MATÉRIA DA REVISTA METRÓPOLE MOSTRA A IMPORTÂNCIA DO ENSINO BILÍNGUE Converse com o mundo Por Ana Marson Aline Simioni sabe bem o significado da express€o saia-justa. Enfrentava uma toda vez que precisava fazer uma liga•€o para o Exterior. Suava, sentia frio na barriga, fechava a porta para n€o passar ainda mais vergonha. Do outro lado da linha, a primeira frase ouvida era: “Desculpe-me, mas meu inglƒs n€o „ muito bom.” O aviso era seguido de uma solicita•€o, quase uma s†plica. “Pedia para a pessoa falar devagar”, conta, ao lembrar do tempo em que n€o dominava o inglƒs e sequer arranhava o espanhol. SUCESSO Profissionais fluentes em outro idioma recebem sal‡rios maiores e conquistam cargos hier‡rquicos superiores em rela•€o aos demais. Aline n€o se interessava por idiomas. Come•ou a estud‡-los quando tinha 18, 19 anos. Parou. Mudou de escola. Parou de novo. A virada veio quando, formada em Marketing, passou a atuar na ‡rea. O inglƒs era fundamental, e ela teve que correr atr‡s do prejuˆzo. Recorreu a um curso intensivo e conquistou o emprego. “O inglƒs n€o „ diferencial, „ mandat‰rio. Sem ele, as chances de ingressar no mercado de trabalho s€o mˆnimas. Vale a pena se dedicar”, aconselha. E vale mesmo. Especialistas ligados Š ‡rea de Recursos Humanos s€o taxativos ao afirmar que o domˆnio de uma ou mais lˆnguas estrangeiras „ essencial para conquistar bons lugares no mercado. “A rela•€o entre idioma e emprego „ uma tendƒncia cada vez maior. Acabou a inten•€o de contratar profissionais que falam outro idioma. Agora, „ obrigat‰rio”, afirma L†cio Sardinha, consultor da ‡rea de treinamento de idiomas. “O mercado n€o est‡ disposto a ficar com currˆculos de quem se diz fluente e, na verdade, n€o fala nada”. Para ele, que presta consultoria em recrutamento e sele•€o de profissionais para multinacionais, o idioma „ crit„rio de corte e tamb„m de promo•€o e tem rela•€o direta com sal‡rios. Levantamento feito ano passado pela Catho Online aponta que a fluƒncia em inglƒs ou outros idiomas est‡ entre os 15 quesitos mais avaliados na contrata•€o. A pesquisa “A Contrata•€o, a Demiss€o e a Carreira dos Executivos Brasileiros” mostra que profissionais que dominam outra lˆngua recebem sal‡rios maiores em rela•€o aos demais e que cargos hier‡rquicos mais altos ficam com os que s€o fluentes. A exce•€o s€o os trainees. Mesmo rec„m-formados, frequentemente tƒm o segundo idioma exigido pelas empresas. Para Gl‡ucia Santos, consultora de Recursos Humanos da Catho Online, contratar quem domina outros idiomas favorece Š empresa criar relacionamentos com institui•‹es estrangeiras, al„m das matrizes e filiais no Exterior. Ela aposta que a exigƒncia do segundo idioma, especialmente o inglƒs, deve se tornar cada vez maior. “Com a globaliza•€o, empresas de todos os portes e ramos de atividade tiveram a possibilidade de expandir seus mercados dentro e fora do Brasil”, justifica. Mat„ria completa na Revista Met‰pole (suplemento de Domingo do Jornal Correio Popular) de 21/02/2010 Mois„s Miguel Cazela, professor e supervisor do curso de Tecnologia em Gest€o de Recursos Humanos da Faculdade Anhanguera Educacional, observa que a estabilidade econŒmica adquirida com o Plano Real fez com que o Brasil se internacionalizasse mais e se tornasse visado para investimentos. A visibilidade refletiu-se em mais multinacionais e na necessidade crescente de trabalhadores que dominem lˆnguas. “• de grande importŽncia o conhecimento da segunda lˆngua. O inglƒs „ o idioma universal e depois vem o espanhol, no caso do Brasil. H‡ uma grande tendƒncia e necessidade de falar espanhol”, afirma. (continua•€o) O espanhol „ a segunda lˆngua mais requisitada pelas empresas, de acordo com Sardinha. A preferƒncia, diz, ainda „ pelo inglƒs, solicitado em 80% a 85% dos casos. “Ter inglƒs e espanhol atende a todas as necessidades e a pessoa consegue se comunicar com 90% do mundo. Grande parte do mundo fala espanhol e, se souber inglƒs para se comunicar com os outros paˆses, est‡ tudo bem”, ressalta o consultor. Gl‡ucia acredita que, em ordem de relevŽncia, os idiomas mais solicitados s€o inglƒs, espanhol, francƒs, alem€o, italiano e japonƒs. Aline entendeu essa necessidade do mercado e percebeu em tempo que precisava aprender idiomas. Estudou com afinco e conquistou desenvoltura depois de uma experiƒncia no Exterior. A empresa em que trabalhava incentivava o intercŽmbio entre os departamentos e ela foi “convocada” para ir Š Alemanha. Ficou no paˆs por trƒs meses, onde “vivia” o inglƒs 24 horas por dia. Hoje, fala tamb„m o espanhol. H‡ cinco meses, est‡ de emprego novo. Aos 30 anos, „ coordenadora de Marketing da K•rcher, multinacional alem€ que fabrica equipamentos para limpeza. “Queria muito a vaga e fiquei tensa quando soube que a entrevista seria em inglƒs, mas conversei durante 10 ou 15 minutos. Sem o idioma, n€o conseguiria a vaga”, dizAline, que n€o fecha mais a porta quando liga para outros paˆses, nem pede para o interlocutor falar devagar. N€o precisa. Cada vez mais faladas N€o d‡ para contestar a lideran•a do inglƒs. At„ os chineses est€o se rendendo ao idioma que nasceu na terra da rainha e adquiriu status de lˆngua universal. “• uma lˆngua democr‡tica, que recebeu influƒncias germŽnica, latina e francesa e, por causa da importŽncia econŒmica dos Estados Unidos, ganhou destaque internacional”, comenta Nair Leme Fobe, professora de Literatura e Tradu•€o e de Produ•€o e Compreens€o de Texto em Inglƒs na Pontifˆcia Universidade Cat‰lica de Campinas (PUC-Campinas). No entanto, h‡ outros idiomas conquistando destaque no cen‡rio mundial. O mandarim, lˆngua-m€e dos chineses, „ um deles. Professor e supervisor do curso de Tecnologia em Gest€o de Recursos Humanos da Faculdade Anhanguera Educacional, Mois„s Cazela observa que o chinƒs „ um povo que vive em comunidade e que valoriza seu idioma. A situa•€o, segundo ele, faz com que aqueles que dominam o mandarim tenham maior probabilidade de crescer em empresas vindas do outro lado do mundo. Mas ele faz um alerta. “No mandarim, uma palavra dita com diferentes entona•‹es tem outros sentidos. Se mudar a entona•€o, pode passar de elogio a ofensa.” Outra lˆngua que n€o para de conquistar falantes „ o espanhol. Rec„m-chegado dos Estados Unidos, Cazela afirma que a importŽncia do idioma „ grande e que os norte-americanos est€o preocupados em falar a lˆngua. A situa•€o, segundo ele, n€o ocorre apenas no Sul do paˆs, por conta da proximidade com o M„xico, mas tamb„m no Norte, inclusive com a oferta do idioma em high schools. No Brasil, o espanhol tamb„m ganha importŽncia. De acordo com a lei 11.161, a partir deste ano, a oferta do idioma passa a ser obrigat‰ria no ensino m„dio, com matrˆcula facultativa para o aluno. A inclus€o de lˆnguas nos currˆculos de 5• a 8• s„ries do ensino fundamental „ facultativa. Deixe a lˆngua te abra•ar Cada lˆngua „ uma porta que se abre e h‡ todo um mundo atr‡s dela.” Gerente de desenvolvimento de neg‰cios na ‡rea de compras da EMS, o engenheiro quˆmico Wilson Franco, de 58 anos, sabe o que est‡ dizendo. J‡ abriu sete portas, incluindo a do portuguƒs, e entende, por ordem de proficiƒncia, inglƒs, italiano, alem€o, mandarim, espanhol e francƒs. “Tem que deixar a lˆngua te abra•ar”, diz. O interesse por idiomas teve inˆcio no ensino m„dio, quando come•ou a ter contato com o inglƒs e o francƒs. A vontade de aprender levou-o a se interessar por outras lˆnguas, e esse conhecimento todo „ empregado na vida profissional e pessoal. “Uso os idiomas em negocia•‹es e viagens pela empresa, para a ‘sia e Europa”, comenta. Uma das †ltimas investidas do engenheiro foi o mandarim, lˆngua em que as palavras adquirem significados diferentes conforme o tom da pron†ncia e que tem nos ideogramas uma de suas principais caracterˆsticas. S‰ que ele quer mais e cogita estudar russo. “• uma lˆngua que tem vocabul‡rio pr‰prio. Deve ser difˆcil, mas n€o gosto de coisa f‡cil.”