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Proposta
de
Indicadores
para
Priorização
de
Equipamentos Médico-Hospitalares em Programas de
Manutenção Preventiva
MORAIS, V.C; MÜHLEN, S.S.
Resumo – A segurança de pacientes e usuários, a qualidade no atendimento e a maior
disponibilidade dos equipamentos médicos são objetivos e preocupações constantes em
estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS). Programas de manutenção preventiva
contribuem para alcançar estas metas, mas a inclusão indiscriminada de todos os
equipamentos torna-se inviável financeiramente para a instituição de saúde, além de não
garantir o bom funcionamento dos mesmos. Torna-se necessário, portanto, desenvolver uma
metodologia que estabeleça a prioridade para a inclusão dos equipamentos em tais
programas. Por isso, há alguns anos diversos autores (Hertz, 1990; Anderson, 1992; Kendall
et al., 1993; Gullikson, 1995; Capuano & Koritko, 1996; Wang, 2000 entre outros) vêm se
dedicando ao estudo e desenvolvimento de critérios de priorização de equipamentos em
hospitais norte-americanos. Um dos primeiros métodos publicados, e também o mais citado
na literatura é o de Fennigkoh & Smith (1989), que atribui valores quantitativos aos seguintes
fatores: risco, função do equipamento e recomendações de manutenção. No entanto, a
simples aplicação desses parâmetros nos hospitais brasileiros pode levar a inclusões ou
exclusões inadequadas devido às diferenças culturais existentes entre a engenharia clínica
no Brasil e nos EUA já observadas por diversos autores nacionais (Martins et al., 1990;
Ramírez & Calil, 1996; Lucatelli, 1998). Nesse sentido, é necessário definir outros parâmetros
que permitam o refinamento da metodologia de priorização, adaptando-a às necessidades
dos hospitais brasileiros.
Este trabalho reavalia os critérios até agora utilizados e propõe novos, focalizando a
importância do equipamento dentro da missão global das EAS (Wang, 2000). Critérios como:
taxa de utilização do equipamento; taxa de falhas; manutenabilidade; custos da manutenção;
importância do equipamento na missão da instituição, e outros; além dos clássicos já
mencionados, serão incluídos em um fluxograma de decisões de periodicidade. Pretende-se
com isto determinar intervalos de MP que considerem a realidade brasileira e resultem em
uma priorização mais adequada para cada equipamento.
1. Introdução
Com o advento de novas tecnologias, automação industrial, sistemas just-in-time e
da mecanização das atividades, o termo manutenção passou a ser ponto chave
como indicador de qualidade, confiabilidade, disponibilidade e segurança em setores
2
tão distintos quanto saúde, telecomunicações, indústria, processamento de dados,
aviação, dentre outros. Entende-se manutenção como as atividades que garantam a
disponibilidade da função dos equipamentos e instalações de modo a atender a um
processo de produção ou de serviço com confiabilidade, segurança, preservação do
meio ambiente e a custo adequado [Kardec & Nascif, 2001].
Dentro do ambiente hospitalar, falhas e mau-funcionamento são particularmente
pouco tolerados. Erros na interpretação de diagnósticos e/ou tratamentos de
doenças podem ser considerado tão perigosos quanto a própria doença [Hayman,
2003]. Por isso devem-se concentrar esforços nas áreas onde os níveis de risco são
mais altos [Capuano & Koritko, 1996], o que reflete diretamente na competência,
seriedade e comprometimento da instituição. Outro fator importante no contexto
hospitalar é a crescente automação dos equipamentos médico-hospitalares e seus
altos custos financeiros, que exigem um melhor gerenciamento das atividades de
manutenção. Todos estes fatores levam os gestores da tecnologia médico-hospitalar
a adotar planos de manutenção preventiva (MP) na busca da perfeita otimização,
através do equilíbrio entre tempo, dinheiro, qualidade e segurança.
Ao se implementar um programa de MP, espera-se alcançar objetivos básicos,
como [Bronzino, 1992]:
•
Aumento da segurança para pacientes e operadores;
•
Redução do tempo de paralisação (downtime) do equipamento;
•
Aumento da vida útil do equipamento;
•
Garantia da exatidão dos tratamentos e diagnósticos;
•
Redução com os custos de manutenção corretiva;
•
Diminuição de chamadas para consertos urgentes e imprevistos.
Apesar de ser evidente a necessidade de implementação de planos de MP, bem
como os benefícios que eles oferecem, fatores limitantes como recursos materiais,
humanos e financeiros restringem o desenvolvimento de tais programas em diversos
grupos de manutenção de equipamentos hospitalares, principalmente no Brasil [Calil
& Teixeira, 1998]. Desta forma se torna necessário desenvolver planos de MP que
venham a atender o que realmente seja imprescindível e urgente. Daí surge o
primeiro desafio: determinar qual a prioridade de cada equipamento do hospital em
um programa de MP, pois é essencial que o programa seja seletivo para que seja
economicamente viável.
3
Este trabalho propõe tal priorização, baseada em uma metodologia que faz uso
da análise de indicadores. Segundo Cohen et al. (1995), um bom indicador deve ser
fácil de entender, medir e estar relacionado com o que se pretende medir ou
controlar. O nível de risco é um dos indicadores mais importantes em um processo
de priorização, embora não seja o único indicador válido. Outros fatores também
devem ser incluídos, de forma que ao se analisar a prioridade de cada equipamento
dentro de um programa de MP, sugere-se considerar os seguintes indicadores:
1. Risco;
2. Falhas;
3. Importância do equipamento na missão global da instituição;
4. Facilidade de manutenção (experiência da equipe de manutenção);
5. Facilidade de operação (experiência do operador);
6. Características do equipamento;
7. Custos.
Estes indicadores serão melhor explicados a seguir.
2. Objetivos
O objetivo desse trabalho é propor uma metodologia que priorize quais
equipamentos médico-hospitalares, e em que periodicidade, devem ser incluídos em
um programa de MP, através da análise das características de cada classe de
equipamento.
3. Metodologia
Para a escolha do caminho a ser seguido para cada equipamento dentro do
fluxograma proposto (Figura 2), são analisadas as características de cada classe de
equipamento. Estas características são analisadas através de fatores derivados dos
sete indicadores anteriormente mencionados. São eles:
1. Fator de risco;
2. Fator de falha;
3. Importância do equipamento;
4. Fator de manutenção;
5. Fator de operação;
6. Fator de projeto;
4
7. Fator de custos.
Cada fator proposto pode ser composto por um ou mais critérios, e cada critério
por um conjunto de parâmetros. Na Figura 1 pode-se observar essa divisão.
O exemplo aqui escolhido é o Fator de Falha:
FATOR DE FALHA
Fator (derivado do indicador “falhas”)
Códigos
Alta
Média
Pequena
A
B
C
Condições Ambientais
Inadequadas
Adequadas
A
B
Critérios
Parâmetros
Taxa de falhas
Figura 1 – Exemplo de divisão fator-critérios-parâmetros.
Cada parâmetro possui em código (A, B ou C) que é atribuído ao seu respectivo
critério de modo a formar um caminho a ser seguido no fluxograma. Na Figura 2
pode-se observar este fluxograma. Os quadros da mesma cor representam os
critérios de um mesmo fator, e as letras A, B e C os parâmetros do critério analisado.
5
Figura 2 – Fluxograma de decisão para periodicidade de MP.
6
3.1 Fator de risco
A preocupação com o fator de risco dos equipamentos médicos data da década de
70, desde quando a melhor forma de se realizar inspeções programadas em
equipamentos médicos vem sendo uma das grandes fontes de frustrações de
equipes de engenharia clínica [Anderson, 1992]. São considerados equipamentos de
risco todo e qualquer equipamento que possa causar algum tipo de dano ao
paciente ou ao operador. De acordo com Hertz (1990), dano é definido como
“qualquer evento desfavorável causado ao paciente pelo equipamento por uma ação
física direta (ex: queda de um monitor de vídeo sobre o paciente ou usuário) ou por
falha do equipamento (ex: a indicação errônea da pressão sanguínea de um
paciente por um equipamento levando o médico a tomar decisões impróprias no
tratamento deste paciente)”. Pela definição da norma NBR-IEC 60601-1 risco é a
combinação da probabilidade de ocorrência de dano e o grau de severidade
causado por esse mesmo dano. O termo dano é definido pela norma ISO
14.941/2000 como sendo “avaria física ou prejuízo à saúde de homens e animais; ou
prejuízo a propriedades ou ao meio ambiente”.
É certo que é impossível haver um ambiente hospitalar totalmente desprovido de
riscos. Qualquer que seja o tipo de equipamento invasivo ou não-invasivo, de
intervenção diagnóstica, terapêutica ou de monitoração, todos oferecem um certo
risco ao paciente e/ou operador [Gullikson,1995]. No entanto, para que se possa
administrar de forma correta o risco oferecido pelos equipamentos, deve ser
estabelecido um limite de riscos aceitável. Este limite, chamado por muitos de
segurança, é algo de difícil definição, uma vez que não se tem ao certo a resposta
para qual o nível aceitável de risco. Engenheiros Clínicos, órgãos de vigilância
sanitária, a Food and Drug Administration (FDA), a Joint Commission on
Accreditation of Healthcare Organization (JCAHO), todos analisam de formas
distintas os riscos e seu nível de aceitação [James, 1999].
O Fator de Risco aqui proposto analisa a conseqüência causada pela ocorrência
da falha do equipamento, seja essa conseqüência refletida diretamente no operador
do equipamento e/ou no seu usuário, neste caso o paciente. A classificação dessa
conseqüência é baseada em respostas a perguntas simples [Anderson, 1992]:
•
A falha do equipamento causa algum tipo de dano ao paciente e/ou usuário
(paciente)?
7
•
Como essa falha afeta a qualidade do tratamento do paciente?
•
Qual será a severidade dos danos causados caso o equipamento falhe?
De acordo com as respostas às perguntas acima pode-se definir a conseqüência
da falha de acordo com a Tabela 1.
Cód.
Conseqüência da falha
A
Grave (morte ou sério dano)
B
Média (terapia inadequada, dano ou
prolongação do tempo de recuperação)
C
Pouca (sem conseqüência significativa)
Tabela 1- Conseqüência da Falha.
3.2 Fator de falha
Define-se falha como a cessação da função de um item ou incapacidade de
satisfazer a um padrão de desempenho previsto [Kardec & Nascif, 2001]. A taxa de
falhas quantifica a incidência de falhas (# falhas/período).
Neste trabalho será utilizada a taxa de falhas média (λ), onde é analisada a
incidência de falhas em um determinado período com relação ao número total de
equipamentos similares. A Tabela 2 trás a classificação dada a cada equipamento
de acordo com a sua taxa de falhas média. A taxa de falhas deve ser tomada para
uma classe de equipamentos que mais se assemelham com os mesmos opcionais,
recursos e funções. A média da ocorrência de falhas desses equipamentos é
considerada como a taxa de falhas de todo o conjunto.
Taxa de falhas média
λ (falhas/ano)
Cód.
A
alta
+ de 3
B
média
1<λ≤3
C
pequena
0≤λ≤1
Tabela 2 - Taxa de falhas média.
O fator de falha de um equipamento pode ser agravado dependendo das
condições ambientais ao qual o mesmo é exposto, especialmente em meios
hospitalares, onde muitas vezes o equipamento é utilizado em ambientes e
situações onde as condições são adversas [James, 1999]. As condições ambientais
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avaliam o local onde o equipamento está sendo usado, bem como a sua forma de
armazenamento. De forma sucinta deve-se verificar se o equipamento está
devidamente instalado e operando sob temperatura adequada, níveis de umidade e
pressão satisfatórios, níveis de tensão em conformidade com as normas, etc., e/ou
sendo armazenado de acordo com as especificações do fabricante.
Cód. Condições ambientais
A
Inadequadas
B
Adequadas
Tabela 3 - Condições ambientais.
3.3 Importância do equipamento
A importância do equipamento deve ser considerada dentro da missão global da
instituição. De acordo com a JCAHO: “todos os departamentos de um hospital
devem desenvolver políticas e metodologias com a colaboração de todos
departamentos associados”. Assim, nos parece mais apropriado reinterpretar o
critério de “função do equipamento” como a “importância do equipamento na missão
global da instituição” [Wang, 2000]. Além disso, para o caso de instituições de saúde
no Brasil, deve-se considerar a receita cessante durante a paralisação do
equipamento. Assim, se o equipamento falhar, deve-se avaliar quantas pessoas
serão realmente prejudicadas e como essa falha irá afetar operacionalmente e
financeiramente toda a instituição.
O fator de importância do equipamento é composto por um critério único, formado
por três parâmetros, onde é verificada a importância do equipamento obedecendo a
seguinte classificação:
Cód. Importância do equip.
A
indispensável
B
recomendável
C
dispensável
Tabela 4 - importância do equipamento (*P = pontuação)
Esta classificação é uma adaptação da sugestão do Ministério da Saúde do Brasil
[Brasil, 1994] onde se propõe a divisão dos equipamentos em três categorias:
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- Equipamentos indispensáveis: diretamente relacionados à prestação do serviço,
sem os quais não é possível oferecê-lo, representando receita cessante
considerável para o hospital;
- Equipamentos recomendáveis: diretamente relacionados à prestação de serviço,
sem os quais este é dificultado, porém pode ser prestado, não apresentando receita
cessante significativa;
- Equipamentos dispensáveis: relacionados à prestação de serviço, sem os quais
este pode ser prestado sem dificuldade, não afetando a geração de receitas para o
hospital.
3.4 Fator de manutenção
Esse fator exprime a facilidade de realizar a manutenção do equipamento
(manutenabilidade) e leva em consideração os requesitos de manutenção de cada
tipo de equipamento.
Do ponto de vista matemático, manutenabilidade é a probabilidade do
equipamento ser recolocado em condições de operação dentro de um dado período
de tempo quando a ação da manutenção é executada de acordo com os
procedimentos prescritos [Lafraia, 2001]. De acordo com a norma NBR 5462
“manutenabilidade é a facilidade de um item ser mantido ou recolocado no estado no
qual pode executar suas funções requeridas, sob condições de uso especificadas,
quando a manutenção é executada sob condições determinadas e por meio de
procedimentos e meios prescritos” [Lafraia,2001].
A manutenabilidade pode ser definida pela Equação 1:
M (t ) = 1 − e − µt
(1)
Onde:
•
M(t) é a função manutenabilidade;
•
µ é o número de reparos efetuados em relação ao total de horas de
reparo do equipamento;
•
t é o tempo previsto de reparo de cada equipamento.
A manutenabilidade serve como indicador da capacidade que uma equipe de
engenharia clínica possui de realizar a atividade de manutenção, uma vez que altos
valores de manutenabilidade indicam “rapidez e facilidade” ao realizar a tarefa, o que
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é um reflexo direto da qualificação dos técnicos, disponibilidade de manuais e
materiais de pesquisa, disponibilidade de peças de reposição e materiais adequados
(bancadas, ferramentas, equipamentos de calibração, etc.) para execução da
manutenção. Ao se incluir um tipo de equipamento em um programa de manutenção
todos esses fatores devem ser levados em consideração, pois é preferível prestar os
serviços de manutenção nos equipamentos que são mais viáveis tecnicamente do
que consumir tempo, mão de obra e insumos com equipamentos dos quais não se
dispõe de condições para realizar a manutenção.
A classificação dos equipamentos quanto a sua manutenabilidade aparece na
Tabela 5:
Cód.
Manutenabilidade
A
boa
M(t) > 0,60
B
razoável
0,30 < M(t) ≤ 0,60
C
baixa
0 < M(t) ≤ 0,30
Tabela 5 – Manutenabilidade.
Outro fator a ser considerado é o requerimento de manutenção, definido pelo
ECRI (1990) como “o intervalo de manutenção ideal para se manter o equipamento
funcionando adequadamente em perfeitas condições de segurança”. Esse intervalo
pode ser fornecido pelo próprio fabricante do equipamento, o ECRI e/ou órgãos
governamentais competentes no assunto. O requerimento de manutenção é
classificado conforme a Tabela 6.
Cód.
Requerimento de Manutenção
A
mínima (anual)
B
média (semestral)
C
extensiva (semanal ou mensal)
Tabela 6 - Requerimento de manutenção.
3.5 Fator de operação
Este fator está relacionado aos critérios de operação e utilização do equipamento.
Os critérios de operação que podem intensificar da incidência de falhas, como
treinamento dos usuários e taxa de utilização dos equipamentos são analisados.
Pode-se dizer que até 90% de todas as falhas de equipamentos podem ser
atribuídas de uma forma ou de outra ao erro humano [Lafraia, 2001]. Esse número
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revela a grande importância de se investir não apenas na confiabilidade dos
equipamentos e sistemas, mas também na confiabilidade humana, assegurando
uma qualificação adequada e que seja constantemente renovada. Isto desperta para
a necessidade de analisar com mais cuidado o treinamento dos operadores e a
classe médica em geral, a fim de que se possa assegurar a integridade do parque
tecnológico do hospital.
O ideal seria dispor de meios para avaliar o nível desse treinamento, e então
classificá-lo em avançado, básico, elementar ou leigo. Mas devido à atual conjuntura
dos EAS, em especial nos países em vias de desenvolvimento, tal avaliação não é
possível. Por isso, esse critério será considerado através do simples fato do
treinamento ter sido ou não realizado, sem preocupação a priori com o nível desse
treinamento ou se é feita reciclagem periódica. Dessa forma, o treinamento dos
operadores é classificado conforme a Tabela 7.
Cód.
Treinamento dos operadores
A
Não recebeu treinamento
B
Recebeu treinamento
Tabela 7 - Treinamento dos operadores.
O número de equipamentos disponíveis de cada tipo também deve ser levado em
consideração. No entanto, considerar apenas o número sem uma noção da sua real
necessidade resulta em uma interpretação errônea da disponibilidade dos
equipamentos [Wang & Leverson, 2000]. Assim, ao invés de consider o número de
equipamentos da mesma classe, deve-se consider a sua taxa de utilização, ou seja,
a porcentagem de tempo média que o equipamento está sendo efetivamente
utilizado. A classificação é realizada de acordo com a Tabela 8.
Cód.
Taxa de utilização (TU)
A
intensa (TU ≥ 80%)
B
média ( 40% ≤ TU < 80%)
C
baixa (TU < 40%)
Tabela 8 - Taxa de utilização (%).
3.6 Fator de projeto
O fator de projeto faz alusão às características de projeto do equipamento que
facilitem a detecção da ocorrência de falhas (alarmes, mensagem de erro), que
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exijam uma atenção mais periódica (baterias, filtros, calibração) e dispositivos de
proteção contra eventuais falhas.
O fator de projeto é analisado em dois grandes blocos. No primeiro (Tabela 9) são
analisados os dispositivos que exigem inspeções (ou trocas) periódicas, e no
segundo (Tabela 10) são considerados os dispositivos de detectabilidade de falhas e
os de proteção contra falhas.
Bloco 1 – Fator de projeto
Cód.
Equipamento possui baterias e/ou filtros que requerem troca constante?
Existência de partes móveis sujeitas a desgaste e com necessidade de
lubrificação?
Necessidade de calibração freqüente?
sim
A
não
B
sim
A
não
B
sim
A
não
B
Tabela 9 - Fator de projeto (Bloco 1).
Bloco 2 - Fator de projeto
Possui mensagens de código de erro?
Possui sistema de alarme visual e/ou
sonora?
Apresenta algum mecanismo anti-falhas?
Cód.
sim
A
não
B
sim
A
não
B
sim
A
não
B
Tabela 10 - Fator de projeto (Bloco 2).
No bloco 1 a ocorrência de pelo menos um sim, indica determinação de código A
para o critério em questão. No bloco 2, prevalece o que aparecer em maior
quantidade.
3.7 Fator de custos
Historicamente na literatura costuma-se considerar que os hospitais chegam a
gastar de 3% a 13% do valor de aquisição do equipamento com sistemas de
manutenção e reparos [Cohen,1982; Bronzino, 1992; Calil & Teixeira, 1998]. É um
valor bastante alto quando considerado o valor do patrimônio de um hospital. Uma
das metas de um programa de MP é a redução de custos, mas muitas vezes não é
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isso que é observado. Programas de manutenção são caros, e mesmo os mais bem
elaborados não irão e nem poderão evitar todas as falhas possíveis. Algumas falhas
têm caráter aleatório, sendo totalmente imprevisíveis [Hyman, 2003].
A análise do custo com manutenção corretiva dá a idéia de quão dispendioso é
para instituição deixar que o equipamento venha a falhar antes que qualquer tipo de
inspeção ou MP seja realizada. Essa análise pode ser baseada no índice do custo
da manutenção corretiva (ICMC), calculado pela Equação 2. Embora essa equação
não utilize o custo real da manutenção corretiva, uma vez que não considera a
receita cessante de parada do equipamento enquanto quebrado, ela fornece uma
boa aproximação. Leva em consideração o valor das horas técnicas e dos materiais
utilizados no conserto do equipamento.
ICM C =
CustoMC
⋅100
CustoSUB
(2)
Onde:
CustoMC: média do custo anual com manutenção corretiva para cada
equipamento;
CustoSUB: custo de substituição do equipamento.
O aumento do ICMC indica maior necessidade de manutenção preventiva,
para que a manutenção corretiva seja a mínima possível. Pretende-se com isso
reduzir os gastos com a Manutenção Corretiva (MC).
Cód.
ICMC
A
15% > ICMC ≥ 0%
B
50% ≥ ICMC ≥ 15%
C
100% ≥ ICMC > 50%
Tabela 11- Índice do custo da manutenção corretiva (ICMC).
Um ICMC que apresenta código A significa que está dentro dos limites padrão de
gastos com manutenção (3% - 13%), mas códigos B ou C significam gastos
excessivos com MC, sendo então indicado investir em MP com a finalidade de
reverter este quadro.
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4. Um exemplo
Para ilustrar a metodologia será classificada uma classe de equipamentos de acordo
com os fatores propostos. No presente exemplo foram escolhidos os carros de
anestesia do centro cirúrgico (CC) do Hospital de Clínicas (HC) da UNICAMP.
Optou-se por escolher os equipamentos de um único setor do hospital para se poder
uniformizar a análise dos dados. Os dados do histórico dos equipamentos foram
colhidos junto ao Centro de Engenharia Biomédica (CEB) da UNICAMP, unidade
que se ocupa de gerenciar e realizar a manutenção de todo o parque de
equipamentos médicos da Universidade.
Carro de Anestesia
Número de equipamentos = 15
Cód.
O equipamento é classificado como equipamento de alto risco,
Fator de Risco
A
ou seja, a sua falha pode ocasionar morte ou sério dano.
A taxa de falhas média é de 2,067 falhas/ano, λ é média.
B
Fator de Falha
A condição ambiental foi considerada adequada.
B
Importância do
O equipamento é classificado como Recomendável.
B
equipamento
Apresentou manutenabilidade média de 0,712.
A
Fator de
O requerimento de manutenção sugerido pelo ECRI é
manutenção
B
classificado como médio (semestral).
Os operadores não tiveram treinamento
A
Fator de
Taxa de utilização é máxima para o caso do CC. Nenhuma
operação
A
cirurgia é feita sem sua utilização.
Bloco 1 ocorreu 2 “sim”, existência de filtros e necessidade de
A
calibração freqüente.
Fator de projeto Bloco 2 ocorreu 2 “sim”, possui alarmes e mecanismos antiA
falhas.
Fator de custos Apresentou um ICMc menor que 15%
A
Tabela 12 - Exemplo (carro de anestesia).
De acordo com esta classificação, o carro de anestesia segue o caminho no
fluxograma de Figura 2 no caminho mostrado na Figura 3.
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Figura 3 – Caminho do carro de anestesia no fluxograma proposto.
Assim, os carros de anestesia do CC do HC da UNICAMP devem ser vistoriados
trimestralmente. Deve-se observar que essa classificação é válida somente para
esta condição, pois a classificação foi realizada baseada em suas características.
Mesmo equipamentos similares que não situados no CC provavelmente teriam outra
classificação e, por conseguinte seguiriam outro caminho no fluxograma.
5. Discussões e Conclusões
Um bom programa de manutenção necessita de cooperação e suporte de todo o
hospital. Entender a importância de se realizar as rotinas de manutenção preventiva
é essencial [Topham, 1979]. As rotinas de MP devem ser programadas a fim de não
se tornarem inconvenientes e então recebam a colaboração de todo o hospital.
Para implementar de maneira eficiente e segura a metodologia proposta, é
necessário que exista uma base de dados completa, confiável e atualizada do
histórico dos equipamentos. É imprescindível que esta base de dados esteja
informatizada, pois seria inviável fazer a análise manual do grande número de
informações sobre os equipamentos. Todos os procedimentos de manutenção, seja
ela corretiva ou preventiva, devem ser devidamente registradas em fichas de
controle, para que o perfil dos equipamentos que compõem o parque do hospital
possa ser traçado, e assim se possa definir qual melhor forma de administrar esse
patrimônio.
Mesmo os hospitais que terceirizam o serviço de manutenção devem possuir seus
registros sempre atualizados, pois o hospital é responsável perante a lei pelo bom
funcionamento e segurança dos seus equipamentos, recaindo sobre a instituição a
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responsabilidade de qualquer dano que seus equipamentos venham a causar a
outrem, caso seja comprovada a negligência do hospital perante a manutenção e
inspeção do seu patrimônio. Embora os engenheiros clínicos, em conjunto com a
sua equipe, sejam os maiores responsáveis pelos equipamentos, não são os únicos.
Cabe aos operadores (enfermeiras, médicos, técnicos, etc.) realizarem inspeções
pré-uso, garantindo a detecção das “falhas óbvias” [ECRI, 1989]. Esses check-lists
são geralmente realizados antes ou após cada utilização do equipamento,
garantindo assim uma maior segurança nos procedimentos.
É sabido que nem todas as falhas podem ser evitadas, e implementar MP não
significa desativar por completo MC. Existem muitos problemas que ocorrem
repentinamente assumindo caráter aleatório, que não podem de detectados ou
prevenidos por procedimentos de MP. No entanto, muitos problemas decorrentes da
deterioração causados pelo uso normal do equipamento podem ser detectados
antes que venham a causar mau funcionamento ou falhas no equipamento.
Observa-se ainda que a MP não se aplica a todos os tipos de equipamentos; os
melhores resultados são obtidos geralmente naqueles que contêm peças mecânicas
ou que apresentem degradação por uso (desgaste físico, descalibração, etc.). Aos
demais (equipamentos puramente eletrônicos, por exemplo) a experiência vem
mostrando que é preferível esperar pela falha, pois inspeções periódicas são pouco
custo-efetivas e podem acabar por introduzir falhas no equipamento.
É importante ressaltar que a deterioração causada por mau uso do equipamento
decorrente da falta de treinamento dos operadores não pode ser prevenida por
programas de MP, por mais bem elaborado que este seja. Uma vez detectadas
falhas de operação, é preciso investir mais no treinamento dos operadores, e de
garantir a eficácia do treinamento através de algum tipo de avaliação. Sabe-se que
esta é uma atividade árdua, uma vez que na maioria das vezes a equipe médica não
tolera ser avaliada e muitos sequer disponibilizam tempo para participarem do
treinamento, dificultando ainda mais o processo. Em hospitais onde a rotatividade
funcional é alta, como no caso de Hospitais Escola, ministrar planos de treinamento
aos funcionários é uma tarefa quase impossível.
Apesar de todos esse problemas, esforços não devem ser medidos para se atingir
a meta principal: garantir um atendimento ao paciente com a melhor segurança
possível, uma vez que, são os pacientes a razão de ser de toda instituição de saúde.
A qualidade dos serviços prestados pelos hospitais deve sempre ser considerada
17
como um ponto crucial da instituição, pois esses serviços são na grande maioria das
vezes prestados a pessoas que já se encontram bastante fragilizadas devido às
enfermidades que as acometem, não devendo ser expostas a mais riscos além dos
das suas próprias doenças.
6. Referências
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1992. p. 65 - 68.
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CAPUANO, M. & KORITKO, S. Risk-Oriented Maintenance – Increase the effectiveness of your PM program.
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Proposta de Indicadores para Priorização de Equipamentos Médico