VETERINÁRIA EM FOCO
Revista de Medicina Veterinária
Vol. 10 - Nº 2 - Jan./Jun. 2013
ISSN 1679-5237
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VETERINÁRIA EM FOCO
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V586
Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil. – Vol. 1, n. 1
(maio/out. 2003)- . – Canoas : Ed. ULBRA, 2003- . v. ; 27 cm.
Semestral.
ISSN 1679-5237
1. Medicina veterinária – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil.
CDU 619(05)
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Sumário
148 Editorial
Artigos científicos
149 Atuação e importância do médico veterinário na cadeia produtiva do leite
Thaysa S. Santos; Duperron de A. Carvalho
159 Perfil dos produtores de leite e caracterização técnica das propriedades leiteiras
dos municípios de Rondon do Pará e Abel Figueiredo, Estado do Pará
Susiane de Oliveira Soares; Ricardo Pedroso Oaigen; José Diomedes Barbosa;
Carlos Magno Chaves Oliveira; Tatiane Telez Albernaz; Felipe Nogueira
Domingues; Janaina Teles da Silva Maia; Christina Manfio Christmann
169 Influência do arranjo de plantas sobre a composição bromatológica da silagem
de milho
Danilo Abade Costa; Felipe Nogueira Domingues; Marilice Zundt Astolphi;
Diego Azevedo Mota; Ricardo Pedroso Oaigen; Juliano Calonego; Augusto Sousa
Miranda
178 Avaliação do desempenho biológico de bovinos de corte terminados sobre pastagens
de azevém (Lolium multiflorum) e milheto (Pennisetum glaucum)
Carlos Santos Gottschall; Leonardo Rocha da Silva; Fábio Tolotti
186 Utilização de rações para frangos de corte com diferentes níveis de energia e
proteína
Dijair de Queiroz Lima; Nicholas Lucena Queiroz
195 Bem-estar de bovinos leiteiros: revisão de literatura
Gracieli Alves Ferreira; Rosangela Estel Ziech; Erica Cristina B. do P. Guirro
210 Particularidades na contenção química e na anestesia de serpentes
Fernanda Soldatelli Valente; Simone Passos Bianchi; Emerson Antonio Contesini
146
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
222 Fauna de ixodídeos em carnívoros silvestres atropelados em rodovias de Santa
Catarina: relato de caso
Rosiléia Marinho de Quadros; Bruna L. Boaventura; Wilian Veronezi; Sandra
Márcia Tietz Marques
229 Espécies do gênero Helicobacter de importância em medicina veterinária: revisão
de literatura
Priscila R. Guerra; Anelise Bonilla Trindade; Vanessa Dias; Marisa Ribeiro de I.
Cardoso
244 Osteomielite decorrente de infecção por Aspergillus sp. em cão da raça rottweiler:
Relato de caso
Fabrício Bernardo de Jesus Brasil; Edmilson Rodrigo Daneze
252 Normas editoriais
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
147
Editorial
Recentemente, a Medicina Veterinária vem, no contexto geral das profissões,
assumindo um papel de destaque entre todas as outras, pois, sem menosprezar o papel e
a importâncias destas, vivemos um momento em que nossa profissão está em evidência.
Isso é comprovado pelos anseios e prioridades da sociedade atual, em que valores como
bem-estar animal, sustentabilidade, alternativas de produção adequadas ao mercado atual,
tais como produção orgânica, produtos naturais sem agrotóxicos, são realidades.
Segundo dados da ELANCO, em 50 anos a população mundial demandará 100%
a mais de alimentos; destes, 70% deverão vir de novas tecnologias que aumentem a
produtividade. Diante desse quadro, cabe a nós a resposta adequada a essas questões.
Os assuntos abordados no presente volume demonstram a preocupação de nosso
corpo editorial e consultores com a abordagem científica de problemas atuais, com o que
esperamos, de alguma forma, tentar contribuir para a melhoria de vida no planeta.
Boa leitura a todos!
Comissão Editorial
Atuação e importância do médico veterinário
na cadeia produtiva do leite
Thaysa S. Santos
Duperron de A. Carvalho
RESUMO
As atividades do Médico Veterinário são, muitas vezes, divulgadas de forma limitada, criando
estereotipo de uma profissão que cuida apenas de cães e gatos, não o relacionando com qualidade
e segurança dos alimentos de origem animal, inclusive muitos Veterinários desconhecem ou não
compreendem suas áreas de atuação e/ou importância na saúde pública. Objetiva-se, com este
artigo, refletir, informar e mudar conceitos sobre atuação e importância do Médico Veterinário
na segurança e qualidade dos alimentos de origem animal, em particular na cadeia produtiva do
leite (alvo de adulteração, contaminação por produtos químicos e microrganismos patogênicos),
demostrando que este profissional é o grande responsável pela orientação e fiscalização do leite e
seus derivados garantindo que os mesmos tenham qualidade e estejam seguros para consumo.
Palavras-chave: Consumidor. Leite e derivados. Saúde pública.
Performance and importance of veterinarians
in the milk supply chain
ABSTRACT
The activities of a veterinarian are often broadcasted in a limited way, creating a stereotype
of a profession that regards only about taking care of dogs and cats, not linking it to quality and
safety of animal origin food. Besides that many veterinarians are unaware or do not understand
their fields and / or their importance in public health. It is aimed, with this article, to rethink, to
inform and to change concepts about performance and importance of veterinarians in the safety
and quality of animal origin food, particularly in the milk chain (which is target of adulteration
and contamination by chemicals and pathogens), demonstrating that this professional is the main
responsible for the orientation and supervision of milk and its derivatives ensuring that they have
quality and are safe for consumption.
Keywords: Consumer. Dairy products. Public health.
INTRODUÇÃO
As atividades do Médico Veterinário são, muitas vezes, divulgadas de forma
limitada, criando estereotipo de uma profissão que cuida apenas de cães e gatos. Desta
Thaysa S. Santos é Médica Veterinária, Mestre em Ciência Animal (UFG), Doutoranda em Engenharia de Alimentos
pela Universidade de São Paulo.
Duperron de A. Carvalho é Médico Veterinário e Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento – Superintendência de Goiás.
Endereço: Rua Antônio de Souza Mourão, Pinheiro, CEP.: 13630-345, Pirassununga-SP.
E-mail: [email protected]
Veterinária em Foco
Canoas
v.10
n.2
p.149-158
jan./jun. 2013
forma, o grande público e, principalmente, os homens de decisão política e econômica
do país não relacionam o seu trabalho, por exemplo, com a saúde pública (zoonoses,
higiene, inspeção e tecnologia de produtos de origem animal), não estando, portanto,
cientes da importância da Medicina Veterinária na sociedade (DERKS et al., 2012).
Inclusive muitos Veterinários desconhecem ou não compreendem suas áreas de atuação
e/ou importância na saúde pública, ou por falhas dos cursos superiores no ensino teórico
e prático dos conteúdos relacionados (resultando em menor grau de comprometimento
do profissional com a saúde coletiva) (PFUETZENREITER, 2008; BÜRGUER, 2010),
ou ainda por não se preocuparem, ou talvez nem tenham pensado que a mudança de
percepção da sociedade sobre a importância de uma profissão é capaz de promover sua
valorização (MEDITSCH, 2006; BÜRGUER, 2010; ABREU, 2013). Desta forma, este
espaço vem sendo ocupado gradativamente nos diferentes níveis de gestão por outras
profissões (TREVEJO, 2009).
É necessária uma mudança cultural na Medicina Veterinária, que caminhe em
direção às ciências naturais e sociais, com maior ênfase no bem-estar geral e perspectivas
amplas (WERGE, 2003). Além disso, deve-se conscientizar o Médico Veterinário da sua
importância para com a saúde pública, ampliando sua atuação profissional, assim como
difusão de informações sobre zoonoses e segurança de alimentos, não apenas através deste
profissional, mas também pelos órgãos oficiais de saúde pública e educação (MEDITSCH,
2006; STODDARD; GLYNN, 2009; OKELLO et al., 2011), só assim a profissão será
mais valorizada (HENDRIX et al., 2005). Prova disso, é o Veterinário chegar a coordenar
equipes de vigilância em países desenvolvidos (JOHNSTON, 2013).
Para oferecermos alimentos de origem animal em quantidade e qualidade,
é necessário acompanhamento deste produto, desde o início de sua cadeia até a
industrialização, passando pelo processamento da matéria-prima em alimento, seu
armazenamento, transporte, comércio, e consumo, papel este do Veterinário (GOMIDE
et al., 2006).
Neste contexto, encontra-se o leite, fonte de nutrientes e muito consumido, que
deve ser fiscalizado (BRASIL, 1950; 1989), pois são muitos os casos ao longo de
toda a cadeia produtiva de adulteração (produto caro, atraente para modificar) (DE LA
FUENTE; JUAREZ, 2005; KAROURI; BAEDEMAEKER, 2007), contaminação por
produtos químicos (DORNE et al., 2009) e presença de microrganismos patogênicos
(WHO, 2013).
Prova disso são os casos veiculados pela mídia como o de Minas Gerais em 2007,
no qual ocorreu adulteração do leite com soro, peróxido de hidrogênio, soda cáustica,
citrato de sódio e pasta-base, e em 2013, adição de água e ureia (que continha formol)
no Rio Grande do Sul. A responsabilidade de evitar que leite impróprio seja consumido
pela população é dos Médicos Veterinários, sejam eles fiscais, Responsáveis Técnicos ou
Veterinários de campo, garantido assim a segurança do alimento (BRASIL, 1952, 1989,
1980, 2009a; CFMV, 1991, 2002).
Diante do exposto, é necessário refletir, informar e mudar conceitos sobre atuação
e importância do Médico Veterinário na segurança e qualidade dos alimentos (Saúde
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Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
Pública), em particular na cadeia produtiva do leite (produção, indústria e comércio),
desta forma objetiva-se com este artigo, demostrar e esclarecer que este profissional é o
grande responsável pela orientação e fiscalização na cadeia produtiva do leite garantindo
um produto seguro para a população e demostrando seu valor para a sociedade.
REVISÃO DE LITERATURA
Atuação e importância do Médico Veterinário na cadeia
produtiva do leite
As principais atribuições do Médico Veterinário estão relacionadas com: higiene,
inspeção e tecnologia de produtos de origem animal (atividade privativa do Veterinário);
prevenção e saúde pública; indústria de ração, medicamentos e defensivos animais; clínica;
ecologia e meio ambiente; produção animal, administração e extensão rural; biotecnologia,
reprodução animal e fisiopatologia da reprodução (BRASIL, 1968). Somado a isso a
Organização Mundial da Saúde criou a Saúde Pública Veterinária, definida como a soma
de todas as contribuições para o bem-estar físico, mental e social dos seres humanos
através de uma compreensão e aplicação da ciência veterinária (WHO, 2013).
Ao analisar o exposto acima, observa-se a amplitude das áreas que o Veterinário
pode atuar. Sendo inquestionável que o Médico Veterinário está apto a atuar em quase
todos os processos de produção e processamento dos alimentos, indo desde o campo
onde o animal é criado, passando pela indústria na qual o produto de origem animal
é processado, até a comercialização e chegada do produto ao consumidor (DUTRAL,
2006; TREVEJO, 2009).
Vale ressaltar que, para se produzir leite com qualidade e segurança para o
consumidor, é de suma importância que os principais atores da cadeia produtiva – como
produtores, Médicos Veterinários e indústrias processadoras – executem o seu papel e
trabalhem em conjunto.
A seguir, serão descritas todas as competências que cabem ao Médico
Veterinário.
Campo (propriedade rural)
No ambiente rural, o Veterinário desempenha papel de orientação do produtor
rural e funcionários encarregados do manejo dos animais. As principais orientações
estão relacionadas ao manejo sanitário, tratamento e principalmente a prevenção de
doenças (gestão veterinária da saúde do rebanho) (LEBLANC et al., 2006; DERKS
et al., 2012; HOGEVEEN, 2012), bem estar animal (CRONEY; BOTHERAS, 2010),
manejo alimentar (BRASIL, 1974; NOORDHUIZEN; WENTINK, 2001), manejo de
ordenha (boas práticas higiênicas e sanitárias) (HOGEVEEN; HUIJPS; LAM, 2011),
acondicionamento e transporte do leite adequado (BRASIL, 2011).
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O Brasil é um dos maiores consumidores de defensivos agrícolas do mundo
(BRASIL, 2009b), devendo o Veterinário também instruir o produtor rural quanto ao uso
deste tipo de produto, visto que existem relatos de contaminação do leite, por exemplo,
por organoclorados (AVANCINI et al., 2013), que podem afetar a imunidade, sistema
reprodutivo e neurológico, metabolismo, e causar até câncer no homem (CASTILLAPINEDO et al., 2010).
Outro exemplo é a contaminação do leite por antibióticos, que representa riscos à
saúde pública, principalmente pela resistência microbiana (MARSHALL; LEVY, 2011;
MEYER, et al., 2013), levando prejuízos a produtores e indústria (ZACOO et al., 2007).
Neste sentido, orientações sobre medidas higiênicas, profiláticas e tratamento das doenças
(respeitando o período de carência e dose dos medicamentos) devem ser fornecidas ao
produtor (LEBLANC et al., 2006).
Colaborando com este controle o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) tem o Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC),
executado por fiscais federais Veterinários que são responsáveis por controlar a violação
dos níveis de segurança de substâncias autorizadas, bem como a ocorrência de compostos
químicos de uso proibido (BRASIL, 1999).
Nos exemplos citados, o Médico Veterinário é o grande responsável por evitar
que o leite fora dos padrões exigidos pela legislação (BRASIL, 2002a; 2011) chegue à
indústria processadora, orientando e fiscalizando o produtor rural e seus funcionários.
Mas, na prática existem muitos casos de adulteração que acontecem dentro da fazenda,
ou no percurso até a indústria que constantemente são noticiados pela mídia, com intuito
de corrigir a densidade do leite ou como conservantes, principalmente pela adição de
água, sal, açúcar e peróxido de hidrogênio, entre outros (KARTHEEK et al., 2011). Cabe
ao produtor rural seguir estas orientações investindo em estratégias preventivas, para
garantir a saúde do rebanho, bem-estar animal, segurança do alimento e saúde pública
(DERKS et al., 2012).
Indústria (usina de beneficiamento e fábrica de laticínios) ou
posto de refrigeração de leite
No âmbito industrial (usina de beneficiamento e fábrica de laticínios) ou posto
de refrigeração de leite, a atuação do Médico Veterinário está relacionada ao cargo
de Responsável Técnico (RT) (BRASL, 1980; CFMV, 1991, 2002), e agente fiscal
(BRASIL, 1968), que pode ser de âmbito municipal (Serviço de Inspeção Municipal),
estadual (Serviço de Inspeção Estadual) ou federal (Serviço de Inspeção Federal ligados
ao MAPA e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA) (BRASIL, 1952,
1989, 2010).
Os RT’s e fiscais instruem e verificam nas indústrias de laticínios e posto de
refrigeração, as condições do transporte do leite in natura dos estabelecimentos produtores
até os locais de armazenamento e processamento. Isso se dá mediante a inspeção dos
152
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
caminhões-tanque, constatando-se aspectos da estrutura física, higienização e temperatura
do leite (RIISPOA, 1952; BRASIL, 2002a, 2011).
Nessa fase, faz-se a coleta de amostras para a realização de análises físico-químicas
(como redutase, pesquisa de resíduos de antibióticos, crioscopia, determinação de sólidos
totais, densidade, acidez titulável, gordura, temperatura e pesquisas de indicadores de
fraudes e adulterações) (BRASIL, 2006a, 2011) e microbiológicas (BRASIL, 2003a),
interpretação dos resultados, determinando o destino adequado do leite in natura dentro
do laticínio (RIISPOA, 1952; BRASIL, 2002a, 2003a, 2006a, 2011).
É também função dos RT’s e fiscais, orientar e fiscalizar: condições técnicas
do laboratório, relacionadas a equipamentos, pessoal, reagentes e técnicas analíticas
(BRASIL, 1952, 2006a); a indústria na aquisição de matéria-prima de boa qualidade e
procedência (BRASIL, 2006); na compra de aditivos (BRASIL, 1997a), embalagens,
desinfetantes, conservantes e sanitizantes (BRASIL, 1997b, 2006b); no controle e/
ou combate de insetos e roedores, evitando contaminação dos alimentos, sendo uma
importante via de transmissão de doenças aos consumidores (BRASIL, 1997b).
Na indústria de laticínio ou posto de refrigeração deve-se manter a higiene
(das instalações, equipamentos e dos colaboradores), seguir os procedimentos
operacionais padrão (higiene, processamento, estocagem e transporte do produto
acabado até o comércio) e evitar contaminação física, química e microbiológica do
leite e seus derivados (BRASIL, 1952, 1984, 1996). Para tanto, cabe ao RT fazer
a empresa seguir as Boas Práticas de Fabricação (BPF) (BRASIL, 1997b, 1997c,
2002b), Procedimento Padrão de Higiene Operacional (PPHO) (BRASIL, 2003b,
2009a), Análise de Perigos e de Pontos Críticos de Controle (APPCC) da empresa
(BRASIL, 1998a) e normas ambientais (BRASIL, 1998b), e o fiscal realizar inspeção
periodicamente (BRASIL, 1989).
Para atingir estes objetivos é necessário o RT realizar treinamento de formação dos
colaboradores envolvidos na manipulação, transformação, embalagem, armazenamento
e transporte dos produtos (BRASIL, 1997b, 1998a, 2003). Outro fator que é de
competência do Veterinário é exigir que as indústrias cumpram rigorosamente o
Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade (RTIQ) dos produtos e os fiscais
auditem (BRASIL, 1996), e aprovem os rótulos dos produtos (BRASIL, 1952).
Em caso extremo, no qual as orientações dos RT’s não são acatadas pela indústria
processadora de leite, o mesmo deverá notificar o Conselho de Medicina Veterinária
que ele está registrado, pois medidas punitivas serão tomadas (CFMV, 1991, 2002).
Já os fiscais podem se utilizar de multas e altos de infração e até o fechamento do
estabelecimento, tudo para preservar a saúde do consumidor (BRASIL, 1952, 1989).
Comercialização
Já no âmbito do comércio (supermercados e hipermercados) de leite e seus
derivados, a função do Veterinário está mais relacionada ao fiscal da vigilância
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
153
sanitária (ANVISA), que orienta e fiscaliza a aquisição de produtos originários de
estabelecimentos com Inspeção Sanitária Oficial, exigindo condições higiênicosanitárias adequadas das instalações e equipamentos, avaliando o controle de insetos e
roedores e prazo de validade dos produtos (BRASIL, 1997c, 2002b), rigoroso controle
da temperatura das câmaras de resfriamento e de estocagem (BRASIL, 1984).
Vale ressaltar que a responsabilidade pelo produto acabado é do estabelecimento
beneficiador (BRASIL, 1990), porém RT (orienta e ajuda a fiscalizar) e o fiscal (que
representa fiscalização, está realizada periodicamente, e também a orientação) têm
responsabilidade direta pela qualidade e segurança do leite e seus derivados produzidos
e, portanto, consumidos pela população (CFMV, 2002).
CONCLUSÃO
Frente ao exposto, conclui-se que, além do Médico Veterinário ser fundamental
como orientador em toda a cadeia produtiva do leite (campo, indústria e comércio),
ele também tem a função de promover a sua fiscalização. Sendo este profissional
responsável por impedir que o leite e seus derivados impróprios para o consumo
cheguem à mesa do consumidor, utilizando para isso, nos casos mais extremos,
comunicação às autoridades competentes (no caso do RT), autuação da indústria ou até
o seu fechamento (no caso do fiscal). Acima de tudo, espera-se que esta contribuição
sirva para a conscientização da sociedade e da própria classe de Médicos Veterinários,
da importância do mesmo na Saúde Pública, no que se refere à qualidade e segurança
do leite, valorizando ainda mais está profissão.
REFERÊNCIAS
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Medicina Veterinária do Estado de Alagoas. Disponível em: <http://www.crmv-al.org.
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154
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
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obrigatórias dos produtos destinados à alimentação animal. Diário Oficial da União,
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BRASIL. Lei n° 7.889, de 23 de novembro de 1989. Dispõe sobre inspeção sanitária
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BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria
n° 540 de 27 de outubro de 1997. Dispõe sobre o Regulamento Técnico: Aditivos
Alimentares-definições, classificação e emprego. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 28 out. 1997a.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria n° 368 de 4 de
setembro de 1997. Dispõe sobre o Regulamento Técnico sobre as Condições HigiênicoSanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Elaboradores/
Industrializadores de Alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 set. 1997b.
BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 326 de
30 de julho de 1997. Aprova o regulamento técnico; condições higiênicos-sanitárias e
de boas práticas de fabricação para estabelecimentos produtores/industrializadores e de
alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 01 ago. 1997c.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria n.°46 de 10 de
fevereiro de 1998. Dispõe sobre Instituir o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos
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Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
Perfil dos produtores de leite
e caracterização técnica das propriedades
leiteiras dos municípios de Rondon do Pará
e Abel Figueiredo, Estado do Pará
Susiane de Oliveira Soares
Ricardo Pedroso Oaigen
José Diomedes Barbosa
Carlos Magno Chaves Oliveira
Tatiane Telez Albernaz
Felipe Nogueira Domingues
Janaina Teles da Silva Maia
Christina Manfio Christmann
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi identificar o perfil do produtor de leite e o grau de tecnificação
empregados nos estabelecimentos leiteiros localizados nos municípios de Rondon do Pará e Abel
Figueiredo, Estado do Pará. A metodologia foi baseada na aplicação de um questionário individual
com os produtores de leite em 38 propriedades rurais, onde estes foram classificados de acordo
com a produção diária de leite em: pequenos produtores (produção diária de até 53 litros), médios
produtores (entre 54 a 133 litros) e grandes produtores (produção diária acima de 133 litros). Foi
selecionada, de forma aleatória, uma amostra proporcional de 15% de cada categoria, sendo portanto
entrevistados 10 pequenos, 18 médios e 10 grandes pecuaristas. A maioria das propriedades rurais
eram gerenciadas por homens. Pequenos e médios produtores tinham um menor nível de instrução
em comparação aos grandes produtores. Verificaram-se aspectos referentes ao perfil do produtor e
caracterização do sistema de produção no que tange as instalações e práticas de manejo reprodutivo,
sanitário e nutricional. O rebanho era constituído de animais mestiços, com média de produção
de leite/sistema de 40 l/dia, 95 l/dia e 313 l/dia e produtividade/animal de 3,35 l/dia, 3,39 l/dia e
4,91 l/dia, respectivamente para pequenos, médios e grandes produtores. Estas informações são
relevantes, pois ajudam a identificar os diferentes níveis de produção e os desafios dos sistemas
de produção leiteiros, auxiliando posteriormente no desenvolvimento de ações e políticas públicas
de apoio ao setor.
Palavras-chave: Sistemas de produção. Produção leiteira. Tipologia. Sudeste paraense.
Susiane de O. Soares e Tatiane Telez Albernaz – Médicas Veterinárias, Mestres em Ciência Animal (UFPA).
Ricardo Pedroso Oaigen – Professor adjunto do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do
Pampa (UNIPAMPA), campus de Uruguaiana-RS.
Carlos M. C. Oliveira, Felipe N. Domingues, Janaina T. S. Maia e José D. Barbosa – Professor do Curso de
Medicina Veterinária da UFPA, campus de Castanhal-PA.
Christina Manfio Christmann – Acadêmica de Medicina Veterinária.
2013
Veterinária em Foco Veterinária
v.10 v.10, n.2,
n.2 jan./jun.
p.159-168
Canoas em Foco,
jan./jun. 2013 159
Profile of producers of milk and technical characteristics of the
properties of milk in Rondon do Pará and Abel Figueiredo, Pará
ABSTRACT
The aim of this study was to identify the profile of the milk producer and characterize
the technical profile of dairy production systems in the municipalities of Rondon do Pará
and Abel Figueiredo, located in the southeast of Pará State. The methodology was based on
applying a questionnaire to individual dairy farmers on 38 farms, where farmers were classified
according to the daily production of milk: small producers (daily production of up to 53
liters), medium farmers (between 54 to 133 liters) and large producers (producing more than
133 liters). Subsequently, we interviewed 10 small, 18 medium and 10 large farmers. It was
found that the properties were mostly run by men. Regarding education, small and medium
farmers had low education, while the major had higher level of education. Several aspects
were verified regarding the producer and characterization of the production system in aspects
related to facilities, reproductive health and nutrition management profile. The herd consisted
of cross bred and had an average of 92 head of cattle (small), 150 head (medium) and 384
head (large).Milk production was minimum of 15 liters/day and maximum of 550 liters/day,
with a yield of 3.35on small holder farmers, 3.39 on medium producers and 4.91 in the major
producers. This information is relevant because they help to highlight the best understanding
of the different types of these systems and tend to assist in the development of public policies
and actions to aid the production chain.
Keywords: Milk production. Production systems. Southeast of Pará. Typology.
INTRODUÇÃO
A região sudeste do Pará se destaca pela produção de leite, visto que 72% dos
estabelecimentos produtores de leite e 79,8% do volume total de leite, de origem
bovina, é proveniente desta região (AMORIM, 2008). A pecuária leiteira transformouse em uma importante atividade econômica, pois representa um dos segmentos
produtivos mais expressivos para a agricultura familiar, visto que essa atividade
tem aumentado em conformidade com o fortalecimento e expansão deste tipo de
agricultura na região (MARTINS, 2001).
Assim, é de extrema importância a caracterização técnica de um sistema de
produção identificando as estruturas e os componentes próprios, iniciando um processo
que possa melhorar e promover a bovinocultura (MOURA et al., 2013).
Como a pecuária leiteira nacional é bastante heterogênea, não existindo um
padrão de produção definido, sobretudo em novas fronteiras agropecuárias, o presente
estudo teve por objetivo identificar o perfil dos produtores de leite e caracterizar o
grau de tecnificação dos sistemas de produção localizados nos municípios de Rondon
do Pará e Abel Figueiredo. Consequentemente ações em prol desta cadeia produtiva
poderão ser coordenadas por órgãos regionais, públicos e/ou privados, de fomento
ao setor.
160
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado na bacia leiteira de Rondon do Pará, abrangendo os
municípios de Rondon do Pará e Abel Figueiredo, Região Sudeste do Estado do
Pará. Inicialmente se buscaram informações em três laticínios da região, onde foi
possível obter dados referentes às propriedades produtoras de leite. A partir de então,
os produtores foram classificados de acordo com a produção diária de leite em:
pequenos produtores (até 53 litros/dia), médios produtores (54 a 133 litros/dia) e
grandes produtores (acima de 133 litros/dia), seguindo a classificação de Barros et al.
(2001). Em seguida por sorteio retirou-se uma amostragem estratificada de 15% de
cada categoria. Dessa forma, 38 produtores foram selecionados, sendo 10 pequenos,
18 médios e 10 grandes, para posteriormente serem visitados, entre os meses de agosto
e setembro de 2009 e janeiro de 2010.
Os dados foram colhidos mediante um questionário adaptado com perguntas
objetivas. Para a análise estatística dos dados foi realizada um análise de frequência.
Para as comparações das médias foi utilizado o teste de Student Newman Keuls (SNK),
ao nível de significância de 5% (p<0,05). Para a execução das análises de variância e
comparação das médias das variáveis (classe de produtores, escolaridade, assistência
técnica, instalações e melhoramento do rebanho), relacionadas à produtividade foi
utilizado o programa NTIA versão 4.2.1 de outubro/95, desenvolvido pela Embrapa,
Campinas-SP. A produtividade foi avaliada dividindo-se o número de vacas em lactação
pela produção de leite diária da propriedade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se neste estudo que as pequenas e grandes propriedades produtoras de
leite eram gerenciadas por homens, sendo constatada a presença de mulheres em apenas
22% (4/18) nos estabelecimentos de tamanho médio.
Pôde-se observar que os filhos tinham participação na atividade leiteira, sendo
mais intensa nos pequenos produtores que apresentavam em média três filhos, com dois
envolvidos na atividade leiteira. Já a média do número de filhos nos médios e grandes
produtores de leite era de dois filhos, com apenas um envolvido na atividade leiteira.
Os resultados deste estudo revelam o homem à frente da pecuária leiteira. Estes
dados estão de acordo com França (2006) que encontrou nos municípios de Esmeraldas
e Sete Lagoas, Minas Gerais, as propriedades na maioria das vezes administradas
por homens, com apenas 5% delas estando sob a responsabilidade do sexo feminino.
Magalhães (2009) cita que com o aumento da importância econômica da produção de
leite para as famílias, os homens passaram a exercem o domínio sobre a atividade. Mas
os dados diferem quanto ao número de filhos envolvidos, pois, 70% dos produtores não
tinham os descendentes envolvidos na atividade leiteira.
Em relação ao nível de escolaridade, este era baixo nos pequenos produtores
sendo 30% analfabetos e 50% com nível fundamental. Nos médios produtores 55%
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
161
eram analfabetos e 5% apresentavam nível superior. Enquanto que na classe dos grandes
produtores, 70% apresentavam nível médio e 30% nível superior.
Foi constatado que o produtor com maior nível escolar buscava maiores
conhecimentos e capacitação sobre inovações tecnológicas e por possuírem maior renda
acabavam investindo mais na propriedade, o que lhes garantia maior produtividade. Para
Zoccal et al. (2011) não só na atividade leiteira, mas em diferentes áreas do agronegócio,
a incorporação de tecnologias e de inovações é importante para tornar os sistemas de
produção cada vez mais eficientes, sustentáveis e competitivos. Tais inovações exigem,
cada vez mais, uma formação educacional consistente por parte do produtor.
Foi verificada a relação entre escolaridade e produtividade do rebanho, sendo
que houve diferença significativa entre os níveis. As vacas dos produtores com maior
escolaridade apresentaram praticamente o dobro de produtividade (p<0,05), conforme
visualiza-se na Tabela 1.
TABELA 1 – Relação entre escolaridade e produtividade.
Escolaridade
Produtividade (l/vaca/dia)
Analfabetos
2,76 a
Fundamental
3,70 ab
Médio
4,35 b
Superior
4,80 b
Médias seguidas pela mesma letra não são significativamente diferentes, pelo teste SNK ao nível de significância de 5% (p≤0,05).
Em todas as classes de produtores, 90% dos pequenos produtores e 50% dos
médios e grandes produtores encontravam-se envolvida com a atividade leiteira por no
máximo 10 anos. 80% dos pequenos, 61% dos médios e 30% dos grandes produtores
de leite informaram que já possuíam experiências na atividade leiteira adquirida em
outros Estados como Bahia, Sergipe, Maranhão e Minas Gerais antes de migrarem
para o Pará.
Dos produtores que manifestaram interesse em ampliar sua produção, 100% destes
pertenciam aos pequenos, 72% aos médios e 80% aos grandes produtores de leite. O
interesse de expansão da produção leiteira por grande parte dos produtores significava
o desejo de tornar a atividade mais lucrativa. Os que não tinham interesse em expandir
sua produção, relataram frustrações decorrentes do baixo preço do leite no mercado ou
não viam a continuação da atividade pelos seus descendentes.
Nas propriedades com pequena produção leiteira, 80%, a mão de obra familiar tinha
participação ativa no processo de produção e 20% utilizavam mão de obra contratada.
Estes últimos eram grandes pecuaristas de gado de corte que tinham a atividade leiteira
como fonte secundária de renda. Já nos médios e grandes produtores havia predominância
da mão de obra contratada.
162
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
A agricultura familiar constituía a base familiar dos pequenos produtores. Estes
dados corroboram com os encontrados por Tourrand et al. (1998) e Alves et al. (2006)
que encontraram a predominância da agricultura familiar nas pequenas propriedades do
Sudeste paraense. Paes (2003), também encontrou condição semelhante em Rondônia,
onde a mão de obra utilizada na produção de leite era tipicamente familiar, com 85% do
trabalho sendo de mão de obra familiar e 15% contratada.
A agricultura familiar é uma forma de produção em que o núcleo de decisões,
planejamento, gerência, trabalho e capital é controlado pela família. Em geral, são
produtores com baixo nível de escolaridade e renda que diversificam suas atividades para
aproveitar as potencialidades da propriedade, melhor ocupar a mão de obra disponível e
aumentar a renda (ROSANOVA et al., 2010).
Dos pequenos produtores analisados 60% exploravam a pecuária leiteira
como atividade exclusiva para a geração de renda familiar. Outros tinham atividades
concomitantes, como agricultura e bovinocultura de corte. Nos médios produtores 89%
exploravam apenas o leite na propriedade, outros investiam em gado de corte e suínos.
Já os grandes produtores em 80% dos casos exploravam a pecuária leiteira juntamente
com a pecuária de corte.
Os currais onde os animais eram manejados nas propriedades possuíam piso de chão
batido, que nos períodos de chuva acumulava lama e quando possuíam áreas cobertas,
essas eram insuficientes para o abrigo dos animais. Nos estabelecimentos de grande
produção leiteira as estruturas eram consideradas boas, com áreas cobertas suficientes
para abrigar os animais e o piso em 70% eram calçados ou concretados, o que permitia
uma boa higienização.
Ao relacionar as condições das instalações com a produtividade do rebanho,
verificou-se que aquelas que possuíam melhor infraestrutura possuíam maior produtividade
(p<0,05), conforme Tabela 2.
TABELA 2 – Estado de conservação das instalações e produtividade.
Instalações
Produtividade (l/vaca/dia)
Bom
4,42 a
Ruim
3,94 ab
Péssimo
3,19 b
Médias seguidas pela mesma letra não são significativamente diferentes, pelo teste SNK ao nível
de significância de 5% (p≤0,05).
As propriedades dos pequenos produtores apresentavam em média 92 cabeças
de gado, sendo que as vacas representavam em média 50% da constituição geral do
rebanho, onde 48% eram vacas em lactação. As propriedades dos médios produtores
apresentavam-se com média em torno de 150 cabeças de gado, sendo 65% vacas
leiteiras e 44% correspondentes às vacas em lactação. As propriedades dos grandes
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
163
produtores apresentavam-se com média em torno de 384 cabeças de gado, sendo que
as vacas representavam 53% da constituição geral do rebanho, onde 45% eram vacas
em lactação. Estes resultados mostram a ineficiência em produção e produtividade
de leite nos sistemas de produção da região analisada, visto que o ideal é que cerca
de 80 a 85% das vacas estejam lactando.
Foi verificada a produção e produtividade média do rebanho leiteiro, por classe
de produtores. A produção de leite mínima observada entre os pequenos produtores
foi de 15 litros/dia e a máxima de 53 litros/dia, sendo a média de 40 litros/dia e
produtividade de 3,35 litros/vaca/dia. A produção mínima de leite dos médios
produtores foi 60 litros/dia e a máxima de 120 litros/dia, sendo a média de 95 litros/
dia e produtividade de 3,39 litros/vaca/dia. A produção mínima de leite dos grandes
produtores foi de 150 litros/dia e a máxima de 750 litros/dia, sendo a média de 313
litros/dia e produtividade de 4,91 litros/vaca/dia. Estes resultados são similares aos
encontrados por Tourrand et al. (1998) em Uruará/Pa onde a produtividade média por
vaca, encontrava-se em torno de 4 a 5 litros/dia, muito aquém do ideal.
Os rebanhos eram compostos por animais mestiços de Gir, Girolanda, Nelore
e Guzerá. Dos entrevistados, 100% dos pequenos e 72% dos médios produtores
não realizavam práticas de melhoramento genético do rebanho, ao contrário dos
grandes produtores, onde 90% investiam na compra de boas matrizes e reprodutores
ou empregavam a inseminação artificial. Uma característica regional é o uso de
animais para leite sem o padrão racial desejado, visto que as raças Nelore e Guzerá
são de corte. A justificativa dos produtores é que caso a cria seja macho, o animal
poderia ser manejado no rebanho de corte da propriedade, o que demonstra uma baixa
especialização dos rebanhos regionais.
Nos sistemas que já possuíam algum grau de seleção genética foi verificado uma
correlação positiva entre produtividade e o uso de ferramentas de melhoramento do
rebanho, p<0,05, vide Tabela 3. Estes resultados estão de acordo com Galinari (2004)
que encontrou em Minas Gerais, as maiores produtividades naqueles produtores que
apresentavam maior nível tecnológico e adotavam maior número de práticas que
viabilizavam a atividade leiteira de forma eficiente e que lhes conferiam uma média
de produção de leite mais expressiva.
TABELA 3 – Melhoramento do rebanho e produtividade
Melhoramento do rebanho
Produtividade (l/vaca/dia)
Sim
4,49 a
Não
3,37 b
Médias seguidas pela mesma letra não são significativamente diferentes, pelo teste SNK ao nível
de significância de 5% (p≤0,05).
O tipo de reprodução empregada nas pequenas e médias propriedades de leite era
a monta natural. Enquanto 50% das grandes propriedades utilizavam a inseminação
164
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
artificial. O que também foi observado por Azevedo et al. (2008), na mesorregião do
Norte de Minas Gerais, em 68% das propriedades estudadas.
Em relação à ordenha, esta era realizada uma vez ao dia. Foi observado que 100%
dos pequenos e 89% dos médios produtores realizavam a ordenha em curral de chão
batido sem cobertura. Outro ponto importante é que apenas 20% dos grandes produtores
realizavam linha de ordenha e testes para a detecção da mastite. Provavelmente, os que
não faziam uso de medidas higiênico-sanitárias por ocasião da ordenha tinham pouca ou
nenhuma orientação sobre medidas básicas de controle de qualidade do leite, da mastite
e dos seus prejuízos.
O desmame do bezerro era realizado em média em torno do oitavo mês de idade, por
todas as classes de produtores. Para o controle de ectoparasitas, destacou-se o emprego da
cipermetrina em todas as propriedades. Os tratamentos eram realizados sem critério por
grande parte dos produtores, ou seja, sempre que apareciam infestações por ectoparasitas
no rebanho. Para o controle de endoparasitas, as bases terapêuticas mais citadas em ordem
decrescente foram as ivermectinas, cipermetrina e abamectina. Os intervalos de aplicação
nos animais eram realizados de seis em seis meses, juntamente com a vacinação contra
febre aftosa, o que facilitava o manejo dos animais.
Em geral a alternância de produtos para endoparasitas e ectoparasitas era feita sem
critério ou orientação técnica. Práticas como fornecimento de sal mineral adicionado de
benzocriol (cresol + fenol), de creolina (cresol), ou simplesmente de vitaminas também
foram citadas como medidas para manutenção da saúde dos animais ou para controle de
endoparasitas e ectoparasitas.
Para a prevenção de enfermidades, todos os proprietários realizavam vacinação
contra febre aftosa e 70% dos pequenos produtores, 94% dos médios e 100% dos grandes
para brucelose. A terceira vacina mais empregada era contra clostridioses, sendo realizada
por 60% dos pequenos, 94% dos médios e 100% dos grandes produtores. A vacina contra
raiva era feita por 10% dos pequenos, 22% dos médios e 20% dos grandes produtores.
As pastagens em 85,3% das propriedades eram de capim braquiarão (B. brizantha),
sendo que em 14,7% havia também o capim mombaça (Panicum maximum). As pastagens
constituíam, em 92% das propriedades, a única fonte de alimentação dos animais. Alguns
produtores utilizavam subprodutos como a torta de babaçu, cevada, milho, raspa de
mandioca, soja, capineiras de Pennisetum purpureum var.cameron ou cana de açúcar
para suplementação no período da seca.
Estes dados estão de acordo com os achados de Veiga et al. (2001), que verificou nas
condições amazônicas a pastagem como base da produção leiteira e, muitas vezes, o único
insumo do sistema. Embora alguns produtores utilizassem subprodutos na alimentação,
verificou-se in loco que tanto as áreas de capineiras com de cana de açúcar como a
quantidade dos subprodutos utilizados eram insuficientes para atender às exigências
nutricionais dos rebanhos leiteiros.
A suplementação mineral era uma mistura composta por sal mineral pronto para
consumo, misturado nas proporções de 1:1 ou 1:2 com cloreto de sódio. Segundo
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
165
Tokarnia et al. (2000), em estudos realizados na região Amazônica, onde as carências
de fósforo, cobre e cobalto são muito marcadas, recomenda-se a suplementação o ano
inteiro com suplementos contendo fosfato bicálcico, cloreto de sódio, sulfato de cobre,
óxido de zinco ou sulfato de zinco, sulfato de cobalto e selenito de sódio.
Os cochos utilizados para o fornecimento das misturas minerais, nas pequenas e
médias propriedades, eram inadequados, pois não possuíam cobertura, nem proteções
laterais necessárias para proteger a mistura mineral da chuva. Foi observado também
nestes sistemas que a área de cochos era insuficientes para o número de animais
existentes. Por outro lado nas propriedades com grande produção de leite, 80% dos
cochos eram cobertos com proteções laterais adequados para o fornecimento das
misturas mineral.
Segundo Peixoto et al. (2005), os cochos são elementos fundamentais na
suplementação, devendo ser cobertos e protegidos da chuva, pois a água solubiliza
parte dos componentes da mistura. Também, devem ser em número suficiente e ter
uma área medindo cerca de 4 cm de espaço linear por animal com mistura mineral,
entretanto se for usado mistura múltipla (mineral com ureia, farelos e/ou grãos), esta
medida deve ser cerca de 20 cm linear por animal.
Verificou-se também que as vias de acesso era uma das principais limitações da
cadeia produtiva, o que implicava em isolamento e dificuldade de comercialização do
produto. Em algumas propriedades os latões de leite ficavam horas expostos ao sol, pois
alguns produtores tinham como única alternativa esperar que os caminhões oriundos
dos laticínios viessem buscar o leite.
O transporte do leite era feito por motociclistas, caminhões, e outros meios
alternativos, como a utilização de animais de carga. Foi observado que os latões de
leite ficavam descobertos durante o transporte e chegavam muitas vezes no período
da tarde nos laticínios.
CONCLUSÕES
A bacia leiteira de Rondon do Pará e Abel Figueiredo apresenta grande importância
econômica para a Região Sudeste do Estado do Pará, sendo uma região promissora para
desenvolvimento desta atividade, sobretudo pelo crescimento vertical (maior produção
por área e por animal) dos sistemas de produção.
No entanto existem entraves ao desenvolvimento deste setor, sendo estes
relacionados, sobretudo, ao manejo sanitário, reprodutivo e nutricional do rebanho, ao
baixo nível de capacitação dos recursos humanos envolvidos na atividade, tendo como
consequência a baixa produção do rebanho e uma rentabilidade aquém do ideal, quando
comparada com outras opções de emprego de capital. Outro ponto crítico são as vias
de acesso às propriedades rurais, que contribuem para a diminuição da qualidade do
produto final e limitação da expansão da cadeia produtiva.
166
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
Trabalhos deste porte são importantes para identificar informações úteis à
cadeia produtiva da bovinocultura leiteira, auxiliando órgãos públicos e privados na
elaboração de políticas e ações de fomento que busquem otimizar a geração de renda
das empresas rurais.
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168
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
Influência do arranjo de plantas sobre a
composição bromatológica da silagem de milho
Danilo Abade Costa
Felipe Nogueira Domingues
Marilice Zundt Astolphi
Diego Azevedo Mota
Ricardo Pedroso Oaigen
Juliano Calonego
Augusto Sousa Miranda
RESUMO
Objetivamos com este estudo avaliar a composição bromatológica da silagem de milho
semeado em diferentes densidades de plantas com diferentes espaçamentos entre linhas. Os
tratamentos foram constituídos por três populações de plantas de milho, 45, 60 e 75 mil plantas/ha,
combinadas em dois espaçamentos entre linhas, 0,45m e 0,90m, em delineamento experimental em
blocos ao acaso com quatro repetições em esquema fatorial 3 x 2 (3 populações x 2 espaçamentos).
Os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), extrativo não nitrogenado (ENN),
matéria mineral (MM) e nutrientes digeríveis totais (NDT), não apresentaram diferença (P>0,05)
tanto para as densidades (45.000, 60.000 e 75.000 plantas/ha) quanto para o espaçamento entre linhas
(0,45m e 0,90m). O fator espaçamento interagiu com fator densidade de plantas na concentração de
fibra em detergente ácido (FDA) presente nas silagens, sendo que nas densidades de espaçamento
reduzido (0,45m), o FDA foi maior (P<0,05). As pequenas alterações causadas na arquitetura das
plantas não são suficientes para causar mudanças na composição bromatológica da silagem, com
exceção no teor de fibra em detergente ácido que aumenta com arquiteturas mais adensadas.
Palavras-chave: Espaçamento entre linhas. População de plantas. Composição química.
Forragem conservada.
Influence of plants arrangement on the bromatological composition
of corn silage
ABSTRACT
The objective of this study was to evaluate the silage bromatological composition of corn
planted at different plant densities and different row spacings. The treatments consisted of three
populations of corn: 45, 60 and 75 thousand plants ha- 1; combined in two row spacings 0.45m
Danilo Abade Costa é zootecnista.
Felipe Nogueira Domingues é Professor Adjunto da Universidade Federal do Pará, Campus de Castanhal.
Marilice Zundt Astolphi e Juliano Calonego são Professores da Universidade do Oeste Paulista.
Diego Azevedo Mota é Professor Adjunto da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus de Erechim.
Ricardo Pedroso Oaigen é Professor Adjunto da Universidade Federal do Pampa, Campus de Uruguaiana.
Augusto Sousa Miranda é mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal da Universidade
Federal do Pará.
Endereço: Avenida Universitária S/N, Bairro Jaderlândia, CEP: 68745-000, Castanhal/PA.
E-mail: [email protected]
Veterinária em Foco Veterinária
v.10 v.10, n.2,
n.2 jan./jun.
p.169-177
Canoas em Foco,
2013
jan./jun. 2013 169
and 0.90m. The experimental design was randomized blocks with four replications in factorial
scheme 3 x 2 (3 populations x 2 spacings). The was no statistical difference (P > 0.05) for all
densities (45,000, 60,000 and 75,000 plants/ha) and spacings (0.45m and 0.90m) regarding
these parameters dry matter (DM), crude protein (CP), crude fiber (CF), neutral detergent fiber
(NDF), acid detergent fiber (ADF), Fat, nitrogen free extract (NFE), Ash, total digestible nutrients
(TDN). The spacing interacted with the plant density and affected the concentration of the acid
detergent fiber (ADF) in the silage: the FDA was higher (P < 0.05) in the reduced spacing (0.45 m)
densities. Minor changes in the plants’ architecture are not sufficient to cause changes in the silage
bromatological composition, with the exception of the acid detergent fiber content that increases
in more densely architectures.
Keywords: Row spacing. Plant population. Chemical composition. Conserved forage.
INTRODUÇÃO
O milho é a mais importante planta comercial com origem nas Américas, sendo uma
das culturas mais antigas do mundo. Logo depois de seu descobrimento, foi levado para a
Europa, onde era cultivado em jardins, até que seu valor alimentício tornou-se conhecido.
Sua importância econômica é caracterizada pelas diversas formas de sua utilização que
vai desde a alimentação animal até a indústria de alta tecnologia. Isso se deve ao seu alto
valor energético, sua boa composição em fibras, além do seu alto potencial de matéria
seca (MS) aliado à produção de grãos que enriquece a silagem produzida. Contudo, a
qualidade da forragem pode variar bastante em função do nível de tecnologia e do sistema
de manejo utilizado no processo produtivo. Esta qualidade irá influenciar diretamente os
ganhos de produção animal, daí a necessidade de se conhecer a composição da forragem
utilizada (LESKEM; WERMKE, 1981; PAIVA, 1991).
A utilização de silagem para a alimentação de animais ruminantes é prática rotineira
nos estados de pecuária desenvolvida. A silagem é, sem dúvidas, um alimento bom,
barato e de boa qualidade nutritiva para suplementar o rebanho, não só em períodos de
escassez, mas também na forma de complementação alimentar o ano todo e vem sendo
intensificamente estudada (SOUZA et al. 2000; NEUMANN, M. et al. 2007; VELHO
et al. 2007).
Por suas características, permite a armazenagem de grandes volumes de alimentos,
permitindo aumentar a densidade de ocupação do campo, aumentar a produção de carne e
leite, diminuindo a utilização de outras rações mais caras e reduzindo, portanto, os custos
de produção (GOMEZ, 1988).
A população ideal de plantas deve ser uma preocupação constante quando se visa
à produção de silagem de alta qualidade (NUSSIO, 1991).
Vários trabalhos de pesquisa têm mostrado que em cultivos com maiores
populações de plantas as silagens obtidas são de baixa qualidade (MUDSTOCK, 1978;
PIZARRO, 1978; FARIA 1986; POZAR; ZAGO, 1991; PAIVA et al., 1993), pois em
cultivos com maiores populações resultam em plantas mais altas e finas, com isso ocorre
uma maior deposição de FDA, que está ligada com a digestibilidade da forragem, onde
quanto maior o teor de FDA, menor a sua digestibilidade.
170
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
A interceptação da radiação fotossinteticamente ativa sobre as plantas exerce grande
influência sobre o rendimento de grãos do milho quando outros fatores ambientais são
favoráveis (OTTMAN; WELCH, 1989).
Portanto, a escolha do arranjo de plantas adequado é uma das práticas de manejo
mais importantes para otimizar o rendimento de grãos de milho, pois afeta diretamente
a intercepção de radiação solar, que é um dos principais fatores determinantes da
produtividade (OTTMAN; WELCH, 1989; SINCLAIR, 1993; EVANS, 1993).
Para produção de silagem, tanto de planta inteira como de grão úmidos, o arranjo de
plantas é mesmo utilizado para a produção de grãos (PEREIRA FILHO et al., 2000).
Usando altas populações de plantas, observaram que houve melhoria na qualidade
A devido ao aumento de carboidratos
B
da fibra bruta
solúveis no colmo (LESKEM;
WERMKE, 1981).
Todavia, as altas densidades de plantas têm alta correlação com a redução do peso
de espigas, o que poderia prejudicar a qualidade de silagem (BARBOSA, 1995). Segundo
Oliveira et al. (2010), a FDA está relacionada com a digestibilidade da forragem, pois
é ela que contêm a maior proporção de lignina, indicando assim, a quantidade de fibra
que não é digestível.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a composição bromatológica da silagem de milho
semeado em diferentes densidades de plantas com diferentes espaçamentos entre linhas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Granja São Bento, em Indiana (SP), em um solo
classificado como Argissolo Vermelho de textura média (EMBRAPA, 2006). A localização
geográfica dessa área está definida pelas coordenadas geográficas: 22º10’ latitude sul e
51º15’ longitude oeste de Greenwich, com altitude média de 479 metros e declividade
variável de 0 a 3%. O clima da região é do tipo CWb, pela classificação de Köppen,
caracterizado como clima quente com inverno seco e verão chuvoso.
No dia 15 de dezembro de 2008 foram coletas 10 amostras de solo na camada de 0
a 20cm de profundidade, que foram misturadas para obtenção de uma amostra composta
e encaminhada para análise química (RAIJ et al., 2001) para caracterização da área, cujo
resultados foram: pH (CaCl2 0,01 mol L-1) 4,9; 18 g dm-3 de MO; 10mg dm-3 de Presina;
27 mmolc dm-3 de H+Al; 1,2 mmolc dm-3 de K; 14 mmolc dm-3 de Ca; 7 mmolc dm-3 de
Mg; 22 mmolc dm-3 de SB; 49 mmolc dm-3 de CTC; saturação por bases de 45%.
Os tratamentos foram constituídos por três populações de plantas de milho, 45, 60
e 75 mil plantas ha-1, combinadas em dois espaçamentos entre linhas, 0,45m e 0,90m,
em delineamento experimental em blocos ao acaso com quatro repetições em esquema
fatorial 3 x 2 (3 populações x 2 espaçamentos).
A área foi dividida em quatro blocos com 29m de comprimento por 3,6m de
largura, sendo cada parcela com 4m de comprimento por 3,6m de largura, espaçadas em
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
171
1m de distância. Considerou-se como área útil de cada parcela as duas linhas centrais
de milho, desconsiderando 0,5m do início e do final de cada parcela.
Utilizou-se o milho híbrido duplo AG 1051, caracterizado pela arquitetura foliar
aberta, ciclo semiprecoce (soma térmica de 875o C dia), grãos dentados amarelo, altura
de planta e altura de inserção de espiga com 2,20m e 1,12m, com recomendação para
produção de grãos, silagem e milho verde (PALHARES, 2003).
O milho foi semeado manualmente no dia 7 de janeiro de 2009, após preparo do
solo com aração e gradagem, além da incorporação de calcário (2 t ha-1) para correção
da acidez do solo. As doses de adubos e corretivos foram realizadas de acordo com
analise química do solo, seguindo recomendações de Raij et al. (1996).
Na adubação de plantio foram aplicados 300 kg/ha do formulado (NPK) 4-14-8
na linha de semeadura. No dia 10 de fevereiro de 2009, com as plantas apresentando
6 folhas totalmente desdobradas, aplicou-se 60 kg/ha de N, via ureia, em linha e
incorporado ao solo.
Com 110 dias após o plantio, as plantas inteiras foram cortadas aleatoriamente 10
plantas por parcela de cada bloco, a uma altura de corte de 5 a 7cm do solo, totalizando
40 plantas. As plantas foram levadas até uma picadeira estacionária, onde foram picadas
separadamente por tratamentos obtendo partículas de ± 1cm. Após a picagem o material
foi homogeneizado e ensilado em silos experimentais feitos com canos de PVC que
possuía válvulas de Bunsen para a saída de gases. Para cada tratamento foram utilizados
4 silos, totalizando 4 repetições por tratamentos.
Com 70 dias após a ensilagem, os silos foram abertos individualmente, descartando
toda parte deteriorada e a silagem foi homogeneizada em uma bacia plástica e
encaminhada ao laboratório de Nutrição Animal da UNOESTE para a determinação dos
teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), fibra em detergente
neutro (FDN), fibra em detergente acido (FDA), matéria mineral (MM), extrato
etéreo (EE), extrativo não nitrogenado (ENN) de acordo com Silva e Queiroz (2002)
e nutrientes digeríveis totais (NDT) de acordo com Capelle et al. (2001).
O delineamento experimental foi de bloco casualizado com 4 repetições
em esquema fatorial 3 x 2 (3 populações x 2 espaçamentos), sendo as médias
comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, seguindo o modelo
estatístico:
Yij = μ+ PPi + ESj + PPES + BL + eijk
Sendo que:
μ = constante geral;
PPi = populações de plantas;
ESj = espaçamento entre linha;
PPES = interação entre população de plantas e espaçamento entre linhas;
BL = blocos;
eijk = erro associado.
172
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A composição bromatológica das silagens confeccionadas com as diferentes
densidades (45.000, 60.000 e 75.000 plantas/ha) e espaçamentos entre linhas (0,45m e
0,90m) está apresentada na Tabela 01.
Para a matéria seca (MS), as médias observadas foram: 34,85%; 34,32%; e 36,57%
(para as diferentes densidades), e 35,09% e 35,41% (para os espaçamentos entre linhas),
sendo que os valores encontrados estão dentro dos valores considerados adequados a
um bom padrão fermentativo, que varia entre 30 a 35% de MS (FERREIRA, 2001).
Vale ressaltar, que teores de MS acima de 35% dificultam a compactação do material
ensilado e expulsão do ar; e teores abaixo de 28% proporcionam acréscimo na lixiviação,
consequentemente perda de nutrientes e redução do material ensilado (PERREIRA et
al., 2007).
A matéria mineral (MM) não diferiu (P>0,05) entre as diferentes densidades e
espaçamentos entre linhas estudados. O teor de MM de silagens de milho somente sofre
variações quando são aplicadas diferentes doses de adubação, pois esta prática provoca
uma maior absorção de nutrientes disponíveis no solo. Contudo, o valor médio obtido,
de 5,11 (%MS), encontra-se dentro dos limites (4,6 a 5,6%) indicados por Ensminger et
al. (1990) para silagens de milho.
TABELA 1 – Composição bromatológica das silagens de milho.
População de plantas/ha
Var.
Espaçamento
entre linhas (m)
Efeito
CV (%)
45000
60000
75000
0,45
0,90
POP
ESP
POP x
ESP
MS
34,85
34,32
36,57
35,09
35,41
NS
NS
NS
5,95
PB
9,30
7,75
7,78
7,89
8,65
NS
NS
NS
14,71
MM
4,83
5,16
5,35
5,23
5,00
NS
NS
NS
18,89
EE
2,99
3,10
2,92
2,85
3,15
NS
NS
NS
14,69
ENN
58,10
59,66
59,54
59,22
58,98
NS
NS
NS
4,39
FB
24,78
24,31
24,39
24,80
24,20
NS
NS
NS
6,63
FDA
30,07
30,98
33,00
32,10
30,60
*
*
*
4,28
FDN
60,01
59,73
55,94
58,01
59,11
NS
NS
NS
8,33
NDT
64,64
64,79
64,20
63,90
65,19
NS
NS
NS
2,75
NS= não significativo; * P<0,05; POP = população de plantas por/ha; ESP = espaçamento entre linhas; POP x
ESP = interação entre população de plantas e espaçamento entre linhas.
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
173
A silagem obtida da densidade de 45000 plantas/ha e com o espaçamento
entre linhas de 0,90m apresentaram os maiores teores de PB, sendo 9,30 e 8,65%,
respectivamente. No entanto, estes valores não diferiram estatisticamente dos teores
obtidos nas silagens oriundas das demais densidades e espaçamentos avaliadas. O
valor médio obtido para a concentração de proteína bruta (PB) foi de 8,27 (%MS).
Sendo que esta media está acima do valor de PB estabelecido por Ferreira (2001) de
silagem de boa qualidade apresenta teor de PB em torno de 7-8%. Diversos podem ser
os motivos destes valores acima da concentração considerada ideal na literatura, que
vão desde o uso de diferentes híbridos de milho até erro de amostragens visando às
posteriores analises laboratorial. Neste sentido, pode-se observar os resultados obtidos
por Possenti et al. (2005), que avaliou parâmetros bromatológicos de silagem de milho
semeado com 5 sementes/m a um espaçamento de 0,80m, obtendo silagem com um
teor de proteína bruta em torno de 9,4%.
Para fibra bruta (FB), a média geral observada foi de 24,49% (%MS), a qual se
encontra bem próxima da média (24.50%) indicada por Ensminger et al. (1990) para
silagens de milho. Desta mesma forma, o teor médio de extrativos não nitrogenados
(ENN), que foi de 59,10% ficou bem próximo da média (60,30%) indicada pelos
mesmos autores.
Não houve diferença nos teores de fibra em detergente neutro entre os parâmetros
estudados. A média de 58,56% obtida neste ensaio está acima dos valores, que são de
51,00% e 52,00%, preconizados para silagens de milho pelo NRC, (1984) e NRC,
(1996), respectivamente. Este alto valor de FDN encontrado e preocupante e deve-se,
provavelmente, à menor quantidade de grãos nas silagens e/ou às condições climáticas
desfavoráveis ao crescimento do milho (ALFAYA et al., 2009).
Os teores de extrato etéreo (EE) obtidos neste ensaio não apresentaram diferença
(P>0,05) tanto para densidade quanto para espaçamento entre linhas. A concentração
média obtida foi de 3,00%, resultado próximo do encontrado por Campos et al. (2000),
de 2,2% da MS em silagens de milho com 29,3% de MS. No entanto, a determinação do
teor de EE teve como objetivo utilizá-lo no cálculo dos nutrientes digestíveis totais.
Os valores de NDT estimados pela fórmula proposta por Cappelle et al. (2001)
não apresentaram diferença entre os diferentes parâmetros. A média geral obtida foi
de 64,54%, os quais foram semelhantes aos tabelados por Tedeschi et al. (2002) para
silagens de milho produzidas no Brasil (65,4%), estimadas pela equação de Weiss et al.
(1992), e superiores também aos de NDT observado (60,2%) e estimado (62,5%) por
Costa et al. (2005) pelas equações do NRC (2001). Cappelle et al. (2001), revisando os
teores de NDT de silagem de milho na literatura brasileira, verificaram valores mínimos
de 55,47% e máximo de 63,87%.
De acordo com a Tabela 2, foi possível observar que o fator espaçamento interagiu
com fator densidade de plantas na concentração de fibra em detergente neutro (FDN)
presente nas silagens, sendo que nas densidades de espaçamento reduzido (0,45m), o
FDA foi maior (P<0,05). Provavelmente este aumento no teor de FDA. Em maiores
174
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
populações de plantas e com espaçamento reduzido, houve um aumento no teor de
FDA devido à estrutura das plantas, que ficaram mais altas e finas.
Valer ressaltar que o teor de FDA está relacionado com a digestibilidade da forragem,
pois é ela que contém a maior proporção de lignina, que é a fração da fibra indigestível,
indicando assim a quantidade de fibra que não é digestível (OLIVEIRA et al., 2010).
TABELA 2 – Desmembramento da interação entre os tratamentos para a variável fibra
em detergente ácido (FDA).
Espaçamento entre linhas (m)
População plantas/ha
Média
0,45
0,90
45000
29,52 cA
30,62 aA
30,07
60000
32,07 bA
29,88 aB
30,97
75000
34,72 aA
31,29 aB
33,00
Média
32,10
30,60
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem (P>0,05) estatisticamente
pelo teste de Tukey.
CONCLUSÕES
As pequenas alterações causadas na arquitetura das plantas não são suficientes para
causar mudanças na composição bromatológica da silagem, com exceção no teor de fibra
em detergente neutro que aumenta com arquiteturas mais adensadas.
AGRADECIMENTOS
À Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) pelo auxílio financeiro.
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Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
177
Avaliação do desempenho biológico
de bovinos de corte terminados sobre
pastagens de azevém (Lolium multiflorum)
e milheto (Pennisetum glaucum)
Carlos Santos Gottschall
Leonardo Rocha da Silva
Fábio Tolotti
RESUMO
O cultivo de pastagens representa uma alternativa para melhorar a eficiência biológica na
terminação de bovinos de corte. Para isso, é importante conhecer as variáveis no desempenho dos
animais sobre diferentes pastagens. No presente trabalho, avaliaram-se dados de 1071 bovinos,
machos, castrados, entre três a cinco anos de idade. Os animais, recriados em campo nativo,
foram terminados sobre pastagens cultivadas de azevém e milheto. Nos invernos de 2010 e 2011
foram terminados 710 animais em pastagens de azevém e nos verões de 2010/11 e 2011/12 foram
terminados 361 animais em pastagens de milheto. Para avaliar o desempenho animal foi determinado
o ganho médio diário de peso (GMD), o ganho médio de peso (GP) e a idade dos animais (IA).
As variáveis usadas foram peso médio inicial (PMI), peso médio final (PMF) e tempo médio de
permanência (TMP) nas pastagens. O GMD e o GP foram respectivamente de 1,22 kg/dia e 87,3 kg
nas pastagens de azevém e 1,43 kg/dia e 55,5 kg nas pastagens de milheto. A IA média dos animais
terminados em azevém no inverno de 2010 foi de quatro anos e no inverno de 2011 de três anos, dos
animais terminados em milheto foi de três anos e meio em ambos os ciclos. O GMD e o GP foram
significativamente diferentes (P<0,01) para as pastagens de azevém e milheto. A IA não exerceu
influência no GMD e no GP. O cultivo de pastagens representa uma alternativa para melhorar o
desempenho de bovinos de corte, com diferentes idades, na terminação, durante todo o ano.
Palavras-chave: Cultivo. Engorda. Pasto.
Biological performance evaluation of beef cattle finished in ryegrass
pasture (Lolium multiflorum) and millet (Pennisetum glaucum)
ABSTRACT
The raising of pastures is an alternative to improve biological efficiency in finishing beef
cattle. For this, it is important to know the variables performance on different pastures. In this
Carlos Santos Gottschall – Médico Veterinário, Doutor, Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária da
Universidade Luterana do Brasil (ULBRA).
Leonardo Rocha da Silva – Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA, bolsista de Iniciação
Científica PROBITI / FAPERGS.
Fábio Tolotti – Médico Veterinário Autônomo.
Endereço: Av. Farroupilha, 8001. Canoas, RS. Bairro São José. Prédio 14 sala 126. CEP 92425-900. Carlos
Gottschall. E-mail: [email protected]
v.10 v.10, n.2,
n.2 jan./jun.
p.178-185
Canoasem Foco,
178Veterinária em Foco Veterinária
2013
jan./jun. 2013
work were evaluated data from 1071, castrated male bovine between three to five years of age.
The animals before finishing were recreated in native field, and after were finished on cultivated
pastures of ryegrass and millet. In the winters of 2010 and 2011 were finished 710 animals and in
the summers of 2010/11 and 2011/12 were finished 361 animals. To evaluate the performance of the
animals was determined the average daily weight gain (DWG), average weight gain (WG) and age
animal (AA). The variables used were initial average weight (IAW), average final weight (AFW)
and average time of permanence (ATP) in pastures. The DWG and WG were respectively of 1,22
kg/day and 87,3 kg in ryegrass pastures and 1,43 kg/day and 55,5 kg in the pastures of millet. The
AA not influences the DWG and WG. The cultivated pastures represent an alternative to improve
animal performance in finishing beef cattle with different ages throughout the year.
Keywords: Cultivation. Fattening. Pasture.
INTRODUÇÃO
A intensificação na terminação de bovinos de corte é um caminho a ser seguido, e o
cultivo de pastagens representa uma alternativa para melhorar a eficiência desses animais
(RESTLE et al., 2000; CANELLAS et al., 2011). Diferentemente da alimentação em
confinamentos que, de forma geral, tem estabilidade no fornecimento de nutrientes, a
qualidade da forragem em pastejo sofre constantes flutuações no seu valor nutritivo e
produtivo (CARVALHO et al., 2005). Segundo Lobato (1985), em condições extensivas,
de campo nativo, os animais estão mais expostos às variações cíclicas das forragens. O
campo nativo, por si só, não é suficiente para os animais obterem altas taxas de ganho de
peso e atingindo o máximo do seu potencial produtivo, o que limita o seu desempenho
e retarda a idade ao abate (NRC, 1996; RESTLE et al., 2002). O cultivo de pastagens
garante aos animais grandes quantidades de matéria seca de boa qualidade e com poucas
oscilações no valor nutritivo (CARVALHO et al., 1999). No entanto, o fornecimento de
nutrientes via pasto com obtenção de elevadas taxas no ganho de peso é uma atividade
complexa e exige conhecimentos (CARVALHO et al., 2005). O domínio das variáveis
do desempenho animal sobre as diferentes pastagens é fator preponderante no sucesso
do sistema (RESTLE et al., 2000). Portanto, a eficiência na produção animal a pasto
resulta da produção de forragem, consumo da forragem e desempenho animal, que é
a capacidade dos animais de converter forragem em proteína, sendo fundamental a
harmonia desses três processos (PAULINO et al., 2004).
A implantação de pastagens de inverno visando à terminação de bovinos de
corte é cada vez mais comum, visto que o campo nativo, neste período, apresenta
baixa produção e qualidade de forragem (ROSO et al., 2000; ROSO; RESTLE, 2000).
Segundo Conrad et al. (1964), alimentos com baixa qualidade (digestibilidade) limitam
fisicamente o consumo dos animais. Desta forma, as pastagens de estação fria são
alternativas para obtenção de maior ganho em um período desfavorável (AGUINAGA
et al., 2006). Em contrapartida, a base alimentar de bovinos de corte durante o verão, no
Rio Grande do Sul, ainda é o campo nativo (ALVES FILHO, 1995). Nesse aspecto, o uso
de pastagens estivais pode ser uma forma de fornecer alimento com alto valor nutritivo
e de forma abundante para os animais (RESTLE et al., 1996; ANDRADE et al., 1997).
No entanto, devido à elevada produção de colmo das gramíneas tropicais, que altera o
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
179
valor nutritivo e a digestibilidade dessas forragens, é fundamental o adequado manejo
destas (PAULINO et al., 2004). Segundo Carvalho et al. (2005), o manejo incorreto
da estrutura das pastagens tropicais gerou conceitos empíricos no que diz respeito ao
desempenho dos animais, sendo estas subestimadas.
Além do estabelecimento da forragem, a adequada adubação e o manejo das
pastagens, a escolha da adequada categoria animal a ser submetida às diferentes
pastagens têm grande relevância no sucesso do sistema (RESTLE et al., 1998; SANTOS
et al., 2004). Segundo Restle et al. (1998), os custos de implantação e utilização das
pastagens independe da categoria animal, tornando-se importante a escolha de categorias
mais eficientes na conversão alimentar, para o melhor aproveitamento do sistema.
Os objetivos neste trabalho foram avaliar a resposta biológica de bovinos de corte
terminados em pastagens cultivadas de azevém e milheto, e a influência da idade dos
animais sobre o seu desempenho no ganho de peso.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram avaliados 1071 bovinos de uma propriedade particular, localizada no
município de Cachoeira do Sul, Depressão Central do Rio Grande do Sul, durante os
anos de 2010 a 2012. Os animais, machos, castrados, da raça Braford e cruzas, com
idades entre três a cinco anos, oriundos de recria em capo nativo, foram terminados
em diferentes pastagens e épocas do ano. Nos invernos de 2010 e 2011 foram
terminados, respectivamente, 401 e 309 animais, totalizando 710 animais terminados
sobre pastagens cultivadas de azevém (Lolium multiflorium). Nos verões de 2010/11
e 2011/12 foram terminados, respectivamente, 186 e 175 animais, totalizando 361
animais terminados sobre pastagens de milheto (Pennisetum glaucum). Para o ingresso
nas pastagens, os animais foram selecionados dentro do universo da propriedade, de
acordo com o melhor desenvolvimento e condição corporal (CC), por determinação
visual, independente do peso e idade. Também foi considerada a capacidade de suporte
das pastagens, sendo estimada por avaliação visual, buscando-se preservar uma altura
mínima indicada de acordo com o tipo de pastagem. A saída das pastagens ocorria à
medida que os animais atingiam grau de acabamento (gordura) satisfatório, estimado
através de observação visual e plena aceitação pelos frigoríficos compradores. Os
animais identificados individualmente eram pesados na entrada das pastagens e por
ocasião da venda. A partir dos registros e coleta de informações foi possível avaliar o
desempenho animal expresso pelo ganho médio diário de peso (GMD), o ganho médio
de peso (GP) em função das pastagens (azevém x milheto), e a idade dos animais
(IA) entre os anos, nas mesmas pastagens (azevém x azevém e milheto x milheto).
Também foi possível utilizar informações do peso médio inicial (PMI), peso médio
final (PMF) e tempo médio de permanência (TMP) nas pastagens. Para as analises
estatísticas foram usados a análise de correlação de Pearson e o teste T-Student com
o auxílio dos softwares Microsoft Excel 2010 e SPSS for Windows 16 (Statistical
Package for the Social Sciences).
180
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O GMD e o GP médios para os ciclos de azevém foram, respectivamente, de
1,22 kg/dia e 87,3 kg por animal, já nas pastagens de milheto, os mesmos foram de
1,43 kg/dia e 55,5 kg por animal, com significativa diferença estatística (P<0,01) entre
as pastagens (Figura 1). Em pastagens consorciadas de azevém e aveia preta (Avena
strigosa Schreb) manejadas com diferentes alturas, Aguinaga et al. (2006), encontraram
GMD de 0,73 kg/dia e 1,14 kg/dia, respectivamente, em pastagens com 10 e 30 cm de
altura, com animais jovens. Utilizando as mesmas pastagens, Restle et al. (2000), em
trabalho avaliando o ganho de peso de animais submetidos à terminação em pastagens
adubadas com diferentes fontes de nitrogênio, obtiveram 0,58 kg/dia com ureia e 0,62
kg/dia com sulfato de amônio, em terneiras de corte com 10 meses de idade. Restle et al.
(1998), em trabalho também com azevém e aveia preta, observaram ganho de peso de
diferentes categorias animais, obtendo GMD de 0,86 kg/dia em terneiros de 10 meses de
idade da raça Charolês. Os mesmos autores tiveram produção de peso vivo por hectare
de 428 kg e 453 kg, respectivamente, para tratamentos com ureia e sulfato de amônio.
Sugundo Canellas et al. (2011), a recria e engorda de animais em pastagens cultivadas
de inverno é muito usada no Rio Grande do Sul e permite ganhos entre 0,70 kg/dia e
1,20 kg/dia, dependendo do estágio da planta e categoria animal. No presente trabalho o
GMD e a produção de kg/ha em pastagens de azevém, manejadas com 15 cm de altura,
nos ciclos de 2010 e 2011 foram, respectivamente, de 1,15 kg/dia e 108,5 kg/ha, e 1,32
kg/dia e 110,3 kg/ha, em animais com idade média de três e quatro anos, nos respectivos
ciclos. Moreira et al. (2005), em trabalho onde avaliaram o GMD e peso médio final
(PMF) de novilhos Nelore, aos 23 meses, sobre pastagem de aveia preta, obtiveram
ganho de 1,31 kg/dia em animais com peso médio inicial (PMI) de 398 kg. Em pastagem
consorciada de aveia preta e ervilhaca, Canto et al. (1997), observaram GMD de 1,27
kg para novilhos com PMI de 320 kg. Restle et al. (1998), observaram GMD de 1,60
kg/dia para novilhos com PMI de 276 kg, em pastagens consorciadas de aveia preta e
azevém. O PMI nos ciclos das pastagens de azevém do presente trabalho foi de 418,6
kg (Figura 1). Observou-se que animais que ingressaram nas pastagens de azevém com
menor PMI apresentaram maior GMD (Pearson = -0,31, P<0,01), corroborando com
os dados dos autores supramencionados, aonde o menor PMI obteve maior GMD e o
maior PMI obteve menor GMD. Conforme estudos de Hersom et al. (2004), animais
que sofreram algum tipo de restrição alimentar prévia tendem a fazer um ganho ou
crescimento compensatório quando passam a receber dietas de melhor qualidade. A
implantação de pastagens hibernais de azevém, assim como aveia, são muito usadas no
Rio Grande do Sul e apresentam bons índices produtivos, entretanto, estes índices são
aquém do potencial produtivo dessas pastagens, fato que, segundo Restle et al. (2000),
atribui-se à deficiência no manejo e adubação.
Segundo Carvalho et al. (2005), convencionou-se que o consumo de gramíneas
tropicais é limitado pelo trato gastrointestinal e o baixo desempenho animal atribuise a baixa qualidade dessas forragens. Entretanto, no presente trabalho o GMD e a
produção de kg/ha nos ciclos de 2010/11 e 2011/12 em pastagem de milheto foram,
respectivamente, de 1,28 kg/dia e 166,3 kg/ha, e 1,59 kg/dia e 155,5 kg/ha. Segundo
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
181
Canellas et al. (2011), o uso de pastagens estivais permitem uma alta carga animal com
ganhos de peso moderados a altos. Restle et al. (2002), obtiveram GMD em pastagem de
milheto de 1,19 kg/dia e Lupatini (1996) obteve 1,05 kg/dia. Segundo Medeiros e Lana
(2000), o aumento no consumo voluntário de alimentos, a redução da mantença, a melhor
eficiência metabólica e mudanças na composição do ganho são fatores que explicam a
compensação no ganho de peso durante esse período. A estrutura da pastagem é fator
preponderante no consumo dos animais e devido à alta produção de colmo das pastagens
tropicais, o que altera a qualidade e digestibilidade dessas forragens, o conhecimento
no manejo e adubação se torna essencial para a obtenção de bons resultados no ganho
de peso de bovinos de corte (PAULINO et al., 2004; CARVALHO et al., 2005). O PMI
nos ciclos de milheto do presente trabalho foi de 460,6 kg (Figura 1), significativamente
maior que o PMI dos ciclos de azevém (P<0,01). O TMP nas pastagens de milheto foi
de 43,2 dias, inferior ao TMP nas pastagens de azevém, que foi 71,9 dias (Pearson =
-0,53, P<0,01) (Figura 1). Apesar do menor TMP nas pastagens de milheto, os animais
saíram com maior PMF que nas pastagens de azevém, sendo respectivamente de 516,2
kg e 505,9 kg (P<0,01) (Figura 1), fato explicado pelo maior PMI dos animais que
ingressaram nas pastagens de milheto. O ingresso mais pesado nas pastagens estivais
deve-se a resposta positiva do campo nativo no início da primavera. O campo nativo
apresenta seu ápice de produção nos meses de primavera-verão, e um declínio nos
meses de outono-inverno (LOBATO, 1985). O mesmo autor relata que, o principal fator
limitante na produção pecuária em campos naturais resume-se na deficiência nutricional
do campo nativo no período hibernal. Nabinger (2006) demonstra que o manejo do
campo natural permite ganhos de peso mesmo no inverno, porém com grande variação
entre as estações do ano, aonde observou ganhos de 0,78 kg/dia na primavera, 0,68 kg/
dia no verão, 0,28 kg/dia no outono e 0,18 kg/dia no inverno.
FIGURA 1 – Resultados das diferentes estações.
A IA média dos animais terminados em azevém no inverno de 2010 foi de quatro
anos e no inverno de 2011 de três anos, dos animais terminados em milheto foi de três
182
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
anos e meio em ambos os ciclos, não demonstrando exercer influencia significativa
nas taxas de GMD e GP dos animais. Segundo Figueiredo et al. (2007), a eficiência na
conversão dos alimentos decresce com o aumento na idade dos animais. Entretanto,
segundo Di Marco et al. (2006), a quantidade de gordura aumenta com a taxa de ganho
de peso, com o peso do animal e com o avanço da idade. Em trabalho avaliando o
desempenho de bovinos de corte terminados em pastagens de azevém, Gottschall et
al. (2012), observaram que os animais mais velhos entravam primeiro nas pastagens
por apresentar um maior desenvolvimento e condição corporal, fator decisório para
o ingresso dos animais nas pastagens, assim como no presente trabalho. Segundo os
mesmos autores, animais mais velhos e maiores apresentam basicamente demanda
nutricional para acumulo de gordura, o que não ocorre em animais jovens. Restle et
al., (1998), obtiveram taxa de ganho de peso menor para terneiros (0,85 kg/dia) em
comparação a novilhos (1,60 kg/dia) e vacas de descarte acima de oito anos de idade
(1,26 kg/dia) em trabalho avaliando a eficiência e o desempenho de diferentes categorias
em pastagem de azevém e aveia.
Tanto nos invernos como nos verões, os animais que apresentaram maior PMF
tiveram maior GMD (Pearson = 0,23, P<0,01), animais com maior GMD apresentaram
maior GP (Pearson = 0,42, P<0,01) e animais que ingressaram nas pastagens com maior
PMI saíram para abate com maior PMF (Pearson = 0,70, P<0,01). Gottschall et al. (2007),
observaram dados semelhantes, aonde novilhos com maior PMI obtiveram maior peso
ao abate. Animais que apresentaram menor PMI obtiveram maior GP (Pearson = -0,48,
P<0,01). Nos verões, os animais que apresentaram maior GMD permaneceram por menor
tempo nas pastagens (Pearson = -0,53, P<0,01).
TABELA 1 – Coeficiente de Correlação de Pearson entre as variáveis estudadas, com GMD. ** (P<0,01).
Invernos n=710
GMD
Verões n=361
GMD
PMI
-0,312**
0,083
PMF
0,216**
0,232**
TMP
-0,053
-0,533**
GP
0,655**
0,290**
CONCLUSÕES
Os animais terminados tanto em azevém, como em milheto, apresentaram um bom
desempenho no ganho de peso, tendo em vista os resultados obtidos no presente trabalho e
dados de literatura. A terminação de bovinos de corte em pastagens cultivadas de azévem
e milheto representa uma alternativa viável para intensificar o ganho de peso. A idade
dos animais não exerceu influencia nas taxas de ganho, entretanto, nesse experimento se
usou animais com faixa etária entre três a cinco anos.
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
183
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Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
185
Utilização de rações para frangos de corte
com diferentes níveis de energia e proteína
Dijair de Queiroz Lima
Nicholas Lucena Queiroz
RESUMO
Este experimento foi realizado para avaliar o efeito da utilização de seis níveis de Energia
Metabolizável (EM) e de Proteína Bruta (PB) no desempenho de 360 pintos de corte das linhagens
“Hubbard” (180 machos e 180 fêmeas), em um delineamento experimental em blocos casualizados,
com seis rações experimentais com quatro repetições de cada sexo, em 24 parcelas, cada uma com
15 aves. Os parâmetros analisados foram: Ganho de Peso Médio, Consumo Médio de Ração e
Conversão Alimentar Média. Os níveis ideais de EM e PB nas rações são distintos para machos e
fêmeas. Para os machos, os tratamentos não diferiram estatisticamente entre si, com exceção do
Tratamento 4 para ganho de peso, que apresentou diferença pelos teste Tukey (P>0,01) entre os
29 até os 42 dias, com 3.300 Kcal/EM associado com 20,8% de PB. Para as fêmeas não ocorreram
nenhuma diferença estatística, contudo o tratamento 5 para ganho de peso, foi a que se destacou em
valores absolutos entre os demais tratamentos, sendo portanto o ideal quando a EM (3.300 Kcal),
estiver associado com 22,8% de PB.
Palavras-chave: Eficiência Energética. Proteína Ideal. Aves.
Effect the different levels energy and protein and performance
broilers chick
ABSTRACT
This experiment was conducted to evaluate the effect of using six levels of metabolizable
energy (ME) and crude protein (CP), the performance of 360 strains of broiler chicks “Hubbard”
(180 males and 180 females), in a complete experimental randomized block design with six
experimental diets with four replicates of each sex, in 24 installments, each one with 15 birds.
The parameters analyzed were: Mean Weight Gain ; Average Feed Intake and Feed Conversion
Average. Optimal levels of MS and CP in the diets are different for males and females. For males
the treatments did not differ statistically, except for Treatment 4 GPM, that was different by
Tukey test (P> 0.01) between 29 to 42 days, with 3,300 Kcal / MS associated with 20.8 % CP. For
females no statistical difference occurred, however the treatment to 5 weight gain, was that stood
in absolute values between the other treatments and are therefore ideal when AT (3,300 Kcal), is
associated with 22.8% CP.
Keywords: Energy Efficiency. Ideal Protein. Birds.
Dijair de Queiroz Lima – Prof. Dr. Departamento de Agroecologia e Agropecuária – Centro de Ciências
Agroecológicas e Ambientais, Campus II – Universidade Estadual da Paraíba – UEPB – Lagoa Seca, PB. Email:
[email protected]
Nicholas Lucena Queiroz – Doutorando do Programa de Pós – Graduação em Agronomia – Universidade Federal
da Paraíba – UFPB – Centro de Ciências Agrárias – Areia, PB. E-mail: [email protected]
v.10 v.10, n.2,
n.2 jan./jun.
p.186-194
Canoasem Foco,
186Veterinária em Foco Veterinária
2013
jan./jun. 2013
INTRODUÇÃO
A utilização de nutrientes pelos animais é um processo complexo e que envolve uma
série de etapas. Uma ração perfeitamente formulada, fornecida a uma ave geneticamente
superior, produzirá resultados insatisfatórios se esta estiver inapta para utilizar
adequadamente os nutrientes fornecidos. Nas rações, a energia representa o nutriente mais
importante, sendo o milho a principal fonte energética. Entretanto, devido às oscilações
mercadológicas, as fontes alternativas tornam-se necessárias, com o objetivo de procurar
substituir parcialmente este grão como fonte de energia nas rações para frangos de corte.
As gorduras e óleos em rações para aves vêm sendo estudados há vários anos, e muitos
pesquisadores tem procurado determinar os níveis ideais como fonte de energia de acordo
com (ABDOLLAHI et al., 2011).
Na formulação de rações ainda são utilizadas tabelas de exigências nutricionais
determinadas em outros países, nos quais os resultados de pesquisa revelam diferenças
nos requisitos entre raças e categorias de animais, estado fisiológico, regiões e, até
mesmo, estações do ano. Faz-se então necessário, que pesquisas sejam feitas buscando
um melhor equilíbrio entre as fontes energéticas e proteicas para uma maior eficiência no
aproveitamento dos nutrientes disponíveis para as aves, principalmente no fornecimento de
energia, que é fundamental para um bom desempenho desses animais, buscando também
a eficiência econômica para o setor (ALBINO et al., 1992).
Segundo Junqueira (2005) e Conejo et al. (2007), as gorduras incorporadas nas
rações facilitam a utilização da energia dos outros componentes não lipídicas da dieta,
podendo este fenômeno estar relacionado com a diminuição da velocidade de passagem
dos alimentos pelo trato digestivo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com Nascimento et al. (2011), o processo de crescimento de frangos de
corte, a energia exerce um papel fundamental, entretanto, a sua eficiência depende da
suplementação proteica e concentração de gordura no alimento. Porém, o sucesso vai
depender dos níveis que lhes são fornecidos. Mendes et al. (2004), avaliando o efeito de
seis níveis de energia (2.900; 2.960; 3.020; 3.080; 3.140 e 3.200 kcal EM/kg) da dieta
sobre desempenho, rendimento de carcaça e porcentagem de gordura abdominal de frangos
de corte, no período de 1 a 42 dias de idade, observaram que houve redução no consumo
de ração e melhora na conversão alimentar média à medida que se aumentou o nível de
energia da ração. Com isso os machos apresentaram melhores resultados de desempenho
que as fêmeas. À medida que se acrescentou energia na dieta, houve efeito linear na
porcentagem de gordura abdominal e no rendimento de asas, mas não houve efeito sobre
o rendimento de carcaça e das demais partes. Nascimento et al. (2011), avaliando o efeito
e das relações energia: (2.850; 3.000 e 3.150 kcal) e três relações EM: PB (125; 136,9
e 151,5 kcal/%PB), sobre o desempenho e qualidade da carcaça de frangos de corte nas
fases pré-inicial e inicial, observaram que de 1 a 7 dias, a melhor Conversão Alimentar
Média (CAM) foi obtida com 3.150 kcal/EM e relação EM: PB de 125 (25,2 %PB). No
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
187
período de 1 a 21 dias, a redução desta relação EM:PB (aumento da PB) em todos os
níveis de EM melhorou o Ganho de Peso Médio (GPM) e a Conversão Alimentar Média
(CAM). As dietas que contém carboidratos e gordura suficiente suprem a maior parte das
necessidades energéticas das aves. Essas fontes fazem com que a quantidade de proteína
degradada para fins energéticos seja menor, de modo que proteína ingerida será utilizada
em uma maior proporção na síntese tissular.
Neste mesmo sentido, Dudley-Cash (2009) afirmam que paralelamente a elevação
do nível energético é necessário o aumento do nível proteico, a fim de se manter constante
a relação energia-proteína. Por outro lado, a elevação dos níveis de proteínas, também
não significa, necessariamente, retorno economicamente compatível com o maior custo
dessas rações.
Hosoda et al. (2008), utilizando na fase inicial níveis de 22% de PB associado com
2.930, 2.980, 3.030, 3080, 3130 e 3180 de EM e, na fase final, 18% de PB associado com
3.030, 3.080, 3.130, 3.180, 3.230 e 3.280 Kcal/kg de EM, não observaram diferenças
significativas para consumo de ração e conversão alimentar entre tratamentos, mas houve
diferenças significativas para ganho de peso. Já Babu et al. (1991), utilizando níveis de
PB (22, 23, e 24%) associado respectivamente a níveis de EM (2.650; 2.750 e 2.850 Kcal/
kg), observaram que níveis de 24% de PB e 2.750 Kcal/kg de EM apresentaram maior
peso na última semana de idade. Oliveira et al. (1991), utilizando três níveis de PB (19,0
; 21,0 ; e 23,0%) na fase inicial associado com três níveis de EM (2.900; 3.100 e 3.300
Kcal/kg) e com 18,0; 19,0 e 20% de PB com os respectivos níveis energéticos para a fase
final, verificaram em ambas as fases, o melhor ganho de peso e conversão alimentar foi
para a ração inicial com 3.100 e 3.300 Kcal/kg e 18 e 20% de PB.
Muarolli et al. (2009), verificando as diferentes relações dietéticas de energia
metabolizável e proteína bruta e do peso inicial de pintos de corte sobre o desempenho
e rendimento de carcaça em frangos de corte, criados até 48 dias de idade, onde os
parâmetros avaliados foram: Consumo de Médio de Ração Médio (CMR), Ganho de
Peso Médio (GPM), Conversão Alimentar Médio (CAM), Rendimento de Carcaça e
Rendimento de Cortes (Asa, coxa, sobre coxa, peito, cabeça, pé e dorso) no final do
período experimental. Verificaram que nas variáveis CMR e GPM não foram observados
efeitos significativos (P>0,01) em nenhum dos tratamentos e períodos. Na variável
CAM, observou-se efeito significativo (P<0,01) no período de 1 a 35 dias de idade,
onde aves que foram alimentadas com uma relação EM:PB baixa, apresentaram uma
pior conversão alimentar, independente do peso inicial. No rendimento de carcaça houve
efeito significativo (P<0,01), onde as aves com maior peso inicial obtiveram uma melhor
porcentagem de rendimento quando receberam, durante todo o período de criação, dietas
com relação EM:PB alta.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado nas instalações Universidade Federal da Paraíba
– UFPB e teve a duração de 49 dias. O delineamento experimental utilizado foi o de
188
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
bloco casualizados e os dados estatísticos foram analisados segundo o programa SAEG
(EUCLIDES, 2007). O teste de média realizado foi de Tukey a 1%. As variáveis analisadas
foram: Ganho de Peso Médio (GPM), Consumo Médio de Ração (CMR) e Conversão
Alimentar Média (CAM). Foram utilizados 360 pintos de um dia de idade da linhagem
“Hubbard”, de ambos os sexos (180 machos e 180 fêmeas). Os tratamentos foram
compostos por seis rações experimentais e quatro repetições, perfazendo 24 unidades
experimentais, ou parcelas. Em cada unidade experimental foram distribuídas ao acaso,
por sorteio, em cada bloco, 15 aves por parcela totalizando assim, 360 aves experimentais.
A composição química calculada das rações experimentais na fase inicial (1 a 28 dias) e
na fase final (29 a 49 dias) está apresentado nas tabelas 1 e 2, respectivamente.
TABELA 1 – Composição química calculada e das rações experimentais na fase inicial (1 a 28 dias).
1
2
3
4
5
6
EM (Kcal/kg)
3,05
3,05
3,05
3,20
3,20
3,20
Proteína Bruta (%)
21,20
23,20
25,20
22,00
24,00
26.00
Cálcio (%)
1,02
1,02
1,02
1,01
1,01
1,01
Fósforo Disponível (%)
0,51
0,51
0,51
0,53
0,53
0,53
Lisina (%)
1,13
1,27
1,42
1,19
1,14
1,48
Metionina (%)
0,49
0,47
0,45
0,53
0,50
0,47
Met + Cis
0,82
0,82
0,84
0,87
0,87
0,87
RPE*
6,9
7,6
8,3
6,9
7,5
8,1
RAÇÕES
Nutrientes
* Relação entre % de PB/1000 Kcal EM da ração.
TABELA 2 – Composição química calculada e das rações experimentais na fase final (29 a 49 dias).
1
RAÇÕES
2
3
4
5
6
Nutrientes
EM (Kcal/kg)
3,10
3,10
3,10
3,30
3,30
3,30
Proteína Bruta (%)
19,50
21,50
23,50
20,80
22,80
24,80
Cálcio (%)
0,97
0,97
0,97
1,04
1,04
1,04
Fósforo Disponível (%)
0,97
0,97
0,97
1,04
1,04
1,04
Lisina (%)
1,00
1,15
1,30
1,11
1,26
1,40
Metionina (%)
0,47
0,45
0,43
0,51
0,48
0,46
Met + Cis
0,78
0,78
0,79
0,83
0,83
0,83
RPE*
6,3
6,9
7,6
6,3
6,9
7,5
* Relação entre % de PB/1000 Kcal EM da ração.
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
189
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com as Tabelas 3 e 4, os parâmetros Ganho de Peso Médio (GPM),
na fase inicial (1 a 28 dias), na fase final (43 a 49 dias) e no total do experimento,
não houve diferenças significativas entre tratamentos (P>0,01), verificando que os
machos apresentaram maior GPM que as fêmeas. Estes resultados são comparáveis aos
encontrados por Longo et al. (2005), que utilizaram rações isoenergéticas e diferentes
níveis e fontes proteicas. O mesmo não foi observado por Junqueira et al. (2005), que
utilizaram três níveis de energia associado com três níveis de proteína, onde o GPM foi
maior nas aves que receberam os maiores níveis de PB e EM. Para o Ganho de Peso
Médio (GPM) nos machos, no período de crescimento dos 29 aos 42 dias, percebe-se
que houve diferenças significativas entre os tratamentos, onde o tratamento 4 apresentou
o maior valor (1,108), entre os demais tratamentos, para o teste Tukey (P<0,01).
Quanto às fêmeas, o GPM não diferiu estatisticamente entre si em nenhuma das
fases. Entretanto, na fase final, o maior GPM dos machos, foi com o tratamento que
continha níveis de 20,8% de PB e 3.300 Kcal/kg de EM (tratamento 4). Dados esses
que estão de acordo com os encontrados por Bernal et al. (1993). Não se observou
efeito significativo dos níveis de EM e PB sobre o CMR (machos e fêmeas), conforme
as tabelas 3 e 4. Estes dados estão de acordo com os encontrados por Newcombe e
Summers (1994). Resultados obtidos diferem dos encontrados por Babu et al (1991)
que, associando três níveis de PB com três níveis de EM, verificaram que o consumo
de ração diminuiu significativamente a medida que aumentou o nível de EM da ração.
Esta relação também foi obtida por Correa et al. (2007), em experimento com codornas
de corte, com vários níveis de proteína bruta e energia metabolizável durante a fase
de crescimento.
Os resultados da CAM das aves nas diversas fases do experimento indicam que
os machos obtiveram maior CAM que as fêmeas em todas as fases de criação. Na fase
inicial (1 a 28 dias) na fase final (43 a 49 dias) e no total do experimento, de modo
que, os tratamentos não diferiram estatisticamente (P>0,01) entre si, estando de acordo
com os dados encontrados por Oliveira et al. (1991) e discordantes dos encontrados
por Hosoda et al. (2008). Os dados do GPM e da CAM dos 29 aos 42 dias diferem
estatisticamente entre si (P<0,01) para machos. Já para as fêmeas, de acordo com a
tabela 4, não existe diferenças estatísticas entre os tratamentos nas diversas etapas do
experimento. Estes dados estão de acordo com os encontrados por Mendes et al. (2004).
As relações EM:PB devem ser mantidas, no entanto, cabe observar as exigências para
cada fase, de forma que pode ser inadequada para a fase inicial, conforme Nascimento
et al. (2011), onde verificaram que as aves não ajustaram claramente o consumo pela
densidade energética da ração. Rações com relação EM: PB de 136,9 (21,91% PB) e
EM de 3.000 kcal atendem as exigências de frangos de corte para ótimo crescimento
na fase inicial, enquanto a relação 151,5 foi inadequada.
A redução da relação EM: PB diminui a gordura abdominal e melhora a qualidade
da carcaça de frangos de corte na fase inicial.
190
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
TABELA 3 – Médias de ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar do 1 aos 28 dias, entre 29
aos 42 dias, entre 43 aos 49 dias e total dos machos.
Ganho de peso médio (GPM) dos machos
Tratamentos
1 aos 28 dias
29 aos 42 dias
43 aos 49dias
Total
1
1,152
0,967ab
0,474
2,593
2
1,166
0,892b
0,519
2,577
3
1,160
1,008ab
0,412
2,580
4
1,182
1,108a
0,557
2,847
5
1,172
1,048ab
0,416
2,636
6
1,163
1,039ab
0,454
2,656
C.V (%)
3,263
5,847
11,639
2,793
DMS*
0,125
0,148
0,180
0,238
Consumo médio de ração (CMR) dos machos
Tratamentos
1 aos 28 dias
29 aos 42 dias
43 aos 49 dias
Total
1
1,741
1,874
1,292
4,907
2
1,669
1,881
1,261
4,941
3
1,799
1,877
1,228
4,904
4
1,642
1,902
1,344
4,888
5
1,668
1,870
1,291
4,829
6
1,700
1,867
1,214
4,781
C.V (%)
3,996
2,770
4,141
2,909
DMS*
0,227
0,173
0,174
0,472
Conversão alimentar média (CAM) dos machos
Tratamentos
1 aos 28 dias
29 aos 42 dias
43 aos 49 dias
Total
1
1,509
1,937ab
1,732
1,890
2
1,432
1,118 a
1,450
1,912
3
1,551
1,862ab
1,411
1,900
4
1,432
1,716b
1,413
1,714
5
1,410
1,789ab
1,499
1,831
6
1,463
1,815ab
1,502
1,801
C.V (%)
4,430
5,510
9,831
2,443
DMS*
0,225
0,378
0,921
0,158
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
191
TABELA 4 – Médias de ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar aos 28 dias, entre 29 e 42,
entre 43 e 49 dias e total das fêmeas.
Ganho de peso médio (GPM) das fêmeas
Tratamentos
1 aos 28 dias
29 aos 42
43 aos 49
Total
1
1,060
0,801
0,432
2,293
2
1,056
0,802
0,431
2,289
3
1,054
0,792
0,479
2,325
4
1,058
0,878
0,421
2,434
5
1,192
0,898
0,498
2,588
6
1,067
0,826
0,411
2,304
C.V (%)
3,142
4,336
9,690
2,361
DMS*
0,112
0,173
0,175
0,141
Consumo médio de ração (CMR) das fêmeas
Tratamentos
1 aos 28 dias
29 aos 42
43 aos 49
Total
1
1,680
1,708
1,185
4,573
2
1,646
1,784
1,170
4,601
3
1,587
1,814
1,208
4,600
4
1,613
1,737
1,148
4,498
5
1,635
1,803
1,151
4,589
6
1,614
1,851
1,204
4,669
C.V (%)
3,245
2,580
4,231
2,175
DMS*
0,212
0,145
0,198
0,452
Conversão alimentar média (CAM) das fêmeas
192
Tratamentos
1 aos 28 dias
29 aos 42
43 aos 49
Total
1
1,485
1,137
1,560
1,994
2
1,359
1,223
1,317
2,009
3
1,306
1,289
1,222
1,978
4
1,324
1,192
1,326
1,847
5
1,403
1,109
1,225
1,773
6
1,385
1,255
1,476
2,026
C.V (%)
4,857
5,931
8,731
2,321
DMS*
0,264
0,373
0,842
0,174
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
CONCLUSÃO
Com base nos resultados referentes ao Ganho de Peso Médio (GPM), Consumo
Médio de Ração (CMR) e a Conversão Alimentar Média (CAM), das fêmeas, nas fases
estudadas, não foram afetadas pelos níveis de PB e EM das rações. GPM dos machos dos
29 aos 42 dias de idade foi afetado pelos níveis de PB e EM das Rações. O GPM, CMR
e CAM dos machos foi maior que das fêmeas entre os 29 aos 42 dias. Com base nos
resultados para os machos, recomenda-se o tratamento 4, pois ele apresentou o melhor
valor para o (GPM), já as para as fêmeas, recomenda-se o tratamento 5, pois em valores
absolutos foi o que apresentou melhor resultado.
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194
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
Bem-estar de bovinos leiteiros:
revisão de literatura
Gracieli Alves Ferreira
Rosangela Estel Ziech
Erica Cristina B. do P. Guirro
RESUMO
Durante muito tempo, o bem-estar dos animais de produção foi ofuscado pela busca de
melhores índices zootécnicos. Com o passar dos anos, a sociedade passou a reconhecer a necessidade
de mudanças nos sistemas de produção animal e a exigir a adoção de atitudes humanitárias
na criação e abate de animais para consumo, incluindo a bovinocultura de leite, que é um dos
principais agronegócios, responsável pela geração de muitos empregos e renda no Brasil. Esta
revisão teve como objetivo abordar os principais pontos que interferem no bem-estar de bovinos
de leite, as maneiras de estimá-lo e as causas de estresse relacionadas ao manejo, às enfermidades
e à ambiência.
Palavras-chave: Bovinocultura de leite. Comportamento. Bem-estar animal.
Welfare of dairy cattle: literature review
ABSTRACT
For a long time, the welfare of farm animals has been overshadowed by the search for
better performance indexes. Over the years, society has come to recognize the need for changes
in livestock production systems and require the adoption of humanitarian attitudes in raising and
slaughtering animals for food, including dairy cattle, which is a major agribusiness, responsible the
generation of many jobs and income in Brazil. This review aimed to address key points that affect
the welfare of dairy cattle, the ways to estimate it and causes of stress related to the management,
disease and ambience.
Keywords: Dairy cattle. Behavior. Animal welfare.
INTRODUÇÃO
Dos sistemas agroindustriais brasileiros, um dos mais importantes é a bovinocultura
leiteira, tamanha sua relevância econômica e social para o país. A atividade é praticada
em todo o território nacional em mais de um milhão de propriedades rurais, e somente
na produção primária gera mais de 3 milhões de empregos e agrega mais de R$ 6 bilhões
Gracieli Alves Ferreira – Médica Veterinária, Mestranda em Ciência Animal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR).
Rosangela Estel Ziech – Médica Veterinária, Mestranda em Ciência Animal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR).
Erica Cristina Bueno do Prado Guirro – Medica Veterinária, Doutora, Docente na Universidade Federal do
Paraná (UFPR).
Endereço: Rua Pioneiro, 2153, Jardim Dallas Palotina, PR. CEP 85.950-000. E-mail: [email protected]
Veterinária em Foco Veterinária
v.10 v.10, n.2,
n.2 jan./jun.
p.195-209
Canoas em Foco,
2013
jan./jun. 2013 195
ao valor da produção agropecuária nacional (BATTISTI et al., 2013). A reestruturação
que se tem verificado nos últimos anos nas explorações leiteiras traduziu-se em aumento
da dimensão média da produção e consequentemente na intensificação da atividade.
Ocorreram rápidas transformações na atividade, mas obviamente muito ainda precisa
ser feito, principalmente no que diz respeito às questões relacionadas às doenças e ao
bem-estar animal (PETERS, 2012).
A importância deste tipo de produção para o país requer tecnificação, e a
reestruturação que tem sido verificada nos últimos anos nas propriedades leiteiras tem
sido apontada como a responsável pela elevação da média da produção nacional de leite
e intensificação da atividade (CERQUEIRA et al., 2011). Todavia, verifica-se marcante
heterogeneidade dos sistemas de produção leiteira no país, que se difunde por todo o
território nacional (VILELA et al., 2002). Segundo Paciullo et al. (2005) a atividade
leiteira tem evoluído de um modelo tradicional e extrativista para outro mais competitivo,
os sistemas de produção de leite deverão ser fundamentados no emprego de tecnologias
que possam ser economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis.
Além dos investimentos em tecnologia, genética e nutrição, cada vez mais tem se
observado a necessidade de aprimorar as questões ligadas ao bem-estar animal e à redução
de enfermidades (CERQUEIRA et al., 2011). Existe certo consenso de que os animais
domesticados, por estarem sendo criados em cativeiro e servindo de alguma maneira à
humanidade, merecem níveis mínimos de bem-estar (HOTZEL; FILHO, 2004).
Na década de 60, Ruth Harrison publicou o livro “Animal Machines” (HARRISON,
1964) na Inglaterra e a população pôde conhecer os sistemas de produção animal. A partir
desse evento, a sociedade começou a questionar alguns métodos de produção e tem sido
dado mais valor à criação humanitária de animais. Isso originou a ciência bem-estar
animal, que é considerada complexa, pois envolve diferentes aspectos relacionados à
saúde e ao comportamento animal, bem como as interações que ocorrem entre esses
aspectos (GOMES, 2008).
Atualmente, produtos oriundos de sistemas de mais alto grau de bem-estar
apresentam maior valor agregado, atendendo a demanda de um nicho específico de
mercado (BOND et al., 2012). Os anseios da população em prol do uso mais consciente
de animais criados para produção de alimentos embasam as mudanças de legislação e
justificam o estabelecimento de leis voltadas especificamente ao bem-estar animal que,
provavelmente, interferirá nas barreiras comerciais internacionais (BOND et al., 2007).
Embora de forma menos articulada, a população brasileira também manifesta preocupação
com o bem-estar animal (PETERS, 2012) e algumas mudanças de conceitos e legislação
já são realidade no país.
A educação é necessária para criar conscientização e maior entendimento da
importância do bem-estar animal para uma produção eficiente. No caso de produtores e
manejadores de animais, a educação pode levar à implementação de novos procedimentos
que melhorem os resultados de bem-estar animal. A educação dirigida à população em
geral pode resultar, eventualmente, em pessoas apoiando formas de produção que envolva
boas condições de bem-estar animal (FAO, 2009). Com base no exposto, o objetivo
196
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
desta revisão foi discutir os principais fatores que interferem no bem-estar de bovinos
leiteiros.
DESENVOLVIMENTO
O bem-estar animal
A produção animal atual, que tem importante ênfase em eficiência produtiva está
sujeita a novos desafios em decorrência de demandas de bem-estar animal (BEA) e de
redução do seu impacto ambiental (SOUZA et al., 2013). Tais demandas estão inseridas
no contexto da sustentabilidade da produção que, segundo o conceito multidimensional
da FAO (2013), significa assegurar os direitos e o bem-estar humanos, sem reduzir a
capacidade do planeta em manter a vida e sem ocorrer à custa do bem-estar de outros.
Diversos questionamentos cercam a criação animal, pois não basta avaliar a produção ou
a produtividade, mas é preciso verificar sustentabilidade, a ética, a aceitação social, os
objetivos propostos, a necessidade e os recursos da comunidade para a qual foi projetado
(FRASER; MATTHEWS, 1997; SOUZA et al., 2013).
Adotar práticas de bem-estar e aplicar boas práticas de manejo é necessário para
promover melhores condições aos animais e aumentar sua produtividade nas propriedades
rurais. Entretanto, o custo adicional nos sistemas de produção que contemplam bem-estar
é um dos principais obstáculos para oferecer um melhor tratamento aos animais nas
propriedades rurais (OLIVEIRA, 2010). Assim, implantar mudanças nas atitudes humanas,
que não requeiram investimentos adicionais, é o ponto de partida para a incorporação de
bem-estar nas propriedades (HEMSWORTH; BARNETT, 2001; COSTA et al., 2010).
Este assunto envolve questões complexas e abstratas, pois combina as condições
de vida dos animais, incluindo a saúde, o comportamento, a criação, os sentimentos e o
manejo (DUNCAN; FRASER, 1997; PETERS et al., 2010).
Segundo Broom (1986) o bem-estar de um indivíduo é seu estado em relação às suas
tentativas de adaptar-se ao seu ambiente. Além disso, é preciso atentar para o conceito
das cinco liberdades, elaborado pelo Comitê de Brambell, na Inglaterra, em 1965, e que
até hoje norteia o bem-estar dos animais de produção (FITZPATRICK et al., 2006). É
importante entender que esse conceito deve ser avaliado pela ótica do animal e são eles:
todos os animais devem ser livres de fome e sede; livres de ansiedade, medo e estresse;
livres de desconforto; livres de dor e doenças; livres para expressar seu comportamento
natural (MOLENTO, 2005). Estes indicadores fornecem um conjunto de princípios, sendo
que os ideais expressos em cada liberdade representam os parâmetros a serem utilizados
para avaliar se o bem-estar está sendo atendido. A partir da verificação do atendimento
ou não das cinco liberdades pode-se quantificar o bem-estar de determinado animal
(BROOM; FRASER, 2010).
Segundo Fraser et al. (2009), para definir a condição de bem-estar animal devese adotar uma visão que aborde criteriosamente o animal e o ambiente onde ele está
inserido. Independentemente de considerações morais, a medida e interpretação do
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
197
bem-estar devem ser objetivas. Assim, para mensurar o bem-estar animal é necessário
identificar indicadores de alto e baixo grau e para isso deve-se considerar a natureza
dos animais, os aspectos emocionais e a função biológica do animal em avaliação.
Com relação à natureza dos animais, conhecê-la é fundamental para entender o
comportamento normal e avaliar o bem-estar. O comportamento é uma das formas mais
utilizadas para determinação do bem-estar (BROOM; FRASER, 2010). Por exemplo,
sabe-se que bovinos são animais de hábito gregário, apresentam organização social
bem estabelecida e são animais com comportamento de presa (GRANDIN, 1997).
Além dessas características, os bovinos apresentam outros padrões comportamentais
e fisiológicos próprios da espécie, como a ruminação (PHILLIPS, 2010). Quando
em situações de avaliação do bem-estar utiliza-se a ocorrência e frequência de
comportamentos anormais e estereotipias para definir o grau de bem-estar (MOLONY;
KENT, 1997), por isso a importância de conhecer aspectos comportamentais naturais
da espécie em avaliação, pois assim qualquer alteração no comportamento normal
poderá ser identificada e poderão ser tomadas as providências para descobrir as causas
e solucionar os problemas (BROOM; FRASER, 2010).
Outro aspecto a ser considerado durante mensurações de bem-estar são as
particularidades emocionais de cada animal como motivação, medo, preferência e
outros. Esses aspectos subjetivos podem ser considerados quando se avalia bem-estar
através de testes de preferência (FRASER; MATTHEWS, 1997). Além disso, medidas
fisiológicas de prazer, como níveis de ocitocina, podem demonstrar o grau de bem-estar
emocional em que o animal se encontra (BROOM; FRASER, 2010). A verificação do
bem-estar pode ser realizada também através de indicadores fisiológicos como níveis
de glicocorticoides, frequência cardíaca, frequência respiratória e respostas do sistema
imune (PETERS et al., 2010). Ao longo dos anos a utilização das respostas fisiológicas
como forma de avaliar a dor e o sofrimento, tem sido uma medida significativa para
compreensão de como estes parâmetros podem auxiliar na mensuração do grau de bemestar (BROOM; FRASER, 2010).
Quando o cérebro percebe o estímulo doloroso, o sistema nervoso simpático é
ativado, produzindo a adrenalina. A adrenalina causa aumento na frequência cardíaca e
na pressão sanguínea, além de aumentar os níveis do hormônio do estresse, o cortisol
(FIERHELLER, 2009). Estes indicadores podem auxiliar na avaliação de bem-estar
respeitando a função biológica. Assim, considerando a função biológica de determinado
animal, que no caso de vacas leiteiras a principal finalidade é a reprodução e a produção de
leite, é possível cumprir a função do animal e, ao mesmo tempo, atender ao bem-estar, de
acordo com os indicadores fisiológicos (PETERS et al., 2010). Além disso, os indicadores
de bem-estar auxiliam a identificar o estado do animal em relação à sua situação na escala,
que varia de bem-estar muito alto a muito baixo (BROOM; FRASER, 2010).
Algumas medidas são mais relevantes para problemas de curto prazo, como aqueles
associados a manejo humano, enquanto outras são mais apropriadas para problemas de
longo prazo (KEELING; JENSEN, 2007; BROOM; FRASER, 2010). Existem outros
parâmetros que podem ser utilizados para avaliação do bem- estar, como o grau de higiene
198
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
da vaca leiteira, sendo que o elevado nível de limpeza da vaca é indicador de menor risco de
exposição a agentes patogênicos ambientais, correlacionando-se com elevada incidência
de mastites e altas contagens individuais de células somáticas (CERQUEIRA et al., 2011).
Os fatores que afetam a higiene da vaca estão relacionados à dimensão do local aonde elas
habitam e com a consistência das fezes. A pontuação da higiene na exploração permite
quantificar o grau de sujidade e matéria fecal presente nas diferentes regiões anatômicas
e fazer uma avaliação global da limpeza do animal (PETERS et al., 2010).
Fatores que interferem no bem-estar de bovinos leiteiros
Durante os últimos 50 anos, certos aspectos do manejo de bovinos alteraram-se
de forma considerável, entretanto, de maneira simultânea, o conhecimento a cerca da
fisiologia e comportamento bovino vem se aprimorando (CERQUEIRA et al., 2011).
Esta espécie apresenta mecanismos cerebrais complexos que regulam seus processos
comportamentais, uma estrutura social elaborada e capacidade sofisticada de aprendizagem
(PETERS et al., 2010). Os dados que estabelecem tais fatos fizeram que muitos cientistas
da produção animal reconsiderassem os efeitos das condições e dos procedimentos nos
ambientes de produção, tanto em termos de sua eficiência no que tange à produção como
em relação ao bem-estar dos animais (BROOM; FRASER, 2010).
As práticas de manejo interferem no conforto animal e incluem desde aquelas
relacionadas à simples intervenções, até cirurgias complexas que além da dor crônica e
aguda podem causar depressão ao organismo (PETERS et al., 2010; CERQUEIRA et al.,
2011). Um grave problema relacionado ao manejo é a mortalidade de bezerras, e decorre
de problemas sociais e nutricionais, associados à criação até o desmame (JENSEN;
BUDDE, 2006). Normalmente as bezerras leiteiras de reposição são alimentadas com um
volume de leite equivalente a 10% do seu peso vivo, o que equivale a aproximadamente
metade do seu consumo voluntário (APPLEBY et al., 2001). Mesmo quando as bezerras
têm acesso à ração inicial, o consumo no primeiro mês não é suficiente para compensar
a restrição nutricional (JASPER; WEARY, 2002).
Em muitos aspectos do manejo de animais de produção, a melhora do grau de
bem-estar leva à melhora da produção. Se o grau de bem-estar de uma vaca leiteira for
melhorado, existirá com frequência uma maior produção de leite e, se o bem-estar das
bezerras for melhorado, os consequentes aumentos na taxa de crescimento e nas chances
de sobrevivência levam a vantagens econômicas para o produtor (APPLEBY et al., 2001).
Já quando ocorre o comprometimento do bem-estar, além de alterações de comportamento
está associado o baixo ganho de peso (VIEIRA et al., 2008).
Outra questão relevante para o bem-estar e produtividade de vacas leiteiras é a
qualidade das interações entre os animais e os humanos que os manejam (BOISSY, 1995;
HEMSWORTH; COLEMAN, 1998; RUSHEN et al., 1999). O ser humano sempre teve
interesse em animais menos agressivos e mais fáceis de lidar, promovendo a seleção
dos animais portadores destas características (RUSHEN et al., 1999). A qualidade dessa
interação entre homens e animais é representada pela atitude do homem em relação
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
199
aos animais, pela forma com que os animais são tratados pelo homem e pela resposta
comportamental dos animais em relação a esse tratamento (ROSA, 2004). Muitas das
interações entre o homem e o animal acontecem durante práticas habituais de rotina
usadas no manejo dos animais. A docilidade é uma característica de valor econômico,
pois a lida com animais agressivos implicaria em mais estresse e maiores custos com
mão de obra, instalações, manejo, além da perda no rendimento e qualidade do produto
(COSTA, 2000). Pesquisas têm mostrado que alguns comportamentos frequentes na
rotina do retireiro podem resultar em animais altamente medrosos em relação ao ser
humano (RUSHEN et al., 1999). Este alto nível de medo resultando em estresse agudo
ou crônico pode limitar a facilidade de manejo, a produtividade e o bem-estar dos animais
(HOTZEL et al., 2005).
O comportamento dos animais amedrontados, que tendem a evitar o tratador,
reforça o comportamento aversivo no manejador, em um processo de retroalimentação
indesejável (RUSHEN et al., 1999; HOTZEL et al., 2005). Por exemplo, estima-se que
20% da variação do rendimento de leite em vacas é explicada pelo medo dessas em relação
às pessoas que as tratam (BREUER et al., 2000), o que indica a ocorrência de estresse
nos animais. Estima-se que ocorra perda de produção de até 1 kg de leite por ordenha
em vacas tratadas aversivamente pelo ordenhador (ROSA, 2002).
Principais enfermidades que interferem no bem-estar de
bovinos leiteiros
A sanidade é o maior componente do bem-estar animal, e é regido essencialmente
pela interação entre os animais, o seu ambiente e organismos patológicos. A biossegurança
deve ser a consideração chave em todos os sistemas de produção intensiva de gado,
nos quais a transmissão de doenças tem de ser contida em animais muito próximos.
Habitualmente, é nesses sistemas que ocorrem os maiores desafios para a saúde do gado
(PHILLIPS, 2010).
Na produção animal, a importância de uma doença é frequentemente julgada pelo
impacto econômico direto, mas uma visão ampla exige um melhor entendimento de como
determinada doença afeta o bem-estar animal (WELLS et al.,1998). Animais doentes com
muita frequência têm dificuldade de enfrentar seu meio ambiente de modo bem sucedido,
ou falham em tal tentativa, de forma que seu grau de bem-estar é mais baixo que o de um
animal saudável em outras condições comparáveis (PETERS et al., 2010). Se a doença
causa dor ou outros tipos de desconforto ou aflição, um tratamento veterinário que reduza
os efeitos da doença melhorará claramente o grau de bem-estar do animal. É importante
enfatizar, que não é o diagnóstico da doença que ocasiona o bem-estar, mas o tratamento
consequente (BROOM; FRASER, 2010).
A doença pode ser considerada como um importante indicador de bem-estar,
porque em muitos casos pressupõe-se estar associada às experiências negativas, como
dor, desconforto ou estresse (BROOM; FRASER, 2010). É evidente que a ocorrência
de enfermidades pode ser utilizada como um indicador de baixo grau de bem-estar
200
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
em unidades de produção animal (RUSHEN et al., 2008). Esta medida de bem-estar
é relevante, pois, o mesmo pode ser comprometido por vários fatores, entretanto,
tem sido reconhecido que doenças têm um impacto negativo maior sobre o bem-estar
(FITZPATRICK et al., 2006).
Os distúrbios que têm maior impacto sobre o bem-estar são processos que causam
sofrimento em longo prazo em condições que envolvem dor crônica progressiva. Além
disso, as doenças de natureza multifatorial, sempre com importante componente ambiental,
aparecem como resultado do efeito de fatores cuja incidência sobre o animal provoca
estresse, por isso o aparecimento dessas alterações morfológicas ou doenças é um efeito
de fatores estressantes repetidos (CERQUEIRA, 2011). Entre as consequências do baixo
grau de bem-estar associado à doença tem-se a redução da resistência a outras doenças
(BROOM; FRASER, 2010), podendo explicar casos em que uma doença inicialmente
suave leva o animal à morte.
A avaliação de dor em bovinos pode ser ainda mais difícil, pois estes são considerados
espécies presa e menos prováveis de demonstrarem sinais de dor quando comparado com
outros animais ou pessoas. Isto é um instinto natural de sobrevivência das espécies presas,
onde a não expressão de sinais de dor ou doença evita a aproximação de predadores
(FIERHELLER, 2009). Entre os comportamentos indicativos da condição de dor em
bovinos de leite, que leva evidentemente a um baixo grau de bem-estar, pode-se citar a
alteração do comportamento ingestivo, do comportamento social alterado e as mudanças
do comportamento de ordenha. Três classes principais de comportamentos podem ser úteis
na avaliação da dor, sendo que a mais óbvia destas são os comportamentos específicos da
dor, como contorções, número crescente de vocalizações e comportamentos vigorosos de
fuga (PETERS, 2012). A segunda classe de resposta à dor é a diminuição na frequência ou
magnitude de certos comportamentos, por exemplo, a apatia geral tem sido considerada
como um sinal clássico de dor em animais e estudos da dor, muitas vezes, inclui medidas
de redução da atividade tais como, menor ingestão de alimentos ou reatividade (WEARY
et al., 2006; PETERS, 2012). Uma terceira classe de medidas de dor são as de escolha ou
preferência. O comportamento tem um papel importante na transmissão de uma ampla
variedade de doenças, é consensual entre os pesquisadores que condições de enfermidades
causam dor, apesar de ainda pouco se conhecer sobre o processo da dor em casos de
inflamação da glândula mamária bovina (BROOM; FRASER, 2010).
Os principais problemas de bem-estar de vacas leiteiras são problemas podais,
mastite, problemas reprodutivos, e qualquer condição que torne o animal incapaz de
demonstrar respostas comportamentais normais ou fisiológicas emergenciais (BROOM;
FRASER, 2010; PETERS, 2012). Sob as condições de desconforto permanente causado
por enfermidades, os animais passam menos tempo se alimentando e ruminando
(ALMEIDA et al, 2008), o que leva a distúrbios metabólicos. As altas taxas de prevalência
e incidência das afecções digitais em bovinos leiteiros, principalmente em sistemas de
confinamento, incentivaram pesquisas nas quais diversos autores constataram que esta
é a terceira maior causa de descarte nos rebanhos, ficando atrás apenas da mastite e
problemas reprodutivos (RUTHERFORD et al., 2009).
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201
As afecções do casco em bovinos levam a diminuição entre 5% e 20% na produção
de leite por lactação, além de dificultar a observação e reduzir a ocorrência do estro e a
taxa de concepção (GREEN et al., 2002). Também desencadeiam custos com tratamento
de animais doentes, maior incidência de mastite, perda de valor genético por acometer
frequentemente animais de grande valor, e em alguns casos pode até levar o animal
a óbito (MARTINS et al., 2002; FERREIRA et al., 2005). Um dos principais fatores
preponderantes que influenciam no bem-estar animal com relação aos problemas de casco
na exploração de bovinos leiteiros é o pavimento. A higiene das superfícies também é
considerada um fator chave que pode agravar os problemas de claudicação de origem
infecciosa (COOK et al., 2005).
Um dos principais entraves para a bovinocultura leiteira é a mastite, apesar do
desenvolvimento de diversas estratégias para o seu controle e prevenção, continua
sendo a doença que mais causa prejuízos a atividade leiteira. A mastite afeta rebanhos
leiteiros do mundo inteiro, sendo considerada não só um problema econômico, mas
também um sério problema ao bem-estar animal (BROOM; FRASER, 2010). Além do
impacto econômico da mastite, resultante das perdas em produção de leite, alterações
na composição e descarte de animais, fatores relacionados à dor e desconforto causado
por esta doença devem ser considerados nos sistemas de produção leiteira, buscando
assim elevar os níveis de bem-estar na propriedade e consequentemente, a produtividade
animal (PETERS, 2012).
Segundo Broom e Fraser (2010) o risco de ter baixo grau de bem-estar indicado por
doenças como mastite, claudicação ou problemas de fertilidade é maior à medida que a
produção aumenta. Por outro lado, baixos níveis de bem-estar ocasionados por doenças
inflamatórias podem impedir o animal de atingir o potencial máximo de produção.
As pesquisas avaliando a relação específica de doenças da glândula mamária e
bem-estar são incipientes. Como ocorre com outras doenças, é difícil conhecer como
a mastite afeta o bem-estar dos animais. No entanto, sabe-se que o efeito da mastite
no animal depende da forma da doença (RUSHEN et al., 2008). Por exemplo, mastite
sistêmica tem uma longa duração do efeito em relação à mastite localiza e pode ter
maiores consequências no bem-estar. Vacas leiteiras com mastite sentem dor e tem
seu bem-estar prejudicado, essa provavelmente é a maior fonte de dor em ruminantes
(FITZPATRICK et al., 2006). Cabe afirmar que os animais são seres sencientes e tem
capacidade de sentir e perceber dor, ou seja, se a mastite causa dor essa é, sem dúvida,
percebida pelos animais, comprometendo assim o bem-estar e a produtividade animal
(CERQUEIRA et al., 2011).
A mastite afeta diretamente a terceira liberdade, a qual prevê que as vacas devem
estar livres de dor e doenças para ter um alto grau de bem-estar (BROOM; FRASER,
2010). Desta forma, um animal submetido a um quadro clínico crônico de mastite não
tratada adequadamente pode resultar, além das perdas em produção e composição do leite,
em morte, o tratamento da dor objetiva tem como alvo, obter um estado no qual a dor não
é totalmente eliminada, mas se torna muito mais suportável, ao mesmo tempo em que os
aspectos positivos são conservados e potencializados (HELLEBREKERS, 2002).
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A relação “doença”, “dor” e “bem-estar” formam um sistema em que os elementos
influenciam-se entre si e cada um tem seu nível de importância. Apesar do atual
reconhecimento, pelas pessoas, da capacidade dos animais em sentir dor, nem sempre
um tratamento adequado é seguido (PETERS, 2012). Diante do exposto anteriormente
percebe-se a importância de se preocupar com o controle da dor, pois ela pode ser vantajosa
para a própria produtividade. Além disso, o alívio adequado da dor inflamatória estabelece
uma condição de bem-estar geral do animal, com efeitos positivos sobre a velocidade
e qualidade da recuperação (HELLEBREKERS, 2002), e talvez, com impacto sobre a
capacidade produtiva em lactações futuras.
Influência do ambiente no bem-estar de bovinos leiteiros
O estresse calórico é um típico problema encontrado no manejo de vacas leiteiras
nos países de clima tropical e subtropical, causando reduções na produção e mudanças na
composição do leite, redução na ingestão de alimentos e aumento na ingestão de água. A
perda de produção de leite devido ao aumento de temperatura depende de fatores como
a umidade relativa do ar, velocidade do vento, nutrição e outros fatores relacionados ao
manejo (HEAD, 1995). O estresse térmico se deve à baixa adaptação das raças bovinas
leiteiras especializadas às condições de clima e de manejo prevalentes em regiões tropicais.
Diferentes autores têm demonstrado que criar animais, em ambiente de conforto e bemestar, pode refletir diretamente na melhora de seus desempenhos produtivo e reprodutivo
(LEME et al., 2005).
As condições climáticas no verão podem causar desconforto e até o óbito de
animais menos adaptados. O calor excessivo reduz a ingestão alimentar e aumenta
o gasto de energia para manutenção do equilíbrio térmico (MADER et al., 1999).
Além disso, o estresse calórico diminui a produção de leite e a eficiência reprodutiva
resultando em baixo desempenho dos animais (ARMSTRONG et al., 1993). São
realizadas alterações de comportamento pelo animal com o intuito de reduzir a produção
de calor ou promover a sua perda, evitando estoque adicional de calor corporal. Essas
alterações referem-se à mudança do padrão usual de postura, movimentação e ingestão
de alimentos. Em geral, verifica-se que o percentual de vacas se alimentando durante
as horas mais quentes do dia é maior em ambientes sombreados, especialmente no
verão (PERERA et al., 1986). Rossarolla (2007) constatou que os animais sem acesso
à sombra diminuem o tempo de pastejo, sem conseguir compensá-lo com pastejo
noturno. As vacas observadas neste estudo ruminaram mais à noite, não havendo
diferença entre tratamentos, entretanto durante o dia as vacas sem disponibilidade de
sombra permaneceram mais tempo em ruminação. Além disso, animais sem acesso à
sombra tiveram a temperatura retal, frequência cardíaca e respiratória aumentadas em
comparação com os animais que tiveram acesso à sombra. Tem sido verificado também,
que vacas leiteiras passam menor tempo em pastejo no verão e maior tempo no inverno.
Por outro lado, no inverno, a porcentagem de vacas ruminando é maior do que no verão
(WERNECK, 2001) e os animais permanecem maior tempo em ócio durante o verão
do que no inverno (PERERA et al., 1986). Ademais, visando aumentar a perda de calor,
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no verão, as vacas passam maior tempo em pé, ao contrário do inverno, época em que
elas preferem ficar deitadas (ARMSTRONG, 1993; WERNECK, 2001).
O sistema silvipastoril pode ser uma opção para prover sombra aos animais.
Este sistema caracteriza-se pelo cultivo de espécies arbóreas em associação com
pastagens. As árvores, além contribuírem para a melhora na produção, qualidade e
sustentabilidade das pastagens, contribuem para o conforto dos animais, atenuando as
temperaturas extremas, diminuindo o impacto de chuvas e vento, e servindo de abrigo
(CARVALHO, 1998).
Também em sistemas de criação confinados (free-stall) o bem-estar pode estar
comprometido. Poderá haver ventilação deficitária, muitos animais ofegantes na
tentativa de amenizar o calor. Ainda, se o dimensionamento da cama não for correto, ou
se o material da cama for de qualidade inferior, o descanso pode ficar comprometido.
Um descanso inferior ao requerido, além do estresse do animal, pode predispor a
enfermidades podais. O ideal é encontrar 80% das vacas deitadas na cama (COOK et
al., 2005). É preciso também observar a limpeza das baias, pois isso está diretamente
relacionado a problemas sanitários, principalmente mastite.
Estudos demonstram que os valores da produção de leite apresentaram diferenças
significativas conforme as instalações. Para vacas da raça Jersey, a climatização
da sala de espera propiciou uma produção de leite 19% maior que o grupo não
climatizado (PINHEIRO et al., 2005). A aspersão utilizada em galpões tipo freestall
pode proporcionar um aumento de 3% na produção de leite em relação à utilização de
nebulização (PERISSINOTTO et al., 2006).
Alternativas para assegurar o BEA de bovinos de leite
Em relação à manutenção de um ambiente de conforto térmico, os pecuaristas têm
uma gama de técnicas disponíveis para atenuar os efeitos do clima de inverno em climas
temperados, fornecendo abrigo, aumentando a condição corporal e proporcionando
maior quantidade e qualidade de alimentos (TUCKER et al., 2007). Já para atenuar
os problemas com o calor é possível diminuir a temperatura ambiental modificando a
estrutura do galpão onde os animais são mantidos, ou pela a introdução de instalações
de refrigeração. Aumentando a perda de calor a partir de animais por aspersão com
água, utilizando ventiladores entre outros. Aumentando a eficiência da energia de
alimentação utilização, e reduzindo o calor incremento de animais de alimentação
(TUCKER et al., 2008).
Outro ponto chave para assegurar o bem-estar de bovinos de leite está relacionado
à implantação das boas práticas de manejo. Uma boa relação homem-animal deve ser
estabelecida desde o início da vida das bezerras. De maneira alguma se deve utilizar
de um manejo aversivo em qualquer atividade a fim de desenvolver o bem-estar na
fazenda, oferecendo melhores condições de vida para todos que nela vivem e trabalham
(GARCIA, 2013).
204
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CONCLUSÃO
O bem-estar animal está em pleno desenvolvimento no mundo, e quanto mais
às sociedades se conscientizam da forma de como os animais vem sendo submetidos,
mais existirão exigências e barreiras àqueles que não se adequarem a este novo modo de
produzir. Conhecer e respeitar o bem-estar de bovinos de leite requer a observação de
muitas variáveis que podem o comprometer. Com base nos estudos descritos na literatura
pode-se afirmar que em todas as etapas de produção e para todas as diferentes categorias
animais é necessária maior atenção ao bem-estar.
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Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
209
Particularidades na contenção química
e na anestesia de serpentes
Fernanda Soldatelli Valente
Simone Passos Bianchi
Emerson Antonio Contesini
RESUMO
Atualmente observa-se um crescente aumento no interesse em répteis, seja como
instrumentos de pesquisa ou animais de estimação. A contenção química e anestesia em serpentes
é uma ciência pouco estudada, e sua utilização se faz necessária na maioria dos procedimentos
clínicos e cirúrgicos, principalmente em espécies grandes e peçonhentas. É imprescindível
um interesse especial pela anatomia e fisiologia desse grupo de répteis, uma vez que eles são
delicados e vulneráveis aos efeitos adversos do uso inadequado da anestesia, não sendo possível,
em muitos casos, extrapolar doses e resultados dos animais domésticos. A anestesia inalatória,
principalmente com isoflurano, tem se tornado a prática padrão para serpentes, pois é mais
segura e a recuperação do animal é mais rápida. Os agentes injetáveis, tais como fenotiazínicos,
benzodiazepínicos, agonistas α2-adrenérgicos, opioides e propofol em associação com a
cetamina também podem ser utilizados para a indução e manutenção da anestesia. Os agentes
bloqueadores neuromusculares e o frio (hipotermia) são ainda utilizados por alguns profissionais
para imobilização de serpentes, no entanto, esses não produzem qualquer efeito analgésico ou
anestésico; sendo, hoje em dia, considerado inaceitável o seu uso para esses fins. A anestesia
local pode ser utilizada em serpentes e proporciona uma analgesia adicional além de, reduzir a
quantidade do agente anestésico utilizado. A escolha do protocolo anestésico depende de vários
fatores, tais como o estado do animal, o tipo e a duração do procedimento a ser realizado e o
custo dos agentes utilizados. Sem dúvida, os agentes de escolha para as serpentes (e répteis em
geral) são os anestésicos que tenham metabolização rápida.
Palavras-chave: Répteis. Fármacos injetáveis. Anestésicos inalatórios.
Particularities in the chemical restraint and anesthesia of snakes
ABSTRACT
Nowadays a crescent increase has been observed on the interest for reptiles such as
instruments of survey or pets. Chemical restraint and anesthesia in snakes is a science a
little studied, and its application is necessary in most of the clinical and surgical procedures,
especially, in large and venomous species. It is indispensable an special interest for anatomy and
Fernanda Soldatelli Valente – Médica Veterinária, residência em cirurgia de pequenos animais (UFRGS), Mestre
em Cirurgia e Anestesiologia Animal (UFRGS), Doutoranda do PPGCV-UFRGS.
Simone Passos Bianchi – Médica Veterinária, residência em cirurgia de pequenos animais (UFRGS), Mestranda
do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV) da UFRGS.
Emerson Antonio Contesini – Médico Veterinário, Doutorado em Medicina Veterinária (UFSM), Professor
Associado de Cirurgia da Faculdade de Veterinária da UFRGS.
Endereço: Rua Murilo Furtado, 49 apto. 303, Bairro Petrópolis, 90470-440, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail:
[email protected]
v.10 v.10, n.2,
n.2 jan./jun.
p.210-221
Canoasem Foco,
210Veterinária em Foco Veterinária
2013
jan./jun. 2013
physiology in this group of reptiles, once that they are delicates and vulnerable to adverse effects
of inadequate anesthesia using, being not possible, to many cases, extrapolate doses and results
from domestic animals. Inhalational anesthesia, mainly with isoflurane, has become standard
practice to snakes, because it is safer and the animal recovery is faster. Injectables agents such as
phenothiazine, benzodiazepines, alpha2-agonist, opioids, propofol associated also with ketamine
should be used for anesthesia induction and maintenance. Neuromuscular blockers agents and
cold (hypothermia) are still used by some professionals to snakes immobilization, however this
doesn’t make whatever analgesic or anesthetic effects, being actually, considered unacceptable
its use for such purposes. Local anesthesia can be performed in snakes and provides additional
analgesia, beyond decrease the amount of anesthetic agent used. The choice of anesthetic protocol
depend on many factors, such as animal status, the kind of procedure and the procedure time to
be done and the cost of the used agents. No doubt, the chosen agents for snakes (and reptiles in
general) are anesthetics that have fast metabolism.
Keywords: Reptiles. Injectable drugs. Inhalational anesthetics.
INTRODUÇÃO
Atualmente observa-se um crescente aumento no interesse em répteis, seja
como instrumentos de pesquisa ou animais de estimação. Os procedimentos
clínico-cirúrgicos nesta classe receberam relativa importância ao longo dos anos
e, consequentemente, a anestesia nestes animais deixou de ser puramente empírica
(CARREGARO et al., 2009).
A contenção física precede a anestesia nos répteis, devendo-se para tanto conhecer
o comportamento e mecanismos de ataque/defesa desses animais, a fim de, se evitar
acidentes com a equipe de trabalho e com os próprios animais (NUNES et al., 2006).
Existe uma grande variedade de serpentes com diversos tamanhos e comportamentos. O
seu manejo requer o conhecimento a cerca da sua biologia, se peçonhenta ou não, como
inocula o veneno (algumas podem “cuspir”), se lenta ou ágil, para que se possa usar o
equipamento e a proteção adequados (CRUZ; NUNES, 2008). De igual importância
são as particularidades anatômicas e fisiológicas que interferem diretamente em um
procedimento anestésico (NUNES et al., 2006).
A anestesia inalatória, principalmente com isoflurano, tem se tornado a prática
padrão para serpentes, pois é mais segura e a recuperação do animal é mais rápida. A
anestesia injetável pode ser feita lentamente na veia caudal com cloridrato de cetamina
associada ao cloridrato de xilazina (KOLESNIKOVAS et al., 2006).
De acordo com Nunes et al. (2006), em um levantamento dos principais anestésicos
empregados em répteis, utilizando-se 367 animais, constatou-se que em 88% dos casos
foram utilizados anestésicos inalatórios; a cetamina e o propofol foram os agentes
injetáveis mais empregados.
Essa pesquisa bibliográfica tem como objetivo descrever os principais fármacos
utilizados na contenção química e anestesia, inalatória e injetável, em serpentes, além
de, suas associações em protocolos para os diferentes procedimentos anestésicos.
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
211
DESENVOLVIMENTO
Medicação pré-anestésica/tranquilização/sedação
O tipo e a quantidade de agentes pré-anestésicos dependem da espécie de réptil
a ser anestesiada e do procedimento a ser executado. Grandes crocodilos, serpentes de
grande porte ou peçonhentas e quelônios talvez necessitem da administração de um
agente injetável, previamente, para facilitar o manuseio e a indução da anestesia com um
agente inalatório (por exemplo, isoflurano) ou injetável (por exemplo, propofol). Répteis
candidatos a submeter-se a procedimentos cirúrgicos ou dolorosos, devem receber a
administração de um agente analgésico pré-operatório como butorfanol ou buprenorfina
para um regime anestésico balanceado. A administração desses agentes proporciona
analgesia transoperatória e pós-operatória e frequentemente reduz a quantidade do agente
inalatório utilizado para a manutenção da anestesia (SCHUMACHER; YELEN, 2006).
A maioria das serpentes pode ser pré-medicada com butorfanol (1 a 4mg/
kg, IM) ou uma dose baixa de cetamina (5 a 20 mg/kg, IM) antes da indução com
um agente inalatório (por exemplo: isoflurano 5% ou sevoflurano 8%). Serpentes
grandes podem ser pré-medicadas com tiletamina/zolazepam (2 a 4 mg/kg IM) para
facilitar o manuseio, a intubação endotraqueal e a indução com um agente inalatório
(SCHUMACHER; YELEN, 2006). Em um estudo desenvolvido por GARCIA (2012)
foi utilizada morfina (3mg/kg, IM) associada à cetamina (3mg/kg, IM) como medicação
pré-anestésica, previamente à indução com bucha de gaze embebida em isoflurano,
obtendo-se resultados satisfatórios.
Os fenotiazínicos não promovem sedação adequada, apenas tranquilização, mas
ajudam na redução da dose do agente indutor. Sugere-se o emprego da acepromazina
(0,1 a 0,5mg/kg, IM), porém, como sua absorção ocorre mais lentamente deve ser
administrada uma hora antes; ou, então, o uso da clorpromazina (10mg/kg, IM) (NUNES
et al., 2006; CRUZ; NUNES, 2008).
Os benzodiazepínicos, como o diazepam (0,2 a 2mg/kg, IM ou IV) e o midazolam
(1 a 2mg/kg, IM ou IV) se usados sozinhos tem um mínimo efeito sedativo na maioria
dos répteis. Geralmente, nos protocolos anestésicos, os benzodiazepínicos são
associados com agentes dissociativos como a cetamina (10 a 60mg/kg, IM) pelo efeito
miorrelaxante e agentes opioides como o butorfanol (1 a 4mg/kg, IM) ou buprenorfina
(0,02 a 0,2mg/kg, IM) (SCHUMACHER; YELEN, 2006). Os benzodiazepínicos
promovem extensão da cabeça e reduzem a resistência em abrir a boca, sem causar
alterações nas frequências cardíaca e respiratória, podendo ser utilizado para exame
clínico mais apurado, fluidoterapia e alimentação forçada por meio de sonda esofágica
(NUNES et al., 2006; CRUZ; NUNES, 2008).
Os agentes dissociativos mais frequentemente utilizados para a sedação de serpentes
são a cetamina, na dose de 22 a 44mg/kg, IM, e a tiletamina/zolazepam, na dose de 11
a 22mg/kg, IM. Em casos de bradicardia intensa ou prolongada, recomenda-se o uso de
sulfato de atropina (0,01 a 0,04mg/kg, IM ou IV), porém a maioria dos autores refere que
bradicardia e sialorreia não são frequentes em répteis (CRUZ; NUNES, 2008).
212
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
Indução anestésica
Para a administração intravenosa do agente de indução, pode ser utilizada a veia
ventral caudal, para a administração de propofol (3 a 5mg/kg, IV) ou outro agente
anestésico. Serpentes peçonhentas podem ser induzidas na câmara de indução ou
diretamente intubadas e mantidas com um agente anestésico inalatório. Tubos plásticos
claros são ideais para o manuseio de serpentes peçonhentas, pois permitem uma barreira
segura e visualização do animal. Esses tubos são frequentemente providos de pequenos
orifícios e fendas que possibilitam a aplicação de injeções e coleta de amostras.
Uma vez que a serpente está contida no tubo plástico, um anestésico inalatório pode
ser administrado através do tubo para facilitar a indução da anestesia e a intubação
endotraqueal (SCHUMACHER; YELEN, 2006).
A progressão do relaxamento muscular em serpentes é craniocaudal na indução e
caudocranial na recuperação anestésica. O reflexo de reposicionamento em serpentes é
realizado posicionando-se o animal em decúbito dorsal. Ele tentará voltar ao decúbito
ventral se estiver em plano anestésico superficial. O reflexo de dor pode ser avaliado
por meio do pinçamento cutâneo (NUNES et al., 2006). Em todas as serpentes, os
reflexos palpebrais e corneais não podem ser avaliados, devendo-se utilizar reflexos
adicionais como o caudal e o cloacal para o monitoramento do animal (SCHUMACHER;
YELEN, 2006).
Anestesia injetável
Nas serpentes, injeções IM são administradas nos músculos paravertebrais, enquanto
que injeções IV podem ser realizadas na veia coccígea ventral ou na veia jugular direita,
após pequena incisão cutânea. As injeções intracardíacas só deverão ser aplicadas em
situações de emergência (FERNANDES, 2010). A via intraóssea (IO) não é viável em
serpentes (LONGLEY, 2008).
Muitos agentes injetáveis têm sido utilizados e investigados para indução e
manutenção da anestesia em répteis. A maioria desses agentes, especialmente quando
usados sozinhos em altas dosagens, está associada a nítidos efeitos depressivos do
sistema cardiovascular, tempos de indução e recuperação prolongados, relaxamento
dos músculos de forma não satisfatória e analgesia insuficiente durante a manutenção
anestésica. O agente anestésico dissociativo mais comumente utilizado em répteis
para produzir imobilização e indução da anestesia é a cetamina. É considerada
segura na maioria dos répteis e pode ser administrada pelas vias intramuscular e
intravenosa. Quando utilizada sozinha, resulta em pobre relaxamento muscular, mínima
analgesia e, se usada em altas dosagens, prolongado tempo de recuperação anestésica
(SCHUMACHER; YELEN, 2006). De acordo com Carregaro et al. (2009), devido às
particularidades anatômicas e comportamentais, a anestesia em serpentes deve priorizar
o uso de medicamentos passíveis de administração intramuscular e elevada segurança
anestésica. Neste sentido, os agentes dissociativos se destacam, pois além da segurança
anestésica em serpentes, promovem poucas alterações fisiológicas em doses adequadas
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
213
(BENNETT, 1991). O uso isolado da cetamina é realizado há vários anos em serpentes
para facilitar a contenção, possibilitar a realização de exames clínicos e diminuir o
estresse do procedimento (HILL; MACKESSY, 1997). Entretanto, poucos enfatizam
as alterações fisiológicas dos animais no período transanestésico, atentando-se apenas
na possibilidade de contenção e na segurança do procedimento, tanto para o animal
quanto para o profissional (SCHUMACHER et al., 1997).
Em serpentes, o uso da cetamina isolada tem causado depressão respiratória,
hipertensão e taquicardia, estando contraindicada em pacientes desidratados, ou com
problemas renais e/ou hepáticos (FERNANDES, 2010). Portanto, ela é raramente
utilizada sozinha e frequentemente associada, em baixas dosagens, com agentes
sinérgicos como os benzodiazepínicos (diazepam, midazolam), agentes opioides
(butorfanol, buprenorfina) ou agonistas alfa2-adrenérgicos (medetomidina). A adição
de agentes sinérgicos permite que a dose da cetamina seja reduzida e resulta em melhor
qualidade da anestesia, caracterizada pela indução e recuperação mais rápida e suave,
além de, melhor relaxamento dos músculos e analgesia durante a manutenção anestésica
(SCHUMACHER; YELEN, 2006).
A cetamina é uma escolha apropriada para animais que requerem contenção
química. De acordo com Oliveira (2003), a dose recomendada para répteis é de 20 a
45mg/kg, IM, podendo ser administrada doses adicionais, se necessário. Para Cruz e
Nunes (2008), a cetamina deve ser utilizada para a anestesia injetável na dose de 55 a
80mg/kg, IM. O período de latência varia de 10 a 30 minutos; o de recuperação de 24
a 96 horas, sendo essa variação dependente da temperatura.
Carregaro et al. (2009) observaram a recuperação de serpentes anestesiadas com
cetamina (80mg/kg, IM) e submetidas à hipotermia (< 22ºC) ou à normotermia (30ºC).
De acordo com esse estudo, a recuperação dos animais mantidos em hipotermia foi
mais prolongada (5,5 horas) em relação aos animais condicionados a normotermia
(3,5 horas). Não houve diferença em relação ao período de latência entre os grupos.
A temperatura corporal reduzida pode até dobrar o período de duração da anestesia
com cetamina (80mg/kg, IM) em cascavel. Por isso, recomenda-se sempre aquecer o
animal no período transcirúrgico (GARCIA, 2012). As taxas metabólicas em animais
ectotérmicos são termodependentes, dessa maneira, temperaturas adequadas devem
ser providenciadas (26 a 30°C), para que a absorção e a excreção dos anestésicos não
sejam prolongadas (KOLESNIKOVAS et al., 2006).
O propofol (5 a 10mg/kg, IV) é muito utilizado em répteis, principalmente por
sua rápida metabolização. O período de latência é de 1 a 2 minutos e a recuperação
anestésica de 30 a 60 minutos (NUNES et al., 2006). Pode ocorrer apneia e redução
da saturação de oxigênio, bem como bradicardia, por isso recomenda-se a intubação,
ventilação e oxigenação (BENNETT, 1998).
Para Schumacher e Yelen (2006), o propofol é um agente de indução de ultracurta
duração, sendo o anestésico injetável de escolha em répteis, se existe um acesso venoso
disponível. Tem sido utilizado em uma variedade de espécies de répteis para indução e
214
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
manutenção da anestesia. Em serpentes, é administrado pela via intravenosa, podendo
ser utilizado em infusão contínua (0,3 a 0,5mg/kg/minuto) ou em bólus intermitente
(0,5 a 1mg/kg).
A tiletamina/zolazepam também pode ser utilizada como anestésico injetável, na
dose de 44 a 88mg/kg, IM. Os barbitúricos são contraindicados, pois apresentam alto
índice de mortalidade, recuperação prolongada (de até sete dias) e seus mecanismos de
metabolização e eliminação ainda são desconhecidos em serpentes (CRUZ; NUNES, 2008).
Entre os agonistas-α2 adrenérgicos, a medetomidina tem sido investigada como
um agente sedativo em répteis, especialmente em espécies potencialmente perigosas e
em procedimentos curtos. Similarmente ao uso em animais domésticos, a medetomidina
não pode ser utilizada isoladamente e, por isso, é comumente associada com uma baixa
dose de cetamina e um agente opioide, como o butorfanol. A administração dessa
associação facilita o manuseio de grandes espécies de répteis e permite a execução
de pequenos procedimentos como, debridamento de abscesso e coleta de amostras
para diagnóstico. O antagonista-α2 específico, atipamezole, pode ser administrado em
cinco vezes a dose da medetomidina para reverter os efeitos do agonista-α2 no final
do procedimento (SCHUMACHER; YELEN, 2006). Já, o agonista-α2 adrenérgico,
xilazina (0,1 a 1,25mg/kg, IM), não tem se mostrado eficiente em répteis. A ioimbina
também não foi eficaz em reverter os efeitos da xilazina nesses animais, em alguns
estudos (CRUZ; NUNES, 2008).
Anestesia inalatória
Os anestésicos inalatórios oferecem muitas vantagens sobre os agentes injetáveis,
como indução mais rápida, maior controle da profundidade anestésica, dispensa precisão
no peso do animal, permite suplementação de oxigênio e quando a intubação endotraqueal
é realizada, ventila-se pelo modo assistido. Além disso, o período de recuperação pode
ser mais curto do que com os agentes injetáveis, embora vários fatores possam interferir,
como a temperatura do animal, o shunt arteriovenoso (pois o sangue desvia o pulmão,
reduzindo, assim, a eliminação por via respiratória) e a apneia, que é muito frequente
nessas espécies (NUNES et al., 2006; CRUZ; NUNES, 2008).
Em serpentes, os anéis traqueais são incompletos e o comprimento da traqueia é
mais longo em comparação à dos quelônios. A posição rostral da glote proporciona sua
fácil visualização (SCHUMACHER; YELEN, 2006). A ventilação pulmonar é mantida
pelos movimentos dos músculos respiratórios, já que as serpentes não apresentam um
diafragma funcional (NUNES et al., 2006).
A intubação endotraqueal e a assistência ventilatória são indicadas. A frequência
respiratória normal para muitos répteis é de 10 a 20 movimentos respiratórios por minuto.
Com o uso de oxigênio a 100%, a frequência respiratória a ser empregada pode ser
reduzida para 2 a 4 movimentos/minuto e a ventilação assistida com pressão igual ou
inferior a 12cm H2O. As sondas endotraqueais com diâmetro interno maior que 2mm são
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
215
rotineiramente comercializadas; no entanto, sondas com diâmetros menores precisam ser
confeccionadas manualmente, a partir de cateteres ou sondas uretrais de pequeno calibre
(NUNES et al., 2006). GARCIA (2012) utilizou um cateter 16G recoberto com lidocaína
gel a 2% para a intubação de serpentes e, após, esse tubo endotraqueal foi adaptado ao
sistema baraka do aparelho de anestesia, obtendo uma anestesia segura e tranquila.
Segundo Nunes et al. (2006), algumas serpentes como a píton-burmesa (Python
molurus bivittatus) e a cascavel-do-oeste (Crotalus viridis) têm cartilagens traqueais
completas na porção proximal, e o uso de sonda com balonete é contraindicado, porque
pode causar lesão traqueal e, posteriormente, ferimento isquêmico. Em procedimentos
cirúrgicos orais, os tubos endotraqueais com balonetes podem ser usados, mas devese ter cuidado para não inflar o cuff em demasia. Em emergências respiratórias, como
um processo obstrutivo na cavidade oral ou na traqueia (por exemplo: granulomas,
corpos estranhos), pode ser realizada uma traqueostomia para obter acesso à traqueia
e assegurar uma ventilação (SCHUMACHER; YELEN, 2006).
O halotano, por não possuir odor pungente, pode ser bem tolerado na indução da
anestesia com auxílio de máscara. A administração deve ser realizada gradativamente de
forma a minimizar a ocorrência de apneia controlada. Se o animal não recebeu nenhum
sedativo prévio, a indução pode ser acompanhada de excitação inicial. Postula-se que as
espécies peçonhentas requerem maiores concentrações de halotano em relação às não
peçonhentas. O tempo de indução pode variar de 1 a 30 minutos e a recuperação pode
ser bastante prolongada (acima de 7 horas) (NUNES et al., 2006). Segundo Fernandes
(2010), o halotano, em serpentes, diminui significativamente a frequência e o volume
respiratório, levando a acidose respiratória, enquanto que, a frequência cardíaca aumenta
suavemente ou permanece inalterada.
O isoflurano é o anestésico inalatório de escolha em pacientes debilitados.
Devido à solubilidade reduzida no sangue, a indução e a recuperação da anestesia são
relativamente rápidas. O período de indução varia de 6 a 20 minutos e o de recuperação
é de até 6 horas. A indução da anestesia pode ser realizada com isoflurano através de
máscara, porém, esse é o agente que mais causa “breath holding”, ou seja, situação
em que a respiração cessa imediatamente após a inalação, o que dificulta a indução
da anestesia. Além disso, promove depressão respiratória de modo dose-dependente,
tem efeito broncodilatador e é irritante para as vias aéreas podendo desencadear tosse
e laringoespasmo (NUNES et al., 2006).
Segundo Fernandes (2010), com níveis baixos do anestésico isoflurano os animais
são capazes de respirar espontaneamente, mas com os níveis adequados para a cirurgia,
é normalmente necessário o uso de ventilação mecânica. O isoflurano causa uma
redução moderada (25%) na frequência cardíaca e uma severa redução na frequência
respiratória, estando presente uma redução da pressão arterial e da frequência cardíaca
dose-dependente, com efeitos limitados sobre a função renal e hepática.
Conforme Nunes et al. (2006), em um estudo utilizando serpentes (Bothrops
jararaca e Crotalus durissus), onde foram comparados três protocolos anestésicos
diferentes (cetamina+midazolam+isoflurano; cetamina+midazolam e apenas isoflurano),
216
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
observou-se redução importante na necessidade do agente inalatório quando foi feita
a administração prévia de cetamina e midazolam. Já, as jararacas não apresentaram
diferença significativa entre os grupos que receberam o agente inalatório com ou sem
a contenção química prévia.
De acordo com Bertelsen (2007), o dióxido de carbono é ocasionalmente usado
na imobilização de serpentes peçonhentas, durante a extração de veneno. Pensa-se que
o estado de inconsciência seja atingido através da acidose do sistema nervoso central
não sendo, por isso, recomendado na prática clínica.
O metoxiflurano é o mais barato dos anestésicos voláteis e funciona bem; porém,
seus períodos de indução e recuperação são prolongados e ele apresenta riscos de
depressão miocárdica potente e nefrotoxicidade. Algumas espécies, tais como as pítons,
são mais sensíveis a ele (OLIVEIRA, 2003).
Segundo Oliveira (2003), o óxido nitroso reduz o período de indução e melhora o
relaxamento muscular quando administrado em proporção de 1:1 a 3:1 com oxigênio,
e também em conjunto com qualquer outro anestésico inalatório. Para Cruz e Nunes
(2008), a associação do óxido nitroso ao oxigênio (2:1) acelera a indução anestésica
e a recuperação anestésica pode ocorrer em 10 minutos. Não deve ser empregado
isoladamente da mesma forma como é indicado nos mamíferos; pelo menos 30% de
oxigênio deve ser adicionado à mistura de gases para que não haja hipóxia (NUNES
et al., 2006).
Narcose pelo frio ou hipotermia
Antigamente, o resfriamento era utilizado como contenção física e até como anestesia
para cirurgias. No entanto, sabe-se, hoje, que tal método permite a contenção do animal
apenas por impossibilitá-lo de responder aos estímulos dolorosos sem, contudo, promover
qualquer analgesia e pode provocar estresse. Como este método diminui drasticamente
o metabolismo, não convém utilizá-lo como contenção para futura administração de
anestésicos gerais (CRUZ; NUNES, 2008). Além disso, para Oliveira (2003), a hipotermia
(a 4ºC) pode predispor a pneumonia e, portanto, não deve ser praticada. De acordo com
Natalini (2007), o uso da hipotermia como meio de contenção não é recomendado, porque
promove recuperação prolongada e há potencial de morbidade aumentada, devendo ser
utilizada apenas para obter a contenção de animais peçonhentos e agressivos, seguida por
anestesia apropriada. Baixas temperaturas têm sido associadas à alteração necrótica no
cérebro de serpentes. Agentes anestésicos injetáveis e inalatórios seguros e efetivos estão
disponíveis para répteis, sendo a hipotermia um recurso inaceitável para a imobilização
nessas espécies, devendo sua prática ser desmotivada constantemente (SCHUMACHER;
YELEN, 2006; CRUZ; NUNES, 2008).
Analgesia
Ainda há pouco conhecimento quanto à farmacocinética, eficácia e segurança dos
analgésicos nos répteis. Além disso, o reconhecimento da dor quanto à presença e sua
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
217
intensidade ainda é pouco estabelecido. Acreditava-se que os répteis não respondiam
aos opioides como os mamíferos; entretanto, isso foi desmistificado uma vez que os
componentes anatômicos, fisiológicos e bioquímicos da percepção da dor que existem
nos mamíferos também foram demonstrados em espécies não mamíferas (NUNES et al.,
2006). Segundo Machin (2001) apesar desses animais apresentarem um comportamento
mais tranquilo, também sentem dor.
Em alguns casos, a falta de reconhecimento da dor em serpentes e o desconhecimento
dos agentes analgésicos podem resultar em manejo da dor inapropriado. Condições como
traumas, neoplasias, procedimentos cirúrgicos e doenças crônicas, processos normalmente
associados com dor em mamíferos, também causam dor e desconforto nessas espécies.
A dor, o estresse e o desconforto são relatados como fatores intimamente relacionados
em serpentes. O manejo efetivo da dor reduz o estresse e o desconforto desses répteis,
reduzindo ou eliminando os efeitos da dor aguda e crônica no metabolismo do animal,
como sistema imune comprometido, desequilíbrios hematológicos, bioquímicos e nas
trocas metabólicas. Embora muitos médicos veterinários estejam familiarizados com o
comportamento normal e anormal dos animais domésticos, em especial cães e gatos, o
reconhecimento desses em répteis é frequentemente um desafio. Alguns sinais como
posicionamento e movimentos anormais do corpo, além de anorexia, tremores, depressão
e aumento da agressividade e da taxa respiratória podem auxiliar no diagnóstico da dor
em serpentes (SCHUMACHER; YELEN, 2006).
A prevenção é o método mais efetivo para controlar a dor. Por isso, são
recomendados protocolos anestésicos que priorizam técnicas analgésicas em
procedimentos cirúrgicos eletivos. A semelhança do que ocorre nos animais domésticos,
protocolos analgésicos balanceados são mais efetivos no controle da dor trans e pósoperatória em serpentes. Frequentemente, isso inclui a administração de agentes
analgésicos sistêmicos (opioides) em combinação com agentes anestésicos locais de
longa-duração (por exemplo, bupivacaína) (SCHUMACHER; YELEN, 2006).
Opioides
Em um estudo retrospectivo sobre anestesia e analgesia de répteis, observou-se que
o butorfanol foi o agente analgésico mais utilizado, com doses e intervalos extremamente
variados. A buprenorfina (0,03mg/kg, IM), apesar do período de latência prolongado em
serpentes, apresenta tempo de ação longo com poucos efeitos colaterais. A meperidina é
indicada na dose de 20mg/kg, IM, a cada 12 a 24 horas (NUNES et al., 2006). As doses
recomendadas por Cruz e Nunes (2008) de butorfanol é 0,4mg/kg, IM, enquanto de
buprenorfina é de 0,01mg/kg, IM.
Segundo Longley (2008), o butorfanol e a buprenorfina são comumente usados
na sedação de serpentes, antes da indução por máscara com agentes inalatórios. Garcia
(2012) utilizou cloridrato de tramadol (3mg/kg, IM, a cada 24 horas) no pós-operatório
de serpentes que haviam sido submetidas a incisões de pele e, posteriormente, suturas
cutâneas.
218
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
Anti-inflamatórios não esteroidais
Os anti-inflamatórios não esteroidais como o meloxicam (0,1 a 0,3mg/kg,
IM, a cada 24 horas), o carprofeno (1 a 4mg/kg, IM, a cada 24 a 72 horas) ou o
cetoprofeno (1 a 3mg/kg, IM, a cada 24 a 48 horas) promovem efeito satisfatório
principalmente no período pós-operatório e no tratamento prolongado. A dose de
flunixina meglumina preconizada é de 0,5 a 2mg/kg, IM, a cada 24 horas (NUNES
et al., 2006; SCHUMACHER; YELEN, 2006; CRUZ; NUNES, 2008).
Agentes anestésicos locais
Agentes anestésicos locais não são utilizados isoladamente de forma rotineira
em répteis. Contudo, eles podem ser usados para as mesmas indicações que em
animais domésticos. Como parte de protocolos analgésicos balanceados, os agentes
anestésicos locais como a lidocaína ou a bupivacaína podem ser administrados
simultaneamente com analgésicos sistêmicos. Técnicas para anestesia local e regional,
incluindo anestesia epidural, não tem sido descritas em répteis. O bloqueio dos
nervos intercostais e a administração interpleural de agentes anestésicos locais são
indicados para celiotomias em répteis. O agente anestésico local mais efetivo é a
bupivacaína (1-2mg/kg), cuja administração pode ser repetida a cada 4 a 12 horas.
Outras indicações para a utilização de agentes anestésicos locais incluem as cirurgias
ortopédicas, em combinação com agentes analgésicos sistêmicos (SCHUMACHER;
YELEN, 2006).
Segundo Cruz e Nunes (2008), a anestesia local é indicada para laceração e
biópsia de pele, curetagem de abscesso e excisão de neoplasia cutânea. Seu uso é
limitado a animais de grande porte pela dificuldade de contenção física.
De acordo com Nunes et al. (2006), a pele de répteis é muito sensível à estímulos
dolorosos. Pode-se utilizar anestesia infiltrativa com lidocaína 2% para drenar
abscessos, realizar suturas de pele ou outros procedimentos menores. Em serpentes
peçonhentas, o uso isolado de anestésico local não é recomendado. Mas, podem-se
utilizar fármacos para a contenção química e o anestésico local para a analgesia da
região onde será realizado o procedimento.
Como não há dados na literatura quanto às doses máximas permitidas, para se
evitar a ocorrência da toxicidade sistêmica, sugere-se recorrer aos níveis utilizados
nos mamíferos (procaína – 10mg/kg; lidocaína – dose máxima 7mg/kg e bupivacaína
– 2mg/kg). Uma vez que os anestésicos locais podem ser tóxicos em doses altas,
levando a arritmias e convulsões, a dose máxima deve ser calculada no sentido de
garantir que não será excedida acidentalmente, principalmente nos pacientes de
pequenas dimensões (LONGLEY, 2008).
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
219
CONCLUSÃO
As serpentes são animais que apresentam certas particularidades, o que implica
na necessidade de cuidados especiais em relação a todas as fases da anestesia: prémedicação, indução, manutenção, recuperação anestésica e monitorização. A anestesia em
répteis, embora usada desde o início do século XIX, é uma ciência pouco estudada, com
pouquíssimo entendimento da farmacocinética e farmacodinâmica dos anestésicos, falta
de aparelhos de monitorização e suporte específicos, além de muita variabilidade entre as
espécies, o que dificulta a extrapolação de resultados. Dessa forma, ressalta-se a escassez
de informações científicas provenientes de estudos anestesiológicos espécie-específica
e a necessidade desses para a validação de protocolos anestésicos adequados, a fim de,
nortear os variados procedimentos clínicos, cirúrgicos e anestésicos em serpentes.
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Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
221
Fauna de ixodídeos em carnívoros silvestres
atropelados em rodovias de Santa Catarina:
relato de caso
Rosiléia Marinho de Quadros
Bruna L. Boaventura
Wilian Veronezi
Sandra Márcia Tietz Marques
RESUMO
O estudo de identificação da fauna de ectoparasitos é parte de um programa de monitoramento
da fauna silvestre de quatro rodovias que passam pela região serrana do Estado de Santa Catarina,
Brasil. No período de agosto de 2007 a abril de 2013 foram resgatados três Puma concolor, três
Leopardus tigrinus, um Puma yagouaroundi, seis Procyon cancrivorus e cinco Cerdocyon thous,
totalizando 18 carnívoros. Carrapatos ixodídeos foram registrados em todos os carnívoros, 87
espécimes de Amblyomma aureolatum parasitando P. concolor, P. yagouaroundi, C. thous e P.
cancrivorus. P. concolor foi quem apresentou maior grau de infestação (72,15%) com 57 espécimes
de A. aureolatum. Três espécimes de Amblyomma trigrinum foram registrados em Lycalopex
gymnocercus. Este relato amplia a lista de carrapatos parasitando animais silvestres no estado de
Santa Catarina.
Palavras-chave: Ixodídeos. Amblyomma spp.. Carnivora. Fauna Silvestre.
Ixodids detected in wild carnivores run over on highways of Santa
Catarina, Brazil: a case report
ABSTRACT
The study on the identification of ectoparasites is part of a program for monitoring wildlife
on four highways in the mountain region of the state of Santa Catarina, Brazil. Between August
2007 and April 2013, Puma concolor (3), Leopardus tigrinus (3), Puma yagouaroundi (1), Procyon
cancrivorus (6) and Cerdocyon thous (5), totaling 18 carnivores, were rescued from the highways.
Ixodid ticks were detected in all carnivores, and 87 specimens of Amblyomma aureolatum were
found as parasites on Puma concolor, P. yagouaroundi, C. thous and P. cancrivorus. P. concolor was
the species with the highest infestation rate (72.15%), infected with 57 A. Aureolatum specimens.
Three specimens of Amblyomma trigrinum were reported in Cerdocyon thous. This case report
extends the list of ticks that have infected wild animals in the state of Santa Catarina.
Keywords: Ixodids. Amblyomma spp.. Carnivora. Wildlife.
Rosiléia M. de Quadros, Bruna L. Boaventura e Wilian R. Veronezi – Departamento de Parasitologia da
Faculdade de Ciências Biológicas da UNIPLAC, Lages-SC.
Sandra M. T. Marques – Departamento de Patologia Clínica Veterinária da Faculdade de Veterinária da UFRGS,
Porto Alegre-RS.
Endereço: Av. Bento Gonçalves, 9090, Agronomia, Porto Alegre-RS. CEP.: 91540-000.
E-mail: [email protected]
222Veterinária em Foco Veterinária
v.10 v.10, n.2,
n.2 jan./jun.
p.222-228
Canoasem Foco,
2013
jan./jun. 2013
INTRODUÇÃO
A diversidade de espécies de carrapatos parasitando a fauna carnívora silvestres
no Brasil é resultante dos diferentes ecossistemas em que estes animais habitam. Nesse
sentido, as características ambientais e a diversidade de espécies de hospedeiros de cada
área são pontos fundamentais para a existência de determinadas espécies de carrapatos
e o constante deslocamento destes animais por regiões diferentes em busca de alimento
facilita a infestação por ectoparasitos (LABRUNA et al., 2001).
São descritas no mundo aproximadamente 870 espécies de carrapatos, 102 são
endêmicas para o Novo Mundo e 55 foram registradas no Brasil (TOLEDO et al., 2008).
O gênero Amblyomma apresenta aproximadamente 130 espécies e 57 estão descritas na
região neotropical, sendo 30 no Brasil (DANTAS-TORRES et al., 2009) e duas espécies,
A. fuscum e A. parkeri são verdadeiramente endêmicas (ONOFRIO et al., 2006).
Os carrapatos gastam mais de 90% de sua vida útil fora dos hospedeiros, cujas
condições ambientais como temperatura, pluviometria, umidade, latitude, altitude e tipo
de vegetação são cruciais para determinar a sobrevivência e o desenvolvimento no meio
ambiente, bem como a disponibilidade de hospedeiros primários para este invertebrado
(LABRUNA et al., 2005). A maioria das espécies de carrapatos está associada aos
animais silvestres, com poucos registros no Brasil, principalmente em relação aos seus
hospedeiros, distribuição geográfica e aos efeitos do parasitismo (GUIMARÃES et al.,
2001; LABRUNA et at., 2002).
O conhecimento das espécies de ectoparasitos é importante uma vez que podem
participar na manutenção enzoótica de patógenos em meio natural, parasitando,
sobretudo animais silvestres, que passam neste ecossistema a ser importantes vetores
de zoonoses emergentes. Quanto ao ciclo vital, os ixodídeos apresentam de um até três
hospedeiros e frequentemente as fases imaturas alimentam-se em animais de menor
tamanho, tais como aves e roedores, enquanto que os adultos realizam cópulas em
animais de médio e grande porte (OLIVER JÚNIOR, 1989). O relato deste estudo faz
parte de um programa de monitoramento da fauna silvestre que sofre atropelamento
em quatro rodovias que passam pelo Planalto Catarinense, Santa Catarina, Brasil.
RELATO DE CASO
O estudo é realizado em quatro rodovias da região do Planalto Catarinense,
abrangendo as rodovias: BR 282, entre os municípios de São José do Cerrito e Bocaína
do Sul, a BR 116 entre Correia Pinto e Capão Alto, SC 425 e SC 438 entre os municípios
de Lages e São Joaquim (Figura 1).
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
223
FIGURA 1 – Localização das Rodovias BR 282 entre os municípios de São José do Cerrito e Bocaina do Sul;
BR 116 entre Correia Pinto e Capão Alto; SC 425 e SC 438 entre os municípios de Lages e São Joaquim.
Fonte: Os autores.
O reconhecimento, a busca e a captura dos animais encontrados ao longo das
rodovias se devem ao trabalho conjunto com o IBAMA e a Polícia Rodoviária Federal.
Os animais são encaminhados para o Laboratório de Parasitologia da Universidade do
Planalto Catarinense.
No período de agosto de 2007 a abril de 2013 foram resgatados 18 carnívoros: três P.
concolor (onça-parda, suçuarana, leão-baio), três L. tigrinus (gato-do-mato-pequeno), um
P. yagouaroundi (gato-mourisco, gato-preto, maracajá-preto), seis P. cancrivorus (mãopelada, guaxinim) e cinco C. thous (graxaim-do-mato, cachorro-do-mato, raposa). Entre
os animais resgatados, treze eram fêmeas, cinco de felídeos (P. concolor, P. yagouaroundi
e L. tigrinus) e oito de canídeos (C. thous, L. gymnocercus e P. cancrivorus). Entre os
cinco machos resgatados, dois eram P. cancrivorus, um P. concolor, um L. tigrinus e um
C. thous. Os animais recolhidos se apresentaram em óbito (Figura 2).
224
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
FIGURA 2 – Animais resgatados no período de agosto de 2007 a abril de 2013 em quatro rodovias da região do
Planalto do Estado de Santa Catarina.
Procyon cancrivorus
Puma yagouaroundi
Puma concolor
Cerdocyon thous
Fonte: Os autores.
As localizações dos resgates foram determinadas através do Sistema de
Posicionamento Global (GPS). No laboratório, os animais foram pesados e determinados o
peso corporal, o sexo e a espécie. Após, foram inspecionados para a retirada dos ixodídeos,
coletados manualmente e acondicionados em frascos com álcool a 70%. A identificação
dos ectoparasitos foi baseada nas características morfológicas, segundo Kohls (1956),
Keirans (1992) e Onofrio et al. (2006).
Carrapatos ixodídeos foram registrados em 18 carnívoros, sendo identificados 87
espécimes (55 fêmeas e 32 machos) de A. aureolatum em P. concolor, P. yagouaroundi,
C. thous e P. cancrivorus e três espécimes (duas fêmeas e um macho) de A. trigrinum em
L. gymnocercus. Em relação ao sexo dos carnívoros não houve diferença significativa
para o encontro de carrapatos. P. concolor apresentou o maior grau de infestação pelos
ixodídeos, sendo coletados 57 espécimes de A. aureolatum representando 72,15% dos
ácaros identificados.
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
225
DISCUSSÃO
As últimas listas de carrapatos publicados no Brasil foram os relatos de Aragão
e Fonseca (1961) e Guimarães et al. (2001), conforme Dantas-Torres et al. (2009).
Aragão e Fonseca (1961) descreveram como possíveis hospedeiros de estágios
adultos de A. aureolatum canídeos selvagens (Canis azarae e Dusicyon sp.), gatos
selvagens (Felis wiedii wiedii), raposas (Cerdocyon thous entrerianus), guaxinins
(Procyon cancrivorus), furões (Grison furax e G. brasiliensis vittatus), bicho-preguiça
(Bradypus tridactylus), leão-da-montanha (Puma concolor), veados (Cervus sp .,
Cervus paludosus e Mazama sp.), gambás (Didelphis aurita), capivaras (Hydrochoerus
hydrochaeris), quatis (Nosua socialis) e o roedor selvagem Euryzygomatomys
spinosus. Gato doméstico, caprino, cavalo (LABRUNA et al., 2002), suíno e bovino
também podem ser parasitados (Rodrigues et.al , 2002). Estágios adultos de A.
aureolatum foram identificados em cães domésticos por Freire (1972), Massard
et al. (1981), Evans et al. (2000), Labruna et al. (2001) e Rodrigues et al. (2002);
em bugios-ruivos (Alouatta clamitans) em Santa Catarina por Lavina et al. (2011)
e em bugios guariba (Alouatta guariba) no Rio Grande do Sul (MARTINS et al.,
2006). A. tigrinum foi descrito no Brasil ocorrendo nos estados do Rio Grande do
Sul (EVANS et al., 2000), Santa Catarina (CARDOSO et al., 2008), Minas Gerais
(ABEL et al., 2006), Tocantins (MARTINS et al., 2009), Paraná (LABRUNA et al.,
2001), Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo (GUIMARÃES et al.,
2001; PEREIRA et al., 2000).
Os ectoparasitos em animais silvestres podem ser de grande importância à saúde
pública principalmente se tratando de carrapatos A. aureolatum e A. cajennense,
apontados como transmissores da febre maculosa, causada por uma pequena bactéria
chamada Rickettsia rickettsii (GÓES et al., 2006). A. tigrinum tem envolvimento na
transmissão de microrganismos patogênicos como Rangelia vitalii, Babesia canis e
Ehrlichia canis (LORETTI; BARROS, 2004).
Os ambientes fragmentados promovem o deslocamento de animais silvestres
na busca por outros ambientes para sua sobrevivência o que leva a aproximação de
áreas urbanas e ao contato mais direto com espécies domésticas entre elas cães e o
ser humano, formando um ciclo de importância dentro das transmissões de patógenos
zoonóticos (GÓES et al., 2006). Reforçando esta assertiva, Martins et al. (2010) fazem
o primeiro registro do parasitismo de A. aureolatum em gato-maracajá (Leopardus
wiedii) encontrado atropelado, no município de Gravataí, junto a rodovia RS 020, área
antropizadas, pertencente a região metropolitana de Porto Alegre, semelhante situação
apresentada neste relato.
Um fator relevante nos estudos da fauna silvestre se deve a grande extensão do
território brasileiro e, muitas vezes, as dificuldades nas visualizações e captura/soltura
da fauna silvestre para investigações, além dos custos operacionais despendidos nesses
esforços. A parceria deste projeto com órgãos oficiais é menos onerosa, servindo também
ao propósito de contemplar animais em risco, algumas vezes encontrados vivos, muitas
vezes atropelados por já se encontrarem injuriados por armas de fogo. Os animais de
226
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
produção servem de fonte de alimento para os carnívoros silvestres que perderam seu
habitat, muitas vezes em áreas antropizadas e recentemente urbanizadas.
Este relato amplia a lista de carrapatos parasitando P. concolor, L. tigrinus,
P. yagouaroundi, P. cancrivorus, C. thous e L. gymnocercus no estado de Santa
Catarina.
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228
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
Espécies do gênero Helicobacter de
importância em medicina veterinária:
revisão de literatura
Priscila R. Guerra
Anelise Bonilla Trindade
Vanessa Dias
Marisa Ribeiro de I. Cardoso
RESUMO
As bactérias do gênero Helicobacter são bacilos Gram negativos, helicoidais, que requerem
uma atmosfera de microaerofilia para seu crescimento. Podem habitar tanto a mucosa gástrica
quanto o interior das glândulas gástricas de animais assintomáticos ou com sinais clínicos de
gastropatia. Esses pacientes podem apresentar quadros de dispepsia, gastrite crônica, erosões,
ulcerações e até adenocarcinoma, ocasionado dor e desconforto abdominal. Devido à elevada
prevalência dessa bactéria em diferentes espécies animais, torna-se importante conhecer as
principais espécies envolvidas na infecção, bem como os principais métodos diagnósticos
utilizados na medicina veterinária. Os métodos invasivos, os quais necessitam de endoscopia
digestiva alta, são os mais empregados em medicina veterinária, incluem-se a histologia, o
teste rápido da urease, a cultura bacteriana e os métodos moleculares de diagnóstico. Para fins
de pesquisa, recomenda-se a associação de múltiplas técnicas para alcançar um diagnóstico
mais preciso. O objetivo do trabalho foi revisar os principais métodos diagnósticos invasivos
empregados em medicina veterinária, bem como as principais espécies de Helicobacter que
acometem os animais domésticos.
Palavras-chave: Estômago. Gastrite. Pequenos animais. Suínos.
Main species of genus Helicobacter reported in veterinary medicine:
Review
ABSTRACT
Bacteria of the genus Helicobacter are Gram-negative, helix-shaped and requires
microaerophilic atmosphere for growth. It can inhabit the gastric mucosa as inside of the gastric
glands of asymptomatic animals or animals with clinical signs of gastropathy. These patients
may be suffering of dyspepsia, chronic gastritis, erosions, ulcerations and even adenocarcinoma,
Priscila R. Guerra é Médica Veterinária, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias,
Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Anelise Bonilla Trindade é Médica Veterinária, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Veterinárias, Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Vanessa Dias é técnica laboratorial do Laboratório de Medicina Veterinária Preventiva, Faculdade de Veterinária
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Marisa Ribeiro de Itapema Cardoso é Médica Veterinária, doutora, professora titular da Faculdade de Veterinária
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Endereço: [email protected]
Veterinária em Foco Veterinária
v.10 v.10, n.2,
n.2 jan./jun.
p.229-243
Canoas em Foco,
2013
jan./jun. 2013 229
leading to abdominal pain and discomfort. Because of the high prevalence of this bacterium in
different animals species, it is important to know the main species involved in the infection,
as the main diagnostic methods used in Veterinary Medicine. Invasive methods, which require
endoscopy, are the most commonly used in veterinary medicine. It included histology, rapid urease
test, bacterial culture and molecular diagnostic methods. To achieve more accurate diagnosis
it is used the combination of multiple techniques. The purpose of this paper was to review the
main invasive diagnostic methods used in Veterinary Medicine as well, as the main Helicobacter
species affecting domestic animals.
Keywords: Stomach. Gastritis. Small animals. Swine.
INTRODUÇÃO
O gênero Helicobacter é o agente mais comum de infecção crônica em humanos
e, possivelmente, também nos animais de companhia, colonizando a mucosa gástrica e
as microvilosidades das células epiteliais. Em humanos, podem ocorrer úlcera gástrica,
adenocarcinoma e linfoma marginal na região extranodal (MALT), ou a infecção pode
resultar apenas em sinais clínicos de dispepsia funcional (VITORIANO et al., 2011).
Estima-se que 25% a 50% da população humana dos países desenvolvidos estejam
infectados, sendo essa prevalência superior a 80% nos países em desenvolvimento
(CZINN, 2005; HAESEBROUCK et al., 2009). A infecção por Helicobacter pylori
em humanos é muito estudada, pois é considerada para essa espécie como uma das
infecções bacterianas mais comuns (RIZZATO et al., 2013).
O gênero Helicobacter já foi descrito em 142 espécies de vertebrados, incluindo
animais domésticos e silvestres (SMET et al., 2011). A prevalência de Helicobacter
em espécies animais é elevada, essas bactérias são encontradas frequentemente
no estômago de cães, entretanto a relação com a doença gástrica ainda não foi
completamente estabelecida (ASL et al., 2010). Estima-se que os valores de
prevalência variem entre 61 a 100% em cães assintomáticos ou com sinais clínicos de
dispepsia (HERMANNS et al., 1995; STRAUSS-AYALI; SIMPSON, 1999; NEIGER;
SIMPSON, 2000; HWANG et al., 2002). Já em felinos os valores de prevalência
variam entre 40% e 100% (VAN DEN BULCK et al., 2005; ERGINSOY; SOZMEN,
2006), enquanto que em suínos de terminação variou entre 8% a 95% (BARBOSA
et al., 1995; CANTET et al., 1999; CHOI et al., 2001; BAELE et al., 2009). Mesmo
com a elevada prevalência em diferentes espécies animais pouco é sabido sobre as
vias de transmissão desse agente, sendo inclusive levantada a hipótese de que os
animais sejam uma fonte de infecção para humanos. Apesar dos estudos das últimas
décadas haverem proposto que a transmissão por via fecal-oral e/ou oral-oral são as
vias mais plausíveis para infecção gástrica (ARFAEE et al., 2012). Ainda existem
muitas questões a serem elucidadas referentes às principais espécies bacterianas e
a importância dessas em Medicina Veterinária. Portanto, o presente trabalho teve
como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre as principais espécies do
gênero Helicobacter que acometem os animais domésticos, bem como os métodos
diagnósticos mais empregados.
230
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
Características do gênero
O gênero Helicobacter pertence à subdivisão Proteobacteria, da ordem
Campylobacterales, pertencente à família Helicobacteraceae. São bacilos Gramnegativos, helicoidais, multiplicam-se numa faixa de temperatura entre 34°C a 40°C,
sendo a temperatura ótima de 37°C. São micro-organismos fastidiosos, necessitam de
uma atmosfera microaerofílica constituída por O2 (5-6%), CO2 (8-10%) e N2 (80-85%),
são oxidase positiva, com exceção de H. canis, catalase positiva (KUSTERS et al., 2006;
QUINN et al., 2012). Atualmente, o gênero Helicobacter sp. compreende 33 espécies
(LPSN, 2013), embora ainda haja muitas divergências com relação à nomenclatura de
novas espécies. Nos últimos anos, muitas espécies vêm sendo classificadas como não
H.pylori, as quais constituem um grupo diversificado capaz de colonizar a mucosa gástrica
de animais (HAESEBROUCK et al., 2009). Em humanos as espécies não H.pylori são
encontradas em 0,2 a 6% das biópsias gástricas (WÜPPENHORST et al., 2012).
Helicobacter pylori, causador de gastrite crônica e úlcera péptica em humanos,
foi descrita pela primeira vez por Warren e Marshall em 1983, sendo considerada a
espécie típica do gênero. Entretanto, observações de bactérias espiraladas presentes no
estômago de cães já haviam sido registradas no século dezenove (SIQUEIRA et al., 2007;
RECORDATI et al., 2009). Espécies do gênero Helicobacter já foram identificadas em
amostras da cavidade oral, do estômago, do duodeno e nas fezes de cães (EKMAN et
al., 2013). Em animais essa bactéria pode ocasionar desde erosão da mucosa gástrica,
gastrite até a formação de neoplasia gástrica, podendo também estar presente em animais
assintomáticos. Segundo Vieira e colaboradores (2012), sugeriram haver uma correlação
entre grau de inflamação e o número de bactérias presentes na mucosa gástrica de cães.
Entretanto, outros autores não encontraram essa mesma correlação, denotando que as
alterações citadas na literatura possam ser causadas por algumas espécies e sua interação
com o hospedeiro, ou uma consequência da resposta frente à infecção (GOMBAC et
al., 2010).
Patogenia
As bactérias do gênero Helicobacter só sobrevivem alguns minutos no lúmen do
estômago, portanto necessitam migrar rapidamente para a superfície epitelial gástrica
para sobrevivência. Porém, a camada mucosa do estômago consiste em uma barreira
física dificultando a penetração. Por isso, a presença de flagelos, assim como a forma
helicoidal são fatores fundamentais para a sobrevivência, pois permite atravessar essa
camada de muco gástrico e atingir a superfície epitelial e as criptas gástricas para que
ocorra a adesão (SALAMA et al., 2013). Essa ocorre por meio de fatores de aderência,
por exemplo, BabA, IceA, SabA, SabB e OipA, os quais auxiliam no estabelecimento
da colonização persistente e contribuem para a patogenicidade ao permitir o contato
direto com o epitélio (LIMA; RABENHORST, 2009). A atividade da enzima urease
também auxilia a mobilidade na camada mucosa, porque altera as propriedades de
viscoelasticidade da mucina gástrica. A produção de urease catalisa íons elevando pH para
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
231
valores próximos da neutralidade, transformando a consistência da mucina de gel para
visco elástica (SALAMA et al., 2013). A ativação da enzima urease, é um mecanismo para
neutralizar o pH ácido, o qual hidrolisa a ureia em amônia e bicarbonato, propiciando um
microclima favorável para a multiplicação no estômago. Além disso, a amônia também
serve de nutriente, sendo utilizada na biossíntese de aminoácidos bacterianos. A amônia
pode, ainda, ocasionar lesões na mucosa gástrica, pois estimula a liberação de mediadores
inflamatórios (BURY-MONE et al., 2003).
A colonização por Helicobacter sp. resulta na indução de resposta inflamatória,
caracterizada pelo influxo de neutrófilos, células mononucleares e CD4 T-helper. A
célula epitelial gástrica é o principal alvo para a infecção e contribui ativamente para a
resposta imune inata, através da sinalização de receptores como os Toll-like (TLR). O
lipopolissacarídeo (LPS) do gênero Helicobacter tem demonstrado baixa afinidade de
ligação para TLR, apesar do LPS ser a ligação bacteriana clássica para TLR. Além disso,
outros mecanismos de evasão são citados nessa espécie bacteriana, como a inibição da
liberação de óxido nítrico por macrófagos em resposta ao LPS (IHAN et al., 2012).
O mecanismo de proteção contra a infecção ainda não foi claramente elucidado,
mas existem evidências que apoiam o papel fundamental do CD4 T-helper, sendo
ativado quando antígenos são apresentados por MHC classe II, as quais são expressadas
na superfície de células apresentadoras de antígenos. Porém, estudos em camundongos
sugerem haver falhas na apresentação de epítopos resultando em resposta imune não efetiva
(LI et al., 2012). Segundo Kusters e colaboradores (2006), pode em alguns casos a resposta
do sistema imune provocar dano tecidual ao invés de destruir o microrganismo.
Cepas de Helicobacter promovem sua permanência no hospedeiro, por meio da
secreção de toxinas, como a produção de proteína imunogênica (CagA) e a produção de
citoxina vacuolizante (VacA). A proteína CagA, a qual é introduzida na célula hospedeira
via sistema de secreção do tipo IV da bactéria, induz alterações na fosforilação de tirosinas,
nas vias de sinalização e de transdução, resultando em rearranjo do citoesqueleto e em
alterações morfológicas. Cepas, as quais expressam CagA, estão associadas com um
aumento do câncer gástrico em humanos (SALAMA et al., 2013). A citotoxina VacA pode
induzir múltiplas atividades celulares, incluindo a vacuolização das células, a formação
de canais de membrana, a interrupção das funções endossomais e lisossomais, apoptose e
imunomodulação (KUSTERS et al., 2006; LIMA; RABENHORST, 2009). Helicobacter
faz uso de vários fatores de virulência para evadir as defesas imunes do hospedeiro e
assegurar a persistência da infecção (SALAMA et al., 2013).
Métodos diagnósticos
Os métodos disponíveis para o diagnóstico da infecção por Helicobacter sp.
são subdivididos em não invasivos e invasivos. Os métodos não invasivos, utilizados
para o diagnóstico em humanos, têm o intuito de detectar indiretamente a presença de
Helicobacter sp. por meio da sorologia e/ou do teste respiratório com ureia marcada
com isótopos de carbono (STRAUSS-AYALI; SIMPSON, 1999). Os métodos invasivos
232
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
requerem a realização de endoscopia digestiva alta para a coleta de fragmentos de mucosa
gástrica. Esses últimos são amplamente empregados para o diagnóstico em medicina
humana e veterinária, compreendendo: a reação em cadeia da polimerase (PCR), o teste
rápido da urease, a histologia e a cultura bacteriana (HAHN et al., 2000; GUARNER
et al., 2009).
Teste rápido de urease
O teste rápido da urease é um método simples, de baixo custo, necessitando de
apenas um fragmento de mucosa gástrica para sua realização. Existem kits comerciais
que contém uma combinação de ureia com indicador de pH (vermelho de fenol). Os
fragmentos de biopsia devem ser imersos nessa solução, imediatamente após a coleta. A
hidrólise da ureia ocasiona o aumento do pH do meio, resultando na alteração na coloração
do vermelho de fenol de amarelo para rosa. Quando essa mudança ocorre em intervalo
de até 24 horas, o teste é considerado positivo (CHOI et al., 2011).
O método baseia-se no fato de que a maioria das espécies do gênero Helicobacter
são potentes redutores de ureia, característica a qual permite a sobrevivência no ambiente
ácido do estômago (SIQUEIRA et al., 2007). Segundo Redéen et al. (2011) o método
apresenta sensibilidade de 90% e especificidade de 98% para fragmentos da região do
antro e corpo do estômago. Todavia, Choi et al. (2012) relataram haver uma redução na
sensibilidade quando houver sangramento gástrico.
Além disso, é importante salientar, que o resultado positivo no teste está diretamente
relacionado com a concentração bacteriana presente no fragmento, baixo número de
bactérias pode resultar em testes falso-negativos. Por outro lado, há a possibilidade de
contaminação da amostra por outros micro-organismos produtores de urease, como
Proteus mirabilis e Pseudomonas aeruginosa, o que pode acarretar em resultados falsopositivos (SIQUEIRA et al., 2007; PATEL et al., 2013). Para o diagnóstico de rotina,
o resultado do teste da urease é comumente avaliado em conjunto com o resultado do
exame histopatológico (GUARNER et al., 2009).
Histologia
O diagnóstico histológico constitui em um método eficaz, pois permite a avaliação
das alterações teciduais, como a presença de células inflamatórias. Também é capaz de
detectar a presença da bactéria nos tecidos, além de discriminar de outras possíveis causas
para os sinais clínicos apresentados pelo paciente sendo útil para o diagnóstico diferencial
(GUARNER et al., 2009). Segundo CHOI et al. (2012), o exame histopatológico se
mostrou muito confiável, mesmo em pacientes com úlceras hemorrágicas, apresentando
sensibilidade de 96,4% e especificidade de 97,2% para detecção a partir de biopsias
gástricas. As colorações histológicas mais empregadas na avaliação histológica são
Giemsa, Hematoxilina e Eosina (HE) e Warthin-Starry, sendo esta última considerada de
escolha para a visualização da bactéria (STRAUSS-AYALI; SIMPSON, 1999).
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
233
Os critérios estabelecidos por Day et al. (2008) e Washabau et al. (2010) para
avaliação histológica, são baseados na identificação de infiltrados inflamatórios
e alterações morfológicas de superfície. Os tecidos visualizados durante o exame
histológico devem ser classificados como: sem alteração (0); ou com leve alteração
(1), moderada (2), acentuada (3). Para avaliação mais precisa, múltiplos fragmentos de
biopsia necessitam ser coletados para evitar que sejam amostradas apenas regiões com
nenhuma ou baixa densidade bacteriana (STRAUSS-AYALI; SIMPSON, 1999).
A técnica de imuno-histoquímica é frequentemente aplicada para diagnóstico
de infecção por Helicobacter, no entanto anticorpos específicos para as espécies não
H.pylori não estão disponíveis (BAELE et al., 2009). A microscopia eletrônica também
pode ser utilizada para a identificação das espécies bacterianas, de acordo com suas
características morfológicas. Entretanto, devido ao custo elevado dessa metodologia seu
emprego, geralmente, está restrito à pesquisa científica (HÄNNINEN et al., 1996).
Isolamento bacteriano
O isolamento da bactéria é considerado o método de referência, pela elevada
especificidade (CHOI et al., 2012), porém sua sensibilidade é limitada, em torno de
68% (MCNULTY et al., 2011) a 58,1% (CHOI et al., 2012). A baixa sensibilidade
é devido ao fato da bactéria ser fastidiosa e necessitar de meios de cultura frescos
e suplementados, fatores os quais tornaram o uso pouco empregado no diagnóstico
de rotina. O isolamento é realizado em meios de cultivo constituído por meio base,
como: BHI (Brain Heart Infusion), meio HPSPA (Helicobacter pylori special peptone
agar) meio Glupczynski’s, ágar Brucella, ágar Mueller-Hinton, ágar Chocolate, ágar
Belo Horizonte e ágar Columbia (BENAÏSSA et al., 1996; QUEIROZ et al., 1987;
STEVENSON et al., 2000). Os meios necessitam ser suplementados com sangue
de carneiro ou equino, podendo ser acrescido de soro fetal bovino. Para inibição da
microbiota acompanhante, uma diversa combinação de antimicrobianos, deve ser
incluída. O meio Belo Horizonte, desenvolvido para o isolamento de Helicobacter
pylori, possui em sua composição a associação de ácido nalidíxico, anfotericina B,
vancomicina e TTC (sal de tetrazólio), o qual confere uma coloração dourada à colônia
(QUEIROZ et al., 1987), fator que possibilita uma melhor visualização das colônias
no meio de cultura (KUSTERS et al., 2006).
Depois de semeadas, as amostras devem ser incubadas á 37°C, em atmosfera de
microaerofilia, sendo verificado o crescimento bacteriano após 3, 6, 10, 15 e 21 dias
de incubação (OLIVEIRA et al., 2006). A identificação bacteriana e a determinação da
espécie são realizadas através da observação macroscópica das colônias, da morfologia
microscópica e de testes bioquímicos, tais como: detecção das enzimas catalase e
oxidase, redução de nitrato e hidrólise da urease (SONGER; POST, 2005).
As colônias do gênero Helicobacter são translúcidas, acinzentadas, não hemolíticas,
achatadas, cerca de 1-2 mm de diâmetro com morfologia irregular (SONGER; POST,
2005). Em culturas velhas as bactérias podem apresentar a forma cocoide, a qual é
234
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
considerada forma viável não cultivável, ou seja, não serão recuperadas em cultivos
subsequentes (ANDERSEN; RASMUSSEN, 2009).
O sucesso do isolamento é influenciado por vários fatores, tais como: o número
de fragmentos obtidos na biópsia, o meio de cultura, a duração e a temperatura do
transporte. Além disso, antimicrobianos e inibidores de bomba de prótons utilizados
como tratamento de suporte ao paciente podem interferir no isolamento da bactéria
(SIQUEIRA et al., 2007).
Métodos moleculares
A Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) é o método de escolha para a
identificação das espécies do gênero Helicobacter. A sensibilidade e a especificidade
da PCR convencional estão em torno de 95% (GLUPCZYNSKI, 1998), todavia, a PCR
em tempo real (RT-PCR) tem possibilitado resultados ainda mais específicos e sensíveis
(McNULTY et al., 2011). Além disso, a RT-PCR possibilita a quantificação do agente
presente na amostra, no entanto, ainda apresenta um custo elevado se comparado a outros
métodos diagnósticos. Apesar da PCR possuir boa sensibilidade e especificidade quando
comparada a outros métodos, existem algumas limitações intrínsecas da técnica, como: os
resultados falsos negativos devido ao pequeno número de bactérias presentes na amostra
ou devido à presença de inibidores da reação (SUGIMOTO et al., 2009).
A técnica de FISH (hibridização in situ fluorescente) permite identificar a presença
de segmentos cromossômicos específicos, através do uso de sondas de DNA marcadas
com fluorocromos diretamente nos tecidos. Essa técnica consiste em um método molecular
rápido e relativamente barato para a detecção de micro-organismos, além de possuir alta
especificidade (CERQUEIRA et al., 2011). Atualmente, método FISH tem sido aplicado
na detecção de Helicobacter sp. em amostras de água e de alimentos (ANGELIDIS et
al., 2011). Seu uso também é empregado na pesquisa de resistência antimicrobiana em
cepas de H.pylori, pois já existem sondas disponíveis para detectar o gene de resistência
à claritromicina (CERQUEIRA et al., 2011).
Os métodos moleculares podem ser realizados a partir de fragmentos de biopsia
gástrica ou duodenal, de suco gástrico, da placa dentária, da saliva, da cultura ou de fezes
(SIQUEIRA et al., 2007). Esses métodos diagnósticos também possibilitam a pesquisa
de genes de virulência, como cagA e vacA, relacionados à formação de úlceras pépticas
(SHIRASAKA et al., 2006).
Espécies do gênero Helicobacter descritas em animais
domésticos
Estudos demonstraram a presença de Helicobacter sp. em 67-86% de cães
clinicamente saudáveis e 61-100% de cães com sinais clínicos de dispepsia (JALAVA
et al., 1997; O’ROURKE et al., 2004; VAN DEN BULCK et al., 2006a; BAELE et al.,
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
235
2008). Em felinos estima-se que a prevalência também seja elevada, tanto em animais
clinicamente sadios quanto em felinos com sinal clínico de vômito (HÄNNINEN et
al., 1996; PAPASOULIOTIS et al., 1997; VAN DEN BULCK et al., 2005).
Infecções na mucosa gástrica podem ser ocasionadas por diversas espécies, sendo
H.felis, H.bizzozeronii, H.salomonis, “Candidatus H.heilmannii” H. bilis, H.(Flexispira)
rappini, H. cynogastricus comumente relatadas (HAESEBROUCK et al., 2009, VAN
DEN BULCK et al., 2006a, LANZONI et al., 2011). Em felinos há também relatos
de isolamento de outras espécies, como: H.baculiformis e de H.pylori (BAELE et al.,
2008; SIMPSON et al., 2001). A infecção em animais é, geralmente, adquirida durante
a fase de crescimento, pelo contato materno ou com outros animais jovens. Acredita-se
que a transmissão ocorra pelo contato com vômito e alimentos regurgitados por animais
infectados (HANNINEN et al., 1998).
A espécie H. felis foi primeiramente isolada do estômago de um felino e,
posteriormente, foi descrita também em cães. É provável que tenha sido a espécie
descrita no primeiro relato feito por Bizzozero em 1893. Morfologicamente, apresenta
fibras periplasmáticas, as quais facilitam sua identificação através da microscopia.
Contudo, a importância de H. felis em distúrbios gástricos de pequenos animais ainda
não está completamente elucidada, sendo necessários mais estudos para determinar se
as afecções gástricas dos animais são causadas pela presença dessa bactéria (KUSTERS
et al., 2006).
A espécie H.bizzozeronii foi descrita em 1996, sendo considerada adaptada aos
cães. Muitas vezes é encontrada em exames histológicos de biopsias gástricas de
pacientes com ou sem lesões de gastrite, portanto, a patogenicidade dessa espécie para
cães ainda não está completamente estabelecida (SCHOTT et al., 2011).
Recentemente, o termo H.heilmannii foi proposto para designar espécies
presentes em animais e humanos. Inicialmente, essa espécie era classificada como
“Gastrospirillium hominis”, sendo reclassificado para H.heilmannii a partir do
sequenciamento do DNA ribossomal e subdividida posteriormente, em tipo 1 e 2
(DEWHIRST et al., 2005; HAESEBROUCK et al., 2009; SCHOTT et al., 2011).
O tipo 1 foi identificado como sendo geneticamente idêntico à espécie já descrita
como H. suis, a qual coloniza o estômago de suínos, passou a receber a denominação de
H.heilmannii tipo 1. Todavia, o tipo 2 não corresponde apenas a uma única espécie do
gênero, mas engloba as espécies capazes de colonizar a mucosa gástrica dos pequenos
animais (HAESEBROUCK et al., 2011). Em felinos, H. heilmanni é apontada como
possível causa para o linfoma gástrico primário, cujo prognóstico, na maioria dos casos,
é reservado (BRIDGEFORD et al., 2008).
Queiroz et al. (1990) encontraram pela primeira vez a espécie H. heilmanii tipo 1
em suínos, ao realizar exame histológico de fragmentos de biopsia gástrica. As bactérias
descritas eram morfologicamente distintas da espécie H.pylori, sendo inicialmente
denominadas “Gastrospirillum suis”. Em suínos, a prevalência de Helicobacter sp.
em lotes de terminação varia entre 8% a 95%, entretanto acredita-se que até 60% dos
236
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animais possam estar infectados (BARBOSA et al., 1995; CANTET et al., 1999; CHOI
et al., 2001; BAELE et al., 2009). Em estudo realizado com leitões de seis semanas
de idade submetidos à infecção experimental por H.suis foi observada a formação de
hiperqueratose e úlcera gástrica na porção aglandular do estômago de todos os animais
inoculados (HAESEBROUCK et al., 2009). As ulcerações na porção aglandular do
estômago de suínos decorrem de uma etiologia complexa, na qual muitos fatores podem
estar envolvidos, incluindo fatores dietéticos, ambientais e principalmente estresse.
Porém, a infecção por H. heilmanni tipo 1 contribui na ocorrência de gastrite e úlceras
na espécie suína, pois aumenta a secreção de ácidos gástricos, resultando em maior
contato do ácido clorídrico com a porção aglandular do estômago (HELLEMANS et al.,
2007). Ulcerações na porção aglandular do estômago ocasionam redução do consumo
de ração e do ganho de peso, podendo acarretar, em alguns casos, a morte súbita do
animal (AYLES et al., 1996; BAELE et al., 2009). A infecção experimental em leitões
resultou na redução de cerca de 60 grama/dia no ganho de peso, esse estudo demonstrou
que em infecções experimentais a espécie H. heilmanni tipo 1 não apenas causa gastrite,
mas acarreta também perdas econômicas ao produtor, pois interfere na ingestão diária
de alimento e, consequentemente, no ganho de peso (KUMAR et al., 2010).
A localização das bactérias do gênero Helicobacter difere de acordo com a espécie,
podendo estar presente na superfície da mucosa ou no muco, nas fossas gástricas,
nas glândulas gástricas, nas células parietais ou colonizando tanto o lúmen quanto as
células gástricas. Em cães, H. felis geralmente é encontrado na superfície das glândulas
gástricas, diferentemente de H. bizzozeronii, cuja localização é preferencialmente
intraluminal ou intraparietal (LANZONI et al., 2011). Entretanto, as células parietais
da mucosa fúndica são o local de predileção para a maioria das espécies que acometem
os pequenos animais (WIINBERG et al., 2005; LANZONI et al., 2011).
Espécies de gênero Helicobacter também são frequentemente encontradas
colonizando o trato gastrintestinal de animais de biotério. Espécies como H. cholecystus
são encontradas no ceco e no intestino grosso de animais de biotério, entretanto, na
maioria dos casos essas espécies não são consideradas patogênicas. Porém, algumas
dessas espécies, como H. hepaticus e H. bilis, podem induzir hepatite e tumores
hepáticos pela via ascendente (FOX; LEE, 1997; VAN DEN BULCK et al., 2006b).
CONCLUSÃO
Até o presente momento, não existe um único teste considerado padrão ouro para o
diagnóstico da infecção por Helicobacter sp. sendo portanto recomendada a associação
de mais de um método diagnóstico. A escolha clínica dependerá da disponibilidade de
recursos financeiros e técnicos. O elevado percentual de animais infectados demonstra
a necessidade de maior investigação dessa infecção em animais domésticos. Portanto,
se faz necessária a otimização de métodos diagnósticos disponíveis, a fim de determinar
as espécies de real importância, bem como estabelecer as vias de transmissão desse
agente.
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Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
243
Osteomielite decorrente de infecção por
Aspergillus sp. em cão da raça rottweiler:
Relato de caso
Fabrício Bernardo de Jesus Brasil
Edmilson Rodrigo Daneze
RESUMO
A osteomielite é definida como uma inflamação da medula óssea e do osso adjacente,
podendo ser de origem bacteriana, fúngica, resultante de reações a implantes metálicos nos ossos
ou, ainda, parasitária ou viral. O objetivo do presente trabalho é relatar um caso de osteomielite
decorrente de infecção por Aspergillus sp. em um cão da raça Rottweiler. O animal foi atendido
apresentando lesão inflamatória em membro torácico com histórico de início há aproximadamente
um ano. No exame radiográfico foi visualizada ausência total de falanges e metacarpos dos dedos I
e II esquerdos, focos de osteólise difusos em rádio e ulna, com edema de partes moles. No exame
microbiológico foi isolado o fungo Aspergillus sp. Após avaliação do caso, foi proposta a amputação
do membro afetado. Porém, o proprietário não autorizou a realização de tal procedimento. Através
do relato desse caso, concluímos que os exames radiográficos e a cultura microbiológica foram
suficientes e indispensáveis para diagnosticar a ocorrência de osteomielite decorrente de infecção
por Aspergillus sp. no animal. Contudo, devido à irredutibilidade do proprietário em autorizar o
tratamento mais adequado, o animal pode vir a óbito.
Palavras-chave: Osteomielite. Inflamação. Radiologia. Cultura microbiológica.
Osteomyelitis due to Aspergillus sp. infection in rottweiler
dog breed: Case report
ABSTRACT
Osteomyelitis is defined as an inflammation of bone marrow and adjacent bone. May be of
bacterial, fungal, reactions to metallic implants in bone, or even, parasitic or viral origin. The aim of
this study is to report a case of osteomyelitis due to infection by Aspergillus sp. in a dog Rottweiler
breed. The animal presented inflammatory lesion in the forelimb with a history of beginning
about one year ago. By radiographic examination was visualized total absence of phalanges and
metacarpals of the I and II left fingers, diffuse foci of osteolysis in radius and ulna, with swelling of
soft parts. By microbiological examination was isolated Aspergillus sp. After review of the case, was
proposed amputation of the affected limb. However, the owner did not authorize such procedure.
Through the report of this case, it was concluded that the radiographic and microbiological culture
were sufficient and necessary to diagnose the occurrence of osteomyelitis due to Aspergillus sp.
infection in the animal. However, due to the irreducibility of the owner to allow the most appropriate
treatment the animal may ultimately death.
Keywords: Osteomyelitis. Inflammation. Radiology. Microbiological culture.
Fabrício B. de Jesus Brasil é Medico Veterinário, Doutor, Professor adjunto do Departamento de Clínica e
Cirurgia Veterinária da Faculdade Francisco Maeda (FAFRAM/FE).
Edmilson R. Daneze é Medico Veterinário, aluno do PPG em Patologia Animal da Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias (FCAV/UNESP).
Endereço: Rod. Jerônimo Nunes Macedo, km 01, 14500-000, Ituverava-SP. E-mail: [email protected]
v.10v.10, n.2,
n.2 jan./jun.
p.244-251
Canoasem Foco,
244Veterinária em Foco Veterinária
2013
jan./jun. 2013
INTRODUÇÃO
A osteomielite é definida como uma inflamação da medula óssea e do osso
adjacente (WOODARD, 2000; FARROW, 2005; SHIRES, 2005), podendo ser de origem
bacteriana, fúngica, resultante de reações a implantes metálicos nos ossos (KEALY,
McALLISTER, 2005; SHIRES, 2005) ou, ainda, parasitária (protozoários) ou viral
(DOIGE; WEISBRODE, 1988).
É uma lesão óssea geralmente comum e, às vezes, ameaçadora da vida, pois se
trata de um processo crônico, desfigurante, caracterizado por necrose e remoção óssea
e por neoformação óssea compensatória (DOIGE; WEISBRODE, 1988). Na maioria
das vezes, as lesões iniciam pequenas e aumentam gradualmente se não forem tratadas
(FARROW, 2005).
Infecções fúngicas geralmente são sistêmicas (SHIRES, 2005), envolvendo os
ossos num tipo não supurativo de osteomielite, que pode ser multifocal, produzindo uma
aparência manchada nos ossos (KEALY; McALLISTER, 2005). Em cães acometem,
normalmente, adultos jovens de raças de grande porte (THRALL, 2010).
A capacidade dos fungos de causar doenças invasivas é muito bem documentada
(BECK-SAGUE; JARVIS, 1993), sendo comumente identificada em regiões geográficas
onde os fungos que a predispõem são endêmicos (THRALL, 2010). No entanto,
o diagnóstico de infecções osteoarticulares causadas por fungos é difícil, devido
principalmente aos indicadores clínicos inespecíficos e pouco sensíveis disponíveis
(FIGUEIREDO et al., 2007).
Os cães acometidos por micoses sistêmicas com tendência à localização óssea
podem ser infectados tanto pelo trato respiratório como por ferimentos penetrantes ou
fraturas expostas (WOODARD, 2000; DALECK et al., 2002; SHIRES, 2005; GOMES et
al., 2008). Os microorganismos comumente isolados são Cryptococcus sp., Coccidioides
sp., Blastomyces sp. (DALECK et al., 2002; SHIRES, 2005; GOMES et al., 2008),
Histoplasma sp. (KENNETH, 2003) ou Aspergillus sp. (FIGUEIREDO et al., 2007;
SANCHES; COUTINHO, 2007).
Pode-se suspeitar de uma infecção por Aspergillus sp. com base no histórico e exame
físico, podendo ser confirmada através de radiografia, tomografia computadorizada, cultura
de fungos, histopatologia e achados sorológicos (SANCHES; COUTINHO, 2007).
Embora se disponha de diversos registros da aspergilose na literatura mundial,
ainda são escassas as descrições em nosso país (SANCHES; COUTINHO, 2007). Nesse
contexto, o objetivo do presente trabalho é relatar um caso de osteomilite decorrente de
infecção por Aspergilus sp. em um cão da raça Rottweiler.
RELATO DO CASO
Um cão da raça Rottweiller, macho, de 13 anos de idade, foi atendido apresentando
lesão inflamatória difusa e extensa em membro torácico esquerdo (MTE). Segundo o
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proprietário, a lesão aparecera há aproximadamente um ano. Nesse período ele observou
que a mesma iniciou-se como uma inflamação periungueal ulcerada na segunda falange
do MTE evoluindo, no decorrer de 06 meses, para os metacarpos, carpos, rádio e ulna.
Informou, ainda, que o animal habitava zona rural, tendo acesso ao solo e possuindo o
hábito de cavar buracos.
Durante o exame físico observou-se que o MTE apresentava rarefação pilosa,
hiperpigmentação cutânea, áreas ulceradas em extremidade e na face medial do membro,
ausência dos dedos I e II, onicomadese dos dedos III e IV, edema e sinais de pododermatite
(Figura 1); ao ser manipulado, percebeu-se que o animal sentia dor.
O animal foi submetido a exame radiográfico e coleta de material da região afetada
para exame microbiológico. No exame radiográfico foi visibilizada ausência total de
falanges e metacarpos dos dedos I e II esquerdos, focos de osteólise difusos em rádio e
ulna, com edema de tecido mole, sendo classificada como osteomielite crônica (HAY,
2008) (Figura 2). Foi prescrito tratamento à base de cefalexina (30 mg/kg, a cada 12
horas) de forma profilática até a conclusão do exame microbiológico.
No exame microbiológico foi isolado o fungo Aspergillus sp.
Decorridos 21 dias, durante contato telefônico com o proprietário, para informar
os resultados dos exames, o mesmo informou que o animal encontrava-se estável, sendo
que não foi observada involução da lesão.
Após avaliação do caso, foi proposto ao proprietário amputação alta do membro
afetado, pois não era possível reverter o quadro do animal somente com tratamento à base
de antifúngicos. Porém, o mesmo se negou a realizar o procedimento e recusou-se em
dar continuidade ao tratamento do animal, sendo alertado das consequências da afecção
sobre a vida do animal. Especulou-se, então, que provavelmente o animal foi eutanasiado,
face ao sofrimento que estava apresentando.
FIGURA 1 – Membro torácico esquerdo de cão da raça Rottweiller com osteomilite decorrente de infecção
por Aspergillus sp. Em A, face dorsal, identifica-se rarefação pilosa, edema, ausência dos dedos I e II,
com onicomadese dos dedos III e IV; em B, face palmar, observa-se sinais de pododermatite.
Fonte: Os autores.
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Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
FIGURA 2 – Exame radiográfico de membro torácico esquerdo de cão da raça Rottweiller com osteomilite
decorrente de infecção por Aspergillus sp. Notar ausência total de falanges e metacarpos dos dedos I e II
esquerdos, focos de osteólise difusos em rádio e ulna, com edema de parte moles.
Fonte: Os autores.
DISCUSSÃO
A maior parte das infecções ósseas envolve as metáfises, ossos chatos, corpos
vertebrais ou discos vertebrais (KEALY; MCALLISTER, 2005). De acordo com
Kenneth (2003), Coccidioides immitis, Blastomyces dermatitidis, Histoplasma
capsulatum, Cryptococcus neoformans e Aspergillus spp. podem causar osteomielite
fúngica. Com exceção da aspergilose, todas são raras, com maior parte tendo uma
distribuição geográfica restrita (MAY, 2001). Assim, informações referentes à
deslocamentos do animal devem ser obtidas durante a anamnese e tomadas em
consideração (GARZOTTO; BERG, 2003; THRALL, 2010). No presente caso, o
proprietário informou que o animal habitava uma propriedade na zona rural e tinha
hábito de geoescavação.
Segundo Lacaz et al. (2002), o gênero Aspergillus apresenta mais de 180
espécies, que são saprófitos e oportunistas, podendo ser isoladas de matéria orgânica,
solo, água, detritos vegetais, ar atmosférico e são frequentemente contaminantes
em laboratórios. As espécies de maior importância em Medicina Veterinária são A.
fumigatus, A. terreus e A. deflectus (TABOADA, 2004; HAWKINS, 2010), embora
muitas outras espécies já tenham sido descritas causando doença no homem e nos
animais (QUINN et al., 1994; LACAZ et al., 2002).
A presença de bactérias ou fungos em um osso não leva inevitavelmente a uma
osteomielite. Pelo contrário, é necessário um abuso significativo para precipitar uma
infecção ativa. Deficiências imunológicas, contaminação em massa, virulência do
microorganismo, traumatismo associado à isquemia tecidual e presença de material
estranho no interior do tecido são alguns dos fatores que potencializam a afecção
(SHIRES, 2005). Assim sendo, a osteomielite é um tipo de lesão que necessita de
um diagnóstico precoce e de um tratamento rigoroso (DOIGE; WEISBRODE, 1998).
Mesmo não sendo incomum, a osteomielite fúngica possui prognóstico ruim (DAY,
1998; HARKIN, 2003; KERL, 2003).
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247
Possíveis diagnósticos diferenciais incluem neoplasias primárias do tecido ósseo
(fibrossarcoma, condrossarcoma, hemangiossarcoma), metástases, mieloma múltiplo ou
linfoma ósseo, osteomielite bacteriana ou fúngica, lesões ósseas com abscessos (ainda
que raras) e doenças ósseas metabólicas (DALECK et al., 2002; KIRPENSTEIJN et
al., 2006; DERNELL et al., 2007; GOMES et al., 2008).
Nesse contexto, deve ser ressaltada a importância de um amplo exame clínico e
radiológico, assim como da biópsia excisional, para diagnóstico conclusivo (POWERS
et al., 1988) e especialmente casos de osteomielite fúngica e osteopatia hipertrófica,
pela semelhança das alterações radiográficas ósseas e periostais encontradas no
osteossarcoma (LINDENBAUM; ALEXANDER, 1984).
O aspecto radiográfico do osteossarcoma é semelhante ao da osteomielite, em
particular a de origem fúngica, o que dificulta a sua diferenciação (GARZOTTO;
BERG, 2003; THRALL, 2010). O aspecto radiográfico de uma infecção óssea
depende de sua duração; inicialmente, há um típico aumento de volume de tecidos
moles, mas poucas alterações perceptíveis no osso acometido. Entretanto, com o
passar do tempo, alterações estruturais se tornam gradualmente evidentes, na forma de
proliferação óssea na superfície e osteólise interior (FARROW, 2005). Nesse sentido,
a avaliação radiográfica foi muito importante durante o atendimento do animal, pois
permitiu analisar a extensão da lesão, conforme informado por Daleck et al. (2002). As
alterações radiográficas correspondentes à reação do periósteo são menos expressivas e
agressivas nas infecções fúngicas, permitindo em alguns casos diferenciar osteomielite
fúngica de osteossarcoma (THRALL, 2010). A aparência radiográfica da osteomielite
fúngica é de lesões proliferativas ou blásticas, líticas, que ocorrem em diáfise distal,
metáfises, epífises ou, raramente, no esqueleto axial (DALECK et al., 2002; GOMES
et al., 2008), corroborando com o que foi observado no exame radiográfico do animal
em discussão.
No entanto, este fato não é constante, não podendo ser utilizado como forma
segura de diferenciação (THRALL, 2010). Portanto, nos casos em que a história
pregressa for compatível com infecção óssea ou se pretenda o diagnóstico exato antes
de iniciar o tratamento, deve realizar-se biopsia óssea com análise histopatológica
e cultura microbiológica para um diagnóstico definitivo (DERNELL et al., 2007).
No presente caso, optou-se pelo exame microbiológico, caso ele fosse inconclusivo
seria realizada a coleta de material para biopsia; contudo não foi necessário, pois foi
possível isolar e identificar o Aspergillus sp. na cultura. Segundo Chun e Lorimier
(2003), citologia aspirativa por agulha fina ou imprint também podem ser usados para
diagnóstico preliminar.
Segundo Shires (2005), o tratamento para a osteomielite é prolongado, intensivo
e caro; enquanto que Butterworth et al. (1995) referem que o tratamento efetivo da
aspergilose é comprovadamente difícil. Assim, associando-se as duas afecções, quanto
mais rápido o diagnóstico e o início do tratamento, melhores os resultados e a resolução
da afecção. No entanto, como o presente caso era de osteomielite crônica, foi proposto
ao proprietário a amputação do membro, como indicado por Sturion et al. (2000) e
248
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Hay (2008) em casos em que o prognóstico é ruim, especialmente se houver perda de
tecidos moles e restrição financeira do proprietário. Segundo Campos et al. (2009),
as amputações de membros em pequenos animais devem ser executadas como último
recurso na clínica cirúrgica, sendo realizadas sem preconceito e, principalmente,
quando os demais tratamentos conservativos se esgotam e o paciente corre risco de
morte. Contudo, o proprietário se negou em realizar o procedimento e recusou-se
em dar continuidade no tratamento do animal, cabendo à equipe apenas alertá-lo das
consequências da afecção sobre a vida do animal.
Com o diagnóstico de infecção por Aspergillus sp. verificou-se que o clotrimazol
tópico é considerado o tratamento de escolha nas infecções fúngicas de pequenos
animais (TABOADA, 2004; HAWKINS, 2010). No entanto, somente a terapia tópica
não é suficiente quando o agente atinge os tecidos moles, sendo necessária terapia
sistêmica conjunta com antifúngicos da família dos imidazóis, tais como cetoconazol,
itraconazol, fluconazol, clotrimazol e enilconazol que demonstram ação in vitro
contra grande variedade de espécies de Aspergillus, sendo as drogas mais empregadas
(DAY, 1998; TABOADA, 2004; HAWKINS, 2010). Na clínica médica humana,
têm-se obtido resultados favoráveis com anfotericina B, voriconazol e caspofungina
(GOLDENBERG et al., 2007; WALSH et al., 2008); no entanto, a anfotericina B
deve ser usada com cautela, pois possui efeito nefrotóxico (BERDICHEVSKY, 2003).
A duração do tratamento não está definida, em geral é prescrito por 6-12 semanas.
A monitorização da resposta terapêutica inclui a avaliação dos sintomas e sinais,
assim como dos aspectos radiológicos, em intervalos regulares (JOHNSON, 1994;
WALSH et al., 2008).
CONCLUSÃO
Através do relato desse caso, concluí-se que o contato com a terra associado aos
exames radiográficos e a cultura microbiológica, foram suficientes e indispensáveis para
diagnosticar a ocorrência de osteomielite decorrente de infecção por Aspergilus sp. num
cão da raça Rottweiler. Contudo, devido à irredutibilidade do proprietário em autorizar
o tratamento mais adequado e, mediante a extensão da lesão e gravidade da afecção, o
animal pode vir a óbito.
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Título
Deve ser claro e conciso, em caixa alta e negrito, sem ponto final, em português
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Autores
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O resumo deve ser suficientemente completo para fornecer um panorama adequado
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Citações e referências
Citações bibliográficas no texto deverão constar na INTRODUÇÃO, MATERIAL
E MÉTODOS E DISCUSSÃO no artigo científico, conforme exemplo: um único autor
(SILVA, 1993); dois autores (SOARES; SILVA, 1994); mais de três autores (SOARES et
al., 1996). Quando são citados mais de um trabalho, separa-se por ponto e vírgula dentro
do parênteses (SOARES, 1993; SOARES; SILVA, 1994; SILVA et al., 1998).
Referências devem ser redigidas em página separada e ordenadas alfabeticamente
pelos sobrenomes dos autores, elaboradas conforme a ABNT (NBR-6023).
Tabelas e figuras
As Tabelas e Figuras devem ser numeradas de forma independente, com números
arábicos. As Tabelas devem ter o título acima das mesmas, escrito em letra igual à do
texto, mas em tamanho menor.
As Figuras devem ter o título acima das mesmas.
Tabelas e Figuras podem ser inseridas no texto.
Endereço para correspondência
Revista VETERINÁRIA EM FOCO
Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 14 - Sala 126
São José / RS - Brasil
CEP: 92425-900
E-mail: [email protected]
Disponível eletronicamente
www.ulbra.br/medicina-veterinaria/revista.html
Veterinária em Foco, v.10, n.2, jan./jun. 2013
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