O FUTURO NASCE DA TERRA Dezembro/1999 1 BALANÇO DA REFORMA AGRÁRIA E DA AGRICULTURA FAMILIAR O PRESIDENTE CRIA UM NOVO MINISTÉRIO 85.327 FAMÍLIAS ASSENTADAS EM 1999 372.866 FAMÍLIAS ASSENTADAS ENTRE 95 E 99 CRIADA OUVIDORIA AGRÁRIA NACIONAL CUSTO DOS IMÓVEIS POR FAMÍLIA CAI 50% PRONAF PLANTA BRASIL APLICA R$ 3,46 BILHÕES GUERRA ÀS SUPERINDENIZAÇÕES E À GRILAGEM DE TERRA R$ 115 MILHÕES PARA O BANCO DA TERRA INCRA INVESTE R$ 11,4 MILHÕES NA EDUCAÇÃO CRIADO O CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA NOSSA TERRA, NOSSA ESCOLA: EDUCAÇÃO GARANTIDA 2 Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário Assessoria de Comunicação Social Ministro da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário Raul Belens Jungmann Pinto Secretário Executivo José Abrão Secretário de Política Familiar Nelson Borges Gonçalves Presidente do Incra Francisco Orlando Costa Muniz Secretário Executivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Luiz Fernando de Mattos Pimenta Secretário Executivo do Banco da Terra Max Bezerra Coordenadora de Comunicação Social do Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário Flávia Pires Torreão Chefe da Comunicação Social do Incra Ernesto Lincoln Marinho Magalhães 3 Índice Apresentação Um novo ministério, uma nova missão Reforma Agrária Projetos Criados Obtenção de terras Redução nos custos dos imóveis rurais Infra-estrutura Créditos Programa Nacional de educação na Reforma Agrária Ação contra as superindenizações Medida Provisória 1.901: o fim da indústria das superindenizações Origem das superindenizações Nova Terra, Nossa Escola Titulação O Livro Branco da Grilagem de Terras Zonas de Fronteira Projeto Casulo Projeto Luminar Ouvidoria Agrária Nacional Número de invasões Meio Ambiente Código de Ética Banco da Terra Reforma Agrária com qualidade Projeto Cédula da Terra Agricultura Familiar Pronaf Planta Brasil Crédito Rural Tipificação do Agricultor Familiar Capacitação e Profissionalização 4 Pesquisa Comunidades Indígenas Infra-Estrutura Programa Parceria e Mercado Conselhos Municipais Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Política Pública para o desenvolvimento rural Exemplos de Assentamentos bem sucedidos do Incra 5 APRESENTAÇÃO Mais uma vez fechamos o ano com saldos positivos no que diz respeito à reforma agrária. As metas estabelecidas foram cumpridas, e até superadas, graças ao trabalho desenvolvido com abnegação pelos que fazem este Ministério e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. O ano de 1999 nos trouxe substancial acréscimo de atribuições. O presidente Fernando Henrique Cardoso, compreendendo que reforma agrária, na verdade, deságua na agricultura familiar, decidiu criar um novo Ministério, o da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário, transferindo para nossa responsabilidade o Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, que passou a se chamar Pronaf Planta Brasil. Temos, assim, uma nova missão: a de cuidar não só da questão fundiária, propiciando terra para o agricultor que não a tem, mas, também, a de elevar a qualidade da agricultura familiar. É uma missão que nos leva a pensar no futuro, a enfrentar um novo desafio, que é o de fazer esse agricultor integrar-se profissionalmente no mercado. E a produzir dentro de uma visão econômica – o que significa geração de renda e de emprego, além de maior oferta de alimentos. Este documento contém os números alcançados, este ano, tanto no campo da reforma agrária quanto no da agricultura familiar. São números que demonstram a continuação de um trabalho desenvolvido, com êxito, em prol de uma parcela da sociedade que, através dos tempos, sempre deixou de ter o apoio necessário. R a u l J u n g ma n n Ministro da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário 6 Um novo Ministério, uma nova missão No dia 26 de novembro, o Diário Oficial da União publicava a nova estrutura do então Ministério Extraordinário de Política Fundiária. Este deixava de ser extraordinário e passava a se chamar Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário, integrando sua estrutura básica o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural e duas secretarias. O antigo Ministério cresceu ao incorporar o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, que saiu do âmbito do Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Temos, assim, um novo Ministério e uma nova missão – mais consistente, mais abrangente, mais complexa e de muito maior responsabilidade – que cumpriremos com a mesma, mas renovada, disposição de antes. REFORMA AGRÁRIA 7 Famílias assentadas De 1º de janeiro a 20 de dezembro de 1999 foram assentadas 85.327 famílias de produtores rurais, perfazendo um total de 372.866 famílias beneficiadas pela reforma agrária durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. É um recorde, uma vez que, nos trinta anos anteriores – desde a edição do Estatuto da Terra, em 1964 – apenas 218 mil famílias haviam sido assentadas. ANO QUADRO COMPARATIVO FAMÍLIAS ASSENTADAS 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL 42.827 61.674 81.944 101.094 85.327 372.866* *Esse número representa cerca de 1,864 milhão de brasileiros assentados. Projetos criados Foram criados pelo Governo 2.723 projetos de assentamento no período de 1º de janeiro de 1995 a 20 de dezembro de 1999. ANO Projetos Criados 1995 1996 1997 1998 314 433 637 850 1999 489 Total 2.723 Desde a vigência do Estatuto da Terra, em 1964, até a posse do presidente Fernando Henrique, em 1º de janeiro de 1995, foram criados pouco mais de 800 projetos de colonização, os antecessores dos assentamentos de hoje. Obtenção de terras 8 De 1º de janeiro de 1995 a 20 de dezembro de 1999 foram obtidos 13.204.789 hectares de terra para fins de reforma agrária. A desapropriação é a principal forma de obtenção de terra utilizada pelo Governo para o assentamento de produtores rurais. De 1º janeiro de 1995 a 17 de dezembro de 1999, foram desapropriados 8.785.114 hectares, dos quais 1.463.844 hectares foram desapropriados entre 1º de janeiro e 17 de dezembro de 1999. Por meio de arrecadação de terras doadas pela União, foram obtidos 355.432 hectares, de 1º de janeiro a 20 de dezembro de 1999. Ano 1985/1989 1990/1993 1993/1994 1995/1998 1999 1995/1999 Quadro comparativo Hectares desapropriados 4.191.147 2.775.282 1.086.546 7.321.270 1.463.844 8.785.114 Redução nos custos dos imóveis rurais Estudos de acompanhamento fundiário realizados pelo Incra mostram que o custo total do imóvel rural, por família, em valores atualizados, era de R$ 19.412,74 em 1995. Hoje este custo está reduzido a R$ 8.294,83, o equivalente a 50% menos do que naquele ano. Em 1995, o valor médio do hectare era de R$ 382,67. Hoje caiu para R$ 264,75. Quadros comparativos 1995/1999 VTI – Valor total do imóvel rural por família ANO R$/família 1995 19.412,74 1996 16.385,04 1997 14.614,59 1998 10.116,34 9 1999 8.294,83 VTI – Valor total do imóvel rural por hectare ANO R$/ha 1995 382,67 1996 343,21 1997 292,23 1998 287,49 1999 264,75 A nota agronômica (que mede a qualidade do solo, variando de zero a um) das terras desapropriadas para reforma agrária aumentou de 0,4%, em 1998, para 0,5%, em 1999. Infra-estrutura Foram investidos nos assentamentos da reforma agrária, de 1995 a 1998, recursos da ordem de R$ 301.767.447,00 em obras de infraestrutura básica. Até 30 de dezembro de 1999, serão investidos em obras de infra-estrutura recursos da ordem de R$ 150,6 milhões. De 1º de janeiro a 20 de dezembro deste ano, foram construídos 3.382 quilômetros de estradas, no valor de R$ 25,5 milhões; 1.073 quilômetros de eletrificação rural, no valor de R$ 1,7 milhão; 204 poços, no valor de R$ 4,2 milhões; 19 unidades de abastecimento de água; no valor de R$ 216.500,00; 79 açudes; no valor de R$ 714 mil; entre outras obras. 1995 a 1998 736 AÇUDES – VALOR: R$ 14.762.309,00 1.283 POÇOS – VALOR: R$ 28.025.962,00 75.633 DUPLICAÇÕES DE PARCELAS - VALOR R$ 45.751.600,00 10 458 CENTROS COMUNITÁRIOS - VALOR R$ 11.988.324,00 9.475 KM DE ELETRIFICAÇÃO RURAL - VALOR R$ 70.911.326,00 323 ESCOLAS – VALOR: R$ 12.626.332,00 366 POSTOS DE SAÚDE – VALOR: R$ 7.337.827,00 108 ARMAZÉNS – VALOR: R$ 4.148.745,00 13.824 KM DE ESTRADAS – VALOR: R$ 106.251.022,00 1999 Em 1999 foram investidos em infra-estrutura R$150,6 milhões Créditos O total de recursos aplicados em créditos implantação e Procera (Programa de Crédito Especial para Reforma Agrária), de 1995 a 1999, é da ordem de R$ 1,52 bilhão. Até 30 de dezembro de1999, a Linha ‘A” do Pronaf Planta Brasil, que atende produtores rurais da Reforma Agrária, vai destinar recursos da ordem de R$ 460 milhões. Créditos (Em Reais) Ano Implantação 1995 1996 1997 1998 1999 47.794.707 71.337.968 151.242.100 231.600.040 195.000.000 Procera Linha A “Pronaf” 108.973.651 ......................... 202.563.910 ......................... 204.214.542 ......................... 307.617.293 ......................... ......................... 460.000.000, Total 156.768.358 273.901.878 355.456.642 539.217.333 665.000.000 11 Total 696.974.815 823.369.396 460.000,000, 1.325.344.221 Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária Iniciado em abril do ano passado, o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária tem por objetivo fortalecer a educação nos assentamentos da reforma agrária, utilizando metodologias específicas para o campo. O programa é a expressão de uma parceria estratégica entre o Governo, as universidades e os movimentos sociais rurais, para desencadear um amplo processo para educação de jovens e adultos nos assentamentos de reforma agrária. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Ministério da Educação e o Ministério do Trabalho estão se aliando a outros parceiros fundamentais, como as igrejas, organizações nãogovernamentais, associações e cooperativas de produção, na condução do Programa. O sistema treina monitores nos assentamentos — por intermédio de universidades e outras instituições de ensino superior — para ministrarem alfabetização e escolarização de jovens e adultos beneficiados pelo Programa de Reforma Agrária. Desde o início do programa, foram capacitados 3.137 monitores que hoje trabalham em assentamentos de todo o Brasil. Os números do programa são impressionantes, apesar do pouco tempo de sua existência. Somente em alfabetização e escolarização, 62.742 jovens e adultos estão sendo atendidos hoje, em 1.421 projetos de assentamento de 616 municípios, em 21 estados brasileiros. Até agora, foram investidos R$ 11.408.536,00 para educar e oferecer novos horizontes aos assentados da reforma agrária. O Programa Nacional de Alfabetização na Reforma Agrária financia, também, a formação técnico-profissional de assentados, com ênfase nas áreas de produção e administração rural e a produção de materiais didático-pedagógicos, em todas as áreas prioritárias, definidas a partir das discussões do programa. 12 Ação contra as superindenizações O Ministério de Política Fundiária e o Incra têm concentrado esforços nas batalhas judiciais contra as superindenizações cobradas pelas terras desapropriadas para a reforma agrária. Todas as ações judiciais que superestimam as avaliações do Incra são contestadas com base na MP 1.901, que, a partir de 1997, introduziu na legislação regras destinadas a inibir tais distorções. A atuação dos procuradores do Incra, seja por meio de ação rescisória ou de recursos nas ações de desapropriação, resultou, por exemplo, que, em 1997, de uma dívida de R$ 415,9 milhões em precatórios, a União teve seu compromisso reduzido a R$ 260,4 milhões. No ano seguinte, o número baixou para R$ 55,7 milhões. Um caso recente de superindenização foi julgado no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, que, finalmente, acatou as alegações feitas pelos advogados do Incra em ação rescisória contra os ex-proprietários do imóvel Fazendas Reunidas, situado no município de Promissão (SP) e desapropriado para fins de reforma agrária em 1987. Os antigos proprietários recorreram à Justiça para elevar o valor da desapropriação dos R$ 25.811.260,00 inicialmente arbitrados pelo Incra para R$ 385.502.876,00, valor que, atualizado, já se aproxima a R$ 1 bilhão. O TRF paulista, atendendo à demanda do Incra, determinou a realização de nova perícia no imóvel. Como este, contam-se dezenas de outros casos. São distorções que, se não corrigidas, poderão comprometer irremediavelmente o programa de reforma agrária. Medida Provisória 1.901: o fim da indústria das superindenizações Editada pela primeira vez em 1997, com a finalidade de dar um basta às superindenizações, a Medida Provisória 1.901 está agora no Congresso Nacional para ser convertida em lei, acabando definitivamente com a indústria das superindenizações. 13 Para se ter uma idéia da importância dessa medida, basta dizer que, em apenas quatro processos, a União pode ser condenada a pagar nada menos que R$ 1,7 bilhão – quantia que representa quase todo o orçamento do programa de reforma agrária para o ano de 1999. As mudanças contidas na MP 1.901 incluem a obrigatoriedade de o perito judicial – no caso de desapropriações rurais – ser engenheiro agrônomo, veda juros em cascata, determina em que casos podem ser cobrados juros de mora, elimina o pagamento o pagamento da cobertura vegetal de árvores nativas e determina rigor na avaliação. Origens das superindenizações Dois fatores contribuíram para que tais distorções se repetissem continuadamente. Um deles, felizmente vencido, foi a inflação, que criava uma ilusão monetária na qual todos os valores eram relativizados ao extremo. O Plano Real acabou de vez com isso. As atualizações monetárias das indenizações inicialmente propostas, adicionadas aos demais ressarcimentos, resultavam em valores elevadíssimos. O fator tempo contribuía para corromper ainda mais estes cálculos. De um lado, acreditava-se que a inflação terminaria por corroer os excessos; por outro, abusava-se da correção monetária. O segundo fator persiste, constituindo uma tradição: a Justiça brasileira, fundamentada no direito à propriedade previsto na Carta Magna, tende, historicamente, a decidir em favor do proprietário sempre que entenda que esse direito está sendo ou possa vir a ser ameaçado. A Constituição Brasileira, neste aspecto, é pouco específica, mas determina claramente que a terra deverá cumprir sua “função social”, sem o que torna-se passível de ser desapropriada. Com a aprovação da conversão da Medida Provisória 1. 901 em lei, o Congresso, que não tem negado apoio às iniciativas do Governo, dará uma extraordinária contribuição para baratear e acelerar a reforma agrária. 14 Nossa Terra, Nossa Escola A Medida Provisória nº 1.901 regulamentou, ainda, o Programa Nossa Terra, Nossa Escola, que cria incentivo às famílias de trabalhadores rurais assentadas que mantenham os filhos na escola. As famílias têm 50% de desconto no valor da prestação anual do imóvel caso os filhos permaneçam estudando. O benefício aplica-se às famílias com crianças entre sete e 14 anos matriculadas no ensino fundamental. Os descontos de 50% em cada prestação são aplicados durante todo o período em que um ou mais filhos permanecerem na escola. Quando as crianças concluírem o ensino fundamental, o desconto de 50% será aplicado sobre o saldo devedor do imóvel. Caso o assentado não tenha filhos, mas existam, na família adultos analfabetos, o mesmo desconto será concedido se os adultos estiverem matriculados em cursos regulares de alfabetização. Titulação A entrega de 10 mil títulos de propriedade a trabalhadores rurais, em 99, deu maior segurança aos assentados pelo Incra. A ação de titulação faz parte do programa denominado Nova Reforma Agrária e foi desenvolvida para restabelecer os direitos dos assentados à cidadania e assegurar mais facilidade de acesso ao crédito bancário. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) é a responsável pelo envio aos assentados dos títulos de domínio da terra. Além disto, os pagamentos das prestações anuais podem ser efetuados pelos assentados em qualquer agência dos Correios. A ECT foi escolhida para prestar esse serviço pelo número de agências que possui e por estar mais próxima aos assentados, além da eficiência do trabalho que desenvolve. Nos quatro anos do atual governo, serão beneficiadas com a titulação cerca de 400 mil famílias, assentadas 15 em quase 20 milhões de hectares, ou três vezes a área do Estado do Rio de Janeiro. O Livro Branco da Grilagem de Terras Com o Livro Branco da Grilagem de Terras no Brasil, lançado no dia 16 de dezembro, o ministro Raul Jungmann anunciou a maior intervenção fundiária da história do país: serão revertidos para o patrimônio da União dezenas de milhões de hectares de terras detidas irregularmente por particulares. Trata-se do mais duro golpe já desferido contra o latifúndio no Brasil. Em amplo levantamento e utilizando tecnologia de ponta, como o rastreamento por satélite, o Incra está mapeando a estrutura fundiária do país de modo a localizar, um a um, os casos de fraude e falsificação de títulos de propriedade de terras. A grilagem é um dos mais poderosos instrumentos de domínio e concentração fundiária no meio rural brasileiro. Em todo o país, o total de terras sob suspeita de serem griladas é de aproximadamente 100 milhões de hectares – quatro vezes o território do Estado de São Paulo ou a área da América Central. O primeiro passo para a recuperação dessas terras foi o cancelamento dos registros cadastrais de grandes propriedades, todas previamente analisadas. O Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário requereu, também, perante as Corregedorias de Justiça dos Estados e a Justiça Federal, a anulação das matrículas e dos registros dos imóveis já identificados como irregulares. O ministro Raul Jungmann esclareceu que os proprietários em situação regular não têm o que temer. A apresentação, ao Incra, dos documentos que comprovem a legitimidade de suas áreas fará com que o cadastro seja de imediato restabelecido e atualizado. Quanto aos demais, os que não tenham como comprovar a regularidade do domínio de suas terras, será requerida a decretação da nulidade de seus títulos. Com o esforço empreendido no sentido de reverter as imensas glebas de terras griladas para o patrimônio da União, a área em disponibilidade para a reforma agrária poderá ser multiplicada, multiplicando-se também a velocidade com que será percorrido o caminho 16 cujo destino é eliminar a exclusão social no meio rural brasileiro. As terras serão utilizadas também na criação de unidades de preservação ambiental e em outras ações do Poder Público. O Livro Branco da Grilagem de Terras no Brasil representa uma vitória dos que lutam pela reforma agrária e, também, dos mais de quatro milhões de proprietários rurais que de forma legal e competente contribuem para o nosso desenvolvimento, gerando empregos e divisas e pagando impostos. Doravante, deixa toda a categoria de responder pelos que fraudam ou grilam e assim contribuem para a ocorrência de conflitos. Medidas administrativas - No plano da ação fundiária, o Incra e os órgãos estaduais de terras deverão, a partir de uma base cartográfica comum, estabelecer um cadastro único, incluindo-se os demais órgãos e entidades da Administração Pública Federal que sejam administradores ou detentores de terras públicas. Com esta reunião de esforços, será realizado um permanente monitoramento das grandes áreas. No momento do novo cadastramento daqueles imóveis será exigido dos proprietários: 1) prova de domínio acompanhada da respectiva cadeia dominial; 2) certidões dos órgãos fundiários federal e estadual competentes; 3) prova de cadastro junto à Secretaria da Receita Federal e de quitação do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR); 4) certidão fornecida pelos órgãos federal e estadual do meio ambiente sobre a inexistência de infração ambiental; 5) certidão fornecida pelo órgão federal de assistência ao índio comprobatória de que o imóvel não incide em terras tradicionalmente ocupadas por populações indígenas. Além disso, unilateralmente ou em conjunto com os estados, serão instaurados procedimentos discriminatórios que terão por objetivo separar as terras públicas federais ou estaduais das de domínio privado e promover o levantamento dos títulos e registros, bem como das respectivas cadeias dominiais, na forma da Lei nº 6.383/76. Medidas judiciais – A partir dos estudos e pesquisas sobre as situações dominiais e possessórias, caso se constate dúvida fundada sobre o domínio das terras detidas por particulares, continuarão a ser adotadas as 17 medidas judiciais cabíveis, visando a reincorporação das terras ao patrimônio público. O Incra está requerendo junto às Corregedorias Gerais de Justiça a declaração de inexistência e o cancelamento de matrícula e do registro dos imóveis rurais vinculados a títulos nulos de pleno direito ou realizados em desacordo com a Lei de Registro Público. O Incra também está ajuizando ações de nulidade e cancelamento de matrícula e de registros de títulos de propriedade incidentes em terras de jurisdição federal. Quando forem abrangidas áreas de jurisdição estadual, será recomendado aos estados que promovam as ações judiciais correspondentes. Será, ainda, requerida prioridade nos julgamentos das ações discriminatórias judiciais e declaratórias de nulidade em curso. Finalmente, a Procuradoria Geral do Incra, quando constatar situações de graves irregularidades nos cartórios de registro de imóveis, requererá, perante o Corregedor Geral de Justiça da circunscrição do imóvel matriculado, registrado ou retificado irregularmente, a realização de inspeção ou correição e promoverá representação junto ao Ministério Público. Todo esse elenco de medidas representa um grande passo em direção ao fortalecimento da propriedade privada e do respeito que é devido a ela de acordo com os preceitos constitucionais. Os proprietários rurais que operam legal e produtivamente, cumprindo a função social da terra, terão sua respeitabilidade fortalecida porque estarão definitivamente distanciados daqueles que optaram pelo caminho da fraude. Mais do que nunca, eles poderão prosseguir na sua inestimável tarefa de promover o progresso e a riqueza do país. Zonas de fronteira A lei de no. 9.871 de 23/11/99 fixa prazo e estabelece regras para a ratificação ou anulação da concessão de terras pelos estados nas zonas de fronteira. Um dispositivo permite estender para a média propriedade, nas regiões Centro Oeste, Norte e Sul, a ratificação de ofício que, antes, era concedida apenas à pequena propriedade. A lei determina, ainda, que, 18 mesmo sem a ratificação definitiva, os produtores poderão apresentar seu imóvel como garantia de empréstimos bancários necessários à produção, até que haja uma decisão final da Justiça. Código de Ética No dia 9 de setembro, todo o primeiro escalão do Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário assinou um termo de adesão antecipada ao Código de Conduta dos Titulares de Cargos na Alta Administração Federal. O anteprojeto do novo Código foi elaborado pela Comissão de Ética Pública, instituída por decreto presidencial no dia 26 de maio. Por determinação do Gabinete Civil da Presidência da República, a proposta foi publicada no Diário Oficial, em agosto, de modo a ser objeto de debate público e de sugestões e contribuições. No mesmo dia 9, o ministro Raul Jungmann assinou portaria formando uma Comissão Interna de Ética, cujo regimento interno foi aprovado no dia 8 de novembro. A iniciativa já foi reproduzida em todas as 28 superintendências regionais do Incra. As Comissões de Ética têm por finalidade: I - orientar e aconselhar sobre a ética profissional do servidor; II - apurar, analisar e julgar a conduta profissional do servidor; III – opinar pela instauração de Processo Administrativo Disciplinar, dos quais são espécies a Sindicância, o Processo Disciplinar e o Rito Sumário, se for o caso. Estas instâncias foram objeto de uma outra portaria baixada pelo ministro no dia 9 de julho, definindo poderes e normas para o seu funcionamento. Numa iniciativa que foi seguida por todos os diretores do Incra e por seu procurador-geral, o ministro Jungmann remeteu em maio, ao secretário da Receita Federal e ao procurador-Geral da República, ofício em que renunciou ao seu direito de sigilo bancário e fiscal. O objetivo foi o de observar os princípios administrativos de moralidade inerentes a quem exerce funções públicas e em respeito à transparência e ao dever de conduta ética que devem nortear a vida particular dos agentes públicos. 19 Além disso, o ministro colocou na Internet o seu Imposto de Renda, assim como sua declaração de bens. Em novembro, o ministro Jungmann puniu 18 funcionários do Incra envolvidos no caso Teka, em que terras griladas foram oferecidas em pagamento de dívidas da União. Seis desses funcionários, inclusive um procurador, foram demitidos a bem serviço do serviço público. Projeto Casulo O Projeto Casulo é uma modalidade descentralizada de assentamento do Incra, realizada em parceria com os municípios para exploração agropecuária, gerando emprego e renda e aumentando a oferta de alimentos no mercado regional. A iniciativa de aderir ao Projeto Casulo parte do próprio município, que identifica a demanda e indica os beneficiários em potencial e a área a ser utilizada, além de buscar parcerias para viabilizar assistência técnica e capacitação das famílias assentadas. É o município que avaliza os créditos concedidos pelo Incra por meio do Projeto Casulo. O projeto libera créditos para alimentação, fomento, apoio, material de construção e habitação, de forma a viabilizar a consolidação e sustentabilidade dos assentamentos. Atualmente, existem 32 Projetos Casulos implantados principalmente nas regiões Norte e Nordeste, atendendo a um total de 1.304 famílias. O projeto libera créditos de apoio à instalação no valor de R$ 1.400 por família e crédito para construção de moradia, no valor R$ 2.500 por família, de forma a viabilizar a consolidação e sustentabilidade dos assentamentos. Cada família pode ser beneficiada ainda com crédito de até R$ 9.500 do Pronaf Planta Brasil. Projeto Casulo 32 Projetos Casulos Implantados no Norte 20 e Nordeste Projeto Lumiar A assistência técnica e a capacitação de famílias assentadas são fundamentais na consolidação e garantia de sustentabilidade dos Projetos de Assentamento do Incra. O Projeto Lumiar existe para suprir essas necessidades, prestando serviços de orientação às famílias de agricultores assentados quanto à implantação e desenvolvimento de culturas e pastagens, armazenamento e comercialização, criação de animais, introdução de novas tecnologias e ações de estímulo à organização dos assentados. O Projeto Lumiar mantém, hoje, 1.400 técnicos no campo, atendendo a um total de 117 mil famílias em todas as regiões do País. Os investimentos alcançam a cifra de R$ 2 milhões por mês. Participam do projeto Lumiar o Incra, os agricultores assentados, por meio de suas organizações, empresas públicas e privadas, cooperativas prestadoras de serviço de assistência técnica, universidades, institutos de pesquisa, bancos oficiais, governos estaduais e municipais e organizações não governamentais. O projeto mantém no campo equipes compostas por técnicos de diversas formações (agrônomos, veterinários, economistas, sociólogos, técnicos agrícolas, engenheiros florestais, psicólogos, administradores etc.), contratadas pelas organizações de assentados – com recursos do projeto – para prestação de assistência técnica e capacitação. O número de técnicos das equipes varia de acordo com a quantidade de famílias a serem assistidas, a distância entre assentamentos etc. O projeto visa, principalmente, o desenvolvimento das famílias assentadas, a consolidação dos projetos de assentamento e sua inserção no município ou região como unidade de produção competitiva, gerando renda e emprego. Por meio do Projeto Lumiar, as famílias avançam no associativismo, cooperativismo e outras formas de organização, conscientes de seus direitos e deveres. Investimentos de mais de 21 R$ 2 milhões por mês no Projeto Lumiar Ouvidoria Agrária Nacional A Ouvidoria Agrária Nacional foi criada em março de 1999, com o principal objetivo de prevenir e diminuir os conflitos agrários. O trabalho é feito em parceria com órgãos governamentais e não governamentais, com o Poder Judiciário, o Ministério Público, as Secretarias de Segurança Pública, a OAB, as Defensorias Públicas, as Procuradorias Gerais do Estado e outros Desde sua criação, a Ouvidoria Agrária Nacional já instalou ouvidorias estaduais no Acre, Rondônia, Roraima, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Número de invasões O número de invasões de imóveis rurais por trabalhadores sem- terra vem apresentando, este ano, uma sensível diminuição. Em janeiro, tivemos 50 invasões, em fevereiro, 41; em março, houve um pico, atingindo 101; em abril, 66; em maio, 34; em junho, 26; em julho 32; em agosto, 30; em setembro, 26; em outubro, 28; e em novembro, 30. Meio Ambiente O Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário desenvolve ações direcionadas à preservação do meio ambiente e à formação de consciência ecológica dos beneficiários da reforma agrária, fundamentais para o êxito de todos os seus projetos. O Ministério redigiu portaria que proíbe a desapropriação, a aquisição e outras quaisquer formas de obtenção de terras rurais com cobertura florestal primária incidentes nos ecossistemas da Floresta Amazônica, 22 Mata Atlântica, do Pantanal Mato-grossense e em outras áreas de preservação ambiental. Este ano de 1999, o Incra realizou 40 cursos de capacitação em meio ambiente onde foram formados 1.600 multiplicadores em todo o país. São técnicos e lideranças sociais que irão difundir as informações entre os assentados. Para dinamizar o processo de licenciamento ambiental, todas as 28 superintendências regionais do Incra contam hoje com um gerente ambiental. Também foram capacitados 13 gestores ambientais, que atuam como multiplicadores em Recife, Fortaleza, Manaus, Vitória, Distrito Federal e Alagoas. Cumprindo o que determina a Agenda Ambiental do Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário, estão sendo treinados agentes colaboradores que atuam como fiscais de meio ambiente. Esses agentes têm poder de lavrar “Autos de Constatação”, encaminhados aos fiscais do Ibama, para providências. BANCO DA TERRA O Banco da Terra beneficiou 10 mil famílias em 1999, liberando recursos da ordem de R$115 milhões para os estados do Maranhão, Ceará, Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Goiás. O Banco da Terra foi criado por lei complementar com o objetivo de financiar, diretamente a quem precisa, a compra do imóvel rural escolhido e a infra-estrutura básica necessária ao bom funcionamento da propriedade. Hoje ele já é reconhecido como um novo e poderoso instrumento de distribuição fundiária e de fortalecimento da agricultura familiar, contribuindo para o desenvolvimento econômico sustentável no campo. 23 O programa é voltado para os trabalhadores rurais, parceleiros, posseiros e arrendatários que comprovem pelo menos cinco anos de experiência em atividades agropecuárias, ou para pequenos proprietários rurais com imóveis de tamanho insuficiente para gerar renda excedente ao consumo familiar. O Banco da Terra é coordenado por uma Secretaria Executiva que integra um Conselho Curador composto por oito autoridades, dos quais seis ministros, e os presidentes do Incra e do BNDES. Presidido pelo ministro da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário, o Conselho é formado ainda pelos ministros da Agricultura, da Fazenda, do Meio Ambiente, do Orçamento e Gestão e do Desenvolvimento. A descentralização de suas ações se dá através de um sistema de parcerias. O Banco da Terra faz convênio com os governos estaduais que elegem um foro coordenador das aplicações dos recursos. De acordo com as regras do programa, os empréstimos tomados com recursos do Banco da Terra terão até 20 anos para serem pagos com carência de até três anos. Os juros cobrados variam de 4 a 6% ao ano. Reforma agrária com qualidade Os imóveis rurais financiados pelo Banco da Terra são escolhidos pelos próprios trabalhadores, que contam também com recursos que garantem a infra-estrutura básica para as comunidades. Além dos imóveis e da infra-estrutura, os recursos financiam taxas e custos cartoriais, registro da propriedade e serviços topográficos. De acordo com as regras do programa, quem já foi beneficiado por esse fundo ou participou de outros projetos de assentamento não terá acesso aos recursos, assim como quem exerça função pública, quem tenha renda superior a 15 mil reais ou seja proprietário de imóvel com área igual ou superior à da propriedade familiar. Para a faixa de financiamento de até 15 mil reais, incidirão juros de 4% ao ano; acima de15 e até 30 mil reais, juros de 5% ao ano; de 30 mil a 40 mil reais, teto máximo do Banco da Terra, os juros serão de 6% ao ano. Nas regiões mais carentes, o trabalhador rural terá desconto de 50% sobre os juros, nas intermediárias de 30% e nas demais de 10%. 24 Projeto Cédula da Terra O Banco da Terra teve como embrião um bem sucedido projeto: o Cédula da Terra, desenvolvido com apoio do Banco Mundial. Esse projeto foi implantado nos estados do Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia e Minas Gerais, nos quais beneficia 15 mil famílias. De acordo com estudos acadêmicos, o Cédula da Terra teve o condão de reduzir, em média, o preço do hectare, nas seguintes proporções: no Maranhão, 62%; no Ceará, 66%; em Pernambuco, 14%; na Bahia, 43%; e, em Minas Gerais, 49%. Isso, segundo os pesquisadores, se deve ao poder de negociação direta e ao pagamento à vista. AGRICULTURA FAMILIAR Pronaf – Planta Brasil 25 Em 1999, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar foi transferido para o Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário. Com essa mudança, o Pronaf Planta Brasil ganhou mais força política para a implementação de suas ações, bem como aproximou-se dos agricultores familiares provenientes do Programa Nacional de Reforma Agrária, ampliando benefícios e integrando as políticas públicas destinadas ao setor rural. Crédito Rural Esta linha, por ser a mais demandada, dá mais visibilidade ao Pronaf Planta Brasil. Seu desempenho anual tem ultrapassado o limite das metas programadas. Até reunir R$ 3,4 bilhões para financiar a safra 1999/2000, os recursos foram ampliados ano a ano, para atender às reais necessidades do produtor. Em 1996, o Pronaf Planta Brasil tinha duas linhas de crédito destinadas a custeio e investimento. Para a safra deste ano, são nove linhas de crédito: Novo Agricultor Familiar, Integrado, Coletivo, Microcrédito, Agroindústria, Agregar, Especial Investimento, Investimento e Custeio. O programa está presente em 3.792 municípios brasileiros. Este ano, nos primeiros seis meses de financiamento, ou seja, de julho a dezembro, foram assinados 499.338 contratos em todo o país, no valor de R$ 1,1 bilhão. Recursos Disponibilizados para 1999/2000 – Em R$ milhões Novo agricultor familiar Micro crédito/NE Agroindústria Agregar Especial investimento Especial custeio 460 100 150 100 400 500 26 Investimento Custeio Total 700 1.050 3.460 Fontes de Financiamento – Em R$ milhões FAT Fundos Constitucionais Exigibilidade bancária Total de recursos 2.950 360 150 3.460 Financiamento da Produção (Crédito Rural) Evolução das Modalidades e Recursos Modalidade de crédito 1995 Custeio 1996 Investimento 1997 Especial Custeio 1998 Agroindústria 1999/2000 Novo Agricultor Familiar Custeio Investimento Agregar Custeio Especial Investimento Micro crédito/NE Especial Custeio Agroindústria Investimento Agregar Custeio Especial Investimento Integrado Coletivo Especial Custeio Investimento Número de contratos Valor R$: 32.000 332.828 496.550 709.906 Custeio 491.409 93.000.000,00 649.795.000,00 1.637.440.000,00 1.814.922.000,00 1.127.230,00 Tipificação do Agricultor Familiar - 1999 Grupo A Novo Agricultor Familiar 27 Assentados da Reforma Agrária que não foram financiados pelo Procera, ou os que foram, não tenham utilizado o limite individual. Grupo B • Agricultores familiares, pescadores artesanais, extrativistas e aqüicultores; • proprietários, posseiros, arrendatários, parceiros ou beneficiários da reforma agrária; • residem na propriedade ou povoado urbano ou rural próximo; • estabelecimento com área de até 4 módulos fiscais; • utilizam, exclusivamente, mão-de-obra familiar; • renda de até R$ 1.500, proveniente da exploração agrícola e nãoagrícola do estabelecimento, excluindo aposentadoria. Grupo C • Agricultores familiares, pescadores artesanais, extrativistas e aqüicultores; • proprietários, posseiros, arrendatários, parceiros ou beneficiários da reforma agrária; • residem na propriedade ou povoado urbano ou rural próximo; • estabelecimento com área de até quatro módulos fiscais; • utilizam mão-de-obra familiar e empregados eventuais; • renda de R$ 1.500 até R$ 8 mil, sendo 80% no mínimo, provenientes da exploração agrícola e não-agrícola do estabelecimento, podendo atingir até R$16 mil para as atividades de avicultura, bovinocultura de leite, aqüicultura, caprinocultura, ovinocultura, fruticultura, olericultura, sericicultura e suinocultura. Grupo D • Agricultores familiares, pescadores artesanais, extrativistas e aqüicultores; • proprietários, posseiros, arrendatários, parceiros ou beneficiários da reforma agrária; • residem na propriedade ou povoado urbano ou rural próximo; • estabelecimento com área de até 4 módulos fiscais; • utilizam mão-de-obra familiar e até 2 empregados permanentes; 28 • renda de R$ 8 mil até R$ 27.500, sendo 80% no mínimo, provenientes da exploração agrícola e não-agrícola do estabelecimento, podendo atingir até R$ 16 mil para as atividades de avicultura, bovinocultura de leite, aqüicultura, caprinocultura, ovinocultura, fruticultura, olericultura, sericicultura e suinocultura. Capacitação e Profissionalização Um total de 173 mil agricultores familiares participou de treinamento desde 1996, quando o Pronaf foi criado. Há quatro anos, empresas públicas de assistência técnica e de extensão rural recebem recursos para dar cursos diretamente para os agricultores e também para os técnicos, a fim de melhorar o atendimento prestado aos produtores. Ano 1996 1997 1998 1999 Totais Agricultores capacitados * 47.916 54.299 71.600 173.815 Em R$ 1.000 3.000 34.662 41.597 31.761 111.003 * Em 1996, ano de implantação, foram desenvolvidos os projetos e treinados 225 técnicos. O programa de capacitação não é isolado, faz parte de um conjunto de ações capazes de dar suporte para viabilizar a agricultura familiar. Por isso, parte do dinheiro foi utilizada em assistência técnica e no apoio na obtenção de planos de crédito. Funciona assim: o agricultor precisa apresentar ao banco um projeto para demonstrar a viabilidade de seu investimento ou do custeio da safra. Ele recorre, então, a uma instituição reconhecida pelo agente financeiro, normalmente a empresa de assistência técnica e extensão rural de seu estado que faz o seu projeto, com os custos cobertos pelo Pronaf Planta Brasil. 29 Pesquisa O apoio ao agricultor familiar não pára aí. O programa também aplica recursos em projetos de pesquisa. Foram R$ 5,9 milhões em 98 e R$ 9,2 milhões em 99. O dinheiro vem sendo utilizado em 237 projetos de pesquisa voltados para o desenvolvimento da agricultura familiar. Em Mato Grosso, a Empaer/MT estuda a substituição de adubos químicos por orgânicos no plantio de maracujá amarelo. A pesquisa beneficia o assentamento de Rondonópolis. Os produtores rurais de três cidades de Mato Grosso do Sul (São Gabriel do Oeste, Sidrolândia e Itaporã) terão acesso a uma análise completa, realizada pela Empaer/MS, sobre o uso de irrigação em sulcos nas pequenas propriedades. Em Pernambuco, o Instituto de Pesquisa Agrícola do estado (IPA) avalia a possibilidade de se plantar diferentes variedades de inhame em Itaparica e Itambé. Para atender aos assentados do município de Mulatos, a Universidade de Tocantins examina a criação de três espécies de peixe na região: o tambaqui, pacú e traíra, de modo a tornar a piscicultura uma fonte de renda dos assentados. Comunidades Indígenas Vinte e quatro aldeias estão sendo favorecidas com projeto de apoio às atividades produtivas em terras indígenas, situadas no Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. São 17.565 pessoas, de 11 comunidades, que recebem unidades demonstrativas de produção agropecuária, uma base das empresas estaduais de assistência técnica e extensão rural. São elas que recebem os recursos e são responsáveis pela condução do projeto. 30 Nessas unidades demonstrativas, os índios são qualificados para a produção e, no prazo de três anos, chegam à última fase, que é a da autogestão dos negócios. Procurando incluir os excluídos, o programa chegou à Amazônia. Lá os moradores que vivem do extrativismo, recebem suporte do Pronaf Planta Brasil para melhorar a renda, numa parceria com o Ibama, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Para atender a esse público disperso na mata, o Pronaf Planta Brasil e o Ibama criaram a figura do “para-florestal”, um auxiliar técnico, conhecido e respeitado pelos moradores, que recebe salário para percorrer a região orientando os produtores Atualmente, há 140 “para-florestais” em ação nos estados do norte do país, dando assistência técnica e repassando informações sobre os meios de se obter acesso ao crédito rural. Infra-estrutura O programa financia obras de infra-estrutura voltadas para o atendimento do agricultor familiar. As obras são escolhidas e fiscalizadas pela comunidade, reunida no Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural. O dinheiro sai do Tesouro Nacional, sem necessidade de reembolso, e os convênios com as prefeituras são assinados diretamente com o agente operador, a Caixa Econômica Federal. Os municípios mais pobres, incluídos no Programa Comunidade Solidária, são dispensados da contrapartida municipal. O Pronaf Planta Brasil está presente em 1.018 municípios brasileiros recuperando estradas vicinais, implantando sistemas de abastecimento de água e de energia elétrica e construindo de centrais de vendas da produção do empreendedor familiar rural. Ano 1997 Municípios beneficiados 385 Em R$ 1.000 36.628 31 1998 1999 915 1.018 136.645 151.693 Programa Parceria e Mercado Em 1999, o Ministro Raul Jungmann criou o Programa Parceria & Mercado com o objetivo de alcançar a sustentabilidade da agricultura familiar através da sua integração com as economias locais e internacionais, baseando-se em um modelo de formulação e gestão de políticas e ações descentralizado e participativo, inserindo esses produtores nas cadeias comerciais modernas, aproveitando as vantagens comparativas dos empreendimentos de base familiar e respeitando as vocações e relações históricas locais. Todos os agricultores familiares do País são alvo do programa, incluindo os oriundos do Programa Nacional de Reforma Agrária. Sob a coordenação da Secretaria da Agricultura Familiar, o Programa Parceria & Mercado está sendo implementado por meio das seguintes etapas: • caracterização do agronegócio local, regional e estadual; • mapeamento da base produtiva da agricultura familiar; • ampliação e aperfeiçoamento dos serviços de assistência técnica; • identificação de oportunidades de mercado; • estudos de cadeias produtivas; • mobilização, organização e capacitação tecnológica e gerencial; • organização de estruturas de coordenação das cadeias produtivas. A gestão do Programa dá-se de forma participativa e descentralizada, através do estabelecimento de parceiras entre o Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário e os movimentos sociais, outros órgãos federais e estaduais, municípios, organizações não-governamentais e empresas privadas. 32 Com o objetivo de incentivar negócios e parcerias de empresas com agricultores familiares, por meio de suas associações, cooperativas ou empresas, foi instituído pelo Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário o Prêmio Parceiro da Agricultura Familiar. A finalidade é proporcionar aumento da produtividade, melhoria da qualidade dos produtos e o incremento da renda nos empreendimentos familiares rurais, de forma a torná-los auto-sustentáveis. Incentivar negócios e parcerias entre empresas e agricultores familiares Conselhos Municipais Num exercício diário de cidadania, o programa aprova suas ações em função das decisões das comunidades adotadas pelos conselhos municipais de desenvolvimento rural. O Pronaf Planta Brasil incentiva a participação, a cooperação e a igualdade de oportunidades para que a comunidade desempenhe o papel de protagonista do desenvolvimento local. São os conselhos que selecionam e fiscalizam as obras e serviços do Pronaf Planta Brasil, em convênio com as prefeituras. Essas obras beneficiam milhares de famílias em todo o país, segundo os números levantados pelas prefeituras conveniadas. Região Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Municípios 127 394 97 229 Famílias beneficiadas diretamente 167.610 853.402 186.616 269.495 33 Sul Totais 171 1.018 204.097 1.681.220 Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural O presidente Fernando Henrique Cardoso instalou, em 6/10/99, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural, presidido pelo Ministro da Política Fundiário e do Desenvolvimento Rural e integrado por representantes dos governos federal, estaduais e municipais e da sociedade civil. O Conselho tem por finalidade deliberar sobre o Plano Nacional de Desenvolvimento Rural, que será constituído por diretrizes, objetivos e metas do Programa Nacional de Reforma Agrária e do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura – Pronaf Planta Brasil. Política pública para o desenvolvimento rural O Conselho também vai formular e coordenar políticas públicas voltadas para a área rural, trabalhando em articulação com os conselhos estaduais de Desenvolvimento Rural que vêm sendo instalados progressivamente em todo o País. Os conselhos estaduais, por sua vez, vão atuar em articulação com os conselhos municipais. A viabilidade econômica da atividade agrícola nas pequenas propriedades é tarefa prioritária a ser perseguida de forma conjunta. Além do ministro Raul Jungmann, o Conselho é composto pelos ministros do Planejamento, Orçamento e Gestão; da Agricultura e Abastecimento; do Trabalho e Emprego; da Educação; da Saúde; da Integração Nacional e do Meio Ambiente. Participam ainda o Secretário de Agricultura Familiar, o secretárioexecutivo do Programa Comunidade Solidária e o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra. 34 O debate é ampliado com a participação de representantes dos estados e municípios; dos trabalhadores rurais, dos assentados em programas de reforma agrária, além de cooperativas de pequenos produtores rurais. Exemplos de assentamentos bem sucedidos do Incra Acre Pimenta longa - Produtores rurais dos projetos de assentamento Pedro Peixoto e Humaitá, no Acre, preparam-se para transformar uma erva daninha de sua região em dólares. Foi inaugurada, em junho, a primeira usina de extração de óleo de pimenta longa do Estado. A fábrica é comandada pelos próprios produtores, que já têm garantida a venda da produção dos próximos três anos. O óleo de pimenta é usado como fixador em produtos de beleza e perfume. Nos contratos que estão sendo fechados, as empresas compradoras pagarão o preço de mercado ou um preço mínimo de US$ 4,50/kg, caso haja quebra na safra. Alagoas Flores - As quarenta famílias assentadas no Projeto Casulo Caminho das Flores, em Tanque D'Arca, Alagoas, conquistaram renda mensal de R$ 2 mil só com o cultivo de flores. O Projeto Casulo, resultado de parceria entre o Incra e prefeituras, beneficia pequenos grupos de agricultores que vivem nas periferias das cidades. O Tanque D’Arca foi criado há menos de dois anos, em 16 hectares, nos quais 40 famílias cultivam flores. As famílias receberão carro equipado com câmara frigorífica para transportar os gerânios, rosas e outras flores que abastecem o mercado estadual e as regiões vizinhas. Uma das características de Caminho das Flores é que as famílias não moram na zona rural, vivem em suas casas na zona urbana e as crianças freqüentam escolas do município. Mamona - Assentamentos de Alagoas começam a produzir mamona. A diversificação da produção, com a introdução da nova cultura, inicialmente em mil hectares no Estado, foi incentivada pela 35 Superintendência do Incra. Inicialmente, o Incra liberou crédito de custeio para 3 mil famílias em 20 projetos de assentamento na região da zona da mata, agreste e sertão alagoano. O incentivo para a introdução da mamona vem de uma fábrica da Bahia que já garantiu a compra de toda a safra produzida pelas famílias assentadas. Amapá Ecoturismo e frutas - O primeiro Projeto Casulo do Amapá assentou 100 famílias em área de três mil hectares, no município de Laranjal do Jari, para explorar o ecoturismo na cachoeira e bosques da região. As famílias já viviam na área, trabalhando com cultura de cupuaçu, graviola, acerola, pupunha, abacaxi e maracujá, beneficiados numa agroindústria instalada no assentamento. Com o apoio dos técnicos do Incra, os trabalhadores planejam atuar com piscicultura, apicultura, bovinocultura e caprinocultura leiteiras. Amazonas Açúcar mascavo - A Coca-Cola está comprando 600 toneladas por ano de açúcar mascavo produzido em dois assentamentos do Incra no Amazonas: Uatumã e Canoas. A empresa fornece mudas de cana-deaçúcar adaptadas ao clima da região e treina famílias assentadas para o cultivar e beneficiar o produto. Os trabalhos têm a participação de técnicos do Incra e do projeto Lumiar e a coordenação geral a cargo da Associação dos Assentados de Rio Canoas. Castanha de caju – O assentamento de Antimari é um dos maiores produtores de castanha-do-pará. A renda do assentamento provém das atividades extrativistas onde a agricultura é praticada sem prejudicar a vegetação natural da região. O projeto, criado em 1998, é uma parceria entre o Incra, o Ibama e a Embrapa. Para melhorar a qualidade do produto, os assentados compraram uma usina de beneficiamento de castanha, que são embaladas a vácuo. Bahia Fábrica de laticínios – As 100 famílias do projeto Imbirussu de Dentro, município de Porto Seguro, abastecerão lanchonetes, hotéis e pousadas de Porto Seguro e Eunápolis com leite pasteurizado e iogurte produzidos na fábrica instalada no assentamento. A Associação Comunitária Imbirussu de Dentro investiu mais de R$ 240 mil na 36 construção da fábrica, com recursos do Incra para processar três mil litros de leite pasteurizado e iogurte por dia. Além da pecuária leiteira, os assentados cultivam mandioca, coco, feijão e abacaxi. O assentamento mantém parcerias com a prefeitura, que contribuiu em algumas obras de infra-estrutura do projeto e colabora com os assentados na comercialização dos produtos. Agroindústria - Assentados de Andaraí comemoraram 13 anos de trabalho inaugurando agroindústrias de cana-de-açúcar e mandioca, a Casa do Mel, uma serralheria e uma fábrica de cerâmica. Os trabalhadores construíram 37 quilômetros de adutoras para irrigar seis quilômetros de terreno para plantio. A seca inviabilizava a produção em escala de qualquer cultura no assentamento. A irrigação permitiu o engajamento das 414 famílias, quase 2 mil pessoas, na economia da cidade. A fábrica de cerâmica confecciona peças artesanais vendidas aos turistas da cidade. A Casa do Mel beneficia um projeto de apicultura em funciona no assentamento. Os assentados estão produzindo, também, 50 mil mudas de plantas nativas para recompor a floresta da região. Ceará Farmácia Viva – Os trabalhadores rurais do Ceará estão recebendo mudas de plantas medicinais para instalar farmácias vivas em dez assentamentos de Itapioca, a cem quilômetros de Fortaleza. A farmácia viva resgata o hábito remédio caseiro. Entre as plantas mais procuradas estão alfavaca, alecrim-pimenta, babosa, eucalipto, erva-cidreira, malva, romã e quebra-pedra. Tilápias- A criação do peixe tilápia, iniciada em março deste ano, tem sido um das maiores fontes de renda do assentamento Santa Bárbara, em Caucaia, a vinte quilômetros de Fortaleza. Oitenta toneladas já foram comercializadas, sendo três toneladas só na Semana Santa. Com o lucro da venda dos peixes, a comunidade do assentamento conseguiu plantar 1.200 quilos de milho e 800 quilos de feijão. Distrito Federal Pupunha - A produção de pupunha, mais conhecido como palmito ecológico, é a mais nova alternativa econômica dos assentados do Distrito Federal e Entorno. Agora o produto é vendido no Brasil e para a França e Estados Unidos. O palmito pode ser colhido a partir do 18º mês de plantio 37 e o custo de instalação de uma agroindústria não ultrapassa R$ 6 mil. A cultura da pupunha vem atraindo a atenção dos agricultores e já atinge 5 por cento do mercado consumidor, embora só tenha chegado ao Brasil há três anos. A renda bruta anual do produtor é superior a R$ 13 mil. Repolho e couve-flor- Trabalhadores rurais assentados em Brazlândia estão aumentando em até 50 por cento a produção de repolho e couve-flor. Eles reduziram o uso de agrotóxicos substituindo-os por um produto orgânicos à base de aminoácidos, que chega até a planta através do sistema de irrigação. A experiência está sendo desenvolvida pela Embrapa, em parceria com o Incra, Pronaf Planta Brasil, Emater, Ministério da Agricultura, Fundação Banco do Brasil e o Programa Comunidade Solidária. Espírito Santo Café - Os trabalhadores rurais do assentamento Georgina, no Norte do Espírito Santo estão colhendo os primeiros frutos de mudas de cafés clonais. Eles utilizam a mais moderna tecnologia agrícola para o plantio de café da variedade robusta. As 80 famílias que vivem no assentamento vendem toda a produção para as cidades vizinhas e querem estender a comercialização para o interior do estado. Turismo Rural - Os agricultores do assentamento União, em Mimoso do Sul reservaram 15 dos 550 hectares para implantação de um projeto de turismo rural como alternativa de renda. Eles aproveitam construções antigas na área, adaptadas ao projeto, para atrair turistas, mas conservando suas características. O projeto conta com um casarão colonial construído no século XVIII e a estrutura de uma usina, onde funcionava a maior fábrica de açúcar do Estado. Para completar o complexo turístico, será construída uma pousada e um lago artificial para a prática do pesque-pague e comercialização de produtos agrícolas. Goiás Farinha – O assentamento São José ganhou uma fábrica de farinha com recursos da Organização das Voluntárias de Goiás. A última safra do assentamento resultou em 3.568 sacas de arroz e milho. A colheita de milho na safra 97/98 contribuiu, inclusive, para que Estado passasse ao primeiro lugar na produção de cereal em todo o País. O assentamento São 38 José está localizado em São Miguel do Araguaia, com 4.554 hectares, onde moram 46 famílias. Irrigação – Um moderno método de irrigação foi instalado no assentamento São Jerônimo, em Caçú, a 376 quilômetros de Goiânia, onde vivem 50 famílias de agricultores. Os trabalhadores cultivam legumes e resolveram investir no sistema de irrigação para melhorar a produção. O método de irrigação utiliza kits doados pela Secretaria de Agricultura do Estado, com capacidade para atender dois hectares cada um. De acordo com os técnicos do Projeto Lumiar, produtores experientes em áreas irrigadas colhem, por mês, até 1.600 caixas de legumes, com 20 quilos cada, por hectare. Maranhão Gado- Os trabalhadores rurais que vivem do projeto Santa Rosa, em Vitória do Mearim, distribuem três litros de leite por família todo final de semana, entre os assentados. A produção de leite é do próprio assentamento, que vive basicamente da criação do gado leiteiro e de corte. Em Santa Rosa, com 3.189 hectares, vivem 233 famílias de trabalhadores rurais. O gado foi financiado com crédito do Procera. O leite produzido é comercializado com a prefeitura do município. Frutas e grãos - Os projetos de assentamento Itacira, em Imperatriz, e Coque, em Vitória do Mearim, encerram 1999 comemorando o crescimento da produção. As 137 famílias de agricultores do Projeto Itacira transformaram os 4.795 hectares do assentamento em um núcleo de produção. Cultivam abacaxi, maracujá, mamão, acerola e desenvolvem um projeto de piscicultura. As 323 famílias do projeto Coque comercializaram mais de 100 toneladas de arroz irrigado, levando o Incra a construir uma unidade de armazenamento de grãos. Pesca e fruticultura - As 89 famílias do projeto "Barro Duro", a 6 km de Tutóia dão exemplo de trabalho com pesca e com fruticultura irrigada. Reunidas em associações, aplicam modernas técnicas no cultivo do coco anão irrigado, intercalando a produção com a cultura de maracujá. Os trabalhadores rurais investem também no plantio de mandioca, milho e feijão. O excedente da produção é comercializado nos povoados vizinhos. 39 Minas Gerais Maracujá - Dois assentamentos criados em 1996 estão fornecendo 999 mil quilos de maracujá para a Maguari, uma das maiores produtoras de sucos do Brasil. A empresa assinou termo de compromisso para adquirir a produção de três safras anuais dos assentados mineiros. Os trabalhadores são assistidos pela Cáritas Diocesana, através do Projeto Lumiar, com a monitoração de um técnico da Maguari, que visita as plantações quinzenalmente. No projeto de Barreirão, em Lagoa Grande, 27 famílias ocupam 803 hectares. A plantação de maracujá ocupa 15 hectares. O assentamento Lagoa Rica, em Paracatu, ocupa 5.200 hectares. As 111 famílias cultivam maracujá em 28,5 hectares. Cestas básicas – O Incra está levantando a produção agrícola de projetos de assentamento para o fornecimento de 175 cestas básicas, por mês, à Companhia Nacional de Abastecimento- Conab, a partir da próxima safra. Equipes do Projeto Lumiar avaliarão os alimentos em 47 projetos de assentamento, de acordo com as especificações da Conab. As cestas terão de 20 a 22 quilos de feijão, arroz, farinha de mandioca, fubá e rapadura. Mato Grosso do Sul Sericultura – A criação do bicho-da-seda está rendendo salário mensal de R$ 750 para famílias assentadas nos projetos Indaiá e Sul Bonito, em Itaquiraí, a 470 quilômetros de Campo Grande. Os assentados contam com apoio técnico da Empaer e com parceria da Empresa de Fiação de Seda Bratac S.A. Os assentados produziram 1.309 caixas de larvas, que resultaram 76,7 toneladas de casulos verdes. Supervisionados por técnicos da empresa, com controle rígido de produção, os assentados alcançaram excelente padrão de qualidade. A Bratac recebeu, no dia 14 de setembro, o prêmio “Parceiro da Reforma Agrária”, promovido pelo Ministério da Política Fundiária. Frangos – Os trabalhadores rurais do assentamento Capão Bonito I, em Sidrolândia, firmaram parceria com a empresa Ceval. As aves produzidas no assentamento chegam aos consumidores da Alemanha, França, Japão e Hong Kong. O assentamento produz cerca de 2.471.000 aves por ano, em 33 aviários, com capacidade de gerar treze mil aves a 40 cada dois meses. A renda média mensal do assentado está em torno de R$ 250. Mato Grosso Selo de qualidade - As 50 famílias assentadas no projeto Santo Idelfonso, criado em 1996, comercializam seus produtos com selo de qualidade. Eles vendem derivados de carne suína, artesanato de pintura em tecido, trabalhos em crochê e bijuterias feitas de madeira, além de doces em compota. Santo Idelfonso, com uma área de 18.700 hectares, conta ainda com seis mil cabeças de gado, responsáveis pela produção diária de dois mil litros de leite. Abacaxi- os assentados do projeto Coqueiral, em Nobres, estão exportando 1.200 toneladas de abacaxi pérola e havaí para o Uruguai e Argentina. No assentamento, com área de 50 mil hectares, o Incra investiu R$ 8 milhões num projeto que beneficia 730 mil famílias. Os assentados produzem seis mil toneladas de arroz e 6.150 toneladas de milho. Além da exportação, a produção atende o mercado de Cuiabá e de cidades vizinhas com 600 toneladas de abacaxi pérola. Pará Arroz e milho - As 900 famílias de trabalhadores do assentamento de Paragonorte colheram este ano seis mil toneladas de arroz e três mil toneladas de milho. O maior projeto de assentamento do Incra no Pará, com área de 30 mil hectares, foi criado em 1997, com a desapropriação da fazenda Caip. A colheita deste ano é resultado da parceria entre a Superintendência do Pará, a prefeitura de Paragominas e a Secretaria Estadual de Agricultura, que financiou a compra das sementes de arroz e milho. A prefeitura ficou responsável pelo maquinário utilizado na lavoura. Borracha – Os trabalhadores rurais assentados em São Francisco do Pará, no projeto Luís Lopes Sobrinho, começaram a trabalhar com exploração de seringal e gêneros alimentícios como mandioca, feijão e milho. O projeto tem área de 4.451 hectares em um antigo pólo de exploração de látex da Goodyer do Brasil e mil hectares de floresta nativa. Os assentados vivem no local deste maio de 1996 e contam com escolas e posto de saúde. O plano dos assentados é trabalhar com a industrialização da borracha, atualmente vendida em estado bruto, para ser beneficiada em uma empresa de Belém. 41 Paraíba Frutas - Uma Central de Produção e Vendas e uma indústria de processamento de frutas serão implantadas no projeto Frei Anastácio, em Conde, com o objetivo de evitar a interferência dos atravessadores na comercialização e aumentar o lucro. As 19 famílias assentadas cultivam banana, manga, mamão, laranja, caju, inhame, macaxeira e feijão macassar, que abastecem as feiras livres da cidade, de Alhandra e João Pessoa. Peixe - O Incra e Universidade Federal da Paraíba estão implantando um programa de piscicultura em tanques-rede nos assentamentos como mais uma opção de renda. A primeira unidade, com seis berçários e 26 módulos de engorda será instalada no assentamento Maria Preta, em Araçagi. Dez por cento da produção de peixes adultos serão destinados ao peixamento dos açudes ou outros projetos de reforma agrária. Pernambuco Caju e coco - Assentados da reforma agrária estão recebendo treinamento para instalação de viveiros de caju e coco no projeto Engenho Ubú, em Goiana. Eles adotam técnicas de enxertos de mudas e controle de qualidade de produção. O Engenho Ubú tem uma área de 1.500 hectares e 167 famílias assentadas. O excedente da produção de macaxeira, inhame, mamão e frutas é comercializado nas feiras livres do município. Leite – Assentados nos projetos Angico Torto, onde 95 famílias criam 480 cabeças de gado, e da Fazenda Barra Verde, onde 124 famílias trabalham com 980 cabeças de gado, aumentaram a produção de leite com a adoção da forragem hidropônica do milho. A nova técnica proporciona uma alimentação mais protéica para o gado e tem custo dez vezes inferior ao produto à base de soja, tradicionalmente usado pelos produtores de leite. Os assentados vendem o leite para a Parmalat e o excedente é transformado em queijo mussarela e negociado com pizzarias dos municípios de Arcoverde e Águas Belas. Piauí Motos - As 298 famílias do projeto Saco do Juazeiro, em São Miguel Tapuia, aumentaram a frota de motocicletas do assentamento para escoar 42 a produção. A renda obtida com a lavoura vem aumentando o poder aquisitivo das famílias, que já compraram mais de 150 motocicletas. Serão colhidos 20 mil sacos de 60 quilos de feijão, além de oito sacos de milho. Os trabalhadores rurais estão adquirindo ainda 4.300 cabeças de animais entre caprinos, ovinos e bovinos. A comunidade tem três escolas de Ensino Fundamental. Paraná Milho e feijão - Os assentados no projeto Missões, em Francisco Beltrão, produziram no ano passado, 35 mil sacas de milho e 3 mil de feijão. Elas continuam investindo na lavoura, mas têm planos ousados, o ecoturismo, oferecendo aos visitantes alimentação natural e lazer com alimentação natural. As famílias vão erguer uma vila coletiva para produção de soja e hortaliças orgânicas, frangos e piscicultura. Criado há pouco mais de dois anos, o assentamento tem 114 famílias e uma área de 1.983 hectares. Os assentados criaram uma área de reflorestamento, onde plantaram dez mil mudas de árvores nativas e 19 mil eucaliptos. Erva-mate – Seiscentos produtores rurais de vinte assentamentos conseguem rendimento de até R$ 1,8 mil anuais com a exportação de erva-mate para a Itália e a Alemanha. O chá-mate é produzido em Santa Maria do Oeste. A implantação da ervateira, em 1995, causou impacto sobre o preço médio pago pela arroba verde aos produtores, acabando com o monopólio na região. Os assentados estudam a ampliação das exportações para outros países europeus e a comercialização de extrato de erva-mate no mercado doméstico. Rio de Janeiro Consórcio - Os assentados do Projeto São José da Boa Morte, em Cachoeiras de Macacu, estão comercializando a produção no mercado da cidade e no Rio de Janeiro. Orientados por técnicos da Embrapa Agrobiologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Emater e do Projeto Lumiar, os agricultores adotam técnicas de consórcio de milho com pepino rasteiro, tomates ensacados para controle da broca, com cerca de moirões vivos e diversas espécies de leguminosas. O grupo planeja construir um sistema de captação de água, montar uma estufa para produção de mudas, criar gado em pastagens comunitárias, construir um curral pavimentado para coleta de esterco 43 destinado à produção de composto orgânico e húmus, e produzir sementes de adubos verdes para rotação de culturas e conservação dos solos. A comunidade também tem uma casa de farinha e pequena cozinha para o processamento de diversos produtos. 0 Rio Grande do Norte Agricultura orgânica - Oitenta mulheres de assentamentos do Rio Grande do Norte iniciaram o projeto Horta Orgânica & Mercado Solidário, aproveitando o crescente interesse nos produtos sem agrotóxicos. Elas plantam alface, coentro, cebolinha, cenoura, beterraba e pimentão. Nos assentamentos Boqueirão, Vila Israel e Aracati, em Touros, os trabalhadores plantam também abacaxi orgânico, utilizando material natural para adubar o solo, como restos de vegetais e esterco de bovinos, diminuindo os custos da produção. Melões – A produção de melões de cinco assentamentos no Rio Grande do Norte está sendo exportada para a Europa, dentro do Programa Parceria & Mercado. A qualidade da produção atende às rigorosas exigências dos compradores. Outros onze assentamentos do Incra no Estado já exportam melão para países da Europa, desde 1994. Rio Grande do Sul Frangos - Um grupo de 34 famílias do Projeto Capela, em Nova Santa Rita, alcançou renda mensal de R$ 900 com a produção de 270 mil frangos por ano, em três aviários, todos com alta tecnologia. Os trabalhadores rurais formaram uma cooperativa com o objetivo de comercializar até 400 mil frangos por ano. Uma parceria com a Empresa Frango Sul assegura a comercialização de toda a produção. Leite – Parceria entre a Cooperativa Agrícola Novo Sarandi e a Parmalat garante a comercialização de todo o leite produzido no assentamento e um rendimento mensal de dois salários mínimos para cada família. A cooperativa reúne 300 famílias no Projeto Encruzilhada Natalino e produz, em média, quinze mil litros de leite por dia. Rondônia Produção - Com a próxima safra, o município de Machadinho do Oeste poderá se transformar no maior produtor de grãos de Rondônia. A 44 maior parte da produção vem dos projetos de assentamento Palma Arruda, Zé Carlos, Tabajara I e II, Machadinho I e II, União, Santa Maria II e II e Cujubim. No município são seis mil trabalhadores rurais assentados, que se destacam também na produção de guaraná, que é a maior do Estado. Roraima Mel - As 68 famílias assentadas no projeto Esperança, em Cantá, fornecem mel de abelha para os municípios mais próximos. A coleta e embalagem do mel é feita com apoio dos técnicos dos projeto Lumiar. A nova opção está mudando a rotina do assentamento. Os produtores deixaram de canalizar as atividades apenas para a cultura de subsistência para buscar outras fontes de renda. Com apoio da prefeitura de Cantá e da Suframa, os assentados concluíram estrada de acesso ao projeto, com objetivo de melhorar o escoamento da produção. Cana-de-açúcar – Os trabalhadores rurais que vivem no assentamento Equador, em Roiranopólis, estão fornecendo cana-deaçúcar para uma fábrica de refrigerantes em Presidente Prudente, no Amazonas. Sob a orientação de técnicos do Projeto Lumiar, as 200 famílias do projeto Equador querem plantar cana-de-açúcar em 40 hectares do assentamento. A produção em escala industrial será possível com a mecanização agrícola e correção do solo. A Associação dos Produtores Rurais do Equador tem o apoio da Secretaria Estadual de Agricultura e da Prefeitura de Rorainópolis. São Paulo Hortifrutigranjeiros – A renda dos assentados no projeto Monte Alegre, em Araraquara, aumentou neste ano, depois que aprenderam a classificar os produtos hortifrutigranjeiros com técnicos da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado. Os assentados conseguiram aumentar a renda em até 30%, apenas reduzindo o desperdício, selecionando os produtos e melhorando as condições de transporte e embalagens. Sergipe Abóbora - Com apenas um ano de criação, o assentamento Oito de Outubro, em Simão Dias, está vendendo abóbora de qualidade para outros estados. Dos 1.560 hectares do projeto, 600 são destinados ao 45 cultivo da abóbora, com uma produtividade de 11,5 toneladas por hectare. A produção é resultado do trabalho coletivo das 80 famílias assentadas no projeto. Mesmo comercializando o produto ao preço que varia de 23 a 25 centavos o quilo, os agricultores vão faturar cerca de R$1.600.000. Além da abóbora os assentados plantam milho e feijão. Santa Catarina Leite e conservas - Os assentados de São Miguel do Oeste, São José do Cedro e Anchieta têm sua própria marca de produtos agrícolas. Reunidos em cooperativas, criaram a marca Terra Viva e entraram no mercado competitivo. Leite tipo C, queijo mussarela e prato, erva-mate e doces em conservas são alguns dos produtos que integram à marca. Mais de 2 mil assentados produzem 800 mil litros de leite, 12 mil toneladas de queijo e 20 mil vidros de conservas por mês. Produtos ecológicos - O assentamento Justino Dranszevki, em Araquari está produzindo, com sucesso, verduras e legumes ecológicos, cultivados sem o uso de agrotóxicos. Além de fornecer para os trabalhadores rurais assentados, o excedente da produção de beterraba, aipim, cenoura e repolho abastece supermercados de Joinvile. Como no Estado cresce a procura por produtos ecológicos, as 10 famílias assentadas em Justino Dranszevki começam a vender seus produtos para outros municípios catarinenses. Eles contam com apoio técnico da Superintendência do Incra em Santa Catarina. Tocantins Pecuária – O assentamento Tarumã conta com 240 famílias explorando a pecuária de corte, piscicultura, além da cultura de arroz, milho e feijão. Um grupo de 40 famílias do projeto está planejando construir um laticínio para trabalho em cooperativa. Os trabalhadores já contam com trator, equipamentos e insumos agrícolas e pretendem investir também em beneficiamento, estocagem, industrialização e comercialização de grãos. 46 Balanço 1999 Reforma Agrária e Agricultura Familiar Coordenação Editorial: Informe Comunicação e Marketing 47