CÂMARA MUNIC IPAL DO RIO DE JANEIRO
COMISSÃO ESPECIAL DE PATRIMÔNIO CULTURAL
Relatório da Visita da Comissão ao
Hospital-Escola São Francisco de Assis
UFRJ
11 de agosto de 2011
Bruno de Cerqueira (historiador)
Luiz da Motta (arquiteto)
Comissão Especial do Patrimônio Cultural
Palácio Pedro Ernesto
Telefone: (21) 3814-2901 (Gab. Sonia Rabello)
Endereço eletrônico: [email protected]
CÂMARA MUNIC IPAL DO RIO DE JANEIRO
COMISSÃO ESPECIAL DE PATRIMÔNIO CULTURAL
Recepção
Fomos recebidos pela arquiteta da UFRJ Dalva de Castro M. Silva, uma vez que a vice-diretora da casa,
Profª. Maria Catarina Salvador da Motta, com quem havíamos confirmado o agendamento, não se encontrava
presente.
História do Hospital-Escola
O Asylo da Mendicidade — denominação original da construção —, data de 1876, quando a Princesa
Imperial D. Isabel lançou a pedra fundamental do projeto do arquiteto Radmaker Grunewald. Três anos depois,
em 10 de julho de 1879, D. Pedro II e a Família Imperial inauguraram a casa, um misto de abrigo de acolhida e
central de atendimento aos pobres da Corte do Rio de Janeiro.
O Asilo passou ao patrimônio da Prefeitura do Distrito Federal em 1892, mudando seu nome para “Asilo
São Francisco de Assis”, considerado menos humilhante aos usuários/pacientes e mais afeito à cultura de devoção
popular brasileira ao Poverello. Entre 1892 e 1894, o asilo foi ampliado e seu perfil de atendimento modificado
para atender uma clientela diferenciada, com capacidade para 400 leitos.
Em dezembro de 1920, a União retomou o prédio, transformando-o em “Hospital Geral de Assistência do
Departamento Nacional de Saúde Pública”, sob o comando do grande cientista e médico sanitarista Carlos Chagas
(1878-1934). Novas intervenções são realizadas e o Presidente Epitácio Pessoa reinaugura as instalações do agora
“Hospital-Escola São Francisco de Assis”, em 7 de novembro de 1922.
Pertencendo ao patrimônio da Universidade do Brasil, o prédio mantém sua vocação inconteste de
medicinal social, embora a decadência do Patrimônio Histórico que representa se acentue. Em 1978, suas
instalações são desativadas e os corpos discente, docente e funcional partem para o Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho, recém-inaugurado na Ilha do Fundão.
Em fevereiro de 1988, após chuvas torrenciais que atingiram o Rio de Janeiro, o antigo HESFA é
novamente utilizado para abrigar idosos desvalidos.
Nos anos seguintes, os docentes da UFRJ, influenciados pelo conceito de Assistência Holística, resolvem
orientar o ambulatório do prédio para os diversos campos da reabilitação (fonoaudiologia, fisioterapia,
acupuntura, estimulação essencial etc.). O público atendido vai dos 3 meses aos 80 anos de idade...
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Palácio Pedro Ernesto
Telefone: (21) 3814-2901 (Gab. Sonia Rabello)
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A partir de agosto de 1997, o prédio passa a ser utilizado também como centro de testagem de Doenças
Sexualmente Transmissíveis e de acompanhamento de alguns portadores do HIV.
O poder da Memória
Pudemos observar que o local contém uma aura extremamente emblemática de amor aos pobres, tornando
prática e cotidiana a missão a cujos nomes a história desse bem patrimonial se relaciona (Asilo da Mendicidade,
Hospital São Francisco de Assis).
A Arquiteta Dalva Silva confirmou-nos que é tocante a forma pela qual sempre viu serem tratados os
pobres que afluem em massa para tratamento na unidade...
A restauração do prédio
Imerso em promessas de restauro há várias décadas, a partir de 2004, o HESFA vem tentando obter
recursos para a viabilização das obras. Da mesma forma como ocorre com o Museu Nacional, a estrutura
fortemente complexa da UFRJ não proporciona uma facilitação ao processo.
Abaixo inserimos a notícia que o portal do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) divulgou por ocasião da liberação de uma verba inicial para os restauros do prédio:
BNDES apoia com R$ 2 milhões restauração do Hospital Escola São Francisco de Assis (RJ)
16/02/2011
• Recursos, não reembolsáveis, serão utilizados para obras emergenciais na parte mais antiga, tombada pelo IPHAN
O BNDES apoiará com R$ 2 milhões a recuperação do edifício do Hospital Escola São Francisco de Assis (HESFA), no Rio de
Janeiro. A operação foi aprovada no âmbito do programa BNDES Procult, com recursos não reembolsáveis, provenientes do
Fundo Cultural do Banco.
A instituição responsável pelas obras será a Fundação Universitária José Bonifácio, organização sem fins lucrativos. O estado
de deterioração e o aparente abandono do hospital são os principais motivos para a realização das intervenções emergenciais.
O prédio, pertencente à UFRJ, é composto de treze edificações, sendo sete delas tombadas pelo IPHAN. Fundado em 1876,
possui alto risco de desabamento.
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Palácio Pedro Ernesto
Telefone: (21) 3814-2901 (Gab. Sonia Rabello)
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O projeto prevê a recuperação total das edificações mais antigas — as 7 tombadas —, e irá recompor toda a estrutura de
sustentação comprometida, incluindo a das varandas dos prédios 3 e 7, que estão interditadas. Além disso, estão previstos
serviços de descupinização, pintura e limpeza, substituição do piso, recolocação das telhas e reestruturação da rede elétrica,
que apresenta riscos de curto-circuito. Durante o processo, serão gerados cerca de 30 empregos diretos.
O imóvel foi construído na segunda metade do século XIX, com o intuito de abrigar mendigos. Mais tarde, sediou a primeira
escola de enfermagem do Brasil. Com a mudança das atividades acadêmicas para a Ilha do Fundão, o prédio ficou abandonado
por muitos anos. Reativado logo após as fortes chuvas de 1988, hoje o HESFA desempenha papel essencial nos âmbitos social
e da saúde.
A instituição é um importante centro de reabilitação de portadores de deficiência física e neurológica e referência nacional na
pesquisa e tratamento de pessoas de baixa renda portadoras do vírus HIV, atendendo cerca de 20 mil pacientes por mês. O
HESFA também oferece cursos de enfermagem.
Além da recuperação de um patrimônio histórico brasileiro, o apoio do BNDES tem como objetivo incentivar a revitalização
urbanística da Cidade Nova, especialmente no eixo que liga a Praça Onze ao Centro Administrativo São Sebastião. Os eventos
esportivos que o País sediará em 2014 e 2016 demandam a recuperação desta zona da cidade, sobretudo próximo ao Porto do
Rio, onde estarão os Centros de Imprensa e de Informática durante as Olimpíadas.
Fonte:
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Sala_de_Imprensa/Noticias/2011/cultura/20110216_HESFA.h
tml
Problemas de licitações e o próprio andamento dos processos administrativos são os responsáveis,
segundo informa a Arquiteta Dalva de Castro M. Silva, para o grande atraso no início das obras.
De outra parte, os técnicos do IPHAN que vistoriaram o Hospital não demonstraram solicitude ao
informar que tipos de material devem os gestores fazer uso na restauração, limitando-se a condenar aquilo que
consideram incorreto...
Mudanças institucionais
Fomos informados, ainda, que as reformas físicas no HESFA serão acompanhadas de reforma
institucional, de maneira que a nova unidade chamar-se-á Instituto São Francisco de Assis e sua nomenclatura
oficial deverá conter a proposta de Medicinas Alternativas e Complementares.
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Aspectos arquitetônicos notados
A visita foi parcial — não percorremos todas as instalações da edificação.
Tipologia: edificação destinada originalmente a abrigo de indigentes, em fins do século XIX, e
posteriormente reformada para uso hospitalar.
Características: edificação composta de 01 bloco central, 02 pavimentos e mais 05 blocos radiais também
de 02 pavimentos. Edificação em alvenaria, cobertura em telhas cerâmicas e esquadrias em madeira. Além dos
blocos originais foram construídos alguns outros blocos anexos à edificação.
Uso: a edificação está parcialmente sendo utilizada para atividades de clinica médica ambulatorial.
Estado: quase todos os blocos originais se encontram em estado precário de conservação; alguns desses
blocos estão interditados. No local verificamos indícios de obras de recuperação em um dos blocos e foi relatado
que estava em andamento, muito lentamente, a execução de um plano-diretor de recuperação de todo o conjunto.
Constatamos a presença de riscos de ruína de alguns trechos da edificação.
Do ponto de vista arquitetônico entendemos que o uso hospitalar parece não ser o mais adequado à
edificação, por requerer instalações de grande impacto. A recuperação do imóvel deveria ser planejada
considerando a transformação de uso também.
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