba na busca dessa sobrevivência. Creio que foram corretas e são compreendidas pelos revolucionários da América Latina. No resto do continente, entrou em agonia a política dos liberais. Em alguns países tiveram êxito aparente. As cifras deles indicam que no Chile, Argentina e Bolívia tiveram resultados positivos, mas es- ses índices macroeconômicos ocultam, na verdade, a miséria profunda e a desigualdade que há nesses países. Os percentuais da pobreza aumentaram na América Latina e não há mais dirigente latino-americano que se confesse neoliberal. Se envergonham de suas próprias condições econômicas, isto é indicio de que o neoliberalismo como concepção fracassou. Todo mundo considera Fukuyama o profeta do neoliberahsmo, o ideológico norte-americano desta aberração política é um charlatão. De maneira que, ao assinalar que se haviam esgotado as ideologias, se introaizou o liberalismo como única opção: Ninguém crê nele e no mundo inteiro há correntes poderosas contra a corrupção administrativa, o neoliberalismo e outras de caráter político e ideológico, de tal modo que o que se avizinha na América Latina é uma avalanche de descontentamento popular e os partidos, para sobreviver - eu digo porque sou membro da Conferência dos Partidos Políticos da América Latina - terão que apresentar aos povos novas opções ao desenvolverem projetos de caráter ético-moral que constitui a coluna vertebral, a meu ver, dos novos projetos políticos desse continente. Eu não sou pessimista quanto ao futuro da América Latina. Algumas mudanças de caráter quantitativo ocorreram - nos Estados Unidos que, nesse momento, provavelmente com a proximidade do ano 2.000, darão também um salto de qualidade nesse país. Creio que a presença de minorias éticas e a imigração latino-americana e de outros países constituem os setores mais empobrecidos dos EUA nos próximos anos. Isto permitirá que Cuba sobreviva, que ressurjam as revoluções. O futuro será sem dúvida, não do socialismo que foi liquidado pelos seus próprios erros e contradições nos países do leste europeu, mas do verdadeiro socialismo onde coexistem o respeito aos direitos humanos, à democracia e à distribuição equitativa dos recursos materiais. POR Se cada hora vem com sua morte se o tempo é um covil de ladrões os ares já não são tão bons ares e a vida é nada mais que um alvo móvel você perguntará por que cantamos se nossos bravos ficam ^sem abraço a pátria está morrendo de tristeza e o coração do homem se fez cacos antes mesmo de explodir a vergonha você perguntará por que cantamos se estamos longe como um horizonte se lá ficaram árvores e céu se cada noite é sempre alguma ausência e cada despertar um desencontro você perguntará por que cantamos cantamos porque o rio está soando e quando soa o rio / soa o rio cantamos porque o cruel não tem nome embora tenha nome seu destino cantamos pela infância e porque tudo e porque algum futuro e porque o povo cantamos porque os sobreviventes e nossos mortos querem que cantemos cantamos porque o grito só não basta e já não basta o pranto nem a raiva cantamos porque cremos nessa gente e porque venceremos a denota cantamos porque o sol nos reconhece e porque o campo cheira a primavera e porque nesse talo e lano fruto cada pergunta tem a sua resposta cantamos porque chove sobre o sulco e somos militantes desta vida e porque não podemos nem queremos deixar que a canção se tome cinzas QUE CANTAMOS