Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008 ISSN 1982-0178 ATIVIDADES SOLARES E O SINAL DE GPS Dhiego Silva PUC-Campinas CEATEC [email protected] Resumo O trabalho consiste em analisar o desvio padrão do sinal (índice S4) que ocorre por fenômenos que transformam o meio da ionosfera, devido às atividades solares. Os dados relativos ao posicionamento geográfico e intensidade são coletados por placas receptoras através do programa SCINTMON. A monitoração do sinal do Sisema de Posicionamento Global (GPS) está localizada no Laboratório de Redes no Centro Tecnológico da PUC-Campinas que coleta as informações diariamente. A variação da intensidade do sinal do GPS é denominada cintilação. Se a cintilação for muito grande o sinal pode ser perdido comprometendo a determinação da posição do receptor. Palavras-chaves ionosfera. GPS, cintilação, Área do Conhecimento: Grande área do conhecimento CNPq: Engenharia Elétrica/PUCCampinas – Sub-Área do conhecimento do CNPq: Telecomunicações I. INTRODUÇÃO As atividades solares perturbam a ionosfera e afetam o percurso do sinal emitido por um satélite de um sistema GPS e o receptor. Isto causa variações na intensidade do sinal recebido, o que é caracterizado por uma grandeza denominada cintilação [1]. Dentre essas atividades podemos destacar a tempestade magnética e as bolhas iônicas. Uma tempestade magnética é caracterizada por índices cujos valores são disponibilizados pelos observatórios que os registram [1-2]. No caso deste trabalho, a monitoração do sinal GPS conta com uma estação localizada no Laboratório de Redes no Centro Tecnológico da PUC-Campinas que coleta as informações dos satélites diariamente. O objetivo deste trabalho consistiu na comparação entre os índices que caracterizam Norma Reggiani Faculdade de Engenharia Elétrica e Mestrado Profissional de Gestão de Redes de Telecomunicações CEATEC [email protected] Este trabalho esta estruturado da seguinte forma: Na seção II são apresentadas as características da ionosfera, na seção III, os índices que caracterizam as condições magnéticas da ionosfera, na seção IV um pouco do sistema GPS é apresentado e se define cintilação, na seção V estão os resultados e na VI as conclusões. II. IONOSFERA A ionosfera é formada pela ação de fontes ionizantes solares e cósmicas absorvidas pelos átomos e moléculas presentes na atmosfera terrestre. O pico de densidade eletrônica se localiza a ~300 km de altura, e decresce acentuadamente com a altura versus a intensidade da radiação solar – que decresce acentuadamente conforme caminha em direção a superfície terrestre [3-4]. Dependendo da densidade atmosférica, composição da atmosfera neutra e do potencial de absorção de energia proveniente da radiação solar, podem-se definir três regiões. Localizada até cerca de ~90 km acima da superfície terrestre temos a região D é a menos densa em elétrons, deixando de existir à noite, a densidade neutra é bastante significativa. Seguida desta localizada acerca de ~90 km e ~120 km de altura chamada região E. Essa região se forma durante o dia e desaparece durante a noite, dependendo das condições do vento solar e da energia absorvida durante o dia. E por fim localizada de ~120 km à ~400 km de altura a região F é uma região de radiação UV (10-100mn) muito forte ionizando átomos de (O) presentes. Durante o dia a região de divide em F1 e F2, durante a noite ela se une. Ainda em estudos a camada F3 [5]. As atividades solares afetam a estrutura da ionosfera. Entre estas atividades podemos mencionar as bolhas ionosféricas, as tempestades magnéticas e o vento solar. Em certo momento verificou-se que a telecomunicação via satélites sofre fortes influências na região equatorial [6]. Descobriu-se que estas influências ionosféricas decorriam de fortíssimas irregularidades na distribuição da densidade dos elétrons no plasma ionosférico Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008 ISSN 1982-0178 equatorial, constituindo o que se denomina bolhas ionosféricas. As tempestades magnéticas [6] são distúrbios temporários na intensidade do campo geomagnético da Terra causado por atividades solares diretamente relacionados à intensidade e estabilidade do vento solar. O vento solar [7] é formado por partículas de altas energias consistindo de elétrons, prótons e núcleos de Hélio. Quando a atividade solar não é significativa, o vento solar é uniforme e com velocidade aproximada de 400 km por segundo. Mas quando há distúrbios solares violentos, o vento solar pode alcançar velocidades muitas vezes superiores às observadas normalmente. III. TEMPESTADES GEOMAGNÉTICAS Através da variação da intensidade do sinal no receptor, podem-se detectar tempestades geomagnéticas, que são responsáveis por erros e falhas de comunicação por satélite. A Figura 1 demonstra uma tempestade geomagnética através índice Dst [5]. Figura 1 – Curva Dst entre os dias 5–8 de setembro de 1982. Fonte: Adaptada de Yamashita (1999). Uma tempestade magnética pode ser caracterizada pelos índices [8-9]: (a) Índice ∑Kp: Esse índice marca através de um número proporcional ao grau de perturbação do campo geomagnético. Os valores de Kp representam uma média dos valores a cada 3 horas, o intervalo do índice K varia de 0 a 9, um dia são realizadas 8 Kp. A soma das 8 médias ou índices kp se denomina ∑Kp. (b) Índice Dst (Disturbance Storm Time): O índice Dst monitora o nível de atividade geomagnética e expressa o grau de perturbação do campo magnético. A Tabela I mostra os valores do índice Dst para diferentes intensidades de tempestade magnética. Intensidade da Tempestade Muito Intensa Intensa Moderada Fraca Dst (nT) < - 250 - 100 a - 250 -50 a - 100 -30 a -50 Tabela I: Valores do índice Dst para diferentes intensidades de tempestade magnética. Se a intensidade da tempestade magnética for muito alta, o sinal do sistema GPS poderá estar comprometido. IV. SINAL DO GPS O GPS (Sistema de Posicionamento Global) permite que qualquer pessoa possa se localizar no planeta com grande precisão, pode ser utilizado por qualquer pessoa, gratuitamente, necessitando apenas de um receptor que capte o sinal emitido pelos satélites. Para calcularmos e encontrarmos coordenadas na Terra através de um receptor mede-se a distância de pelo menos três satélites até o receptor. Os satélites agem como pontos de referência precisos. Supondo que a distância a partir de um satélite seja conhecida, a posição pode ser restringida à superfície de uma esfera, que circunda aquele satélite. Se a distância a partir de um segundo satélite também é conhecida, isto limita a posição à interseção de duas esferas. Adicione um terceiro satélite e a posição limita-se para um dos dois pontos. Desconsidera-se uma dessas posições porque é uma resposta pouco provável, esta posição está no espaço ou movimentando-se em alta velocidade. Conhecendo-se a distância entre a posição e os três satélites, as coordenadas podem ser calculadas. Na prática, é necessário um quarto satélite para resolver as quatro incógnitas, X, Y, Z e tempo. Para caracterizar a estabilidade do sinal do sistema GPS utiliza-se o índice de cintilação. O índice de cintilação é definido por [9]: S4 = σˆ 2 Sˆ (1) O índice S4 pode ser interpretado com a razão do desvio padrão do sinal normalizado pelo valor médio do sinal [9]. Observe que o valor médio do sinal na equação acima é o valor médio do sinal para o intervalo de tempo considerado. Deste modo, o desvio padrão calculado está relacionado com a distribuição dos valores do sinal com relação a uma média local e nos permite caracterizar melhor os desvios [9]. V. RESULTADOS Através da coleta de dados pelo satélite GOES [10] foi possível monitorar 5 índices Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008 ISSN 1982-0178 diferentes, Kp, fluxo de elétrons, fluxo de prótons, fluxo de raio X e GOES Hp. O índice GOES Hp quando seu gráfico apresenta níveis próximos ou menores que 0, esses valores são associados freqüentemente a subtempestades e uma intensificação das correntes do vento solar. O fluxo de elétrons quando em seu gráfico apresenta realces dos elétrons por um período de tempo, a característica se associa com as anomalias de carregamento dielétricas profundas. Sobre o fluxo de prótons não foram encontradas características marcantes nem influências sobre os outros níveis já que seu gráfico é sempre constante. O fluxo de raios-X tem como objetivo detectar explosões solares, já que essas explosões causam distúrbios nas ondas de satélite, fazendo transmissões via satélite caírem. Essas influências levam dias para acontecer e aparecer no índice Kp como uma tempestade. Como resultados temos que tempestades eletromagnéticas ocorrem horas ou dias depois de o fluxo de elétrons mostrar-se próximo de 0, tempestades que são detectadas no índice Kp. No gráfico abaixo vemos a influência do Fluxo de elétrons e do GOES Hp atuando sobre o Kp. Figura 3: Gráfico contendo fluxo de raios-X, a área circulada apresenta o efeito de uma explosão solar [11]. Figura 4: Diversos índices, fluxo de prótons, fluxo de elétrons, GOES Hp e Kp entre os dias 3-8 de janeiro de 2008 [11]. Relacionando a figura 3 com a figura 4, notamos que após ocorrer o fenômeno da explosão solar no dia 31 de dezembro, ela reflete numa tempestade geomagnética entre os dias 5 a 6 de janeiro, possuindo então 6 dias de atraso entre o fenômeno solar e a instabilidade eletrônica da ionosfera. Isto pode gerar uma cintilação do sinal do GPS, como ilustra a Figura 5. Figura 2: Diversos índices, fluxo de prótons, fluxo de elétrons, GOES Hp e Kp entre os dias 4-7 de janeiro de 2008, as áreas circuladas mostram a ocorrência de uma tempestade geomagnética [11]. Assim como os índices fluxo de elétrons e GOES Hp influenciam o Kp, o fluxo de raios X também influencia. VI. CONCLUSÕES A partir de uma análise gráfica observamos que entre os diversos índices de monitoramento utilizados, foi possível criar correspondências entre eles e concluir que os fenômenos solares interferem no sinal do satélite com atraso e dentro de um período de tempo impreciso para afetarem o GPS. Através desses dados vemos que há possibilidade de prever falhas no sinal antes de elas ocorrerem, mas ainda faltam recursos Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008 ISSN 1982-0178 alternativos de comunicação para substituírem o satélite quando esses falham. [8] T.L. Beach, “Global Positioning System Studies of Equatorial Scintillations”, PhD Thesis, Cornell, May(1998). [9] N. Reggiani, O.C. Branquinho, T.ª Xastre, T.C. Nascimento, E.R. de Paula, I.J. Kantor, M. Fedrizzi, L.F.C. Rezende, “ Magnetic Storms Effects on the GPS Signal”, International Workshop on Telecommunications Proceedings (2004). [10] NOAA NATIONAL WEATHER SERVICE. Space Weather Prediction Center continually monitors and forecasts Earth's space environment Disponível em: http://www.swpc.noaa.gov/ Acesso em: 2008. Figura 5: Figura contém um exemplo gráfico de cintilação ionosférica do GPS [11]. REFERÊNCIAS [1]Bolduc, L., GIC observations and studies in the Hydro-Quebec power system. J. Atmos. Sol. Terr. Phys., 64(16), 1793-1802, 2002. [2]CECATTO, José Roberto. O Sol. In: Curso de Introdução à Astronomia e Astrofísica, 9, 2006, São José dos Campos. Resumo. São José dos Campos: INPE, 2006. [3]SPACEWEATHER. News and information about the Sun-Earth environment. Disponível em: www.spaceweather.com/index.cgi Acesso em: Mar. 2008. [4]ABDU, M. A., Outstading problems in the equatorial ionosphere–thermosphere electrodynamics relevant to spread F, Journal of Atmospheric and Solar-Terrestrial Physics, v. 63, p. 869 – 884, 2001. [5]Kelley, M. C, and Heelis, R. A., "The Earth's Ionosphere: Plasma Physics and Electrodynamics". Academic Press, 1989. [6]Stix, Thomas Howard. Waves in Plasmas (1992). [7]FEDRIZZI, M. Estudo do efeito das tempestades magnéticas sobre a ionosfera utilizando dados do GPS. 2003. São José dos Campos. 223p. Tese de Doutorado em Geofísica Espacial, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.