Ano XV - Nº 50 - Novembro e Dezembro / 2012 - Rua Piauí, 220, 5º andar - Santa Efigênia - BH/MG CEP: 30150-320
Impresso Fechado
Pode ser aberto pela ECT
A infraestrutura
que falta para o
setor
EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS
Mudou-se
Falecido
Desconhecido
Ausente
Recusado
Não procurado
Endereço insuficiente
Não existe o nº indicado
Em ___/___/___
________________
Responsável
Documento com ações prioritárias da Política Nacional do
Leite, como melhores estradas e fornecimento de energia
elétrica, é entregue ao governo federal
págs. 8 a 10
Mudança nos rótulos
dos alimentos
Alterações nas informações nutricionais dos
produtos alimentícios, exigidas pela Anvisa,
vão interferir na produção de lácteos
págs. 6 e 7
A qualidade do leite
melhorou?
Mônica Cerqueira, professora da Escola de
Veterinária da UFMG, fala sobre os resultados da
análise de amostras nas fazendas mineiras
págs. 12 e 13
1
ANO XV / Número 50 / Novembro e Dezembro de 2012
SILEMG / Endereço: Rua Piauí, 220 / 5º andar / Santa Efigênia
CEP: 30150-320 / BH/MG / Tel: (31) 3223-1421
www.silemg.com.br / [email protected]
Periodicidade: Bimestral
Impressão: Gráfica CBG Artes Gráficas / Tiragem: 3.500
DIRETORIA EXECUTIVA
Guilherme Olinto Abreu Lima Resende - Coaperiodoce
Presidente
Paulo Bartholdy Gribel - Laticínios São Vicente de Minas Ltda
Vice-presidente
João Lúcio Barreto Carneiro - Laticínios Porto Alegre Ltda
Diretor Administrativo
Guilherme Silva Costa Abrantes - Laticínios Dona Formosa Ltda
Diretor Financeiro
Alessandro José Rios de Carvalho - Laticínios Verde Campo Ltda
Diretor Tecnológico
DIRETORIA ADJUNTA
Antônio Fernandes de Carvalho - Laticínios Union Ltda
Armindo José Soares Neto - Coop. Central dos Produtores Rurais de
Minas Gerais/Itambé
Bernardo Bahia - Laticínios MB Ltda
Carlos da Silveira Dumont - Coop. dos Produtores Rurais do Serro Ltda
Carlos Eduardo Abu Kamel - Coop. dos Produtores Rurais de Itambacuri Ltda
Carlos Henrique Pereira - Forno de Minas Alimentos S/A
Carlos Roberto Soares - Dairy Partners Americas Manufacturing/DPA Nestlé
Carolino da Silva Brito Neto - Coop. de Laticínios Teófilo Otoni Ltda
Cícero de Alencar Hegg - Laticínios Tirolez Ltda
Claudinei Ribeiro Chaves - Laticínios Bom Gosto Ltda
Estevão Andrade - Laticínios PJ Ltda
Giovanni Diniz Teixeira - Coop. Central dos Produtores Rurais de Minas
Gerais/Itambé
Guglielmo Agostini da Matta - Godiva Alimentos Ltda
Humberto Esteves Marques - Barbosa & Marques S/A
Humberto Pozzolini - Coop. Agropecuária de Divinópolis Ltda
Ivan Teixeira Cotta Filho - Cottalac Indústria e Comércio Ltda
Jaime Antônio de Souza - Laticínios Bela Vista Ltda
João Bosco Ferreira - Coop. Central Mineira de Laticínios Ltda/Cemil
José Antônio Bernardes - Embaré Indústrias Alimentícias S/A
José Márcio Fernandes Silveira - Cristaulat
José Samuel de Souza - Coop. Agropecuária de Raul Soares Ltda
Juarez Quintão Hosken - Laticínios Marília S/A
Léo Luiz Cerchi – Scalon & Cerchi Ltda
Lúcia Alvarenga - Laticínios Lulitati Ltda
Marcelino Cristino de Rezende - Nogueira e Rezende Indústria de
Laticínios Ltda
Marcos Alexandre Macedo Narciso - Laticínios Vida Comércio e Indústria Ltda
Marcos Campos Dell’Orto - Coop. Agropecuária de Resplendor Ltda
Marcos Sílvio Gonçalves - Indústria de Laticínios Bandeirantes Ltda
Maurício Chucre de Castro Silva- Puroleite Industrial Ltda
Olavo Imbelloni Hosken - Laticínios Marília S/A
Ricardo Cotta Ferreira - Coop. Central dos Produtores Rurais de Minas
Gerais/Itambé
Rodrigo de Oliveira Pires - Brasil Foods S/A
Valéria Cristina Athouguia Dias - Indústrias Flórida Ltda
Vicente Roberto de Carvalho - Vicente Roberto de Carvalho e Cia. Ltda
Welson Souto Oliveira - Coop. de Laticínios Vale do Mucuri Ltda
Wellington Silveira de Oliveira Braga - Laticínios Bela Vista Ltda
Wilson Teixeira de Andrade Leite - Laticínios Vitória Ltda
CONSELHO FISCAL EFETIVO
José Nilton Gomes Barbosa - Coop. dos Produtores de Leite de Leopoldina
de Resp. Ltda
Luiz Fernando Esteves Martins - Barbosa & Marques S/A
Roberto de Souza Baeta - Cayuaba Agroindustrial Ltda
CONSELHO FISCAL SUPLENTE
Ana Paula Reis Lopes - Laticínios Nutrileite Ind. e Com. Ltda
Elias Silveira Godinho - Laticínio Sevilha Ltda
Ramiz Ribeiro Junqueira - Laticínios Curral de Minas Ltda
DELEGADOS JUNTO AO CONSELHO DE REPRESENTANTES/FIEMG EFETIVOS
Guilherme Olinto Abreu Lima Resende - Coaperiodoce
Francisco Rezende Alvarenga - Alvarenga & Cia. Ltda
DELEGADOS JUNTO AO CONSELHO DE REPRESENTANTES/FIEMG SUPLENTES
Luiz Fernando Esteves Martins - Barbosa & Marques S/A
Valéria Cristina Athouguia Dias - Indústrias Flórida Ltda
Jornalista responsável: Flávia Rios (06013 JP)
Projeto Editorial: Rede Comunicação de Resultado
Edição: Licia Linhares
Redação: Beatriz Debien, Hellem Malta, Paulo Mangerotti e Rita Cardoso
Fotos: Ana Paula Couto, Arquivo Epamig, Arquivo Pessoal, Assessoria
de Imprensa Dep. Domingos Sávio/Divulgação, Gilson de Souza, Juliano
Vilela, Laticínios Curral de Minas/Divulgação, Leandro Bifano, Mônica
Salomão, MPerez, Pedro Ladeira, Sebastião Jacinto Júnior e Zsuzsanna
Kilian/SXC
Projeto Gráfico, Diagramação e Ilustrações: Obah Design
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Editorial
Leandro Bifano
Expediente
Mais
organização e
competitividade
Milhares de postos de trabalho são gerados a
partir da cadeia produtiva do leite que se inicia nas
1,35 milhões de propriedades rurais envolvidas
na produção primária em todo o país. Atividades
que vão desde a plantação de grãos e sementes
para insumos até o comércio de produtos lácteos estão dentro desse ciclo produtivo. Mas, para
continuarmos com a geração de empregos, o desenvolvimento do setor e a busca por melhorias
nos processos produtivos, precisamos de políticas
públicas que eliminem os gargalos e beneficiem os
processos do começo ao fim.
Por isso, recentemente participamos da
I Conferência Nacional do Leite, em Brasília,
para elaborar o Plano Nacional de Pecuária de
Leite – um documento com 96 ações, dividido
em 11 temas –, que representa um marco na
busca junto aos governos de políticas públicas
capazes de tornarem a cadeia do leite do Brasil um player internacional.
O documento é a oportunidade que temos para pleitear a revisão das legislações regulatórias – como a aprovação do novo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de
Produtos de Origem Animal (Riispoa) –, da
tributação, do controle das importações, dos
incentivos aos setores de pesquisa e extensão
rural, além de investimento em infraestrutura
básica. Essas medidas, somadas a decisão de levar conhecimento aos produtores e orientá-los
sobre a gestão da propriedade rural, abrirão
um flanco importante por onde passará, obrigatoriamente, o quesito qualidade.
E qualidade no setor leiteiro significa saúde
animal, produtividade, rendimento no processo
industrial, produtos mais ricos do ponto de vista
nutricional e rentabilidade para os envolvidos. Porém, é preciso chamar a atenção do governo para
os investimentos públicos em rodovias vicinais e a
segurança da eletrificação rural, sem os quais não
temos nenhuma chance de produzir com a excelência desejável.
Além disso, o homem do campo necessita
de informação para fazer o seu negócio prosperar. Vivemos na era da disseminação do conhecimento pela web e telefonia rural. Por isso, não
podemos planejar desenvolvimento e melhoria
da qualidade de vida e do produto sem o acesso à
internet na zona rural.
Já demos o primeiro passo para termos um
setor mais organizado com condições de competir no mercado internacional. Agora, só falta
o governo acenar positivamente para atender os
nossos pleitos e fazer a parte que lhe cabe.
Boa leitura!
Guilherme Olinto
Presidente do Silemg
Zsuzsanna Kilian/SXC
giro no MERCADO
Minas se
mantém
em primeiro
Minas Gerais manteve o primeiro lugar na produção nacional de leite. De acordo com a Pesquisa de Produção Pecuária Municipal, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), em outubro de 2012, dos 32,1 bilhões de
litros de leite produzidos no Brasil, o Estado foi responsável
por 27,3% do total (8,7 bilhões), além de possuir o maior número de vacas ordenhadas. Esse resultado favoreceu o crescimento de 4,5% da produção no país, no comparativo a 2010.
Os estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás foram
os outros destaques com 12,1%, 11,9% e 10,9% da produção,
respectivamente.
Em relação à captação feita pela indústria, no terceiro trimestre de 2012, somou-se 5,5 bilhões de litros, o que
representa um aumento de 3,5% em relação ao mesmo período em 2011, de acordo com o IBGE. O valor acumulado
total, até setembro do ano passado, mostra que o crescimento, em relação a setembro de 2011, ocasionou o aumento de
3,8% da captação do leite.
Divulgação
Itambé, Ninho e
Parmalat são
tricampeãs
As marcas Itambé, Ninho e Parmalat são as grandes líderes na
categoria leite Top of Mind em 2012. Elas já haviam recebido o título
em 2006 e 2010, e agora, dividem o feito pela terceira vez. A Ninho,
que em 2011 ficou em primeiro lugar, reduziu 2% na preferência, passando de 14% para 12%. A Itambé manteve o mesmo índice (12%)
e a Parmalat oscilou de 10% para 11%. Considerando a margem de
erro da pesquisa, as três empresas empataram: a Ninho com 23%, a
Itambé com 22% e a Parmalat com 20%.
Os resultados também demonstram que a Ninho e a Itambé têm
presença consolidada no Nordeste (22% e 18%, respectivamente) e
a Parmalat no Sudeste (18%). A Itambé também se destacou entre
as classes D e E com 17% das menções, totalizando 5 pontos acima
da média. Nos outros segmentos avaliados, as três marcas ficaram
dentro da média.
Os leites Elegê (5%), Camponesa, Nestlé, Tirol (3% cada) e Líder
(2%) também foram lembrados pelos entrevistados. As outras marcas citadas somaram 1%, e 9% dos participantes não souberam referir
a nenhuma delas.
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Sebastião Jacinto Júnior
giro DOS ASSOCIADOS
Na vitrine do
mercado
A 26ª Superminas Food Show, realizada
de 16 a 18 de outubro de 2012, no Expominas,
em Belo Horizonte, recebeu 58 mil pessoas e
movimentou R$ 1,2 bilhão. Durante o evento,
empresários tiveram a oportunidade de ampliar seu negócio com a compra de máquinas
e produtos e conhecer as novidades do setor
de alimentos, bebidas e artigos para supermercados e panificadoras de 550 cidades mineiras,
além de outros países, como Argentina, Portugal, Indonésia, México e China.
O Silemg contou com dois representantes no stand organizado pela Federação das
Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg),
a Godam e o Laticínios Tirolez. “O momento
foi oportuno para reforçar o processo de expansão das empresas. A presença na Supermi-
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Godam e Tirolez foram os destaques no stand de laticínios na 26ª Superminas Food Show
nas faz parte da estratégia para o aumento do
nosso mercado e de novos nichos de negócio”,
comenta Márcio Hermanny, representante de
vendas em Minas Gerais do Laticínios Tirolez.
Márcio Torres, gerente de vendas da
Godam, também concorda que a Superminas é a forma ideal para fortalecer a empresa
no Estado. “Essa foi uma oportunidade para
mostrar de perto aos atuais e futuros clientes
nossa linha de produtos, os seus sabores e a
sua qualidade”, ressalta. Outro associado do
Silemg, o Laticínios Porto Alegre, aproveitou
o momento para lançar uma novidade em sua
linha de produtos: o leite UHT nas versões integral e desnatado.
Os empresários e executivos presentes
ao evento participaram, ainda, de palestras,
treinamentos, visitas técnicas e negociações. A
Superminas é organizada pelo Sindicato e Associação Mineira da Indústria da Panificação
(Amipão) e pela Associação Mineira de Supermercados (AMIS), em parceria com a Fiemg.
Ana Paula Couto
DE OLHO
Representantes do setor lácteo defenderam a ideia de unir esforços para vencer
as dificuldades e a cadeia do leite assumir seu lugar no mercado mundial
Captação de
leite chega a 8,4
bilhões em 2012
As expectativas de crescimento e os desafios
enfrentados pela indústria de laticínios foram
discutidos na Assembleia Geral do Silemg
A falta de chuvas, a pressão do varejo sobre a indústria e a importância do Brasil no cenário mundial lácteo foram alguns dos temas discutidos por especialistas durante a Assembleia Geral do Silemg, realizada
no dia 25 de outubro. O evento reuniu empresários e presidentes de entidades representativas do setor, que reafirmaram a importância do alinhamento de todos os atores da cadeia produtiva do leite. Apesar de ter
enfrentado grandes adversidades em 2012, a indústria láctea encerrou o
ano com um crescimento de 3% (8,4 bilhões de litros de leite), superando
a captação do produto em 2011, que atingiu a marca de 8,2 bilhões.
O vice-presidente de Estratégia e Negócios da Tetra Pak, Eduardo Eisler, reforçou para os empresários a relevância do país no mercado mundial ao proferir a palestra Brasil: um país lácteo. Segundo ele,
o território verde e amarelo é conhecido no exterior por suas belezas
naturais, pelo futebol e pelo Carnaval, mas nunca por sua produção de
leite. “Quando as empresas e entidades lá de fora falam sobre a produção leiteira na América do Sul, citam, em primeiro lugar, o Uruguai e a
Argentina. O Brasil é lembrado em terceiro, mesmo estando entre os seis
maiores produtores do mundo”, afirma Eisler.
A mesa de debates que abordou questões como a transferência de
receitas da indústria para o varejo – a distribuição média do preço do
leite, entre 2008 e 2012, mostra que a fatia das empresas caiu de 32% para
26% enquanto a cota do varejo subiu de 29% para 34% –, a pressão do varejo e as importações sobre os resultados da indústria foi um dos pontos
altos da Assembleia. A rodada de opiniões, mediada pelo presidente do
Silemg, Guilherme Olinto, contou com a presença de José Carnieli, presidente da Associação Brasileira de Pequenas e Médias Cooperativas e Empresas de Laticínios (G-100); Laércio Barbosa, presidente da Associação
Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV); Luiz Fernando Esteves
Martins, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo
(Abiq); Ricardo Cotta, presidente da Associação Brasileira da Indústria
de Leite Desidratado (Abild), além de Eduardo Eisler, da Tetra Pak.
União faz a força
Apesar da diversidade de opiniões, o fato de a cadeia do leite precisar unir esforços para vencer as dificuldades que lhe são impostas, assumindo o seu lugar no mercado mundial, é uma visão em comum entre
as instituições. Segundo o presidente da ABLV, Laércio Barbosa, toda a
classe necessita trabalhar pelo reconhecimento dos lácteos como um
elemento indispensável no cardápio do brasileiro.
“Precisamos nos fortalecer como segmento reconhecendo a importância do leite no mercado. Enquanto nossos setores internos competem
entre si, algumas indústrias, como a da soja, enaltecem as características
comuns do leite para conquistar mais espaço entre os consumidores”,
afirma. Para modificar esta realidade, Barbosa defende que a indústria se
organize e torne público as potencialidades do alimento. “Assim como
outros setores do mercado alimentício, precisamos nos unir e criar uma
agenda positiva do leite, disseminando para os consumidores os seus benefícios para a saúde”, sugere.
O público da Assembleia também pôde conferir uma palestra sobre competitividade, ministrada pelo psicólogo e consultor de empresas,
Waldez Ludwig, além da apresentação das ações institucionais desenvolvidas pelo Silemg para a conscientização da sociedade sobre a relevância
do consumo de lácteos para uma vida saudável.
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Arquivo Pessoal
entrevista
Mudança à
vista
Resolução publicada pela Anvisa
modifica as normas das informações
nutricionais em rótulos
Para Maria Cristina Mosquim, as mudanças nas informações
nutricionais dos produtos são importantes para eliminar as
possíveis barreiras comerciais com outros países
Fabricantes de alimentos e bebidas devem ficar atentos à nova norma da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que entra em
vigor a partir do dia 1º de janeiro de 2014. Trata-se de mudanças nas
alegações nutricionais, informações presentes nos rótulos de alimentos,
que agora, deverão seguir outros critérios. Termos, como light, baixo, rico
e não contém, receberão novas dimensões para serem utilizados.
Outra alteração trazida pela Resolução RDC 54/2012 da Anvisa
refere-se à base para o cálculo destas informações. O antigo previa uma
base em 100g ou ml do alimento. Agora, as informações deverão ser
calculadas tendo como referência a porção de cada alimento. Ainda
foram criadas oito alegações nutricionais com a regulamentação.
Para entender todas estas mudanças nos rótulos e quais os objetivos
da nova norma, a consultora técnica da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq), do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos
Derivados no Estado de São Paulo (Sindileite) e do Conselho Nacional das
Indústrias de Laticínios (Conil), Maria Cristina Mosquim, fala ao Silemg
Notícias. Para ela, este padrão atende tanto a quem produz, quanto a
quem escolhe o produto nas prateleiras de supermercados e padarias.
Porque a Anvisa optou por esta alteração?
A discussão foi proposta pelo Mercosul, tendo em vista que a
Portaria 27 de Informação Nutricional Complementar-INC, que trazia
regras sobre informações nutricionais publicada em 1998, já estava
completando 14 anos e precisava ser atualizada. O Codex Alimentarius Comission, comissão mundial que trata da legislação para alimentos, e a União Européia saíram na frente e se modernizaram sobre o
assunto. Portanto, o grupo de países da América do Sul também precisava se aliar a estes novos conceitos. Isso é muito importante para
eliminar as barreiras comerciais que poderiam ser impostas devido à
desatualização das informações e para proteger todos os consumidores da mesma forma.
Quais as mudanças mais significativas?
A diferença da base de cálculo. Os valores eram previstos para
100 g ou 100 ml. Agora, eles terão que ser adequados de acordo com
a porção de cada alimento em questão. Os produtos lácteos, que costumam ter porções menores, a exemplo dos queijos, foram os mais
afetados com esta alteração. Outra mudança se refere ao conceito da
palavra light, que agora só poderá ser usada se o produto tiver uma
redução de pelo menos 25% do original da empresa ou de outros três
do mercado. Se o produto for light somente para um atributo, essa
informação deverá ser repassada ao consumidor no rótulo.
Além disso, oito alegações nutricionais foram criadas pela nova
regulamentação com outros critérios para suas classificações. A proibição das chamadas com especificação de fibras e chamadas com o
termo “reduzido” ou “sem lactose” também é uma mudança significativa. É possível que seja feito um outro acordo entre o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Anvisa para verificar
a situação dos produtos que já usam essas nomenclaturas nos rótulos.
Quais os produtos lácteos que deverão ter esta mudança nos
rótulos?
Todos aqueles que fizerem em suas embalagens chamadas de informação nutricional complementar.
Qual é a dificuldade para o cumprimento da norma para os
laticínios?
Se não houver uma legislação que permita alterações dos regulamentos técnicos, alguns produtos não poderão existir mais com o
mesmo nome. Um exemplo é queijo prato light. Não seria interessante para as empresas perderem produtos com essa nomenclatura, pois
muitos deles já são consolidados no mercado. Também serão excluídas as chamadas de rótulos com o termo sem lactose.
Qual a importância dessa mudança para a sociedade?
O consumidor será melhor informado. Pelo próprio nome do produto, ele já verá a mudança ocorrida. Também saberá de uma maneira
mais correta, se é light em relação ao teor de gordura ou ao valor calórico. As informações ficarão mais visíveis. Ainda não sabemos como
o consumidor irá se posicionar. Isso pode ser uma vantagem ou uma
desvantagem do ponto de vista de marketing das empresas.
Uma das ideias da nova regulamentação é coibir o uso das
informações que possam causar enganos, como no caso das proteínas. O que isso significa?
Para os lácteos isso foi bom, pois temos a proteína padrão, que possui os aminoácidos necessários para se fazer uma chamada na embalagem.
Portanto, os laticínios poderão usar termos como “fonte de proteínas” ou
“rico em proteínas”. Alguns produtos vegetais, que tinham proteína de baixa qualidade, faziam essas chamadas indevidamente. Agora, isso não será
mais permitido, o que é importante para o consumidor, que poderá escolher proteínas realmente especiais do ponto de vista nutricional.
MPerez
Quais os pontos de atenção específicos para os produtos lácteos?
Para produtos com porções maiores como os leites fermentados
e leites UHT, as alterações não vão ser muito sentidas, mas para os
queijos, em especial, muitas chamadas das embalagens serão extintas, como por exemplo, adição de fibras. As quantidades de sódio
também ficaram menores e os fabricantes de queijo encontrarão algumas dificuldades.
A palavra light só poderá ser usada na embalagem dos lácteos se o produto tiver uma
redução de pelo menos 25% do original da empresa ou de outros três do mercado
capa
Organizar para
melhor competir
Setor se reúne na I Conferência Nacional do Leite para elaborar e entregar ao governo federal um
documento com as ações prioritárias da Política Nacional do Leite
Recentemente, a cadeia produtiva do leite brasileira mostrou que
é possível, e fundamental, integrar e unir todos os seus elos em prol do
desenvolvimento do setor. Produtores de leite, indústria, cooperativas
e instituições de pesquisa e extensão rural se mobilizaram, a partir da
iniciativa da Subcomissão do Leite na Câmara dos Deputados, para promover a I Conferência Nacional do Leite, no início de novembro de 2012.
O objetivo foi envolver todos os segmentos da cadeia para levantar, debater e propor ações prioritárias ao governo federal, que visam a construção de uma política setorial efetiva.
O encontro resultou na criação do documento que apresenta 96
ações, divididas em 11 temas: sanidade, defesa comercial, capacitação e
assistência técnica, políticas de crédito, tributação, infraestrutura e logística, promoção comercial, legislação, fiscalização, pesquisa e desenvolvimento e organização do setor. A proposta foi entregue pelo deputado
federal e presidente da Subcomissão do Leite, Domingos Sávio (PSDB),
aos ministros da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro
8
Filho, e do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, no final da Conferência, na sede da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
O desenho da Política Nacional do Setor Leiteiro é um pleito antigo da área que demanda por projetos, iniciativas, apoio e incentivos governamentais que deem condições à cadeia de investir em melhorias na
qualidade do leite, com redução de custos e aumento da produtividade
e da rentabilidade, priorizando a segurança e a organização da produção primária. ”É hora de o Brasil ter uma política específica para o setor.
A partir dessa iniciativa, nós, parlamentares da Comissão de Agricultura, vamos cobrar do governo a atenção que a cadeia produtiva do leite
merece”, declara Sávio. Ele acrescenta que, por ser o segmento que mais
emprega na agricultura, tem um papel importante, não só na economia,
mas no âmbito social, pois gera emprego e distribuição de renda, sem, no
entanto, até o momento, receber o devido apoio governamental.
O presidente do Silemg e da Cooperativa Vale do Rio Doce, Guilherme Olinto, que representou o sindicado na Conferência,
Coop. de Laticínios Vale do Mucuri /Divulgação
reforça o coro. De acordo com ele, a cadeia produtiva do leite brasileira
começa nas propriedades rurais que, hoje, somam 1,35 milhão. “Milhares
de postos de trabalho são gerados na produção primária, antes e depois
dela, como os segmentos de produtos e serviços veterinários; comercialização e produção de sementes, grãos e rações; transporte de matéria-prima e derivados; indústria laticinista; e comércio”, detalha. Olinto destaca que a Conferência Nacional do Leite representa um marco na busca
por políticas públicas capazes de tornarem esse setor econômico em um
player internacional.
Na opinião do diretor executivo do Silemg, Celso Moreira, que também participou do evento, a falta de políticas específicas para o leite traz
transtornos nos âmbitos da qualidade da matéria-prima e seus derivados, da
tributação, legislação e das importações e exportações. “Unir os três elos da
cadeia para se buscar uma identificação das dificuldades de cada segmento
e do setor como um todo, e para traçar uma política nacional foi uma decisão muito coerente. Esse foi o objetivo da participação do Silemg na Conferência: pontuar nossas dificuldades e somar forças”, declara Moreira.
Ele também frisa a importância dessa política para organizar melhor
o setor, fortalecer a integração de toda a cadeia e “azeitar” seu funcionamento, gerando qualidade, produtividade e rentabilidade. “Porém, a área
necessita de uma ação mais efetiva do governo. Temos assistido ações isoladas por parte do poder público que são discutidas sem, de fato, serem resolvidas. Principalmente a respeito da qualidade do leite.” Para ele, a legislação é estruturada e a indústria e os produtores têm feito o possível para
evoluir. Porém, o governo se envolve pouco nesta questão e não apresenta
e nem executa iniciativas que deem condições para o avanço do setor.
O setor lácteo precisa de estradas vicinais em boas condições para escoar o leite dentro
do prazo necessário
Ações prioritárias
Para o deputado Domingos Sávio, é preciso uma maior atenção à
realidade dos produtores, com a defesa de uma remuneração mais justa,
não tabelada e que permita cobrir 100% dos custos e obter uma margem
mínima de lucratividade. “É fundamental oferecer uma política de estabilidade para esse grupo, pois o mercado é instável. Há momentos em
que o leite é vendido com lucro e outras em que o valor fica abaixo do
custo”, exemplifica.
Outro fato importante é que, em outros setores, quando há prejuízo, a produção é interrompida. Na atividade leiteira isso não é possível,
pois a vaca continua dando leite e os custos de produção são fixos. “O
que vira uma bola de neve. Cada crise enfrentada pelo pequeno produtor representa mais endividamento, até o ponto em que ele é obrigado
a vender o patrimônio e abandonar a atividade para tentar a vida na
cidade”, reflete Sávio.
As propostas do setor também visam agregar mais estabilidade à
indústria e possibilitar um melhor planejamento de produção. Para isso,
as ações sugeridas buscam minimizar burocracias e potencializar os investimentos em qualidade, na área sanitária e em infraestrutura básica.
Daí a importância de uma política nacional para o setor, de forma
a dividir os papeis e solucionar os problemas que necessitam da ação
efetiva dos governos federal, estadual e municipal. “A qualidade do leite e
dos derivados depende diretamente de boas estradas e do fornecimento
de eletricidade. Sem isso, a produção primária não consegue se organizar,
não tem segurança para manter o negócio produtivo e rentável e sem
prejuízos”, avalia Celso Moreira.
Na visão do diretor executivo do Silemg, sem eletricidade não há
como utilizar, por exemplo, a ordenha mecânica ou manter o leite resfriado, aspecto fundamental para que ele mantenha suas características.
Já as estradas precisam estar em condições para um escoamento satisfatório do produto, dentro do prazo necessário. Frente a este cenário,
as estradas e o fornecimento de energia elétrica se mostram como as
demandas prioritárias da cadeia.
9
Acessoria de Imprenssa Dep. Domingos Sávio / Divulgação
O deputado Domingos Sávio (a dir.) defendeu as propostas do setor lácteo durante
a I Conferência Nacional do Leite
Na opinião de Guilherme Olinto, a Conferência também serviu de
alerta para esta realidade nacional. Ele pontua que o Brasil tem uma das
mais rigorosas legislações do mundo, no que diz respeito às exigências microbiológicas e físico-químicas, cujos padrões estão no nível dos adotados
nos EUA. “A grande diferença é que naquele país o leite pode ser coletado
na propriedade rural por carretas que não conhecem estradas de terra.
Outra diferença é que, em qualquer fazenda, o leite é armazenado em tanques de resfriamento e os produtores não se lembram mais quando houve
falta de eletricidade que comprometesse a qualidade do produto.”
Por isso, é preciso o alinhamento correto de diferentes variáveis
que impactam no processo, além do engajamento de produtores e
do governo. É o que reflete o diretor-presidente da Cooperativa Veneza e do G100, José Carnieli. “A melhoria da qualidade do leite não
depende só de ações pontuais, passa por um conjunto de iniciativas
integradas, contínuas e sistematizadas, nas quais cada parte cumpre
com suas responsabilidades.”
Desta forma, a implantação de uma política nacional para o setor
vem preencher esta lacuna. “Melhorar a qualidade é uma questão urgente para competirmos em uma economia globalizada. Mas, o governo
precisa fazer a sua parte, melhorando as estradas e o abastecimento de
energia elétrica, universalizando telecomunicações como a internet, entre outros investimentos”, argumenta Domingos Sávio.
Importações e medidas
protecionistas
A restrição de importações de derivados lácteos do Mercosul foi outra questão apresentada como prioritária. Na avaliação de Domingos Sávio,
participar de uma economia externa e ter bons parceiros comerciais não
dispensa o país da responsabilidade de defender o mercado nacional. Ele
cita os EUA e a União Europeia como mercados livres que, permanentemen10
Mais questões
abordadas
Outras ações prioritárias sugeridas pelo setor ao governo federal
foram:
• aprovação do novo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem
Animal (Riispoa);
• implementação da Instrução
Normativa 62 (IN 62);
• fim da cobrança do PIS/Cofins
sobre rações e suplementos dos
produtores;
• melhorias na logística e revisão
da legislação;
• incentivos à comercialização do
leite;
• aprimoramento das ações de
sanidade animal;
• criação do Conselho Nacional
do Leite (Conseleite) nos estados;
• fortalecimento do processo de
inovação tecnológica;
• reestruturação e ampliação do
sistema brasileiro de assistência
técnica e extensão rural público
e privado.
te, adotam medidas de proteção ao
setor. “O Brasil não pode continuar
permitindo a entrada indiscriminada de leite em pó e derivados do
Uruguai e da Argentina, por exemplo, sob a pena de prejudicar nossos produtores e nossas indústrias”,
afirma. O documento entregue ao
governo propõe a intensificação de
uma fiscalização mais rigorosa na
área de importações, já no início de
2013, por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Na análise de Celso Moreira, nesse primeiro momento, é necessária uma atitude protecionista do poder público. “Porém, no médio
e longo prazo, a partir do momento em que o Brasil passar a ter condições e infraestrutura básica para produzir com custo e qualidade,
o problema acaba, pois passaremos a ter potencial competitivo”, defende. Ele acrescenta que o setor brasileiro também precisa fazer esse
ajuste interno e entender suas deficiências. “Só a política protecionista
acaba gerando a ineficiência nos agentes. Neste momento, precisamos
da regulação e do estabelecimento de cotas, mas com prazo definido,
para que a nossa cadeia produtiva possa se reorganizar e o governo
criar condições para seu desenvolvimento.”
José Carnieli também partilha dessa opinião e frisa que o setor
primário e terciário ainda têm muito o que fazer internamente para se
tornarem competitivos e sustentáveis. “É preciso que as indústrias desenvolvam sistemas de apoio aos seus produtores e que ambos encontrem o
melhor arranjo produtivo para a sua bacia leiteira ou região, elevando a
produtividade, a qualidade e a renda. Essa é a melhor defesa que se pode
fazer da produção nacional”, conclui.
Juliano Vilela
trilhas de minas
Nascida nas
linhas de
ferro
Divinópolis, polo da indústria de
confecções, também é conhecida
como a cidade das festas e do
turismo econômico
A Cachoeira Ponte do Niterói é um dos pontos turísticos da cidade
A 121 quilômetros da capital mineira, no Centro-Oeste do Estado,
está Divinópolis. Com 100 anos recém-completados em 1º de junho de
2012, e mais de 200 mil habitantes, a cidade, que foi criada por tropeiros
e bandeirantes, passou por diferentes ciclos econômicos.
No início, conhecida como Cidade do Ferro, Divinópolis abrigou a
maior oficina ferroviária da América Latina, que até hoje está em operação, recuperando locomotivas. Entre o acervo, um modelo chama a
atenção. É o 339, que por toda sua representatividade na história do município, se tornou uma das atrações turísticas da região.
Entre as décadas de 40 e 80, o ferro-gusa passou a ser o principal motor
econômico. A expansão da indústria de confecções aconteceu logo em seguida e perdurou até o início dos anos 2.000. Mesmo não sendo mais o setor
com maior representatividade na economia local, as confecções ainda têm
sua relevância, com cerca de 1.500 fábricas que vão de moda praia à jeans.
Atualmente, como a cidade polo da região, Divinópolis se destaca no segmento de serviços, tendo grande importância nas áreas de saúde e de ensino.
Cercada pelos municípios de Nova Serrana, Santo Antônio do Monte, São Sebastião do Oeste, entre outros, Divinópolis atrai todos os anos
a população da redondeza e de Belo Horizonte para festejar os diversos
eventos realizados ao longo do ano. A Festa da Cerveja, que comemorou
em 2012 sua 21ª edição, conta, anualmente, com a presença de mais de
30 mil pessoas e shows de cantores renomados da música brasileira.
A Divina Folia e o tradicional Rodeio na DivinaExpo, o principal de Minas Gerais e um dois cinco maiores do país, também ajudam a sustentar o
rótulo festeiro dado à cidade, conhecida, ainda, por seus numerosos bares.
Além das festividades, Divinópolis tem belezas naturais memoráveis. O “Lago das Roseiras”, mais conhecido como Praia do Cajuru, atrai
a população em dias quentes para as águas de sua represa. A Praça do
Santuário, outro cartão-postal, abriga a igreja do Santuário de Santo An-
tônio. O templo é marcado pelas pinturas históricas dos padres franciscanos holandeses que chegaram à cidade por volta de 1930, um patrimônio tombado pelo município.
Produção láctea
Não é apenas de ferro, roupas e serviços que Divinópolis alimenta a sua economia. O Laticínios Karinho, tradicional empresa local e
associada ao Silemg, também traz representatividade ao setor agropecuário local. “Divinópolis está comemorando o seu centenário e a Karinho completará 60 anos de fundação. Sem dúvida, a nossa empresa
faz parte da história da cidade, pois contribuiu decisivamente para o
crescimento industrial do município, gerando emprego e renda, além
de estimular o associativismo e a integração regional”, ressalta o diretor
vice-presidente da Karinho, Ronaldo Fagundes.
Com aproximadamente 120 colaboradores diretos, a produção da
empresa é destinada ao mercado regional, das cidades ao entorno de
Divinópolis e da grande BH, o que representa 90% do público da Karinho.
O Leite Karinho UHT é o trunfo da empresa, que segundo o vice-presidente ganha a preferência dos consumidores. A produção média
anual gira em torno de 36 milhões de litros. Outros produtos oferecidos
são a manteiga, o doce de leite e o requeijão. Segundo Ronaldo Fagundes,
a conquista dos moradores da região ocorre, especialmente, pela preocupação e preservação da qualidade dos lácteos oferecidos, uma das
principais bandeiras defendidas pela empresa.
Você sabia?
O nome Divinópolis foi dado à cidade em homenagem a um antigo
padroeiro local, chamado Divino Espírito Santo. Essa devoção surgiu em 1760, quando a cidade ainda era apenas uma vila. O santo
foi homenageado e hoje dá nome e identidade aos divinopolitanos.
11
Mônica Salomão
PONTO DE VISTA
A mudança é
compulsória
Diante das exigências do Mapa, com as Instruções
Normativas 51 e 62, a qualidade do leite no Brasil
realmente melhorou? Como o setor tem tratado
essa questão?
*Por Mônica Pinho Cerqueira
Desde 2005, com a publicação da Instrução Normativa 51 (IN 51),
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), uma
pergunta vem sendo frequentemente repetida em toda cadeia produtiva: a qualidade do leite no Brasil melhorou? Indiscutivelmente, essa é
uma questão que merece um constante monitoramento de todos os
atores e envolvidos no setor, como produtores, indústrias, instituições de
pesquisa e extensão rural, entidades de classe e governos. Porém, acredito que uma outra pergunta deva acompanhar este questionamento:
o que estamos fazendo para alcançar tal mudança? Cada segmento envolvido na cadeia tem desempenhado o seu papel, de maneira efetiva?
Entre 2008 e 2011, o Laboratório de Análise da Qualidade do Leite
da Escola Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (LabUFMG)
realizou monitoramentos e pesquisas nas fazendas mineiras, com a coleta
e a análise de 772.290 amostras de leite. Com base neste universo, podemos dizer que, de uma maneira geral, a Contagem Bacteriana Total
(CBT), expressa em Unidades Formadoras de Colônias (UFC/mL), vem
melhorando, ou seja, tem apresentado uma redução gradual. No que diz
respeito à Contagem de Células Somáticas (CCS), o cenário é estável e se
mantém sem reduções significativas. Pontualmente, podemos dizer que,
para a CCS, ocorreu melhoria em alguns rebanhos. Cerca de 25% a 35%
dessas amostras apresentaram a CBT inferior a 100.000 UFC/mL de leite
e, em 50 a 55% constatou-se uma CCS abaixo de 400.000 células/mL, ou
seja, conforme as exigências da IN 51, que vigorou até junho de 2011.
Abaixo, os detalhes das análises já realizadas.
Médias geométricas para CBT e CCS:
Ano
2008
2009
2010
2011
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CBT (UFC/mL)
383.000
347.000
279.000
242.000
CCS (células/mL)
360.000
378.000
381.000
383.000
Percentual de amostras fora do padrão da IN 51:
Ano
2008
2009
2010
2011
CBT > 750.000 UFC/mL
19,35%
21,11%
21,97%
22,02%
CCS > 750.000 células/mL
37,66%
37,01%
33,70%
31,75%
*Fonte: Lab UFMG 2008/2011
O prejuízo no bolso
Os resultados mostram que ainda falta uma aplicação mais criteriosa de procedimentos padronizados e de um monitoramento sistemático
da qualidade do leite. Isto é, o setor primário carece de mais treinamento
e orientação técnica da mão de obra. Essa capacitação é fundamental
para o controle da mastite subclínica, responsável pelas maiores perdas
econômicas nas propriedades, principalmente, porque o animal não
apresenta sintomas, facilitando a contaminação do rebanho e provocando aumento dos prejuízos e da redução da produção de leite.
É o que mostrou a tese de doutorado de Geraldo Márcio da Costa, de 2008, professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA), que
examinou 35 rebanhos leiteiros no Sul de Minas, entre 2004 e 2006.
Confira alguns valores do estudo:
Produção diária de leite
(litros)
800
700
740
4.400
CCS (células/mL)
Perda anual
325.000
1.182.000
1.702.000
2.277.000
10.685
66.280
106.585
873.825
Se multiplicarmos a perda pelo preço do leite pago ao produtor,
vamos entender o que o resultado representa de prejuízo para a fazenda. Por exemplo, em uma propriedade que produz 1.000 litros de leite/
Laticínios Curral de Minas /Divulgação
Mônica Cerqueira acredita que ainda falta uma aplicação mais criteriosa de
procedimentos padronizados, como a ordenha, para melhorar a qualidade do leite
dia, com uma CCS no tanque de 1.500.000 células/mL, estima-se que
ocorra uma diminuição da produção de leite na fazenda de 29%, ou
seja, cerca de 290 L/dia, ou 8.700 L/mês, ou 104.400 L/ano. Se considerarmos o valor de R$ 0,85/L, a perda anual seria de R$ 88.740.
Laticínios Curral de Minas /Divulgação
Interpretando dados e fatos
Nas propriedades em que há um trabalho de monitoramento da
saúde do rebanho e da matéria-prima e, ainda de educação continuada,
apoiado pela indústria e outros parceiros ou instituições do setor, constata-se melhoria da qualidade do leite. Isso porque os produtores conseguem implementar as ações necessárias e imprescindíveis para corrigir as
falhas. Já nas fazendas em que não há padronização de procedimentos de
manejo de ordenha, tratamento de vaca seca, limpeza de equipamentos e
resfriamento imediato do leite, entre outros, não são verificadas melhoras
na qualidade do leite. Para reverter este quadro, é necessário um comprometimento de todos que compõem a cadeia produtiva do leite com a adequação da qualidade da matéria-prima aos padrões das INs. Sem iniciativa
e compromisso, a tendência é que os resultados piorem.
O monitoramento do leite no tanque de resfriamento não é suficiente
para controlar a sua qualidade e a mastite subclínica, doença cujos sintomas
no animal são difíceis de serem percebidos. É preciso analisar o leite de cada
vaca, individualmente, uma vez por mês, no dia da pesagem, e encaminhar
essas informações e amostras para o laboratório. Programas de gerenciamento de rebanhos leiteiros constituem uma ferramenta fundamental para
subsidiar a tomada de decisões e ações para controle da mastite.
Outro aspecto importante que merece reflexão refere-se ao transporte
do leite. No atual sistema adotado no Brasil, as matérias-primas de boa qualidade se misturam com as que são ruins. Com isso, o leite que a indústria
recebe não é o mesmo que ela remunera. Ela paga pela qualidade analisada no
tanque de resfriamento e, o que ela recebe para processamento, normalmente
perde essa referência pelo aumento da CBT. Assim, todo o trabalho do produtor que se preocupa com excelência do leite é perdido, uma vez que se mistura
no caminhão produtos com diferentes características e padrões. Esse cenário
compromete a qualidade e a vida de prateleira dos produtos derivados.
É fundamental compreender que a qualidade é compulsória, tem que
ser cumprida para garantir o desenvolvimento e a competitividade do setor
como um todo, seja no mercado interno, seja no externo. As modificações de
parâmetros legais, sozinhas, não resolvem a questão. Os elos da cadeia precisam estar integrados e comprometidos com essa meta. A mudança efetiva é
conquistada por uma nova atitude que envolva os diferentes segmentos do
setor e pela adoção sistemática e disciplinada dos padrões de produção brasileiros. Isto porque todos perdem com a falta de qualidade, os prejuízos são
significativos e, hoje, não são mensurados como deveriam.
Cada um dos atores envolvidos tem responsabilidades neste processo. Os produtores, a indústria, as entidades de classe, as instituições de
pesquisa e extensão rural e os governos. Esses últimos, por sua vez, devem
priorizar a infraestrutura básica do agronegócio, como estradas e energia
elétrica, de forma que não comprometam a busca do setor pela qualidade
do leite, e sim o ajude a resolver a questão. O agronegócio brasileiro responde por, aproximadamente, 30% do Produto Interno Bruto (PIB). Se o
país é um dos maiores produtores de commodities do mundo, a qualidade
dos produtos agropecuários não deve ser uma barreira e sim um atributo
na conquista de novos mercados e uma referência mundial. Por isso, a qualidade é compulsória, não sendo mais possível produzir sem ela. Existem
gargalos, com certeza, e há muitos desafios a serem vencidos. Mas se toda a
cadeia abraçar a causa e cada segmento fizer a sua parte, podemos mudar.
Conhecimento, tecnologia e competência, nós já temos.
Análise no LabUFMG
Por meio de uma parceria com o laboratório da Associação Paranaense
de Criadores de Gado Holandês, que desde 1966 desenvolve um eficiente trabalho de controle leiteiro, o LabUFMG investiu na autorização de utilização
de um software. Essa ferramenta possibilita a análise individual do leite e das
informações zootécnicas das vacas e a emissão de relatórios que contribuem
para o controle da mastite e da qualidade do leite de cada animal do rebanho.
O serviço já está disponível para todos os produtores de Minas Gerais. Basta que o produtor se cadastre e que, uma vez por mês, o leite de
cada animal do rebanho seja pesado, coletado individualmente e encaminhado, junto com as informações da vaca, para o LabUFMG. Nossa meta
é disponibilizar este serviço para o maior número de fazendas no Estado,
visto a controlar a mastite o mais rápido possível.
Com esses relatórios é possível calcular a contribuição de cada animal
para a CCS do leite no tanque, orientando o produtor na identificação de
quais animais estão infectados, na prevenção da disseminação da mastite, no
controle da doença no rebanho e na melhoria da qualidade do leite. Mais informações pelo telefone (31) 3409-2142 ou pelo e-mail [email protected].
*Professora associada da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) e coordenadora geral do Laboratório de Análise da Qualidade do Leite
da instituição (LabUFMG)
13
CONTANDO HISTÓRIAS
Nos passos
da tradição
O primeiro laticínio do Brasil surgiu em
Minas Gerais, o que rendeu à região o
renome e o reconhecimento no setor
Minas Gerais concentra a maior produção de leite do Brasil, sendo
responsável por 8,4 bilhões de litros e representando 27,3% do total produzido no país. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) confirmam a razão pela qual o Estado em questão tem uma grande
quantidade de laticínios e se tornou tradicionalmente reconhecido como
produtor de queijos e outros derivados do leite. Esse prestígio deve seu
sucesso a uma pessoa, em especial: Carlos Pereira de Sá Fortes.
De acordo com Luiza Carvalhaes de Albuquerque, coordenadora de
Transferência e Difusão de Tecnologia do Instituto de Laticínios Cândido Tostes/Epamig, Dr. Sá Fortes, como era conhecido, atuou de forma decisiva para a
multiplicação das instalações de fábricas de laticínios em Minas Gerais. “Com
uma iniciativa ousada para a época, ele montou, em 1888, na Serra da Mantiqueira, a primeira fábrica de laticínios do Brasil e da América do Sul”, recorda.
A ideia do empreendedor era fabricar o queijo tipo holandês Edam.
Em uma iniciativa pioneira, importou maquinário e mão de obra especializada da Holanda. “A prática não seguiu a teoria, pois as condições climáticas influenciaram bastante o resultado”, afirma Luiza. Mesmo com
os prejuízos da primeira tentativa, Dr. Sá Fortes não desistiu. Logo, ele fez
adaptações nas tecnologias usadas e contratou fabricantes de queijos
14
para aperfeiçoar sua produção. “Apesar de ser médico por formação, ele
era um entusiasta do queijo e, nesse período, foi à Europa para observar
de perto o avanço da indústria de laticínios.”
Após o estágio no exterior, os técnicos conseguiram dar ao Edam da
Mantiqueira o mesmo padrão do holandês. O queijo conquistou o mercado
por ser mais amarelo, seco, salgado, o que evita perdas em viagens, e de sabor
picante. Segundo Luiza, um dos apreciadores do queijo foi o imperador Pedro
II, grande incentivador dos primeiros institutos de pesquisa agrícola do país,
que, ao visitar a fábrica, se encantou pela produção.
Laboratório de sucesso
A Empresa Laticínios de Monte Bello, como foi nomeada a fábrica, serviu de laboratório para pesquisas e a formação de profissionais especializados.
No final de 1888, Sá Fortes já comercializava para o Rio de Janeiro manteiga
e queijos tipo Petit Suisse e Holandês. Para a exportação do leite, existiam as
sed e outros sócios do Rio de Janeiro. Em 1967, o empreendimento faliu e foi à
leilão público no início dos anos 70. Nesse momento, a empresa foi adquirida
por Edna Maria de Mello Bahia, Pedro Paulo de Mello e Jarbas Pedro de Mello.
As famílias de Caeté e Belo Horizonte nomearam o novo empreendimento de Laticínio MB – Mello e Bahia. Até hoje a tradição criada pelo mestre
queijeiro Jong é mantida no mercado nacional.
Referência nacional
Outro associado que tem boas histórias e lembranças é a Itambé. Inaugurada em 1949, a Cooperativa Central de Produtores de Leite – CCPR/Itambé foi criada, no formato de cooperativa, para abastecer Minas Gerais com
leite de qualidade. A história de mais de 60 anos consolida a empresa como
uma das referências nacionais do setor.
Como uma de suas iniciativas, a Itambé, construiu em Sete Lagoas, em
1957, uma fábrica, com produtos como leite em pó integral, desnatado, queijo, manteiga e doce de leite. Leite e iogurte natural já eram comercializados.
A partir daí, foi implantando um programa de expansão com a compra e a
construção de novas fábricas. A Itambé lançou mão de iniciativas importantes, como o Manual de Qualidade do Leite, em 1999, ações voltadas para os
produtores a exemplo do Programa de Fidelidade do Produtor de Leite Itambé, em 2003, e exportações para outros países da África, América Latina e
Oriente Médio. Com esses investimentos, a empresa se tornou, hoje, uma das
líderes do mercado nacional.
Gilson de Souza
câmaras frigoríficas especiais. O produto
seguia para a capital carioca em blocos
congelados. Já a manteiga era acondicionada em latas feitas na própria fábrica.
“Ele foi um dos primeiros industriais no
mundo que exportou o leite em blocos
congelados”, lembra a coordenadora.
Além de implementar o primeiro
laticínio do Brasil, o empreendedor também criou a Liga da Lavoura Comércio e
Indústria, foi presidente da Câmara Municipal de Barbacena durante 18 anos e o
primeiro presidente da Companhia Brasileira de Laticínios e integrou a Comissão
Fundamental do Congresso Agrícola e
Industrial de Belo Horizonte, que lançou
as bases da política econômica progressista de Minas Gerais. Além disso, o
empresário organizou o Sindicato Central dos Produtos de Laticínios Mineiros, destinado, sobretudo à defesa da manteiga mineira. Ele incorporou, ainda,
em 1913, a Companhia de Laticínios da Mantiqueira à Companhia Brasileira
de Laticínios, tornando-a a maior produtora e exportadora de leite, manteiga
e queijos do mercado nacional.
O legado do empreendedor rendeu à região e ao Estado uma tradição
em laticínios. Segundo o historiador Oswaldo Henrique Castelo Branco, os
primeiros técnicos em fabricação de queijos contratados por Dr. Sá Fortes
foram Frederich Kingma, J. Etienne e Gaspar Jong, queijeiros holandeses, e
Alberto Boeke, mecânico nato responsável pela montagem das máquinas
e dos equipamentos importados da Holanda. O grupo fincou raízes mais
tarde na Serra da Mantiqueira, onde criou novos laticínios e gerou progresso para a região, a exemplo da “Alberto Boeke Jong e Companhia”, fundada
em 1º de abril de 1907, com a participação dos sócios Alberto Boeke, Gaspar Jong e Paul Martins Tancke.
Um dos associados do Silemg surgiu a partir desse legado. Uma vez dissolvida a parceria entre o trio, Jong partiu rumo a Lima Duarte, na Zona da
Mata mineira, para construir um novo negócio. Quanto decidiu retornar definitivamente à Holanda, o empresário vendeu sua queijaria para a família As-
Produção de requeijão na fábrica da Itambé, que tem 60 anos de tradição e liderança
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50 - Silemg