ESTUDO COMPARATIVO DE DESEMPENHO NA TRANSMISSÃO DE DADOS ENTRE AS REDES CABEADAS E SEM FIO UTILIZANDO OPNET. Eduardo Furtado Borges, Gisele Rossi Lemes, Paulo Dias de Alecrim Engenharia de Telecomunicações - União Educacional de Minas Gerais (UNIMINAS) Morada da Colina – Uberlândia – MG – Brasil [email protected], [email protected], [email protected] Resumo – Sabendo-se das limitações e vantagens que as redes IP e a interface aérea sem fio possuem, inclusive de incompatibilidade, o IEEE (Institute of Eletrical and Eletronics Engineers) propôs padrões para as tecnologias dessas redes, a fim de otimizar a utilização das mesmas. Este artigo propõe apresentar, de forma sólida e crítica, a análise comparativa do desempenho na transmissão de informações entre as redes cabeadas e sem fio utilizando o software de simulação OPNET. Esse software possibilita a criação de modelos de análise que sejam fiéis às redes existentes, ou seja, uma rede real. Palavras-Chave – e-mail, FTP, HTTP, OPNET, Rede Cabeada e Rede Sem Fio. COMPARISON STUDY ON DATA TRANSMISSION PERFORMANCE BETWEEN CABLED AND WIRELESS NETWORKS USING OPNET. Abstract - Knowing about the limitations and advantages that the nets IP and the air interface without thread possess, including of incompatibility, the IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers) proposed standards for the technologies of those nets, in order to optimize the utilization of the same. This article is going to present, of critical and solid form, the comparative analysis of the performance in the transmission of information between the cables nets and without thread utilizing the software of simulation OPNET. That software enables the analysis models to be faithful to the existing nets, or be, a real net. 1 Keywords – e-mail, FTP, HTTP, OPNET, Cable Network and Wireless Network. I. INTRODUÇÃO Na Internet é utilizado o protocolo IP, que oferece um serviço de datagramas não confiável, ou seja, os pacotes são transmitidos quase sem garantias. Os pacotes podem chegar desordenados, comparados com outros pacotes enviados entre os hosts. Os mesmos também podem chegar duplicados, ou ainda serem perdidos por inteiro. Esses problemas são ocasionados devido a utilização, na Internet do método de serviço conhecido como melhor esforço (Best-effort) [3], [9]. Em paralelo com a Internet, as redes sem fio constituem outra área da comunicação que vem se desenvolvendo de forma a permitir aos seus usuários o envio e recebimento de informações a qualquer momento e em qualquer lugar. Porém, as redes sem fio possuem algumas limitações, como menor banda de transmissão, maiores taxas de erro, endereçamento e roteamento mais complicados, e o desvanecimento na interface aérea, sujeitando as informações a alterações, como modificação dos dados ou até a destruição dos mesmos [5]. Sabendo-se das limitações e vantagens que as redes IP e a interface aérea sem fio possuem, inclusive de incompatibilidade, o IEEE (Institute of Eletrical and Eletronics Engineers) propôs padrões para as tecnologias dessas redes, com intuito de favorecer a utilização das mesmas. Na seção II serão apresentados as tecnologias e os principais padrões das redes sem fio. II. TECNOLOGIAS E PADRÕES DAS REDES SEM FIO As tecnologias existentes, conforme os padrões propostos pelo IEEE permitem configurar arquiteturas de redes sem fio, como as redes pessoais WPAN (Wireless Personal Area Network), as locais WLAN (Wireless Local Area Network), as metropolitanas WMAN (Wireless Metropolitan Area Network) e as de longa distância WWAN (Wireless Wide Área Network), oferecendo boa mobilidade aos seus usuários. Uma das arquiteturas utilizadas nas redes sem fio são as redes WPAN, que podem ser definidas como rede sem fio de curto alcance composta por dispositivos pessoais, como notebooks, PDA’s (Personal Digital Assistants), celulares, entre outros. Nessas redes é comum os dispositivos conectarem-se entre si dispensando um nó central [6], [8]. Atualmente, uma das arquiteturas mais utilizadas, tanto em residências como em grandes corporações, são as redes WLAN. Essas redes possuem dois modos de operação: peer-to-peer e infra-estrutura. O modo peerto-peer é um tipo de topologia Ad-Hoc em que os terminais remotos fazem a troca de informações sem a necessidade de um access point. Já no modo de operação infra-estrutura utiliza-se da tecnologia de redes celulares, em que para cobrir uma determinada área cada célula de rádio deve ser controlada por um acces point. A tecnologia WMAN, com redes que possuem um tamanho maior do que as redes locais sem fio WLAN, é uma arquitetura de sistemas fixos de acesso sem fio, porém de banda larga. Sua topologia consiste em dois tipos de estações: estação base (BS – Base Stations) e estação móvel (MS – Mobile Stations). Uma BS serve a várias MS’s, as quais servem as sub-redes privadas ou públicas, corporativas ou domésticas existentes [11]. As redes WAN sem fio, conhecidas também como WWAN, são redes de longo alcance que conectam os usuários móveis a redes corporativas e a Internet, por meio de redes públicas de telefonia celular. Essa rede possui suporte na tecnologia desenvolvida inicialmente para a comunicação de voz, e que depois, foram adaptadas para suportar dados. A WWAN baseiase fundamentalmente na infra-estrutura da telefonia celular existente, como o CDMA, GSM e outras [4], [11]. Os padrões propostos pelo IEEE para as redes sem fio são especificados de acordo com área de abrangência, freqüências, taxas de transmissão e aplicabilidade. A Fig. 1 apresenta alguns padrões e alcance das redes sem fio. Fig. 1. Alcance das redes sem fio. O padrão 802.11, por exemplo, destaca-se das demais opções de acesso móvel devido ao seu custo relativamente baixo e pela simplicidade no esquema de modulação de dados. Na seção III, serão apresentados os principais padrões da família 802.11. III. PADRÕES IEEE 802.11 Os padrões da família 802.11, propostos pelo IEEE, envolvem a camada física e de enlace do Modelo OSI (Opens Systems Interconnection Basic Reference Model) e utilizam-se de faixas de freqüências não-licenciadas. Existem padrões da família 802, que para alcançar boas taxas de transferência, gera-se um sinal com espalhamento espectral que ocupa largura de faixa muitas vezes superior a necessária. Esse sinal pode ser gerado a partir de duas formas básicas: espalhamento espectral por seqüência direta (DS - Direct Sequence) e espalhamento espectral por saltos em freqüência (FH - Frequency Hopping) [1]. A técnica de espalhamento por saltos em freqüência (FH) é similar à técnica de seqüência direta (DS), só que nesse caso o sinal de dados é modulado em freqüência antes de ser misturado com o sintetizador de freqüência. Os sistemas por salto em freqüência exigem sintetizadores capazes de efetuar rápidas transições de freqüência com curtos tempos de estabelecimento [2]. O FH possui duas variantes: uma é o Slow Frequency Hopping (SFH), em que um ou mais bits são transmitidos por salto de freqüência. Essa variante permite a detecção coerente dos dados. A outra variante é o Fast Frequency Hopping (FFH), na qual um bit é dividido por vários saltos, não sendo necessário recorrer a técnicas de correção de erros, já que existe uma diversidade em freqüência. Nesse caso, não é possível a detecção coerente [2]. O protocolo da subcamada de controle de acesso ao meio (MAC) utiliza-se do CSMA/CA (Carrier Sense Multiple Access/Collision Avoidance) devido à incapacidade de se garantir a detecção de colisões. Todas as camadas físicas do padrão 802.11 incluem a provisão de um sinal de avaliação de canal livre CCA (Clear Channel Assessment Signal), que indica o estado atual do uso do meio sem fio. Esse sinal é utilizado pelo MAC para verificar se o meio está livre [7]. No padrão 802.11 foram determinadas várias especificações pelo IEEE. Dentre elas, têm-se o IEEE 802.11b, o qual é especificado para operar em 2.4 GHz utilizando a banda ISM. Esse padrão permite taxas de transferência de até 11 Mbps, pois utiliza o espalhamento espectral por seqüência direta (DS). A taxa real de throughput é próxima da taxa real da Ethernet 10Base-T (10 Mbps), teoricamente cerca de 7 Mbps. O 802.11b suporta cinco velocidades de transmissão, tornando-se mais lento se ocorrer interferência ou um sinal fraco, impedindo assim, que os dados passem. As velocidades são 11 Mbps, 5,5 Mbps, 2 Mbps, 1 Mbps e 512 Kbps [3], [4]. O IEEE 802.11g prevê a especificação do MAC (Medium Access Control) e da camada física (PHY). Essa especificação é compatível com a especificação IEEE 802.11b. O IEEE 802.11a equivale ao fast-ethernet do padrão IEEE 802.11b. Esse padrão especifica uma rede cinco vezes mais rápida do que o 802.11b. O padrão IEEE 802.11d foi desenvolvido com a inclusão de campos com informações, tabelas e parâmetros de freqüências dos países que estão fora dos domínios regulatórios, como por exemplo, Europa, Japão, Austrália, EUA e Canadá. O padrão 802.11e é responsável por desenvolver os aspectos de Qualidade de Serviço (QoS). Este deve ser adicionado às redes locais sem fio para proporcionar uso de aplicações específicas, como o VoIP (Voice over Internet Protocol). O IEEE 802.11f define as recomendações que descrevem os serviços dos access points, os protocolos e funções que são compartilhados pelos usuários que operam na rede. O padrão 802.11h possui a adição de um controle de potência na transmissão TPC (Transmit Power Control) e uma função de seleção dinâmica de freqüência DFS (Dynamic Frequency Selection) em relação ao padrão 802.11a. O IEEE 802.11i é responsável pela melhoria das funções de segurança do protocolo 802.11 MAC, conhecido como ESN (Enhanced Security Network). O principal objetivo do ESN é melhorar a segurança das redes locais sem fio. Para um melhor entendimento sobre a utilização das redes móveis para acesso a rede IP, fez-se um estudo através de simulação para demonstrar e comparar o envio de informações, em diferentes aplicações, nas redes cabeadas e sem fio. Na seção IV, serão apresentadas as informações sobre a modelagem e simulação das redes. IV. SOFTWARE UTILIZADO NA MODELAGEM DAS REDES CABEADAS E SEM FIO. A fim de minimizar as incertezas no dimensionamento das redes de computadores, propõe-se neste artigo, uma metodologia que possibilite a análise do desempenho das redes através de um software de simulação denominado OPNET IT Guru, na sua versão acadêmica. Através de modelagem e simulação, utilizando o OPNET, foi realizado um estudo comparativo do desempenho entre duas redes. Para isso, foram construídos dois cenários, sendo um a rede cabeada no padrão Ethernet (LAN) e outro a rede sem fio no padrão 802.11b (WLAN) [10]. A rede cabeada é composta por 15 estações de trabalho fixas conectadas a um switch, através de links de 800 Kbps. A rede sem fio foi configurada com os mesmos parâmetros da rede cabeada, porém, sendo composta por 15 estações de trabalho móveis (MS), conectadas através da interface aérea ao access point, que compartilha um link de 11 Mbps às 15 estações. Os roteadores 1 e 2 são os responsáveis pelo roteamento dos pacotes baseados no endereçamento IP. A nuvem IP emula a rede mundial de computadores, ou seja, a Internet, estando esta interligada através do roteador 2 aos servidores das aplicações de e-mail, FTP e HTTP. Os roteadores estão conectados à nuvem IP por meio de um link de 2 Mbps, e o roteador 1 aos switchs das redes através de um link de 10 Mbps. A Fig. 2 ilustra a topologia final das redes cabeadas e sem fio. A rede sem fio foi configurada assumindo uma transmissão DSS, com o Request to Send (RTS) e o Fragmentatio Threshold fixado em NONE. Esta configuração impõe a geração do tráfego de controle (ACK, RTS e CTS) desprezível na camada de controle de acesso ao meio. As Fig. 3, Fig. 4 e Fig. 5 mostram o tempo médio de resposta para os aplicativos e-mail, FTP e HTTP, respectivamente. Para o aplicativo e-mail, conforme Fig. 3 observa-se que a partir dos dez minutos de simulação o tempo médio de resposta apresentou uma estabilidade na transmissão para as duas redes. Durante esse intervalo, a rede cabeada obteve o tempo de resposta aproximadamente 20% maior do que a rede sem fio. O resultado deve-se ao fato da rede sem fio possuir o controle para a reserva do meio enquanto transmitem, uma vez que as 15 estações transmitem seus pacotes simultaneamente. Fig. 3. Tempo médio de resposta do aplicativo e-mail. O tempo médio de resposta da aplicação FTP, conforme Fig. 4, mostra um melhor desempenho da rede sem fio em relação a cabeada, apresentando uma diferença significativa de aproximadamente 88%. Esse comportamento era esperado, pois na rede cabeada não há o gerenciamento do controle de acesso ao meio, como ocorre para o padrão 802.11 através de RTS e CTS (Clear to Send). Fig. 2. Topologia final das redes simuladas. Na seção V serão apresentados os resultados por meio de gráficos e as considerações levantadas sobre os resultados obtidos nas simulações das redes cabeadas e sem fio. V. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados da simulação foram obtidos para as redes cabeada e sem fio, considerando-se as seguintes estatísticas: o tempo médio de resposta para download em segundos; e o tráfego médio recebido, em bytes/segundo, para os aplicativos e-mail, transferência de arquivos FTP e HTTP. O tamanho dos pacotes considerados na simulação segue uma distribuição exponencial, com média de 100 Kbytes. Fig. 4. Tempo médio de resposta do aplicativo FTP. Analisando a Fig. 5 verifica-se que nos primeiros dois minutos de simulação houve uma grande diferença entre as redes no tempo médio de resposta para o aplicativo HTTP. Após cinco minutos de simulação houve uma estabilidade no tempo de resposta, mantendo uma diferença de aproximadamente 128% entre as redes. Esse comportamento se deve ao fato das aplicações web possuírem uma aleatoriedade para a transmissão de dados, ocasionado pela diferenciação entre as estruturas de página da Internet. de congestionamento por não haver o controle de acesso ao meio enquanto transmitem. É importante observar que o OPNET, na versão acadêmica, facilitou a coleta de dados favoráveis para cada tipo de aplicação. Portanto, com a análise dos dados e resultados obtidos, concluí-se que as redes sem fio no padrão, taxas e configurações consideradas, possuem melhor desempenho na transmissão de dados para as três aplicações em relação às redes cabeadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fig. 5. Tempo médio de resposta para o aplicativo HTTP. Nesse estudo também foi analisado o comportamento do tráfego médio recebido, em segundos, para as redes cabeadas e sem fio. O resultado é apresentado na Fig. 6 para a aplicação FTP, comprovando que não existem diferenças acentuadas na transferência de arquivos entre as duas redes. Como os parâmetros RTS e Fragmentatio Threshold foram fixados em NONE, os pacotes que chegam da camada de enlace de dados para serem transmitidos, possuem o mesmo tempo de espera, uma vez que as 15 estações transmitem pacotes de mesmo tamanho. Fig. 6. Tráfego recebido para o aplicativo FTP para os dois cenários. Na seção VI serão apresentadas as conclusões obtidas através dos estudos efetuados no decorrer deste artigo. VI. CONCLUSÕES Por meio dos resultados observados através de simulação, constatou-se que a grande diferença no desempenho entre as redes cabeadas e sem fio no padrão IEEE 802.11, encontra-se no nível da subcamada MAC. As redes cabeadas apresentaram resultados inferiores às redes sem fio para a transmissão de dados nas aplicações e-mail, FTP e HTTP. Isso se deve ao fato de que nas redes cabeadas ocorre um maior descarte de pacotes em casos [1] ABRÃO, T.; JESZENSKY, P. J. E. Detectores multiusuários para ds/cdma - lineares fixos. 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