TEXTO EXTRAÍDO DO JORNAL CINFORM
CADERNO MUNICÍPIOS
A madeira que virou Cedro de São João
Município é o maior produtor de carne- de- sol do Estado e se destaca no artesanato
de ponto de cruz
A povoação de Cedro do São João, a 94 quilômetros da capital, iniciou-se com a fazenda
Cedro, montada no século XVIII por Antônio Nunes, exatamente no local onde está
localizada a Igreja Matriz. A produção pecuária cresceu e o município tornou-se o maior
produtor de carne-de-sol do Estado. Mas o fechamento do matadouro, por falta de estrutura
de funcionamento, prejudicou a produção e fortaleceu o artesanato de ponto de cruz, que
envolve praticamente todas as famílias cedreirenses.
O nome do município originou-se do Cedro, árvore encontrada em grande quantidade na
localidade, que foi usada para cercar a primeira fazenda. Já em 1834, além da casa do
fazendeiro, havia nos arredores cerca de 20 casas de taipas construídas para os vaqueiros.
Em 1835, o proprietário conseguiu implantar a primeira escola pública na localidade.
O catolicismo também foi difundido na localidade pelo fundador, atualmente sendo
mesclado por outras religiões. A primeira missa foi celebrada pelo padre Antônio Machado
Capela no altar que Antônio Nunes construiu em sua própria casa, onde colocou a imagem
do seu santo protetor, São João Batista, que se tornou o padroeiro da cidade.
As partes altas de Cedro sempre foram povoadas pelas pessoas de maior poder aquisitivo.
Elas fugiam das partes baixas, inundadas pelas águas do Rio São Francisco.
Conseqüentemente essas áreas passaram a ser habitadas pela comunidade mais pobre. Os
negros, também discriminados após o fim da escravidão, preferiram habitar o bairro
Carvãozinho, onde até hoje predomina essa raça.
FATOS NÃO AGRADARAM
Um fato ocorrido no município de Cedro deixou a população revoltada. Em 1901, o
presidente de Sergipe, monsenhor Olímpio Campos, através da lei nº 422, de 29 de
outubro, revogou a lei 83, de 26 de outubro de 1894, que elevava o povoado à categoria de
cidade.
Só 27 anos depois, no dia 4 de outubro de 1928, o presidente Manoel Dantas assinou a lei
1.015, que emancipou definitivamente o município. A partir da separação de Propriá, Cedro
passou a pertencer judicialmente à Comarca de Aquidabã, tornando-se sede dos povoados
Bananeiras, Batinga, Piçarreira, Cruzes e Poço dos Bois - o maior deles.
Outro fato que não agradou a população cedreirense foi a mudança do nome de Cedro para
Darcilena. Segundo o ex-prefeito Paulo Alves, Miguel Seixas, prefeito de 1941 a 1945, quis
homenagear a mulher de Getúlio Vargas, Darcy, e a de Augusto Maynard, Helena, sem ao
menos conhecê-los pessoalmente.
O município permaneceu como Darcilena por quase 10 anos. No dia 6 de fevereiro de 1954
passou a se chamar Cedro de São João, em homenagem ao padroeiro da cidade.
POLÍTICA COMPLICADA
A trajetória política do município de Cedro foi um pouco complicada. O primeiro intendente,
o usineiro Antônio Baptista do Nascimento (irmão do avô da senadora Maria do Carmo
Alves), foi também o principal articulador da emancipação. Ele administrou o município
apenas de 1929 a 1930. Foi deposto na Revolução de 30.
De 1930 a 1935, Cedro foi administrado pelo interventor Santos Sobrinho. O prefeito
Antônio Ferreira Melo também foi destituído do cargo na Revolução de 64. Mais
recentemente, o prefeito Roberto Lima, eleito para administrar o município de 93 a 96, foi
cassado pela Justiça por improbidade administrativa. Assumiu em seu lugar o seu vice,
Felizardo Rodrigues.
Porém o ponto que mais marcou negativamente a política de Cedro foi a administração da
prefeita Ângela Maria Souza Fraga (96 a 98), também afastada pela Justiça por improbidade
administrativa. Como seu marido, Luiz Delfino de Souza - prefeito de 83 a 88 - não pôde
candidatar-se mais uma vez, por ter suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do
Estado, ele elegeu sua mulher e passou a ser secretário/prefeito .
Houve muitas denúncias de irregularidades e o promotor de Justiça Valdir de Freitas Dantas
começou a investigar o caso. Durante as investigações ele foi assassinado no dia 19 de
março de 1998, quando fazia cooper na entrada de Cedro, e o ex-prefeito Luiz Delfino foi
preso, acusado pelo crime. Foram envolvidos também o juiz aposentado Francisco Melo de
Novaes, Kleber Gonçalves de Melo, Rui Oliveira dos Anjos, José Honório Rodrigues Neto,
Ricardo Luiz Santos Costa, Nilton Félix e Enock Pedro da Silva.
:: Entrada arborizada de Cedro: palco do crime do promotor Valdir de Freitas
Dantas ::
Cedro formou- se de um grupo de ciganos
Para o cedreirense Valdemar Vieira Nunes (professor Mazinho), 76 anos, Cedro formou-se
de um grupo de ciganos vindo de Minas Gerais. Depois de passarem pela Bahia e entrarem
em Sergipe, um pequeno grupo se separou e foi viver em barracas armadas em Capela,
comercializando produtos do Vale do Japaratuba (açúcar e mel) e do Vale do São Francisco
(arroz, animais e peixe) , informa.
Segundo ele, o grupo adquiria animais na fazenda Cemitério (hoje Aquidabã) e durante o
percurso descansava onde é hoje a praça Jonas Trindade. Na época da cheia do rio, as
terras ficavam quase uma ilha. Eles ficavam na entrada e os animais pastavam por ali até
as águas baixarem. Então o chefe do grupo, o Antônio Nunes, que é o meu tetravô, pensou
em um lugar mais seguro para os animais, e construiu um curral com cedro, madeira
existente na região , lembra.
O povoado foi crescendo e os moradores exploravam a plantação de arroz, a pesca e a
criação de animais. Em 1894, o povoado pensava em se organizar para a separação
política de Propriá. Os três engenhos no Vale do Rio Jacaré: Imbira, de Antônio de Santana;
Poço dos Bois, de Antônio Soares, e o da Lagoa Seca, de Antônio Baptista Nascimento;
colaboraram na formação da estrutura econômica , informa o professor.
Em 1928, Manoel Dantas que era o governador do Estado, se desentendeu com os Britto de
Propriá e facilitou a emancipação. Antônio Baptista Nascimento juntou-se aos irmãos
Manoel e João de Deus da Rocha, Antônio de Santana e ao jovem idealista José Álvares da
Rocha, o Zé de Maneu. Eles foram a Aracaju e conseguiram um deputado para encaminhar
o projeto de emancipação. Antônio Baptista Nascimento é considerado pelos cedreirenses
como o Dom Pedro I da independência do Cedro, foi ele quem coordenou tudo , diz.
Segundo o professor Valdemar, a industrialização da carne-de-sol, que colocou o município
como maior produtor no Estado, ocorreu gradativamente. Se o Cedro criava rebanho,
então seus criadores pensaram na industrialização daquela carne e na exportação para os
municípios e até estados vizinhos. Não conheço nenhum município que tenha produção de
carne-de-sol maior do que Cedro , destaca ele.
Os engenhos não funcionam mais, a cana perdeu lugar para as pastagens. O de Lagoa Seca
foi transformado em fazenda para criar gado; o de Poço dos Bois virou a casa do
proprietário; e o da Imbira não existe mais.
FOLCLORE ESQUECIDO
O professor Heribaldo Vieira de Melo lamenta que os cedreirenses não souberam preservar
suas tradições folclóricas. Restaram apenas a Festa do Padroeiro; a via-crúcis dos
penitentes na Semana Santa pelas santa-cruzes do município e as quadrilhas juninas.
Acabaram-se a banda de música, que tinha 24 integrantes; a marujada, a chegança, o
reisado e as famosas guerras de busca-pés , diz.
Segundo ele, está faltando incentivo para o cedreirense revitalizar as manifestações
culturais do município. A nossa realidade cultural é vergonhosa. Em Cedro não há museu,
grupo de teatro, centro cultural, nem uma biblioteca equipada. Não há incentivos a poetas,
músicos ou a festejos religiosos e populares , lamenta ele.
Até a Festa da Carne-de-Sol, criada em outubro de 1990 pelo prefeito José Carlos dos
Santos, não acontece anualmente. Nem o pau Cedro, que emprestou o nome ao município,
está sendo poupado. Está praticamente em extinção , conclui Heribaldo.
A evolução do município de Cedro
Paulo Alves (*)
A cidade de Cedro cresceu e se organizou em decorrência de sua pecuária que encontrou
solo próprio e fértil para o seu desenvolvimento. A lagoa Cedro era tida como ouro na
produção de arroz. Mas o município teve sua evolução com o surgimento da carne-de-sol e
do artesanato de bordados que abrange duas décadas, 40 e 50.
Essa marcha foi quebrada com a desapropriação por parte do Governo Federal do total de
suas terras produtoras de arroz. Na década de 60, o Cedro estava praticamente parado; a
fábrica de beneficiamento de algodão já não mais existia; o comércio fechou suas portas e o
cinema deixou de funcionar. Com isso, o Cedro mergulha em estado de decadência, todavia
seu povo jamais perdeu a esperança. Com o final da famigerada seca de 70, abrem-se
novas perspectivas e o Cedro retoma seu desenvolvimento. Sua gente empreende novos
investimentos, conseqüentemente acordam para o seu progresso.
A pecuária retoma o seu lugar, o comércio reabre suas portas, a carne-de-sol alcança um
mercado consumidor bem maior e o artesanato vai além-fronteiras, atingindo quase todos
os estados do país e até o Mercosul.
A cidade teve seu aspecto melhorado por alguns dos seus administradores, implantando a
rede distribuidora de energia; o sistema de abastecimento de água; pavimentação de
estradas; transporte e educação mais adequados para as crianças. Entendemos que a
educação deve ser priorizada porque é nela que o jovem busca o seu sustentáculo na
sociedade.
Finalmente a cidade de Cedro, em meio a uma série de problemas políticos e econômicos,
conquista um desenvolvimento relativamente bom nos dias atuais.
(*) Professor de História aposentado e ex- prefeito da cidade
Filhos ilustres do município
Antônio Baptista Nascimento: responsável pela emancipação do município
Maria do Carmo Nascimento Alves: senadora
José Alves Nascimento: ex-senador
Olegária Nascimento: otorrinolaringologista
Antônio Prudente: juiz federal em Brasília
Ailton Rocha: engenheiro agrônomo
Francisco de Assis Soares da Costa: matemático
Padre Félix: latinista
José Álvares da Rocha: poeta de cordel
Antônio Coca: poeta de cordel
João Costa: professor de Português
Jessé Trindade: cirurgião dentista, poeta e professor
Milton Alves: jornalista
Francisco Melo Novaes: Juiz aposentado
Nunes: ex-jogador da Seleção Brasileira e atual supervisor técnico do Flamengo,
apesar de ele ter dito que é de Feira de Santana (BA) e de Petrolina (PE).
Cedro de São João hoje
Região - Norte (Agreste)
Distância de Aracaju - 94 km
População - 5.376
At ivida de s e conôm ica s - pecuária, artesanato e comércio de peixe gelado que vem
de Sobradinho (BA). Indústria de carne-de-sol e de móveis; fábrica de laticínios do
povoado Bananeiras; e padaria que faz as conhecidas bolachas sete capas.
Texto: Edivânia Freire
Fotos: Diógenes Di
Font e : En ciclopé dia dos M u n icípios Br a sile ir os e pe squ isa do pr ofe ssor H e r iba ldo
Vieira de Melo
Consulta ao site http://www.infonet.com.br/cinformmunicipios/municipio_cedro.htm no dia
20/08/2007 às 08H00.
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